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Imunologia Básica Funções e Distúrbios do Sistema Imunológico QUINTA EDIÇÃO Abul K. Abbas, MBBS Distinguished Professor in Pathology Chair, Department of Pathology University of California San Francisco San Francisco, California Andrew H. Lichtman, MD, PhD Professor of Pathology Harvard Medical School Brigham and Women’s Hospital Boston, Massachuseၖs Shiv Pillai, MBBS, PhD Professor of Medicine and Health Sciences and Technology Harvard Medical School Ragon Institute of Massachuseၖs General Hospital, MIT and Harvard Boston, Massachuseၖs Ilustrações de David L. Baker, MA Alexandra Baker, MS, CMI DNA Illustrations, Inc. ADQUIRIDO EM www.mercadolivre.com.br VENDEDOR FERREIRA_EBOOKS e b o o k s Clique aqui para obter novos títulos. www.mercadolivre.com.br http://lista.mercadolivre.com.br/_CustId_195852375 http://perfil.mercadolivre.com.br/FERREIRA_EBOOKS Sumário Capa Folha de rosto Copyright Revisão científica e tradução Dedicatória Prefácio Capítulo 1: Introdução ao Sistema Imune Imunidade inata e adaptativa Tipos de imunidade adaptativa Propriedades das respostas imunes adaptativas As células do sistema imune Os tecidos do sistema imune Visão geral das respostas imunes aos microrganismos Resumo Perguntas de revisão Capítulo 2: Imunidade Inata Características gerais e especificidade das respostas imunes inatas Receptores celulares para os microrganismos e células danificadas Componentes da imunidade inata Reações imunes inatas Papel da imunidade inata na estimulação das respostas imunes adaptativas Resumo Perguntas de revisão Capítulo 3: Captura e Apresentação de Antígenos aos Linfócitos Antígenos reconhecidos pelos linfócitos T Captura de antígenos proteicos pelas células apresentadoras de antígenos Estrutura e função das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade Processamento e apresentação de antígenos proteicos Funções das células apresentadoras de antígenos além da apresentação Reconhecimento de antígenos pelas células B e outros linfócitos Resumo Perguntas de revisão Capítulo 4: Reconhecimento Antigênico no Sistema Imunológico Adaptativo Receptores antigênicos dos linfócitos Desenvolvimento dos repertórios imunes Resumo Perguntas de revisão Capítulo 5: Imunidade Mediada pelas Células T Etapas das respostas das células T Reconhecimento do antígeno e coestimulação Vias bioquímicas da ativação das células T Respostas funcionais dos linfócitos t aos antígenos e à coestimulação Migração dos linfócitos t em reações imunes mediadas por células Resumo Perguntas de revisão Capítulo 6: Mecanismos Efetores da Imunidade Mediada por Células T Tipos de reações imunes mediadas por células T Desenvolvimento e funções dos linfócitos T efetores CD4+ Desenvolvimento e funções dos linfócitos T citotóxicos CD8+ Resistência de microrganismos patogênicos à imunidade mediada por célula Resumo Perguntas de revisão Capítulo 7: Respostas Imunes Humorais Fases e tipos de respostas imunes humorais Estimulação dos linfócitos B pelos antígenos Função dos linfócitos T auxiliares nas respostas imunes humorais aos antígenos proteicos Respostas dos anticorpos aos antígenos independentes de T Regulação das respostas imunes humorais: retroalimentação de anticorpos Resumo Perguntas de revisão Capítulo 8: Mecanismos Efetores da Imunidade Humoral Propriedades dos anticorpos que determinam função efetora Neutralização de microrganismos e toxinas microbianas Opsonização e fagocitose Citotoxicidade celular dependente de anticorpos Reações mediadas por imunoglobulina e eosinófilos/mastócitos O sistema complemento Funções dos anticorpos em locais anatômicos especiais Evasão da imunidade humoral por microrganismos Vacinação Resumo Perguntas de revisão Capítulo 9: Tolerância Imunológica e Autoimunidade Tolerância imunológica: significado e mecanismos Tolerância central de linfócitos T Tolerância periférica de linfócitos T Tolerância de linfócitos B Tolerância a microrganismos comensais e antígenos fetais Autoimunidade Resumo Perguntas de revisão Capítulo 10: Respostas Imunes Contra Tumores e Transplantes Respostas imunes contra os tumores Respostas imunes contra transplantes Resumo Perguntas de revisão Capítulo 11: Hipersensibilidade Tipos de reações de hipersensibilidade Hipersensibilidade imediata Doenças causadas por anticorpos e complexos antígenoanticorpo Doenças causadas por linfócitos T Resumo Perguntas de revisão Capítulo 12: Imunodeficiências Congênita e Adquirida Imunodeficiências congênitas (primárias) Imunodeficiências adquiridas (secundárias) Síndrome da imunodeficiência adquirida Resumo Perguntas de revisão Leituras Selecionadas Apêndice I: Glossário Apêndice II: Citocinas Apêndice III: Principais Características das Moléculas CD Selecionadas Apêndice IV: Casos Clínicos Índice Copyright © 2017 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográfi cos, gravação ou quaisquer outros. ISBN: 978‑85‑352‑8251‑1 ISBN (versão eletrônica): 978‑85‑352‑8551‑2 BASIC IMMUNOLOGY: FUNCTIONS AND DISORDERS OF THE IMMUNE SYSTEM, 5th EDITION Copyright © 2016 by Elsevier Inc. All rights reserved. Previous editions copyrighted 2014, 2011, 2009, 2006, 2004, and 2001. This translation of BASIC IMMUNOLOGY: FUNCTIONS AND DISORDERS OF THE IMMUNE SYSTEM, 5th EDITION, by Abul K. Abbas, Andrew, H. Lichtman and Shiv Pillai was undertaken by Elsevier Editora Ltda and is published by arrangement with Elsevier Inc. Esta tradução de BASIC IMMUNOLOGY: FUNCTIONS AND DISORDERS OF THE IMMUNE SYSTEM, 5th EDITION, de by Abul K. Abbas, Andrew, H. Lichtman e Shiv Pillai foi produzida por Elsevier Editora Ltda e publicada em conjunto com Elsevier Inc. ISBN: 978‑0‑323‑39082‑8 Capa: Mello & Mayer Design Editoração Eletrônica: Thomson Digital Elsevier Editora Ltda. Conhecimento sem Fronteiras Rua Sete de Setembro, n° 111 – 16° andar 20050‑006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ Rua Quintana, n° 753 – 8° andar 04569‑011 – Brooklin – São Paulo – SP Serviço de Atendimento ao Cliente 0800 026 53 40 atendimento1@elsevier.com Consulte nosso catálogo completo, os últimos lançamentos e os serviços exclusivos no site www.elsevier.com.br Nota Como as novas pesquisas e a experiência ampliam o nosso conhecimento, pode haver necessidade de alteração dos métodos de pesquisa, das práticas profissionais ou do tratamento médico. Tanto médicos quanto pesquisadores devem sempre basear‑se em sua própria experiência e conhecimento para avaliar e empregar quaisquer informações, métodos, substâncias ou experimentos descritos neste texto. Ao utilizar qualquer informação ou método, devem ser criteriosos com relação a sua própria segurança ou a segurança de outras pessoas, incluindo aquelas sobre as quais tenham responsabilidade profissional. Com relação a qualquer fármaco ou produto farmacêutico especificado, aconselha‑se o leitor a cercar‑se da mais atual informação fornecida (i) a respeito dos procedimentos descritos, ou (ii) pelo fabricante de cada produto a ser administrado, de modo a certificar‑se sobre a dose recomendada ou a fórmula, o método e a duração da administração, e as contraindicações. É responsabilidade do médico, com base em sua experiência pessoal e no conhecimento de seus pacientes, determinar as posologias e o melhor tratamento para cada paciente individualmente, e adotar todas as precauções de segurança apropriadas. Para todos os efeitos legais, nem a Editora, nem autores, nem editores, nem tradutores, nem revisores ou colaboradores, assumem qualquer responsabilidade por qualquer efeito danoso e/ou malefício a pessoas ou propriedades envolvendo responsabilidade, negligência etc. de produtos, ou advindos de qualquer uso ou emprego de quaisquer métodos, produtos, instruções ou ideiascontidos no material aqui publicado. O Editor CIP‑BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A112i 5. ed. Abbas, Abul K. Imunologia básica : funções e distúrbios do sistema imunológico / Abul K. Abbas, Andrew H. Lichtman, Shiv Pillai; [tradução Patricia Dias Fernandes]. ‑ 5. ed. ‑ Rio de Janeiro : Elsevier, 2017. il. ; 24 cm. Tradução de: Basic immunology: functions and disorders of the immune system Apêndice Inclui bibliografia e índice ISBN 978‑85‑352‑8251‑1 1. Imunologia celular. 2. Imunologia molecular. 3. Linfócitos ‑ Imunologia. I. Lichtman, Andrew H. II. Pillai, Shiv. III. Título. 16‑36808 CDD: 616.079 CDU: 612.017 Revisão científica e tradução Revisão científica Patricia Dias Fernandes (Caps. 1 a 12, Apêndices I a IV e Índice) Mestrado e Doutorado em Química Biológica pelo Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Pós‑doutorado em Imunofarmacologia pelo Departamento de Imunologia da Universidade de São Paulo (USP) Professora Titular de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Biomédica pela Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) Tradução Graciela Rocha Donald (Caps. 4 a 7) Bióloga pela Universidade Estadual de Mato Grosso Doutora (PhD) em Farmacologia pela Newcastle University, Inglaterra, Reino Unido Natália de Morais Cordeiro (Caps. 1 a 3, 8, 9 e 11) Biomédica pelo IBMR Laureate Universities Mestre e Doutoranda pelo Programa de Pós‑graduação em Farmacologia e Química Medicinal do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (UFRJ) Patricia Dias Fernandes (Caps. 10, 12, Apêndices I a IV e Índice) Dedicatória Aos nossos estudantes Prefácio A quinta edição da Imunologia Básica foi revisada para incluir importantes e recentes avanços na nossa compreensão do sistema imune e para organizar a informação atual para maximizar sua utilização pelos estudantes e professores. As edições anteriores foram recebidas com entusiasmo pelos estudantes de diversos cursos nos quais meus colegas e eu lecionamos, e nós não nos afastamos dos princípios orientadores aos quais o livro teve como base ao longo de todas as edições prévias. Nossa experiência como professores de imunologia e diretores de cursos nos ajudou a julgar a quantidade de informações detalhadas que poderiam ser incluídas nas disciplinas introdutórias do curso médico de graduação e o valor da apresentação dos princípios da imunologia de maneira clara e sucinta. Acreditamos que uma consideração concisa e moderna da imunologia é, atualmente, uma meta realística, principalmente porque a imunologia tem amadurecido como disciplina e tem alcançado o estágio em que os componentes principais do sistema imunológico, e como eles interagem em respostas imunes, são compreendidos muito bem. Como resultado, agora podemos ensinar nossos alunos, com grau de certeza razoável, como o sistema imunológico funciona. Além disso, estamos mais aptos a relacionar os resultados experimentais, utilizando modelos simples para a questão mais complexa, mas fisiologicamente relevante, de defesa do hospedeiro contra patógenos infecciosos. Houve também um progresso expressivo na aplicação de princípios básicos para a compreensão e tratamento das doenças humanas. Este livro foi escrito para resolver as necessidades percebidas tanto pela escola médica quanto pelos currículos de graduação e para tirar proveito da nova compreensão da imunologia. Nós tentamos alcançar vários objetivos. Em primeiro lugar, apresentamos os princípios mais importantes que regem a função do sistema imunológico sintetizando conceitos fundamentais a partir da vasta quantidade de dados experimentais que emergem no campo da imunologia. A escolha de o que é mais importante baseia‑se, em grande parte, no que é mais claramente estabelecido pela investigação científica e o que tem a maior relevância para a saúde e doenças humanas. Além disso, já percebemos que em qualquer discussão de fenômenos complexos é inevitável que as exceções e advertências não possam ser discutidas em detalhe. Em segundo lugar, temos nos concentrado em respostas imunes contra microrganismos infecciosos, e a maior parte de nossas discussões sobre o sistema imunológico está neste contexto. Em terceiro lugar, temos feito uso de ilustrações para destacar princípios importantes, mas nós reduzimos detalhes factuais que podem ser encontrados em livros didáticos mais abrangentes. Em quarto lugar, nós também discutimos doenças imunológicas do ponto de vista dos princípios, enfatizando a sua relação com as respostas imunes normais e evitando detalhes clínicos de síndromes e tratamentos. Nós incluímos casos clínicos selecionados em um apêndice para ilustrar como os princípios da imunologia podem ser aplicados a doenças humanas comuns. Finalmente, a fim de fazer com que cada capítulo seja legível por conta própria, repetimos ideias‑chave em diferentes pontos do livro. Acreditamos que essa repetição irá ajudar os alunos a compreender os conceitos mais importantes. Esperamos que os estudantes considerem esta nova edição de Imunologia Básica mais clara, convincente, manejável e agradável de ler. Desejamos que o livro transmita nosso entusiasmo sobre o sistema imunológico e sobre como essa área tem evoluído e como continua a aumentar sua relevância na área de saúde e doença humanas. Finalmente, apesar de nos empenharmos nesse projeto devido nossas associações com os cursos de escolas médicas, esperamos que o livro seja valioso também para estudantes de áreas afins, como saúde e biologia. Nós teremos sido bem‑sucedidos se o livro puder responder a qualquer das questões desses estudantes sobre o sistema imunológico e, ao mesmo tempo, se os encorajar a aprofundar sempre suas pesquisas em relação à imunologia. Várias pessoas desempenharam papel fundamental na elaboração deste livro. Nosso novo editor, James Merriᘐ�, foi uma fonte entusiasmada de encorajamento e conselhos. Nossos talentosos ilustradores, David e Alexandra Baker, da DNA Illustrations, aperfeiçoaram todas as ilustrações desta nova edição e transformaram nossas ideias em imagens que são informativas e esteticamente agradáveis. Clay Broeker gerenciou de forma eficiente e profissional o processo de produção do livro. Nossa editora de desenvolvimento, Rebecca Gruliow, manteve o projeto organizado e nos trilhos apesar das pressões de tempo e logística. Para todos esses profissionais, devemos os nossos muitos agradecimentos. Finalmente, temos uma enorme dívida de gratidão para com nossas famílias, cujo apoio e incentivo têm sido inabaláveis. Abul K. Abbas Andrew H. Lichtman Shiv Pillai CAP Í T U LO 1 Introdução ao Sistema Imune Nomenclatura, Propriedades Gerais e Componentes Imunidade inata e adaptativa Tipos de imunidade adaptativa Propriedades das respostas imunes adaptativas Especificidade e Diversidade Memória Outras Características da Imunidade