Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
1 
 
 
 
 
 
 
DIREITO 
PENAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
2 
 
 
Olá! Boas-Vindas! 
 
Cada material foi preparado com muito carinho para que você 
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de qua-
lidade. 
Lembre-se: o seu sonho também é o nosso. 
Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação! 
 
Com carinho, 
Equipe Ceisc. ♥ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
3 
 1ª FASE OAB | 39° EXAME 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
Prof. Arnaldo Quaresma 
 
 
Sumário 
 
1. Aplicação da Lei Penal ............................................................................................................. 4 
2. Do crime ................................................................................................................................. 10 
3. Da Imputabilidade Penal ........................................................................................................ 28 
4. Concurso de Pessoas (arts. 29, 30 e 31 do CP) .................................................................... 29 
5. Aplicação da Pena ................................................................................................................. 32 
6. Da Suspensão Condicional da Pena ..................................................................................... 45 
7. Do Livramento Condicional .................................................................................................... 49 
8. Efeitos da Condenação .......................................................................................................... 53 
9. Extinção da Punibilidade ........................................................................................................ 56 
10. Crimes contra a vida ............................................................................................................ 69 
11. Lesão Corporal (art. 129 do CP) .......................................................................................... 76 
12. Crimes contra a honra.......................................................................................................... 78 
13. Crimes Contra o Patrimônio ................................................................................................. 81 
14. Crimes contra a Dignidade Sexual ....................................................................................... 94 
15. Crimes contra a Fé Pública .................................................................................................. 98 
16. Crimes contra a Administração Pública ............................................................................. 100 
17. Dos crimes contra a Administração da Justiça .................................................................. 109 
 
 
 
 
Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para 
a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, reco-
menda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. 
 
Bons estudos, Equipe Ceisc. 
Atualizado em julho de 2023. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
4 
1. Aplicação da Lei Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
@prof.nidal 
1.1. Da lei penal no tempo (art. 2o do CP) 
Pelo princípio tempus regit actum (“o tempo rege o ato”), a lei penal não alcança os fatos 
ocorridos antes ou depois de sua vigência, de forma que, em regra, a lei aplicável a um crime é 
aquela vigente ao tempo da execução deste crime. 
A regra, pois, é que a atividade da lei penal se dê no período de sua vigência; a extra-
atividade, representada pela retroatividade da lei mais benéfica e pela ultratividade, configura 
exceção a esta regra. 
Ultratividade quer dizer que se a lei antiga for mais favorável, prevalecerá ao tempo da 
vigência da lei nova, mesmo estando revogada. 
A retroatividade da lei mais benéfica significa que a lei mais benigna prevalece sobre a 
mais severa, prolongando-se além do instante de sua revogação ou retroagindo ao tempo em 
que não tinha vigência. 
 
1.1.1 Abolitio criminis (art. 2o, caput, do CP) 
Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova deixa de considerar crime fato que 
anteriormente era considerado ilícito penal. A nova lei, demonstrando não haver mais, por parte 
do Estado, interesse na punição do autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo. 
A abolitio criminis, além de conduzir à extinção da punibilidade, apaga todos os efeitos 
penais da sentença condenatória, permanecendo, no entanto, íntegros seus efeitos na esfera 
extrapenal. É o que se extrai do art. 2o, caput, do CP. 
 
1.1.2. Novatio legis in mellius (art. 2o, par. ún., do CP) 
Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras. A lei posterior, 
que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença 
condenatória transitada em julgado (art. 2o, par. ún., do CP). 
Assim, se uma lei posterior deixar de prever uma circunstância de aumento de pena em relação a 
determinado crime, retroagirá para beneficiar o réu. O mesmo se pode dizer se a lei posterior passar a 
prever uma causa de diminuição da pena, por exemplo. Essa lei retroagirá para alcançar fatos praticados 
antes da sua vigência. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
5 
1.1.3. Novatio legis incriminadora 
A novatio legis incriminadora, ao contrário da abolitio criminis, considera crime fato anteriormente 
não incriminado, e somente gerará efeitos para fatos praticados após a sua vigência. 
Por conferir tratamento severo, a novatio legis incriminadora, por evidente, não retroage para al-
cançar fatos praticados antes da sua vigência, tendo eficácia, portanto, somente em relação aos fatos pra-
ticados a partir da sua vigência. 
 
1.1.4. Novatio legis in pejus 
 A quarta hipótese refere-se à nova lei mais severa que a anterior (exemplo: a nova lei de 
drogas, Lei n. 11.343/2006, no art. 33, aumentou a pena do crime de tráfico de drogas). Incide, no 
caso, o princípio da irretroatividade da lei penal: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficia r o 
réu” (art. 5o, XL, da CF/1988). 
 
1.1.5. Crime permanente e crime continuado e a lei penal mais benéfica 
Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do CRIME PERMANENTE, ainda que seja pre-
judicial ao réu, já que a cada momento da atividade criminosa está presente a vontade do agente. 
Da mesma forma, sendo o CRIME CONTINUADO uma ficção, considerando que uma série de 
crimes constitui um único delito para a finalidade de aplicação da pena, o agente responde pelo que praticou 
em qualquer fase da execução do crime continuado. Portanto, se uma lei penal nova tiver vigência durante 
a continuidade delitiva, deverá ser aplicada ao caso, prejudicando ou beneficiando. 
 
Súm. 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime per-
manente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 
 
1.2. Lei temporária e lei excepcional (art. 3o do CP) 
Leis excepcionais: são feitas para durar enquanto um estado anormal ocorrer. Cessa a sua vigên-
cia ao mesmo tempo que a situação excepcional também terminar. Portanto, são aquelas promulgadas em 
caso de calamidade pública, guerras, revoluções, cataclismos, epidemias etc. 
Leis temporárias: são as editadas com período determinado de duração, portanto, dotadas de 
autorrevogação. É feita para vigorar em um período de tempo previamente fixado pelo legislador. Traz em 
seu bojo a data do início e da cessação de sua vigência. É uma lei que, desde a sua entrada em vigor, está 
marcada para morrer. 
Reúnem duas características: 
Autorrevogabilidade: em regra, uma lei somente pode ser revogada por outra lei, posterior, quea 
revogue expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule integralmente a matéria nela tratada. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
6 
As leis de vigência temporária e excepcional constituem exceção a esse princípio, visto que perdem sua 
vigência automaticamente, sem que outra lei as revogue. 
Ultratividade: significa que uma lei revogada continua gerando efeitos. É o caso da lei temporária 
e da lei excepcional, que continuarão gerando efeitos em relação aos fatos praticados durante sua vigência, 
mesmo após revogadas. 
 
1.3. Do tempo do crime (art. 4o do CP) 
Em relação ao tempo do crime, o Código Penal adotou a teoria da atividade, segundo a qual se 
reputa praticado o delito no momento da conduta, não importando o instante do resultado. Assim, se um 
adolescente com 17 anos, 11 meses e 29 dias efetuar disparo de arma de fogo contra a vítima, que vem a 
falecer cinco dias depois (quando já terá adquirido a maioridade), responderá conforme as normas do ECA, 
diante da teoria da atividade que rege o tempo do crime. 
*Para todos verem: esquema. 
 
 
1.4. Territorialidade (art. 5o do CP) 
Pelo princípio da territorialidade, aplicam-se as leis brasileiras aos delitos cometidos dentro do 
território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de soberania, ou seja, a cada Estado 
cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu território. 
Nos termos do art. 5o, § 1o, do CP, há duas situações de território brasileiro por equiparação: 
a) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro 
onde estiverem; 
b) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade privada, que estiverem navegando em 
A
B
O
L
IT
IO
 C
R
IM
IN
IS
FATO DEIXA DE SER 
CRIME
CESSAM TODOS OS 
EFEITOS PENAIS
CAUSA DE EXTINÇÃO 
DA PUNIBILIDADE
PERMANECEM 
EFEITOS CIVIS
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
7 
alto-mar ou sobrevoando águas internacionais. 
Os navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras, desde que públicos, não são considerados 
parte do nosso território. Em face disso, os crimes neles cometidos devem ser julgados de acordo com a lei 
da bandeira que ostentam. Se, entretanto, são de natureza privada, aplica-se a lei brasileira (art. 5o, § 2o, 
do CP). 
 
1.5. Do lugar do crime (art. 6o do CP) 
O Código Penal adotou a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual é lugar do crime tanto 
onde houve a conduta quanto o local onde se deu o resultado. 
Assim, na hipótese de o agente, que se encontra na cidade brasileira de Santana do Livra-
mento-RS, efetuar disparos contra a vítima que se encontra na cidade de Rivera, em solo uruguaio, 
separada por uma rua do Município brasileiro, vindo este a falecer, aplica-se a lei penal brasileira, já 
que os atos executórios do crime foram praticados em território brasileiro, embora o resultado tenha 
sido produzido em país estrangeiro. 
*Para todos verem: esquema. 
 
 
 
1.6. Extraterritorialidade (art. 7o do CP) 
Extraterritorialidade: é uma exceção. Mesmo que o crime seja cometido fora do Brasil, os agentes 
sujeitam-se à lei brasileira, nas hipóteses mencionadas no art. 7o do CP, quais sejam: 
*Para todos verem: quadro. 
EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA (INCISO I) 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repú-
blica; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Dis-
trito Federal, de Estado, de Território, de Município, 
de empresa pública, sociedade de economia mista, 
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu 
serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou do-
miciliado no Brasil; 
Nestes casos, o agente é punido segundo a lei brasi-
leira, ainda que absolvido ou condenado no estran-
geiro. 
EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA (INCISO II) 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a 
reprimir; 
Nestes casos, a aplicação da lei brasileira depende do 
concurso das seguintes condições (§ 2o): 
TEMPO DO CRIME TEORIA DA ATIVIDADE
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
8 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei-
ras, mercantes ou de propriedade privada, quando 
em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi prati-
cado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei 
brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou 
não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por 
outro motivo, não estar extinta a punibilidade, se-
gundo a lei mais favorável. 
EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA (INCISO II) 
Cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Bra-
sil. 
Se reunidas as condições (§ 2o): 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi prati-
cado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei 
brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou 
não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, 
por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, se-
gundo a lei mais favorável. 
 + 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; (§ 3o) 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. (§ 3o) 
 
1.7. Conflito aparente de normas 
É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente aplicáveis ao mesmo 
fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato, mas é aparente, porque apenas uma 
delas acaba sendo aplicada à hipótese. 
 
1.7.1. Princípio da especialidade 
Trata-se da aplicação da regra de que a norma especial afasta a aplicação da lei geral, represen-
tado pelo brocardo lex specialis derrogat generali. 
A lei especial, ou específica, caracteriza-se por se revestir de sentido diferenciado, individualizado, 
que a particulariza em relação às demais normas. Dito de outro modo, a norma penal especial reúne todos 
os elementos típicos da lei geral, mas reveste-se de outros elementos que a tornam especial, que a parti-
cularizam, chamados especializantes. 
Tomemos como exemplo o caso de uma mãe matar, sob influência do estado puerperal, o próprio 
filho, logo após o parto. Há um único fato sobre o qual, aparentemente, pode incidir o crime de homicídio, 
previsto no art. 121 do CP, ou infanticídio, previsto no art. 123 do CP. O crime de infanticídio possui núcleo 
idêntico ao do crime de homicídio, ou seja, reúne todos os elementos descritos no art. 121 do CP, 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
9 
consistentes em “matar alguém”. Todavia, além dos elementos da norma geral, o art. 123 do CP, que tipifica 
o delito de infanticídio, possui elementos que o especializam e diferenciam do crime de homicídio: autora 
ser a genitora da vítima, que deve ser seu próprio filho, nascente ou neonato; prática do delito durante ou 
logo após o parto, sob influência do estado puerperal. Note-se que se estabeleceu um conflito entre as 
normas do art. 121 e do art. 123 do CP, mas que é aparente, pois será solucionado pelo princípio da espe-
cialidade, prevalecendo, no caso, a norma penal que define o crime de infanticídio, já que as elementares 
contidas nesse crime a tornam especial em relação à norma geral que define o homicídio. 
 
1.7.2. Princípio da subsidiariedade 
Há relação de subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de violação do mesmo bem 
jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor gravidade que a da principal, é absor-
vida por esta. A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. 
A subsidiariedade expressa ou explícita ocorre quando a própria lei indica ser a norma sub-
sidiária de outra. Quando a norma, em seu próprio texto, subordina a sua aplicação à não aplicação deoutra, de maior gravidade punitiva. O crime de importunação sexual, previsto no art. 215-A do CP, inclu-
ído pela Lei no 13.718/2018, incidirá “se o ato não constitui crime mais grave”, conforme expressamente 
prevê o referido dispositivo legal. Logo, o delito de importunação sexual somente incidirá se a conduta 
do agente não caracterizar crime mais grave, por exemplo, estupro (art. 213 do CP) ou estupro de vul-
nerável (art. 217-A do CP). 
A subsidiariedade tácita ou implícita ocorre quando a norma penal não ressalva, de modo ex-
presso, a sua incidência na hipótese de outra norma de maior gravidade punitiva não ser aplicável ao caso 
concreto. A norma subsidiária poderá incidir ainda que o legislador não tenha expressamente previsto essa 
possibilidade. O crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP) é tacitamente subsidiário em relação ao 
crime de estupro (art. 213 do CP). Assim, se, no caso concreto, o crime mais grave (art. 213 do CP) não 
restar caracterizado, ou seja, não ficar demonstrado que o constrangimento não teve por finalidade violar a 
dignidade sexual da vítima, pode-se aventar a incidência do crime de constrangimento ilegal (art. 146 do 
CP). 
 
1.7.3. Princípio da consunção 
Diversamente do princípio da subsidiariedade, em que a prática de um ato delituoso deve ser en-
quadrada na norma mais grave, o princípio da consunção é aplicado para dirimir conflito aparente de normas 
decorrente de uma sequência de fatos delituosos, que, isoladamente, constituem crime, mas que, ao 
final, devem ser subsumidos a um único tipo penal. Em outras palavras, os atos delituosos praticados para 
alcançar o resultado esperado serão absorvidos pelo crime desejado, resultando, assim, na 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
10 
responsabilização do agente pela prática de um crime. 
Tomemos como exemplo o agente que pretende desde o início produzir a morte da vítima. Para 
tanto, utiliza-se de uma faca, golpeando a vítima em várias partes do corpo, vindo, ao final, a aplicar o golpe 
fatal, causando-lhe a morte. Há um único elemento subjetivo, sendo a conduta composta por vários atos 
praticados de forma progressiva até atingir o resultado mais grave. Surge, assim, o conflito aparente de 
normas: o agente responderá pelos delitos de lesão corporal (art. 129 do CP) e homicídio (art. 121 do CP) 
ou apenas pelo crime de homicídio? Nesse caso, aplicando-se o princípio da consunção, o agente respon-
derá apenas pelo crime de homicídio (art. 121 do CP), pois as várias lesões corporais produzidas pelos 
golpes de faca constituíram meio necessário para a execução do delito pretendido, sendo, por isso, absor-
vidas pelo crime de homicídio. 
2. Do crime 
Fato típico é o fato humano que se enquadra perfeitamente no modelo legal de conduta proibida. 
Assim, o fato humano de desferir disparos de arma de fogo contra uma pessoa, matando-a, será conside-
rado fato típico, porque se amolda perfeitamente ao mode.lo legal da conduta proibida de “matar alguém”, 
adequando-se aos elementos constitutivos do tipo penal que define o crime de homicídio, descritos no art. 
121 do CP. 
Fato atípico, por sua vez, é o fato humano que não se enquadra ou não se adéqua a um tipo penal. 
Para a integração do fato ao tipo penal deve haver um comportamento humano, consistente na 
conduta. A ação ou omissão humana (conduta), porém, não é suficiente, sendo necessário um resultado. 
Entre a conduta e o resultado se exige uma relação de causalidade. Por último, para integralizar um fato 
típico, deve operar-se a subsunção ou adequação de todos os elementos no modelo legal previsto no tipo 
penal, revestindo-se, assim, na própria tipicidade. 
Portanto, os elementos do fato típico são: 
*Para todos verem: esquema. 
 
 
 
 
F
A
T
O
 T
ÍP
IC
O
CONDUTA
RESULTADO
RELAÇÃO DE 
CAUSALIDADE
TIPICIDADE
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
11 
 
2.1. Relação de causalidade ou nexo causal (art. 13 do CP) 
Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma direta. Trata-se de rela-
ção de causa (conduta) e efeito (resultado): nexo de causalidade. 
Todavia, pode ocorrer de, aliada à conduta do agente, outra causa contribuir para o resultado. É a 
chamada concausa. 
Esta “concausa” pode ser absolutamente independente ou relativamente independente, depen-
dendo se teve ou não origem na conduta do agente. 
 
2.1.1. Causas absolutamente independentes 
São aquelas que não têm origem na conduta do agente. A expressão “absolutamente” serve 
para designar que a outra causa independente por si só produziu o resultado. São causas que não se 
inserem na linha do desdobramento natural da conduta do agente, ou seja, causas inusitadas, desvincula-
das da ação do agente, surgindo de fonte distinta. 
Há, na verdade, uma quebra do nexo causal. 
São três as espécies de causas absolutamente independentes: 
a) Preexistentes 
Trata-se de causa que existia antes da conduta do agente e produz o resultado independentemente 
da sua atuação. Ou seja, com ou sem a ação do agente o resultado ocorreria do mesmo modo. 
Ex.: o agente desfere um disparo de arma de fogo contra a vítima, que, no entanto, vem a falecer 
pouco depois, não em consequência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno com a 
intenção de se suicidar. 
b) Concomitantes 
São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o resultado independen-
temente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente no instante em que a ação é realizada. 
Ex.: “A” desfere golpe de faca contra “B” no exato momento em que este vem a falecer exclusiva-
mente por força da queda da marquise de um prédio em sua cabeça. 
c) Supervenientes 
São causas que atuam após a conduta. Ou seja, que surgem depois da conduta desenvolvida pelo 
agente. 
Ex.: “A” ministra veneno na alimentação de “B”. Antes de o veneno produzir efeitos, há um desa-
bamento ou incêndio na casa da vítima, que morre exclusivamente por conta dos escombros que caíram 
sobre sua cabeça ou queimada pelo fogo. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
12 
*Consequência. Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o pro-
blema é resolvido pelo caput do art. 13: há exclusão da causalidade decorrente da conduta. Ou seja, o 
agente responde somente por aquilo que deu causa. Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação 
alguma com o comportamento do agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas, sim, 
pelos atos praticados antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. Assim, se o dolo 
era de matar, o agente responderia por tentativa de homicídio. 
Cuidado! 
Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente responderá por aquilo que 
deu causa: lesão corporal (leve, grave ou gravíssima). 
 
2.1.2. Causas relativamente independentes 
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando dentro 
da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas relativamente independen-
tes, encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente. 
Aqui não há, de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as causas, que, ao final, 
conduzem ao resultado lesivo. 
Também são três as espécies de causas relativamente independentes: 
a) Preexistentes 
A causa que efetivamente gerou o resultado já existia ao tempo da conduta do agente, que con-
correu para a sua produção. 
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente responde pelo 
resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha concorrido para ele com dolo 
ou culpa. 
Isso porque, segundo doutrina majoritária, a imputação do resultado ao agente exige que ele tenha 
conhecimento do estado de saúde do agente (que denota dolo) ou que, pelo menos, lhe fosse previsível 
(indicativo de culpa). 
Assim, se, por exemplo, o agente não sabiado estado de saúde da vítima ou não lhe era previsível, 
não poderia lhe ser atribuído o resultado morte; responderia, pois, pelo delito de tentativa de homicídio (se 
agiu com a intenção de matar). Da mesma forma, se pretendia ferir a vítima, agredindo-a com um soco e 
esta, em razão da hemofilia, desconhecida pelo agente, vem a falecer em razão da eclosão de uma hemor-
ragia, o agente somente será responsabilizado pelo delito de lesão corporal. 
b) Concomitantes 
A causa que efetivamente produziu o resultado surge no exato momento da conduta do agente. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
13 
Ex.: considera-se o ataque à vítima, por meio de faca, que, no exato momento da agressão, sofre 
ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a soma desses fatores (causas) produziu a morte, já que 
a agressão e o ataque cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão do produzir o resultado 
morte. 
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente responde pelo 
resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha concorrido para ele com dolo 
ou culpa. 
c) Supervenientes (art. 13, § 1o, do CP) 
A causa que efetivamente produziu o resultado ocorre depois da conduta praticada pelo agente. 
Ex.: o agente desfere um golpe de faca contra a vítima, com a intenção de matá-la. Ferida, a vítima 
é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo, por este motivo, a falecer. A causa é independente, 
porque a morte foi provocada pelo acidente e não pela facada, mas essa independência é relativa, já que, 
se não fosse o ataque, a vítima não estaria na ambulância acidentada e não morreria. Tendo atuado pos-
teriormente à conduta, denomina-se causa superveniente. 
Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico-naturalístico, a lei, por expressa 
disposição do art. 13, § 1o, do CP, que excepcionou a regra geral, exclui a imputação do resultado ao 
agente, devendo, no entanto, responder pelos atos anteriores efetivamente praticados. Assim, o agente não 
responde pelo resultado ocorrido, mas somente pelos atos anteriores, que, no caso, foi tentativa de homi-
cídio. 
Cuidado! 
Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente responderá pelos atos an-
teriores praticados, no caso, lesão corporal (leve, grave ou gravíssima). 
2.2. Relevância da omissão: crimes omissivos (art. 13, § 2o, do CP) 
O crime omissivo configura-se quando o agente deixa de fazer aquilo que poderia e deveria fazer, 
que estaria obrigado em virtude de lei. 
Os crimes omissivos podem ser próprios ou impróprios (ou comissivos por omissão). 
 
2.2.1. Crimes omissivos próprios 
São aqueles em que há um tipo penal específico descrevendo a conduta omissiva. O verbo nuclear 
do tipo descreve uma conduta omissiva. Nesse caso, o crime consiste em o sujeito amoldar a sua conduta 
ao tipo legal que descreve uma conduta omissiva. Em síntese, o agente será responsabilizado por não 
cumprir o dever de agir contido implicitamente na norma incriminadora. 
Exemplo: crime de omissão de socorro: 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
14 
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à cri-
ança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em 
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de 
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 
 
 
2.2.2. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão (art. 13, § 2o, do CP) 
Têm a finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento, desde que, evidentemente, seja 
possível agir. 
Para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso que tenha o dever jurídico 
de impedir o resultado, previsto no art. 13, § 2o, do CP: 
a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância 
Nesse caso, por expressa imposição da lei, o agente estará obrigado a agir para evitar o resultado. 
Assim, se o agente se omitir, ou seja, deixar de agir, quando lhe era possível, responderá pelo resultado 
gerado. Ex.: mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua negligência, acaba morrendo por 
inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro 
lado, a mãe desejou a morte do filho ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso. 
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado 
Aqui a obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de lei, mas do fato de o agente ter 
assumido a responsabilidade de impedi-lo. Ex.: babá que, por negligência, deixa de cumprir corretamente 
sua obrigação de cuidar da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre afogada. Nesse caso, 
responderá pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, desejou a morte da 
criança ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso. 
c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado 
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo para bens jurídi-
cos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado a evitar que ele se de-
genere ou desenvolva para o dano ou lesão. Ex.: aluno veterano, por ocasião de um trote acadêmico, 
sabendo que a vítima não sabe nadar, joga o incauto calouro na piscina. Nesse caso, contrai o dever jurídico 
de agir para evitar o resultado, sob pena de responder por homicídio. 
 
2.3. Iter criminis e tentativa (art. 14 do CP) 
2.3.1. Iter criminis 
Iter criminis significa literalmente “caminho do crime”. Trata-se do caminho percorrido pelo agente 
para a prática da infração penal, passando pela ideação até chegar à consumação. Em síntese, iter criminis 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
15 
é o conjunto de fases pelas quais passa o delito. 
O primeiro momento do iter criminis é a cogitação. O agente idealiza, internamente, a atividade 
criminosa. Toda essa representação ainda se encontra no plano interno do agente, ou seja, ainda não há 
exteriorização de nenhum ato. É exatamente por isso que a fase da cogitação não é punível. 
Nos atos preparatórios, o agente passa da cogitação para a exteriorização da sua atividade cri-
minosa, buscando, previamente ao início da execução, os elementos necessários para o desenvolvimento 
da conduta delituosa. É a partir dos atos preparatórios que o agente começa a materializar, ou seja, exteri-
orizar sua busca pela consumação da infração penal. A aquisição de uma arma, por exemplo, para a prática 
do homicídio constitui ato preparatório. Da mesma forma, o estudo do local do crime, buscando identificar 
a melhor hora e forma de ingressar no ambiente, constitui ato preparatório do crime de furto. 
Os atos preparatórios, via de regra, não são puníveis, nem na forma tentada, uma vez que, nos 
termos do art. 14, II, do CP, afigura-se necessário o início da execução do delito, com a realização da 
conduta nuclear descrita no tipo penal. 
Todavia, em casos excepcionais, o legislador descreve atos que na sua concepção seriam prepa-
ratórios como delitos autônomos, por exemplo, os crimes de associação criminosa (art. 288 do CP) e pe-
trechos para falsificação de moedas (art. 291 do CP). 
Nos atos executórios, o agente passa a desenvolver conduta voltada a realizar o verbo nuclear do 
tipo. A partir dos atos executórios, o fato passa a ser punível, ao menos na forma tentada. Isso porque o 
próprio art. 14, II, do CP atrelou a tentativa ao início da execução do crime, condicionando, pois, sua puni-
bilidade ao início da prática de atos executórios. 
A consumação é o momento de conclusão do delito, reunindo todos os elementos do tipo penal. 
O exaurimento não integra o iter criminis,que encerra com a consumação. O crime exaurido, tam-
bém chamado de esgotado, é aquele no qual, após ser alcançada a consumação, continua produzindo 
efeitos decorrentes da conduta lesiva do agente. 
A consumação do crime de corrupção passiva (art. 317 do CP) ocorre com a solicitação da vanta-
gem indevida. O efetivo proveito ulterior com o recebimento dessa vantagem não integra o iter criminis, 
constituindo-se no exaurimento do crime. 
 
2.3.2. Tentativa (art. 14, II, do CP) 
Nos termos do art. 14, II, do CP, para caracterizar ao menos crime tentado, deve o agente passar 
pelos atos preparatórios e dar início à execução do delito, que, por razões alheias à sua vontade, não 
alcance a consumação. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
16 
 
2.3.2.1. Algumas infrações que não admitem a tentativa 
 
a) Crimes culposos 
No crime culposo, o agente não deseja nem assume o risco na produção do resultado. O resultado, 
pois, é involuntário. Na tentativa, o agente deseja ou assume o risco na produção do resultado, que, no 
entanto, não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade. Logo, verifica-se a absoluta incompatibilidade 
entre o crime culposo e a tentativa. 
Há, no entanto, uma classe de crimes culposos que admitem a tentativa: culpa imprópria. 
b) Crimes preterdolosos 
Nos crimes preterdolosos, a conduta é desenvolvida de forma dolosa, mas o resultado agravador 
é culposo. Assim, como no crime preterdoloso o resultado agravador não é desejado pelo agente, não há 
falar em tentativa, que pressupõe a não consumação do delito por circunstâncias alheias à sua vontade. 
c) Contravenções penais 
Nos termos do art. 4o do Decreto-lei no 3.688/1941, “não é punível a tentativa de contravenção”. 
d) Crimes omissivos próprios 
Os crimes omissivos próprios não admitem tentativa, porque não se afigura possível fracionar a 
conduta omissiva do agente. Isso porque ou o agente observa o seu dever de agir implícito no tipo penal, e 
o crime se consuma; ou pratica a conduta, e não há crime. 
Os crimes omissivos impróprios admitem tentativa. 
e) Crimes unissubsistentes 
Os crimes unissubsistentes ou de ato único não admitem tentativa, diante da impossibilidade de 
fracionamento dos atos de execução. Ou seja, não é possível dar início à execução do delito e não atingir 
a consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
 
2.4. Desistência voluntária e arrependimento eficaz (art. 15 do CP) 
Na desistência voluntária e no arrependimento eficaz, o agente dá início à execução do delito, mas 
não consuma por vontade própria, ou porque desistiu de prosseguir nos atos executórios, ou porque se 
arrependeu eficazmente. 
 
2.4.1. Desistência voluntária 
A desistência voluntária caracteriza-se por um comportamento negativo do agente, que, após dar 
início à execução do delito, adota uma postura de abstenção, ou seja, cessa o seu comportamento deli-
tivo, não leva adiante a atividade executória; mesmo podendo prosseguir, desiste da realização típica. 
Tomemos como exemplo a conduta do agente que, com a intenção homicida, desfere um disparo 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
17 
de arma de fogo contra a vítima, acertando-a em região não letal. Podendo prosseguir, já que tinha mais 
cinco balas no revólver, o agente resolve, por vontade própria, não efetuar mais disparos, deixando a vítima 
sobreviver. 
 
2.4.2. Arrependimento eficaz 
No arrependimento eficaz, o agente, após ter esgotado todos os meios à sua disposição para a 
consumação do delito, arrepende-se e, adotando uma postura ativa, impede que o resultado se produza. 
Exemplo: agente que, com a intenção homicida, após efetuar disparos de arma de fogo contra a 
vítima, utilizando todas as balas do revólver, arrepende-se e, adotando postura ativa, leva a vítima até o 
hospital, que, submetida a intervenção cirúrgica exitosa, acaba sobrevivendo. 
 
2.4.3. Consequência 
Nos termos da parte final do art. 15 do CP, verificada hipótese de desistência voluntária ou arre-
pendimento eficaz, o agente jamais responderá pelo crime na modalidade tentada, já que, como visto, trata-
se de causa excludente da tipicidade da tentativa, mas pelos atos até então praticados, se típicos. 
Assim, o agente que ingressa numa residência e, por ato voluntário, desiste de consumar a sub-
tração, não responderá por tentativa de furto, mas pelos atos até então praticados, quais sejam, violação 
de domicílio (art. 150 do CP). 
 
2.5. Arrependimento posterior (art. 16 do CP) 
Trata-se de causa obrigatória de diminuição da pena que incide quando o agente, responsável 
pelo crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa, repara o dano provocado ou restitui a coisa, 
desde que de forma voluntária, até o recebimento da denúncia ou da queixa. 
Assim, se o agente subtraiu uma TV do seu local de trabalho e, ao chegar em casa com a coisa 
subtraída, é convencido pela esposa a devolvê-la, o que efetivamente vem a fazer no dia seguinte, mesmo 
quando o fato já havia sido registrado na delegacia, haverá arrependimento posterior, com ref lexo na dosi-
metria da pena. 
 
