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TEXTOS FUNDAMENTAIS DE FICÇÃO EM LÍNGUA INGLESA Márcia Costa Bonamin Elements of fiction: setting (place and time) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Construir um panorama dos elementos da ficção. � Identificar a função e a importância do espaço no texto de ficção. � Reconhecer a função e a importância do tempo no texto de ficção. Introdução Uma obra de ficção se caracteriza como uma história que parte da ima- ginação do autor e pode, ou não, ser baseada em fatos reais. As obras clássicas da literatura têm, usualmente, um vocabulário mais elaborado, linguagem poética (o que inclui o uso de figuras de linguagem), sentenças mais longas e complexas e temas intricados, diferindo, em parte, dos livros que foram escritos principalmente para fins comerciais. De qualquer modo, na elaboração da narrativa, os autores seguem alguns princípios de composição, ou seja, podemos notar que há ele- mentos comuns a todos os trabalhos: enredo, contextualização (espaço e tempo), personagens e ponto de vista (plot, setting, character, point of view). Essa estruturação permite ao autor expor a história inserida em seu tema (theme). Cada qual tem o seu papel, mas todos são interdependentes, o que facilita a elaboração e interpretação da narrativa. Neste capítulo, você vai aprender a caracterizar os itens espaço e tempo. Esses componentes têm o objetivo de situar o leitor no cenário e na época em que a narrativa ocorre, ou seja, contextualizar em que espaço os eventos vão ocorrer: no campo, na cidade ou em outro planeta e em que período de tempo eles ocorrem: em que século ou U N I D A D E 2 lalves Retângulo lalves Retângulo ano. Reconhecer e analisar as características do espaço e do tempo permitirá que você situe a história adequadamente, interpretando-a a partir desse contexto. Panorama dos elementos da ficção Ficção é algo que é criado, inventado ou imaginado. Na literatura, ficção signi- fica uma classe de trabalhos literários cujo conteúdo é produto da imaginação de seu escritor. Geralmente, os textos de ficção têm o objetivo de entreter, mas é comum que tratem de temas que abordem a condição humana. Um romance, conto ou fábula se inserem nesse conceito. Uma obra de ficção implica em um ato imaginativo de construção de “mundos”. Desse modo, os leitores normalmente não esperam que esse tipo de obra seja totalmente fiel ao mundo real, estando mais aberto à interpretação. Do mesmo modo, os personagens, muitas vezes, situam-se em tempo e local diferentes daquilo que conhecemos: esse é o universo ficcional. São vários os gêneros que fazem parte das obras de ficção literária, den- tre os quais podemos destacar: contos, fábulas, lendas, ficção científica, fantasia, mistério, aventura, drama, tragédia, terror, comédia. Cada qual tem características próprias de estilo e de linguagem, mas todos apresentam uma organização estrutural semelhante e têm em comum alguns componentes que são próprios da narrativa literária. Considerando que a literatura é uma arte, não uma ciência, não é possível determinar se todos esses elementos terão a mesma ênfase em todas as obras. Por exemplo: na obra Moby Dick, de Herman Melville, toda a história se passa basicamente no mar – então, o “espaço” é importante nesse contexto. Já no livro The Curious Case of Benjamim Button, de F. S. Fitzgerald, o protagonista começa a vida como velho e vai rejuve- nescendo com o passar dos anos – nesse caso, o tempo tem uma importância enorme na caracterização da obra. Para ficar mais claro, vamos apresentar, a seguir, um panorama geral dos elementos dos textos de ficção. Enredo (plot) O enredo se refere ao modo com que a ação ocorre na história, ou seja, ao desenrolar da ação. A partir do enredo, podemos perceber algum tipo de con- flito (que pode ser externo, como uma guerra, por exemplo, ou interno, como uma dúvida ou reflexão de algum personagem). Esse conflito deve chegar ao Elements of fiction: setting (place and time)2 seu clímax, geralmente a parte mais emocionante do livro, na qual o conflito é resolvido e é dado um