Adaptativa As células do sistema imune Linfócitos As Células Apresentadoras de Antígenos Os tecidos do sistema imune Órgãos Linfoides Secundários Recirculação de Linfócitos e Migração para os Tecidos Visão geral das respostas imunes aos microrganismos A Resposta Imune Inata Precoce aos Microrganismos A Resposta Imune Adaptativa O Declínio das Respostas Imunes e a Memória Imunológica Resumo A imunidade é definida como a resistência à doença, especificamente à doença infecciosa. O conjunto de células, tecidos e moléculas que medeiam a resistência a infecções é chamado de sistema imune, e a reação coordenada destas células e moléculas aos microrganismosinfecciosos compreende uma resposta imune. Imunologia é o estudo do sistema imune, incluindo as suas respostas aos patógenos microbianos e tecidos danificados e seu papel na doença. A função fisiológica mais importante do sistema imune é prevenir ou erradicar as infecções (Fig. 1‑1), e este é o principal contexto no qual as respostas imunes são discutidas ao longo deste livro. A importância do sistema imune para a saúde é dramaticamente ilustrada pela observação frequente de que indivíduos com respostas imunes defeituosas são suscetíveis a infecções sérias, muitas vezes em que há risco de vida. Por outro lado, o estímulo de respostas imunes contra microrganismos por meio da vacinação é o método mais eficaz para proteger indivíduos contra infecções; esta abordagem levou à erradicação mundial da varíola, a única doença que foi eliminada da civilização pela intervenção humana (Fig. 1‑2). Infelizmente, as interrupções dos programas de vacinação nos países em desenvolvimento e em regiões de conflito social levaram ao reaparecimento local de algumas doenças infecciosas, tais como poliomielite, que havia sido amplamente eliminada de outras partes do mundo. O aparecimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) na década de 1980 tragicamente enfatizou a importância do sistema imune para defender os indivíduos contra infecções. O sistema imune faz mais do que apenas fornecer proteção contra infecções (Fig. 1‑1). Ele impede o crescimento de alguns tumores, e alguns cânceres podem ser tratados por meio da estimulação das respostas imunes contra células tumorais. As respostas imunes também participam da depuração de células mortas e na iniciação do reparo tecidual. FIGURA 11 Importância do sistema imune na saúde e na doença. Esta tabela resume algumas das funções fisiológicas do sistema imune e seu papel na doença. AIDS, síndrome da imunodeficiência adquirida. FIGURA 12 Eficácia da vacinação para algumas doenças infecciosas comuns. A diminuição marcante na incidência de doenças infecciosas selecionadas nos Estados Unidos para a qual foram desenvolvidas vacinas eficazes. (Modificado de Orenstein WA, Hinman AR, Bart KJ, Hadler SC: Imunização. Em Mandell GL, Bennett JE, Dolin.R, Editores: Principles and practices of infectious disease, 4ª edição, Nova Iorque, 1995, Churchill Livingstone; e MMWR 64, No. 20, 2015.) Em contrapartida a esses papéis benéficos, as respostas imunes anormais causam muitas doenças inflamatórias com morbidade e mortalidade graves. A resposta imune é a maior barreira para o sucesso dos transplantes de órgãos, onde é muitas vezes utilizada para tratar a insuficiência do órgão. Os produtos de células imunológicas também podem ser de grande uso prático. Por exemplo, anticorpos, que são proteínas produzidas por certas células do sistema imune, são usados em testes de laboratório clínico e na pesquisa como reagentes altamente específicos para a detecção de uma ampla variedade de moléculas na circulação e em tecidos e células. Os anticorpos designados para bloquear ou eliminar moléculas e células potencialmente nocivas são amplamente utilizados para o tratamento de doenças imunológicas, cânceres e outros tipos de distúrbios. Por todas essas razões, o campo da imunologia tem chamado a atenção dos médicos, cientistas e do público leigo. Este capítulo apresenta a nomenclatura da imunologia, as propriedades gerais importantes de todas as respostas imunes e as células e tecidos que são os principais componentes do sistema imune. Em particular, as seguintes questões são abordadas: • Que tipos de respostas imunes protegem os indivíduos das infecções? • Quais são as características importantes da imunidade, e quais os mecanismos responsáveis por essas características? • Como são organizadas as células e tecidos do sistema imune para encontrar e responder aos microrganismos de maneira que conduzam à sua eliminação? Concluímos este capítulo com um breve resumo sobre as respostas imunes contra microrganismos. Os princípios básicos aqui introduzidos funcionam como base para discussões mais detalhadas sobre as respostas imunes nos capítulos posteriores. Um glossário dos termos importantes usados neste livro é fornecido no Apêndice I. Imunidade inata e adaptativa As defesas do hospedeiro são divididas em imunidade inata, que fornece proteção imediata contra a invasão de microrganismos, e imunidade adaptativa, que se desenvolve mais lentamente e fornece defesa mais especializada contra infecções (Fig. 1‑3). A imunidade inata, também chamada de imunidade natural ou nativa, está sempre presente em indivíduos saudáveis (daí o termo inato), preparada para bloquear a entrada de microrganismos e para eliminar rapidamente os microrganismos que consigam entrar nos tecidos do hospedeiro. A imunidade adaptativa, também chamada de imunidade específica ou imunidade adquirida, requer a expansão e diferenciação de linfócitos em resposta aos microrganismos antes que ele possa fornecer uma defesa eficaz; isto é, ele se adapta à presença dos microrganismos invasores. A imunidade inata é filogeneticamente mais velha, e a resposta adaptativa mais especializada e poderosa evoluiu posteriormente. FIGURA 13 Principais mecanismos de imunidade inata e adaptativa. Os mecanismos da imunidade inata fornecem a defesa inicial contra infecções. Alguns mecanismos (p. ex., as barreiras epiteliais) evitam infecções, e outros mecanismos (p. ex., fagócitos, células natural killer [NK] e outras células linfoides inatas [ILCS], o sistema complemento) eliminam os microrganismos. As respostas imunes adaptativas desenvolvemse mais tarde e são mediadas por linfócitos e os seus produtos. Os anticorpos bloqueiam as infecções e eliminam os microrganismos, e os linfócitos T destroem os microrganismos intracelulares. As cinéticas das respostas imunes inata e adaptativa estão aproximadas e podem variar em diferentes infecções. Na imunidade inata, a primeira linha de defesa é fornecida por barreiras epiteliais da pele e tecidos da mucosa e por células e antibióticos naturais presentes no epitélio, os quais funcionam para bloquear a entrada dos microrganismos. Se os microrganismos violarem o epitélio e alcançarem os tecidos ou a circulação, eles são atacados pelos fagócitos, linfócitos especializados chamados de células linfoides, que incluem as células natural killer e várias proteínas plasmáticas, incluindo as proteínas do sistema complemento. Todos esses mecanismos da imunidade inata especificamente reconhecem e reagem contra os microrganismos. Além de fornecer a defesa precoce contra infecções, as respostas imunes inatas amplificam as respostas imunes adaptativas contra os agentes infecciosos. Os componentes e mecanismos da imunidade inata são discutidos detalhadamente no Capítulo 2. O sistema imune adaptativo consiste em linfócitos e nos seus produtos, como os anticorpos. As respostas imunes adaptativas são especialmente importantes para a defesa contra microrganismos infecciosos que são patogênicos para os seres humanos (ou seja, capazes de causar doença) e que podem ter evoluído para resistir à imunidade inata. Enquanto os mecanismos da imunidade inata reconhecem estruturas compartilhadas por classes de microrganismo, as células da imunidade adaptativa (linfócitos) expressam receptores que reconhecem especificamente uma variedade mais ampla de moléculas produzidas por microrganismos, bem como substâncias não infecciosas. Qualquer substância especificamente reconhecida pelos linfócitos ou por anticorpos é chamada de antígeno. As respostas imunes adaptativas muitas vezes usam as células e moléculas do sistema imune inato para eliminar os microrganismos, e a imunidade adaptativa funcionapara aumentar consideravelmente esses mecanismos antimicrobianos da imunidade inata. Por exemplo, os anticorpos (que são componentes da imunidade adaptativa) se ligam aos microrganismos, e estes microrganismos revestidos avidamente se ligam aos fagócitos (componentes da imunidade inata), ativando‑os e os levando a ingerir e destruir os microrganismos. Exemplos da cooperação entre a imunidade inata e adaptativa são discutidos nos capítulos posteriores. Por convenção, os termos resposta imune e sistema imune geralmente se referem à imunidade adaptativa, e este é o foco da maior parte deste capítulo. Tipos de imunidade adaptativa Os dois tipos de imunidade adaptativa, chamados de imunidade humoral e imunidade celular, são mediados por diferentes células e moléculas e fornecem defesa contra microrganismos extracelulares e microrganismos intracelulares, respectivamente (Fig. 1‑4). • A imunidade humoral é mediada por proteínas chamadas de anticorpos, os quais são produzidos por células chamadas de linfócitos B. Os anticorpos secretados entram na circulação e nos fluidos das mucosas e neutralizam e eliminam microrganismos e toxinas microbianas que estão presentes fora das células do hospedeiro, no sangue, no fluido extracelular derivado a partir do plasma e nos lúmens dos órgãos da mucosa, tais como os sistemas gastrointestinal e respiratório. Uma das funções mais importantes dos anticorpos é impedir que os microrganismos que estão presentes nas superfícies mucosas e no sangue obtenham acesso e colonizem as células hospedeiras e os tecidos conjuntivos. Desta forma, os anticorpos evitam que as infecções se estabeleçam. Os anticorpos não podem ter acesso aos microrganismos que vivem e se dividem dentro das células infectadas. • A defesa contra tais microrganismos intracelulares é denominada imunidade celular, porque é mediada pelas células, que são os chamados linfócitos T. Alguns linfócitos T ativam os fagócitos para destruir microrganismos que foram ingeridos pelos fagócitos para vesículas intracelulares. Os outros linfócitos T eliminam qualquer tipo de células hospedeiras que estão abrigando os microrganismos infecciosos no citoplasma. Em ambos os casos, as células T reconhecem os antígenos microbianos que são exibidos na superfície da célula hospedeira, que indicam que há um microrganismo no interior da célula. FIGURA 14 Tipos de imunidade adaptativa. Na imunidade humoral, os linfócitos B secretam anticorpos que eliminam os microrganismos extracelulares. Na imunidade celular, diferentes tipos de linfócitos T recrutam e ativam os fagócitos para destruir os microrganismos ingeridos e matar as células infectadas. As especificidades dos linfócitos B e T diferem em aspectos importantes. A maioria das células T reconhece unicamente antígenos de proteínas, enquanto as células B e os anticorpos são capazes de reconhecer muitos tipos diferentes de moléculas, incluindo proteínas, carboidratos, ácidos nucleicos e lipídeos. Estas e outras diferenças são discutidas detalhadamente adiante. A imunidade pode ser induzida em um indivíduo por infecção ou vacinação (imunidade ativa) ou conferida a um indivíduo por transferência de anticorpos ou de linfócitos a partir de um indivíduo imunizado ativamente (imunidade passiva). • Na imunidade ativa, um indivíduo exposto aos antígenos de um microrganismo monta uma resposta ativa para erradicar a infecção e desenvolve resistência à uma infecção tardia por aquele microrganismo. Tal indivíduo é considerado imune àquele microrganismo, em contraste com um indivíduo que não foi previamente exposto aos antígenos desse microrganismo. • Na imunidade passiva, um indivíduo não exposto previamente recebe anticorpos ou células (p. ex., linfócitos, viável apenas em experiências com animais) a partir de outro indivíduo já imune a uma infecção. O receptor adquire a capacidade de combater a infecção enquanto os anticorpos ou células transferidos durarem. A imunidade passiva é, por essa razão, útil para conferir a imunidade rapidamente, mesmo antes que o indivíduo seja capaz de montar uma resposta ativa, mas não induz uma resistência de longa duração para a infecção. O único exemplo fisiológico de imunidade passiva é visto em recém‑nascidos, cujos sistemas imunes não são maduros o suficiente para responder a muitos organismos patogênicos, mas são protegidos contra infecções por meio da aquisição de anticorpos de mães através da placenta e do aleitamento materno. Clinicamente, a imunidade passiva é limitada ao tratamento de algumas doenças de imunodeficiência com anticorpos reunidos a partir de vários dadores e para o tratamento de emergência de algumas infecções virais e picadas de cobras usando soro de doadores imunizados. Propriedades das respostas imunes adaptativas Várias propriedades de respostas imunes adaptativas são cruciais para a eficácia dessas respostas no combate às infecções (Fig. 1‑5). FIGURA 15 Propriedades da resposta imune adaptativa. Esta tabela resume as propriedades importantes das respostas imunes adaptativas e como cada recurso contribui para a defesa do hospedeiro contra microrganismos. Especificidade e Diversidade O sistema imune adaptativo é capaz de distinguir entre milhões de diferentes antígenos ou porções de antígenos. Especificidade é a capacidade de distinguir entre muitos antígenos diferentes. Isso implica que o acervo total das especificidades dos linfócitos, às vezes chamado de repertório de linfócitos, é extremamente diverso. A base para esta especificidade e diversidade notáveis é que os linfócitos expressam receptores para antígenos clonalmente distribuídos, o que significa que a população total de linfócitos consiste em muitos clones diferentes (cada um composto por uma célula e por seu progenitor), e cada clone exprime um receptor de antígenos que é diferente dos receptores de todos os outros clones. A hipótese da seleção clonal, formulada na década de 1950, previu corretamente que os clones de linfócitos específicos para diferentes antígenos se desenvolvem antes de um encontro com estes antígenos, e cada antígeno provoca uma resposta imune, selecionando e ativando os linfócitos de um clone específico (Fig. 1‑6). Nós agora conhecemos a base molecular da