Buscar

MecânicadosFluidos1

Prévia do material em texto

MECÂNICA DOS FLUIDOS 
 AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Carina Pedrozo 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
O entendimento dos primeiros conceitos, do conhecimento, da 
interpretação e da utilização dos estudos sobre mecânica dos fluidos é 
fundamental para o engenheiro. Nesta disciplina, será possível analisar algumas 
interpretações físicas de atividades cotidianas e observar de maneira científica 
algumas movimentações naturais, como as ondas do mar, mergulho em piscina 
ou abertura de um tanque, bem como as forças envolvidas na decolagem de um 
avião, na navegação de uma balsa ou na utilização de aerofólio em carros de 
corrida. 
Nesta aula, serão apresentados os seguintes tópicos: 
• Histórico da mecânica dos fluidos; 
• Introdução e aplicações; 
• Revisão das leis do movimento; 
• Unidades utilizadas; 
• Modelagem e técnicas de resolução. 
Os objetivos esperados para esta aula são: conhecer a história da 
mecânica dos fluidos, as regiões de crescimento e os primeiros estudiosos, como 
também as principais aplicações desta disciplina. 
A seguir, será realizada uma pequena revisão da interpretação das leis de 
movimento e classificação de escoamentos, bem como uma análise das 
principais unidades utilizadas na disciplina. 
TEMA 1 – HISTÓRICO 
Quando se estuda a criação de cidades e o desenvolvimento da 
humanidade, a necessidade de estudar o comportamento da água se torna 
evidente, visto que as primeiras comunidades e agrupamentos humanos 
ocorreram perto de corpos hídricos, como rios e lagos. 
As análises dos rios auxiliaram o transporte de pessoas e mercadorias, 
além de alimentar as pessoas com peixes e fornecer água para manutenção da 
vida. Com base nessa visão, é possível analisar a necessidade de utilizar a água 
para irrigar as primeiras plantações, desenvolvendo a agricultura. 
As civilizações da antiguidade já manipulavam, mesmo que de forma 
instintiva, a água para melhoria da vida. 
 
 
3 
1.1 Civilizações da Antiguidade 
• Mesopotâmia 
Alguns dos primeiros registros de civilização remetem à Mesopotâmia, na 
região dos rios Tigre e Eufrates, havendo registros de desenvolvimento da 
agricultura e pecuária, utilizando os conhecimentos adquiridos com base na 
observação do comportamento dos rios. 
As regiões férteis eram garantidas pelas cheias dos rios, o que garantia 
solos úmidos e com material orgânico propício a plantações e criação de 
animais. 
Há registros de que os sumérios, que viveram em 5.000 a.C., 
desenvolveram técnicas de barramento de água, reservatórios e irrigação. 
Figura 1 – Região histórica rio Eufrates 
 
Créditos: Allamimages/Shutterstock. 
• Egito 
A civilização egípcia fundou suas principais cidades ao longo do rio Nilo, 
em que as estações de cheias auxiliavam na fertilização do solo, pois o território 
egípcio está situado em uma região árida. 
Os egípcios desenvolveram sistemas de canais para aproveitar as cheias 
do Nilo, e também utilizaram diques para formar pequenas bacias hidrográficas 
para armazenar água. Para momentos de estiagem, desenvolveram 
mecanismos de bombear água, chamados em inglês de shaduf, ou picota, em 
português. Por volta de 360 a.C., desenvolveram um tipo de moinho, chamado 
de nora. 
 
 
4 
Figura 2 – Shaduf no antigo Egito 
 
Créditos: Marzolino/Shutterstock. 
Figura 3 – Ilustração de canais de irrigação no Antigo Egito 
 
Créditos: Artmari/Shutterstock. 
• Romanos 
Os romanos, quando as cidades da civilização aumentaram de forma 
expressiva, desenvolveram uma forma de manter a higiene e aumentar a 
qualidade de vida de seus moradores: a água corrente. 
Esta utilização mudou o cotidiano dos romanos. Ainda hoje, é possível 
observar a quantidade de fontes e torneiras espalhadas por Roma. Para fazer a 
água chegar a todos os pontos necessários, foram desenvolvidos os aquedutos, 
que são estruturas que transportam água dos lugares mais elevados aos pontos 
mais baixos. Assim, o movimento da água ocorria por gravidade. 
 
