Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEXTOS FUNDAMENTAIS DE POESIA EM LÍNGUA INGLESA Verse: functions of language Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as funções da linguagem. Analisar a coexistência das funções da linguagem em textos em verso. Identificar as funções da linguagem a partir das marcas linguísticas em textos em verso. Introdução Muitos estudiosos se preocuparam em entender o processo comuni- cativo, e o modelo proposto pelo russo Roman Jakobson (1896-1982) é o utilizado para examinarmos os elementos desse processo e suas relações. A esquematização de Jakobson permite a compreensão da natureza da linguagem verbal com seus desdobramentos orais e es- critos e intenções explícitas e implícitas, além de como identificá-las em textos em verso. Neste capítulo, você aprenderá as funções da linguagem, ou seja, de que forma a linguagem é construída no processo comunicativo pelo emissor, de acordo com a sua intenção. Além disso, perceberá que di- versas funções de linguagem podem estar presentes no mesmo texto em verso, bastando, para identificá-las, conhecer as marcas linguísticas que definem essas funções. C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 1 11/07/2018 08:44:13 Funções da linguagem A linguagem é estruturada de forma a atender os objetivos aos quais se des- tina. Portanto, o sistema de signos (unidade de linguagem) é organizado de acordo com esses objetivos. Por exemplo, a linguagem publicitária tem a intenção de convencer o público a consumir determinado produto ou serviço. Para isso, precisa organizar a mensagem de maneira a seduzir o consumidor, para isso, a seleção e a combinação de palavras será feita de acordo com essa intenção. Assim, é possível identifi car na linguagem múltiplas funções, que foram classifi cadas pelo linguista russo Roman Jakobson (1896-1982) em seis tipos, que você estudará neste capítulo: referencial, emotiva, poética, fática, conativa, metalinguística. Sabemos que há predominância de um dos tipos, como no exemplo que mencionamos da linguagem publicitária, cuja predominância é a função cona- tiva, que busca convencer o receptor. No entanto, em uma mesma mensagem, várias funções podem coexistir, além daquela predominante. Depois de compreender as possíveis funções da linguagem, você vai examinar a coexistência dessas funções na poesia. Embora seja possível identificar que a função poética predomina na poesia, outras funções podem estar presentes, e você será capaz de identificá-las e analisá-las. Para isso, você precisará prestar atenção nas marcas linguísticas que são caracte- rísticas de cada função. Por exemplo, o uso da primeira pessoa marca um texto mais pessoal do que um texto em terceira pessoa. A mesma situação acontece também com outras marcas linguísticas, como reticências, pontos de exclamação, entre outras. Sendo assim, a análise cuidadosa do poema e das funções de linguagem nele presentes podem tornar mais claras as suas possibilidades de interpretação. Segundo Jakobson, no ato comunicativo temos o emissor que envia a mensagem ao receptor usando um código (linguagem), que se refere a um contexto (referente) e, para enviar essa mensagem, faz uso de um meio físico, que é o canal. Observe a ilustração da Figura 1. O texto em verso: funções da linguagem2 C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 2 11/07/2018 08:44:13 Figura 1. O modelo das funções da linguagem elaborado por Jakobson. Fonte: Adaptada de Desde el Aula (2010, documento on-line). De acordo com a intenção do emissor, a linguagem é classificada em seis funções, dependendo do elemento de comunicação a que se refere, conforme detalhado a seguir. a) Função referencial: está centrada no referente (contexto) e busca transmitir informações de forma objetiva. Exemplos: notícia de jornal, relatórios técnicos, artigos científicos e atas de reuniões. b) Função emotiva: centra-se no emissor e exprime seu estado de ânimo, suas emoções e subjetividade. Exemplo: cartas, diários e autobiografia. c) Função poética: centrada na mensagem, preocupa-se com a maneira como a mensagem será transmitida, para isso, utiliza recursos como figuras de linguagem e musicalidade, selecionando palavras e expres- sões. Exemplos: poesia e textos