maneira que a especificidade e a diversidade dos linfócitos são produzidas (Cap. 4). FIGURA 16 Seleção clonal. Os linfócitos maduros com receptores para vários antígenos se desenvolvem previamente ao encontro com esses antígenos. Um clone referese a uma população de linfócitos com receptores de antígeno idênticos e, portanto, especificidades; todas essas células são presumivelmente derivadas de uma célula precursora. Cada antígeno (p. ex., X e Y) seleciona um clone preexistente de linfócitos específicos e estimula a proliferação e diferenciação daquele clone. O diagrama mostra apenas os linfócitos B que dão origem a células secretoras de anticorpos, mas o mesmo princípio aplicase aos linfócitos T. Os antígenos mostrados são moléculas de superfície de microrganismos, mas a seleção clonal também é verdadeira para os antígenos extracelulares solúveis e intracelulares. A diversidade do repertório de linfócitos, que permite que o sistema imune responda a um grande número e variedade de antígenos, também significa que poucas células, talvez apenas 1 em 100.000 ou 1 em 1.000.000 de linfócitos, sejam específicas para qualquer um antígeno. Assim, o número total de linfócitos imaturos (inativados) que pode reconhecer e reagir contra qualquer um dos antígenos varia de cerca de 1.000 a 10.000 células. Para montar uma defesa eficaz contra microrganismos, estas poucas células devem dar origem a um grande número de linfócitos capazes de destruir os microrganismos. A notável eficácia de respostas imunes é atribuída a diversas características da imunidade adaptativa, incluindo a expansão significativa do conjunto de linfócitos específico para qualquerantígeno após exposição a esses antígenos e mecanismos de selecção que preservam os linfócitos mais úteis. Essas características do sistema imune adaptativo são descritas em capítulos posteriores. Memória O sistema imune adaptativo monta as maiores e mais eficazes respostas às exposições repetidas para um mesmo antígeno. Este recurso da imunidade adaptativa implica que o sistema imune se lembra da exposição ao antígeno, e essa propriedade da imunidade adaptativa é, portanto, chamada de memória imunológica. A resposta para a primeira exposição ao antígeno, denominada resposta imune primária, é iniciada pelos linfócitos chamados linfócitos imaturos que estão encontrando aquele antígeno pela primeira vez (Fig. 1‑7). O termo imaturo refere‑se a essas células serem imunologicamente imaturas, não tendo respondido a antígenos anteriormente. Os encontros subsequentes com o mesmo antígeno levam a respostas chamadas de respostas imunes secundárias, que geralmente são mais rápidas, amplas e mais capazes de eliminar o antígeno que as respostas primárias. As respostas secundárias são o resultado da ativação dos linfócitos de memória, que são células de longa vida que foram induzidas durante a resposta imunitária primária. O termo memória surgiu devido à percepção de que essas células devem se lembrar de um encontro anterior com o antígeno, uma vez que respondem melhor após encontros subsequentes. A memória imunológica otimiza a capacidade do sistema imune para combater as infecções persistentes e recorrentes, porque cada exposição a um microrganismo gera mais células de memória e ativa as células de memória geradas anteriormente. A memória também é uma das razões pelas quais as vacinas conferem proteção de longa duração contra as infecções. FIGURA 17 Respostas imunes primária e secundária. Antígenos de X e Y induzem a produção de diferentes anticorpos (um reflexo da especificidade). A resposta secundária ao antígeno X é mais rápida e maior que a resposta primária (ilustrando a memória) e é diferente da resposta primária ao antígeno Y (novamente refletindo a especificidade). Os níveis de anticorpos diminuem com o tempo após cada imunização. O nível de anticorpos produzidos é mostrado como valores arbitrários e varia de acordo com o tipo de exposição ao antígeno. Apenas as células B são mostradas, mas as mesmas características são observadas com as respostas das células T aos antígenos. O tempo após a imunização pode ser de 1 a 3 semanas para uma resposta primária e de 2 a 7 dias para uma resposta secundária, mas a cinética varia, dependendo do antígeno e da natureza da imunização. Outras Características da Imunidade Adaptativa As respostas imunes adaptativas têm outras características que são importantes para as suas funções (Fig. 1‑5). • Quando os linfócitos são ativados por antígenos, eles passam pela fase de proliferação, gerando muitos milhares de células de progenitores clonais, todas com a mesma especificidade de antígeno. Este processo, chamado de expansão clonal, aumenta rapidamente o número de células específicas para o antígeno encontrado e assegura que a imunidade adaptativa mantém o ritmo com os microrganismos proliferando rapidamente. • As respostas imunes são especializadas, e diferentes respostas são projetadas para defender melhor contra diferentes classes de microrganismos. • Todas as respostas imunes são autolimitadas e diminuem à medida que a infecção é eliminada, permitindo que o sistema retorne a um estado de repouso, preparado para responder a outra infecção. • O sistema imune é capaz de reagir contra uma enorme quantidade e variedade de microrganismos e outros antígenos estranhos, mas isso geralmente não acontece contra as substâncias potencialmente antigênicas do hospedeiro chamadas de antígenos próprios. Esta ausência de resposta a si própria é chamada de tolerância imunológica, referindo‑se à capacidade do sistema imune para coexistir com (tolerar) automoléculas potencialmente antigênicas, células e tecidos. As células do sistema imune As células do sistema imune estão localizadas em diferentes tecidos e apresentam diferentes funções na defesa do hospedeiro (Fig. 1‑8). • Os linfócitos circulam através de órgãos linfoides e tecidos não linfoides. Eles reconhecem os antígenos estranhos e iniciam as respostas imunes adaptativas. • As células residentes nos tecidos detectam a presença de microrganismos e reagem contra eles. Estas células incluem macrófagos, cuja função é ingerir e destruir as substâncias estranhas; as células dendríticas, que capturam os microrganismos e os apresentam para os linfócitos para iniciar as respostas imunes e são, portanto, chamadas de células apresentadoras de antígenos; e os mastócitos, que ajudam no recrutamento de outros leucócitos para destruir os microrganismos. • Os fagócitos que geralmente circulam no sangue, incluindo os neutrófilos e monócitos, são rapidamente recrutados para os locais de infecção no processo chamado de inflamação. Esses leucócitos (glóbulos brancos) ingerem e destroem os microrganismos e, em seguida, iniciam o processo de reparação de tecidos danificados. Pelo fato de esses fagócitos, bem como alguns linfócitos T, serem os responsáveis pelo efeito da resposta imune, que é destruir os microrganismos, eles às vezes são chamados de células efetoras. FIGURA 18 Principais células do sistema imunológico. Os principais tipos de células envolvidas nas respostas imunes e a principais funções dessas células. As micrografias mostram a morfologia de algumas células de cada tipo. Esta seção descreve as propriedades importantes das principais populações de células da imunidade adaptativa, ou seja, os linfócitos e as células apresentadoras de antígenos. As células de imunidade inata são descritas no Capítulo 2. Linfócitos Os linfócitos são as únicas células que produzem receptores específicos clonalmente distribuídos para diversos antígenos e são os principais mediadores da imunidade adaptativa. Um adulto saudável tem 0,5‑1 × 1012 linfócitos. Embora todos os linfócitos sejam morfologicamente semelhantes e muitas vezes de aparência pouco notável, eles são heterogêneos na linhagem, função e fenótipo, e são capazes de montar respostas biológicas e atividades complexas (Fig. 1‑9). FIGURA 19 Classes de linfócitos. Diferentes classes de linfócitos do sistema imune adaptativo reconhecem tipos distintos de antígenos e diferenciamse em células efetoras, cuja função é eliminar os antígenos. Os linfócitos B reconhecem antígenos solúveis ou na superfície celular e diferenciamse em células secretoras de anticorpos. Os linfócitos T auxiliares reconhecem os antígenos na superfície das células apresentadoras de antígeno e secretam citocinas, que estimulam os diferentes mecanismos de imunidade e inflamação. Os linfócitos T citotóxicos reconhecem os antígenos em células infectadas e destroem estas células. (Note que os linfócitos T reconhecem os peptídeos que são apresentados pelas moléculas do MHC, discutido no Cap. 3.) Células T reguladoras limitam a ativação de outros linfócitos, especialmente de células T, e previnem a autoimunidade. Essas células muitas vezes são distinguíveis pelas proteínas de superfície que podem ser identificadas usando os painéis dos anticorpos monoclonais. A nomenclatura padrão para essas proteínas é a designação numérica do CD (cluster de diferenciação), que é utilizada para delinear as proteínas de superfície que definem um determinado tipo de célula ou a fase de diferenciação das células e que são reconhecidas por um conjunto ou grupo de anticorpos (a lista do CD das moléculas mencionada no livro é fornecida no Apêndice II.) Como visto anteriormente, os linfócitos B são as únicas células capazes de produzir anticorpos; consequentemente, são as células que medeiam a imunidade humoral. As células B expressam formas de anticorpos de membranaque servem como os receptores que reconhecem os antígenos e iniciam o processo de ativação das células. Os antígenos solúveis e os antígenos da superfície de microrganismos e outras células podem se ligar a esses receptores de antígenos dos linfócitos B, iniciando o processo de ativação de células B. Isso leva à secreção de formas solúveis de anticorpos com a mesma especificidade antigênica como a dos receptores de membrana. Os linfócitos T são responsáveis pela imunidade celular. Os receptores de antígenos da maioria dos linfócitos T reconhecem apenas fragmentos peptídicos de antígenos de proteína que estão ligados a moléculas de apresentação de peptídeos especializadas, chamadas de complexo principal de histocompatibilidade (MHC; do inglês, major histocompatibility complex), sobre a superfície de células especializadas, chamadas células apresentadoras de antígenos (Cap. 3). Entre os linfócitos T, as células T CD4+ são chamadas de células T auxiliares porque ajudam os linfócitos B a produzirem anticorpos e auxiliam os fagócitos na destruição dos microrganismos ingeridos. Os linfócitos T CD8+ são chamados de linfócitos T citotóxicos (CTL; do inglês, cytotoxic T lymphocyte), porque eles matam as células que contêm microrganismos intracelulares. Algumas células T CD4+ pertencem a um subconjunto especial que funciona para impedir ou limitar as respostas imunes; estas são chamadas linfócitos T reguladores. Todos os linfócitos são originados de células‑tronco da medula óssea (Fig. 1‑10). Os linfócitos B amadurecem na medula óssea e os linfócitos T amadurecem em um órgão chamado timo. Estes locais nos quais os linfócitos maduros são produzidos (gerados) são chamados de órgãos linfoides primários. Os linfócitos maduros deixam os órgãos linfoides primários e entram na circulação e nos órgãos linfoides secundários, onde podem encontrar o antígeno para o qual eles expressam receptores específicos. FIGURA 110 Maturação dos linfócitos. Os linfócitos desenvolvemse a partir de precursores nos órgãos linfoides primários (medula óssea e timo). Os linfócitos maduros penetram nos órgãos linfoides secundários, onde eles respondem a antígenos estranhos e recirculam no sangue e na linfa. Algumas células B imaturas deixam a medula óssea completar a sua maturação no baço (não mostrado). Quando linfócitos imaturos reconhecem os antígenos microbianos e também recebem os sinais adicionais induzidos por microrganismos, os linfócitos específicos para o antígeno proliferam e diferenciam‑se em células efetoras e em células de memória (Fig. 1‑11). • Os linfócitos imaturos expressam receptores para os antígenos, mas não realizam as funções que são necessárias para eliminar os antígenos. Essas células residem e circulam entre os órgãos linfoides primários e secundários e sobrevivem por várias semanas ou meses, esperando para encontrar e responder ao antígeno. Se eles não são ativados pelo antígeno, os linfócitos imaturos morrem pelo processo de apoptose e são substituídos por novas células que surgiram nos órgãos linfoides primários. A diferenciação dos linfócitos imaturos em células efetoras e células de memória é iniciada por meio do reconhecimento de antígeno, assegurando assim que a resposta imune que se desenvolve é específica para aquele antígeno. • Os linfócitos efetores são a progênie diferenciada de células imaturas que têm a capacidade de produzir moléculas, cuja função é eliminar os antígenos. As células efetoras da linhagem de linfócitos B são as células secretoras de anticorpos, chamadas plasmócitos. As células plasmáticas se desenvolvem em resposta a estimulação antigênica nos órgãos linfoides secundários, onde eles podem ficar e produzir anticorpos. Pequenas quantidades de células secretoras de anticorpos também são encontradas no sangue; estes são chamados de blastos. Algumas dessas células migram para a medula óssea, onde amadurecem em células plasmáticas de longa duração e continuam a produzir pequenas quantidades de anticorpos muito tempo depois de a infecção ser erradicada, fornecendo proteção imediata caso haja reinfecção. As células T CD4+ efetoras (células T auxiliares) produzem as proteínas chamadas de citocinas que ativam as células B, os macrófagos e outros tipos de células, mediando assim a função de auxiliar dessa linhagem. As células T CD8+ (CTL) efetoras têm o mecanismo para matar as células hospedeiras infectadas. O desenvolvimento e as funções dessas células efetoras são discutidos em capítulos posteriores. Os linfócitos T efetores apresentam curta duração e morrem conforme o antígeno é eliminado. • As células de memória, também geradas a partir da progênie de linfócitos estimulados pelo antígeno, podem sobreviver por longos períodos na ausência do antígeno. Portanto, a frequência de células de memória aumenta com a idade, presumivelmente devido à exposição a microrganismos ambientais. De fato, as células de memória representam menos de 5% das células T periféricas no sangue de um recém‑nascido, mas 50% ou mais em um adulto (Fig. 1‑12). Conforme os indivíduos