desfecho (resolução). Contextualização (setting) Na língua inglesa, o setting engloba o tempo e o local. Aqui, iremos tratar do local (espaço) e do tempo separadamente. � Espaço – é o local físico em que a história se passa, como, por exemplo, uma praia, determinado país ou universos imaginários. � Tempo – é “quando” a história acontece, que pode ser em tempos passados, no presente ou no futuro. Personagem (character) Os personagens, na ficção, podem ser caracterizados como principais ou secundários, estáticos ou dinâmicos. O personagem principal, também cha- mado de protagonista, é central na ação da história ou no desenvolvimento do tema. O conflito que enfrenta com seu antagonista (que pode ser uma pessoa, uma circunstância ou um local) provoca o conflito da história. Dando apoio ao protagonista, temos um ou mais personagens secundários. Personagens estáticos permanecem com as mesmas características do começo ao fim da história, enquanto os personagens dinâmicos mostram algum tipo de mudança à medida que a história se desenrola: de propósito, atitude, comportamento,. Ponto de vista O ponto de vista refere-se a quem conta a história e a como ela é contada. As maneiras possíveis de contar uma história são muitas, de modo que mais de um ponto de vista pode ser trabalhado em uma única história. No entanto, os vários pontos de vista que os autores utilizam na narração podem ser agrupados em duas grandes categorias, que veremos a seguir. Narrador de primeira pessoa O narrador apresenta o ponto de vista de apenas um personagem, usando o pronome I, o que limita a narrativa ao que o narrador em primeira pessoa conhece, experimenta, infere ou pode descobrir conversando com outros personagens. Comumente vemos dois tipos de narradores: 3Elements of fiction: setting (place and time) Rose Realce T_N4 Ele é preto 90%. � Narrador personagem, ou seja, faz parte da trama. � Narrador protagonista, aquele que é personagem da história e, também, seu narrador. Mark Twain deixa o personagem Huck Finn, em seu livro The Adventures of Huckleberry Finn, narrar sua própria história, utilizando esse ponto de vista. Nessa obra, ele é o narrador protagonista. Em The Great Gatsby, de F. S. Fitzgerald, a narração é feita por um narrador personagem (Nick Carraway), e o protagonista é o senhor Gatsby. Narrador de terceira pessoa O narrador, usando os pronomes he, she, they, é onisciente e leva o leitor para dentro dos pensamentos, sentimentos e motivos dos personagens, além de mostrar o que os personagens dizem e fazem, como, por exemplo, na obra Middlemarch, de George Eliot. O narrador limitado onisciente leva o leitor para dentro de um (ou no máximo muito poucos personagens), mas nem o leitor nem o personagem tem acesso à vida interior de qualquer um dos outros personagens da história. O conto Miss Brill, de Katherine Mansfield, é um exemplo desse tipo de narrador. O terceiro tipo, narrador objetivo, não vê a mente de qualquer perso- nagem; em vez disso, ele ou ela relata a ação e o diálogo sem dizer ao leitor diretamente o que os personagens sentem e pensam, como na obra The Rise of Pancho Villa, de John Reed. Existe, ainda, embora seja muito pouco utilizado, o narrador em segunda pessoa. O ponto de vista da segunda pessoa é uma forma de escrita na qual a perspectiva da narração é contada na voz do espectador, que é você, o lei- tor. Por exemplo, o texto poderia incluir: As you know, I don’t like Mondays (Como você sabe, não gosto das segundas-feiras). Observe que o narrador está incluindo você na história. O ponto de vista da segunda pessoa raramente é usado na ficção devido ao seu nível de dificuldade, já que é complicado desenvolver um conjunto de personagens e uma história em que a segunda pessoa seja apropriada. Além disso, não é fácil manter uma narrativaem segunda pessoa em um texto mais longo; é muito mais simples desenvolver um personagem fictício e contar a história a partir de seus olhos (e experiências). Elements of fiction: setting (place and time)4 George Elliot — pseudônimo da escritora Mary Ann Evans, do século XIX. Desenvolveu o método da análise