2.6. Crime impossível (art. 17 do CP) 
O crime impossível por ineficácia absoluta do meio guarda relação com o meio de execução 
ou instrumento utilizado pelo agente, que, por sua natureza, será incapaz de produzir qualquer resultado, 
ou seja, jamais alcançará a consumação do delito. É o caso do agente que, pretendendo matar a vítima, 
usa como meio executório arma completamente defeituosa, que jamais efetuaria qualquer disparo. 
O crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto guarda relação com o objeto 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
18 
material, compreendendo a pessoa ou coisa sobre o qual recai a conduta do agente. Tomemos como exem-
plo a conduta do agente que, pretendendo matar a vítima, desfere vários disparos de arma de fogo contra 
o seu corpo, verificando-se, após, que, ao receber os disparos, já se encontrava morta, em decorrência de 
ter sofrido, momentos antes, fulminante ataque cardíaco. Evidente, neste caso, a impropriedade absoluta 
do objeto, diante da impossibilidade de ceifar a vida de pessoa que já estava morta. 
 
2.7. Crime doloso e culposo (art. 18 do CP) 
 
2.7.1. Crime doloso 
Com o sistema finalista, o dolo passou a integrar a conduta, elemento do fato típico. Trata-se de 
um elemento psicológico introduzido no tipo penal, característico do crime doloso. 
Dolo direto, também chamado dolo determinado, intencional, imediato ou incondicionado, é 
aquele que se caracteriza pela vontade do agente estar dirigida especificamente à produção do resultado 
típico, abrangendo os meios utilizados para tanto. No dolo direto, o agente quer o resultado por ele anteri-
ormente representado. Adota-se a teoria da vontade. 
No dolo de primeiro grau, o agente desenvolve conduta com vontade e consciência de atingir 
determinado resultado. O dolo do agente é voltado a atingir um único bem jurídico, produzindo, pois, único 
resultado. Em síntese, no dolo direto de primeiro grau, o resultado obtido era o objetivo principal da conduta. 
Ex.: agente que sai ao encalço e mata a vítima pretendida. 
No dolo de segundo grau ou de consequências necessárias, o agente desenvolve conduta com 
vontade e consciência dirigida a produzir determinado resultado. Todavia, os meios empregados para al-
cançar o resultado desejado inexoravelmente produziram consequências necessárias, de efeitos colaterais 
de verificação certa. Imaginemos que o agente toma conhecimento que seu desafeto realizará uma via jem 
de carro com mais três amigos. Com a intenção de matar a vítima determinada, instala uma bomba no 
veículo, que, dada a potência da explosão, provoca a morte de todos os ocupantes do veículo. No caso, 
ainda que o agente pretendesse matar somente o seu desafeto, agiu consciente de que sua conduta pro-
vocaria necessariamente a morte dos demais passageiros do veículo.Tem-se, em relação aos demais 
passageiros, o dolo direto de segundo grau ou dolo de consequências necessárias. 
Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto é, admite e 
aceita o risco de produzi-lo. Em relação ao dolo eventual, adota-se a teoria do consentimento ou assen-
timento, inserta na expressão “assumiu o risco de produzi-lo”, encartada no art. 18, I, do CP. Tomemos 
como exemplo a conduta do agente que pretende atirar contra o seu desafeto, que se encontra conversando 
com outra pessoa. O agente prevê que também pode atingir a outra pessoa, mas segue em diante na sua 
conduta, assumindo o risco de errar o disparo contra o seu desafeto e atingir a outra pessoa, sendo-lhe 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
19 
indiferente quanto ao resultado que possa a vir a ser produzido em relação ao terceiro. Se efetuar disparos 
matando o seu desafeto e também a outra pessoa, o agente responderá por dois crimes de homicídio: o 
primeiro, a título de dolo direto; o segundo, a título de dolo eventual. 
 
2.7.2. Teoria do crime culposo 
É a conduta humana voluntária desenvolvida sem observar o dever de cuidado objetivo, que, por 
imprudência, negligência ou imperícia, produz um resultado involuntário, objetivamente previsível, que po-
deria ter sido evitado. 
A inobservância do dever objetivo de cuidado, que é a quebra do dever de cuidado imposto a 
todos, é manifestada por meio de três modalidades de culpa, todas previstas no art. 18, II, do CP: impru-
dência, negligência e imperícia. 
Imprudência: A conduta imprudente caracteriza-se por um agir positivo, sem a observância do 
dever de cuidado objetivo. Ocorre quando o agente pratica fato perigoso, de forma intempestiva e precipi-
tada. Tomemos como exemplo condutor de veículo automotor que, imprimindo excessiva velocidade, atro-
pela e mata um pedestre. 
Negligência: Trata-se de modalidade negativa de culpa, em que a inobservância do dever de 
cuidado do agente é retratada pela ausência de cautela e precaução. É a culpa na forma de deixar de adotar 
as cautelas. Tomemos como exemplo o condutor de veículo que, antes de sair de viagem, deixa de reparar 
os pneus e verificar os freios. 
Imperícia: A imperícia caracteriza-se pela falta de capacidade, preparo ou de conhecimentos téc-
nicos suficientes de agente autorizado a desempenhar determinada arte, profissão ou ofício. Assim, se um 
médico cirurgião, que não domina determinada técnica inerente à certa intervenção cirúrgica, causar a 
morte do paciente, responderá por homicídio culposo (art. 121, § 3o, do CP), já que agiu com imperícia no 
exercício da sua profissão. 
Na culpa consciente há a previsão do resultado, mas o agente realiza a conduta considerando, 
sinceramente, que nenhum resultado se produzirá ou, ainda, que reúne habilidade suficiente para evitá-lo. 
É a chamada culpa com previsão. Ex.: Leonardo conduz seu veículo por uma avenida. No banco do carona 
está sua namorada, Célia. Durante o percurso, Leonardo imprime velocidade excessiva no veículo, gerando 
protestos por parte de Célia, que lhe pedia para reduzir a velocidade. Leonardo responde dizendo que nada 
aconteceria, até porque era um excelente motorista. Todavia, ao fazer uma curva, Leonardo perde o con-
trole do veículo e atropela uma pessoa, causando-lhe a morte. Diante disso, Leonardo responderá pelo 
crime de homicídio culposo na condução de veículo automotor (art. 302 da Lei no 9.503/1997). Note-se que, 
no caso, havia por parte do motorista a previsibilidade do resultado, que não era aceito nem esperado e, 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
20 
ainda, a leviana percepção de que sua habilidade como condutor impediria a produção de qualquer evento 
lesivo. 
*Para todos verem: esquema. 
 
2.8. Erro de tipo essencial e erro de proibição 
2.8.1. Erro de tipo essencial 
O erro de tipo essencial é aquele que repercute na própria tipificação da conduta do agente, pois, 
se não tivesse a falsa percepção da realidade, o agente não teria praticado o fato típico, ou, pelo menos, 
não nas circunstâncias que envolveram o contexto fático. 
O erro de tipo essencial pode ser: 
a) Invencível, inevitável, escusável 
É aquele erro em que qualquer pessoa, nas mesmas circunstâncias, incorreria. É o erro inevitável, 
desculpável ou escusável, que não poderia ser evitado, mesmo por uma pessoa cautelosa e prudente. 
Tomemos como exemplo a conduta de uma estudante que deixa seu celular carregando na tomada 
da sala de aula e sai para comprar café na cantina do local. Quando retorna, retira um celular da tomada 
que, na verdade, não era o seu aparelho, mas de sua colega, que havia colocado um celular idêntico para 
carregar em substituição ao da estudante. Nesse caso, há evidente erro de tipo, pois a estudante, por conta 
da falsa percepção da realidade (supôs ser seu o celular, já que idêntico), errou em relação ao elemento 
“alheio” do tipo que define o crime de furto. E, trata-se de erro de tipo invencível, porque qualquer pessoa, 
nas circunstâncias, consideraria que era o seu telefone celular que estava carregando na tomada em que 
havia deixado. 
O erro de tipo invencível, inevitável ou escusável exclui o dolo e a culpa. Sendo a conduta elemento 
do fato típico, a ausência de dolo ou culpa leva à atipicidade da conduta. 
b) Vencível, evitável ou inescusável 
É aquele erro em que uma pessoa mais cautelosa e prudente, nas mesmas circunstâncias, não 
incorreria. É o erro evitável, indesculpável ou inescusável, que uma pessoa cautelosa e prudente teria 
Culpa Consciente
• Previsão do resultado;
• Acredita que o resultado não irá ocorrer;
• Considera ter habilidade para evitar o resultado.
Dolo Eventual
• Previsão do resultado;
• Assume o risco de produzir o resultado;
• Aceita o resultado.
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
21 
evitado. Assim, se o fato for punido sob a forma culposa, o agente responderá por crime culposo. Quando 
o tipo, entretanto, não admitir essa modalidade, a consequência será inexoravelmente a exclusão do crime, 
já que configurará fato atípico. 
No exemplo do caçador que praticava a caça em mata próxima à zona urbana, onde havia circu-
lação de pessoas, o agente responderá pelo crime de homicídio culposo, já que se trata de erro de tipo 
vencível. 
 
2.8.2. Do erro de proibição (art. 21 do CP) 
O erro de proibição é o erro que incide sobre a ilicitude do fato. Encontra-se disciplinado no art. 
21 do CP. 
No erro de proibição, o agente tem consciência da conduta praticada, mas lhe falta potencial cons-
ciência da ilicitude do fato. 
O erro de proibição escusável, inevitável ou invencível ocorre quando o erro sobre a ilicitude 
do fato é impossível de ser evitado, valendo-se o ser humano da sua diligência ordinária. Ex.: um telejornal 
de alcance nacional informa, de forma equivocada, a aprovação da lei que autoriza a eutanásia de doentes 
em estágio terminal. Não havendo nenhuma razão para duvidar da veracidade da notícia, o agente dirige-
se até o hospital e desliga os aparelhos que mantinham vivo um ente querido, que se encontrava sofrendo 
com a doença que o acometia e em estágio terminal, causando-lhe a morte. Praticou fato típico e ilícito, 
mas lhe faltou potencial consciência da ilicitude, incidindo o erro de proibição inevitável, cuja consequência 
será a exclusão da culpabilidade. 
O erro de proibição inescusável ou evitável ocorre quando o erro sobre a ilicitude do fato que 
não se justifica, pois, se tivesse havido um mínimo de empenho em se informar, o agente poderia ter tido 
conhecimento da realidade. O critério de aferição do erro de proibição inescusável, vencível ou evitável 
encontra-se no parágrafo único do art. 21 do CP, segundo o qual “considera-se evitável o erro se o agente 
atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou 
atingir essa consciência”. Tratando-sede erro de proibição evitável, permanece hígida a culpabilidade do 
agente, sendo, no entanto, causa de diminuição da pena de um sexto a um terço. 
 
2.9. Erro de tipo acidental 
2.9.1. Erro quanto à pessoa (art. 20, § 3o, do CP) 
O erro sobre pessoa, previsto no art. 20, § 3o, do CP, incide quando o agente desenvolve conduta 
voltada a atingir a pessoa pretendida, mas, confundindo-se em relação à sua identidade, atinge pessoa 
diversa. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
22 
Consideremos, por exemplo, a hipótese do filho desalmado que, pretendendo matar seu pai, realiza 
disparos de arma de fogo contra o homem que estava na varanda da residência do genitor, causando a morte 
deste. O filho, então, deixa o local satisfeito, por acreditar ter concluído seu intento delitivo, mas vem a des-
cobrir que matara um amigo de seu pai, que contava com 65 anos de idade, que, de costas, era com ele 
parecido. 
Nesse caso, nos termos do art. 20, § 3o, do CP, consideram-se as condições e qualidades da 
vítima pretendida. Logo, o filho desalmado responderá pelo crime de homicídio, com a incidência da agra-
vante de ter praticado crime contra ascendente, prevista no art. 61, II, e, 1a parte, do CP. 
 
2.9.2. Erro na execução ou aberratio ictus (art. 73 do CP) 
A aberratio ictus pode ocorrer quando, por acidente, o agente, em vez de atingir a pessoa preten-
dida, atinge pessoa diversa. Suponhamos, nesse caso, que o agente pretende matar Wilson, deixando na 
sua mesa de trabalho uma xícara de café contendo veneno. Todavia, quem toma o café é Pedro, que acaba 
falecendo. 
Pode ocorrer também quando, por erro nos meios de execução, o agente, em vez de atingir a 
pessoa pretendida, atinge pessoa diversa. Ex.: agente pretendendo matar Wilson, visualiza a vítima, tendo-
a como certa, faz a mira e efetua o disparo, mas, no entanto, erra o alvo pretendido, atingindo pessoa 
diversa, que se encontrava próxima ao local. 
A consequência jurídica da conduta do agente encontra-se retratada no art. 73, 1a parte, do CP, 
que faz expressa remissão ao art. 20, § 3o, do CP. Ou seja, na hipótese de erro na execução, deve-se 
observar o disposto no art. 20, § 3o, segundo o qual, embora tenha atingido pessoa diversa, o agente deve 
receber tratamento penal considerando-se as condições ou qualidades da pessoa pretendida (vítima vir-
tual), desprezando-se as condições pessoais da vítima efetivamente atingida. 
Na aberratio ictus com resultado duplo, o agente, além de atingir a vítima pretendida, atinge tam-
bém pessoa diversa. Nesse caso, com uma única ação, o agente produz mais de um resultado: atinge a 
pessoa pretendida e também pessoa diversa. Por essa razão, o art. 73, 2a parte, do CP faz expressa re-
missão ao art. 70 do CP, devendo ser aplicada a regra do concurso formal de crimes. 
 
2.9.3. Resultado diverso do pretendido ou aberratio criminis (art. 74 do CP) 
Na aberratio criminis, o agente pretende ofender determinado bem jurídico, mas, por acidente ou 
erro na execução, acaba produzindo resultado diverso do pretendido. Na verdade, o agente pretendia pra-
ticar um crime, mas acaba praticando crime diverso do pretendido. 
Na aberratio criminis com unidade simples, o agente somente atinge o bem jurídico diverso do 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
23 
pretendido. Ou seja, o agente quer atingir uma coisa e atinge uma pessoa. 
Nesse caso, o agente responde pelo resultado produzido a título de culpa, se o fato é previsto 
como crime culposo. 
Assim, se o agente, pretendendo atingir o veículo do desafeto, com o intuito de praticar o crime 
dano, por erro na execução, não atingir o objeto, mas somente uma pessoa que se encontrava próxima ao 
local, responderá por lesão corporal culposa (art. 129, § 6o, do CP), se resultar lesão corporal; ou por homi-
cídio culposo (art. 121, § 3o, do CP), se resultar morte. 
Na aberratio criminis com resultado duplo, o agente, além de praticar o crime pretendido, também 
acaba produzindo um resultado diverso do pretendido. Ou seja, com uma ação ou omissão, acaba provo-
cando dois resultados. Nesse caso, como expressamente prevê a parte final do art. 74 do CP, aplica-se a 
regra do concurso formal de crimes (art. 70 do CP), considerando-se a pena do crime mais grave aumentada 
de um sexto até metade, de acordo com o número de resultados diversos produzidos. 
 
2.10. Descriminante putativa 
2.10.1. Conceito 
É a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Ela não existe na reali-
dade, mas o sujeito pensa que sim, porque está errado. Só existe, portanto, na mente, na imaginação do 
agente. Por essa razão, é também conhecida como descriminante imaginária ou erroneamente suposta. 
Logo, é possível que o sujeito, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias do caso con-
creto, suponha encontrar-se em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal 
ou em exercício regular do direito. Quando isso ocorre, aplica-se o disposto no art. 20, § 1o, 1a parte. 
 
2.10.2. Espécies 
a) Descriminante putativa por erro de tipo 
É um erro de tipo essencial incidente sobre elementares de um tipo permissivo. Os tipos permissi-
vos são aqueles que permitem a realização de condutas inicialmente proibidas. Compreendem os que des-
crevem as causas de exclusão da ilicitude. 
Ocorrerá um erro de tipo permissivo quando o agente, erroneamente, imaginar uma situação de 
fato totalmente diversa da realidade, em que estão presentes os requisitos de uma causa de justificação. 
Assim, por exemplo, se o agente praticar uma conduta supondo estar diante de uma agressão 
injusta, mas que, na verdade, não existe. Trata-se de legítima defesa putativa. 
O agente pratica uma conduta supondo estar numa situação de perigo, que, na verdade, não 
existe. Trata-se de estado de necessidade putativo. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
24 
Os efeitos são os mesmos do erro de tipo, já que a descriminante putativa por erro de tipo não é 
outra coisa senão erro de tipo essencial incidente sobre tipo permissivo. 
Assim, se o erro for vencível, o agente responde por crime culposo, já que o dolo será excluído, 
da mesma forma como sucede com o erro de tipo propriamente dito; se o erro for inevitável, excluir-se-ão 
o dolo e a culpa e não haverá crime. 
Cuidando-se de erro invencível, há exclusão do dolo e culpa. 
Tratando-se de erro vencível, responde o sujeito por crime culposo, se prevista a modalidade cul-
posa. Provando-se que o sujeito não foi diligente ao se verificar as circunstâncias do fato, responde por 
crime de homicídio culposo (art. 20, § 1o, do CP). 
b) Descriminante putativa por erro de proibição 
O agente tem perfeita noção de tudo o que está ocorrendo. Não há qualquer engano acerca da 
realidade. Não há erro sobre a situação de fato. Ele supõe que está diante da causa que exclui o crime, 
porque avalia equivocadamente a norma: pensa que esta permite, quando, na verdade, ela proíbe; imagina 
que age certo, quando está errado; supõe que o injusto é justo. 
O sujeito imagina estar em legítima defesa, estado de necessidade etc., porque supõe estar auto-
rizado e legitimado pela norma a agir em determinada situação. 
Ex.: uma pessoa de idade avançada recebe um violento tapa em seu rosto, desferido por um jovem 
atrevido. O idoso tem perfeita noção do que está acontecendo, sabe que seu agressor está desarmado e 
que o ataque cessou. Não existe, portanto, qualquer equívoco sobre a realidade concreta. Nessa situação, 
no entanto, imagina-se equivocadamente autorizado pelo ordenamento jurídico a matar aquele que o hu-
milhou, atuando, assim, em legítima defesa de sua honra. 
Ocorre aqui uma descriminante (a legítima defesa é causa de exclusão da ilicitude) putativa (ima-
ginária, já que não existe no mundo real) por erro de proibição (pensou que a conduta proibida fosse per-
mitida). No exemplo dado, a descriminante, no caso a legítimadefesa, foi putativa, pois só existe na mente 
do homicida, que imaginou que a lei lhe tivesse permitido matar. Essa equivocada suposição foi provocada 
por erro de proibição, isto é, por erro sobre a ilicitude da conduta praticada. 
As consequências dessa descriminante putativa encontram-se no art. 21 do CP e são as mesmas 
do erro de proibição direto ou propriamente dito. 
O dolo não pode ser excluído, porque o engano incide sobre a culpabilidade e não sobre a conduta 
(por isso, erro de proibição). Se o erro for inevitável, o agente terá cometido um crime doloso, mas não 
responderá por ele; se evitável, responderá pelo crime doloso, com pena diminuída de um sexto a um terço. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
25 
 
2.10.3. Consequências 
No contexto das descriminantes putativas, aplica-se a teoria limitada da culpabilidade. 
Pela teoria limitada da culpabilidade, quando a descriminante putativa incidir sobre pressupostos 
de uma situação de fato (ex.: o agente imaginar que está diante de uma injusta agressão, mas que era 
imaginária. Supor que o desafeto sacaria uma arma, quando, na verdade, era um celular), o efeito em 
relação à conduta do agente é o mesmo do erro de tipo (art. 20 do CP): se o erro foi invencível, exclui o 
dolo e a culpa; se vencível, exclui o dolo, mas o agente responde pelo delito culposo, se previsto em lei. 
Agora, se a descriminante putativa recair sobre pressupostos dos limites legais das excludentes, 
ou seja, apesar de conhecer a situação de fato, ignora a ilicitude do comportamento (supõe ser comporta-
mento lícito), o efeito será o mesmo do erro de proibição: se inevitável, o agente será isento de pena; se 
evitável, o agente responde pelo delito, mas terá a pena reduzida (art. 21 do CP). Ex.: um senhor de idade 
recebe um soco de um jovem rapaz e acredita estar autorizado a revidar, lesionando-o gravemente por 
conta do desaforo. O senhor sabe exatamente o que está fazendo, mas ignora que sua conduta será ilícita 
(que, no caso, não se trata de hipótese de legítima defesa). É o caso das descriminantes putativas por erro 
de proibição. 
 
2.11. Coação moral irresistível e obediência hierárquica (art. 22 do CP) 
2.11.1. Coação moral irresistível 
Na coação moral, o agente coator, para alcançar o resultado desejado, emprega grave ameaça 
contra o coagido, que, por medo de suportar um mal grave contra si ou contra outrem, acaba realizando a 
conduta criminosa exigida. A coação empregada pelo agente vicia a vontade do coagido, retirando-lhe a 
exigência de se comportar de modo diferente. Nesse caso, em relação ao coagido, incide a causa de ex-
clusão da culpabilidade decorrente da inexigibilidade de conduta diversa. 
Ex.: se o sujeito é coagido a assinar um documento falso, responde pelo crime de falsidade o autor 
da coação. O coato não responde pelo crime, uma vez que sobre o fato incide a causa de exclusão da 
culpabilidade. Assim, quando o sujeito comete o fato típico e antijurídico sob coação moral irresistível, não 
há culpabilidade em face da inexigibilidade de outra conduta (não é reprovável o comportamento). A culpa-
bilidade desloca-se da figura do coato para a do coator. 
Convém sinalar que, se o sujeito pratica o fato sob coação física irresistível, não praticará crime 
por ausência de conduta. Trata-se de causa excludente da tipicidade. 
 
2.11.2. Obediência hierárquica 
Obediência hierárquica decorre da conduta do subordinado que, por força de ordem não 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
26 
manifestamente ilegal emanada por superior hierárquico, pratica fato típico e ilícito. 
A ordem não manifestamente ilegal é aquela que revela aparente legalidade, mas que, na reali-
dade, é contrária ao direito. O subordinado, por força da ordem emanada do superior hierárquico, realiza a 
conduta que lhe foi ordenada, considerando-a lícita, quando, na realidade, constitui fato típico e ilícito. 
Tomemos como exemplo a hipótese de um Delegado de Polícia que determina a um inspetor de 
polícia recém-empossado na instituição que conduza um desafeto até a Delegacia, sem nenhuma razão 
plausível para isso. Desconhecendo os motivos do superior hierárquico, o subordinado cumpre estritamente 
a ordem. Nesse caso, o subordinado não será responsabilizado criminalmente, já que incide em seu favor 
a causa excludente de culpabilidade. O crime de abuso de autoridade deve ser atribuído exclusivamente 
ao autor da ordem. 
Se a ordem for manifestamente ilegal, tanto o superior hierárquico quanto o subordinado respon-
derão pelo delito praticado. Nesse caso, para o superior hierárquico incide a agravante genérica descrita 
no art. 62, III, 1a parte, do CP. E em relação ao subordinado, aplica-se a atenuante prevista no art. 65, III, 
c, do CP. 
2.12. Excludentes de ilicitude (art. 23 do CP) 
As causas legais de exclusão de ilicitude estão previstas no art. 23 do CP: estado de necessidade, 
legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito. 
 
2.12.1. Estado de necessidade (art. 24 do CP) 
Nos termos do art. 24 do CP, estado de necessidade é a causa de exclusão da ilicitude da conduta 
de quem, não tendo o dever legal de enfrentar o perigo atual, o qual não provocou por sua vontade, sacrifica 
um bem jurídico ameaçado por esse perigo para salvar outro, próprio ou alheio, cuja perda não era razoável 
exigir. 
Tem como fundamento um estado de perigo para certo interesse jurídico, que somente pode ser 
resguardado mediante a lesão de outro. 
Ex.: um pedestre joga-se na frente de um motorista, que, para preservar a vida humana, opta por 
desviar e colidir com outro que se encontrava estacionado nas proximidades. Entre sacrificar uma vida e 
um bem material, o agente fez a opção claramente mais razoável. Não pratica crime de dano, pois o fato, 
apesar de típico, não é ilícito. 
 
2.12.2. Legítima defesa (art. 25 do CP) 
A legítima defesa, nos termos em que é proposta pelo nosso Código Penal, exige a presença 
simultânea dos seguintes requisitos: a) agressão injusta; b) atual ou iminente; c) contra direito próprio ou 
alheio; d) reação com os meios necessários; e) moderação no uso dos meios necessários; f) elemento 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
27 
subjetivo: consciência de que está reagindo a injusta agressão. 
A agressão injusta deve decorrer de ação ou omissão humana. Não há legítima defesa contra ataque 
instintivo e espontâneo de um animal, porque ausente consciência e vontade inerente à agressão. Nesse caso, 
como vimos, o agente estará diante de uma situação de perigo, ensejando a incidência do estado de necessi-
dade. 
Convém registrar, no entanto, que, se o agente atiça um animal, cão feroz, por exemplo, a atacar 
a vítima, estaremos diante de uma agressão injusta, não em decorrência do comportamento do animal, mas 
pela conduta do agente instigador, que usou o cão como verdadeira arma ou instrumento de ataque. Nesse 
caso, tratando-se de agressão injusta humana (agente que atiçou o animal a atacar), a vítima poderá prati-
car um fato típico, que não será ilícito, porque estará amparada pela legítima defesa. 
A Lei no 13.964/2019 introduziu o parágrafo único ao art. 25 do CP, segundo o qual “Observados 
os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segu-
rança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes”. 
É o caso, por exemplo, de o agente de segurança efetuar disparos contra o sujeito que, durante a prática 
de roubo a banco, mantém vítima refém. 
 
2.12.3. Estrito cumprimento do dever legal 
Estará ao abrigo do estrito cumprimento do dever legal o agente que praticar um fato típico em face 
do cumprimento de um dever observando rigorosamente os limites impostos pela lei, de natureza penal ou 
não. Ex.: policial que prende o agente em flagrante ou mediante cumprimento de mandado de prisão,embora 
atinja o seu direito de liberdade, não comete crime algum, porque amparado pelo estrito cumprimento do dever 
legal. 
 
2.12.4. Exercício regular de direito 
A Constituição Federal dispõe que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei (art. 5o, II). Logo, se a lei autoriza o agente a praticar determinada conduta, não 
poderá, à evidência, considerá-la ilícita. 
Qualquer pessoa pode exercitar um direito subjetivo ou uma faculdade prevista em lei (penal ou 
extrapenal). Exemplo clássico é do particular que realiza a prisão em flagrante, conforme prevê o art. 301 
do CPP. A prática de determinadas atividades esportivas produz, invariavelmente, lesões corporais, tais 
como o futebol, o boxe e a luta livre. 
 
2.12.5. Consentimento do ofendido 
O consentimento do ofendido, como causa excludente de ilicitude, incide nos crimes em que é o 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
28 
único titular do bem ou interesse penalmente tutelado, e que pode dele livremente dispor, ou seja, somente 
em relação a bens disponíveis. 
As infrações penais que geralmente admitem a possibilidade do consentimento do ofendido, por 
tutelarem, em regra, bens disponíveis, envolvem: a) crimes contra o patrimônio, praticados sem violência 
ou grave ameaça; b) crimes contra a integridade física; c) crimes contra a honra; d) crimes contra a liberdade 
individual. 
Assim, se o bem jurídico violado, ainda que seja de ação penal pública incondicionada, atingir 
interesse prevalentemente individual, poderá ser enquadrado no bloco dos bens jurídicos disponíveis. Ima-
ginemos que o agente está praticando a subtração de um celular, momento em que é avistado pela vítima, 
que consente com o desapossamento, por considerar que as funções do aparelho já estão superadas. O 
fato é típico, pois se enquadra na descrição do modelo de conduta proibida prevista no art. 155 do CP; não 
será, contudo, ilícito, por força do consentimento da vítima, já que se trata de bem disponível. 
3. Da Imputabilidade Penal 
Segundo a teoria limitada da culpabilidade adotada pelo Código Penal, os elementos da culpabili-
dade são: a) imputabilidade; b) potencial consciência da ilicitude; c) exigibilidade de conduta diversa. 
De outro lado, as causas excludentes de culpabilidade consistem na inimputabilidade, falta de po-
tencial consciência de ilicitude e inexigibilidade de conduta diversa. 
Nos termos do art. 28, I e II, do CP, não se exclui a imputabilidade se o agente praticou o fato típico 
e ilícito movido pela emoção ou paixão, bem como decorrente de embriaguez voluntária ou culposa. 
 
3.1. Inimputabilidade por doença mental, desenvolvimento mental incompleto 
ou desenvolvimento mental retardado (art. 26, caput, do CP) 
A inimputabilidade pela enfermidade mental é aferida pelo critério biopsicológico. Além da doença 
mental, é necessário que, em consequência desse estado biológico, o agente seja, no momento da conduta, 
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendi-
mento. 
Logo, se, embora portador de doença mental, o agente, ao tempo da conduta, apresentar lucidez, 
isto é, capacidade de compreensão do caráter ilícito do fato e de determinação de acordo com esse enten-
dimento, será considerado imputável. 
Nesse contexto, uma vez verificado que o agente praticou um fato típico e ilícito, sendo, ao final, 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
29 
considerado inimputável por conta da sua enfermidade mental, o juiz deverá proferir sentença absolutória 
imprópria, aplicando medida de segurança, consistente em internação em hospital de custódia ou trata-
mento ambulatorial, nos termos do art. 386, par. ún., III, do CPP. 
A semi-imputabilidade ou imputabilidade diminuída ou restrita encontra previsão no art. 26, par. 
ún., do CP. Trata-se, na verdade, de uma causa de diminuição da pena. 
O art. 26, par. ún., do CP traz a expressão “perturbação mental”, que também se caracter iza como 
doença mental, mas de menor intensidade, já que não retira completamente a capacidade de compreensão 
do caráter ilícito do fato e de determinação de acordo com esse entendimento. 
 