 
 
5 
Figura 4 – Aqueduto Romano 
 
Créditos: Jens_Bee/Shutterstock. 
Ao sair do aqueduto, a água abastece fontes públicas, banhos, além de 
abastecer as classes que podiam pagar por água corrente. Outro ponto 
importante do Império Romano era a preocupação com a água depois de 
utilizada, sendo direcionada a esgotos e afastada das cidades. 
Figura 5 – Fonte na Aventine Hill – Roma 
 
Créditos: Javarman/Shutterstock. 
 
 
 
6 
1.2 Primeiros estudiosos 
O primeiro estudioso que abordou de forma científica a mecânica dos 
fluidos foi Arquimedes (287-212 a.C), que formulou as primeiras equações 
referentes a flutuabilidade e empuxo. 
O parafuso de Arquimedes, desenvolvido para retirar água de barcos, foi 
uma encomenda do rei Hieron. A ferramenta consiste em um parafuso rotativo, 
que pode ser acionado manualmente. Esta invenção é considerada uma das 
mais importantes da Antiguidade e pode ser encontrada atualmente sendo 
utilizada para bombeamento. No link a seguir, você pode conferir um exemplo 
de aplicação do parafuso de Arquimedes: disponível em: 
<https://cdn.portalsaofrancisco.com.br/wp-
content/uploads/2016/08/Parafu9.jpg>. Acesso em: 24 set. 2021. 
Outros físicos e matemáticos também se dedicaram ao estudo da 
mecânica dos fluidos, como Isaac Newton, Euller, Bernoulli, Pascal, Navier 
Stokes, Reinolds, entre outros. 
TEMA 2 – INTRODUÇÃO 
Mecânica dos fluidos é uma ramificação da mecânica, estudo específico 
do transporte e armazenagem de energia. Suas aplicações podem ser 
observadas em diversas etapas do cotidiano. 
Analisando água, ar ou outro fluido, diversas atividades e processos são 
baseados em leis da mecânica. 
Mecânica dos fluidos é o estudo das leis que causam e se opõem ao 
movimento dos fluidos. 
2.1 Aplicações 
São apresentadas neste subcapítulo diversas aplicações da mecânica 
dos fluidos, entre elas: 
• Construção Civil 
O dimensionamento de grandes edificações é possível com o 
conhecimento do comportamento de fluidos, no estado gasoso ou líquido, e a 
interferência destes objetos de estudo na estrutura final. 
 
 
7 
O maior prédio do mundo está localizado em Dubai. Ele foi construído 
entre os anos de 2004 e 2009 e tem 828 metros de altura. Para a segurança na 
utilização do espaço, foram desenvolvidos ensaios em laboratório para medição 
do vento e novas análises de estabilidade, para minimizar os efeitos de rupturas 
ocasionadas em obras tão altas. Mesmo o bombeamento de água foi verificado 
de diversas formas para garantir o abastecimento em todo prédio. 
Figura 7 – Burj Kalifa 
 
Créditos: Kirill Neiezhmakov/Shutterstock. 
• Grandes estruturas 
A barragem de Koldbrein é a maior barragem da Áustria. Com 200 metros 
de altura, foi construída de 1971 a 1979, fazendo parte de um conjunto de 
reservatórios que possuem barragens, usinas hidrelétricas e condutos forçados. 
Figura 8 – Barragem Koldbrein 
 
Créditos: Michael Wapp/Shutterstock. 
 
 
8 
• Infraestrutura 
A ponte Akashi Kaikyo foi concluída em 1998, com 3.911 metros, sendo 
1.991 metros de vão-livre, o maior vão-livre de pontes até a construção da ponte 
turca. 
A ponte está localizada onde a profundidade pode chegar a 100 metros, 
com velocidade de correntes de água de 14 km/h em média. Os ventos nesta 
região também podem ser bem acentuados. Por conta disso, o tabuleiro da ponte 
foi dimensionado com treliças, que conferem boa resistência e rigidez à ponte, 
mas não oferecem obstrução a passagem do vento. Foram instaladas de forma 
complementar placas para direcionar o vento e não interferir na estabilidade da 
estrutura. 
Figura 10 – Ponte Akashi Kaikyo 
 
Créditos: Sean Pavone/Shutterstock. 
• Tratamento de água 
Para tratamento de água, há diversas soluções viáveis e todas utilizam 
conhecimento em física, química, mecânica dos fluidos, hidráulica, topografia, 
entre outras disciplinas. 
A estação da figura representa um tanquede decantação e circulação de 
lodo. 
 