psicológica característico da ficção moderna. Katherine Mansfield — escritora neozelandesa do século XX, considerada uma das maiores escritoras de contos. John Reed — escritor, ativista e jornalista americano que ficou famoso por sua obra “Os Dez Dias que abalaram o Mundo” sobre a Revolução Russa. Tema É a ideia central ou a mensagem transmitida pela história e, geralmente, é implícito, isto é, pode ser abstraído a partir de características que notamos no local, nos personagens e nas suas atitudes. O tema é um elemento unificador a partir do qual enredo, personagens, espaço, tempo e ponto de vista são organizados. Cuidado para não confundir o tema (ou seja, o sofrimento por conta da falta de amor) com o enredo (a sequência de eventos dos quais que o personagem faz parte e nos quais atua). Do mesmo modo que um detetive não pode analisar a cena do crime obser- vando somente uma pista, você, como leitor, não pode interpretar uma história baseando-se somente nos personagens ou no enredo. Essa posição poderá ofuscar os outros elementos. Tanto você quanto o detetive devem examinar toda a “área” cuidadosamente para determinar como os componentes do tema estão interligados e a importância de cada um no contexto. A partir disso, poderá tirar suas próprias conclusões. Contextualização (setting) Conforme já mencionamos, o componente setting, em inglês, abrange o espaço (lugar) e o tempo. Aqui, iremos desdobrar esses dois aspectos para que fique mais claro para você. Em uma obra de ficção, a contextualização carrega um impacto real e estabelece um certo “clima” na história. Imagine o que o filme “Titanic” seria sem a pressão, sobre os personagens, das águas invadindo o navio, ou se no livro Wuthering Heights, de Emily Brontë, não fossem descritas a destruição e a escassez devido à guerra civil americana. 5Elements of fiction: setting (place and time) A contextualização determina a hora e o local de uma história e pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento dos personagens e do conflito que ocorre. Às vezes, esse componente apoia ou define os valores e as inquietações dos personagens. Duas histórias sobre um conflito moral podem diferir visivelmente se uma estiver situada em tempos vitorianos e a outra nos tempos atuais. É importante considerar o cenário por trás da história para interpretar o verdadeiro sentido de personagens e do conflito. De fato, segundo Rozelle (2005), independentemente do local escolhido, o que importa para o leitor é que o autor estabeleça um sentido, que forneça credibilidade e que as ações aconteçam em uma localidade que seja coerente para o leitor. A contextualização de uma obra de ficção estabelece sua localização física, geográfica e histórica. O local onde a história se passa (se numa ilha tropical, numa festa, numa área de conflitos raciais) influencia nossa interpretação dos eventos e personagens. O tempo, ou seja, quando a história se desenvolve – durante a II Guerra Mundial, hoje, no futuro ou em um tempo não especificado – é igualmente importante. Abrangendo tempo e espaço, podemos chegar a dois tipos principais de contextualização, que destacaremos na continuação. Backdrop (cenário ou pano de fundo) Você já leu uma história, mas achou difícil descobrir em que período de tempo ela foi escrita ou onde se localiza? A história provavelmente teve um cenário de pano de fundo e é atemporal, ou seja, pode ter acontecido em qualquer momento da história ou em qualquer lugar – o foco, então, está na lição ou na mensagem que está sendo entregue. Muitos contos de fadas e fábulas têm cenários de pano de fundo e, nesses casos, é difícil identificar se o tempo é “passado, presente ou futuro”. Da mesma forma, a história poderia acontecer em qualquer região, cidade ou país, o que permite uma integração maior entre a obra e leitores de qualquer região ou cultura. Contextualização integrada Neste caso, a contextualização (tempo e espaço) é um elemento importante na compreensão da história e terá um impacto direto no enredo. Uma história que acontece em 1800, por exemplo, não terá tecnologia, certo? Então, os