3.2. Da inimputabilidade por embriaguez completa proveniente de caso fortuito 
ou força maior (art. 28, § 1o, do CP) 
Quando a embriaguez acidental, proveniente de caso fortuito ou força maior, for completa, ou seja, 
apta a deixar o agente, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito 
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, há exclusão da imputabilidade, nos termos 
do que dispõe o art. 28, § 1o, do CP. 
Logo, não basta a embriaguez acidental, sendo, ainda, necessário que, em decorrência da subs-
tância alcóolica ou de efeitos análogos, o agente tenha ficado, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz 
de entender o caráter ilícito da sua conduta ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
Quando a embriaguez acidental, proveniente de caso fortuito ou força maior, é incompleta, não 
há exclusão da imputabilidade. O sujeito responde pelo crime com a pena atenuada, desde que haja re-
dução de sua capacidade intelectiva ou volitiva. A sentença é condenatória. Aplica-se o disposto no art. 
28, § 2o, do CP. 
4. Concurso de Pessoas (arts. 29, 30 e 31 do CP) 
4.1. Conceito 
Trata-se de contribuição entre dois ou mais agentes para o cometimento de uma infração penal. 
Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços e comunhão de vontades, reúnem-se 
para a prática de um ou mais delitos. 
4.2. Requisitos 
4.2.1. Pluralidade de condutas 
Trata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a concorrência de mais de uma pessoa 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
30 
na execução de uma infração penal. 
Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha realizado ao 
menos uma conduta relevante. Pode ser em coautoria, em que há duas condutas principais; ou autoria e 
participação, em que há uma conduta principal e outra acessória, praticadas, respectivamente, por autor e 
partícipe. 
 
4.2.2. Relevância causal das condutas 
Para justificar a punição de duas ou mais pessoas em concurso, afigura-se necessário que a con-
duta do agente tenha efetivamente contribuído, ainda que minimamente, para a produção do resultado. 
Em outras palavras, se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não contribuiu em nada 
para a produção do resultado, não pode ser considerada integrante do concurso de pessoas. 
 
4.2.3. Do liame subjetivo e normativo (vínculo subjetivo e normativo entre os 
participantes) 
Exige-se homogeneidade de elemento subjetivo-normativo. Significa que autor e partícipe devem 
agir com o mesmo elemento subjetivo (dolo + dolo) ou normativo (culpa + culpa). 
Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que não tenha 
havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico inviabiliza o concurso de pes-
soas, ensejando condutas isoladas e autônomas. 
Ex.: uma empregada doméstica, percebendo a presença de um ladrão, para vingar-se do patrão, 
deliberadamente deixa a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há participação, e, não obstante, o 
ladrão desconhecia a colaboração da empregada. Por consequência, a empregada também responderá 
pelo crime de furto. 
Vínculo normativo guarda relação com os crimes culposos. 
 
4.2.4. Identidade de infração para todos os participantes 
Nos termos do art. 29 do CP, todos que concorrem para o crime respondem pelo mesmo delito. 
Ex.: alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto um desvia a atenção 
da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de evadir-se do local com o 
produto do furto. É uma exemplar divisão de trabalho constituída de várias atividades, convergentes, con-
tudo, a um mesmoobjetivo típico: subtração de coisa alheia móvel. Respondem todos por um único tipo 
penal, qual seja, furto. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
31 
4.3. Punibilidade do concurso de pessoas 
A ressalva “na medida de sua culpabilidade” feita aos limites da culpabilidade no art. 29 diz respeito 
somente à graduação da pena para os agentes que praticaram o mesmo crime. 
Portanto, todos respondem pelo mesmo crime (teoria monista ou unitária). Todavia, a unidade cri-
minosa não importa necessariamente a aplicação de pena idêntica a todos os que contribuíram para a 
prática do crime, pois cada um deverá responder na medida da sua culpabilidade. 
 
4.3.1. Participação de menor importância (art. 29, § 1o, do CP) 
A participação aqui referida diz respeito exclusivamente ao partícipe. Isso porque, ainda que tenha 
sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de menor importância, uma vez que 
atuou diretamente na execução do crime. O partícipe que houver tido “participação de menor importância” 
poderá ter sua pena reduzida de um sexto a um terço, nos termos do art. 29, § 1o. 
 
4.3.2. Da cooperação dolosamente distinta ou desvio subjetivo entre os 
participantes (art. 29, § 2o, do CP) 
O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a concretização de crime mais 
grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele imputar outra conduta indesejada, 
sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva. 
Ex.: “A” determina a “B” que espanque “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2o, “A” responde por 
crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se a morte da vítima lhe era previsível. 
 
4.4. Comunicabilidade dos elementares e circunstâncias do crime (art. 30 
do CP) 
O art. 30 do CP determina que as circunstâncias e as condições de caráter pessoal não se comuni-
cam, salvo quando elementares do crime. 
Via de regra, as circunstâncias e condições pessoais relacionadas a um dos agentes não se comu-
nica aos outros que contribuíram para a prática delituosa. 
Todavia, há determinadas circunstâncias ou condições pessoais que compõem, integram o tipo pe-
nal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. Nesse caso, quando também constituem 
o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo penal, as circunstâncias ou condições pessoais 
relacionadas a um dos sujeitos se comunicam aos demais coautores ou partícipes. 
Ex.: “A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a participação de “B”, não 
funcionário público. A condição pessoal (funcionário público) é elementar do crime de peculato, 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
32 
comunicando-se, portanto, ao agente que não é funcionário público. Logo, os dois respondem por crime de 
peculato. 
De outro lado, as circunstâncias objetivas alcançam o partícipe ou coautor se, sem haver praticado 
o fato que as constitui, integraram o dolo ou culpa. 
Ex.: “A” instiga “B” a praticar homicídio contra “C”. “B”, para a execução do crime, emprega asfixia. 
O partícipe não responde por homicídio qualificado (art. 121, § 2o, III, 4a figura), a não ser que o meio de 
execução empregado pelo autor principal tenha ingressado na esfera de seu conhecimento. 
5. Aplicação da Pena 
 5.1. Regime inicial de cumprimento de pena (art. 33 do CP) 
O regime penitenciário é o meio pelo qual é executado ou efetivado o cumprimento da pena priva-
tiva de liberdade. 
O art. 33, § 1o, do CP prevê três regimes: 
a) fechado: a pena privativa de liberdade é executada em estabelecimento de segurança máxima 
ou média; 
b) semiaberto: a pena privativa de liberdade é executada em colônia agrícola, industrial ou esta-
belecimento similar; 
c) aberto: a pena privativa de liberdade é executada em casa de albergado ou em estabelecimento 
adequado. 
Após estabelecer a quantidade da pena imposta da sentença, cumpre ao juiz fixar o regime inicial 
de cumprimento da pena privativa de liberdade, levando em conta: a) a quantidade da pena imposta; b) a 
reincidência; c) as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. 
Nos termos do art. 33, caput, do CP, nos crimes apenados com reclusão, o juiz poderá fixar o 
regime inicial fechado, semiaberto ou aberto. Aos crimes apenados com detenção, o juiz poderá fixar o 
regime inicial semiaberto ou aberto. 
Logo, nos crimes apenados com detenção, não é possível ao juiz fixar o regime inicial fechado, 
podendo, no entanto, haver regressão para o regime fechado, no caso, por exemplo, de falta grave. 
O início do cumprimento da pena para os crimes apenados com reclusão dar-se-á da seguinte 
forma, nos termos do art. 33, § 2o, do CP: 
a) o condenado a pena superior a oito anos deverá começar a cumprir a pena privativa de liberdade 
no regime fechado; 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
33 
b) o primário, cuja pena seja superior a quatro anos e não exceda a oito, poderá, desde o princípio, 
cumpri-la em regime semiaberto; 
c) o primário, cuja pena seja igual ou inferior a quatro anos, poderá, desde o início, cumpri-la em 
regime aberto. 
Súm. no 269 do STJ: É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reinci-
dentes condenados à pena igual ou inferior a 4 anos se favoráveis as circunstâncias judi-
ciais. 
 
Nos crimes apenados com detenção, os critérios para a definição do regime inicial são os seguin-
tes: 
a) se a pena for superior a quatro anos, o juiz fixará o regime inicial semiaberto; 
b) se a pena for igual ou inferior a quatro anos, o regime inicial será o aberto; 
c) se o condenado for reincidente, o regime inicial será o semiaberto, independentemente da quan-
tidade da pena. 
Além disso, a imposição de regime inicial fechado depende de fundamentação adequada, não se 
revestindo a gravidade em abstrato do delito motivação idônea para a fixação do regime de cumprimento 
de pena mais severo do que a pena aplicada exigir. É o que se extrai das Súm. nos 718 e 719 do STF, e 
Súm. no 440 do STJ. 
 
5.2. Penas restritivas de direitos (art. 44 do CP) 
5.2.1. Conceito 
São penas alternativas às privativas de liberdade, expressamente previstas em lei, com a finali-
dade de evitar o encarceramento de determinados criminosos, autores de infrações penais consideradas 
mais leves, provocando-lhes a recuperação por meio de restrições a certos direitos. 
Nos termos do art. 43 do CP, as penas restritivas de direitos são: a) prestação pecuniária; b) perda 
de bens e valores; c) prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; d) interdição temporária 
de direitos; e) limitação de fim de semana. 
As penas restritivas de direitos são substitutivas, uma vez que o juiz, depois de fixar a pena 
privativa de liberdade, verificando a presença dos requisitos, efetua a substituição por uma ou mais penas 
restritivas de direitos, conforme o caso. Isso porque não há, no preceito secundário dos tipos penais incri-
minadores, previsão direta de pena restritiva de direitos, mas tão somente pena privativa de liberdade. 
 
5.2.2. Requisitos objetivos 
a) Quantidade da pena aplicada 
O legislador estabeleceu como parâmetro para a concessão da pena restritiva de direitos a pena 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
34 
aplicada na sentença, independentemente da pena abstratamente cominada no preceito secundário do tipo 
penal. 
Nos crimes dolosos, praticados sem violência ou grave ameaça, apenados com reclusão ou de-
tenção, o limite estabelecido pelo legislador é de 4 (quatro) anos. 
Tratando-se de concurso de crimes, deve-se levar em conta o total da pena imposta, por conta da 
aplicação das regras do cúmulo material ou exasperação da pena. Dessa forma, se aplicadas as regras do 
concurso material, concurso formal e crime continuado, e o total da pena privativa de liberdade efetivamente 
imposta não exceder a 4 (quatro) anos, será possível a substituição por pena alternativa.No caso de condenação por crime culposo, a substituição será possível, independentemente da 
quantidade da pena imposta, não existindo tal requisito, ainda que resulte violência contra a pessoa, por 
exemplo, no homicídio culposo do Código Penal (art. 121, § 3o) e no homicídio culposo na condução de 
veículo automotor (art. 302 do CTB). 
b) Natureza do crime cometido 
Em relação aos crimes dolosos, as penas restritivas de direitos são aplicáveis aos crimes cometi-
dos sem violência ou grave ameaça à pessoa. 
 
5.2.3. Requisitos subjetivos 
Os requisitos subjetivos levam em conta as características pessoais do sentenciado. 
a) Réu não reincidente em crime doloso 
Nos termos do art. 44, II, do CP, para concessão do benefício, é necessário que o sujeito não seja 
reincidente em crime doloso. O texto não trata de qualquer reincidente. Refere-se ao não reincidente em 
crime “doloso”, de modo que não há impedimento à aplicação da pena alternativa quando: a) os dois delitos 
são culposos; b) o anterior é culposo e o posterior é doloso; c) o anterior é doloso e o posterior culposo. 
Ainda que o réu seja reincidente em crime doloso, o Código Penal, no seu art. 44, § 3o, prevê uma 
exceção. Se, em face de condenação anterior, a medida for socialmente recomendável e a reincidência não 
se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime, será possível aplicar a substituição da pena pri-
vativa de liberdade por restritiva de direitos. 
b) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta ou a personalidade ou ainda os motivos e 
circunstâncias recomendarem a substituição 
Conforme o art. 44, III, do CP, “a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personali-
dade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja sufici-
ente”. 
Convém notar que esses requisitos praticamente reproduzem as circunstâncias judiciais previstas 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
35 
no art. 59, caput, do CP, com exceção de duas: comportamento da vítima e consequências do crime, coin-
cidentemente as únicas de natureza objetiva. Logo, verifica-se que o art. 44, III, do CP somente levou em 
conta as circunstâncias subjetivas. 
 
5.2.4. Penas restritivas de direitos e violência doméstica ou familiar contra a mulher 
Nos termos do art. 17 da Lei no 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, “É vedada a 
aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras 
de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa”. 
Conforme a Súm. no 588 do STJ, a prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com 
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição de pena privativa de liber-
dade por restritiva de direitos. 
 
5.3. Da pena de multa (arts. 49, 50, 51 e 60 do CP) 
5.3.1. Conceito 
Trata-se de uma sanção penal, de natureza patrimonial, consistente no pagamento de determinada 
quantia em pecúnia, previamente fixada em lei, em favor do Fundo Penitenciário Nacional. 
 
5.3.2. Critério de fixação da pena de multa 
Diversamente da pena privativa de liberdade, cujo sistema é o trifásico, a aplicação da pena de 
multa observa um sistema bifásico, comportando, pois, duas fases distintas e sucessivas. 
Para o cálculo da pena de multa, o Código Penal adotou o sistema do dia-multa. 
Na 1a fase, o juiz deverá estabelecer o número de dias-multa, que varia de, no mínimo, 10 (dez) 
dias-multa a, no máximo, 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. É o que se extrai do art. 49 do CP. 
Para chegar ao número de dias-multa, o Magistrado considera as circunstâncias judiciais do art. 59, 
caput, do CP, bem como eventuais atenuantes e agravantes, além de causas de diminuição e aumento de 
pena. 
Na 2a fase, o juiz deverá fixar o valor do dia-multa, não podendo ser inferior a um trigésimo do salário 
mínimo mensal de referência vigente ao tempo do fato, nem superior a cinco vezes esse salário (art. 49, § 1o, do 
CP). 
Para aferir o valor do dia-multa, o juiz deverá considerar a situação econômica do réu, podendo 
chegar ao triplo, se considerada insuficiente e ineficaz diante da situação financeira do réu, conforme dispõe 
o art. 60 do CP. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
36 
5.3.3. Execução da pena de multa 
Conforme o ordenamento jurídico vigente, a inadimplência no pagamento da multa estatal não 
conduz, em nenhuma hipótese, à aplicação da pena de prisão. Ninguém pode ser privado da liberdade em 
razão do não pagamento de uma multa estatal. 
Nos termos do art. 51 do CP, transitada em julgado a sentença condenatória, o valor da multa deve 
ser inscrito como dívida ativa em favor da Fazenda Pública. A multa permanece com sua natureza penal. A 
execução é que se procede em termos extrapenais. Em face disso, a obrigação de seu pagamento não se 
transmite aos herdeiros do condenado. 
A novidade introduzida pela Lei no 13.964/2019 diz respeito à execução da pena de multa. Nos 
termos da atual redação do art. 51 do CP, a legitimidade para a execução da pena de multa passa a ser do 
Ministério Público, sendo executada perante o juiz da execução penal. 
 
5.4. Da aplicação da pena e reincidência 
5.4.1. Da aplicação da pena (art. 68 do CP) 
5.4.1.1. Introdução 
Da leitura do art. 68 do CP verifica-se que, em relação à pena privativa de liberdade, a legislação 
penal adotou o critério trifásico, segundo o qual se deve encontrar a pena-base atendendo-se ao critério do 
art. 59 deste Código; em seguida, serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por úl-
timo, as causas de diminuição e de aumento. 
Em relação à pena de multa, convém repetir, o Código Penal adotou o sistema bifásico, conforme 
se extrai do art. 49 do CP. 
 
5.4.1.2. Primeira fase da fixação da pena: pena-base e circunstâncias jurídicas 
Não há nenhum dispositivo legal norteando o juiz na fixação da pena-base, encarregando-se a 
doutrina e a jurisprudência de estabelecer critérios basilares para o montante da pena-base, sempre res-
saltando a discricionariedade do juiz. 
Todavia, em que pese o grau de discricionariedade, o juiz, nessa fase, está restrito à cominação 
legal da pena, devendo observar o mínimo e o máximo da pena legalmente prevista. Em outras palavras, 
ainda que todas as circunstâncias judiciais sejam favoráveis ao réu, a pena-base não poderá ficar abaixo do 
mínimo legal. De outro lado, se as circunstâncias judiciais forem desfavoráveis ao réu, não será possível ao 
juiz fixar a pena-base além do máximo da pena cominada ao delito. Assim, por exemplo, em relação ao crime 
de furto simples (art. 155, caput, do CP), o juiz somente poderá fixar a pena-base dentro do limite de 1 (um) 
a 4 (quatro) anos. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
37 
De todo modo, se todas as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP forem favoráveis ao réu, a 
pena-base, como regra óbvia, deverá ser fixada no mínimo legal. Se alguma circunstância judicial for des-
favorável ao réu, o juiz está autorizado a fixar a pena-base acima do mínimo legal. 
 
5.4.1.3. Segunda fase da fixação da pena: circunstâncias agravantes e atenuantes 
Após a fixação da pena-base, adotando como parâmetro as circunstâncias judiciais, cumpre ao 
juiz passar para a segunda fase, fixando a pena, ainda provisória, levando em conta as circunstâncias 
agravantes e atenuantes. 
No caput do art. 61, o Código Penal emprega o advérbio “sempre”, indicando que, via de regra, as 
agravantes são de aplicação obrigatória. Em razão disso, o juiz não pode deixar de agravar a pena, ficando 
o quantum da pena a seu critério. 
Todavia, quando uma das circunstâncias agravantes funciona como elementar ou como circuns-
tância qualificadora, não se aplica a agravante, a fim de evitar o bis in idem. 
Assim, se, por exemplo, o agente praticar homicídio por motivo fútil (art. 121, § 2o, II, do CP), não 
incidea agravante do art. 61, II, a, 1a figura (ter sido o crime cometido por motivo fútil), pois a circunstância 
genérica funciona como “qualificadora” do homicídio. 
A quantidade da pena a ser agravada ou atenuada fica a critério do juiz, uma vez que não há 
nenhum dispositivo legal fixando os parâmetros. 
As circunstâncias atenuantes são de aplicação em regra obrigatória, pois o caput do art. 65 reza 
que: “são circunstâncias que sempre atenuam a pena”. 
Entretanto, quando a pena-base for fixada no mínimo legal, a incidência da circunstância atenuante 
não pode conduzir à redução da pena abaixo da pena mínima cominada. É o que se extrai da Súm. no 231 
do STJ: “A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo 
legal”. 
É possível que a atenuante do art. 65 funcione na Parte Especial do Código Penal como causa da 
diminuição da pena. Nesse caso, não se aplica a atenuante genérica. Ex.: a circunstância consistente em 
praticar crime por motivo de relevante valor moral ou social integra o homicídio privilegiado (art. 121, § 1o, 
do CP); logo, não poderá ser considerada atenuante genérica. 
Ao contrário das circunstâncias agravantes, que somente podem ser aplicadas se expressamente 
previstas em lei, pode o Magistrado considerar, na segunda fase de fixação da pena, atenuante não prevista 
em lei, levando em conta circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime. É o que se extrai do art. 66 
do CP. 
Assim, se, por exemplo, restar comprovado que o agente praticou o crime de furto em razão de 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
38 
desemprego ou moléstia grave na família, poderá o Magistrado considerar essa circunstância para atenuar 
a pena, ainda que não expressamente prevista em lei. 
 
5.4.1.4. Terceira fase da aplicação da pena: causas de aumento e de diminuição da 
pena 
Na terceira e última fase de aplicação da pena, o juiz deve considerar as causas de aumento e de 
diminuição da pena presentes no caso concreto. Essas causas de aumento e de diminuição da pena podem 
estar previstas tanto na Parte Geral do Código Penal quanto na Parte Especial. 
O cálculo decorrente da causa de aumento ou diminuição da pena deve incidir sobre a pena pro-
visória, encontrada na segunda fase, de forma cumulada. 
É importante salientar que, com o reconhecimento de causa de aumento ou de diminuição de pena, 
o juiz pode aplicar pena acima da máxima ou inferior à mínima cominada em abstrato. 
 
5.4.2. Da reincidência (art. 63 do CP) 
5.4.2.1. Conceito 
A reincidência pressupõe uma sentença condenatória transitada em julgado por prática de crime. 
Há reincidência somente quando o novo crime for cometido após a sentença condenatória de que não cabe 
mais recurso. É o que se extrai do art. 63 do CP. 
Ex.: o agente pratica um crime, sendo processado e condenado. Não recorre, vindo a sentença 
transitar em julgado. Meses depois, vem a praticar novo crime. É considerado reincidente, uma vez que 
cometeu novo delito após o trânsito em julgado de sentença que o condenou por prática de crime. 
Se o agente praticar o novo crime exatamente no dia em que transitar em julgado a sentença penal 
condenatória pelo crime anterior, não incide a agravante da reincidência, pois a lei é expressa ao mencionar 
que o novo crime deve ser praticado “depois” do trânsito em julgado. No dia do trânsito, portanto, não se 
encaixa na hipótese legal. 
Além disso, complementando os pressupostos da reincidência, o art. 7o da Lei de Contravenções 
Penais (Decreto-lei no 3.688/1941) dispõe que: “verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma 
contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, 
por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção”. 
Assim, podem ocorrer várias hipóteses: 
a) o agente, condenado irrecorrivelmente pela prática de um crime, vem a cometer outro delito: é 
reincidente (art. 63 do CP); 
b) o agente pratica um crime; condenado irrecorrivelmente, vem a cometer uma contravenção: é 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
39 
reincidente (art. 7o da LCP); 
c) o sujeito pratica uma contravenção, vindo a ser condenado por sentença transitada em julgado; 
comete outra contravenção: é considerado reincidente (art. 7o da LCP); 
d) o sujeito comete uma contravenção; é condenado por sentença irrecorrível; pratica um crime: 
não é reincidente (art. 63 do CP). 
 
Informativo 636 STF: Condenações anteriores pelo delito do art. 28 da Lei no 11.343/2006 
não são aptas a gerar reincidência. 
 
 
5.4.2.2. Eficácia temporal da condenação anterior para efeito da reincidência 
Nos termos do art. 64, I, do CP, não prevalece a condenação anterior se entre a data do cumpri-
mento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, 
computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação. 
Logo, o prazo de 5 (cinco) anos começa a correr a partir do cumprimento da pena ou a sua extinção 
por outro modo, por exemplo, incidência de uma causa extintiva da punibilidade, como a prescrição da 
pretensão executória, graça ou indulto. 
O período de prova do livramento condicional e da suspensão condicional da pena será computado 
para fins de cessar os efeitos da reincidência. 
Assim, em tese, ao agente condenado a 6 (seis) anos de reclusão, cumprindo 1/3 (ou seja, 2 anos), 
será concedido o livramento condicional (art. 83, I, do CP), restando outros 4 (quatro) anos para o término 
da pena, que será o período de prova. 
Consideremos a hipótese de o agente ter iniciado o cumprimento da pena no dia 10-8-2010. Após 
cumprir 1/3 da pena, dois anos, portanto, obteve o livramento condicional em 10-8-2012, cumprindo inte-
gralmente a pena no dia 10-8-2016. 
Em 10-9-2017, o agente pratica novo crime. Nesse caso, não será considerado reincidente, pois 
passaram-se mais de 5 (cinco) anos entre a data do cumprimento da pena e a prática do novo crime, 
computando-se o período de prova do livramento condicional. 
 
5.4.2.3. Crimes que não induzem reincidência 
O art. 64, II, do CP dispõe que, para efeito de reincidência, não se consideram os crimes militares 
próprios ou políticos. 
Convém ressaltar que, conquanto não gere reincidência, o trânsito em julgado de uma sentença 
penal condenatória por crime militar próprio ou crime político gera maus antecedentes, já que o art. 64, II, 
do CP limita-se a afastar a reincidência, nada dispondo sobre maus antecedentes. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
40 
5.5. Concurso de crimes 
5.5.1. Concurso material (art. 69 do CP) 
Ocorre o concurso material, também chamado de real, quando o agente, mediante mais de uma 
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não (art. 69, caput, do CP). Há, pois, pluralidade 
de condutas e pluralidade de resultados. 
Na hipótese de crimes conexos apurados na mesma ação penal, a soma das penas, pelo concurso 
material, será realizada na própria sentença, após a adoção do critério trifásico para cada um dos delitos. 
Ex.: o agente pratica o crime de estupro (art. 213 do CP) e, para assegurar a sua impunidade, mata, na 
sequência, a vítima (art. 121, § 2o, V, do CP). Imaginemos que o juiz fixe, em relação ao delito de estupro, 
a pena de 8 (oito) anos; e em relação ao crime de homicídio qualificado, a pena de 20 (vinte) anos. Ao final, 
verificando-se tratar de concurso material de crimes, o Magistrado aplicará o sistema do cúmulo material, 
somando as penas, alcançando a pena definitiva de 28 anos. 
De outro lado, na hipótese de não haver conexão entre os crimes, sendo, por isso, julgados em 
processos distintos, a soma das penas será realizada perante o juízo da execução criminal, por força do 
disposto no art. 66, III, a, da Lei de Execução Penal (Lei no 7.210/1984). 
Nos termos do art. 69, caput, do CP, quando o agente realizao concurso real de crimes, “aplicam-se 
cumulativamente as penas em que haja incorrido”. Portanto, no concurso material, as penas são cumuladas, 
somadas. 
Aplica-se, pois, o sistema do cúmulo material de fixação da pena. 
 
5.5.2. Concurso formal (art. 70 do CP) 
5.5.2.1. Conceito 
Ocorre o concurso formal (ou ideal) quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica 
dois ou mais crimes (art. 70, caput, do CP). Há unidade de conduta e pluralidade de crimes. 
A unidade de conduta concretiza-se quando os atos são realizados no mesmo contexto espacial e 
temporal, não exigindo, necessariamente, ato único. De fato, pode haver unidade de conduta mesmo 
quando fracionada em vários atos, por exemplo, agente que subtrai objetos pertencentes a pessoas distin-
tas, no mesmo contexto fático. 
O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que, praticado o crime de roubo em um mesmo 
contexto fático, mediante uma só ação, contra vítimas diferentes, tem-se configurado o concurso formal de 
crimes. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
41 
5.5.2.2. Concurso formal perfeito e concurso formal imperfeito 
O concurso formal perfeito, ou próprio, está previsto na primeira parte do art. 70 do CP. Ocorre 
quando o agente pratica duas ou mais infrações penais por meio de uma única conduta. Resulta de um 
único desígnio. O agente, de um só impulso volitivo, dá causa a dois ou mais resultados, sem desígnios 
autônomos em relação a cada um dos resultados. 
Desígnio autônomo caracteriza-se pelo fato de o agente pretender, mediante uma única conduta, 
atingir dois ou mais resultados. Ou seja, o agente, mediante uma ação ou omissão, age com consciência e 
vontade em relação a cada um deles, considerados isoladamente. 
Assim, se, por exemplo, o agente, na condução de veículo automotor, atropela e causa a morte de 
uma pessoa e lesão corporal em outra, pratica crime de homicídio culposo na condução de veículo auto-
motor (art. 302 do CTB), em concurso formal perfeito, já que não tinha desígnios autônomos em relação a 
cada um dos resultados. 
No concurso formal imperfeito, ou impróprio, o agente, mediante uma ação ou omissão, pre-
tende, de forma consciente e voluntária, o resultado em relação a cada um dos crimes. 
Ex.: o agente provoca fogo em uma residência com a intenção de matar todos os moradores. O 
agente tem desígnios autônomos (intenção de matar) em relação a cada um dos moradores da residência. 
A expressão “desígnios autônomos” abrange tanto o dolo direto quanto o dolo eventual. Assim, 
haverá concurso formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de homicídio doloso com dolo direto e outro 
com dolo eventual. 
 
5.5.2.3. Aplicação da pena no concurso formal 
Em relação ao concurso formal perfeito, ou próprio, o Código Penal adotou o sistema de exas-
peração da pena. Aplica-se a pena do crime mais grave ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, 
em qualquer caso, de um sexto até metade. 
O critério adotado pela jurisprudência para a fixação do aumento da pena em decorrência do con-
curso formal perfeito de crimes tem relação com o número de crimes cometidos pelo agente. 
*Para todos verem: quadro. 
NÚMERO DE CRIMES AUMENTO DA PENA 
2 crimes 1/6 de aumento 
3 crimes 1/5 de aumento 
4 crimes 1/4 de aumento 
5 crimes 1/3 de aumento 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
42 
5 ou mais crimes 1/2 de aumento 
 
No concurso formal imperfeito, ou impróprio, por conta do maior grau de reprovabilidade da 
conduta do agente, visando a não beneficiar agente que agiu com desígnios autônomos em relação a cada 
resultado, as penas devem ser somadas, adotando-se o critério do cúmulo material, nos termos do art. 
70, caput, 2a parte, do CP. 
 
5.5.3. Concurso material benéfico (art. 70, par. ún., do CP) 
Se da aplicação da regra da exasperação da pena, no concurso formal, a pena tornar-se superior 
à que resultaria se somadas, deve-se adotar o critério do cúmulo material, porque, nesse caso, será mais 
benéfico (art. 70, par. ún., do CP). 
Ex.: suponha-se que o agente tenha praticado um homicídio simples (art. 121 do CP – pena de 6 
a 20 anos) e uma lesão corporal leve (art. 129, caput, do CP – pena de 3 meses a 1 ano), em concurso 
formal. Aplicado o critério da exasperação da pena, considerando-se a pena do crime mais agrave, acres-
cido de 1/6, resultaria na pena de 7 (sete) anos. 
Se aplicada a pena considerando-se o critério do cúmulo material, considerando-se a pena apli-
cada para crime de homicídio simples (6 anos) e lesão corporal leve (3 meses), a pena definitiva ficaria em 
6 (seis) anos e 3 (três) meses. Essa seria a pena a ser aplicada, já que a aplicação do critério do concurso 
material é mais benéfico. 
Em face disso, a pena a ser aplicada não pode ser superior à que seria cominada se fosse caso 
de concurso material, aplicando-se, nesse caso, o disposto no art. 70, par. ún., do CP. 
 
5.5.4. Crime continuado (art. 71 do CP) 
5.5.4.1. Conceito 
Ocorre o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois 
ou mais crimes da mesma espécie, devendo os subsequentes, pelas condições de tempo, lugar, maneira 
de execução e outras semelhantes, ser havidos como continuação do primeiro. 
 