 
 
9 
Figura 11 – Vista aérea de The Solid Contact Clarifier tipo tanque de recirculação 
de lamas na estação de tratamento de água 
 
Créditos: People Image Studio/Shutterstock. 
• Outras aplicações 
Figura 12 – Geração de energia – Aeolian corridor of the Isthmus of 
Tehuantepec, Oaxaca, Mexico 
 
Créditos: Santiago Navarro F/Shutterstock. 
 
 
 
10 
Figura 13 – Sustentação de voos 
 
Créditos: Motive56/Shutterstock. 
Figura 14 – Desenvolvimento de veículos terrestres 
 
Créditos: Imagin Studio/Shutterstock. 
Figura 15 – Navegação 
 
Créditos: Mate Karoly/Shutterstock. 
 
 
11 
TEMA 3 – LEIS DA FÍSICA 
Antes de iniciar o estudo da mecânica dos fluidos, serão revisados alguns 
conceitos de física e mecânica abordados anteriormente. 
A análise mecânica que estuda corpos estacionários e em movimento é a 
parte da ciência física que identifica, calcula e interpreta as forças que atuam 
neles. A análise de corpos em repouso é chamada de estática e a análise de 
corpos em movimento é chamada de dinâmica. 
A mecânica dos fluidos é uma subcategoria que trata do comportamento 
dos fluidos e da interação entre fluidos e sólidos. 
São categorias da mecânica dos fluidos: hidrostática, hidrodinâmica, 
dinâmica dos gases, aerodinâmica, além de meteorologia, oceanografia e 
hidrologia estas ultimas analisam os escoamentos que ocorrem na natureza. 
Com base nessa abordagem, é natural analisar os fluidos como casos 
particulares na aplicação das leis de Newton para movimento. 
3.1 Primeira lei de Newton 
A Primeira Lei de Newton aborda o princípio da inércia: “um corpo em 
repouso tende a permanecer em repouso e um corpo em movimento tende a 
permanecer em movimento”. 
Para corpos sólidos, a análise de repouso e movimento é realizada de 
forma visível. No entanto, para fluidos, é preciso fazer uma análise baseada em 
uma região previamente determinada, chamada de volume de controle, a qual é 
limitada pela superfície de controle. 
Essas definições serão abordadas futuramente. 
Figura 16 – Vista de reservatório: Repouso e Movimento 
 
Créditos: Darrell Evans/Shutterstock. 
 
 
12 
3.2 Segunda lei de Newton 
A segunda lei de Newton aborda o princípio fundamental da dinâmica e 
postula: “a mesma força aplica para corpos de massa diferentes produzem 
acelerações diferentes”. 
Esta lei está representada na equação: 
𝐹 = 𝑚. 𝑎, 
Em que: 
• F – força resultante aplicada ao corpo (N); 
• m – massa do corpo em que age a força (kg); 
• a – aceleração adquirida (m²/s). 
As unidades apresentadas representam o sistema internacional de 
unidades, em que a unidade de força é N (Newton). 
Como citado anteriormente, na análise em corpos sólidos, fica evidente a 
força e a aceleração adquirida. 
Figura 16 – Ilustração da segunda lei de Newton – sólido 
 
Crédito: Elias Aleixo. 
 
 
 
13 
Figura 17 – Ilustração da segunda lei de Newton – fluidos 
 
Créditos: Studio Peace/Shutterstock. 
3.3 Terceira Lei de Newton 
A terceira lei de Newton estipula: “as forças atuam em pares, para toda 
força de ação, existe uma força de reação”. 
A análise de forças de reação na mecânica dos fluidos é analisada em 
conjunto com as análises de quantidade de movimento, e as forças que atuam 
em determinado volume de controle. Podem-se citar como exemplo as estruturas 
necessárias para ancoragem de condutos forçados em usinas hidrelétricas, 
como a figura a seguir. 
Figura 18 – Estruturas de Ancoragem em condutos forçados – Itaipu 
 
Créditos: Marcoaaaraujo/Shutterstock. 
 