literários. d) Função fática: é usada para estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação, esse tipo de mensagem objetiva testar a eficiência do canal. Essa função tem como característica o uso de repetições, fórmulas vazias de conteúdo como “Alô!” (em conversas telefônicas), convenções sociais de saudação ou despedida, por exemplo, “como vai?”, “até logo!”, etc. 3O texto em verso: funções da linguagem C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 3 11/07/2018 08:44:14 e) Função conativa: procura persuadir, convencer o receptor. Exemplos: discurso publicitário, propaganda política, instruções. f) Função metalinguística: utiliza a linguagem para falar de si mesma. Exemplos: gramáticas, dicionários (DINIZ; BORIN, 2010). Cada uma das funções se relaciona mais com determinado elemento presentes na comunicação e, assim, determinam o objetivo dos atos comu- nicativos. Você pode associar a função referencial ao contexto, a emotiva ao emissor, a poética à mensagem, a fática ao canal, a conativa ao receptor e a metalinguística ao código (linguagem). Embora haja uma função que predomine em determinada situação comunicativa, vários tipos de lingua- gem e funções podem estar presentes naquela situação. Vamos examinar, de forma um pouco mais detalhada, cada uma das funções de linguagem e suas características. A linguagem referencial faz uso da linguagem denotativa, que é aquela que possui uma aproximação mais direta com o objeto, a fim de produzir informações claras e sem ambiguidades. Sua ênfase está no contexto ou refe- rente, ou aquilo de que ou quem se fala. Essa função é dominante no discurso científico e tem por finalidade transmitir conhecimentos. Usa-se a terceira pessoa do singular ou do plural para que seja obtido um tom impessoal. A estrutura das notícias de jornal, rádio e televisão, por exemplo, é organizada a partir da função referencial. Linguagem denotativa é aquela em que as palavras têm sentido literal, por exemplo, “Tenho dois cachorros em casa.”, a palavra cachorro se refere ao animal. Já na lingua- gem conotativa as palavras têm sentido figurado, por exemplo, “Aquele rapaz é um cachorro!”, neste caso, a palavra cachorro tem sentido figurado, é pejorativa e quer dizer que o rapaz não é considerado uma boa pessoa ou é infiel. A função emotiva deixa transparecer as intenções do emissor, marcando o uso em primeira pessoa. Implica sempre uma visão pessoal, sentimentos e opiniões. Como exemplos dessa função, podemos citar as cartas, os diários, O texto em verso: funções da linguagem4 C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 4 11/07/2018 08:44:14 as novelas e os textos poéticos. Até mesmo a pintura pode ter em sua lin- guagem essa função, como Samira Chalhub aponta em seu livro “Funções da Linguagem”: A pintura expressionista — conferir Van Gogh — escorre interjeição emotiva — no traço angustiado, na cor forte, na deformação do objeto, no modo como esses elementos limitam-se, comprimidos, no espaço da tela e da moldura, ou buscam libertar-se do espaço da tela (CHALHUB, 2004, p. 18). Na função poética, o emissor se preocupa com a maneira como a mensagem será transmitida, e a linguagem é usada de forma criativa. Percebe-se o uso de palavras em seu sentido conotativo, figuras de linguagem e a seleção de vocabulário. Busca-se, aqui, a harmonia estética, como nos chama a atenção Chalhub: “[...] na função poética, a mensagem está voltada para si mesma: as características físicas do signo, seu estatuto sonoro, visual, são privilegiadas, decorrendo um sentido não previsto numa mensagem de teor puramente con- vencional, por exemplo” (CHALHUB, 2004, p. 38). Em geral, encontramos essa função nos textos literáriose na poesia, mas não só nesses gêneros. A publicidade e, inclusive, expressões cotidianas utilizam esse recurso. A função fática tem o objetivo de estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação. Por essa razão, enfatiza o canal, já que o testa, importando, aqui, a relação entre emissor e receptor da mensagem. As saudações, cumprimentos e convenções sociais são exemplos dessa função. Para ilustrar melhor, veja o que disse Jakobson: O empenho em iniciar e manter a comunicação é típico das aves falantes; destarte, a função fática