5.5.4.2. Requisitos 
Para a incidência das regras do crime continuado é preciso verificar a presença de requisitos dis-
postos no art. 71 do CP, consistentes: a) na pluralidade de condutas; b) na pluralidade de crimes da mesma 
espécie; c) nas mesmas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes. 
a) Pluralidade de condutas 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
43 
Nos termos do art. 71 do CP, o crime continuado caracteriza-se pelo fato de o agente praticar 
crimes mediante mais de uma ação ou omissão, exigindo, pois, pluralidade de condutas. 
Distingue-se do concurso material, que também exige pluralidade de condutas, por força da inci-
dência dos demais requisitos, ou seja, a prática de crimes de mesma espécie, nas mesmas condições de 
tempo, lugar e maneira de execução. 
b) Crimes da mesma espécie 
Crimes da mesma espécie são os que estiverem previstos no mesmo tipo penal, considerando-se, 
inclusive, as figuras simples ou qualificadas, dolosas ou culposas, tentadas ou consumadas. 
De outro lado, a teor da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não há como reconhecer a 
continuidade delitiva entre os crimes de roubo e de latrocínio, porquanto são delitos de espécies diversas, 
já que tutelam bens jurídicos diferentes.1 
c) Condições de tempo 
Exige-se, para caracterizar crime continuado, conexão temporal entre as condutas praticadas para 
que se configure a continuidade delitiva. Deve existir, em outros termos, certa periodicidade que permita se 
observar certo ritmo, certa uniformidade, entre as ações sucessivas, embora não se possam fixar, a res-
peito, indicações precisas. 
A jurisprudência tem admitido crime continuado quando entre as infrações penais não houver de-
corrido período superior a 30 (trinta) dias. 
d) Condições de lugar 
Deve existir entre os crimes da mesma espécie uma conexão espacial para caracterizar o crime conti-
nuado. 
A prática de crimes da mesma espécie em locais diversos não exclui a continuidade. Assim, crimes 
praticados em bairros diversos de uma mesma cidade, ou em cidades próximas, podem ser entendidos 
como praticados em condições de lugar semelhantes. 
e) Maneira de execução 
A lei exige que a forma de execução das infrações continuadas seja semelhante, traduzindo-se no 
modo, forma e meios empregados para a prática dos delitos. Ex.: empregado de um estabelecimento co-
mercial que subtrai, diariamente, objetos da empresa. 
Todavia, um crime de furto qualificado pela escalada e outro furto qualificado pela destreza, con-
quanto crimes da mesma espécie, inviabilizam a incidência do crime continuado, já que empregaram modos 
de execução distintos. 
 
1 STJ – HC384875/SP – rel. Min. Ribeiro Dantas – 5a Turma – j. 20-3-2018. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
44 
 
5.5.4.3. Crime continuado específico (art. 71, par. ún., do CP) 
O crime continuado específico prevê a necessidade de três requisitos, que devem ocorrer simultanea-
mente: 
a) Contra vítimas diferentes 
Admite-se nexo de causalidade entre crimes que lesam interesses jurídicos pessoais, ainda que 
praticados contra vítimas diversas 
De fato, a circunstância de os delitos componentes atingirem bens jurídicos pessoais não impede 
a continuação. Entretanto, cumpre observar o disposto no parágrafo único do art. 71: “Nos crimes dolosos, 
contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando 
a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e 
as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o 
triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código”. 
Assim, admite o Código Penal nexo de continuidade entre homicídios, lesões corporais ou roubos 
contra vítimas diversas, podendo o juiz, de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, caput, do CP, 
aumentar a pena de um dos delitos até o triplo, desde que a pena não seja superior à que seria imposta se 
o caso fosse de concurso material. 
b) Com violência ou grave ameaça à pessoa 
Mesmo que o crime seja contra vítimas diferentes, se não houver violência – real ou ficta – contra 
a pessoa, não haverá a continuidade específica, mesmo que haja violência contra a coisa. 
c) Somente em crimes dolosos 
Se a ação criminosa for praticada contra vítimas diferentes, com violência à pessoa, mas não for 
produto de uma conduta dolosa, não estará caracterizada a exceção. 
 
5.5.4.4. Aplicação da pena 
Tratando-se de crime continuado comum, aplica-se a pena do crime mais grave, aumentada de 
1/6 até 2/3. 
O parâmetro para o aumento da pena entre 1/6 e 2/3 deve ser proporcional ao número de infrações 
praticadas. 
*Para todos verem: quadro. 
NÚMERO DE CRIMES AUMENTO DE PENA 
2 crimes 1/6 de aumento 
3 crimes 1/5 de aumento 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
45 
4 crimes 1/4 de aumento 
5 crimes 1/3 de aumento 
6 crimes 1/2 de aumento 
7 ou mais crimes 2/3 de aumento 
 
Com relação a crime continuado específico, previsto no art. 71, par. ún., do CP, aplica-se a pena 
do crime mais grave aumentada até o triplo. Todavia, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Fede-
ral, no crime continuado qualificado, a majoração da pena não está adstrita ao número de infrações prati-
cadas, haja vista que o art. 71, par. ún., do CP determina que poderá o juiz, “considerando a culpabilidade, 
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, 
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo”. Logo, a 
fração de aumento de pena no crime continuado qualificado lastreia-se nos vetores em questão, e não 
apenas no número de infrações praticadas.2 
6. Da Suspensão Condicional da Pena 
 6.1. Conceito 
Trata-se de um instituto de política criminal, tendo por fim a suspensão da execução da pena pri-
vativa de liberdade, evitando o recolhimento ao cárcere do condenado não reincidente condenado à pena 
não superior a 2 (dois) anos (ou a 4 anos, na hipótese de sursis etário ou humanitário), mediante o cumpri-
mento de determinadas condições, fixadas pelo juiz, durante o período de prova. 
Os requisitos da suspensão condicional da execução da pena estão previstos no art. 77 do CP. 
 
6.1.1. Requisitos objetivos 
a) Pena privativa de liberdade 
Quanto à qualidade da pena, somente a pena privativa de liberdade, seja reclusão, seja detenção, 
admite a suspensão condicional da execução da pena. 
Não cabe sursis em relação à pena restritiva de direitos e à pena de multa. É o que se extrai do 
art. 80 do CP, segundo o qual “a suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem à multa”. 
Não se aplica o sursis às medidas de segurança, uma vez que o instituto é voltado a suspender a 
 
2 STF – HC 131871/PR – rel. Min. Dias Toffoli – 2a Turma – j. 31-5-2016. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
46 
execução da pena. E medida de segurança não tem natureza jurídica de pena. Além disso, verificada a 
inimputabilidade pela enfermidade mental, a sentença será absolutória imprópria, não havendo, pois, exe-
cução da pena a suspender. 
b) Quantidade da pena privativa de liberdade 
Como regra, a quantidade da pena imposta na sentença não pode ser superior a 2 (dois) anos, 
ainda que resulte, no concurso de crimes, de sanções inferiores a ela. 
Tratando-se, entretanto, de condenado maior de 70 anos de idade, ao tempo da sentença ou do 
acórdão (sursis etário) ou em razão de saúde (sursis humanitário ou profilático), a pena aplicada pode ser 
igual ou inferior a 4 (quatro) anos (art. 77, § 2o, do CP). 
Em relação a concurso de crimes, em qualquer das suas espécies, a pena aplicada, considerando 
os critérios da exasperação da pena ou cúmulo material, não pode ser superior a 2 (dois) anos (ou 4 anos, 
na hipótese de sursis etário ou humanitário). 
c) Impossibilidade de substituição por pena restritiva de direitos 
Somente se aplica o sursis quando incabível ou não recomendável a substituição da pena privativa 
de liberdade por restritiva de direitos (art. 77, III, do CP). 
 
6.1.2. Requisitos subjetivos 
a) Condenado não reincidente em crime doloso 
Nem toda reincidência impede a concessão do sursis, mas somente a reincidência em crime do-
loso. Isso quer dizer que a condenação anterior, mesmo definitiva, por crime culposo ou por simples con-
travenção, por si só, não é causa impeditiva da suspensão condicional da pena. 
Todavia, a reincidência, ainda que em crime doloso, em decorrência de anterior condenação a 
pena de multa, não impede a concessão do sursis (art. 77, § 1o, do CP). 
b) Circunstâncias judiciais favoráveis ao agente 
Não é indispensável que todas as circunstâncias sejam favoráveis, como ocorre com sursis espe-
cial. Basta que, no geral, não sejam desfavoráveis de modo a criar dúvidas fundadas sobre a possibilidade 
de o condenado voltar a delinquir. 
 
6.2. Condições 
Durante o período do sursis, o condenado deve cumprir determinadas condições, sob pena de ser 
revogada a medida e ter de cumprir a sanção privativa de liberdade. Essas condições são: a) legais: impos-
tas pela lei (arts. 78, § 1o, e 81 do CP); b) judiciais: impostas pelo juiz na sentença (art. 79 do CP). 
No sursis simples, a condição legal e obrigatória consiste na prestação de serviços à comunidade 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
47 
ou limitação de fim de semana, no primeiro ano do período de suspensão (art. 78, § 1o, 1a parte, do CP). 
Tratando-se de sursis especial, satisfeitos os seus requisitos, as condições alternativas da presta-
ção de serviços à comunidade e a limitação de fim de semana são substituídas por: proibição de frequentar 
determinados lugares; proibição de o condenado ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização 
judicial; e comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas ativi-
dades (art. 78, § 2o, a e c, do CP). 
As condições legais do sursis especial, previstas no art. 78, § 2o, a, b e c, do CP, devem ser im-
postas cumulativamente. 
 
6.3. Período de prova 
É o prazo em que a execução da pena privativa de liberdade imposta fica suspensa, mediante o 
cumprimento das condições estabelecidas. 
Como regra, o período de prova varia entre 2 (dois) a 4 (quatro) anos (art. 77, caput, do CP). Sendo 
o condenado maior de 70 anos de idade ou por razões de saúde, o prazo varia de 4 (quatro) a 6 (seis) anos 
(art. 77, § 2o, do CP). Tratando-se da contravenção, o período de prova varia de1 (um) a 3 (três) anos (art. 
11 da LCP). 
O período de prova deve ser fixado segundo a natureza do crime, personalidade do agente e in-
tensidade da pena, não podendo o juiz, senão em hipótese excepcional, estabelecê-lo no prazo máximo. 
 
6.3.1. Causas de revogação do sursis 
Incidindo uma causa de revogação do sursis, deverá o condenado cumprir integralmente a pena 
privativa de liberdade cuja execução se encontrava suspensa, desconsiderando o tempo que permaneceu 
no período de prova, ainda que tenha cumprido as condições impostas. 
Assim, se, por exemplo, no primeiro ano o agente cumpriu prestação de serviço à comunidade, 
sobrevindo causa de revogação do sursis, esse período não será descontando/detraído da pena privativa 
de liberdade que deverá ser executada. 
a) Revogação obrigatória 
A revogação obrigatória decorre de lei, não ficando a critério do Magistrado decretá-la ou não. A 
margem de discricionariedade do Magistrado é limitada pela lei, sendo seu dever revogar o benefício. 
Nos termos do art. 81 do CP, a suspensão condicional da execução da pena será revogada, no 
curso do prazo, ao beneficiário que: 
I – é condenado, sem sentença irrecorrível, por crime doloso 
A lei não faz ressalva no sentido de que a condenação deva ser por crime praticado no curso da 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
48 
suspensão condicional da pena. Logo, não se mostra relevante se o crime foi praticado antes ou depois do 
início da suspensão condicional da pena. Basta que tenha havido sentença condenatória transitada em 
julgado pela prática de crime doloso, independentemente de quando foi praticado. 
Todavia, se a nova condenação se referir somente à pena de multa, não haverá revogação do 
benefício. Com efeito, se a condenação anterior à pena de multa, mesmo por crime doloso, não impede a 
concessão do sursis (art. 77, § 1o, do CP), também não pode ser causa de revogação do benefício. 
II – frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justi-
ficado, a reparação do dano 
Trata-se da hipótese de o condenado solvente criar embaraços para frustrar a execução da pena 
de multa que obstem a cobrança da multa, não efetuando o seu pagamento. 
Também constitui causa obrigatória de revogação do sursis a ausência injustificada da reparação 
do dano. Assim, se justificada a impossibilidade de reparação do dano, por exemplo, a precária situação 
financeira do condenado, não incidirá a causa de revogação do benefício. 
III – descumpre a condição do § 1o do art. 78 do CP 
Como ocorre na hipótese da reparação do dano, somente o descumprimento injustificado da pres-
tação de serviços à comunidade ou da limitação de fim de semana ensejará a revogação do benefício. 
b) Revogação facultativa 
Incidindo uma causa de revogação facultativa do sursis, ficará a critério do juiz revogar ou não o bene-
fício. 
As hipóteses de revogação facultativa estão previstas no art. 81, § 1o, do CP. Nesse caso, o juiz 
não está obrigado a revogar o benefício, podendo optar por advertir novamente o sentenciado, prorrogar o 
período de prova até o máximo ou exacerbar as condições impostas, conforme dispõe o art. 81, § 3o, do 
CP. 
São duas as hipóteses de revogação facultativa: 
I – o condenado deixa de cumprir qualquer outra condição imposta 
Na hipótese de revogação facultativa, a decisão fica sujeita à discricionariedade do juiz, que, em 
vez de revogar a suspensão, poderá prorrogar o período de prova. Aqui, a lei refere-se às condições legais 
previstas para o sursis especial (art. 78, § 2o, do CP) e às condições judiciais que foram determinadas (art. 
79 do CP). 
II – condenação irrecorrível, por crime culposo ou contravenção, à pena privativa de liber-
dade e restritiva de direitos 
Essa hipótese afasta a condenação à pena de multa, já que se refere, especificamente, às outras 
duas modalidades de penas. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
49 
6.4. Extinção da pena 
Se o período de prova termina sem que haja ocorrido motivo para a revogação, não mais se exe-
cuta a pena privativa de liberdade (art. 82 do CP). 
Assim, expirado o prazo de suspensão ou de prorrogação sem que tenha havido motivo para a 
revogação, o juiz deve declarar extinta a pena privativa de liberdade. 
Trata-se de sentença declaratória. Em face disso, considera-se, para fins de extinção da pena, a 
data do término do período de prova e não a data em que o juiz profere a decisão, ainda que seja em período 
posterior. 
7. Do Livramento Condicional 
7.1. Conceito 
Trata-se de um instituto de política criminal, destinado a antecipar o retorno do condenado ao 
convívio social, mediante determinadas condições e de forma precária, desde que preenchidos os requi-
sitos legais. 
 
7.2. Requisitos 
Os requisitos do livramento condicional, de ordem objetiva e subjetiva, encontram-se no art. 
83 do CP. 
 
7.2.1. Requisitos objetivos 
Os requisitos objetivos estão previstos no art. 83, I, II, IV e V, do CP, vinculando-se à pena e à 
reparação do dano. 
a) Natureza e quantidade da pena 
Assim como na suspensão condicional do processo, o livramento condicional somente pode ser 
concedido em relação à pena privativa de liberdade. Não cabe, pois, à pena restritiva de direitos e multa. 
Além disso, o benefício somente poderá ser concedido à pena privativa de liberdade igual ou su-
perior a 2 (dois) anos (art. 83 do CP). A soma das penas é permitida para atingir esse limite mínimo, mesmo 
que tenham sido aplicadas em processos distintos, nos termos do art. 84 do CP. 
b) Cumprimento de parte da pena 
Nos termos do art. 83, I, do CP, se o criminoso não for reincidente em crime doloso e ostentar bons 
antecedentes, deverá cumprir mais de 1/3 da pena privativa de liberdade para obter o benefício. É a hipó-
tese de livramento condicional simples. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
50 
Se o condenado for reincidente em crime doloso, deverá cumprir mais da metade da pena 
privativa de liberdade, conforme dispõe o art. 83, II, do CP. Trata-se do livramento condicional qualifi-
cado. Nesse particular, há uma omissão do legislador na hipótese de o condenado não ser reincidente 
em crime doloso, mas portador de maus antecedentes. Isso porque não se enquadra na hipótese do 
inciso I (que exige bons antecedentes) nem na do inciso II (que trata da hipótese de reincidente em 
crime doloso) do art. 83 do CP. 
Nesse caso, prevalece o entendimento de que, por conta da ausência de expressa previsão legal, 
deve-se conferir ao condenado o tratamento mais benéfico. Ou seja, o condenado não reincidente em crime 
doloso, mas portador de maus antecedentes, deverá cumprir mais de 1/3 da pena para obtenção do livra-
mento condicional. É a posição do Superior Tribunal de Justiça.3 
Tratando-se de condenado por prática de tortura, crime hediondo, tráfico ilícito de entorpecentes 
e drogas afins, terrorismo e tráfico de pessoas (introduzido pela Lei no 13.344/2016), desde que não seja 
reincidente específico em tais delitos, deve cumprir mais de 2/3 da pena (art. 83, V, do CP). Trata-se do 
livramento condicional específico. 
Assim, sendo reincidente específico em crime hediondo ou equiparado, não é admissível o livra-
mento condicional. Há reincidência específica, para efeito desse dispositivo, quando o sujeito, já tendo sido 
condenado por qualquer dos delitos hediondos por sentença transitada em julgado, vem novamente a co-
meter crime dessa mesma natureza. Ex.: após condenação definitiva por crime de homicídio qualificado, o 
agente pratica e é condenado pelo crime de tráfico de drogas. Nesse caso, não terá direito a livramento 
condicional, por ser reincidente específico por crime de natureza hedionda e equiparado. 
c) Reparação do dano, salvo efetiva impossibilidade 
Nos termos do art. 91, I, do CP, a condenação torna certa a obrigação de indenizar o dano resul-
tante do crime. Assim, o condenado não pode obtero livramento condicional enquanto não reparar o dano 
causado, salvo quando insolvente. 
Na prática, esse requisito tem limitado alcance, uma vez que, via de regra, os condenados são 
pessoas pobres, absolutamente insolventes, sem a menor possibilidade de reparar o dano causado. 
 
7.2.2. Requisitos subjetivos 
Os requisitos subjetivos referem-se à pessoa do condenado. São analisados para constatar se o 
condenado reúne condições pessoais para retornar ao convívio social. 
 
3 HC 102.278/RJ. Superior Tribunal de Justiça. Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora Convocada do TJ/MG), 6a Turma, julgado 
em 03/04/2008. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
51 
A Lei no 13.964/2019 acrescentou mais requisitos objetivos para a obtenção do livramento condi-
cional, prevendo o art. 83, III, do CP a necessidade da comprovação: 
a) Bom comportamento durante a execução da pena 
O bom comportamento carcerário, via de regra, é aferido com base no atestado emitido pelo diretor 
do estabelecimento carcerário, considerando-se a conduta do condenado ao longo da execução da pena. 
Em outras palavras, para a verificação do requisito subjetivo não se leva em conta o crime praticado pelo 
condenado, mas seu comportamento durante o cumprimento da pena. 
Convém sinalar, por pertinente, que a prática de falta grave não interrompe o prazo para a conces-
são do livramento condicional. É o que se extrai da Súm. no 441 do STJ, segundo a qual “A falta grave não 
interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional”. 
De acordo com a Súm. no 439/STJ, “admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do 
caso, desde que em decisão motivada”. 
b) Não cometimento de falta grave nos últimos doze meses 
A Lei no 13.964/2019 acrescentou mais um requisito para a obtenção do livramento condicional, 
consistente no não cometimento de falta grave nos últimos 12 meses de execução da pena. 
As hipóteses de falta grave durante a execução da pena estão previstas no art. 50 da Lei no 
7.210/1984. 
Se o condenado praticou falta grave ao longo dos últimos 12 meses, não terá direito à obtenção 
do livramento condicional, ainda que preenchidos os demais requisitos. 
c) Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído 
Trata-se de uma exigência salutar para o retorno do condenado ao convívio social, mas, infeliz-
mente, de pouca efetividade prática, por conta da carência ou dificuldade de inserção do apenado no mer-
cado de trabalho. 
Ao referir-se a “trabalho que lhe foi atribuído”, fica claro que não se trata apenas das atividades 
laborais desenvolvidas no interior do cárcere, mas também se refere ao trabalho efetuado fora da prisão, 
por exemplo, o serviço externo, tanto na iniciativa privada como na pública. 
d) Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto 
A lei não determina que o apenado deve ter emprego assegurado no momento da liberação. O 
que a lei exige é a aptidão, isto é, a disposição, a habilidade, a inclinação do condenado para viver às custas 
de seu próprio e honesto esforço. 
e) Constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a 
delinquir na hipótese de condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça 
Tratando-se de condenado por crime doloso cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
52 
concessão do livramento fica subordinada, além dos requisitos do art. 83 do CP, à constatação, mediante 
perícia, de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir (art. 83, par. ún., 
do CP). 
 
7.3. Livramento condicional vedado 
A Lei no 13.964/2019, que altera o art. 112 da Lei no 7.210/1984 (LEP), passou a prever vedação 
do livramento condicional a condenados pela prática de determinados crimes. 
É vedado o livramento condicional: 
• ao condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte (art. 112, 
VI, a e c, da LEP); 
• ao condenado expressamente em sentença, por integrar organização criminosa ou por crime 
praticado por meio de organização criminosa, não será facultada a progressão de regime de 
cumprimento de pena ou a obtenção do livramento condicional ou outros benefícios prisionais 
se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo (art. 2o, 
§ 9o, da Lei no 12.850/2013); 
• ao reincidente em crime hediondo ou equiparado (art. 83, V, do CP). 
 
7.4. As causas de revogação do livramento condicional 
O livramento condicional, pela própria natureza do benefício, é passível de revogação a qualquer 
momento, desde que presente alguma hipótese que a justifique. 
As causas de revogação obrigatórias estão previstas no art. 86 do CP, ao passo que as causas de 
revogação facultativa estão previstas no art. 87. 
 
7.4.1. Causas de revogação obrigatória 
Quando ocorre uma causa obrigatória, não fica a critério do juiz revogar o livramento condicional 
ou não, a revogação decorre da própria lei. 
A revogação obrigatória incide quando o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liber-
dade, em sentença irrecorrível, por crime praticado durante ou antes da concessão do livramento condicio-
nal. 
A condenação pela prática de contravenção penal ou por crime a pena que não seja privativa de 
liberdade constitui causa de revogação facultativa. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
53 
7.4.2. Causas de revogação facultativa 
Nas hipóteses de revogação facultativa, cumpre ao juiz deliberar acerca da revogação ou manuten-
ção do livramento condicional. Trata-se, pois, de causas judiciais de revogação do livramento condicional. 
Se mantido o livramento condicional, na hipótese da revogação facultativa, o Juiz deverá advertir o 
liberado ou agravar as condições (art. 140, par. ún., da LEP). 
Nos termos do art. 87 do CP, duas são as hipóteses de revogação facultativa: 
a) se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes na sentença; 
b) se o liberado for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja 
privativa de liberdade. 
8. Efeitos da Condenação 
8.1. Nota introdutória 
Após a prática de um fato típico, ilícito e sendo o agente culpável, em tese, instaura-se uma ação 
penal, que pode ser pública ou privada. Observando as garantias constitucionais do contraditório, da ampla 
defesa e do devido processo legal, objetiva-se chegar ao final e, se comprovada a materialidade e a autoria, 
o Estado, por meio do Poder Judiciário, aplicar uma sentença ou acórdão condenatório, com a fixação de 
uma pena. 
Essa sentença condenatória, ao transitar em julgado, naturalmente gera efeitos que, direta ou in-
diretamente, atingem o condenado. Os efeitos não são apenas na esfera penal, mas também em outras 
áreas do direito, como cível, administrativa, eleitoral, por exemplo. 
Os efeitos da condenação são divididos em principais e secundários: 
 
8.2. Efeitos principais 
Como corolário lógico da sentença penal condenatória, o efeito principal consiste na aplicação de 
uma pena privativa de liberdade, restritiva de direitos e/ou multa, além de medida de segurança, no caso 
de agente semi-imputável que revela periculosidade. 
 
8.3. Efeitos secundários 
Além dos efeitos principais, a sentença condenatória gera efeitos secundários, também denomi-
nados efeitos mediatos, acessórios, reflexos ou indiretos, de natureza penal e extrapenal. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
54 
8.3.1. Efeitos secundários de natureza penal 
São inúmeros os efeitos secundários da sentença penal condenatória transitada em julgado, entre 
os quais podem ser destacados os seguintes: 
a) gerar a reincidência (art. 63 do CP); 
b) configuração de maus antecedentes, se não utilizada para fins de reincidência; 
c) fixação do regime inicial fechado na hipótese de prática de novo crime, ressalvada a hipótese da 
Súm. no 269 do STJ; 
d) vedação da substituição dapena privativa de liberdade por restritiva de direitos na hipótese de 
prática de novo crime, ressalvada a hipótese do art. 44, § 3o, do CP; 
e) vedação da concessão da suspensão condicional da pena em relação ao novo crime (art. 77, I, 
do CP), e revogação do sursis (art. 81, I, e § 1o, do CP); 
f) causa de revogação do livramento condicional (arts. 86 e 87 do CP); 
g) aumento e interrupção do prazo da prescrição da pretensão executória, quando reconhecida a 
reincidência pela prática de outro crime (arts. 110, caput, e 117, VI, do CP); 
h) vedação da concessão da transação penal e da suspensão condicional do processo, em relação 
ao novo crime (arts. 76, § 2o, I, e 89, caput, da Lei no 9.099/1995). 
 
8.3.2. Efeitos secundários de natureza extrapenal 
Além de gerar efeitos penais, a sentença penal condenatória transitada em julgado gera efeitos 
extrapenais, ou seja, em outras áreas do direito, como na esfera cível, administrativa, trabalhista, eleitoral 
etc. Esses efeitos se dividem em genéricos e específicos. 
Os efeitos genéricos incidem sobre todos os crimes e estão previstos no art. 91 do CP, consistentes 
em reparar o dano e confisco. Incidem de forma automática, não sendo necessário, portanto, o juiz declarar 
na sentença. É o que se extrai, a contrario sensu, do disposto no art. 92, par. ún., do CP. 
Os efeitos específicos são aqueles previstos no art. 92 do CP. Nos termos do parágrafo único do 
art. 92, esses efeitos não incidem de forma automática, devendo o juiz declará-los motivadamente na sen-
tença. 
 
8.3.3. Efeitos genéricos 
a) Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime 
Nos termos do art. 91, I, do CP, constitui efeito da sentença penal condenatória “tornar certa a 
obrigação de indenizar o dano causado pelo crime”. Trata-se de efeito automático decorrente da sentença 
penal condenatória, já que meramente declaratória no tocante à indenização civil, não sendo necessário 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
55 
mandamento expresso no sentido de o réu reparar o dano resultante do crime. 
A sentença penal condenatória transitada em julgado permite à vítima promover a ação de execução 
ex delicto, nos termos do art. 63 do CPP, já que constitui título executivo judicial, conforme prevê o art. 515, 
I, do CPC. 
Assim, transitada em julgado a sentença penal condenatória, a sua execução no juízo cível visa tão 
somente estabelecer o quantum da reparação do dano, não sendo, portanto, objeto de discussão o mérito 
da causa. 
b) A perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos 
instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou de-
tenção constitua fato ilícito 
É a hipótese do confisco como efeito da condenação, previsto no art. 91, II, do CP. Trata-se da perda 
em favor da União de bens de origem ilícita, decorrente do delito praticado. 
Constitui efeito automático da sentença penal condenatória transitada em julgado, não sendo, pois, 
necessário que o juiz declare expressamente na sentença. 
c) Confisco alargado 
A Lei no 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) introduziu mais um efeito da sentença penal condenatória. 
Nos termos do art. 91-A do CP, na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena 
máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do 
crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja 
compatível com o seu rendimento lícito. 
Para efeito da perda prevista no caput do referido artigo, entende-se por patrimônio do condenado 
todos os bens: 
Art. 91-A. (...) 
I – de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto 
ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e 
II – transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir 
do início da atividade criminal. 
§ 2o O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedên-
cia lícita do patrimônio. 
§ 3o A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Pú-
blico, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. 
§ 4o Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e espe-
cificar os bens cuja perda for decretada. 
§ 5o Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e 
milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo 
da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das 
pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o 
cometimento de novos crimes. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
56 
8.3.4. Efeitos específicos 
a) Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo 
O art. 92, I, do CP prevê duas hipóteses de perda de cargo, função ou mandato eletivo como efeito 
da sentença penal condenatória: 
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 (um) ano, nos 
crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; 
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais 
casos. 
A primeira hipótese, pode incidir quando o funcionário público praticar o delito no exercício das suas 
funções ou em razão dela, e a pena privativa de liberdade seja aplicada por tempo igual ou superior a 1 (um) 
ano. 
Não se tratando de crime funcional, a perda do cargo, função pública ou mandato eletivo poderá 
incidir quando a pena aplicada for igual ou superior a 4 (quatro) anos. 
Esse efeito, no entanto, não é automático, ou seja, exige para sua incidência que o juiz declare 
expressamente em decisão motivada (art. 92, par. ún., do CP). 
b) Incapacidade para o exercício do pátrio poder (poder familiar), tutela ou curatela 
Além do vínculo entre o autor do fato e a vítima, a incidência do efeito específico consistente na 
incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela, depende de duas condições: a) que o 
crime seja doloso; b) que seja cominada pena de reclusão. 
Esse efeito não é automático, devendo ser declarado na sentença em decisão motivada, conforme 
se extrai do art. 92, par. ún., do CP. Assim, cumpre ao Magistrado, no caso concreto, avaliar a necessidade 
da imposição da incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela. Exemplo: pai conde-
nado pela prática do crime estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) contra filha de tenra idade. 
c) Inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso 
A aplicação desse efeito específico depende de dois requisitos: a) que o crime seja doloso; b) que o 
veículo tenha sido utilizado “como meio” para a sua prática. Logo, não incide esse efeito no caso de crime 
culposo. 
9. Extinção da Punibilidade 
9.1. Conceito 
Com a prática da infração penal, surge para o Estado o direito de punir o responsável, incidindo a 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
57 
possibilidade jurídica de o Estado impor uma sanção penal ao responsável pela prática do crime ou contra-
venção penal. 
 
9.2. Efeitos da extinção da punibilidade 
Em regra, as causas extintivas da punibilidade só alcançam o direito de punir do Estado, subsis-
tindo o crime em todos os seus requisitos e a sentença condenatória irrecorrível. 
Excepcionalmente, a causa extintiva de punibilidade apaga o fato praticado pelo agente e rescinde 
a sentença condenatória irrecorrível. É o que ocorre com a abolitio criminis e a anistia. 
 