envelhecem, a acumulação gradual de células de memória compensa a produção reduzida das novas células T imaturas do timo, que involuem após a puberdade (Cap. 4). As células de memória são funcionalmente inativas; elas não executam funções efetoras, a menos que sejam estimuladas por antígenos. Quando as células de memória encontram um mesmo antígeno que induziu o seu desenvolvimento, as células respondem rapidamente para iniciar as respostas imunes secundárias. Os sinais que geram e mantêm as células de memória não são totalmente compreendidos, mas incluem as citocinas. FIGURA 111 Estágios na história da vida dos linfócitos. A, Linfócitos imaturos reconhecem antígenos estranhos para iniciar as respostas imunes adaptativas. Os linfócitos imaturos necessitam de sinais além dos antígenos para proliferar e diferenciarse em células efetoras; estes sinais adicionais não são mostrados. As células efetoras, que se desenvolvem a partir das células imaturas, têm a função de eliminar os antígenos. As células efetoras da linhagem de linfócitos B são células plasmáticas secretoras de anticorpos (alguns dos quais são de longa duração). As células efetoras da linhagem de linfócitos T CD4 produzem citocinas. (As células efetoras da linhagem CD8 são os CTL; estes não são mostrados.) Outros progenitores dos linfócitos estimulados por antígeno diferenciamse em células de memória de longa duração. B, As características importantes das células imaturas, efetoras e de memória em linhagens de linfócitos B e T estão resumidas. A geração e as funções das células efetoras, incluindo as mudanças nos padrões de migração e tipos de imunoglobulina produzida, estão descritas nos capítulos posteriores. FIGURA 112 Mudança nas proporções de células T imaturas e de memória com a idade. As proporções das células T imaturas e de memória são baseadas em dados de múltiplos indivíduos saudáveis. A estimativa da produção do timo é uma aproximação. (Cortesia de Dr. Donna L. Farber, Columbia University College of Physicians and Surgeons, Nova York.) As Células Apresentadoras de Antígenos As portas de entrada comuns para os microrganismos – da pele, do sistema gastrointestinal e do sistema respiratório – contêm células apresentadoras de antígenos (APC; do inglês, antigen‑presenting cells) especializadas localizadas no epitélio que capturam os antígenos, os transportam para os tecidos linfoides periféricos e os apresentam aos linfócitos. Esta função de captura de antígenos e apresentação é mais bem entendida para um tipo celular que é chamado de célula dendrítica devido aos seus longos processos de superfície de membrana. As células dendríticas capturam os antígenos de proteína dos microrganismos que entram através do epitélio e transportam os antígenos para os gânglios linfáticos regionais,nos quais as células dendríticas apresentam as porções dos antígenos para reconhecimento por linfócitos T. Se um microrganismo invadiu por meio do epitélio, ele pode ser fagocitado e apresentado pelos macrófagos dos tecidos. Os microrganismos ou os seus antígenos que entram nos órgãos linfoides podem ser capturados pelas células dendríticas ou pelos macrófagos que residem nestes órgãos e apresentados aos linfócitos. As células dendríticas são as APC mais eficazes para iniciar as respostas de células T. O processo de apresentação de antígenos para as células T está descrito no Capítulo 3. As células especializadas em apresentar os antígenos para os linfócitos T têm outra característica importante que lhes dá a capacidade de estimular as respostas das células T. Estas células especializadas respondem aos microrganismos produzindo e secretando proteínas de superfície que são necessárias, em conjunto com os antígenos, para ativar os linfócitos T imaturos a proliferar e diferenciar‑se em células efetoras. As células especializadas que apresentam os antígenos às células T e fornecem os sinais de ativação adicionais, por vezes, são chamadas de APC profissionais. As APC profissionais prototípicas são as células dendríticas, mas os macrófagos, as células B e alguns outros tipos de células podem servir a mesma função em várias respostas imunes. Pouco se sabe sobre as células que podem capturar os antígenos para apresentação aos linfócitos B. Estes podem reconhecer diretamente os antígenos de microrganismos (liberados ou na superfície dos microrganismos), ou os macrófagos que revestem os canais linfáticos podem capturar os antígenos e apresentá‑los às células B. Um tipo de célula chamado de célula dendrítica folicular (FDC; do inglês, follicular dendritic cell) reside nos centros germinativos dos folículos linfoides nos órgãos linfoides secundários e apresenta os antígenos que estimulam a diferenciação de células B nos folículos (Cap. 7). As FDC não apresentam os antígenos às células T e diferem das células dendríticas descritas anteriormente que funcionam como APC para os linfócitos T. Os tecidos do sistema imune Os tecidos do sistema imune consistem nos órgãos linfoides primários, nos quais os linfócitos T e B amadurecem e se tornam competentes para responder aos antígenos, e nos órgãos linfoides secundários, em que são iniciadas as respostas imunes adaptativas aos microrganismos (Fig. 1‑10). A maior parte dos linfócitos em um humano saudável é encontrada nos órgãos linfoides e em outros tecidos (Fig. 1‑13). No entanto, conforme será discutido mais adiante, os linfócitos são únicos entre as células do corpo, devido à sua capacidade de circular entre os tecidos. Os órgãos linfoides primários ou centrais (também chamados de geradores) são descritos no Capítulo 4, quando discutimos o processo de maturação dos linfócitos. A seção seguinte destaca algumas das características dos órgãos linfoides secundários (ou periféricos) que são importantes para o desenvolvimento da imunidade adaptativa. FIGURA 113 Distribuição dos linfócitos em órgãos linfoides e outros tecidos. Números aproximados de linfócitos em diferentes órgãos de adultos saudáveis são mostrados. Órgãos Linfoides Secundários Os órgãos linfoides secundários, que consistem em nódulos linfáticos, baço e os sistemas imunes da mucosa e cutâneos, são organizados de forma que promovam o desenvolvimento de respostas imunes adaptativas. Os linfócitos T e B devem localizar os microrganismos que entrarem em qualquer local do corpo, em seguida, responder a esses microrganismos e eliminá‑los. Além disso, como discutido anteriormente, no sistema imune normal, muito poucos destes linfócitos são específicos para qualquer antígeno. Não é viável para os poucos linfócitos específicos a qualquer antígeno a função de patrulhar todos os possíveis locais de entrada de antígeno. A organização anatômica dos órgãos linfoides secundários permite que as APC concentrem os antígenos nestes órgãos e linfócitos para localizar e responder aos antígenos. Essa organização é complementada por uma notável capacidade dos linfócitos de circular através do corpo de tal maneira que os linfócitos imaturos preferencialmente vão para os órgãos especializados nos quais o antígeno está concentrado e as células efetoras vão para os locais de infecção nos quais os microrganismos devem ser eliminados. Além disso, muitas vezes, diferentes tipos de linfócitos precisam de comunicação para gerar as respostas imunes eficazes. Por exemplo, as células T auxiliares específicas para um antígeno interagem e ajudam os linfócitos B específicos para o mesmo antígeno, resultando na produção de anticorpos. Uma função importante dos órgãos linfoides é agrupar essas raras células após uma estimulação por antígeno para que elas interajam entre si. Os principais órgãos linfoides secundários compartilham muitas características, mas também apresentam algumas características únicas. • Os gânglios linfáticos são agregados nodulares encapsulados de tecidos linfoides localizados ao longo dos canais linfáticos em todo o corpo (Fig. 1‑14). O fluido constantemente vaza para fora dos vasos sanguíneos em todos os tecidos epiteliais e conjuntivos e na maioria dos órgãos parenquimatosos. Este fluido, chamado de linfa, é drenado pelos vasos linfáticos a partir dos tecidos para os nódulos linfáticos e, eventualmente, de volta para a circulação sanguínea. Portanto, a linfa contém uma mistura de substâncias absorvidas a partir de epitélios e tecidos. Conforme a linfa passa através de nódulos linfáticos, as APC nos nodos são capazes de testar os antígenos de microrganismos que podem entrar através dos epitélios em tecidos. Além disso, as células dendríticas capturam os antígenos de microrganismos do epitélio e outros tecidos e transportam esses antígenos para os nódulos linfáticos. O resultado líquido desses processos de captura de antígeno e transportes é que a entrada dos antígenos de microrganismos através do epitélio ou a colonização dos tecidos tornou‑se concentrada na drenagem dos nódulos linfáticos. • O baço é um órgão abdominal altamente vascularizado que tem o mesmo papel nas respostas imunes a antígenos transmitidas pelo sangue, como a de linfonodos nas respostas aos antígenos de origem linfática (Fig. 1‑15). O sangue que entra no baço flui através de uma rede de canais (sinusoides). Os antígenos transmitidos pelo sangue são capturados e concentrados por células dendríticas e macrófagos no baço. O baço contém fagócitos em abundância, que ingerem e destroem os microrganismos no sangue. • O sistema imune cutâneo e o sistema imune da mucosa são coleções especializadas de tecidos linfoides e APC localizados ao redor do epitélio da pele e dos sistemas gastrintestinal e respiratório, respectivamente. Embora a maior parte das células imunes nestes tecidos seja difusamente dispersa sob as barreiras epiteliais, existem discretas coleções de linfócitos e APC organizadas de modo semelhante como nos gânglios linfáticos. Por exemplo, as amígdalas na faringe e as placas de Peyer no intestino são dois tecidos linfoides das mucosas anatomicamente definidas (Fig. 1‑16). A qualquer momento, pelo menos um quarto dos linfócitos do corpo está nos tecidos de mucosas e na pele (refletindo o tamanho destes tecidos) (Fig. 1‑13), e muitos deles são células de memória. Os tecidos linfoides cutâneos e das mucosas são locais de respostas imunes a antígenos que violam os epitélios. Uma propriedade notável dos sistemas imunes cutâneos e das mucosas é que eles são capazes de responder aos agentes patogênicos, mas não reagem aos grandes números de microrganismos comensais normalmente inofensivos presentes nas barreiras epiteliais. Isso é conseguido por meio de váriosmecanismos, incluindo a ação das células T reguladoras e outras células que suprimem em vez de ativar os linfócitos T. FIGURA 114 Morfologia dos gânglios linfáticos. A, Diagrama esquemático mostra a organização estrutural de um linfonodo B, Micrografia de luz mostra um corte de um linfonodo com numerosos folículos no córtex, alguns dos quais contêm as marcações nas áreas centrais (centros germinativos). FIGURA 115 Morfologia do baço. A, Diagrama esquemático mostra uma arteríola do baço rodeada pelas bainhas linfoides periarteriolares (PALS) e em anexo o folículo contendo um centro germinativo proeminente. A PALS e os folículos linfoides juntos constituem a polpa branca. B, Micrografia de luz de uma secção do baço mostra uma arteríola com a PALS e um folículo com um centro germinativo. Estes são cercados pela polpa vermelha, que é rica em sinusoides vasculares. FIGURA 116 Sistema imune da mucosa. Diagrama esquemático do sistema imune das mucosas utiliza o intestino delgado como um exemplo. Muitas bactérias comensais estão presentes no lúmen. O epitélio secretor de muco fornece uma barreira inata de invasão microbiana (discutido no Cap. 2). As células epiteliais especializadas, tais como as células M, promovem o transporte dos antígenos do lúmen para os tecidos subjacentes. As células na lâmina própria, incluindo as células dendríticas, os linfócitos T e macrófagos, fornecem defesa imune inata e adaptativa contra os microrganismos invasores; algumas destas células são organizadas em estruturas especializadas, tais como placas de Peyer no intestino delgado. A imunoglobulina A (IgA) é um tipo de anticorpo produzido abundantemente em tecidos de mucosas que é transportado para o lúmen, onde se liga e neutraliza os microrganismos (Cap. 8). Dentro dos órgãos linfoides secundários, os linfócitos T e os linfócitos B são segregados em diferentes compartimentos anatômicos (Fig. 1‑17). Nos nódulos linfáticos, as células B são concentradas em estruturas discretas, chamadas folículos, localizadas em torno da periferia, ou córtex, de cada nodo. Se as células B de um folículo recentemente responderam a um antígeno, este folículo pode conter uma marcação na região central chamada de centro germinal. O papel dos centros germinais na produção de anticorpos está descrito no Capítulo 7. Os linfócitos T são concentrados fora, mas adjacente para os folículos, na região do paracórtex. Os folículos contêm os FDC descritos anteriormente, que estão envolvidos na ativação das células B, e o paracórtex contém as células dendríticas que apresentam antígenos aos linfócitos T. No baço, os linfócitos T estão concentrados nas bainhas linfoides periarteriolares que circundam as pequenas arteríolas, e as células B residem nos folículos. FIGURA 117 Segregação de linfócitos T e B em diferentes regiões dos órgãos linfoides secundários. A, Diagrama esquemático ilustra o caminho pelo qual os linfócitos T e B imaturos migram para diferentes áreas de um linfonodo. Os linfócitos T e B imaturos entram através de uma alta vênula endotelial (VHE), mostrada em secção transversal, e são drenados para diferentes áreas do linfonodo por quimiocinas que são produzidas nestas áreas e se ligam seletivamente a qualquer tipo celular. Também mostrada a migração de células dendríticas, que captam os antígenos dos epitélios, penetram através dos vasos linfáticos aferentes e migram para as áreas ricas em células T do linfonodo (Cap. 3). B, Neste corte histológico de um gânglio linfático, os linfócitos B, localizados nos folículos, estão marcados em verde, e as células T, no córtexfolicular, estão marcadas em vermelho usando imunofluorescência. Nesta técnica, uma secção do tecido é corada com anticorpos específicos para células T ou B, acoplados aos fluorocromos que emitem cores diferentes quando estimulados nos comprimentos de onda apropriados. A segregação anatômica de células T e B também ocorre no baço (não mostrado). (Cortesia de Drs. Kathryn Pape e Jennifer Walter, University of Minnesota Medical