 
14 
3.4 Lei da termodinâmica 
A primeira lei da termodinâmica acompanha os estudos de mecânica dos 
fluidos e das derivadas, como hidráulica e hidrologia. Essa lei se refere à 
conservação de energia: “a energia total de um sistema sempre se mantém 
constante, a energia não é criada nem perdida, apenas transformada”. 
Verificando-se a transformação de energia, percebe-se que a variação da 
energia interna de um sistema corresponde à diferença entre a quantidade de 
calor absorvida e a quantidade de trabalho que esse sistema realiza. 
A equação da primeira lei da termodinâmica é expressa da seguinte 
forma: 
∆𝑈 = 𝑄 − 𝜏 
Em que: 
• ΔU – variação da energia interna do sistema (J); 
• Q – calor (J); 
• 𝜏 – trabalho Realizado; 
Diversos sistemas em mecânica dos fluidos são estudados a partir das 
análises de energia e cargas de energia mecânica, desenvolvidas a partir da 
primeira lei da termodinâmica, como a perda de carga por atrito. 
TEMA 4 – UNIDADES 
As representações dos resultados físicos experimentados podem ser 
caracterizadas por uma dimensão, e estas grandezas que representam tais 
dimensões são chamadas de unidades. 
 Para um bom resultado que expresse o mais próximo a realidade do 
sistema, é necessário que a utilização das unidades seja coerente e correta, pois 
um erro de unidade pode representar o mau funcionamento de uma central 
hidrelétrica ou a ruptura de uma estrutura. 
 Com o objetivo de melhor representar os sistemas e o objeto de estudo 
em mecânica dos fluidos, esta aula abordará as unidades mais utilizadas. 
 
 
 
15 
4.1 Sistema Internacional 
A comunidade científica e a engenharia se esforçaram ao longo dos anos 
para uniformizar as unidades utilizadas em projetos e em representações de 
sistemas de engenharia. Contudo, é possível observar a utilização do sistema 
inglês (USCS), que compreende expressões de unidade como galões, 
polegadas, milhas ou pés, entre outras. 
 Na tentativa de unificar unidades, o sistema métrico foi criado em 1790, 
na França. O sistema de medidas contava com relação decimal. No entanto, o 
sistema Internacional (SI) como utilizamos hoje só foi aprovado em 1960, 
baseado em seis quantidades fundamentais. O SI é um sistema lógico e simples 
em que as unidades têm relação entre si, e será, em sua maioria, o sistema 
adotado nesta disciplina. 
4.2 Unidades fundamentais 
As unidades fundamentais representam as bases de análises no sistema, 
como representado no quadro a seguir. 
Quadro 1 – Unidades fundamentais 
 
 Como as unidades têm relações decimais, é importante relembrar os 
prefixos mais utilizados para representar as variações destas unidades. Os 
principais estão representados no quadro a seguir. 
 
GRANDEZA
FÍSICA
Unidade 
de Medida
Símbolo
Tempo segundo s
Massa kilograma kg
Comprimento metro m
Temperatura kelvin K
Quantidade de substância mol Mol
Corrente Elétrica ampére A
Intensidade Luminosa candela cd
 
 
16 
Quadro 2 – Principais prefixos 
 
Fonte: INMETRO, 2000. 
4.3 Outras unidades no SI 
No Sistema Internacional, a unidade de força é representada por N 
(Newton), sendo definida como a força necessária pra acelerar uma massa de 1 
kg a uma taxa de 1 m/s². Outra unidade comum de força é kgf, que representa o 
peso de uma massa de 1 kg ao nível do mar. 
 Veremos as unidades específicas das propriedades dos fluidos nas 
próximas aulas, quando serão abordados estes conceitos. Por ora, é importante 
lembrar que a massa de um corpo independe da localização, mas o seu peso se 
altera conforme a aceleração gravitacional a qual está sujeito. 
Figura 19 – Peso na superfície lunar 
 
 
17 
 
Créditos: Vadim Sadovski/Shutterstock. 
A energia pode ser expressa em joule (J), que é definido pelo produto da 
força pela distância, o que, em termos de unidade, significa multiplicar N.m. 
Portanto, 1 joule corresponde a 1 N.m, assim como a taxa de energia pelo tempo, 
ou seja, J/s é chamado de watt (W). 
 A figura representa um dos primeiros motores a vapor construídos, em 
que a potência é expressa em watts. 
Figura 20 – Motor a vapor 
 
Créditos: Lumen-Digital/Shutterstock. 
As verificações de unidades são muito importantes para o correto 
resultado, assim como unidades diferentes não podem ser somadas, havendo 
necessidade de homogeneizar as equações. 
 