9.3. Causas de extinção de punibilidade (art. 107 do CP) 
9.3.1. Morte do agente 
A morte do agente constitui causa de extinção da punibilidade, por conta do princípio da personali-
dade da pena, segundo a qual a pena não pode passar da pessoa do condenado(art. 5o, XLV, 1a parte, da 
CF/1988). 
Essa extinção da punibilidade incide sobre todas as espécies de penas, inclusive a pena de multa. 
Assim, se, no curso da execução da pena de multa convertida em dívida ativa, o réu vier a falecer, deve ser 
declarada extinta a punibilidade do agente pela sua morte, não sendo possível, assim, direcionar a execu-
ção da pena de multa aos seus sucessores. 
 
9.3.2. Da anistia, graça e indulto 
A anistia, graça e indulto constituem espécies de indulgência, ensejando a renúncia do Estado ao 
direito de punir. 
São benefícios concedidos por órgãos diversos do Poder Judiciário, mas que somente ensejam a 
extinção da punibilidade após decisão judicial. 
 
9.3.2.1. Anistia 
Trata-se de uma espécie de exclusão da incidência do Direito Penal sobre uma ou mais infrações 
penais. Não exclui o crime, mas apenas a possibilidade de o Estado punir o agente que o praticou, razão 
pela qual tem efeito retroativo. 
A competência para a concessão de anistia é exclusiva da União e privativa do Congresso Nacio-
nal (art. 48, VIII, da CF/1988), com a sanção do Presidente da República, só podendo ser concedida por 
meio de lei federal. 
Não se aplica aos delitos referentes à prática de tortura, ao tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
58 
afins, ao terrorismo e aos definidos como crimes hediondos (art. 5o, XLIII, da CF/1988; art. 2o, I, da Lei no 
8.072/1990). 
 
9.3.2.2. Graça 
A graça, ao contrário do indulto, é um benefício concedido a pessoa determinada, condenada de-
finitivamente pela prática de crime comum, consistente na extinção ou comutação da pena. 
Nos termos do art. 5o, XLIII, da CF/1988, a graça não pode ser aplicada em relação a delitos 
referentes à prática de tortura, ao tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, ao terrorismo e aos definidos 
como crimes hediondos. 
A competência para conceder a graça é do Presidente da República, nos termos do art. 84, XII, da 
CF/1988, podendo, nos termos do parágrafo único desse artigo, delegar a atribuição “aos Ministros de Es-
tado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União”. 
 
9.3.2.3. Indulto 
O indulto coletivo constitui modalidade de clemência concedida a todo condenado que preencher 
os requisitos previstos no Decreto presidencial publicado geralmente no final de cada ano. Como se vê, o 
indulto, ao contrário da graça, tem caráter coletivo e é concedido espontaneamente. 
Assim como a graça, a competência para conceder o indulto é do Presidente da República, nos 
termos do art. 84, XII, da CF/1988, podendo, nos termos do parágrafo único desse artigo, delegar a atribui-
ção “aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União”. 
Os requisitos para a concessão do indulto variam de acordo com cada decreto publicado, consi-
derando, invariavelmente, requisitos subjetivos (primariedade e bom comportamento carcerário, sem regis-
tro de falta grave ao longo do ano) e objetivos (tempo de cumprimento de pena). 
Nos termos do art. 2o, I, da Lei no 8.072/1990, o indulto não pode ser aplicado em relação a delitos 
referentes à prática de tortura, ao tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, ao terrorismo e aos definidos 
como crimes hediondos. O art. 44 da Lei no 11.343/2006 também veda a concessão do indulto aos conde-
nados pelo crime de tráfico de drogas. 
O indulto também extingue somente a punibilidade, subsistindo o crime, a condenação irrecorrível 
e seus efeitos secundários. Assim, se o agente beneficiado com o indulto praticar novo crime, será consi-
derado reincidente. 
 
9.3.3. Lei posterior que deixa de considerar o fato criminoso (abolitio criminis) 
A lei penal retroage, atingindo fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor, sempre que benefi-
ciar o agente de qualquer modo (art. 5o, XL, da CF/1988). 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
59 
Se a lei posterior deixar de considerar o fato como criminoso, excluir da seara penal a conduta 
como sendo delituosa, retroagirá para alcançar os fatos praticados antes da sua vigência, com a conse-
quente extinção da punibilidade dos responsáveis. 
Nos termos do art. 2o do CP, a abolitio criminis gera o efeito de fazer cessar a execução e os efeitos 
penais da sentença condenatória, por exemplo, a reincidência, maus antecedentes, lançamento do nome 
do réu no rol dos culpados. 
Todavia, não apaga os efeitos civis da prática delituosa, já que a lei fala em cessação dos efeitos 
“penais” da sentença. 
 
9.3.4. Prescrição, decadência e perempção 
O art. 107, IV, do CP prevê como causas de extinção da punibilidade a prescrição, a decadência 
e a perempção. 
A prescrição será analisada em capítulo próprio, diante da abrangência do tema. 
 
9.3.4.1. Decadência 
A decadência é a perda do direito do ofendido e dos demais legitimados de oferecer representação, 
no caso de ação penal pública condicionada à representação, e de ajuizar a queixa-crime, na hipótese de 
ação penal privada, em face do decurso do tempo. 
Os legitimados para apresentar representação ou queixa-crime têm o prazo de 6 (seis) meses, a 
contar da inequívoca ciência da autoria do fato, para exercer esse direito. Escoado esse prazo sem iniciativa 
do ofendido ou do seu representante legal, incide a decadência, e a consequente extinção da punibilidade 
do agente ofensor. 
Com efeito, nos termos do art. 103 do CP e do art. 38 do CPP, o ofendido ou seu representante 
legal decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, 
contados a partir do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso da ação penal privada 
subsidiária da pública, do dia em que se esgotou o prazo para o oferecimento da denúncia. 
Como se trata de prazo penal, a contagem segue as regras do art. 10 do CP, incluindo-se o dia do 
começo, excluindo-se o último dia, considerando o calendário comum. Assim, se, por exemplo, o ofendido 
tomou ciência da autoria do fato no dia 3-3-2018, terá até o dia 2-9-2018 para oferecer a representação ou 
ajuizar a queixa-crime. A partir do dia 3-9-2018 já incidirá a decadência e a causa de extinção da punibili-
dade. 
9.3.4.2. Perempção 
A perempção é uma causa de extinção da punibilidade que incide por conta da inércia processual 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
60 
do querelante. 
A perempção só é possível na ação penal exclusivamente privada, não sendo aplicável à ação 
penal privada subsidiária da pública, já que, diante da negligência do querelante, o Ministério Público retoma 
a ação penal (art. 29, parte final, do CPP). 
As hipóteses de perempção estão elencadas no art. 60 do CPP. E, segundo se extrai desse dis-
positivo, a perempção somente é possível após o ajuizamento da ação penal privada. 
 
9.3.5. Da renúncia ao direito de queixa ou perdão aceito nos crimes de ação penal 
privada 
Renúncia ao direito de queixa 
É a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de promover a ação penal 
privada. Trata-se de ato unilateral pelo qual o ofendido delibera por não ajuizar a queixa-crime contra o 
suposto ofensor. 
Nos termos do art. 104, caput, do CP: “o direito de queixa não pode ser exercido quando renunci-
ado expressa ou tacitamente”. 
A renúncia ao direito de queixa somente pode ser exercida na ação penal exclusivamente privada, 
não sendo possível na ação penal privada subsidiária da pública, uma vez que, se o ofendido não oferecer 
a queixa-crime, o Ministério Público poderá oferecer a denúncia enquanto não incidir causa de extinção da 
punibilidade do agente, por exemplo, pela prescrição. 
Perdão do ofendido 
O perdão do ofendido ou do seu representante legal consiste na manifestação, expressa ou tácita, 
de desistir do prosseguimento da ação penal privada. É a desistência manifestada após o oferecimento da 
queixa, que obsta o prosseguimento da açãopenal privada, conforme prevê o art. 105 do CP. 
O perdão aceito do ofendido é causa extintiva de punibilidade que incide somente na ação penal 
exclusivamente privada. 
Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública (art. 100, § 3o, do CP), a desistência do 
ofendido de prosseguir com o processo não determina a extinção da punibilidade, mesmo que o réu aceite 
o perdão, pois se trata de ação penal pública, devendo o Ministério Público assumi-la como parte principal 
(art. 29 do CPP). 
Depois de iniciada a ação penal privada, o perdão do ofendido pode ser manifestado até o trânsito 
em julgado da sentença penal condenatória (art. 106, § 2o, do CPP). 
9.3.6. Da retratação do agente 
A retratação significa desdizer-se, retirar o que foi dito, confessar que errou. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
61 
Em regra, a retratação do agente não tem relevância jurídica, funcionando somente como circuns-
tância judicial na aplicação da pena. Excepcionalmente, o estatuto penal empresta-lhe força extintiva da 
punibilidade (art. 107, VI, do CP). 
A retratação, como causa de extinção da punibilidade, somente incide nos casos expressamente 
previstos em lei, por exemplo, nos crimes contra a honra, conforme prevê o art. 143 do CP. 
Nos crimes contra a honra, a retratação só é cabível na calúnia e na difamação, sendo inadmissível 
na injúria. Nos dois primeiros casos, importa à vítima que o ofensor se retrate negando que ela praticou o 
fato imputado. Na injúria, porém, não há imputação de fato, mas atribuição ao ofendido de qualidade nega-
tiva, não importando a esta a retratação. 
Também incide na hipótese prevista no art. 342, § 2o, do CP, que trata do crime de falso testemu-
nho ou falsa perícia, segundo o qual o fato deixa de ser punível, se, antes da sentença, o agente se retrata 
ou declara a verdade. Essa retratação só é possível até a sentença final do procedimento em que foi prati-
cado o falso testemunho. 
 
9.3.7. Perdão judicial 
Perdão judicial é o instituto pelo qual o juiz, não obstante a incidência da infração penal praticada 
por agente culpável, deixa de aplicar a pena nos casos expressamente previstos em lei. 
O perdão judicial constitui causa extintiva da punibilidade de aplicação restrita. Significa que não 
é aplicável a todas as infrações penais, mas somente àquelas especialmente indicadas pelo legislador. 
A sentença que concede o perdão judicial é meramente declaratória da extinção da punibilidade, 
não surtindo nenhum efeito penal ou extrapenal. É o que se extrai da Súm. no 18 do STJ, segundo a qual 
“A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qual-
quer efeito condenatório”. 
 
9.4. Prescrição 
9.4.1. Introdução 
Quando um indivíduo pratica, em tese, um fato típico e ilícito, surge para o Estado o poder e o 
dever de buscar a punição do responsável. E essa punição é concretizada com a sentença penal condena-
tória transitada em julgado, com a imposição de uma pena, surgindo, a partir de então, a pretensão do 
Estado de executar essa pena. 
Todavia, a pretensão punitiva e executória do Estado é limitada, não perdurando, via de regra, por 
tempo indeterminado. Com efeito, o direito de punir e de executar a pena imposta ao apenado encontra 
limites temporais, que, se não observados, podem levar à extinção da punibilidade do agente pela incidência 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
62 
de prescrição da pretensão punitiva ou prescrição da pretensão executória. 
A prescrição penal, pois, é a perda da pretensão punitiva ou executória do Estado pelo decurso do 
tempo sem o seu exercício. 
 
9.4.2. Imprescritibilidade 
Em regra, a prescrição alcança todas as infrações penais, inclusive os crimes hediondos e equi-
parados. 
Todavia, nos termos da Constituição Federal, alguns crimes são imprescritíveis, viabilizando, as-
sim, o exercício da pretensão punitiva e executória a qualquer tempo. 
São imprescritíveis os crimes de racismo (art. 5o, XLII, da CF/1988; Lei no 7.716/1989) e os refe-
rentes à ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático 
(art. 5o, XLIV, da CF/1988). Os Tribunais Superiores passaram a considerar imprescritível também o crime 
de injúria racial (art. 140, § 3o, do CP). 
 
9.4.3. Prazos para o cálculo da prescrição (art. 109 do CP) 
A prescrição é regulada pelos prazos previstos no art. 109 do CP. Ou seja, os prazos previstos 
nesse artigo servem de parâmetro para o cálculo da prescrição da pretensão punitiva e executória: 
 
I – em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; 
II – em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; 
III – em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; 
IV – em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; 
V – em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede 
a dois; 
VI – em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. 
 
Convém destacar que as penas restritivas de direitos, que substituem a pena privativa de liberdade, 
prescrevem no mesmo prazo das penas substituídas, nos termos do art. 109, par. ún., do CP. 
Ex.: suponha-se que o agente tenha sido condenado a 1 (um) ano pela prática do crime de furto, 
sendo a pena privativa de liberdade substituída por uma de prestação de serviços à comunidade. Essa pena 
prescreverá em 4 (quatro) anos. 
 
9.4.4. Redução dos prazos de prescrição em face da idade do sujeito (art. 115 do 
CP) 
O art. 115 determina que SÃO REDUZIDOS DE METADE os prazos da prescrição quando o cri-
minoso era, AO TEMPO DO CRIME, MENOR DE 21 ANOS ou MAIOR DE 70 ANOS na DATA DA SEN-
TENÇA. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
63 
9.4.5. Prescrição da pretensão punitiva 
9.4.5.1. Prescrição da pretensão punitiva em abstrato (art. 109, caput, do CP) 
 
a) Contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva em abstrato 
Na PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA, o decurso do tempo faz com que o Estado perca 
o direito de punir no tocante à pretensão de o Poder Judiciário julgar a lide e aplicar a sanção penal. 
A prescrição da pretensão punitiva ocorre antes de a sentença final transitar em julgado. 
Para saber qual o prazo de prescrição da pretensão abstrata punitiva devemos verificar o limite 
máximo da pena imposta em abstrato no preceito sancionador e enquadrá-lo em um dos incisos do art. 109 
do CP. 
Ex.: suponha-se que um sujeito cometa um crime de lesão corporal leve (pena de 3 meses a 1 
ano), não se descobrindo a autoria. Se o Estado, dentro de 4 (quatro) anos, não exercer o direito de punir, 
opera-se a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva. Aplica-se o disposto no art. 109. 
No concurso de crimes (concurso material, formal e continuado), a prescrição atinge a pretensão 
punitiva em relação a cada infração considerada isoladamente (art. 119 do CP). 
b) Termos iniciais da prescrição da pretensão punitiva (art. 111 do CP) 
O primeiro termo inicial é a data da consumação do delito (I). Constitui exceção à teoria da ativi-
dade, pois, na prescrição, adota-se a teoria do resultado. 
No caso da tentativa (II), o termo a quo da prescrição da pretensão punitiva é o dia da cessação 
da atividade criminosa. 
No crime permanente (III), a prescrição começa a correr do dia em que cessou a permanência (art. 
111, III, 1a figura, do CP). Ex.: suponha-se que a vítima de sequestro permaneça presa durante 30 dias. A 
prescrição começa a correr a partir do dia em que conseguiu a liberdade. 
No crime continuado, a prescrição deve ser considerada em relação a cada crime, isoladamente 
(art. 119). 
Nos crimes de bigamia e de falsificação ou alteração de assentamento de registro civil (arts. 235 
e 299, par. ún.), a prescrição começa a correr da data em que o fato se tornou conhecido de qualquer 
autoridadepública (art. 111, IV). 
Com o advento da Lei no 14.344, de 24-5-2022, o legislador alterou a redação do art. 111, V, do 
CP. Agora, além de crimes contra a dignidade sexual contra crianças e adolescentes, o termo inicial do 
prazo prescricional a partir do momento em que a vítima completar 18 anos também contempla qualquer 
crime que envolva violência contra crianças e adolescentes. Eis a nova redação do inciso V do art. 111 do 
CP: “V – nos crimes contra a dignidade sexual ou que envolvam violência contra a criança e adolescente, 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
64 
previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, 
salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal”. 
Nesse sentido, se uma criança de 10 anos for vítima de crime de estupro de vulnerável, por exem-
plo, ou qualquer outro crime praticado com violência, e a ação ainda não tiver sido instaurada, o prazo 
prescricional passará a correr a partir da data em que ela completar 18 anos. 
 
9.4.5.2. Prescrição da pretensão punitiva retroativa (art. 110, § 1o, parte final, do CP) 
A prescrição retroativa tem por pressuposto o trânsito em julgado da sentença penal condenatória 
para a acusação. Com o trânsito em julgado da sentença penal condenatória para a acusação, a base para 
calcular a prescrição se altera, passando a ser considerada a pena aplicada na sentença. Nesse caso, 
deve-se considerar a pena aplicada na sentença e enquadrá-la num dos incisos do art. 109 do CP para 
verificar o prazo prescricional. 
Verificado o prazo prescricional com base na pena aplicada na sentença, a prescrição retroativa 
deve ser considerada a partir da publicação da sentença ou acórdão condenatório para trás. Por isso o 
nome retroativa, porque sua incidência é verificada entre os marcos interruptivos existentes antes da sen-
tença condenatória. 
Nos crimes em geral, a prescrição da pretensão retroativa pode ocorrer entre a publicação da 
sentença ou acórdão condenatório e o recebimento da denúncia ou queixa. 
No contexto dos crimes de competência do Tribunal do Júri, a prescrição retroativa pode incidir: a) 
entre a data da publicação da sentença condenatória e decisão confirmatória da pronúncia; b) entre a de-
cisão confirmatória da pronúncia até a decisão de pronúncia; c) entre a pronúncia e o recebimento da de-
núncia. 
 
9.4.5.3. Prescrição da pretensão punitiva intercorrente ou superveniente à sentença 
condenatória (art. 110, § 1o, do CP) 
Sendo espécie de prescrição da pretensão punitiva, a prescrição da pretensão punitiva intercor-
rente incide somente antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória para todos. 
Como visto, nos termos do que dispõe o art. 109, caput, do CP, a prescrição da pretensão punitiva, 
salvo a exceção do § 1o do art. 110, é regulada pelo máximo da sanção privativa de liberdade. 
Há, porém, no art. 110, § 1o, uma primeira exceção: caso em que, não obstante SE TRATAR DE 
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA, TRANSITANDO EM JULGADO a sentença condenatória para 
a ACUSAÇÃO, ou SENDO IMPROVIDO o seu recurso, a partir da sua publicação começa a correr o prazo 
prescricional regulado pela PENA CONCRETA. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
65 
Ex.: suponha-se que o réu venha a ser condenado a 2 (dois) anos de detenção, tendo transitado 
em julgado a sentença para a acusação. Sendo a pena aplicada de 2 (dois) anos, o prazo prescricional é 
de 4 (quatro) anos (art. 109, V, do CP). O réu interpôs recurso de apelação, que, passados quatro anos, 
ainda não havia sido julgado pelo Tribunal. No caso, passados quatro anos da data da publicação da sen-
tença sem que o recurso interposto pela defesa tenha sido apreciado, ocorrerá a prescrição da pretensão 
punitiva superveniente ou intercorrente, prevista no art. 110, § 1o, do CP. 
 
9.4.6. Prescrição da pretensão executória (art. 110, caput, do CP) 
9.4.6.1. Conceito 
Na prescrição da pretensão executória, o decurso do tempo sem o seu exercício faz com que o 
Estado perca o direito de executar a sanção imposta na sentença condenatória. 
A prescrição da pretensão executória incide após o trânsito em julgado da sentença condena-
tória. 
Nos termos do caput do art. 110, a prescrição, depois de transitar em julgado a sentença conde-
natória, regula-se pela pena imposta na sentença e verifica-se nos prazos fixados no art. 109, os quais 
aumentam de 1/3 se o condenado é reincidente. 
Ex.: suponha-se que o agente tenha sido condenado irrecorrivelmente a 4 (quatro) anos de reclu-
são pela prática do delito de roubo simples (art. 157 do CP). O prazo prescricional, considerando a pena 
aplicada, será de 8 (oito) anos (art. 109, IV, do CP). Nesse caso, se o Estado não iniciar a execução da 
pena dentro de 8 (oito) anos, opera-se a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão executória. 
Aplica-se o disposto no art. 110 do CP. 
Ex.: réu condenado a 1 (um) ano de reclusão: prazo da prescrição executória: 4 (quatro) anos (art. 
109, V). 
Tratando-se de reincidente, o prazo da prescrição da pretensão executória da pena privativa 
de liberdade é aumentado de 1/3 (art. 110, caput, in fine). Para tanto, é necessário que a sentença 
condenatória tenha reconhecido a reincidência. 
No concurso material e formal, cada delito tem seu prazo prescricional ISOLADO, ainda que as 
penas tenham sido impostas na mesma sentença (art. 119 do CP). 
 
9.4.6.2. Termos iniciais da prescrição da pretensão executória (art. 112 do CP) 
a) do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que 
revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional 
Cumpre observar: a prescrição da pretensão executória depende de uma condição: O TRÂNSITO 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
66 
EM JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA PARA A ACUSAÇÃO E DEFESA. Satisfeita a condição, 
entretanto, na contagem do prazo, leva-se em conta a data em que transitou em julgado para a acu-
sação, nos termos do artigo 112, I, do CP. Convém sinalar, no entanto, que o STF e o STJ consideram que 
o termo inicial seria a data do trânsito em julgado para todos. 
b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva 
computar-se na pena 
INTERROMPIDA A EXECUÇÃO DA PENA PELA FUGA DO CONDENADO, inicia-se a contagem 
do prazo prescricional da prescrição executória (art. 112, II, 1a parte, do CP). 
Nos casos dos arts. 41 e 42 do CP (superveniência de doença mental ou internação em hospital), 
em que se aplica o princípio da detração penal, embora interrompida a efetiva execução da pena, não corre 
a prescrição (art. 112, II, 2a parte). 
 
9.4.6.3. Prescrição no caso de evasão do condenado ou de revogação do livramento 
condicional (art. 113 do CP) 
Ex.: suponha-se que o detento fuja faltando 2 (dois) anos para o cumprimento da pena. A partir da 
data da fuga começa a correr a prescrição da pretensão executória (art. 112, II, 1a parte), ocorrendo em 4 
(quatro) anos (art. 109, V, do CP). Ou seja, se nesse período de quatro anos o apenado não for localizado 
para dar continuidade ao cumprimento da pena, ocorrerá a prescrição da pretensão executória. 
 
9.4.7. Causas suspensivas da prescrição 
O Código Penal prevê causas impeditivas ou suspensivas da prescrição (art. 116), distintas das 
causas interruptivas (art. 117). Na suspensão da prescrição, o tempo decorrido antes da causa é computado 
no prazo; na interrupção, o tempo decorrido antes da causa não é computado no prazo, que recomeça a 
correr por inteiro. 
 
9.4.7.1. Causas suspensivas da prescrição punitiva 
a) Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento 
da existência do crime 
Nos termos do art. 116, I, do CP, a prescrição não corre enquanto não resolvida, EM OUTRO 
PROCESSO, questão de que depende o reconhecimento da existência do crime (questão prejudicial, tra-
tada nosarts. 92 a 94 do CPP). 
b) Enquanto o agente cumpre pena no exterior 
A SEGUNDA CAUSA suspensiva é prevista no art. 116, II, do CP: antes de passar em julgado a 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
67 
sentença final, a prescrição não corre enquanto o agente cumprir pena no estrangeiro. Não impede o de-
curso do prazo prescricional, entretanto, estar o sujeito cumprindo pena, em razão de outro processo, no 
Brasil. 
c) Na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, 
quando inadmissíveis 
A Lei no 13.964/2019 introduziu mais uma causa suspensiva da prescrição, visando a dificultar a 
incidência da prescrição da pretensão punitiva na pendência de recursos interpostos perante os Tribunais 
Superiores. 
Assim, enquanto tramitam os embargos de declaração ou recursos aos Tribunais Superiores, o 
prazo prescricional ficará suspenso, aguardando julgamento inadmissível, sendo considerado o período de 
suspensão do prazo prescricional, se inadmissíveis os recursos. 
d) Enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal 
Trata-se de outra causa suspensiva da prescrição introduzida pela Lei no 13.964/2019. 
Durante o período relativo ao acordo de não persecução penal, o prazo prescricional ficará sus-
penso. 
 
9.4.7.2. Causas suspensivas da prescrição da pretensão executória (art. 116, par. 
ún., do CP) 
Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo 
em que o condenado está preso por outro motivo. 
Ex.: suponha-se que o sujeito seja condenado em duas comarcas, iniciando o cumprimento da 
pena imposta na ação penal de uma delas. Enquanto está cumprindo a pena, não corre a prescrição da 
pretensão executória em relação à outra condenação. 
 
9.4.8. Causas interruptivas da prescrição (art. 117 do CP) 
Ocorrendo uma causa interruptiva, o curso da prescrição interrompe-se, desaparecendo o lapso 
temporal já decorrido, recomeçando sua contagem desde o início. 
A incidência das causas do art. 117, salvo a do inciso V, faz com que seja extinto o prazo decorrido 
antes da interrupção, recomeçando a correr a prescrição por inteiro (§ 2o). 
 
9.4.8.1. Pelo recebimento da denúncia ou da queixa 
O recebimento da denúncia interrompe o prazo prescricional, recomeçando a correr a prescrição 
da pretensão punitiva por inteiro, não se levando em conta o tempo já decorrido antes da interrupção. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
68 
9.4.8.2. Pela pronúncia 
A pronúncia também interrompe a prescrição (art. 117, II). A decisão do juiz tem força de interrom-
per a prescrição, ainda que o réu venha a ser absolvido no Júri. 
 
9.4.8.3. Pela decisão confirmatória da pronúncia 
Se o RÉU RECORRE DA PRONÚNCIA e o Tribunal confirma, o Acórdão também interrompe a 
prescrição (art. 117, III, do CP), o mesmo ocorrendo quando é impronunciado (art. 409, caput, do CPP) ou 
absolvido sumariamente (art. 411 do CPP) e o tribunal o pronuncia. 
 
9.4.8.4. Pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis 
O art. 117, IV, do CP determina que a prescrição se interrompe pela sentença condenatória recor-
rível. A interrupção ocorre na data da publicação da sentença, i.e., no dia em que o escrivão recebe a 
sentença do juiz e a junta aos autos, independentemente do registro e de outras diligências. 
O acórdão condenatório, ainda que não unânime, e por isso sujeito a embargos infringentes, tam-
bém interrompe o prazo prescricional da pretensão punitiva. Isso ocorre quando, tendo sido absolvido em 
primeiro grau, o réu vem a ser condenado pelo acórdão do tribunal. Trata-se de acórdão recorrível. 
 
9.4.8.5. Pelo início ou continuação do cumprimento da pena 
Iniciando-se o prazo da prescrição da pretensão executória com o trânsito em julgado da sentença 
condenatória, interrompe-se pelo começo do cumprimento da pena. Fugindo o condenado, a prescrição 
começa a correr da data da fuga (art. 112, II, 1a parte), regulando-se pelo tempo que resta da pena (art. 
113). Recapturado, interrompe-se a prescrição. 
 
9.4.8.6. Pela reincidência 
A REINCIDÊNCIA SOMENTE INTERROMPE O PRAZO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO 
EXECUTÓRIA, SENDO INAPLICÁVEL À PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA (art. 109). Nesse 
sentido, a Súm. no 220 do STJ: “A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva”. 
 
 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
69 
10. Crimes contra a vida 
Prof. Arnaldo Quaresma 
@profarnaldoquaresma 
 
10.1. Homicídio 
O homicídio consiste na eliminação da vida humana extrauterina provocada por outra pessoa. A 
eliminação da vida intrauterina (feto) caracteriza o delito de aborto. 
 
10.1.1. Homicídio privilegiado (art. 121, § 1o, do CP) 
O art. 121, § 1o, do CP descreve o homicídio privilegiado como o fato de o sujeito cometer o delito 
impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em 
seguida a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3. 
Motivo de relevante valor social: ocorre quando a causa do delito diz respeito a um interesse 
coletivo. A conduta, então, é ditada em face de um interesse que diz respeito a todos os cidadãos de uma 
coletividade. Ex.: pai desesperado pelo vício que impregna seu filho e vários outros alunos, mata um trafi-
cante que distribui drogas num colégio, sem qualquer ação eficaz da polícia para contê-lo. 
Motivo de relevante valor moral: diz respeito a um interesse particular, de ordem pessoal. Será 
motivo de relevante valor moral aquele que, em si mesmo, é aprovado pela ordem moral, pela moral prática, 
por exemplo, a compaixão ou piedade diante do irremediável sofrimento da vítima. 
Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima: o texto 
legal exige, ainda, que o impulso emocional e o ato dele resultante se sigam imediatamente à provocação 
da vítima, ou seja, tem de haver a imediatidade entre a provocação injusta e a conduta do sujeito. 
 
10.1.2. Homicídio qualificado (art. 121, § 2o, do CP) 
O art. 121, § 2o, do CP prevê circunstâncias que qualificam o crime de homicídio, quando é come-
tido: a) mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; b) motivo fútil; c) com em-
prego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar 
perigo comum; d) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou 
torne impossível a defesa do ofendido; e) para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vanta-
gem de outro crime; f) feminicídio; g) contra agente de segurança pública; h) com emprego de arma de fogo 
de uso restrito ou proibido. 
Merece especial destaque a qualificadora do feminicídio. Não basta a vítima ser mulher para incidir 
a qualificadora do feminicídio, é preciso que o crime tenha sido praticado no contexto de violência doméstica 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
70 
e familiar ou por menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Assim, se, por exemplo, o agente 
matar uma mulher apenas porque é torcedora do Sport Clube Internacional, não incide a qualificadora do 
feminicídio, já que o crime não foi praticado em razão de a vítima ser do sexo feminino, podendo incidir 
outra qualificadora, como a do motivo fútil. Trata-se, nesse caso, de femicídio e não de feminicídio. 
Também merece destaque a qualificadora do homicídio funcional (art. 121, § 2o, VII, do CP). A 
qualificadora alcança integrantes dos órgãos de segurança pública, bem como seus parentes consanguí-
neos até terceiro grau, desde que o homicídio tenha sido praticado no exercício da função ou em decorrên-
cia dela. Ou seja, para incidir a qualificadora, o homicídio deve estar necessariamente vinculado à função 
desempenhada pelo agente de segurança pública. 
A Lei no 14.344/2022 introduziu mais uma qualificadora ao crimede homicídio, quando se tratar de 
vítima menor de 14 anos de idade (art. 121, § 2o, IX). Com isso, encontra-se tacitamente revogada a se-
gunda parte do art. 121, § 4o, do CP, no que se refere à majorante em face de a vítima ser menor de 14 
anos de idade. Além disso, passou a prever novas causas de aumento de pena. Nos termos do art. 121, 
§ 2o-B, do CP, a pena do homicídio contra menor de 14 anos é aumentada de: “I – 1/3 (um terço) até a 
metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o aumento de sua vulnerabili-
dade; II – 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, 
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela”. 
 