personagens terão que escrever uma carta, andar a cavalo ou pegar uma car- ruagem para visitar um amigo; eles não podem viajar longas distâncias em um Elements of fiction: setting (place and time)6 dia, como fazemos agora com carros, ônibus e aviões, e isso terá um impacto direto nos eventos da história, se esta incluir a movimentação de personagens. Desmembrando a contextualização, vamos abordar separadamente os elementos espaço e local a seguir. Espaço (place) O local onde uma obra de ficção estabelece sua localização física e geográfica impacta os eventos da história e seus personagens. Imagine uma história ro- mântica em que os personagens têm que enfrentar toda sorte de conflitos para permanecer juntos. O leitor poderá sentir muitas emoções: tristeza, compaixão, solidariedade, felicidade. Qual local você idealizaria para que as ações dos personagens ocorressem? Em uma metrópole agitada, em uma cidade pacata, em locais em situação de conflito, em um planeta distante? Como você pode perceber, o local onde a ação acontece afeta de modo significativo a história. Autores como William Faulkner, Jack London e Katherine Mansfield são conhecidos por utilizar o espaço para ancorar o tema de suas histórias. O local é extremamente importante para uma história e pode ter grandes efeitos na trama e nos personagens. Se Dorothy tivesse morado na área urbana de Nova Iorque, em vez de em uma fazenda, e tivesse sido transportada para Washington, em vez de Oz, toda a trama de The Wonderful Wizard of Oz seria completamente diferente. Nós nunca veríamos Dorothy e suas amigas ganhando coragem e lutando contra a maldade, e o tema da história sobre a importância do lar e da família talvez seria perdido para os leitores. Uma das funções de se estabelecer o local em que a ação se desenvolve é destacar o comportamento de um personagem ou alguma característica do enredo. Segundo Kirzner e Mandell (1994), muitas vezes o conflito da história tem a ver com o local em que o personagem se encontra. Por exemplo: um cidadão urbano vivendo no campo, uma pessoa honesta convivendo em um ambiente de corrupção ou talvez um imigrante inserido em uma cultura bem diferente da sua. Em uma abordagem mais ampla, podemos caracterizar o espaço, na nar- ração, conforme segue: � Espaço ou ambiente físico (as cenas em que ações acontecem, o local onde os personagens atuam e se movimentam). Pode ser um quarto, um bar, uma praça, etc. 7Elements of fiction: setting (place and time) � Espaço ou ambiente social (local frequentado pelos personagens se- cundários: onde vivem e interagem; uma cidade no campo, o clube, a casa dos amigos). � Espaço ou ambiente psicológico (os sentimentos e pensamentos do personagem, seus pensamentos, vivências e emoções). � Espaço ou ambiente (localidade física geográfica, por exemplo, uma cidade ou país) em que os eventos acontecem. Em uma visão mais restrita, podemos dividir em duas grandes áreas: � Espaço físico: a localização física (uma sala, um parque) ou geográfica (país, região, cidade) onde os eventos acontecem. � Espaço psicológico: emoções e experiências do personagem que pode- mos perceber a partir de seus pensamentos. Podemos encontrar, também, o espaço não explicitamente inserido no texto, mas revelado por informações passadas pelos personagens ou descritas pelo narrador, como em: She was locked and couldn’t leave. She felt trapped and could smell the freshly trimmed lawn. Nesse exemplo, a personagem estava trancada em um local aparentemente pequenojá que se sentia encurralada (trapped). Provavelmente, encontrava- -se em uma área campestre ou próxima a um jardim, já que sentia o odor da grama recentemente aparada. Segundo Kirzner e Mandell (1994), o fato de a história se situar em am- bientes internos ou externos pode ser significativo. Alguns interiores podem ser limitadores ou ter um grande impacto psicológico. Por exemplo, o narrador em The Yellow Wallpaper, de Charlotte Perkins Gilman, sente-se reprimido pelo papel de parede de seu quarto que parece sufocá-lo. Em muitos contos de Edgar Allan Poe, o narrador se encontra física ou