da linguagem é a única que partilham com os seres humanos. É também a primeira função verbal que as crianças adquirem; elas têm tendência a comunicar-se antes de serem capazes de ouvir ou receber comunicação informativa (JAKOBSON, 1969, p. 127). Respostas automáticas e repetitivas, para checar a compreensão do re- ceptor, por exemplo “certo?” ou “entende?” ilustram bem essa função de linguagem. Na função conativa, a mensagem está direcionada ao receptor, que deve ser convencido de algo. Nessa função, temos o uso da segunda ou terceira 5O texto em verso: funções da linguagem C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 5 11/07/2018 08:44:14 pessoa, verbos no imperativo e infinitivo e o uso do vocativo, por exemplo, “Corra e adquira nosso novo modelo!”, “Fazer é sempre melhor do que não fazer.”, “Ó Deus, onde estás?”. Você pode lembrar da linguagem publicitária e dos discursos de políticos. Na função metalinguística, a ênfase é na própria linguagem. O emissor explica um código (linguagem) utilizando o próprio código, como nos di- cionários e nas gramáticas. Na arte também verificamos essa função com frequência, como poemas que tratam de sua própria construção, documentários sobre como fazer filmes, entre outros. Em nosso cotidiano, todas as vezes que pedimos explicações ou explicamos alguma coisa, fazemos uso da função metalinguística. Como você pode perceber, há sempre a predominância de uma das fun- ções, mas é comum, em uma mesma situação de comunicação, encontrar mais do que uma ou duas funções de linguagem. A função predominante responderá à pergunta ‘com qual intenção esta mensagem foi transmitida?’; e as outras funções estarão presentes para apoiar aquela intenção. No entanto, você deve atentar para o fato de que, algumas vezes, a intenção não está explícita, ou seja, “[...] a função de linguagem que predomina em termos de presença explícita pode não ser dominante em termos de intenção” (AR- CAND; BOURBEAU, 1995 apud HÉBERT, 2011, documento on-line). Por exemplo, o falante pode dizer: “A campainha tocou!”, que aparentemente teria uma função de linguagem referencial, informativa. Contudo, na verdade, a intenção seria convencer o receptor a atender a porta (função conativa: “Atenda a porta!”). Você deve estar se perguntando, então, se na poesia teremos sempre a função poética? Sim, pois a forma é parte fundamental da escrita do poema, mas outros tipos de função podem coexistir com a função poética. Segundo Jakobson (1969), na poesia épica, além da função poética predominante, a função referencial está presente como secundária, com o uso da terceira pessoa e as descrições das aventuras do herói; na poesia lírica, por sua vez, há, além da predominância da função poética, secundariamente a função emotiva, com o uso de primeira pessoa, interjeições e adjetivos que expressam a emoção e os sentimentos do eu lírico. É sobre essa coexistência de funções na poesia que você vai se debruçar na próxima seção. O texto em verso: funções da linguagem6 C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 6 11/07/2018 08:44:14 Coexistência de funções de linguagem nos textos em verso A função poética valoriza a forma do texto, a seleção e a combinação dos signos, chamando a atenção para a mensagem, organizada de maneira harmoniosa e condensada, o que provoca o leitor a capturar as leituras possíveis, além de usufruir do prazer estético proporcionado pelo som e pelo ritmo. O efeito no receptor da mensagem é o de estranhamento, ou desautomatização, já que as palavras são usadas de forma diversa ao seu uso cotidiano, com sentido fi gurado, além do uso de fi guras de linguagem e da exploração de sentidos diversos na seleção de palavras. Essa função não está presente apenas na poesia e nos textos literários, embora predomine nesses gêneros. É uma linguagem que seduz pela articulação artística e desafi a o receptor, pois, ao contrário da prosa, não traz o seu conteúdo expresso de forma imediata. A análise do verso é de competência da poética, que é a parte da linguística que trata a função poética e sua relação com as demais funções da linguagem. Para Jakobson (1969, p. 118), a questão central da poética é pensar “[...] o que faz de uma mensagem verbal uma obra de arte?”, ou