School, Minneapolis.) A organização anatômica dos órgãos linfoides secundários é fortemente regulada para permitir que as respostas imunes se desenvolvam depois da estimulação pelos antígenos. Os linfócitos B são atraídos e retidos nos folículos, devido à ação de uma classe de citocinas chamadas de quimiocinas (citocinas quimioatraentes; quimiocinas e outras citocinas são discutidas em mais detalhes nos capítulos posteriores). Os FDC nos folículos secretam uma quimiocina especial para as quais as células B imaturas expressam um receptor, denominado CXCR5. A quimiocina que se liga ao CXCR5 atrai as células B do sangue para os folículos dos órgãos linfoides. Da mesma maneira, as células T são segregadas no paracórtex dos nódulos linfáticos e das bainhas linfoides periarteriolares do baço, pois os linfócitos T imaturos expressam um receptor, denominado CCR7, que reconhece as quimiocinas que são produzidas nestas regiões dos gânglios linfáticos e do baço. Como resultado, os linfócitos T são recrutados do sangue para a região paracortical do linfonodo e as bainhas linfoides periarteriolares do baço. Quando os linfócitos são ativados por antígenos, eles alteram sua expressão de receptores de quimiocinas. Em seguida, as células B e as células T migram em direção umas das outras e se encontram nas extremidades dos folículos, onde as células T auxiliares interagem e ajudam as células B a diferenciar‑se em células produtoras de anticorpos (Cap. 7). Assim, essas populações de linfócitos são mantidas afastadas umas das outras até que seja útil para que eles interajam, após a exposição a um antígeno. Este é um excelente exemplo de como a estrutura dos órgãos linfoides garante que as células que foram reconhecidas e responderam a um antígeno interagem e se comunicam umas com as outras somente quando necessário. Muitos dos linfócitos ativados, especialmente as células efetoras e as células T de memória, são praticamente as últimas a sair do nodo através dos vasos linfáticos eferentes e a deixar o baço através das veias. Esses linfócitos ativados alcançam a circulação e podem ir para locais de infecção distantes. Algumas células T ativadas permanecem nos órgãos linfoides onde foram geradas e migram para os folículos linfoides, nos quais eles auxiliam as células B a produzirem anticorpos de elevada afinidade. Recirculação de Linfócitos e Migração para os Tecidos Os linfócitos imaturos circulam constantemente entre o sangue e os órgãos linfoides secundários, onde eles podem ser ativados por antígenos para se tornarem células efetoras, e os linfócitos efetores migram dos tecidos linfoides para os locais de infecção, onde os microrganismos são eliminados (Fig. 1‑18). Assim, os linfócitos em diferentes estágios da vida migram para os diferentes locais onde eles são necessários pelas suas funções. A migração dos linfócitos efetores para locais de infecção é mais relevante para as células T, pois as células T efetoras precisam localizar e eliminar microrganismos nesses locais. Por outro lado, as células plasmáticas não precisam migrar para os locais de infecção; em vez disso, elas secretam anticorpos, e os anticorpos entram no sangue, onde eles podem se ligar a patógenos sanguíneos ou toxinas. As células plasmáticas nos órgãos das mucosas secretam os anticorpos que atingem os lumens destes órgãos, onde se ligam e combatem os microrganismos ingeridos e inalados. • Os linfócitos T imaturos que amadureceram no timo e entraram na circulação migram para os linfonodos, onde podem encontrar os antígenos que são trazidos para os linfonodos através dos vasos linfáticos que drenam os epitélios e os órgãos parenquimatosos. Estas células T imaturas entram nos linfonodos por meio de vênulas pós‑ capilares especializadas, chamadas de vênulas de endotélio alto (HEV; do inglês,high endothelial venules). As moléculas de adesão utilizadas pelas células T para se ligarem ao endotélio estão descritas no Capítulo 6. As quimiocinas produzidas nas zonas das células T dos nódulos linfáticos e apresentadas nas superfícies das HEV se ligam ao receptor de quimiocinas CCR7 expresso em células T imaturas, o que leva as células T a se ligarem fortemente às HEV. Em seguida, as células T imaturas migram para a zona de célula T, em que os antígenos são apresentados pelas células dendríticas. As células B imaturas também entram nos tecidos linfoides, mas, em seguida, migram para os folículos em resposta a quimiocinas que se ligam ao CXCR5, o receptor de quimiocinas expresso nessas células B. • No nódulo linfático, se uma célula T reconhece especificamente um antígeno de uma célula dendrítica, estas células T formam conjugados estáveis com as células dendríticas e são ativadas. Tal encontro entre um antígeno e um linfócito específico é possivelmente um acontecimento aleatório, mas a maioria das células T do organismo circula através de alguns gânglios linfáticos ao menos uma vez por dia. Como mencionado anteriormente e descrito no Capítulo 3, a probabilidade de que a célula T correta encontre o seu antígeno é maior nos órgãos linfoides secundários, em particular nos nódulos linfáticos, porque os antígenos microbianos estão concentrados nas mesmas regiões desses órgãos através dos quais as células T imaturas circulam. Assim, as células T encontram o antígeno o qual são capazes de reconhecer, e estas células T são ativadas a proliferar e diferenciar‑ se. As células imaturas que não encontraram antígenos específicos deixam os gânglios linfáticos e entram novamente na circulação. • As células efetoras que são geradas com a ativação das células T migram preferencialmente para os tecidos infectados por microrganismos, onde os linfócitos T desempenham a sua função de erradicar a infecção. Sinais específicos controlam esses padrões precisos de migração das células T imaturas e ativadas (Cap. 6). • Os linfócitos B que reconhecem e respondem aos antígenos nos folículos dos nódulos linfáticos diferenciam‑se em células secretoras de anticorpos, que tanto podem permanecer nos gânglios linfáticos ou migrar para a medula óssea (Cap. 7). • As células T de memória consistem em diferentes populações; algumas células recirculam através dos nódulos linfáticos, onde podem montar respostas secundárias para os antígenos capturados, e outras células migram para locais de infecção, nos quais podem responder rapidamente para eliminar a infecção. FIGURA 118 Migração dos linfócitos T. Linfócitos T imaturos migram do sangue através das vênulas altas do endotélio para as zonas das células T dos nodos linfáticos, em que as células são ativadas por antígenos. As células T ativadas saem dos nodos, entram na corrente sanguínea e migram para os tecidos periféricos preferencialmente em locais de infecção e inflamação. As moléculas de adesão que participam da ligação de células T às células endoteliais são descritas nos Capítulos 5 e 6. Sabe‑se menos sobre a circulação de linfócitos através do baço ou outros tecidos linfoides. O baço não contém HEV, mas o padrão geral de migração de linfócitos imaturos por meio deste órgão provavelmente é semelhante à migração através dos gânglios linfáticos. Visão geral das respostas imunes aos microrganismos Agora que descrevemos os principais componentes do sistema imune, é oportuno resumir as principais características das respostas imunes aos microrganismos. Aqui o foco é na função fisiológica do sistema imune – defesa contra as infecções. Nos próximos capítulos, cada uma dessas características será discutida mais detalhadamente. A Resposta Imune Inata Precoce aos Microrganismos Em indivíduos saudáveis e não infectados, o sistema imune inato é a defesa constante contra as infecções por organismos microbianos em nosso ambiente e contra organismos comensais que vivem em nossas barreiras epiteliais, incluindo a pele e as barreiras de mucosas (pulmão, sistema gastrintestinal, sistema urogenital). Em grande parte, o sistema imune inato evita que esses organismos ultrapassem as barreiras. Se os microrganismos transgredirem as barreiras, o sistema imune inato está sempre pronto, responde rapidamente, e tenta eliminar os invasores. As duas formas principais com que o sistema imune inato lida com os microrganismos são induzindo a inflamação e através de mecanismos antivirais. A inflamação, que é desencadeada por todas as classes de microrganismos, é o recrutamento dos leucócitos circulantes do sangue (p. ex., fagócitos e linfócitos) e as proteínas plasmáticas diferentes (p. ex., complemento, anticorpos, fibrinogênio) para os locais de infecção, onde sua função é destruir os microrganismos e reparar o tecido danificado. Várias citocinas diferentes estão envolvidas na resposta inflamatória. Os mecanismos antivirais tornam as células hospedeiras inabitáveis para as infecções virais e para a reprodução. Essas respostas inatas são muitas vezes suficientes para evitar a infecção dentro dos tecidos ou sangue. A fim de manter este estado de prontidão, o sistema imune inato preenche todos os tecidos com células sentinelas, incluindo os macrófagos, as células dendríticas e os mastócitos, que expressam muitas moléculas de superfície da célula e moléculas intracelulares diferentes que reconhecem milhares de características comuns de diferentes classes de microrganismos, tais como as paredes celulares das bactérias, ou os ácidos nucleicos virais. Alguns desses receptores estão também presentes nas células da barreira epitelial. O reconhecimento de produtos microbianos por essas células induz alterações bioquímicas dentro da célula que despertam as respostas inflamatórias e antivirais. Além das células residentes no tecido e das células recrutadas da circulação, as moléculas solúveis também estão presentes no sangue e fluidos de tecidos que podem reconhecer os microrganismos e responder a eles. Por exemplo, as proteínas solúveis do complemento modificam a superfície dos microrganismos para que esses microrganismos possam ser mais rapidamente absorvidos pelos fagócitos. Além de reconhecer as estruturas microbianas, o sistema imune inato também reconhece e responde a células mortas ou feridas, o que pode se dar devido à infecção microbiana ou, no caso de lesão estéril, um local onde os microrganismos possam facilmente entrar e crescer. A resposta imune inata também inicia o processo de reparação tecidual que é fundamental para a cura dos tecidos danificados e a restauração da estrutura e da função. Mesmo que o sistema imune inato seja essencial para a sobrevivência e muitas vezes o suficiente para a defesa microbiana, ele pode ser inadequado para eliminar ou controlar os microrganismos patogênicos que têm evoluído para evadir as respostas inatas. A imunidade inata também pode ser incapaz de defender contra organismos se forem introduzidos em grandes números através de barreiras danificadas, como nos traumas ou em queimaduras. Nestas situações o sistema imune adaptativo desempenha um papel crítico. A Resposta Imune Adaptativa O sistema imune adaptativo utiliza as seguintes estratégias para combater a maioria dos microrganismos: • Os anticorpos secretados se ligam a microrganismos extracelulares, bloqueiam a sua capacidade para infectar células hospedeiras e promovem a sua ingestão e subsequente destruição pelos fagócitos. • Os fagócitos ingerem os microrganismos e os destroem, e as células T auxiliares melhoram as habilidades microbicidas dos fagócitos. • As células T auxiliares recrutam os leucócitos para destruir microrganismos e melhoram a função barreira epitelial para impedir a entrada de microrganismos. • Os linfócitos T citotóxicos matam as células infectadas pelos microrganismos.As respostas imunes adaptativas se desenvolvem em etapas, cada uma das quais corresponde a reações particulares de linfócitos (Fig. 1‑19). FIGURA 119 Fases da resposta imune adaptativa. Uma resposta imune adaptativa consiste em fases distintas; as três primeiras são o reconhecimento do antígeno, a ativação dos linfócitos e a eliminação do antígeno (fase efetora). A resposta diminui à medida que os linfócitos estimulados pelo antígeno morrem por apoptose, restaurando o estado de equilíbrio da linha de base chamado de homeostase, e as células específicas do antígeno que sobrevivem são responsáveis pela memória. A duração de cada fase pode variar em diferentes respostas imunes. Estes princípios aplicamse tanto à imunidade humoral (mediada pelos linfócitos B) quanto à imunidade celular (mediada por linfócitos T). Início da Resposta Imune Adaptativa Se um microrganismo passar pelas defesas iniciais do sistema imune inato, o sistema imune adaptativo é alertado e responde. O sistema imune adaptativo gera e mantém um repertório diverso de clones de linfócitos B e T imaturos, com milhões de diferentes especificidades a antígenos microbianos, e todos esses clones diferentes se desenvolvem antes da exposição aos antígenos. Esses linfócitos circulam por todo o corpo, visitando os órgãos linfoides secundários (linfonodos, baço, tecidos linfoides da mucosa). Dada a sua diversidade, existe uma alta probabilidade de que a qualquer momento haverá um pequeno número de linfócitos imaturos que poderá reconhecer algumas moléculas produzidas pela maioria dos microrganismos. Para que a resposta imune adaptativa seja iniciada, um antígeno produzido pelos microrganismos seleciona um linfócito imaturo específico para o antígeno (seleção clonal), e os linfócitos respondem proliferando para produzir dezenas de milhares de linfócitos efetores com a especificidade idêntica capaz de eliminar a infecção microbiana. Captura e Apresentação dos Antígenos Microbianos Para que a ativação de linfócitos imaturos pelos antígenos ocorra de forma eficiente, o sistema imune recolhe os antígenos a partir dos locais de infecção teciduais ou do sangue e os entrega aos órgãos linfoides secundários, por meio do qual os linfócitos imaturos circulam. Microrganismos que entram através dos epitélios, bem como os seus antígenos proteicos, são capturados por células dendríticas residentes nesses epitélios e os antígenos ligados às células são transportados para drenagem dos gânglios linfáticos. Os antígenos proteicos microbianos são processados nas células dendríticas para gerar peptídeos que são exibidos na superfície da célula ligados a moléculas de MHC. As células T imaturas reconhecem estes complexos de peptídeo‑MHC, e este é o primeiro passo na iniciação das respostas de células T. Os antígenos proteicos são também reconhecidos pelos linfócitos B nos folículos linfoides dos órgãos linfoides secundários. Os polissacarídeos e os outros