psicologicamente encurralado, em local confinado ou sufocante. No conto de Edgar Alan Poe The Tell-Tale Heart, podemos ver como o elemento espaço se desenvolve. Resumidamente, a história trata de uma pessoa, provavelmente mentalmente perturbada, que vive em um quarto da casa de um idoso e começa se incomodar com o som do batimento cardíaco desse senhor e, por conta disso, acaba por assassiná-lo. O personagem esconde o corpo, mas, quando a polícia chega, ele ouve o coração do senhor batendo e acaba entregando-se. A ação se passa na casa onde o narrador vivia (que seria o espaço ou ambiente físico da história), onde os eventos ocorreram, que está explícito na Elements of fiction: setting (place and time)8 história: As the bell sounded the hour, there came a knocking at the street door. I went down to open it. Podemos depreender que ele está na parte superior da casa e teve que descer para atender a porta. Ao mesmo tempo, existe o local a partir do qual o narrador apresenta os eventos, que podemos considerar o espaço psicológico, ou seja, aquilo que a mente doentia do assassino imaginava. His room was as black as pitch with thick darkness. So I knew that he could not see the opening of the door. Pela descrição, percebemos que o quarto estava completamente escuro e que a pessoa que se encontrava no quarto (o dono da casa) não perceberia que a porta estava sendo aberta. Pelo estado mental do narrador, podemos ficar em dúvida em relação a isso ser realmente um fato ou somente uma fantasia partindo da mente do narrador. Para ler o conto The Tell-Tale Heart, acesse o link a seguir. https://goo.gl/cN8Axv Vamos ver o efeito do elemento espaço em outras obras de ficção? Na peça Romeo and Juliet, por exemplo, temos: Two households, both alike in dignity, In fair Verona, where we lay our scene, From ancient grudge break to new mutiny, Where civil blood makes civil hands unclean. Observe que, nesse trecho, William Shakespeare informa o local (two households), aqui entendido como duas famílias, a cidade (Verona) e o país (Itália) onde a ação acontece, fornecendo, também, a situação socioeconômica, both alike in dignity. A história foi situada na Itália país talvez porque esse país foi, na época, um local de pessoas afluentes e de espírito inflamado. No livro East of Eden, de John Steinbeck, temos: The Salinas Valley is in Northern California. It is a long narrow swale between two ranges of mountains, and the Salinas River winds and twists up the center until it falls at last into Monterey Bay. 9Elements of fiction: setting (place and time) https://goo.gl/cN8Axv I remember my childhood names for grasses and secret flowers. I remember where a toad may live and what time the birds awaken in the summer—and what trees and seasons smelled like—how people looked and walked and smelled even. The memory of odors is very rich. Aqui, o local é detalhadamente descrito, criando um efeito de frescor e vivacidade a partir da inclusão de elementos da natureza. Dessa forma, o elemento espaço, ou seja, a ambientação na história, tra- zida de modo criativo pelos autores, pode ter um impacto direto no enredo, com grande influência no comportamento dos personagens, direcionando o sentido da trama. Tempo (time) Inserido na contextualização, o tempo é tão importante quanto o local. Em livros como A Night to Remember, de Walter Lord (sobre o Titanic), e Farewell to Arms, de Ernest Hemingway, (situado na Primeira Guerra Mundial), o tempo é crucial para interpretarmos as histórias. Assim, é importante observarmos o efeito do tempo nos eventos sendo descritos. Em que período (século, década, ano) a ação ocorre? Por quanto tempo ela se prolonga (anos, meses, dias, horas)? Para melhor compreensão, podemos subdividir esse componente em: � Tempo narrativo: é o tempo percebido pelo narrador, que abrange o período compreendido desde o início até o fim da história. A con- figuração do tempo pode abranger referências específicas a datas ou eventos ou pode estar implícita pela descrição de roupas, mobiliário ou algum aspecto cultural presente em determinada época. Para histórias que