seja, pensar a função poética como predominante nas mensagens que chamam a atenção do receptor por suas características estéticas, que as mensagens ordinárias não possuem. Para isso, é preciso examinar a maneira como a mensagem se organiza, ou seja, como selecionamos no paradigma e organizamos no sintagma e conceitos da linguística que definem a estruturação da linguagem (entenda melhor esses conceitos no box Saiba Mais, a seguir). A linguagem apresenta um caráter duplo e se configura por meio de dois eixos: paradigma e sintagma. O paradigma é o eixo vertical das escolhas, ou seja, todas as palavras existentes na língua, que estão na memória do falante e são selecionadas para formar as frases, orações e períodos. O sintagma representa o eixo horizontal, quando há a combinação das palavras de forma linear, uma após a outra, formando frases; é a realização da língua, a materialização do pensamento. 7O texto em verso: funções da linguagem C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 7 11/07/2018 08:44:14 Na Figura 2, você pode observar as relações de paradigma, ou o “es- toque” de palavras da língua (artigo, substantivos, verbos, complementos) que serão selecionados pelo emissor; e as relações de sintagma, ou seja, a combinação dessas palavras para formar frases, orações e textos. A língua sempre exigirá a seleção e a combinação de palavras para que se possa verbalizar o pensamento. Figura 2. Relações de sintagma e paradigma. Fonte: Adaptada de Lima (2017, documento on-line). Jakobson explica que a função poética projeta o princípio da equivalência do eixo da seleção, que se apoia na similaridade, isto é, para comunicar o meu pensamento (sobre o eixo da combinação) posso escolher homem, guri ou menino, como no exemplo, apoiado na contiguidade, uma palavra após a outra, como “o homem viu o alho”. Na combinação, as palavras mantêm relações de contiguidade e se relacionam a partir da concordância nominal e verbal, por exemplo. Já na poesia, combinam-se palavras sem respeitar essas relações de sintagma, ou seja, escolhem-se os sons e as palavras (paradigma) que são combinados com outros sons ou palavras (sintagma), por exemplo, “Vim, vi, venci”. A observação das funções de linguagem ajuda no processo de compreensão do poema. Essas funções coexistem na poesia, ou seja, o poema não é somente com- posto pela função poética, a não ser em poemas bastante experimentais. É comum encontrar outras funções no mesmo poema, como a função referencial, presente nos poemas épicos, a função emotiva nos poemas líricos, a função conativa em poemas da literatura engajada, a função fática em poemas que chamam a atenção à interação ou às convenções sociais e a função metalin- guística, quando poeta fala sobre o seu fazer artístico. Veja alguns exemplos O texto em verso: funções da linguagem8 C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 8 11/07/2018 08:44:14 e perceba que, ao identificar as funções presentes nos poemas, tem-se uma compreensão mais clara do seu significado. A Coat, William Butler Yeats I MADE my song a coat Covered with embroideries Out of old mythologies From heel to throat; But the fools caught it, Wore it in theworld’s eyes As though they’d wrought it. Song, let them take it, For there’s more enterprise In walking naked. No poema A Coat, além da função poética, com a escolha de palavras, figuras de linguagem (metáfora do casaco que veste o artista protegido por sua arte e metonímia da mitologia como tradição) e rimas, temos a função metalinguística, pois ele trata do fazer poético (a sua música, que é o poema, feita como um casaco bordado de mitologias antigas, da cabeça aos pés), e a função emotiva, que revela os sentimentos do eu lírico com o uso da primeira pessoa e a palavra MADE em letras maiúsculas, em que o poeta expressa que ele foi o artista que criou a poesia, apropriada pelo mundo, que a entende como se a tivesse criado (talvez se referindo ao público, mídia e críticos). O artista se despe das conceituações acerca de sua poesia, pois considera um projeto melhor. Cosmopolitan Greetings, Allen Ginsberg (fragmento) Stand up against governments, against God. Stay irresponsible. Say only what we know & imagine. Absolutes are Coercion. Change is absolute. Ordinary