10.1.3. Homicídio privilegiado-qualificado 
Perfeitamente possível a coexistência do homicídio privilegiado e as qualificadoras de natureza 
objetiva, já que relacionadas ao fato praticado, por exemplo, o meio e o modo de execução. 
As qualificadoras relacionadas ao motivo torpe (inciso I) ou fútil (inciso II), bem como à conexão 
com outro crime (inciso V) ou ao fato de a vítima integrar órgão de segurança pública (VII), são consideradas 
de natureza subjetiva. Isso porque não estão vinculadas diretamente ao fato praticado, mas a condições ou 
características subjetivas ou pessoais, como a motivação, ou em relação à pessoa da vítima. Até mesmo o 
crime de homicídio por conexão é de natureza subjetiva, pois guarda relação com o motivo do crime, ou 
seja, o agente desenvolve a conduta homicida para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou 
vantagem de outro crime. 
As qualificadoras relacionadas aos meios (inciso III) ou modos (IV) de execução, bem como a do 
feminicídio (VII), são consideradas de natureza objetiva. As duas primeiras, porque relacionadas direta-
mente ao fato praticado, não havendo qualquer vinculação com características ou condições pessoais da 
vítima. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
71 
10.1.4. Homicídio culposo (art. 121, § 3o, do CP) 
É um tipo penal aberto, que depende, pois, da interpretação do juiz para poder ser aplicado. A 
culpa, conforme o art. 18, II, do CP, é constituída de “imprudência, negligência ou imperícia”. Portanto, 
matar alguém por imprudência, negligência ou imperícia concretiza o tipo penal incriminador do homicídio 
culposo. Ex.: ao manejar arma carregada para limpá-la, o agente aciona, imprudentemente, o gatilho e mata 
uma pessoa que está ao seu lado. 
 
10.1.5. Perdão judicial (art. 121, § 5o, do CP) 
É a clemência do Estado, que deixa de aplicar a pena prevista para determinados delitos, em 
hipóteses expressamente previstas em lei. 
Somente ao autor do homicídio culposo pode-se aplicar a clemência, desde que ele tenha sofrido 
com o crime praticado uma consequência tão séria e grave que a sanção penal se torne desnecessária. 
Ex.: o pai que provoca a morte do próprio filho, num acidente fruto de sua imprudência, já teve 
punição mais do que severa. A dor por ele experimentada é mais forte do que qualquer pena que se lhe 
pudesse aplicar. Por isso, surge a hipótese do perdão. O crime existiu, mas a punibilidade é afastada. 
 
10.2. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação 
10.2.1. Conceito de suicídio e automutilação 
O suicídio decorre da conduta voluntária e consciente da própria vítima, que, por ato positivo ou 
negativo, busca eliminar a sua vida. É o chamado autocídio ou autoquíria. 
A automutilação decorre da conduta voluntária e consciente da própria vítima, que, por ato positivo 
ou negativo, busca provocar lesão em si própria. Nesse caso, a vítima não tem a intenção de eliminar a sua 
própria vida, mas de provocar autolesão, por exemplo, produzir cortes na pele, amputar alguma parte do 
corpo, bater com a cabeça na parede, utilizar fogo para queimar parte da pele. 
Portanto, o crime consiste no fato de o agente induzir, instigar ou prestar auxílio a suicídio ou 
automutilação. Em outras palavras, constitui crime a conduta voltada a fazer com que a vítima pratique atos 
executórios para eliminar sua própria vida ou provocar lesões em si mesma. Trata-se, em síntese, do crime 
de participação em suicídio ou automutilação. 
 
10.2.2. Consumação 
Com as alterações introduzidas pela Lei no 13.968/2019, o delito de participação em suicídio ou 
automutilação passou a ser crime formal, não mais exigindo para a sua consumação a produção do resul-
tado naturalístico morte ou lesão corporal de natureza grave. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
72 
Agora, para a consumação do delito, basta a conduta de induzir, instigar ou prestar auxílio ao 
suicídio ou à automutilação, ainda que resulte lesão corporal de natureza leve ou não resulte qualquer lesão. 
Nesse caso, o agente responderá pelo crime de participação em suicídio ou automutilação na sua modali-
dade simples, nos termos do art. 122, caput, do CP. 
A participação em suicídio ou automutilação com resultado lesão grave ou gravíssima, bem como 
com resultado morte configuram o crime na modalidade qualificada (art. 122, §§ 1o e 2o, do CP). 
 
10.2.3. Figuras qualificadoras 
A Lei no 13.968/2019 introduziu no ordenamento jurídico duas qualificadoras do crime de partici-
pação em suicídio ou automutilação: a) se resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima; b) se 
resultar morte. 
Nos termos do art. 122, § 1o, do CP, se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão 
corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena será de 1 (um) a 3 (três) anos. 
Se da indução, instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação resultar qualquer um dos resul-
tados previstos no art. 129, §§ 1o e 2o, do CP, incidirá a qualificadora do crime de participação em suicídio 
ou automutilação (art. 122, § 1o, do CP); ausente qualquer circunstância que qualifica a lesão corporal, o 
crime será de participação em suicídio ou automutilação, na sua modalidade simples (art. 122, caput). 
Nos termos do art. 122, § 2o, do CP, se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta 
morte, a pena será de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
Se o agente, de forma dolosa, induzir, instigar ou auxiliar a vítima a eliminar a sua própria vida, o 
que efetivamente vem a ocorrer, responderá pelo crime de participação em suicídio na sua forma qualifi-
cada. 
O crime de participação em automutilação com resultado morte necessariamente é preterdoloso. 
Isso porque estará presente o dolo na conduta de induzir, instigar ou auxiliar a automutilação, ao passo que 
o resultado morte decorre de culpa. Se o agente desejasse ou assumisse o risco em relação ao resultado 
morte, o crime seria de participação em suicídio e não em automutilação. 
 
10.2.4. Causas de aumento de pena 
O art. 122, §§§ 3o, 4o e 5o, do CP prevê circunstâncias que elevam a pena do crime de participação 
em suicídio. A pena será duplicada se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil, ou se a vítima 
é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência (art. 122, § 3o, I e II). A pena é 
aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou 
transmitida em tempo real (art. 122, § 4o). Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
73 
coordenador de grupo ou de rede virtual (art. 122, § 5o). 
 
10.2.5. Vítima menor de 14 anos ou contra quem não tem discernimento para a 
prática do ato 
Nos termos do art. 122, § 6o, do CP: “Se o crime de que trata o § 1o deste artigo resulta em lesão 
corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por 
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por 
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2o do art. 
129 desteCódigo”. 
Logo, se a vítima for menor de 14 anos de idade, e se resultar lesão corporal gravíssima, o agente 
responderá pelo crime descrito no art. 129, § 2o, do CP (art. 122, § 6o, in fine, do CP). 
Também responderá pelo crime de lesão corporal gravíssima se a vítima for acometida de enfer-
midade ou deficiência mental, e, por essa razão, não tem o necessário discernimento para a prática do ato. 
Não basta, pois, que a vítima seja portadora de enfermidade ou deficiência mental, sendo necessário que, 
em razão disso, não tenha qualquer discernimento para o ato. 
Se a enfermidade ou deficiência mental não tem a potencialidade de retirar a plena capacidade de 
discernimento da vítima, o agente responderá pelo crime de participação em automutilação, se resultar 
lesão grave ou gravíssima, nos termos do art. 122, § 1o, do CP. 
O art. 122, § 6o, faz expressa remissão somente ao art. 129, § 2o, do CP. Nesse contexto, se da 
tentativa de suicídio ou da automutilação resultar lesão corporal grave em vítima menor de 14 anos de 
idade, portadora de enfermidade ou deficiência mental sem o necessário discernimento ou sem qualquer 
capacidade de resistência, forçoso concluir que o agente responderá pelo crime de induzimento, instigação 
ou auxílio ao suicídio ou automutilação qualificado, com a pena aumentada em dobro (art. 122, §§ 1o e 3o, 
II, do CP). 
Conforme o art. 122, § 7o, do CP, se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte, 
e o crime tiver sido praticado contra vítima menor de 14 anos ou contra quem não tem o necessário discer-
nimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde 
o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 do CP. 
 
 10.3. Infanticídio (art. 123 do CP) 
10.3.1. Conceito 
Trata-se de homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-nascido, sob a in-
fluência do estado puerperal. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
74 
Estado puerperal é o estado que envolve a mulher durante o parto. Há profundas alterações psí-
quicas e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que 
está fazendo. 
 
10.3.2. Sujeitos do delito 
A autora do infanticídio só pode ser a mãe. Cuida-se de crime próprio, uma vez que não pode ser 
cometido por qualquer autor. 
O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo. Entretanto, isso não impede que terceiro 
responda por infanticídio diante do concurso de agentes. 
Sujeito passivo é o neonato ou nascente, de acordo com a ocasião da prática do fato: durante o 
parto ou logo após. 
Antes do parto, o sujeito passivo será o feto, caracterizando, portanto, o delito de aborto. 
Segundo boa parte da doutrina, estando a mulher sob influência do estado puerperal, responde 
ela por infanticídio, delito que também será atribuído aos eventuais concorrentes do fato, uma vez que se 
trata de circunstância de caráter pessoal que constitui elementar do crime. Logo, comunica-se aos coauto-
res ou partícipes, nos termos do art. 30 do CP. 
 
10.4. Aborto (arts. 124 a 128 do CP) 
10.4.1. Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124) 
Trata-se de crime de mão própria, pois somente a gestante pode realizá-lo; contudo, isso não 
afasta a possibilidade de participação no crime em questão. 
Na primeira figura, é a própria mulher quem executa a ação material do crime, ou seja, ela própria 
emprega os meios ou manobras abortivas em si mesma. Se um terceiro executar ato de provocação do 
aborto, não será partícipe do crime do art. 124 do CP, mas, sim, autor do fato descrito no art. 126 (provo-
cação do aborto com consentimento da gestante). 
Na segunda figura, a mulher apenas consente na prática abortiva, mas a execução material do 
crime é realizada por terceira pessoa. Em tese, a gestante e o terceiro deveriam responder pelo delito do 
art. 124. Contudo, o Código Penal prevê uma modalidade especial de crime para aquele que provoca o 
aborto com o consentimento da gestante (art. 126). 
 
10.4.2. Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125 
do CP) 
Trata-se de forma mais gravosa do delito de aborto. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
75 
Ao contrário da figura típica do art. 126, não há o consentimento da gestante no emprego dos 
meios ou manobras abortivas por terceiro. Aliás, a ausência de consentimento constitui elementar do tipo 
penal. 
As formas de dissentimento estão retratadas no parágrafo único do art. 126: 
a) dissentimento presumido: é necessário que a gestante tenha capacidade para consentir, não se 
tratando de capacidade civil. Para o Código Penal, quando a vítima não é maior de 14 anos ou é alienada 
mental, não possui consentimento válido, levando à consideração de que o aborto se deu contra a sua 
vontade; 
b) dissentimento real: quando o agente emprega violência, grave ameaça ou mesmo fraude, é 
natural supor que extraiu o consentimento da vítima à força, de modo que o aborto necessita se encaixar 
na figura do art. 125. 
 
10.4.3. Aborto consensual (art. 126) 
Para que se caracterize a figura do aborto consentido (art. 126), é necessário que o consentimento 
da gestante seja válido, isto é, que ela tenha capacidade para consentir. Ausente essa capacidade, o delito 
poderá ser outro (art. 125). 
Trata-se de uma exceção à teoria monista. O legislador, para punir mais severamente o terceiro 
que provoca o aborto, criou o art. 126, aplicando a teoria pluralista do concurso de pessoas. 
 
10.4.4. Aborto legal (art. 128) 
a) Aborto necessário ou terapêutico 
É a interrupção da gravidez realizada pelo médico quando a gestante estiver correndo perigo de 
vida e inexistir outro meio para salvá-lo. 
A excludente da ilicitude em estudo do crime de aborto somente abrange a conduta do médico. 
Não obstante isso, a enfermeira, ou parteira, não responderá pelo delito em questão se praticar o abor to 
por força do art. 24 do CP (estado de necessidade, no caso, de terceiro). 
b) Aborto humanitário, sentimental ou piedoso 
O aborto humanitário, também denominado ético ou sentimental, é autorizado quando a gravidez 
é consequência do crime de estupro e a gestante consente na sua realização. A lei não exige autorização 
judicial, processo judicial ou sentença condenatória contra o autor do crime de estupro para a prática do 
aborto sentimental. Basta prova idônea do atentado sexual. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
76 
11. Lesão Corporal (art. 129 do CP) 
11.1. Lesão corporal leve ou simples (art. 129, caput) 
A definição de lesão corporal leve é formulada por exclusão, ou seja, configura-se quando não 
ocorre nenhum dos resultados previstos nos §§ 1o, 2o e 3o do art. 129. 
 
11.2. Lesão corporal grave (art. 129, § 1o) 
A lesão corporal de natureza grave (ou mesmo a gravíssima) é uma ofensa à integridade física ou 
à saúde da pessoa humana, considerada muito mais séria e importante do que a lesão simples ou leve. 
a) Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias 
Deve-se compreender como tal toda e qualquer atividade regularmente desempenhada pela ví-
tima, e não apenas a sua ocupação laborativa, enquadrando-se, inclusive, as atividades de lazer. 
b) Perigo de vida 
É a concreta possibilidade de a vítima morrer em face das lesões sofridas. 
A doutrina e a jurisprudência majoritária consideram que, neste caso, somente pode haver dolo na 
conduta antecedente (lesão corporal) e culpa no tocante ao resultado mais grave (perigo de vida), pois, 
havendo dolo em ambas as fases, haverá tentativa de homicídio. 
Portanto, o tipo só admite o preterdolo, uma vez que, se houver dolo quanto ao perigo de vida, o 
agente responderá por tentativa de homicídio. 
c) Debilidade permanente de membro, sentido ou função 
Não se exige que seja uma debilidade perpétua, bastando que tenha longa duração. 
Ex.: perda de um dos dedos(membro); perda da visão de um dos olhos (sentido); perda de um 
dos rins é debilidade permanente e não perda de função, pois se trata de órgão duplo. 
d) Aceleração de parto 
Significa antecipar o nascimento da criança antes do prazo normal previsto pela medicina. Nesse 
caso, é indispensável o conhecimento da gravidez pelo agente. 
Se, em virtude da lesão corporal praticada contra a mãe, a criança nascer morta, terá havido lesão 
corporal gravíssima (art. 129, § 2o, V, do CP). 
 
11.3. Lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2o) 
Todas as circunstâncias qualificadoras elencadas neste parágrafo são tanto dolosas quanto pre-
terdolosas, com exceção da circunstância contida no inciso V (aborto), que é necessariamente preterdolosa. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
77 
a) Incapacidade permanente para o trabalho 
Trata-se de inaptidão duradoura para exercer qualquer atividade laborativa lícita. A permanência 
não significa perpetuidade. 
Nesse contexto, diferentemente da incapacidade para as ocupações habituais, exige-se atividade 
remunerada, que implique sustento, portanto, acarrete prejuízo financeiro para o ofendido. 
b) Enfermidade incurável 
É a doença irremediável, de acordo com os recursos da medicina na época do resultado, causada 
na vítima. 
c) Perda ou inutilização do membro, sentido ou função 
Perda implica destruição ou privação de algum membro (ex.: corte de um braço), sentido (ex.: 
aniquilamento dos olhos) ou função (ex.: ablação da bolsa escrotal, impedindo a função reprodutora). 
No tocante a órgãos duplos, ter-se-á a perda quando houver a supressão de ambos, por exemplo, 
cegueira ou surdez total. Nessa hipótese, há a perda total da visão ou audição. Quando se der a supressão 
de apenas um órgão, estaremos diante da hipótese de debilidade (art. 129, § 1o, III, do CP), pois a função 
não foi totalmente abolida, por exemplo, surdez em apenas um dos ouvidos. 
d) Deformidade permanente 
Deformidade é o dano estético de certa monta. Permanente é a deformidade indelével, irreparável. 
Entende-se por irreparável a deformidade que não é passível de ser corrigida pelo transcurso do tempo. 
Ex.: perda de orelhas, mutilação grave do nariz, entre outros. 
e) Aborto 
Nesta hipótese, o agente, ao lesionar a vítima, não quer nem mesmo assumir o risco do advento 
do resultado agravador aborto. 
Portanto, para que possa se caracterizar a qualificadora da lesão corporal gravíssima, não pode 
ter sido objeto de dolo do agente, pois, nesse caso, terá de responder pelos dois crimes, lesão corporal e 
aborto, em concurso formal impróprio, ou, ainda, por aborto qualificado, se a lesão em si mesma for grave. 
 
11.4. Lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o) 
O evento morte não deve ser desejado, nem ter o agente assumido o risco de causá-lo, sob pena 
de responder pelo crime de homicídio. Em outras palavras, trata-se de típico crime preterdoloso, em que o 
agente desenvolve conduta com dolo em relação a determinado resultado, mas, por culpa, acaba produ-
zindo resultado mais grave. 
No caso, o agente age com dolo em relação à lesão corporal, mas acaba produzindo, involuntari-
amente, a morte da vítima. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
78 
A tentativa é inadmissível, pois o crime preterdoloso envolve a forma culposa e esta é totalmente 
incompatível com a figura da tentativa. 
 
11.5. Violência doméstica (art. 129, § 9o) 
Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com 
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabi-
tação ou de hospitalidade, a pena será de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
Diversamente do que possa parecer, a qualificadora prevista no art. 129, § 9o, do CP não se limita 
a alcançar apenas vítima mulher, incidindo ainda que a vítima seja homem, por exemplo, a agressão prati-
cada pelo agente contra o irmão. 
O art. 129, § 9o, do CP incide se a lesão corporal for de natureza leve. Se for grave, gravíssima ou 
seguida de morte, incidirá, ainda, causa de aumento de pena em 1/3, nos termos do art. 129, § 10. 
 
11.6. Lesão corporal contra a agente de segurança pública (art. 129, § 12, do 
CP) 
Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF/1988, in-
tegrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em 
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão 
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. 
Trata-se de crime hediondo, conforme se extrai do art. 1o, I-A, da Lei no 8.072/1990. 
 
11.7. Lesão corporal no contexto de violência doméstica e familiar contra a 
mulher (art. 129, §13, do CP) 
Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do 
§2o-A do art. 121 do CP, a pena será de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
12. Crimes contra a honra 
12.1. Calúnia (art. 138 do CP) 
Calúnia é o fato de atribuir a outrem, falsamente, a prática de fato definido como crime. O Código 
Penal tutela a honra objetiva (reputação). 
A lei exige, expressamente, que o fato atribuído seja definido como crime. O fato criminoso deve 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
79 
ser determinado, ou seja, um caso concreto. É fundamental, para a existência de calúnia, que a imputação 
de fato definido como crime seja falsa. Se o fato for verdadeiro, não há que se falar em crime de calúnia. 
O momento consumativo da calúnia ocorre no instante em que a imputação chega ao conheci-
mento de um terceiro que não a vítima. 
A calúnia verbal não admite a figura da tentativa. Ou o sujeito diz a imputação, e o fato está con-
sumado, ou não diz, e não há conduta relevante para o Direito Penal. 
Já a calúnia escrita admite a tentativa. Ex.: o sujeito remete uma carta caluniosa e ela se extravia. 
O crime não atinge a consumação, por intermédio do conhecimento do destinatário, por circunstâncias 
alheias à vontade do sujeito. 
 
12.2. Difamação (art. 139 do CP) 
Difamar significa desacreditar publicamente uma pessoa, ofendendo sua reputação. 
O legislador protege a honra objetiva (reputação). A exemplo do crime de calúnia, o bem jurídico 
protegido é a honra, isto é, a reputação do indivíduo, a sua boa fama, o conceito que a sociedade lhe atribui. 
Dizer que uma pessoa é caloteira configura uma injúria, ao passo que espalhar o fato de que ela 
não pagou aos credores “A”, “B” e “C”, quando as dívidas X, Y e Z venceram, configura a difamação. 
Considerando que não se enquadra no tipo penal que define a calúnia, já que exige imputação 
falsa de fato definido como crime, se o agente imputar falsamente fato definido como contravenção, res-
ponderá pelo crime de difamação. 
A difamação atinge o momento consumativo quando um terceiro, que não o ofendido, toma conhe-
cimento da imputação ofensiva à reputação. 
Quanto à tentativa, é inadmissível, quando se trata de fato cometido por intermédio da palavra oral. 
Tratando-se, entretanto, de difamação praticada por meio escrito, é admissível. 
 
12.3. Injúria (art. 140 do CP) 
Injúria é a ofensa à dignidade ou ao decoro de outrem. 
Ao contrário dos delitos de calúnia e difamação, que tutelam a honra objetiva, o bem protegido por 
essa norma penal é a honra subjetiva, que é constituída pelo sentimento próprio de cada pessoa acerca de 
seus atributos morais (chamados de honra-dignidade), intelectuais e físicos (chamados de honra-decoro). 
Trata-se de crime formal. O crime consuma-se quando o sujeito passivo toma ciência da imputação 
ofensiva, independentemente de o ofendido sentir-se ou não atingido em sua honra subjetiva, sendo sufici-
ente, tão só, que o ato seja revestido de idoneidade ofensiva. 
A injúria, quando cometida por escrito, admite a tentativa; quandopor meio verbal, não. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
80 
Nos termos do artigo 140, parágrafo 2 do CP se a injúria consiste em violência ou vias de fato, 
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes haverá a injúria real com pena de 
detenção de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
Por sua vez, nos termos do artigo 140, parágrafo 3º CP (já com a redação atualizada pela lei 14532 
de 2023) se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à condição de pessoa 
idosa ou com deficiência haverá a injúria qualificada com pena de reclusão, de 1 a 3 anos e multa. 
Quando o agente se dirige a uma pessoa de determinada raça, insultando-a com argumentos ou 
palavras de conteúdo pejorativo, responderá por injúria racial, nos termos do artigo 2º A da lei 7716 de 
1989, com pena de reclusão de 2 a 5 anos e multanão podendo alegar que houve uma injúria simples, 
tampouco uma mera exposição do pensamento (como dizer que todo “judeu é corrupto” ou que “negros são 
desonestos”), uma vez que não há limite para tal liberdade. 
Assim, quem simplesmente dirigir a terceiro palavras referentes à “raça”, “cor”, “etnia” ou “proce-
dência nacional”, com o intuito de ofender, responderá por injúria racial nos termos do dispositivo legal 
citado. Ademais, vale destacar que, nos termos do parágrafo único do artigo 2ºA da Lei 7716 de 1989 a 
pena será aumentada de metade se o crime for praticado mediante o concurso de duas ou mais pessoas 
 
12.4. Ação penal 
Conforme se extrai do art. 145 do CP, nos crimes contra a honra, a regra é a de ação penal privada 
da vítima ou do seu representante legal. Todavia, resultando lesão física na vítima (injúria real com lesão 
corporal), apura-se o crime mediante ação penal pública incondicionada. No entanto, com o advento da Lei 
no 9.099/1995, alguns autores entendem que se trata de ação penal pública condicionada à representação, 
já que é a prevista para os crimes de lesão corporal leve. 
Será penal pública condicionada à representação no caso de o delito ser cometido contra funcio-
nário público, no exercício das funções (art. 141, II), e condicionada à requisição do Ministro da Justiça no 
caso do inciso I do art. 141 (contra o Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro). 
Convém ressaltar a Súm. no 714 do STF: 
 
É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, con-
dicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de 
servidor público em razão do exercício de suas funções. 
 
Além das causas de aumento de pena já previstas no art. 141 do CP, o legislador acrescentou, por 
meio da Lei no 14.344/2022, mais uma majorante, aumentando-se de um terço, se qualquer dos crimes 
contra a honra forem praticados contra criança, adolescente, pessoa maior de 60 anos ou pessoa com 
deficiência (inciso IV), exceto na hipótese prevista no § 3o do art. 140 deste Código. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
81 
Por último, vale destacar que a injúria qualificada do parágrafo 3º do artigo 140 será de ação penal 
pública condicionada à representação enquanto a injúria racial (art. 2ºA da lei 7716 de 1989) será de ação 
penal pública incondicionada. 
13. Crimes Contra o Patrimônio 
13.1. Furto (art. 155 do CP) 
13.1.1. Conceito 
O crime de furto consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar de outrem bem mó-
vel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. A subtração implica sempre a retirada 
do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário. 
É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel, submetendo-a ao 
seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. Assim, se ele o subtrai apenas para uso tran-
sitório e depois o devolve no mesmo estado, não haverá a configuração do tipo penal. Cuida-se, na hipó-
tese, de mero furto de uso, que não constitui crime, pela ausência do ânimo de assenhoramento definitivo 
do bem. 
 
13.1.2. Consumação e tentativa 
O furto atinge a consumação no momento em que o objeto material é retirado da esfera de posse 
e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na livre disponibilidade do autor, ainda que este não ob-
tenha a posse tranquila. A subtração opera-se no exato instante em que o possuidor perde o poder e o 
controle sobre a coisa, tendo de retomá-la porque já não está mais consigo. 
Pode-se usar, por analogia, o teor da Súm. no 582 do STJ, relativa ao roubo: consuma-se o crime 
de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por 
breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo pres-
cindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. 
A tentativa é admissível. Ocorre sempre que o sujeito ativo não consegue, por circunstâncias 
alheias à sua vontade, retirar o objeto material da esfera de proteção e vigilância da vítima, submetendo-a 
à sua própria disponibilidade. 
 
13.1.3. Furto noturno (art. 155, § 1o, do CP) 
A causa de aumento de pena do repouso noturno só é aplicável ao furto simples, previsto no caput 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
82 
do art. 155, tendo em vista a sua posição sistemática na construção do tipo penal. Não se aplica, portanto, 
ao furto qualificado do § 4o. 
 
13.1.4. Furto privilegiado (art. 155, § 2o, do CP) 
A corrente majoritária sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia equiva-
lente a um salário mínimo vigente à época do fato. 
 
13.1.5. Furto qualificado (art. 155, § 4o, do CP) 
13.1.5.1. Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa 
É necessário que o sujeito pratique violência contra “obstáculo” à subtração do objeto material. A 
violência contra a coisa subtraída não qualifica o furto. 
 
13.1.5.2. Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza 
a) Abuso de confiança 
É a confiança que decorre de certas relações (que pode ser a empregatícia, a decorrente de amizade 
ou parentesco) estabelecidas entre o agente e o proprietário do objeto. O agente, dessa forma, aproveita-se 
da confiança nele depositada para praticar o furto, pois há menor vigilância do proprietário sobre os seus 
bens. 
b) Mediante fraude 
É o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente para diminuir, iludir a vigilância da vítima 
e realizar a subtração. São exemplos de fraude: agente que se disfarça de empregado de empresa telefô-
nica e logra entrar em residência alheia para furtar, ou agente que, a pretexto de realizar compras em uma 
loja, distrai a vendedora, de modo a lograr apoderar-se dos objetos. 
c) Mediante escalada 
Escalada, que em direito penal tem sentido próprio, é a penetração no local do furto por meio 
anormal, artificial ou impróprio, que demanda esforço incomum. Escalada não implica, necessariamente, 
subida, pois tanto é escalada galgar alturas quanto saltar fossos, rampas ou mesmo subterrâneos, desde 
que o faça para vencer obstáculos. 
d) Mediante destreza 
Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite o apoderamento do bem sem 
que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal ocorre com a subtração de objetos que se encontrem junto 
à vítima, por exemplo, carteira, dinheiro no bolso ou na bolsa, colar etc., que são retirados sem que ela 
note. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
83 
Importa dizer que se a vítima perceber a subtração no momento em que ela se realiza, considera-
se o furto tentado na forma simples, pois não há que se falar no caso em destreza do agente (ex.: a vítima 
sente a mão do agente em seu bolso). 
 
13.1.5.3. Com emprego de chave falsa 
Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fechaduras, tendo ou não 
formato de chave. Ex.: grampo, alfinete, prego, fenda, gazua etc. 
 
13.1.5.4. Medianteconcurso de duas ou mais pessoas 
13.1.5.5. Furto de veículo automotor (art. 155, § 5o, do CP) 
Esta qualificadora diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor. Consideram-
se como tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, jet-skis. Para caracterizar 
essa qualificadora, afigura-se necessário que o veículo seja efetivamente transportado para outro Estado 
ou exterior. Se não ultrapassar a fronteira do Estado ou do País, essa qualificadora não incide, sendo o 
crime de furto simples, salvo se presente outra qualificadora. 
 
13.1.5.6. Emprego de explosivo que cause perigo comum 
A Lei no 13.654/2018 acrescentou o § 4o-A do art. 155 do CP prevendo outra QUALIFICADORA 
para o crime de furto, quando praticado com emprego de explosivo ou de artefato análogo que causa perigo 
comum. 
A partir da edição do Pacote Anticrime (Lei no 13.964/2019), o crime de furto com emprego de 
explosivo ou de artefato análogo que causa perigo comum passou a ser considerado hediondo (art. 1o, IX, 
da Lei no 8.072/1990). 
 
13.1.5.7. Utilização de substâncias explosivas 
A Lei no 13.654/2018 acrescentou também o § 7o do art. 155 do CP prevendo outra QUALIFICA-
DORA para o crime de furto, segundo o qual a pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa se 
a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem 
sua fabricação, montagem ou emprego. 
 
13.1.5.8. Alterações promovidas pela Lei no 14.155/2021 
Cumpre ressaltar que a Lei no 14.155/2021, que entrou em vigor em 27-5-2021, acrescentou os 
§§ 4o-B e 4o-C ao art. 155 do CP: 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
84 
§ 4o-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante 
fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à 
rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização 
de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei 
no 14.155/2021) 
§ 4o-C. A pena prevista no § 4o-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gra-
voso: (Incluído pela Lei no 14.155/2021) 
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a 
utilização de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei no 14.155/2021) 
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulne-
rável. (Incluído pela Lei no 14.155/2021) 
 
 
13.2. Roubo (art. 157 do CP) 
13.2.1. Conduta típica 
A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar, de outrem, no 
caso bem móvel. Agora, contudo, estamos diante de um crime mais grave que o furto, na medida em que 
a subtração é realizada mediante o emprego de grave ameaça ou violência contra a pessoa, ou por qualquer 
outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima. Esta última hipótese constitui violência im-
própria, consistente em outro meio que não constitua violência física ou grave ameaça, por exemplo, fazer 
a vítima ingerir bebida alcoólica, narcóticos, soníferos ou hipnotizá-la. 
 