aconteçam em curto espaço de tempo, a indicação do período (manhã, tarde, noite) ou da estação do ano pode ser relevante. Muitas vezes, a passagem do tempo é indicada pela mudança de capítulo ou até mesmo por uma quebra no fluxo da história, no próprio capítulo. Em obras como The Magic Mountain, de Thomas Mann (1924), que é contada a partir de um sanatório de tuberculosos no alto dos Alpes suíços, o tempo inicialmente passa com uma lentidão excruciante para o protagonista, embora comece a acelerar à medida que a rotina diária se desdobra em dias e anos. � Tempo histórico: é o tempo facilmente observável pela estação do ano, citação de fatos históricos ou até mesmo pela descrição dos objetos, Elements of fiction: setting (place and time)10 costumes do local ou vestimentas dos personagens. Um período histórico específico e os eventos associados a ele podem ser muito significativos no decorrer da trama. É relevante saber se a história acontece durante uma era de instabilidade política, por exemplo, ou durante um tempo em que havia atitudes repressivas ou permissivas acerca da sexualidade ou do papel da mulher na sociedade ou, ainda, de prosperidade ou recessão. Eventos históricos ou normas culturais de determinado período podem limitar, multiplicar ou explicar o comportamento dos personagens. Por exemplo, no conto de F. S. Fitzgerald Bernice bobs her hair, escrito em 1920 e situado em uma pequena cidade do meio-oeste americano, ter um cabelo curto (bob the hair) não era bem visto pela sociedade da época. Então, compreender os motivos pelos quais a personagem tomou tal decisão e seus reflexos na história tem muito a ver com o contexto (tempo) em que se passaram os eventos. � Tempo psicológico: é aquele que se situa na mente do personagem e não tem relação com o tempo narrativo ou histórico do personagem. Pode também incluir flashbacks, ou seja, lembranças do narrador ou dos personagens. No livro Mrs. Dalloway, de Virigina Woolf (1923), o tempo é claro: junho de 1923. A partir do monólogo interior (stream of consciouness), a personagem narra os eventos (também utilizando flashbacks) que aconteceram ao longo de apenas um dia. Stream of conciousness (fluxo de consciência ou monólogo interior) é um modo narrativo que descreve os acontecimentos a partir do fluxo do pensamento que ocorre na mente dos personagens. É um recurso muito utilizado na literatura por James Joyce, Virginia Woolf e bastante comum na obra de Edgar Alan Poe. Outras abordagens que levam em conta o tempo incluem romances ou contos de mistério ou histórias policiais, notavelmente desenvolvidos por Edgar Alan Poe, Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, dentre outros. Diferentemente dos enredos da tragédia clássica, em que os deslizes fatais levavam gradualmente e inevitavelmente a um final infeliz, as histórias 11Elements of fiction: setting (place and time) policiais geralmente começam com o evento desagradável e retrocedem no tempo para descobrir as razões pelas quais o presente se transforma. Há outros exemplos de romances que progridem tanto para frente (em alguns aspectos) quanto para trás no tempo. O conto de F. S. Fitzgerald The Curious Case of Benjamim Button segue a vida de um personagemque nasce como um homem de 70 anos e envelhece para trás, crescendo de um adulto para um adolescente mal-humorado e depois para uma criança pequena, depois para um bebê e, finalmente, para o esquecimento. Time’s Arrow, de Martin Amis (1991), narra a vida de um médico alemão em uma cronologia reversa desorientadora, começando com sua vida na aposentadoria na América, então sua prática como médico e, em seguida, “volta” para sua participação no holocausto nazista. Imortalidade, ou tempo de vida eterna, é outro assunto popular na ficção, e os seres e espécies imortais são abundantes na literatura ao longo dos tempos e através das culturas. Entretanto, muitas vezes, a imortalidade é vista na literatura como uma maldição. Por exemplo, no conto The Mortal Immortal, de Mary Shelley, a autora descreve um homem que se torna imortal depois de beber um elixir, mas, ao contrário de