 
18 
Quadro3 – Relação das unidades derivadas mais usuais 
 
 
TEMA 5 – CLASSIFICAÇÃO DO ESCOAMENTO 
O objetivo deste tema é introduzir algumas classificações importantes de 
análises de escoamento dos fluidos, sendo que as definições de fluidos, 
classificação e propriedades serão tema de aula futura. 
 Como definição, mecânica dos fluidos é a categoria da mecânica que 
estuda os fluidos em repouso ou movimento. Para melhor estudá-los e interpretá-
los, os problemas práticos são divididos em grupos. 
 A seguir, trazemos algumas análises antes de determinar as propriedades 
e definições de escoamentos de fluidos, como forma de revisão. 
5.1 Referencial de movimento 
Como visto nos estudos sobre mecânica física, cinemática e física 
termodinâmica, para descobrir velocidade, aceleração e movimento de 
elementos fluidos, é necessário determinar um referencial como parâmetro para 
estas análises. 
 
 
19 
 Importante ressaltar que estas verificações não consideram as forças que 
estão atuando, as interferências das forças e o modo como ocorre os 
movimentos e classificação dos fluidos. Essas análises serão estudadas na 
próxima etapa. 
 Como ponto de observação, há duas descrições que podem ser utilizadas 
para análises de escoamentos: a análise Lagrangeana e a análise Euleriana. 
• Lagrange 
 A análise lagrangeana consiste em acompanhar a partícula ao longo da 
trajetória. A partir de um ponto inicial para variação de tempo (1), encontra-se os 
valores em análise, por exemplo, a velocidade V = (x1,y1,z1,t). 
Figura 21 – Análise lagrangeana 
 
 
 
 
Esta análise é de grande complexidade nas aplicações cotidianas e 
verificações de movimento. Para as análises de engenharia, verificar o 
movimento de partícula não interfere de forma determinante em projetos, mas 
sim o conjunto de partículas. 
• Euleriana 
 A descrição euleriana consiste em fixar um ponto geométrico para analisar 
o conjunto de partículas. Com isso, a análise da grandeza ocorre a partir de 
funções do tempo e do espaço. 
Figura 22 – Descrição euleriana 
 
 
 
 
LC instante t 
V1 
V2 
V3 
V4 
(3) 
traço de 
serragem 
(1) 
(2) 
(4) 
foco 
 
 
20 
 
O método de análise adota uma região do escoamento em determinado 
intervalo de tempo, analisando todas as partículas que passam pela região. 
 Em alguns estudos específicos de mecânica dos fluidos, é utilizada a 
descrição lagrangeana, como a balões meteorológicos, rastreamento via satélite, 
análise de radiação, entre outras. Contudo, para a maioria dos problemas 
analisado em mecânica dos fluidos na graduação, utiliza-se a descrição 
Euleriana. 
5.2 Descrição do movimento 
Por se tratar de análise de região e não acompanhamento de partículas, 
a determinação de função para descrever o movimento analisa as linhas de 
escoamento a partir das definições, como: 
• Linhas de trajetória 
 Se várias partículas adjacentes que escoam em determinada região forem 
marcadas em determinado instante de tempo, esta linha é chamada de linha de 
tempo. 
 Quando uma partícula é marcada por corante ou fumaça, por exemplo, e 
acompanharmos o movimento da partícula, indicando o histórico de pontos 
percorridos e o caminho traçado pela partícula, esta linha é denominada linha de 
trajetória. 
 Há também, em análises de escoamento, a possibilidade de fixar a 
atenção em determinada região no espaço. Todas as partículas que passam no 
ponto de observação formariam uma linha de partículas, chamada de linha de 
emissão. 
O estudo da linha de trajetória pode ser interpretado matematicamente 
como coordenadas instantâneas de uma partícula específica. As funções de 
interpretação são analisadas em função do tempo e resultam em: 
𝑑𝑥
𝑑𝑡
) = 𝑢(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) 
𝑑𝑦
𝑑𝑡
) = 𝑣(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) 
𝑑𝑧
𝑑𝑡
) = 𝑤(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) 
 
 
21 
Com essa formulação, a localização instantânea da coordenada é definida 
pela integração destas equações da velocidade: 
 𝑥 = ∫ 𝑢 . 𝑑𝑡 𝑦 = ∫ 𝑣 . 𝑑𝑡 𝑧 = ∫ 𝑤 . 𝑑𝑡 
• Linhas de corrente 
As linhas de corrente são aquelas desenhadas no campo de escoamento, 
linha imaginária resultante da tangente do vetor velocidade em cada ponto do 
escoamento. Por se tratar de vetores tangentes à velocidade, não há passagem 
de fluxo entre as linhas de corrente, tornando a visualização mais simplificada e 
comum em simulações computacional. 
A formulação matemática para a função da linha de corrente é: 
𝑑𝑥
𝑢
=
𝑑𝑦
𝑣
=
𝑑𝑧
𝑤
 