antígenos não proteicos são capturados nos órgãos linfoides e são reconhecidos pelos linfócitos B, mas não pelas células T. Como parte da resposta imune inata, as células dendríticas que apresentam o antígeno para as células T imaturas são ativadas para expressar as moléculas chamadas de coestimuladoras e a secretar citocinas, ambas necessárias, além do antígeno, para estimular a proliferação e diferenciação dos linfócitos T. A resposta imune inata a alguns microrganismos também gera fragmentos peptídicos de proteínas do complemento que melhoram a resposta dos linfócitos B imaturos aos antígenos. Assim, o antígeno (muitas vezes referido como sinal 1) e as moléculas produzidas durante as respostas imunes inatas (sinal 2) funcionam cooperativamente para ativar os linfócitos antígeno‑específicos. A exigência de sinal 2 desencadeado por microrganismo garante que a resposta imune adaptativa seja induzida por microrganismos e não por substâncias inofensivas. Os sinais gerados nos linfócitos pela ligação dos receptores do antígeno e pelos coestimuladores conduzem a transcrição de vários genes, que codificam citocinas, receptores de citocinas, moléculas efetoras e proteínas que controlam a sobrevivência e o ciclo celular. Todas essas moléculas estão envolvidas nas respostas dos linfócitos. A Imunidade Mediada por Células: a Ativação dos Linfócitos T e a Eliminação dos Microrganismos Associados às Células Quando ativados por antígenos e coestimuladores nos órgãos linfoides, as células T imaturas secretam citocinas que funcionam como fatores de crescimento e respondem às outras citocinas secretadas por células dendríticas. A combinação dos sinais (antígeno, coestimulação e citocinas) estimula a proliferação das células T e a sua diferenciação em células T efetoras. Algumas das células T efetoras geradas nos órgãos linfoides podem migrar de volta para o sangue e, em seguida para qualquer local onde o antígeno (ou microrganismo) está presente. Essas células efetoras são reativadas pelo antígeno em locais de infecção e executam as funções responsáveis pela eliminação dos microrganismos. As células T auxiliares secretam citocinas e moléculas de superfície que medeiam a expressão de suas funções. As células T auxiliares diferenciam‑se em diferentes subconjuntos de células efetoras com distintas funções. Algumas destas células auxiliares recrutam neutrófilos e outros leucócitos para locais de infecção; outras células auxiliares ativam os macrófagos para matar os microrganismos ingeridos; e outras ainda permanecem nos órgãos linfoides e auxiliam os linfócitos B a produzirem anticorpos. Os CTL matam diretamente as células que abrigam os microrganismos no citoplasma. Ao destruir as células infectadas, os CTL eliminam os reservatórios de infecção. A Imunidade Humoral: Ativação dos Linfócitos B e a Eliminação dos Microrganismos Extracelulares Quando ativados, os linfócitos B proliferam e, em seguida, diferenciam‑se em células do plasma que secretam diferentes classes de anticorpos com funções distintas. Muitos antígenos não proteicos, tais como polissacarídeos e lipídeos, apresentam múltiplos determinantes antigênicos idênticos (epítopos), que são capazes de se ligar a muitas moléculas de receptores de antígenos em cada célula B e iniciar o processo de ativação das células B. Os antígenos proteicos são geralmente dobrados e não contêm múltiplos epítopos idênticos; consequentemente, eles não são capazes de se ligar simultaneamente a muitos receptores de antígeno e a resposta total de células B a antígenos proteicos requer a ajuda de células T CD4+. As células B ingerem antígenos proteicos, os degradam e apresentam os peptídeos ligados a moléculas de MHC para o reconhecimento e para a ativação de células T auxiliares. As células T auxiliares, em seguida, expressam citocinas e proteínas da superfície celular, as quais trabalham em conjunto para ativar as células B. Alguns descendentes dos clones expandidos da célula B diferenciam‑se em células plasmáticas secretoras de anticorpos. Cada célula B secreta anticorpos que apresentam o mesmo local de ligação ao antígeno que a superfície celular dos anticorpos (receptores de antígeno de células B) que reconhece o antígeno primeiramente. Os antígenos não proteicos estimulam a secreção de anticorpos com uma variedade limitada de funções e com baixa afinidade pelo antígeno. Os antígenos proteicos, por envolver a ajuda de células T, estimulam a produção de vários tipos diferentes de anticorpos com diferentes funções e elevada afinidade pelo antígeno. Além disso, os antígenos proteicos induzem a secreção de anticorpos de longa duração e as células B de memória. A resposta imune humoral defende contra os microrganismos de várias maneiras. Os anticorpos ligam‑se aos microrganismose os impedem de infectar as células, neutralizando assim os microrganismos. Os anticorpos recobrem (opsonizam) os microrganismos e os dirigem para a fagocitose, pois os fagócitos (neutrófilos e macrófagos) expressam receptores para os anticorpos. Além disso, os anticorpos ativam o sistema do complemento, gerando fragmentos de proteínas que promovem a fagocitose e destruição dos microrganismos. Tipos especializados de anticorpos e de mecanismos de transporte para anticorpos têm papéis distintos em regiões anatômicas especiais, incluindo os lumens dos sistemas respiratório e gastrintestinal, a placenta e o feto. O Declínio das Respostas Imunes e a Memória Imunológica A maioria dos linfócitos efetores induzidos por um patógeno infeccioso morre por apoptose após o microrganismo ser eliminado, retornando, assim, o sistema imune para o estado de repouso basal, chamado de homeostase. Isso ocorre porque os microrganismos fornecem estímulos essenciais para a sobrevivência dos linfócitos e ativação, e as células efetoras têm curta duração. Portanto, conforme os estímulos são eliminados, os linfócitos ativados não são mantidos vivos. A ativação inicial dos linfócitos produz células de memória com vida longa, que podem sobreviver por anos após a infecção e são capazes de montar respostas rápidas e robustas para um encontro repetido com o antígeno. Resumo ▪ A função fisiológica do sistema imune é proteger os indivíduos contra infecções. ▪ A imunidade inata é a linha inicial de defesa, mediada pelas células e moléculas que estão sempre presentes e prontas para eliminar os microrganismos infecciosos ▪ A imunidade adaptativa é mediada por linfócitos estimulados por antígenos microbianos, requer a expansão clonal e a diferenciação dos linfócitos antes que eles sejam ativados, e responde de forma mais eficaz contra cada exposição sucessiva a um microrganismo. ▪ Os linfócitos são as células de imunidade adaptativa e são as únicas células com receptores clonalmente distribuídos e com especificidades para diferentes antígenos. ▪ A imunidade adaptativa consiste na imunidade humoral, em que os anticorpos neutralizam e erradicam microrganismos e toxinas extracelulares, e na imunidade celular, em que os linfócitos T erradicam os microrganismos intracelulares. ▪ As respostas imunes adaptativas consistem em fases sequenciais: o reconhecimento do antígeno pelos linfócitos, a ativação dos linfócitos para proliferar e se diferenciar em células efetoras e de memória, a eliminação dos microrganismos, a diminuição da resposta imune e a memória de longa duração. ▪ As diferentes populações de linfócitos apresentam funções distintas e podem ser distinguidas pela expressão de moléculas de superfície de membrana específicas. ▪ Os linfócitos B são as únicas células que produzem os anticorpos. Os linfócitos B expressam os anticorpos de membrana que reconhecem os antígenos, e a progênie das células B ativadas, chamadas de células plasmáticas, secretam os anticorpos que neutralizam e eliminam o antígeno. ▪ Os linfócitos T reconhecem os fragmentos peptídicos de antígenos proteicos apresentados em outras células. Os linfócitos T auxiliares produzem citocinas que ativam os fagócitos para destruir os microrganismos ingeridos, recrutar os leucócitos e ativar os linfócitos B para a produção dos anticorpos. Os linfócitos T citotóxicos (CTL) matam as células infectadas portadoras de microrganismos no citoplasma. ▪ As células apresentadoras de antígenos (APC) capturam os antígenos dos microrganismos que entram através do epitélio, concentram esses antígenos em órgãos linfoides e apresentam os antígenos para o reconhecimento pelas células T. ▪ Os linfócitos e as APC estão organizados nos órgãos linfoides secundários, em que as respostas imunes são iniciadas e se desenvolvem. ▪ Os linfócitos imaturos circulam através dos órgãos linfoides secundários em busca de antígenos estranhos. Os linfócitos T efetores migram para regiões periféricas de infecção, em que sua função é eliminar os microrganismos infecciosos. As células plasmáticas permanecem nos órgãos linfoides e na medula óssea, onde secretam anticorpos que entram na circulação e encontram e eliminam os microrganismos. Perguntas de revisão 1. Quais são os dois tipos de imunidade adaptativa e que tipos de microrganismos apresentam essa resposta imune adaptativa? 2. Quais são as principais classes de linfócitos e como eles diferem em sua função? 3. Quais são as diferenças importantes entre os linfócitos T e B imaturos, efetores e de memória? 4. Onde ficam localizados os linfócitos T e B nos gânglios linfáticos e como é mantida a sua separação anatômica? 5. Como os linfócitos T imaturos e efetores diferem em seus padrões de migração? As respostas e as discussões das Perguntas de Revisão estão disponíveis em www.studentconsult.com.br. CAP Í T U LO 2 Imunidade Inata Defesa Precoce Contra Infecções Características gerais e especificidade das respostas imunes inatas Receptores celulares para os microrganismos e células danificadas Receptores do Tipo Toll Receptores do Tipo NOD e Inflamassoma Outros Receptores Celulares da Imunidade Inata Componentes da imunidade inata Barreiras Epiteliais Fagócitos: Neutrófilos e Monócitos/Macrófagos Células Dendríticas Mastócitos As Células Linfoides Inatas Células Natural Killer Linfócitos com Diversidade Limitada Sistema Complemento Outras Proteínas Plasmáticas da Imunidade Inata Citocinas da Imunidade Inata Reações imunes inatas Inflamação Defesa Antiviral Regulação das Respostas Imunes Inatas Evasão Microbiana da Imunidade Inata Papel da imunidade inata na estimulação das respostas imunes adaptativas Resumo Os organismos multicelulares como plantas, invertebrados e vertebrados surgiram durante a evolução e, por isso, tiveram de desenvolver mecanismos para se defender contra infecções microbianas e para eliminar as células danificadas e necróticas. Os mecanismos de defesa que evoluíram primeiro estão sempre presentes no organismo, prontos para reconhecer e eliminar os microrganismos e as células mortas; portanto, este tipo de defesa do hospedeiro é conhecido como imunidade inata, também chamada de imunidade natural ou imunidade nativa. As células e moléculas que são responsáveis pela imunidade inata compõem o sistema imune inato. A imunidade inata é o primeiro passo crítico na defesa do hospedeiro contra infecções. Ela bloqueia a invasão microbiana por meio das barreiras epiteliais, destrói muitos microrganismos que penetram no corpo e é capaz de controlar e até mesmo erradicar as infecções. A resposta imune inata é capaz de combater os microrganismos imediatamente após a infecção; em contraste, a resposta imune adaptativa precisa ser induzida pelo antígeno e, portanto, é demorada. A resposta imune inata também instrui o sistema imune adaptativo para responder aos diferentes microrganismos em maneiras que são eficazes para o combate a esses microrganismos. Além disso, a imunidade inata tem participação‑chave na depuração dos tecidos mortos e na iniciação da reparação dos tecidos após danos. Antes de abordarmos a imunidade adaptativa, que é o tema principal deste livro, discutiremos as reações iniciais de defesa da imunidade inata neste capítulo. A discussão é centrada nas seguintes perguntas: 1. De que maneira o sistema imune inato reconhece os microrganismos e as células danificadas? 2. De que maneira os diferentes componentes da imunidade inata funcionam para combater aos diferentes tipos de microrganismos? 3. De que maneira as reações imunes inatas estimulam as respostas imunes adaptativas? Características gerais e especificidade das respostas imunes inatas O sistema imune inato desempenha suas funções de defesa com um conjunto restrito de reações, que são mais limitadas que as mais variadas e especializadas respostas da imunidade adaptativa. A especificidadeda imunidade inata também é diferente em vários aspectos da especificidade dos linfócitos, as células de reconhecimento de antígenos da imunidade adaptativa (Fig. 2‑1). FIGURA 21 Especificidade e receptores da imunidade inata e imunidade adaptativa. Esta figura resume as características importantes da especificidade e os receptores da imunidade inata e adaptativa, com exemplos selecionados ilustrados. Ig, imunoglobulina (anticorpo); TCR, receptor de células T. Os dois principais tipos de reações do sistema imune inato são a inflamação e a defesa antiviral. A inflamação consiste na acumulação e na ativação dos leucócitos e proteínas plasmáticas em locais de infecção ou de danos aos tecidos. Essas células e proteínas agem em conjunto para destruir principalmente os microrganismos extracelulares e para eliminar os tecidos danificados. A defesa imune inata contra os vírus intracelulares é mediada pelas células NK, as células que matam células infectadas por vírus, e pelas citocinas chamadas interferons do tipo I, que bloqueiam a replicação viral dentro de células hospedeiras. O sistema imune inato responde essencialmente da mesma maneira ao repetir o encontro com um microrganismo, ao passo que o sistema imune adaptativo prepara respostas mais fortes e mais eficazes para cada encontro sucessivo com um microrganismo. Em outras palavras, o sistema imune inato não se recorda dos encontros prévios com os microrganismos e redefine a linha de base depois de cada encontro, enquanto a memória é uma característica fundamental da resposta imune adaptativa. Há uma evidência emergente de que algumas células da imunidade inata (tais como macrófagos e células NK) são alteradas após encontros com os microrganismos, de modo que eles respondem melhor nos encontros posteriores. No entanto, não está claro se esse processo resulta em melhor proteção contra as infecções recorrentes ou é específica para microrganismos diferentes. O