suas esperanças e expectativas, ele se vê amaldiçoado a viver eternamente em uma existência torturante, observando impotente sua família e amigos envelhecerem e morrerem. Outro tópico presente em textos literários e imortalizado na obra de H.G.Wells The Time Machine (“A Máquina do Tempo”) (1895), foi a viagem pelo tempo. Embora Wells utilizasse um dispositivo para esse fim, em ou- tras obras que se seguiram, os personagens “dormem” e “acordam” em eras passadas ou futuras. A contextualização (setting) que se configura na conjunção de tempo e espaço é um dos elementos do texto ficcional que o autor tem em mãos para criar certo clima à sua história. O romance Lord of the Flies, de William Golding, é um exemplo. Nele, Golding retrata a história de garotos que se veem perdidos em uma ilha quando um avião com estudantes é derrubado durante um período de guerra. Alguns passageiros morrem, incluindo o piloto. Assim, as crianças ficam sozinhas, sem nenhum adulto que possa lhes ajudar. Nessa história, local e tempo têm um papel importante. A descrição do local, The shore was fledged with palm trees. […] The ground beneath them was a bank covered with coarse grass, torn everywhere by the upheavals of fallen trees, scattered with decaying coconuts and palm saplings. Behind this was the darkness of the forest […], passa a ideia de uma área selvagem, com árvores caídas e cocos espalhados em uma floresta sombria. Elements of fiction: setting (place and time)12 Ao longo do texto, o clima (weather) tem um papel significativo, pois representa o humor, o comportamento e as atitudes dos garotos em todo o enredo. Durante o dia, a praia parece brilhante, enquanto o oceano está calmo e não há conflito. Mas à noite, as coisas mudam, por exemplo, quando um dos personagens (Simon) é morto, e surge uma tempestade violenta com o oceano agitado: The storm explodes over the island. In the whipping rain, the boys run for shelter. Howling wind and waves wash Simon’s mangled corpse into the ocean, where it drifts away, surrounded by glowing fish. Qualquer criação literária, para ter sustentação, precisa incluir alguns ele- mentos básicos, conforme já mencionamos: enredo, contextualização (espaço e tempo), personagens, ponto de vista e tema. Todos eles se inter-relacionam ao sabor da imaginação e da intenção dos autores. Entretanto, espaço e tempo podem alterar significativamente o curso da história. Imagine o náufrago Robison Crusoe em outro local que não fosse uma ilha deserta! Além da orientação espacial e temporal, os autores podem utilizar esses recursos para estabelecer o “clima” da história. Os eventos, se ocorrerem durante o dia ou à noite, podem alterar o enredo. Podem, também, criar sus- pense: imagine que existe uma bomba que irá explodir em 5 minutos caso o herói não consiga desarmá-la. Os locais, representados pelo elemento espaço, também ganham um con- torno interessante com descrições poéticas que apelam à nossa imaginação. Podem emocionar e até surpreender: imagine se o escritor escolhe, por exemplo, um lugar romântico para ser palco de um crime sangrento: Paris ao luar ou Veneza ao cair da tarde. Todo autor espera que nós nos identifiquemos com a sua história. A uti- lização criteriosa da contextualização (tempo e espaço) transporta o leitor para mundos, muitas vezes, estranhos à nossa realidade e nos dá uma ideia de como são os personagens e porque se comportam de determinada maneira. Desse modo, interagimos com a história, aproximamo-nos dos personagens, sensibilizamo-nos e ficamos, por um tempo, alheios a tudo que nos cerca. 13Elements of fiction: setting (place and time) 1. Os elementos dos textos de ficção são utilizados para dar sustentação à história. No trecho a seguir, podemos localizar: “It was a chilly morning in February, Andressa was walking with her cousin along the empty fields of Minnesota”. a) tempo, espaço, personagens, ponto de vista. b) personagens, tema, ponto de vista e história. c) tema, personagens, espaço e tempo. d) tema, história, enredo, tempo. e) espaço, personagem, ponto de vista, história. 