mind includes eternal perceptions. Observe what’s vivid. Notice what you notice. Catch yourself thinking. Vividness is self-selecting. If we don’t show anyone, we’re free to write anything. Remember the future. Freedom costs little in the U.S. 9O texto em verso: funções da linguagem C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 9 11/07/2018 08:44:15 No fragmento do poema de Ginsberg, escrito em verso livre (sem rima), você pode identificar, além da função poética, com a seleção de palavras e a sua articulação nos versos, a função conativa, marcada pelo uso frequente do imperativo. É um poema engajado, que exalta a resistência e o livre pensar, contra a opressão do conservadorismo. Marcas linguísticas no texto em verso Agora que você já estudou quais as funções da linguagem e de que forma elas podem aparecer no texto em verso, iremos identifi car as diferentes funções de linguagem presentes em um mesmo texto. Para isso, você deverá estar atento às marcas linguísticas que caracterizam cada função. Por exemplo, em um artigo científi co, utiliza-se a terceira pessoa para manter o texto impessoal, mas em uma carta pessoal, usa-se a primeira pessoa. Examine as marcas linguísticas, descritas a seguir, que são utilizadas para cada tipo de função de linguagem. a) Referencial: uso da terceira pessoa (aquele de quem se fala), vocabulário em sentido denotativo. b) Emotiva: marcada pelo uso da primeira pessoa, tornando o texto subje- tivo. Uso de adjetivos que expressam opinião, interjeições, reticências, pontos de exclamação e de interrogação, para expressar as emoções do emissor. c) Poética: predominância de linguagem conotativa, em que as palavras aparecem fora de seu sentido restrito, uso de figuras de linguagem, polissemia, inversões e repetições. d) Fática: perguntas ou respostas que atestam o funcionamento do ca- nal (alô, como vai?) e interjeições que expressam dúvidas (“Hein?”, “Como?”). e) Conativa: verbos no imperativo, uso do vocativo e da segunda pessoa. f) Metalinguística: pronomes demonstrativos, advérbio de lugar “aqui” quando se referir ao próprio texto, vocabulário específico da linguagem a que se refere. Você pode perceber que, a partir da observação da seleção de palavras do poema, é possível identificar as intenções explícitas e implícitas que estão O texto em verso: funções da linguagem10 C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 10 11/07/2018 08:44:15 presentes nele e, assim, facilitar a sua interpretação. Veja mais alguns exemplos e as marcas linguísticas que possibilitam identificar as funções que estão atuando em cada caso, além da função poética, característica da poesia. Paradise Lost, Book I, John Milton Of Man’s first disobedience, and the fruit Of that forbidden tree whose mortal taste Brought death into the World, and all our woe, With loss of Eden, till one greater Man Restore us, and regain the blissful seat, Sing, Heavenly Muse, that, on the secret top Of Oreb, or of Sinai, didst inspire That shepherd who first taught the chosen seed In the beginning how the heavens and earth Rose out of Chaos: or, if Sion hill Delight thee more, and Siloa’s brook that flowed Fast by the oracle of God, I thence Invoke thy aid to my adventurous song, That with no middle flight intends to soar Above th’ Aonian mount, while it pursues Things unattempted yet in prose or rhyme. Neste fragmento, que abre o livro I do poema épico inglês Paradise Lost, de John Milton (1608-1674), temos, além da função poética, mais duas outras funções: a referencial, usando uma linguagem informativa para descrever o tema bíblico da desobediência de Adão e fazendo referências a locais sagrados; e a função emotiva, quando, ao invocar as musas, o eu lírico usa a primeira pessoa, pedindo inspiração para criar o seu poema inovador, a sua música, falando de algo ainda não tentado na prosa ou na poesia. I found the words to every thought, Emily Dickinson I found the words to every thought I ever had — but One — And that — defies me — As a Hand did try to chalk the Sun To Races — nurtured in the Dark How would your own — begin? Can Blaze be shown in Cochineal Or Noon — in Mazarin? 