sistema imune inato reconhece as estruturas que são compartilhadas por várias classes de microrganismos e que não estão presentes nas células normais do hospedeiro. Os mecanismos da imunidade inata reconhecem e respondem a um número limitado de moléculas microbianas, muito menos que o número quase ilimitado de antígenos microbianos e não microbianos que são reconhecidos pelo sistema imune adaptativo. Cada componente da imunidade inata pode reconhecer muitas bactérias, vírus ou fungos. Por exemplo, os fagócitos expressam receptores para a endotoxina bacteriana, também chamada de lipopolissacarídeo (LPS) e outros receptores para peptidoglicanos, cada um dos quais está presente nas paredes celulares de muitas espécies bacterianas, mas não são produzidos por células dos mamíferos. Outros receptores dos fagócitos reconhecem os resíduos terminais de manose, que são típicos das bactérias, mas não as glicoproteínas dos mamíferos. As células dos mamíferos reconhecem e respondem ao ácido ribonucleico de dupla‑hélice (dsRNA) encontrado em muitos vírus, mas não em células dos mamíferos, e aos nucleotídeos (CpG) ricos em CG não metilados, que são comuns no DNA bacteriano, mas não são encontrados no DNA dos mamíferos. As moléculas microbianas que estimulam a imunidade inata são muitas vezes chamadas de padrões moleculares associados a patógenos (PAMP; do inglês, pathogen‑associated molecular pa�erns) para indicar que elas estão presentes em agentes infecciosos (patógenos) e são compartilhadas pelos microrganismos do mesmo tipo (ou seja, são padrões moleculares). Os receptores da imunidade inata que reconhecem essas estruturas compartilhadas são chamados de receptores de reconhecimento de padrões. Os componentes da imunidade inata evoluíram para reconhecer as estruturas dos microrganismos que são muitas vezes essenciais para a sobrevivência e capacidade de infecção desses microrganismos. Essa característica da imunidade inata faz com que o mecanismo de defesa seja altamente eficaz, pois um microrganismo não pode escapar da imunidade inata simplesmente por meio de uma mutação ou da não expressão dos alvos de reconhecimento imunológico inato. Os microrganismos que não expressam as formas funcionais dessas estruturas perdem a sua capacidade de infectar e colonizar o hospedeiro. Em contraste, os microrganismos frequentemente desviam da imunidade adaptativa por meio da mutação dos antígenos que são reconhecidos pelos linfócitos, visto que estes antígenos geralmente não são indispensáveis para a vida dos microrganismos. O sistema imune inato também reconhece as moléculas que são liberadas das células hospedeiras danificadas ou necróticas. Tais moléculas são chamadas de padrões moleculares associados a danos (DAMP; do inglês, damage‑associated molecular pa�erns). As respostas subsequentes para as DAMP servem para eliminar as células danificadas e para iniciar o processo de reparação tecidual. Assim, as respostas inatas ocorrem até mesmo após uma lesão estéril, como infarto, a morte do tecido devido à perda de seu suprimento de sangue. Os receptores do sistema imune inato são codificados por genes herdados que são idênticos em todas as células. Os receptores padrões de reconhecimento do sistema imune inato são monoclonalmente distribuídos; isto é, receptores idênticos são expressos em todas as células de um tipo particular, tais como nos macrófagos. Por isso, muitas células da imunidade inata podem reconhecer e responder a um mesmo microrganismo. Isso contrasta com os receptores de antígenos do sistema imune adaptativo, que são codificados por genes formados pelo rearranjo somático dos segmentos de genes durante o desenvolvimento dos linfócitos, resultando em receptores únicos em cada clone de linfócitos B e T. Estima‑se que existem aproximadamente 100 tipos de receptores imunes inatos capazes de reconhecer cerca de 1.000 PAMP e DAMP. Em contraste notável, há apenas dois tipos de receptores específicos no sistema imune adaptativo (imunoglobulina [Ig] e receptores de células T [TCR; do inglês, T cell receptors]); no entanto, devido a sua diversidade, eles são capazes de reconhecer milhões de antígenos diferentes. O sistema imune inato não reage contra o hospedeiro normal. Várias características do sistema imune inato contribuem para a incapacidade de reagir contra si mesmo, as células e moléculas próprias do indivíduo. Em primeiro lugar, os receptores da imunidade inata evoluíram, a fim de terem especificidade para estruturas microbianas (e produtos de células danificadas), mas não para as substâncias das células saudáveis. Em segundo lugar, alguns receptores padrões de reconhecimento podem reconhecer substâncias como ácidos nucleicos que estão presentes em células normais, mas estes receptores estão localizados em compartimentos celulares (como os endossomos; ver adiante), de onde os componentes de células saudáveis são excluídos. Em terceiro lugar, as células de mamíferos normais expressam moléculas reguladoras que impedem as reações imunes inatas. O sistema imune adaptativo também discrimina entre o próprio e o não próprio. No sistema imune adaptativo, os linfócitos capazes de reconhecer antígenos próprios são produzidos, mas eles morrem ou são inativados em encontro com antígenos próprios. A resposta imune inata pode ser considerada como uma série de reações que proporcionam defesa nas seguintes fases das infecções microbianas: • Nos portais de entrada para microrganismos: a maioria das infecções microbianas é adquirida por meio do epitélio da pele e dos sistemas gastrintestinal e respiratório. Os mecanismos de defesa iniciais ativados nesses locais são os epitélios, proporcionando barreiras físicas, moléculas antimicrobianas e células linfoides. • Nos tecidos:microrganismos que violam os epitélios, bem como as células mortas em tecidos, são detectados pelos macrófagos residentes, células dendríticas e mastócitos. Algumas destas células reagem, secretando as citocinas, que iniciam o processo de inflamação, e os fagócitos que residem nos tecidos ou foram recrutados do sangue destroem os microrganismos e eliminam as células danificadas. • No sangue: as proteínas plasmáticas, incluindo proteínas do sistema do complemento, reagem contra os microrganismos e promovem a sua destruição. • Os vírus provocam reações especiais, incluindo a produção de interferons a partir de células infectadas que inibem a infecção de outras células e a morte de células infectadas através das células NK. Retornaremos para uma discussão mais detalhada sobre esses componentes da imunidade inata e suas reações mais adiante neste capítulo. Começaremos com uma observação de como microrganismos, células danificadas e outras substâncias estranhas são detectadas e como as respostas imunes inatas são acionadas. Receptores celulares para os microrganismos e células danificadas Os receptores utilizados pelo sistema imune inato para reagir contra microrganismos e células danificadas são expressos em fagócitos, células dendríticas e muitos outros tipos de células, e são expressos em diferentes compartimentos celulares em que os microrganismos podem ser localizados. Esses receptores estão presentes na superfície da célula, na qual poderão detectar os microrganismos extracelulares; em vesículas (endossomos), em que os produtos microbianos são ingeridos; e no citosol, no qual funcionam como sensores de microrganismos citoplasmáticos (Fig. 2‑2). Esses receptores para PAMP e DAMP pertencem a várias famílias de proteínas. FIGURA 22 Localização celular dos receptores do sistema imune inato. Alguns receptores, como certos receptores do tipo Toll (TLR) e lectinas, estão localizados na superfície das células; outros TLR estão nos endossomos. Alguns receptores para ácidos nucleicos virais, peptídeos bacterianos e produtos de células danificadas estão no citoplasma. NOD e RIG referemse aos membros fundadores de famílias de receptores citosólicos estruturalmente homólogos para produtos bacterianos e virais, respectivamente. (Seus nomes completos são complexos e não refletem as suas funções.) Há cinco grandes famílias de receptores celulares na imunidade inata: TLR, CLR (receptores de lectina do tipo C), NLR (receptores do tipo NOD), RLR (receptores do tipo RIG), e os CDS (sensores de DNA citosólicos. Receptores formilpeptídeos (não mostrados) estão envolvidos na migração dos leucócitos em resposta às bactérias. Receptores do Tipo Toll Os receptores do tipo Toll (TLR; do inglês, Toll‑like receptor) são homólogos a uma proteína da Drosophila chamada Toll, que foi descoberta pelo o seu papel no desenvolvimento da mosca e mais tarde demonstrou ser essencial para proteger a mosca contra infecções. Diferentes TLR são específicos para diferentes componentes de microrganismos (Fig. 2‑3). O TLR‑2 reconhece vários glicolipídeos bacterianos e parasitários e peptidoglicanos; o TLR‑3, ‑7, ‑8 e são específicos para RNA virais de cadeia simples e de dupla‑hélice; o TLR‑4 é específico para o LPS bacteriano (endotoxina); o TLR‑5 é específico para uma proteína flagelar bacteriana denominada flagelina; e o TLR‑9 reconhece o DNA CpG não metilado, que é mais abundante em genomas microbianos do que no DNA dos mamíferos. Os TLR específicos para proteínas, lipídeos e polissacarídios dos microrganismos (muitos dos quais estão presentes nas paredes celulares das bactérias) estão localizados nas superfícies das células, em que eles reconhecem esses produtos de microrganismos extracelulares. Os TLR que reconhecem ácidos nucleicos estão nos endossomos, para onde os microrganismos são ingeridos e são digeridos, e os seus ácidos nucleicos são liberados. FIGURA 23 Estrutura e especificidades dos receptores do tipo Toll. Diferentes TLR respondem a muitos diferentes e estruturalmente diversos produtos de microrganismos. Os TLR endossomais respondem apenas aos ácidos nucleicos. Todos os TLR apresentam um domínio de ligação composto de motivos ricos em leucina e uma sinalização citoplasmática, interleucina1(IL 1) do tipo Toll, domínio (TIR) do receptor. df, duplafita; LPS, lipopolissacarídeo; fs, fita simples. Os sinais gerados pelo envolvimento dos TLR ativam os fatores de transcrição que estimulam a expressão de genes que codificam as citocinas, enzimas e outras proteínas envolvidas nas funções antimicrobianas dos fagócitos ativados e outras células (Fig. 2‑4). Dentre os fatores de transcrição mais importantes ativados pelos sinais dos TLR estão os membros da família do fator nuclear κB (NF‑κB), que promovem a expressão de várias citocinas e moléculas de adesão endotelial e fatores reguladores do interferon (IRF; do inglês, interferon regulatory factors), que estimulam a produção dos interferons antivirais do tipo I. FIGURA 24 Funções da sinalização dos receptores do tipo Toll. Os TLR ativam os mecanismos de sinalização similares, que envolvem proteínas adaptadoras e conduzem à ativação de fatores de transcrição. Estes fatores de transcrição estimulam a produção de proteínas que medeiam a inflamação e a defesa antiviral. NFκB, fator nuclear κB. As raras mutações hereditárias nas moléculas de sinalização dos TLR estão associadas a infecções recorrentes e graves, destacando a importância dessas vias na defesa do hospedeiro contra os microrganismos. Receptores do Tipo NOD e Inflamassoma Os receptores do tipo NOD (NLR; do inglês, NOD‑like receptors) são uma grande família de receptores citosólicos que detectam DAMP e PAMP no citoplasma. Todos os NLR têm um NOD central (domínio de oligomerização de nucleotídeos), mas apresentam diferentes domínios N‑terminais. Os três NLR importantes são NOD‑1, NOD‑2, e NLRP‑3. • O NOD‑1 e NOD‑2 são proteínas citosólicas contendo os domínios CARD N‑terminais (caspase relacionado). Eles são específicos para peptidoglicanos bacterianos, que são componentes comuns de paredes de células bacterianas. Ambos ativam o fator de transcrição NF‑κB. Alguns polimorfismos do gene NOD2 estão associados à doença inflamatória do intestino; mecanismos subjacentes continuam parcialmente compreendidos. • O NLRP‑3 (família de receptores do tipo NOD contendo o domínio pirina 3) é um receptor do tipo NOD citosólico que responde a muitas estruturas microbianas não relacionadas ou a alterações patológicas no citosol e reage aumentando a produção principalmente da citocina inflamatória IL‑1β. Ele contém um domínio pirina N‑terminal (chamado assim por estar presente nos receptores que induzem a produção de citocinas que causam febre; do grego, pyro, que significa queimar). O NLRP‑3 reconhece os produtos microbianos; as substâncias que indicam danos nas células e morte, incluindo o trifosfato de adenosina (ATP), os cristais de ácido úrico derivados dos ácidos nucleicos e mudanças na concentração intracelular dos íons potássio (K+); e substâncias endógenas que são depositadas nas células e tecidos em quantidades excessivas (p. ex., cristais de colesterol e ácidos graxos livres). Após o reconhecimento dessas substâncias variadas, o NLRP‑3 oligomeriza com uma proteína adaptadora e uma forma inativa (pro) da enzima de caspase‑1, resultando na forma ativa da enzima (Fig. 2‑5). A caspase‑1 ativa cliva uma forma precursora da citocina interleucina‑1β (IL‑1β) para gerar a IL‑1β biologicamente ativa. Conforme será discutido adiante, a IL‑1 induz a inflamação aguda e causa febre. Este complexo citosólico de NLRP‑3 (o sensor), uma proteína adaptadora e a caspase‑1 é chamado de inflamassoma. Há também outros inflamassomas ativadores da caspase‑1 que apresentam diferentes proteínas sensores além do NLRP3. O inflamassoma é importante não só paraa defesa do hospedeiro, mas também devido ao seu papel em várias doenças. As mutações de ganho de função em NLRP‑3 são a causa de síndromes autoinflamatórias raras, caracterizadas pela inflamação descontrolada e espontânea. Os antagonistas de IL‑1 são tratamentos eficazes para essas doenças. A doença articular comum chamada de gota é causada por deposição de cristais de urato e subsequente inflamação mediada pelo reconhecimento dos cristais pelo inflamassoma e produção de IL‑1β. O inflamassoma pode também contribuir para a aterosclerose, em que a inflamação causada pelos cristais de colesterol pode desempenhar um papel, e o diabetes do tipo 2 associado à obesidade, em que a IL‑1 produzida em reconhecimento de lipídeos pode contribuir para resistência à insulina dos tecidos. FIGURA 25 O inflamassoma. É mostrada a ativação do inflamassoma NLRP3, que processa a próinterleucina1β (próIL1β) para IL1 ativa. A síntese de próIL1β é induzida por vários PAMP ou DAMP através