13.2.2. Roubo próprio e roubo impróprio 
No roubo próprio, a violência ou a grave ameaça (ou a redução da impossibilidade de defesa) são 
praticadas contra a pessoa para a subtração da coisa. Os meios violentos são empregados antes ou durante 
a execução da subtração. 
O roubo impróprio ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência 
contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para 
ele ou para terceiro (art. 157, § 1o, do CP). 
São exemplos típicos de roubo impróprio aquele em que o sujeito ativo, já se retirando do portão 
com a res furtiva, alcançado pela vítima, abate-a (assegurando a detenção), ou, então, já na rua, constata 
que deixou um documento no local, que o identificará, e, retornando para apanhá-lo, agride o morador que 
o estava apanhando (garantindo a impunidade). 
 
13.2.3. Consumação e tentativa 
Nos termos da Súm. no 582 do STJ, “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do 
bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à persegui-
ção imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou 
desvigiada”. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
85 
13.2.4. Causas especiais de aumento de pena: roubo majorado (circunstanciado) 
(art. 157, § 2o) 
a) Se há o concurso de duas ou mais pessoas 
Pode haver concurso material entre roubo majorado e quadrilha armada, pois os bens jurídicos 
são diversos. Enquanto o tipo penal de roubo protege o patrimônio, o tipo da quadrilha ou bando guarnece 
a paz pública. 
b) Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância 
A pena é agravada se a vítima, por dever de ofício (caixeiro viajante, empresa de segurança es-
pecialmente contratada para o transporte de valores), realiza serviço de transporte de valores (dinheiro, joia 
etc.). 
c) Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado 
ou para o exterior 
Assim como no furto, esta majorante diz respeito, especificamente, à subtração de veículo auto-
motor. Consideram-se como tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, jet-
skis. 
d) Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade 
Ocorre quando o agente restringe a liberdade da vítima por tempo superior ao necessário ou va-
lendo-se de forma anormal para garantir a subtração planejada. Ex.: subjugando a vítima, o agente, preten-
dendo levar-lhe o veículo, manda que entre no porta-malas, rodando algum tempo pela cidade, até permitir 
que seja libertada ou o carro seja abandonado. 
Trata-se de crime hediondo (art. 1o, II, a, da Lei no 8.072/1990, com a redação dada pela Lei no 
13.964/2019). 
e) Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca 
Essa qualificadora foi introduzida pela Lei no 13.964/2019, e só terá incidência para fatos pratica-
dos a partir da sua vigência, ou seja, fatos praticados a partir do dia 23-1-2020. 
Arma branca é aquela em que o instrumento ou objeto é dotado de ponta ou gume, apto a matar 
ou ferir uma pessoa, por exemplo, punhal e espada. 
f) Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isolada-
mente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego 
 
13.2.5 Roubo com emprego de arma de fogo (art. 157, § 2o-A, do CP) 
Importante alteração trazida pela Lei no 13.654/2018, na qual o roubo “com emprego de arma” 
deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no art. 157, § 2o. Já o roubo com emprego de arma 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
86 
de fogo continua sendo punido como roubo circunstanciado no art. 157, § 2o-A, I, do CP. 
Ou seja, o emprego de arma branca majora o crime de roubo de 1/3 até a metade, ao passo que 
o emprego de arma de fogo majora o crime de roubo em 2/3. 
A arma de brinquedo não serve para majorar a pena, uma vez que não causa à vítima maior po-
tencialidade lesiva. Pode, no entanto, gerar grave ameaça e, justamente por isso, servir para configurar o 
tipo penal do roubo, na figura simples. 
Trata-se de crime hediondo (art. 1o, II, b, da Lei no 8.072/1990, com a redação dada pela Lei no 
13.964/2019). 
 
13.2.6 Roubo com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo 
comum 
Para caracterizar essa qualificadora, deve restar demonstrada a capacidade de o artefato causar 
perigo comum, apto a causar risco a um número indeterminado de pessoas. 
Curiosamente, o legislador considerou hediondo o crime de furto qualificado pelo emprego de ex-
plosivo ou artefato análogo, mas não considera hediondo o crime de roubo com emprego de explosivo ou 
de artefatoanálogo que cause perigo comum. Como, à evidência, não existe analogia in malam partem no 
Direito Penal, essa omissão do legislador significa que não será possível considerar esse tipo de roubo 
como hediondo. 
 
13.2.7 Roubo qualificado pelo resultado (art. 157, § 3o, do CP) 
Prevalece o entendimento doutrinário, que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o 
resultado agravador poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual. 
a) Crime qualificado pelo resultado lesões graves 
É uma das hipóteses de delito qualificado pelo resultado, que se configura pela presença de dolo 
na conduta antecedente (roubo) e dolo ou culpa na conduta subsequente (lesões corporais graves). 
Trata-se de crime hediondo (art. 1o, II, c, da Lei no 8.072/1990, com a redação dada pela Lei no 
13.964/2019). 
b) Crime qualificado pelo resultado morte: LATROCÍNIO 
O crime de latrocínio ocorre quando do emprego da violência física contra a pessoa com o fim de 
subtrair o bem, ou para assegurar a sua posse ou a impunidade do crime, decorre a morte da vítima. Tra-
tando-se de crime qualificado pelo resultado, a morte da vítima ou de terceiro tanto pode resultar de dolo (o 
assaltante atira na cabeça da vítima e a mata) quanto de culpa (o agente desfere um golpe contra o rosto 
do ofendido para feri-lo, vindo, no entanto, a matá-lo). 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
87 
Trata-se de crime hediondo (art. 1o, II, c, da Lei no 8.072/1990, com a redação dada pela Lei no 
13.964/2019). 
Súm. no 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que 
não realize o agente a subtração de bens da vítima. 
Súm. no 603 do STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz 
singular e não do Tribunal do Júri. 
 
13.3. Extorsão (art. 158 do CP) 
13.3.1. Conduta típica 
Extorsão é o fato de o sujeito constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o 
intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar 
de fazer alguma coisa. 
A diferença em relação ao roubo concentra-se no fato de a extorsão exigir a participação ativa da 
vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude da ameaça ou da 
violência sofrida. 
A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo constranger, que significa coagir, compelir, for-
çar, obrigar alguém a fazer (ex.: quitar uma dívida não paga), tolerar que se faça (ex.: permitir que rasgue 
um contrato) ou deixar de fazer alguma coisa (ex.: obrigar a vítima a não propor ação judicial contra o 
agente). 
O constrangimento pode ser exercido mediante o emprego de violência ou grave ameaça, os quais 
podem atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa ligada a ele (filhos, pai, mãe etc.). 
 
13.3.2. Consumação e tentativa 
A extorsão atinge a consumação com a conduta típica imediatamente anterior à produção do re-
sultado visado pelo sujeito. 
Para a consumação, portanto, o agente deve atingir o segundo estágio, isto é, a consumação 
ocorre quando a vítima cede ao constrangimento imposto e faz ou deixa de fazer algo. Esse é o entendi-
mento que prevalece na doutrina. Nesse sentido, a Súm. no 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se 
independentemente da obtenção da vantagem indevida”. 
A tentativa é admissível. Ocorre quando o sujeito passivo, não obstante constrangido pelo autor 
por meio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou negativa pretendida, por circunstân-
cias alheias à sua vontade. 
 
13.3.3. Extorsão qualificada (art. 158, §§ 2o e 3o) 
As duas hipóteses (lesão corporal grave ou morte) elencadas, como no roubo, caracterizam 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
88 
condições de exasperação da punibilidade em razão da maior gravidade do resultado. 
Inusitadamente, o legislador deixou de considerar hediondo o crime de extorsão quali ficada pelo 
resultado morte, ao dar nova redação ao art. 1o, III, da Lei no 8.072/1990, que passou a prever como crime 
hediondo somente a extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal 
ou morte (art. 158, § 3o). 
 
13.3.4. Extorsão qualificada pela privação da liberdade (art. 158, § 3o) 
Trata-se da hipótese em que a privação da liberdade da vítima é condição indispensável para 
obtenção da vantagem indevida. É o chamado sequestro-relâmpago. 
Ex.: ladrão constrange a vítima a entregar-lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a senha, acom-
panhando-a até caixas eletrônicos de bancos para sacar dinheiro. Nesse caso, ocorre o crime de extorsão 
qualificada, uma vez que é imprescindível a atuação do sujeito passivo do ataque patrimonial para a obten-
ção da vantagem indevida por parte do autor. Difere do roubo majorado pela restrição da liberdade da 
vítima, porque, neste caso, a restrição da liberdade é irrelevante para obtenção da vantagem indevida. 
Imaginemos o agente subtrair objetos da vítima, prendendo-a no banheiro. Trata-se de roubo majorado pela 
restrição da liberdade da vítima, pois trancá-la no banheiro não é condição indispensável para a subtração. 
A extorsão qualificada pela privação da liberdade da vítima com resultado lesão grave ou morte 
passou a ser considerada crime hediondo (art. 1o, III, da Lei no 8.072/1990). 
 
13.4. Extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP) 
13.4.1. Conduta típica 
O crime consubstancia-se no verbo sequestrar, que significa privar a vítima de sua liberdade de 
locomoção, ainda que por breve espaço de tempo. 
Exige a presença de um elemento subjetivo específico, consistente na finalidade de obtenção, para 
si ou para outrem, de qualquer vantagem como condição ou preço de resgate. 
É crime hediondo. 
 
13.4.2. Consumação 
A consumação ocorre com a privação de liberdade de locomoção da vítima, exigindo-se tempo 
juridicamente relevante. 
Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Assim, enquanto a vítima 
estiver submetida à privação de sua liberdade de locomoção, o crime estará em fase de consumação. 
Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de sequestrar pessoa, tendo a finalidade 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
89 
de obter vantagem. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o delito está consumado 
quando a liberdade da vítima é cerceada. 
 
13.4.3. Formas qualificadas (art. 159, § 1o, do CP) 
São formas qualificadas: 
a) sequestro por mais de 24 horas; 
b) sequestro de menor de 18 ou maior de 60 anos; 
c) sequestro praticado por bando ou quadrilha. 
É possível responsabilizar-se o agente pelo crime autônomo de associação criminosa (art. 288) em 
concurso material com a forma qualificada em estudo. Não há falar em bis in idem, uma vez que os momentos 
consumativos e a objetividade jurídica entre tais crimes são totalmente diversos, além do que a figura prevista 
no art. 288 do CP existe independentemente de algum crime vir a ser praticado pela quadrilha ou bando. 
 
13.4.4. Extorsão mediante sequestro qualificada pelo resultado: lesão grave ou 
morte (art. 159, §§ 2o e 3o, do CP) 
A regra, repetindo, é que, nesses crimes, o resultado agravador seja sempre produto de culpa. 
Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o entendimento dou-
trinário que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado agravador poder decorrer tanto 
de culpa quanto de dolo, direto ou eventual: 
a) se resulta em lesão corporal grave; 
b) se resulta em morte. 
 
13.4.5. Delação premiada (art. 159, § 4o, do CP) 
A Lei no 8.072/1990, que instituiu os crimes hediondos, houve por bem criar, no Brasil, a delação 
premiada, que significa a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar o(s) comparsa(s) a 
qualquer autoridade capaz de levar o caso à solução almejada, causando a liberação da vítima (delegado, 
juiz, promotor, entreoutros). 
 
13.5. Dano (art. 163 do CP) 
13.5.1. Conduta típica 
Destruir quer dizer arruinar, extinguir ou eliminar. Inutilizar significa tornar inútil ou imprestável al-
guma coisa aos fins para os quais se destina. Deteriorar é a conduta de quem estraga ou corrompe alguma 
coisa parcialmente. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
90 
É o dolo. Não há a forma culposa, nem se exige qualquer elemento subjetivo do tipo específico 
(dolo específico). 
Basta a vontade de destruir, não sendo exigível o fim especial de causar prejuízo ao ofendido, pois 
a figura penal não faz referência expressa a nenhum elemento subjetivo do tipo. 
 
13.5.2. Dano qualificado (art. 163, par. ún., do CP) 
Há o dano qualificado se o crime for cometido: 
 
I – com violência à pessoa ou grave ameaça; 
II – com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais 
grave; 
III – contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de au-
tarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa 
concessionária de serviços públicos; 
IV – por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima. 
 
 
13.5.3. Ação penal (art. 167 do CP) 
De acordo com o art. 167, a ação penal privada é cabível no crime de dano simples (art. 163, caput, 
do CP) e dano qualificado pelo motivo egoístico ou prejuízo considerável. 
A ação penal pública incondicionada é cabível nas demais hipóteses. 
 
13.6. Apropriação indébita (art. 168 do CP) 
13.6.1. Conduta típica 
O núcleo do tipo é o verbo “apropriar-se”, que significa fazer sua a coisa alheia. Tendo o sujeito a 
posse ou a detenção do objeto material, em dado momento faz mudar o título da posse ou da detenção, 
comportando-se como se dono fosse. O pressuposto do crime de apropriação indébita é a anterior posse 
lícita da coisa alheia, da qual o agente se apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao crime, 
deve ser exercida pelo agente em nome alheio, isto é, em nome de outrem. 
A apropriação indébita propriamente dita ocorre quando o sujeito realiza ato demonstrativo de que 
inverteu o título da posse, como a venda, doação, consumo, penhor, ocultação etc. Na negativa de restitui-
ção, o sujeito afirma claramente ao ofendido que não devolverá o objeto material. 
O art. 168, § 1o, do CP prevê causas de aumento de pena, consistentes em ter recebido a coisa: 
a) em depósito necessário; b) na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamen-
teiro ou depositário judicial; c) em razão de ofício, emprego ou profissão. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
91 
13.7. Estelionato (art. 171 do CP) 
13.7.1. Conduta típica 
Consiste em induzir ou manter alguém em erro, mediante o emprego de artifício, ardil, ou qualquer 
meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita em prejuízo alheio. 
A característica primordial do estelionato é a fraude: engodo empregado pelo sujeito para induzir 
ou manter a vítima em erro, com o fim de obter um indevido proveito patrimonial. 
O meio de execução deve ser apto a enganar a vítima. Tratando-se de meio grotesco, que facil-
mente demonstra a intenção fraudulenta, não há nem tentativa, por atipicidade do fato. 
 
13.7.2. Consumação e tentativa 
Trata-se de crime material. Consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita indevida, em prejuízo 
alheio, ou seja, quando o agente aufere o proveito econômico, causando dano à vítima. Via de regra, esses 
resultados ocorrem simultaneamente. Há, assim, ao mesmo tempo, a obtenção de proveito pelo esteliona-
tário e o prejuízo da vítima. 
 
13.7.3. Fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, § 2o, VI, do CP) 
Se o indivíduo emite um cheque na certeza de que tem fundos disponíveis para o devido paga-
mento pelo banco, quando na realidade não há qualquer numerário depositado na agência bancária, não 
se pode falar em ilícito criminal, diante da ausência de má-fé. 
O que a lei penal pune é o pagamento fraudulento. Nesse sentido é o teor da Súm. no 246 do STF: 
“Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos”. 
Emitir cheque significa pôr em circulação o título de crédito; frustrar o pagamento quer dizer iludir 
ou enganar o credor, evitando a sua remuneração. 
a) Emitir cheque sem provisão de fundos 
O agente preenche, assina e coloca o cheque em circulação sem ter numerário suficiente na ins-
tituição bancária (banco sacado) para cobrir o valor quando da apresentação do título pelo tomador. No 
momento da emissão do cheque – que não significa simplesmente o seu preenchimento, mas a entrega a 
terceiro –, é preciso que o estabelecimento bancário, encarregado da compensação, já não possua fundo 
suficiente para cobrir o pagamento. 
b) Frustrar o pagamento de cheque 
Neste caso, o agente possui fundos suficientes na instituição bancária quando da emissão do che-
que, contudo, antes de o beneficiário apresentar o título ao banco, aquele retira todo o numerário depositado 
ou apresenta uma contraordem de pagamento. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
92 
c) Competência 
Conforme o art. 70, § 4o, do CPP, incluído pela Lei no 14.155/2021, nos crimes previstos no art. 
171 do CP, quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão 
de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a 
competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a com-
petência firmar-se-á pela prevenção. 
d) Reparação do dano 
Arrependendo-se o agente antes da apresentação do título pelo beneficiário no banco sacado, e 
depositando o numerário necessário para cobrir a quantia constante do cheque, haverá arrependimento 
eficaz, não respondendo ele por crime algum. 
Se, por outro lado, o agente arrepender-se somente após a consumação do crime, ou seja, após 
a recusa do pagamento pelo banco sacado, incidirá a Súm. no 554 do STF: “O pagamento de cheque emitido 
sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”. 
Assim, o pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia extingue a punibilidade do 
agente. 
 
13.7.4. Ação penal (art. 171, § 5o, do CP) 
A Lei no 13.964/2019, ao incluir o § 5o ao art. 171 do CP, passou a considerar que o crime de 
estelionato será, via de regra, de ação penal pública condicionada à representação. Logo, a vítima terá o 
prazo de 6 (seis) meses a contar da ciência da autoria do fato para manifestar sua vontade acerca da 
persecução penal, sob pena de, extrapolado esse prazo, ocorrer a extinção da punibilidade, com base no 
art. 107, IV, do CP. 
Excepcionalmente, será, no entanto, de ação penal pública incondicionada se o crime de estelio-
nato for praticado contra: a) a Administração Pública, direta ou indireta; b) criança ou adolescente; c) pessoa 
com deficiência mental; d) maior de 70 anos de idade ou incapaz. 
 
13.7.5. Alterações promovidas pela Lei no 14.155/2021 
Cumpre ressaltar que a Lei no 14.155/2021, que entrou em vigor em 27-5-2021, acrescentou os 
§§ 2o-A e 2o-B ao art. 171: 
 
§ 2o-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida 
com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por 
meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou 
por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei no 14.155/2021) 
§ 2o-B. A pena prevista no § 2o-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gra-
voso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a 
utilização de servidor mantido fora do território nacional. (Incluído pela Lei no 14.155/2021) 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
93 
13.8. Receptação (art. 180do CP) 
13.8.1. Conduta típica 
Nos termos do art. 180, caput, do CP, a receptação é o fato de adquirir, receber, transportar, con-
duzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que 
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. 
É pressuposto do crime de receptação a existência de crime anterior. Trata-se de delito acessório, 
em que o objeto material deve ser produto de crime antecedente, chamado de delito pressuposto. 
A receptação culposa constitui o fato de o sujeito adquirir ou receber coisa que, por sua natureza 
ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida 
por meio criminoso (art. 180, § 3o). 
 
13.8.2. Receptação qualificada (art. 180, § 1o, do CP) 
Forma qualificada: tem como elemento subjetivo o dolo, seja direto ou eventual. 
 
13.8.3. Receptação punível autonomamente (art. 180, § 4o, do CP) 
Para a concretização do crime de receptação não importa se houve a condenação do autor do 
crime anterior. Porém, é necessário evidenciar-se a existência do crime anterior. 
 
13.8.4. Perdão judicial (art. 180, § 5o, do CP) 
Nos termos do art. 180, § 5o, 1a parte, do CP, na hipótese da receptação culposa, se o criminoso 
é primário, deve o juiz, tendo em consideração determinadas circunstâncias, deixar de aplicar a pena. No 
caso, fixaram a doutrina e a jurisprudência que, além da primariedade, deve-se exigir o seguinte: a) diminuto 
valor da coisa objeto da receptação; b) bons antecedentes; c) ter o agente atuado com culpa levíssima. 
 
13.8.5. Tipo qualificado (art. 180, § 6o, do CP) 
Outra forma qualificada: quando o produto de crime pertencer à União, Estado, Município, empresa 
de serviços públicos ou sociedade de economia mista. Exige-se que o agente tenha conhecimento disso. 
 
13.9. Escusas absolutórias (arts. 181 a 183 do CP) 
13.9.1. Imunidade absoluta (art. 181) 
Trata-se da chamada imunidade penal absoluta, também conhecida como escusa absolutória, in-
cidente sobre os crimes contra o patrimônio, nas seguintes hipóteses: 
 
I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
94 
II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou 
natural. 
 
 
13.9.2. Imunidade relativa (art. 182, I, II e III, do CP) 
Consubstancia-se em imunidade penal relativa ou processual, que não extingue a punibilidade, 
mas tão somente impõe uma condição objetiva de procedibilidade. 
Neste caso, ao contrário da imunidade absoluta, o autor do crime não é isento de pena, mas os 
crimes de ação penal pública incondicionada passam a ser condicionados à representação do ofendido. 
 
13.9.3. Exclusão de imunidade ou privilégio (art. 183 do CP) 
Dá-se nas seguintes hipóteses: 
 
I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave 
ameaça ou violência à pessoa; 
II – ao estranho que participa do crime; 
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) 
anos. 
 
14. Crimes contra a Dignidade Sexual 
14.1. Estupro (art. 213 do CP) 
14.1.1. Conduta típica 
Constranger significa tolher a liberdade, forçar ou coagir. Nesse caso, o cerceamento destina-se a 
obter a conjunção carnal. Ato libidinoso é aquele destinado a satisfazer a lascívia, o apetite sexual do 
agente. Considerando que a conjunção carnal é a cópula vagínica, todos os demais atos que servem à 
satisfação do prazer sexual são considerados libidinosos, tais como o sexo oral ou anal, o toque em partes 
íntimas, a masturbação, o beijo lascivo, a introdução dos dedos na vagina. 
 
14.1.2. Sujeito ativo e passivo 
Antes da alteração introduzida no art. 213 do CP, o sujeito passivo do crime de estupro era apenas 
a mulher. Atualmente, o estupro poderá ter como sujeito passivo homens ou mulheres, quando constrangi-
dos à prática de atos libidinosos de qualquer natureza. 
Atinente ao sujeito ativo, por sua vez, este pode ser homem ou mulher, indistintamente. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
95 
 
14.1.3. Consumação e tentativa 
O delito consuma-se com a prática do ato de libidinagem (gênero que abrange conjunção carnal e 
vasta enumeração de atos libidinosos ofensivos à dignidade sexual da vítima), sendo perfeitamente possível 
a tentativa, quando, iniciada a execução, o ato sexual visado não se consuma por circunstâncias alheias à 
vontade do agente. 
Antes da Lei nova, se ocorresse conjunção carnal e atos libidinosos substanciais contra a mesma 
mulher, tínhamos estupro e atentado violento ao pudor. Discutia-se, apenas, se deveria incidir a continui-
dade delitiva ou se se tratava de concurso material de crimes. 
Agora, tendo o legislador unificado os tipos penais do estupro e do atentado violento ao pudor, 
passando a existir apenas o estupro e o estupro contra vulnerável, haverá crime único, se praticado no 
mesmo contexto fático. 
 
14.1.4. Formas qualificadas (art. 213, §§ 1o e 2o, do CP) 
Duas são as hipóteses: 1a) ocorrência de lesões graves (que abrangem as lesões gravíssimas) 
decorrentes da conduta do agente; 2a) vítima maior de 14 anos e menor de 18 anos na data do fato. 
Quanto às lesões graves (ou gravíssimas), devem ocorrer da conduta. Com isso, deixou claro o 
legislador que tais resultados devem decorrer da conduta, portanto, da violência ou grave ameaça empre-
gadas contra a vítima. 
O § 2o do art. 213, por sua vez, prevê o resultado qualificador morte, também decorrente da con-
duta. Neste particular, houve redução da pena máxima, que anteriormente era de 25 anos, passando para 
20 anos de reclusão. 
Em ambos os casos, os resultados lesões graves (ou gravíssimas) e morte devem ocorrer a título 
de culpa do agente. 
 
14.2. Violação sexual mediante fraude (art. 215 do CP) 
14.2.1. Conduta típica 
O crime do art. 215 do CP abarca a prática de conjunção carnal ou a prática de ato libidinoso 
diverso contra homens ou mulheres, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifes-
tação de vontade da vítima. 
Exemplo que se tem visto é a prática de simulações por médico no sentido de sugestionar estar 
examinando o(a) paciente para obter aludidos atos libidinosos, ou mesmo rituais de cura fraudulentamente 
praticados com o mesmo fim. 
Atentar para que não se configure a hipótese prevista no novel § 1o do art. 217-A, que prevê o 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
96 
tipo penal de estupro contra vulnerável, isto é, quando a vítima, além das demais hipóteses lá elencadas 
(vítima menor de 14 anos, pessoa que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiver o necessário 
discernimento para a prática do ato), por qualquer outra causa, não possa oferecer resistência. Se a 
vítima, por exemplo, estiver absolutamente embriagada, absolutamente narcotizada, dormindo, em esta-
dos de inconsciência, elevada senilidade, deficiência física que a incapacite de resistir etc., teremos es-
tupro contra vulnerável. 
O sujeito ativo e passivo da aludida infração penal pode ser homem e mulher, indistintamente. 
Trata-se, pois, de crime comum. No entanto, no caso de menor de 14 anos, o crime será o do art. 217-A do 
CP (estupro de vulnerável). 
 
14.2.2. Consumação e tentativa 
Tal como ocorre no estupro, consuma-se o delito com a prática do ato de libidinagem, sendo per-
feitamente possível a tentativa quando, iniciada a execução, o ato sexual visado não se consuma por cir-
cunstâncias alheias à vontade do agente. 
 
14.3. Importunação sexual (art. 215-A do CP) 
14.3.1. Conduta típica 
A conduta do agente consiste em praticar ato libidinoso, com o propósito de satisfazer sua lascívia 
ou a de terceiro. A partir da introdução do art. 215-A do CP, o art. 61 do Decreto-lei no 3.688/1941 está 
revogado. Deve o ato libidinoso ser praticado contra alguém, ou seja, contra pessoa determinada. Assim, 
pratica o crimede importunação sexual o agente que se masturba diante de uma pessoa para satisfazer a 
sua lascívia. Agora, se o agente se masturbar em praça pública, sem visar a uma pessoa determinada, 
estará praticando o crime de ato obsceno (art. 233 do CP). 
Trata-se de crime que contém subsidiariedade expressa, ou seja, aplicam-se as penas da impor-
tunação sexual se a conduta não caracteriza crime mais grave. Assim, se, por exemplo, o agente empregar 
violência na prática do ato libidinoso, incidirá o crime de estupro (art. 213 do CP). 
É tipificado também como crime comum, não se exigindo, portanto, qualidade especial da vítima. 
Pode, assim, ser praticado por qualquer pessoa. Da mesma forma, qualquer pessoa pode figurar como 
vítima. 
O agente desenvolve conduta com a consciência de praticar o ato libidinoso contra alguém. Eis o 
dolo. Além disso, o tipo prevê um elemento subjetivo específico, consistente no agente atuar com a finali-
dade de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
97 
14.3.2. Consumação e tentativa 
A consumação ocorre com a prática do ato libidinoso. Embora seja de difícil incidência, já que, se 
o agente inicia o ato libidinoso, estará consumado o crime, é possível a tentativa. 
 
14.4. Estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) 
14.4.1. Conduta típica 
O crime de estupro de vulnerável consiste na conduta de ter conjunção carnal ou praticar outro ato 
libidinoso com menor de 14 anos, bem como com pessoa portadora de enfermidade ou deficiência mental 
ou incapaz de discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não apresenta condi-
ções de oferecer resistência (§ 1o). 
O crime é punido a título de dolo, devendo o agente ter ciência de que age em face de pessoa 
vulnerável. Se o agente não sabia que a vítima era menor de 14 anos de idade, pode incidir o erro de tipo 
(art. 20, caput, do CP). 
Nos termos do art. 217-A, § 5o, do CP, incide o crime de estupro de vulnerável independentemente 
do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. 
 
14.4.2. Consumação ou tentativa 
Tratando-se de crime material, a consumação ocorrerá com o resultado naturalístico, ou seja, com 
a conjunção carnal ou ato libidinoso diverso da conjunção carnal. 
 
14.4.3. Formas qualificadas (Art. 217-A, §§ 3o e 4o, do CP) 
Os §§ 3o e 4o qualificam o delito de estupro contra vulnerável se da conduta ocorrer o resultado 
lesão grave (por consequência, gravíssima também) ou morte da vítima. 
 
14.4.5. Ação penal (art. 225 do CP) 
Em relação aos crimes contra a dignidade sexual, a ação penal será sempre pública incondicio-
nada. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
98 
15. Crimes contra a Fé Pública 
15.1. Moeda falsa (art. 289 do CP) 
15.1.1. Conduta típica 
O tipo básico (caput) pune aquele que falsificar, fabricando ou alterando, moeda metálica ou papel-
moeda de curso legal no País ou no estrangeiro. 
Falsificar significa conferir aparência enganadora, recaindo a conduta sobre moeda metálica ou 
papel-moeda (nacional ou estrangeira). 
É essencial que a falsificação seja convincente, isto é, capaz de iludir os destinatários da moeda. 
 
15.1.2. Consumação e tentativa 
O crime consuma-se no momento da fabricação ou da alteração da moeda, desde que idônea a 
iludir. A tentativa é perfeitamente possível. 
 
15.1.3. Formas equiparadas (art. 289, § 1o, do CP) 
Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, 
troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa. 
 
15.1.4. Privilégio (art. 289, § 2o, do CP) 
Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, 
depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
15.1.5. Falsificação funcional (art. 289, § 3o, do CP) 
É punido com reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e multa, o funcionário público ou diretor, 
gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: 
 
I – de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; 
II – de papel-moeda em quantidade superior à autorizada. 
 
 
15.2. Falsificação de documento público (art. 297 do CP) 
15.2.1. Conduta típica 
O art. 297 do CP trata da falsidade material, ou seja, aquela que diz respeito à forma do documento. 
As ações nucleares consubstanciam-se nos verbos falsificar, que significa formar, criar um docu-
mento; e alterar, que significa modificar o documento. Na hipótese, o documento é verdadeiro, e o agente 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
99 
substitui seu conteúdo, isto é, frases, palavras que alterem sua essência, incidindo, portanto, sobre aspec-
tos relevantes do documento. 
 
15.2.2. Consumação e tentativa 
O crime consuma-se com a falsificação ou alteração do documento, sendo prescindível o uso efe-
tivo deste. 
A tentativa é possível, pois há um iter criminis que pode ser fracionado. A tentativa ocorrerá se, 
por exemplo, o agente, estando no início do processo de formação da escritura pública falsa, tendo preen-
chido apenas algumas linhas, é surpreendido por terceiro. Nessa hipótese, não ocorreu ainda a contrafação 
total do documento, portanto, o crime reputa-se tentado. 
Aplica-se a Súm. no 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade 
lesiva, é por este absorvido”. Trata-se da aplicação da regra de que o crime-fim absorve o crime-meio. 
 