• Tubos de corrente 
 Tubo de corrente é um tubo imaginário formado pelas linhas de corrente, 
cuja parede nenhum fluxo atravessa. 
Figura 23 – Tubos de corrente 
 
Fonte: Brunetti, 2008, p. 70 
5.3 Classificação geométrica 
• Tridimensional 
As análises de escoamento reais sempre nos remetem a escoamentos 
tridimensionais, pois as grandezas analisadas variam nas três direções, ou seja, 
 
 
22 
o número de coordenadas espaciais necessárias para descrever o campo de 
velocidades são três (x,y,z), além da variação com o tempo. 
Figura 24 – Exemplo de escoamento tridimensional 
 
Créditos: Africa Studio/Shutterstock. 
Bidimensional 
Para as análises de grande parte dos problemas de ordem prática em 
mecânica dos fluidos, é possível determinar o vetor velocidade a partir de duas 
coordenadas. Com isso, as linhas de corrente ficam apenas em um plano. 
Na figura a seguir, está apresentada a relação da velocidade que varia 
em duas dimensões. 
Figura 25 – Diagrama de velocidade bidimensional 
 
Fonte: Brunetti, 2008, p. 70 
 
 
23 
• Unidimensional 
Alguns casos particulares, quando a velocidade em duas direções é muito 
menor que em outra, pode-se analisar o escoamento de forma unidimensional, 
ou seja, a função da velocidade é analisada apenas em uma direção. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, apresentamos os estudos sobre mecânica dos fluidos, 
conhecendo um pouco de como surgiu a manipulação da água pela humanidade 
e como os primeiros estudiosos relacionaram de forma matemática e análise 
científica as primeiras equações de mecânica dos fluidos. 
Na sequência, foi observado como o campo de aplicações da disciplina é 
amplo e real, tendo interferência em diversas atividades cotidianas e no 
desenvolvimento de cidades, transporte, construções e infraestrutura. 
Também relembramos alguns conceitos de física e leis básicas da 
mecânica e da termodinâmica, as quais são muito utilizadas nos estudos em 
fluidos, como as leis de Newton, que descrevem os movimentos dos corpos 
finitos e sólidos. Será apresentada futuramente a maneira como estas 
observações serão transferidas e modificadas para corpos líquidos e gasosos. 
Seguindo as análises de revisão, foram abordadas as principais unidades 
utilizadas, incluindo as unidades primárias e as derivadas. 
Para concluir esta aula, foram revisadas as características de escoamento 
e a forma como são analisadas. Pode-se acompanhar a partícula ou analisar 
determinada região do escoamento, sendo que esta última opção é a mais 
utilizada em mecânica dos fluidos para engenharia. Também foram 
apresentadas as coordenadas de análise de grandezas físicas, principalmente a 
velocidade. 
Os principais objetivos desta aula foram: 
• Conhecer quando a humanidade passou a manipular e utilizar a água 
como diferencial para crescimento das cidades; 
• Identificar as principais aplicações de mecânica dos fluidos, analisando o 
mundo a sua volta e interpretando de forma científica o movimento de 
fluidos; 
• Relembrar as principais leis de movimento na física; 
 
 
24 
• Reconhecer e utilizar as unidades principais de derivadas de forma 
correta e coerente; 
• Relembrar as interpretações e observações de escoamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
REFERÊNCIAS 
BRUNETTI, F. Mecânica dos fluidos. São Paulo: Pearson, 2008. 
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos Fluidos – Fundamentos e 
Aplicações. SãoPaulo: McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda, 2007, 819 p. 
FOX, R. W.; MCDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J. Introdução à Mecânica dos 
Fluidos. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2004. 
INMETRO. Quadro Geral de Unidades de Medida. 2ª ed. Brasília, 2000. 
POTTER, M. C.; WIGGERT, D. C.; HONDZO, M. Mecânica dos Fluidos. São 
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. 688p. 
WHITE, F. M. Mecânica dos fluidos. 6. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2010. 
880p.

Continue navegando