2. O elemento contextualização, que envolve tempo e espaço, pode ser empregado de modo diferenciado pelos autores dependendo de sua intencionalidade e, muitas vezes, do próprio gênero em que se insere. O trecho a seguir é um típico exemplo de: Once upon a time there was an old Sow with three little Pigs, and as she had not enough to keep them, she sent them out to seek their fortune. The first that went off met a Man with a bundle of straw, and said to him, “Please, Man, give me that straw to build me a house”; which the Man did, and the little Pig built a house with it” a) tempo e espaço. b) espaço. c) tempo. d) contextualização integrada. e) pano de fundo. 3. No trecho a seguir, o autor contextualiza a história a partir de: From the tiny window, on a hazy morning, little did Peter see down there. Stiff guards in their grey uniforms walk to and fro along the wall. He had to wait a long time until being back to his children’s arms and he knew this could only happen after he had paid for his sins. a) espaço implícito. b) tempo implícito. c) espaço psicológico. d) espaço físico. e) tempo e espaço psicológicos. 4. Considerando as afirmações a seguir, escolha a alternativa que contenha a sequência correta: I. O ponto de vista literário indica o assunto principal da história ou seu tema. II. O tempo psicológico é utilizado especialmente para a descrição de personagens insanos. III. O tempo narrativo não tem necessariamente a ver com o tempo histórico. IV. Espaço e tempo são componentes da contextualização. a) I, III e IV. b) II e IV. c) III e IV. d) I e II. e) Somente a III. 5. A partir das informações aprendidas sobre contextualização (tempo e espaço), indique a alternativa verdadeira a partir das afirmações a seguir: Elements of fiction: setting (place and time)14 I. A contextualização implica situar os personagens em local e período implícitos ou explícitos. II. O fluxo da consciência tem a ver com o espaço psicológico que se encontra na mente do narrador. III. O tempo auxilia na localização psicológica dos personagens. IV. O espaço pode ser inferido pela descrição de vestimentas e fatos históricos. a) Somente as afirmativas I e IV estão corretas. b) Somente as afirmativas II e IV estão corretas. c) Somente as afirmativas I e III estão corretas. d) Somente as afirmativas II e IV estão corretas. e) Somente as afirmativas I e II estão corretas. KIRSZNER, G. L.; MANDELL, R.S. Fiction: Reading, Reacting, Writing. San Diego: Harcourt Brace & Company, 2004. ROZELLE, R. Write Great Fiction: Description & Setting. New York: Writer’s Digest Books, 2005. Leituras recomendadas BRAINLY. What is your question? 15 mar. 2018. Disponível em:<https://brainly.com/ question/9196846>. Acesso em: 25 jul. 2018. GOLDMAN, J. You Set Me Up: Importance of Setting in Crime Fiction. 06 jun. 2013. Disponível em: <http://www.joelgoldman.com/you-set-me-up-importance-of-setting- in-crime-fiction/>. Acessoem: 25 jul. 2018. LITERARY DEVICES. Literary Devices and Terms. 2018. Disponível em: <https://literaryde- vices.net>. Acesso em: 25 jul. 2018. LITERARY TERMS. Setting. Disponível em: <https://literaryterms.net/setting/>. Acesso em: 25 jul. 2018. NOW NOVEL. Story setting ideas: 6 effective setting examples and tips. 2016. Disponível em:<https://www.nownovel.com/blog/talking-setting-place/>. Acesso em: 25 jul. 2018. PORTAL EDUCAÇÃO. O espaço da narrativa. 2018. Disponível em: <https://www.por- taleducacao.com.br/conteudo/artigos/pedagogia/o-espaco-da-narrativa/34413>. Acesso em: 25 jul. 2018. SETTING: NARRATIVE. Wikipédia, 2018. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/ Setting_(narrative)>. Acesso em: 25 jul. 2018. 15Elements of fiction: setting (place and time) https://brainly.com/ http://www.joelgoldman.com/you-set-me-up-importance-of-setting- http://vices.net/ https://literaryterms.net/setting/ https://www.nownovel.com/blog/talking-setting-place/ https://www.por/ http://taleducacao.com.br/conteudo/artigos/pedagogia/o-espaco-da-narrativa/34413 https://en.wikipedia.org/wiki/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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