15.3. Falsificação de documento particular (art. 298 do CP) 
15.3.1. Conduta típica 
Também se trata de falsidade material, ou seja, aquela que diz respeito à forma do documento. 
Falsificar: significa formar, criar um documento. Ex.: o agente aproveitou-se do espaço em branco 
existente entre o conteúdo da carta e a assinatura do missivista para inserir aí uma confissão de dívida, 
cortando a parte do conteúdo da carta, e criando, dessarte, parcialmente o documento. 
Alterar: significa modificar o documento. Na hipótese, o documento é verdadeiro, e o agente subs-
titui seu conteúdo, isto é, frases, palavras que alterem sua essência, incidindo, portanto, sobre aspectos 
relevantes do documento. 
 
15.3.2. Consumação e tentativa 
O crime consuma-se com a falsificação ou alteração do documento, sendo prescindível o uso efe-
tivo deste. 
A tentativa é possível, pois há um iter criminis que pode ser fracionado. A tentativa ocorrerá 
quando, por exemplo, o agente, estando no início do processo de forjamento de um instrumento de cessão 
de direitos, em que ele figura como beneficiário, é interrompido por terceiros antes de sua finalização. 
 
15.4. Falsidade ideológica (art. 299 do CP) 
15.4.1. Conduta típica 
Na falsidade ideológica, o documento é formalmente perfeito, sendo, no entanto, falsa a ideia nele 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
100 
contida. 
O sujeito tem legitimidade para emitir o documento, mas acaba por lhe inserir um conteúdo sem 
correspondência com a realidade dos fatos. 
Ex.: assim, uma escritura lavrada pelo funcionário do Cartório de Registro de Imóveis é formal-
mente perfeita, pois a ele incumbe formar o instrumento público. Entretanto, se essa escrita encerrar decla-
rações falsas prestadas pelo particular, haverá o crime de falsidade ideológica. 
Trata-se de crime de ação múltipla. Diversas são as ações nucleares típicas previstas: 
 
OMITIR – deixar de inserir ou não mencionar. 
INSERIR – colocar ou introduzir. 
FAZER INSERIR – proporcionar que se introduza. 
 
15.4.2. Consumação e tentativa 
Consuma-se com a omissão ou a inserção da declaração falsa ou diversa da que deveria constar. 
Trata-se de crime formal; prescinde-se, portanto, da ocorrência efetiva do dano, bastando a capa-
cidade de lesar terceiro. Assim, o prejuízo a direito, a criação da obrigação ou a alteração da verdadesobre 
fato juridicamente relevante não são necessários à consumação do crime. 
16. Crimes contra a Administração Pública 
16.1. Dos crimes praticados por funcionário público contra a Administração 
em geral 
 
16.1.1. Peculato (art. 312 do CP) 
16.1.1.1. Conduta típica 
O peculato próprio, na realidade, constitui uma apropriação indébita, só que praticada por funcio-
nário público com violação do dever funcional. Antes de ser uma ação lesiva aos interesses patrimoniais da 
Administração Pública, é principalmente uma ação que fere a moralidade administrativa, em virtude de 
quebra do dever funcional. 
O peculato próprio é formado pelo peculato-apropriação e peculato-desvio. 
No peculato-apropriação, a ação nuclear típica consubstancia-se no verbo apropriar. Assim como 
no crime de apropriação indébita, o agente tem a posse (ou detenção) lícita do bem móvel, público ou 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
101 
particular, e inverte esse título, pois passa a comportar-se como se dono fosse, isto é, alienando, doando, 
consumindo com o bem. 
O peculato-desvio está previsto na segunda parte do caput do art. 312: “ou desviá-lo, em proveito 
próprio ou alheio”. 
O agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação diversa da exigida por lei, agindo em proveito 
próprio ou de terceiro. 
Por exemplo, o funcionário empresta o dinheiro público para perceber os juros. 
O peculato-furto é o denominado peculato impróprio, e está previsto no art. 312, § 1o, do CP. Trata-
se de um crime de furto, só que praticado por funcionário público, o qual se vale dessa qualidade para 
cometê-lo. Aqui o agente não tem a posse ou detenção do bem como no peculato-apropriação ou desvio, 
mas se vale da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário público para realizar a subtração. 
 
16.1.1.2. Sujeitos do delito 
Trata-se de crime próprio. Somente o funcionário público (art. 327, caput) e as pessoas a ele equi-
paradas legalmente (art. 327, §§ 1o e 2o) podem praticar o delito de peculato. 
A condição especial funcionário público, como elementar do crime de peculato, comunica-se ao 
particular que eventualmente concorra, na condição de coautor ou partícipe, para a prática do crime, nos 
termos do art. 30 do CP. Portanto, é perfeitamente possível o concurso de pessoas, dada a comunicabili-
dade da elementar do crime (art. 30). 
 
16.1.1.3. Peculato culposo (art. 312, § 2o, do CP) 
Pune-se aqui o funcionário público que, por negligência, imprudência ou imperícia, concorre para 
a prática de crime de outrem. 
O funcionário, para ser punido, insere-se na figura do garante, prevista no art. 13, § 2o. Assim, tem 
ele o dever de agir, impedindo o resultado de ação delituosa de outrem. Não o fazendo, responde por 
peculato culposo. 
Ex.: se um vigia de prédio público se desvia de sua função de guarda, por negligência, permitindo, 
pois, que terceiros invadam o lugar e de lá subtraiam bens, responde por peculato culposo. 
Nos termos do art. 312, § 3o, do CP, a reparação do dano, para dar causa à extinção da punibili-
dade, deve ser anterior ao trânsito em julgado da sentença criminal. 
Deve ser completa e não exclui eventual sanção administrativa contra o funcionário. A extinção da 
punibilidade somente aproveita o funcionário, autor do peculato culposo. 
Consoante a segunda parte do § 3o, no crime culposo, se a reparação do dano é posterior à 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
102 
sentença irrecorrível, isto é, transitada em julgado, haverá a redução de metade da pena imposta. 
 
16.1.2. Concussão (art. 316 do CP) 
16.1.2.1. Conduta típica 
A ação nuclear consubstancia-se no verbo exigir, isto é, ordenar, reivindicar, impor como obriga-
ção. 
A vítima cede às exigências formuladas pelo agente diante do temor de represálias relacionadas 
ao exercício da função pública por ele exercida. 
Assim, não é necessária a promessa da causação de um mal determinado; basta o temor que a 
autoridade inspira. 
Ex.: carcereiro que exige dinheiro dos presos sob sua custódia. Na hipótese, o simples fato de os 
presos encontrarem-se sob a guarda daquele gera neles o temor de eventuais represálias. 
Contudo, não pratica esse delito, mas o de extorsão ou roubo, por exemplo, o policial militar que 
exige vantagem indevida da vítima utilizando-se de violência, ou ameaçando-a gravemente de sequestrar 
seu filho. 
16.1.2.2. Consumação e tentativa 
Trata-se de crime formal. A consumação ocorre com a mera exigência da vantagem indevida, in-
dependentemente de sua efetiva obtenção. Se esta sobrevém, há mero exaurimento do crime. 
É possível a tentativa, na hipótese em que o crime é plurissubsistente. 
 
16.1.3. Excesso de exação (art. 316, § 1o, do CP) 
16.1.3.1. Conduta típica 
Há duas formas de incidir o crime de excesso de exação: a primeira, quando se trata de exigência 
de tributo ou contribuição social indevido; a segunda, o tributo ou contribuição social é devido, mas o agente 
emprega meio gravoso ou vexatório para o devedor, o qual não é autorizado por lei. 
 
16.1.3.2. Consumação e tentativa 
a) Exigência indevida: aqui o delito se consuma no momento em que é feita a exigência do tributo 
ou contribuição social. 
Trata-se de crime formal, portanto, a consumação independe do efetivo pagamento do tributo ou 
contribuição social pela vítima. 
A tentativa é possível. Ex.: carta contendo a exigência de vantagem, a qual é interceptada antes 
de chegar ao conhecimento da vítima. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
103 
b) Cobrança vexatória ou gravosa: consuma-se com o emprego do meio vexatório ou gravoso 
na cobrança do tributo ou contribuição social, independentemente de seu efetivo recebimento. 
A tentativa é possível. 
Ex.: com o devido aparato já se acha na casa ou estabelecimento do ofendido, mas é obstado 
antes que inicie a cobrança. 
 
16.1.3.3. Excesso de exação qualificado (art. 316, § 2o, do CP) 
Nessa modalidade mais gravosa do crime de excesso de exação, pune-se o funcionário público 
que, em vez de recolher o tributo ou contribuição social, indevidamente exigido (§ 1o), para os cofres públi-
cos, desvia-o em proveito próprio ou alheio. 
 
16.1.4. Corrupção passiva (art. 317 do CP) 
16.1.4.1. Conduta típica 
Trata-se de crime de ação múltipla. Três são as condutas típicas previstas: 
a) solicitar: pedir, manifestar que deseja algo. Não há o emprego de qualquer ameaça explícita 
ou implícita. O funcionário solicita vantagem, e a vítima cede por deliberada vontade. 
b) receber: aceitar, entrar na posse. Significa obter, direta ou indiretamente, para si ou para ou-
trem, vantagem indevida. 
Aqui a proposta parte de terceiros e a ela adere o funcionário, ou seja, o agente não só aceita a 
proposta como recebe a vantagem indevida. 
Ao contrário da primeira modalidade, é condição essencial para sua existência que haja a anterior 
configuração do crime de corrupção ativa, isto é, o oferecimento de vantagem indevida (art. 333). Sem essa 
oferta pelo particular, não há como falar em recebimento de vantagem. 
c) aceitar a promessa de recebê-la: nessa modalidade típica, basta que o funcionário concorde 
com o recebimento da vantagem. Não há o efetivo recebimento dela. Deve haver, necessariamente, uma 
proposta formulada por terceiros, à qual adere o funcionário, mediante a aceitação de receber a vantagem. 
Na corrupção passiva, o funcionário, em troca de alguma vantagem, pratica ou deixa de praticar 
ato de ofício para beneficiar alguém. O ato a ser praticado pode ser ilegítimo, ilícito ou injusto. É a chamada 
corrupção própria. 
Ex.: o funcionário do cartório criminal solicita indevida vantagem econômica para suprimir docu-
mentos do processo judicial. 
Também configura o crime a prática de ato legítimo, lícito, justo. É a chamada corrupção passiva 
imprópria. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
104 
Ex.: oficial de justiça solicita vantagem econômicaao advogado, a fim de dar prioridade ao cum-
primento do mandado judicial expedido em processo em que aquele atua. 
 
16.1.4.2. Consumação e tentativa 
Trata-se de crime formal. Portanto, a consumação ocorre com o ato de solicitar, receber ou aceitar 
a promessa de vantagem indevida. 
A corrupção passiva consuma-se instantaneamente, isto é, com a simples solicitação da vantagem 
indevida, o recebimento desta ou com a aceitação da mera promessa daquela. 
O tipo penal não exige que o funcionário pratique ou se abstenha da prática do ato funcional. Se 
isso suceder, haverá mero exaurimento do crime, o qual constitui condição de maior punibilidade (causa de 
aumento de pena prevista no § 1o do art. 317). 
A tentativa é de difícil ocorrência, mas não é impossível. Basta que haja um iter criminis a ser 
cindido. Ex.: solicitação feita por carta, a qual é interceptada pelo chefe de repartição. 
 
16.1.4.3. Causa de aumento de pena (art. 317, § 1o) 
Eleva-se em 1/3 a pena do agente que, em razão da vantagem recebida ou prometida, efetiva-
mente retarda (atrasa ou procrastina) ou deixa de praticar (não leva a efeito) ato de ofício que lhe competia 
desempenhar ou termina praticando o ato, mas desrespeitando o dever funcional. É o que a doutrina clas-
sifica de corrupção exaurida. 
 
16.1.4.4. Figura privilegiada (art. 317, § 2o) 
Trata-se de conduta de menor gravidade, na medida em que o agente pratica, deixa de praticar ou 
retarda o ato de ofício, não em virtude do recebimento de vantagem indevida, mas cedendo a pedido ou 
influência de outrem, isto é, para satisfazer interesse de terceiros ou para agradar ou bajular pessoas influ-
entes. 
 
16.1.5. Prevaricação (art. 319 do CP) 
16.1.5.1. Conduta típica 
O crime de prevaricação caracteriza-se pela conduta do funcionário público em retardar ou deixar 
de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer 
interesse ou sentimento pessoal. 
a) Retardar: é atrasar, adiar, protelar, procrastinar, não praticar o ato de ofício dentro do prazo 
estabelecido (crime omissivo). 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
105 
Ex.: atendente de cartório judicial que, devendo expedir alvará de soltura, por não simpatizar com 
o advogado, deixa de fazê-lo com a brevidade que a medida exige. 
b) Deixar de praticar: trata-se de mais uma modalidade omissiva do crime em estudo. Aqui, no 
entanto, ao contrário da conduta precedente, há o ânimo definitivo de não praticar o ato de ofício. 
c) Praticar (contra disposição expressa de lei): cuida-se aqui de conduta comissiva, em que o 
agente efetivamente executa o ato, só que de forma contrária à lei. 
O interesse pessoal é qualquer proveito, vantagem, podendo ser patrimonial ou moral. 
Quanto ao interesse patrimonial, importa distinguir algumas situações: 
a) se o ato praticado, retardado ou omitido tiver sido objeto de acordo anterior entre o funcionário 
e o particular, visando aquele indevida vantagem, o crime passará a ser outro: corrupção passiva; 
b) se houver, anteriormente à prática ou omissão do ato, a exigência de vantagem indevida pelo 
funcionário público, haverá o crime de concussão. 
Sentimento pessoal 
Sentimento pessoal reflete um estado afetivo ou emocional do próprio agente, que pode manifes-
tar-se em suas mais variadas formas, tais como amor, paixão, emoção, ódio. 
 
16.2. Dos crimes praticados por particular contra a Administração em geral 
16.2.1. Resistência (art. 329 do CP) 
16.2.1.1. Conduta típica 
A conduta típica consiste em opor-se o particular à execução de ato legal mediante o emprego de 
violência ou ameaça. 
Para grande parte da doutrina, a violência e a ameaça devem ser dirigidas à pessoa do funcionário, 
e não contra coisas, por exemplo, quebrar os vidros da viatura policial. Poderá o agente, nesse caso, res-
ponder pelo crime de dano qualificado. 
A oposição pode também se dar mediante o emprego de ameaça, a qual pode ser real, por exem-
plo, apontar uma faca para o funcionário público ou uma arma de fogo, ainda que desmuniciada; ou verbal, 
por exemplo, indivíduo que promete ao policial, que, se ele for preso, mandará seus comparsas eliminá-lo. 
 
16.2.1.2. Consumação e tentativa 
Consuma-se com o emprego da violência ou ameaça contra o funcionário. 
Tratando-se de crime formal, não se exige que o agente efetivamente impeça a execução do ato 
legal. 
É perfeitamente possível a tentativa. Por exemplo: agente é impedido por terceiros de desferir uma 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
106 
paulada no funcionário público. Ressalve-se que, no caso de ameaça, somente haverá a tentativa se ela 
for realizada por escrito. 
 
16.2.2. Desobediência (art. 330 do CP) 
16.2.2.1. Conduta típica 
O delito de desobediência em muito se parece com o de resistência, uma vez que em ambos o 
sujeito ativo pretende subtrair-se à execução de ato legal; contudo, no crime de desobediência, não ocorre 
o emprego de violência ou ameaça contra funcionário público. 
O núcleo do tipo está consubstanciado no verbo desobedecer, desatender, não aceitar, não se 
submeter, no caso, à ordem legal de funcionário público. 
Para que exista o crime de desobediência é necessário que haja ordem legal emanada de funcio-
nário público competente. Não se cuida aqui de pedido ou solicitação, por exemplo, de promotor de justiça 
que, mediante ofício, solicita documentos. 
 
16.2.2.2. Consumação e tentativa 
Trata-se de delito formal (aquele que não exige resultado naturalístico, consistente na ocorrência 
de algum prejuízo efetivo para a administração por conta do não cumprimento da ordem). 
A tentativa somente é possível na forma comissiva do descumprimento da ordem legal. 
 
16.2.3. Desacato (art. 331 do CP) 
16.2.3.1. Conduta típica 
O desacato consiste na prática de qualquer ato ou emprego de palavras que causem vexame, 
humilhação, falta de respeito ao funcionário público. 
Pode implicar qualquer tipo de palavra grosseira ou ato ofensivo contra a pessoa que exerce fun-
ção pública, incluindo ameaças e agressões físicas. 
Ex.: cuspir no rosto do oficial de justiça, atirar papéis no promotor de justiça, rogar praga contra o 
funcionário. 
No exercício da função: diz com a ofensa praticada contra funcionário público que esteja no 
desempenho de sua função, isto é, praticando atos de ofício. 
Em razão do exercício da função: nessa hipótese, o funcionário está fora do exercício de sua 
função, mas a ofensa contra ele irrogada diz respeito a ela. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
107 
 
16.2.3.2. Consumação e tentativa 
Trata-se de crime formal (delito que não exige o resultado naturalístico, consistente no efetivo 
desprestígio da função pública). Consuma-se, portanto, no momento em que os atos ofensivos são pratica-
dos (vias de fato, lesão corporal, gestos, gritos etc.) ou as palavras ultrajantes irrogadas (calúnia, difamação, 
injúria) são proferidas contra o funcionário público. 
Como se trata de crime formal, não se exige que o funcionário público se sinta ofendido com os 
atos praticados. 
 
16.2.4. Corrupção ativa (art. 333 do CP) 
16.2.4.1. Conduta típica 
As ações nucleares do tipo estão consubstanciadas nos verbos: 
OFERECER vantagem indevida, ou seja, propor ou apresentar para que seja aceita. 
PROMETER vantagem indevida, isto é, comprometer-se, fazer promessa, garantir a entrega de 
algo ao funcionário. 
Por não se tratar de crime bilateral, prescinde-se da aceitação da vantagem pelo funcionário pú-
blico. Caso aceite, o funcionário deverá responder pelo delito de corrupção passiva. 
 
16.2.4.2. Consumação e tentativa 
Trata-se de crime formal, uma vez que a consumação se dá com a simples oferta ou promessa de 
vantagem indevida por parte do agente ao funcionário público, isto é, independentemente de ele aceitá -la 
ou recusá-la. Também não é necessário que o funcionário pratique, retarde ouomita o ato de ofício de sua 
competência. 
A tentativa é possível. Ex.: suponha-se a hipótese de que a correspondência contendo a oferta de 
dinheiro não chegue às mãos do funcionário destinatário por ter sido apreendida pela polícia. 
 
16.2.4.3. Causa de aumento de pena (art. 333, par. ún.) 
Eleva-se a pena em 1/3 quando, em razão da promessa ou da vantagem, o funcionário público 
efetivamente atrasa ou não faz o que deveria, ou mesmo pratica o ato, infringindo dever funcional. Nessa 
hipótese, o crime é material, isto é, exige resultado naturalístico. 
 
16.2.5. Descaminho (art. 334 do CP) 
16.2.5.1. Conduta típica 
Descaminho é a fraude voltada a frustrar, total ou parcialmente, o pagamento de direitos de 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
108 
importação ou exportação ou do imposto de consumo sobre mercadorias. 
Em síntese, no descaminho, o agente busca iludir, mediante o emprego de fraude, o pagamento 
de direito ou imposto devido em face de entrada e saída de mercadoria não proibida. 
Princípio da insignificância 
O STF, baseado no art. 20 da Lei no 10.522/2002 e na Portaria MF no 75/2012, estabeleceu que o 
valor que dispensa a cobrança fiscal em juízo é de R$ 20.000,00, incidindo, em relação a esse valor, o 
princípio da insignificância. 
16.2.5.2. Consumação e tentativa 
O descaminho consuma-se com a liberação pela alfândega, sem o pagamento dos impostos ine-
rentes. Consuma-se, ainda, com a entrada e saída da mercadoria do território nacional. 
A tentativa é possível. No caso de exportação, o crime é tentado se a mercadoria não chega a sair 
do País. No caso de importação, se o agente entrar com a mercadoria no País, mas for preso na alfândega, 
o crime já estará consumado. 
 
16.2.5.3. Figuras equiparadas (art. 334, § 1o) 
Incorre na pena do caput do art. 334 (reclusão, de 1 a 4 anos) quem: 
 
I – pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; 
II – pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; 
III – vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito 
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de proce-
dência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente 
ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação 
fraudulenta por parte de outrem; 
IV – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade 
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de do-
cumentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. 
 
 
16.2.5.4. Causa de aumento de pena (art. 334, § 3o) 
A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo 
ou fluvial. 
 
16.2.6. Contrabando (art. 334-A do CP) 
16.2.6.1. Conduta típica 
Contrabando é a clandestina importação ou exportação de mercadorias cuja entrada no País, ou 
saída dele, é absoluta ou relativamente proibida. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
109 
 
16.2.6.2. Consumação e tentativa 
Na importação ou exportação de mercadorias proibidas com passagem pelos órgãos alfandegá-
rios, o crime consuma-se quando transposta a barreira fiscal, mesmo que a mercadoria não chegue ao seu 
destino. 
A tentativa é possível. No caso de exportação, o crime é tentado se a mercadoria não chega a sair 
do País. No caso de importação, se o agente entrar com a mercadoria no País, mas for preso na alfândega, 
o crime já estará consumado. 
 
16.2.6.3. Figuras equiparadas (art. 334-A, § 1o) 
§1o Incorre na mesma pena quem: 
 
I – pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; 
II – importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou 
autorização de órgão público competente; 
III – reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; 
IV – vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito 
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida 
pela lei brasileira; 
V – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade 
comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. 
 
16.2.6.4. Causa de aumento de pena (art. 334-A, § 3o) 
A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo 
ou fluvial. 
17. Dos crimes contra a Administração da Justiça 
17.1. Denunciação caluniosa (art. 339 do CP) 
17.1.1. Conduta típica 
Trata-se da conduta do agente que dá causa à instauração de inquérito policial, de procedimento 
investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de 
ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato 
ímprobo de que o sabe inocente. 
O elemento do tipo “alguém” indica, nitidamente, tratar-se de pessoa certa, não se podendo come-
ter o delito ao indicar para a autoridade policial apenas a materialidade do crime e as várias possibilidades 
de suspeitos. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
110 
17.1.2. Elemento subjetivo 
É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de dar causa à instauração de investigação 
policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa contra alguém, imputando-lhe 
crime. 
É imprescindível que o denunciante saiba (dolo direto) que o denunciado é inocente, conforme 
expressa exigência legal contida na expressão “de que o sabe inocente”. Sem ele, não há crime. A dúvida 
(dolo eventual) afasta a tipicidade do delito. 
 
17.1.3. Consumação 
Trata-se de crime formal, ou seja, delito que não exige, para sua consumação, resultado natura-
lístico, consistente no efetivo prejuízo para a administração da justiça. 
Consuma-se, portanto, com a instauração de investigação policial, de processo judicial, de inves-
tigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém. 
Não se exige que a autoridade policial, formalmente, instaure o inquérito policial para que se con-
sume o crime. Basta que inicie investigação policial no sentido de coletar dados que apurem a veracidade 
da denúncia. 
 
17.2. Comunicação falsa de crime ou de contravenção (art. 340 do CP) 
17.2.1. Conduta típica 
Consubstancia-se no verbo provocar, isto é, dar causa à ação da autoridade pública (delegado de 
polícia, juiz, promotor de justiça, bem como todas as autoridades administrativas que tenham atribuição 
legal para iniciar investigações). 
Na hipótese, o agente comunica à autoridade a prática de crime ou contravenção penal que não 
se verificou. 
Ao contrário do que ocorre no crime de denunciação caluniosa, não há no delito em estudo a 
imputação a uma pessoa determinada da prática de crime. Se assim suceder, estará caracterizado o crime 
de denunciação caluniosa. 
 
17.2.2. Consumação e tentativa 
É crime formal, que não exige, para sua consumação, resultado naturalístico. 
Consuma-se, portanto, o crime no momento em que a autoridade pratica alguma ação no sentido 
de elucidar o fato criminoso. Semelhantemente ao crime de denunciação caluniosa, não se exige a efetiva 
instauração de inquérito policial. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
111 
É possível a tentativa. Desse modo, se o agente fizer a comunicação falsa à autoridade, e esta 
não iniciar as investigações por circunstâncias alheias à vontade dele, haverá tentativa. 
 
17.3. Falso testemunho ou falsa perícia (art. 342 do CP) 
17.3.1. Conduta típica 
Trata-se de crime de ação múltipla, pois três são as ações típicas: 
a) “Fazer afirmação falsa”. Segundo a doutrina, cuida-se aqui da falsidade positiva, pois o agente 
declara a ocorrência de fato inverídico. 
Ex.: testemunha que, para forjar um álibi em favor do acusado, afirma falsamente que, no momento 
do crime,ele estava em sua companhia. 
b) “negar a verdade”. Essa modalidade constitui a chamada falsidade negativa, pois o agente tem 
ciência da verdade, mas nega o que sabe. 
Ex.: testemunha de acusação que nega falsamente que a vítima de homicídio tenha anteriormente 
tentado estuprar a filha do acusado. 
c) “calar a verdade”. É, segundo a doutrina, a chamada reticência. Aqui há o silêncio a respeito do 
que se sabe ou se recusa em manifestar a ciência que se tem dos fatos. Há, assim, resistência por parte 
do agente em declarar a verdade. Não há, ao contrário das demais modalidades, qualquer afirmação falsa 
ou negativa. 
Ex.: perito que omite dados relevantes ao elaborar o laudo pericial, de forma a criar prova benéfica 
ao acusado. 
 
17.3.2. Sujeitos do delito 
Trata-se de crime de mão própria (de atuação pessoal ou de conduta infungível). Nesse passo, 
somente pode ser cometido pelo sujeito em pessoa. 
São sujeitos ativos desse delito a testemunha, o perito, o tradutor ou o intérprete. A Lei no 
10.268/2001 acrescentou um novo sujeito ativo, não previsto na antiga redação do dispositivo, qual seja, o 
contador que atue em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral. 
Se a testemunha não assina o compromisso de dizer a verdade, não pode praticar o delito em tela. 
Portanto, é indispensável que seja reconhecida como testemunha, e não como simples declarante ou infor-
mante, pessoas estas que não narram seu entendimento sobre algo sem o compromisso de dizer a verdade. 
 
17.3.3. Consumação e tentativa 
É crime formal, não exigindo, portanto, para a sua consumação, resultado naturalístico. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
112 
Consuma-se o falso testemunho com o encerramento do depoimento. Em tese, o crime consuma-
se no momento em que é proferido o falso; contudo, como o depoente pode retificar o que foi declarado até 
o encerramento do depoimento, entende-se consumado o crime nesse exato instante. 
 
17.3.4. Retratação (art. 342, § 2o) 
No caso, o agente, antes da sentença no processo em que ocorreu o falso testemunho, declara a 
verdade. 
Na realidade, o crime já se consumou no momento em que o depoimento foi encerrado, contudo, 
a lei faculta ao agente o direito de arrepender-se antes da prolação da sentença de primeiro grau, possibi-
litando com isso o esclarecimento da verdade dos fatos e, consequentemente, a extinção da punibilidade. 
Trata-se, portanto, de condição resolutiva da punibilidade. Embora já consumado o crime, a puni-
ção depende, ainda, de o agente não se retratar ou declarar a verdade, oportunamente. 
 
17.4. Favorecimento pessoal (art. 348 do CP) 
17.4.1. Conduta típica 
Comete este delito o agente que presta auxílio, de qualquer natureza, a quem acaba de cometer 
um crime, com a finalidade de subtraí-lo à ação da autoridade, prejudicando a ação de autoridade pública 
(policiais civis ou militares, membros do Judiciário). 
O favorecimento pessoal é delito acessório, ficando sua tipificação na dependência da existência 
de um crime antecedente, que pode ser de qualquer natureza (doloso, culposo, tentado ou consumado 
etc.). 
Não incidirá o crime de favorecimento pessoal quando em relação ao fato anterior: a) houver causa 
excludente de ilicitude; b) já estiver extinta a punibilidade; c) houver escusa absolutória. 
Se o agente autor do crime antecedente vier a ser absolvido por qualquer motivo (salvo na hipótese 
de absolvição imprópria, em que é aplicada medida de segurança), o sujeito que o auxiliou não poderá ser 
condenado pelo crime de favorecimento pessoal. 
 
17.4.2. Consumação e tentativa 
O crime consuma-se no momento em que, prestado o efetivo auxílio, o agente favorecido obtém 
êxito em sua ocultação, ainda que momentaneamente. Trata-se, pois, de crime material. 
É possível a tentativa, por exemplo, quando o auxílio chega a ser prestado, mas o agente benefi-
ciário não se livra da autoridade. 
 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
113 
17.4.3. Escusa absolutória (art. 348, § 2o) 
Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento 
de pena. 
 
17.5. Favorecimento real (art. 349 do CP) 
17.5.1. Conduta típica 
O presente dispositivo visa a tutelar a administração da justiça, no sentido de punir o comporta-
mento daquele que auxilia o criminoso a tornar seguro o proveito do crime. 
Comete este delito o agente que prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, 
auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime. 
Assim como o delito anterior, o favorecimento real também é delito acessório, ficando sua tipifica-
ção na dependência da existência de um crime antecedente, que pode ser de qualquer natureza (doloso, 
culposo, tentado ou consumado etc.). 
Para a incidência deste delito, o auxílio deve ser destinado a tornar seguro o proveito do crime, 
referindo-se a qualquer vantagem alcançada com a prática do delito principal, podendo abranger: 
a) o objeto material do crime, como o próprio bem subtraído; 
b) o preço do crime, por exemplo, dinheiro que o homicida ganhou para matar alguém. 
Não incide o delito se o agente desconhece a procedência criminosa do bem. 
Se autor do crime antecedente for menor de idade ou já estiver extinta a sua punibilidade, pela 
prescrição, por exemplo, continua sendo possível o favorecimento real, pois o objeto continua sendo pro-
duto de crime. A menoridade e a extinção da punibilidade apenas impedem a aplicação de sanção penal 
ao autor do crime antecedente. 
Somente haverá o crime de favorecimento real se o agente não estava previamente ajustado com 
os autores do delito antecedente. Se houve prévio ajuste, o agente responderá pelo mesmo delito, em 
concurso de pessoas. 
17.5.2. Consumação e tentativa 
O crime consuma-se no momento em que o agente presta auxílio, independentemente de saber se 
o agente conseguiu ou não tornar seguro o proveito do crime anterior. Trata-se, pois, de crime formal. 
É possível a tentativa. 
1ª Fase | 39° Exame da OAB 
Direito Penal 
 
114

Mais conteúdos dessa disciplina