11O texto em verso: funções da linguagem C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 11 11/07/2018 08:44:15 Observe a terminologia de Dickinson: Cochineal: pigmento vermelho obtido a partir do inseto Coccus Cacti, do México. Mazarin: cor azul-marinho. O poema de Emily Dickinson (1830-1886) apresenta, além da função poética, três outras: a função emotiva, caracterizada pelo uso da primeira pessoa; a função metalinguística, pois fala do fazer poético e da dificuldade de traduzir os pensamentos em palavras; e a função fática, com as perguntas retóricas “Como começaria o seu poema?” e “Pode-se mostrar o fogo no cochineal e a tarde em azul-marinho?”. Observe, a seguir, o poema de Percy B. Shelley (1792-1822), poeta romântico inglês. Ozymandias apresenta, além da função poética, outras duas: a função referencial, pois o eu lírico narra uma história que ouviu de um viajante, fazendo uso de descrições para poder contá-la; e a função emotiva, expressando os sentimentos do rei Ozymandias, cuja voz é percebida na mensagem do pedestal, com o uso da primeira pessoa “My name is Ozymandias”, “my works”, e o uso do ponto de exclamação para demonstrar a emoção do personagem neste poema polifônico. Ozymandias, Percy Bysshe Shelley I met a traveller from an antique land, Who said — “Two vast and trunkless legs of stone Stand in the desert... Near them, on the sand, Half sunk a shattered visage lies, whose frown, And wrinkled lip, and sneer of cold command, Tell that its sculptor well those passions read Which yet survive, stamped on these lifeless things, The hand that mocked them, and the heart that fed; And on the pedestal, these words appear: My name is Ozymandias, King of Kings; Look on my Works, ye Mighty, and despair! Nothing beside remains. Round the decay Of that colossal Wreck, boundless and bare The lone and level sands stretch far away. O poema da poeta irlandesa Nuala Ní Conchúir, nascida em 1970, apre- senta, além da função poética, com a escolha de palavras, o uso da metáfora da ostra para falar da culpa, o uso da epígrafe do escritor Franz Kafka para O texto em verso: funções da linguagem12 C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 12 11/07/2018 08:44:15 dialogar com o texto; e a função emotiva, com o uso da primeira pessoa e os sentimentos do eu lírico em relação à culpa. Guilt, Nuala Ní Chonchúir Guilt is never to be doubted. KAFKA Stuck like an oyster in my throat, it is a choking, meaty valve that sputters saltwater and threatens slowly to drown me. I will cough it up, dislodge its fat rubber grip and swallow easily again, only if I can forgive myself. Acesse o link a seguir e leia um artigo sobre a função poética nos quadrinhose na publicidade. https://goo.gl/QcZSr9 13O texto em verso: funções da linguagem C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 13 11/07/2018 08:44:16 O texto em verso: funções da linguagem14 C01_Texto_Verso_Funcoes_Linguagem.indd 14 11/07/2018 08:44:18 CHALHUB, S. Funções da linguagem. São Paulo: Ática, 2004. (Série Princípios). DESDE EL AULA. Roman Jakobson, lingüística y poética. 31 dez. 2010. Disponível em: <http://teoriayanalisisliterariounounlpam.blogspot.com/2010/12/roman-jakobson- -linguistica-y-poetica.html>. Acesso em: 06 jul. 2018. DINIZ, D. F.; BORIN, M. A. Uma análise das funções de linguagem presentes em folders de campanhas sobre segurança no trânsito com base na teoria do lingüista Roman Jakobson. Linguasagem, v. 15, 2010. Disponível em: <http://www.letras.ufscar.br/ linguasagem/edicao15/014.pdf>. Acesso em: 06 jul. 2018. HÉBERT, L. The functions of language. 2011. Disponível em: <http://www.signosemio. com/jakobson/functions-of-language.asp>. Acesso em: 06 jul. 2018. JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1969. LIMA, L. G. Selecionar e combinar: Saussure e os eixos paradigmáticos e sintagmáticos. 30 set. 2017. Disponível em: <https://linguisticageralunip.wordpress.com/2017/09/30/ selecionar-e-combinar-saussure-e-os-eixos-paradigmaticos-e-sintagmaticos/>. Acesso em: 06 jul. 2018. Leituras recomendadas CHALHUB, S. A metalinguagem. São Paulo: Ática, 1986. (Série Princípios). COELHO, N. N. Literatura e linguagem. São Paulo: Quíron, 1980. DUBOIS, J. et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1997.. LOPES, E. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 1977.
Compartilhar