da sinalização dos receptores de reconhecimento padrões. A produção subsequente de IL1β biologicamente ativa é mediada pelo inflamassoma. Note que o inflamassoma consiste em várias moléculas de NLRP3, uma proteína adaptadora e a caspase1. Outras formas do inflamassoma existentes que contêm outros sensores além de NLRP3, incluindo NLRP1, NLRC4 ou AIM2. ATP, trifosfato de adenosina; NLRP3, família de receptores do tipo NOD, domínio contendo 3 pirinas; TLR, receptores do tipo Toll. Outros Receptores Celulares da Imunidade Inata Muitos outros tipos de receptores estão envolvidos nas respostas imunes inatas aos microrganismos (Fig. 2‑2): • A família do receptor do tipo RIG (RLR; do inglês, RIG‑like receptor)) reconhece o RNA produzido por vírus no citosol e ativa as vias de sinalização que conduzem à produção de interferon do tipo I (IFN). • Sensores de DNA citosólico (CDS) incluem várias proteínas estruturalmente relacionadas que reconhecem o DNA viral citosólico e também induzem a produção do IFN de tipo I. • Os receptores de lectina (reconhecimento de carboidratos) na membrana plasmática são específicos para glicanos de fungos (estes receptores são chamados de dectinas) e para os resíduos dos terminais de manose (chamados de receptores de manose); eles estão envolvidos na fagocitose de bactérias e fungos e em respostas inflamatórias a estes agentes patogênicos. • Um receptor de superfície celular expresso principalmente nos fagócitos reconhece peptídeos que começam com N‑formilmetionina, que é específica para proteínas bacterianas e promove a migração, bem como as atividades antimicrobianas dos fagócitos. Embora, até agora, a ênfase tenha sido os receptores celulares, o sistema imune inato também contém várias moléculas circulantes que reconhecem e fornecem defesa contra os microrganismos, como será discutido posteriormente. Componentes da imunidade inata Os componentes do sistema imune inato incluem as células epiteliais; as células sentinela nos tecidos (macrófagos, células dendríticas, mastócitos e outras); células linfoides inatas, incluindo as células NK; e determinado número de proteínas plasmáticas. Serão discutidas as propriedades destas células e proteínas solúveis e seus papéis nas respostas imunes inatas. Barreiras Epiteliais As principais interfaces entre o corpo e o ambiente externo – pele, sistema gastrintestinal, sistema respiratório e sistema geniturinário – são protegidas pelos epitélios contínuos que fornecem barreiras físicas e químicas contra as infecções (Fig. 2‑6). Os microrganismos podem entrar no hospedeiro através dessas interfaces pelo contato físico, ingestão e inalação. Todos esses portais de entrada são revestidos por epitélios contínuos que consistem em células firmemente aderentes que formam uma barreira mecânica contra os microrganismos. A queratina na superfície da pele e o muco secretado pelas células epiteliais da mucosa evita que os microrganismos entrem em contato e possam infectar o epitélio. As células epiteliais também produzem os peptídeos antimicrobianos, chamados defensinas e catelicidinas, que matam bactérias e assim fornecem uma barreira química contra as infecções. Além disso, os epitélios contêm linfócitos chamados de linfócitos T intraepiteliais que pertencem à linhagem de células T, mas expressam receptores de antígenos de diversidade limitada. Algumas dessas células T expressam receptores compostos de duas cadeias, γ e δ, que são semelhantes, mas não idênticas aos receptores αβ de células T expressos na maioria dos linfócitos T (Caps. 4 e 5). Os linfócitos intraepiteliais, muitas vezes, reconhecem os lipídeos microbianos e outras estruturas que sejam compartilhadas pelos microrganismos do mesmo tipo. Os linfócitos T intraepiteliais possivelmente reagem contra agentes infecciosos que tentam violar o epitélio, mas a especificidade e a função dessas células não são completamente compreendidas. FIGURA 26 Funções do epitélio na imunidade inata. Os epitélios presentes nos portais de entrada de microrganismos proporcionam barreiras físicas formadas pela queratina (na pele) ou muco secretado (no sistema gastrintestinal, broncopulmonar e geniturinário) e por junções comunicantes entre as células epiteliais. Epitélios também produzem as substâncias antimicrobianas (p. ex., defensinas) e abrigam os linfócitos que matam os microrganismos e as células infectadas. Fagócitos: Neutrófilos e Monócitos/Macrófagos Os dois tipos de fagócitos circulantes, os neutrófilos e monócitos, são células sanguíneas que são recrutadas para os locais de infecção, em que reconhecem e ingerem os microrganismos para a morte intracelular. • Os neutrófilos, também chamados de leucócitos polimorfonucleares (PMN), são os leucócitos mais abundantes no sangue, variando de 4.000 a 10.000 por μL (Fig. 2‑7, A). Em resposta a infecções, a produção de neutrófilos pela medula óssea aumenta rapidamente e os seus números podem subir para 20.000 por μL de sangue. A produção de neutrófilos é estimulada pelas citocinas, conhecidas como fatores estimulantes de colônia (CSF; do inglês, colony‑stimulating factors), que são secretados por vários tipos de células em resposta a infecções e agem sobre as células‑tronco hematopoéticas para estimular a proliferação e a maturação dos precursores de neutrófilos. Os neutrófilos são o primeiro tipo de célula a responder para a maioria das infecções, particularmente infecções bacterianas e fúngicas e, portanto, são as células dominantes da inflamação aguda, como será discutido mais adiante. Os neutrófilos ingerem os microrganismos na circulação e entram rapidamente nos tecidos extravasculares nos locais de infecção, em que também fagocitam (ingerem) e destroem os microrganismos. Os neutrófilos expressam receptores para produtos da ativação do complemento e para anticorpos de revestimento dos microrganismos. Esses receptores amplificam a fagocitose e também fazem a transdução dos sinais de ativação que aumentam a capacidade dos neutrófilos de matar os microrganismos ingeridos. O processo de fagocitose e destruição intracelular de microrganismos será descrito mais adiante. Estas células também são recrutadas para os locais de danos nos tecidos na ausência de infecção, em que iniciam a depuração dos detritos celulares. Os neutrófilos vivem por apenas algumas horas nos tecidos, por isso são os primeiros a responder, mas não fornecem defesa prolongada. • Os monócitos são menos abundantes no sangue do que os neutrófilos, variando entre 500 a 1.000 por μL (Fig. 2‑ 7, B). Além disso, ingerem os microrganismos no sangue e nos tecidos. Durante as reações inflamatórias, os monócitos entram nos tecidos extravasculares e diferenciam‑se em células denominadas macrófagos, que, ao contrário dos neutrófilos, sobrevivem nesses locais por longos períodos. Assim, os monócitos sanguíneos e os macrófagos teciduais são duasfases da mesma linhagem celular, muitas vezes é chamada de sistema mononuclear fagocitário (Fig. 2‑8) (este sistema costumava ser chamado de sistema reticuloendotelial, por razões históricas, mas trata‑se de um termo impróprio e deve ser evitado). Alguns macrófagos que residem em diferentes tecidos, tais como o cérebro, o fígado e os pulmões, são derivados de monócitos não circulantes, mas formam progenitores no saco vitelino ou no fígado fetal no início do desenvolvimento do organismo. Os macrófagos também são encontrados em todos os tecidos conjuntivos e órgãos do corpo. FIGURA 27 Morfologia de neutrófilos e monócitos. A, Micrografia de luz de neutrófilos sanguíneos mostra o núcleo multilobado, razão pela qual estas células são também chamadas de leucócitos polimorfonucleares e os grânulos citoplasmáticos fracos, a maioria dos quais é de lisossomos. B, Micrografia de luz de monócitos sanguíneos mostra o típico núcleo em forma de ferradura. FIGURA 28 Maturação dos fagócitos mononucleares. No estado constante em adultos e durante as reações inflamatórias, os precursores da medula óssea dão origem aos monócitos circulantes, que entram nos tecidos periféricos, amadurecem, para formar macrófagos e são ativados localmente. No início do desenvolvimento, como na vida fetal, os precursores no saco vitelino e fígado fetal dão origem a células que os tecidos originaram para gerar macrófagos teciduais residentes especializados. Os macrófagos contêm vários papéis importantes na defesa do hospedeiro: produzem citocinas que induzem e regulam a inflamação, ingerem e destroem microrganismos, desobstruem tecidos mortos e iniciam o processo de reparação tecidual (Fig. 2‑9). Uma série de famílias de receptores é expressa nos macrófagos e está envolvida na ativação e funções dessas células. Os receptores de reconhecimento padrão discutidos anteriormente, incluindo TLR e NLR, reconhecem os produtos de microrganismos e as células danificadas e ativam os macrófagos. A fagocitose mediada por receptores da superfície celular, tais como os receptores de manose e receptores scavenger, que se ligam diretamente aos microrganismos (e a outras partículas), e receptores para produtos de ativação do complemento e anticorpos que são também expressos por neutrófilos. Alguns desses receptores fagocíticos ativam a função de destruição dos microrganismos pelos macrófagos. Além disso, os macrófagos respondem a várias citocinas. FIGURA 29 Ativação e funções dos macrófagos. Nas respostas imunes inatas, os macrófagos são ativados por produtos microbianos que se ligam aos TLR e por citocinas, tais como o interferon derivado de células NKγ (IFNγ), que levam à produção de proteínas que medeiam as funções inflamatórias e microbicidas dessas células. Os receptores da superfície celular do complemento promovem a fagocitose dos microrganismos revestidos de complemento, bem como a ativação dos macrófagos. (Receptores Fc de macrófagos para IgG [não mostrado] ligamse a microrganismos revestidos com anticorpos e executam funções semelhantes aos receptores do complemento). IL, interleucina; iNOS, óxido nítrico sintase induzida; TNF, fator de necrose tumoral. Os macrófagos podem ser ativados por duas diferentes vias que servem funções distintas (Fig. 6‑9, Cap. 6). Essas vias de ativação foram chamadas de via clássica e alternativa. A ativação clássica de macrófagos é induzida pelos sinais imunes inatos, como de TLR, e pela citocina IFN‑γ, que pode ser produzida em ambas as respostas, imune inata e adaptativa. Os macrófagos ativados classicamente, também chamados de M1, estão envolvidos na destruição de microrganismos e no desencadeamento da inflamação. A ativação alternativa dos macrófagos ocorre na ausência de fortes sinais de TLR e é induzida pelas citocinas IL‑4 e IL‑13; estes macrófagos, denominados M2, parecem ser mais importantes para a reparação dos tecidos e para acabar com a inflamação. A abundância relativa dessas duas formas de macrófagos ativados pode influenciar o resultado de reações do hospedeiro e contribuir para várias disfunções. As funções dessas populações de macrófagos serão discutidas no Capítulo 6, quando será discutida a imunidade celular. Embora a discussão tenha sido limitada ao papel dos fagócitos na imunidade inata, os macrófagos também são células efetoras importantes tanto na imunidade celular quanto na resposta imune humoral da imunidade adaptativa, como discutido nos Capítulos 6 e 8, respectivamente. Células Dendríticas As células dendríticas respondem aos microrganismos produzindo numerosas citocinas que apresentam duas funções principais: iniciam a inflamação e estimulam as respostas imunes adaptativas. Por meio da detecção dos microrganismos e da interação com os linfócitos, especialmente as células T, as células dendríticas constituem uma importante ponte entre a imunidade inata e adaptativa. As propriedades e as funções de células dendríticas são discutidas no Capítulo 3, no contexto da exposição ao antígeno, que é a principal função das células dendríticas. Mastócitos Os mastócitos são células derivadas da medula óssea com grânulos citoplasmáticos abundantes que estão presentes na pele e no epitélio da mucosa. Os mastócitos podem ser ativados pela ligação de produtos microbianos ao TLR, como parte da imunidade inata, ou por um mecanismo especial dependente de anticorpos. Os grânulos dos mastócitos contêm aminas vasoativas como a histamina, que causam vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar, bem como enzimas proteolíticas que podem matar as bactérias ou inativar as toxinas microbianas. Os mastócitos também sintetizam e secretam mediadores de lipídeos (p. ex., prostaglandinas) e citocinas (p. ex., o fator de necrose tumoral [TNF; do inglês, tumor necrosis factor]), que estimulam a inflamação. Os produtos dos mastócitos fornecem defesa contra helmintos e outros patógenos e são responsáveis pelo desenvolvimento dos sintomas de doenças alérgicas (Cap. 11). As Células Linfoides Inatas As células linfoides inatas (ILCS; do inglês, innate lymphoid cells) são células como os linfócitos que produzem citocinas e executam funções semelhantes às dos linfócitos T, mas não expressam receptores de antígeno (TCR) das células T. As ILC foram divididas em três grupos principais com base nas citocinas secretadas por elas; esses grupos correspondem aos subconjuntos Th1, Th2 e Th17 de células T CD4+ descritos no Capítulo 6. A maneira como as ILC reconhecem os microrganismos e as células danificadas ainda não está definida. As respostas de ILC são frequentemente estimuladas pelas citocinas produzidas pelas células epiteliais e outras células nos locais de infecção. As ILC fornecem a defesa inicial contra as infecções e também orientam a resposta seguinte das células T. As células NK, descritas a seguir, estão relacionadas com o grupo 1 de ILC. Células Natural Killer As células natural killer (NK) reconhecem células infectadas e perturbadas e respondem destruindo essas células e secretando a citocina ativadora de macrófagos IFN‑γ (Fig. 2‑10). As células NK compõem cerca de 10% dos linfócitos no sangue e nos órgãos linfoides periféricos. As células NK contêm grânulos citoplasmáticos abundantes e expressam algumas proteínas de superfície únicas, mas não expressam as imunoglobulinas ou os receptores de células T, os receptores de antígenos dos linfócitos B e T, respectivamente. FIGURA 210 Funções das células natural killer (NK). A, células NK matam as células hospedeiras infectadas por microrganismos intracelulares, eliminando, assim, os reservatórios da infecção. B, células NK respondem à interleucina12 (IL12), produzida pelos macrófagos e secretam o interferonγ (IFNγ), que ativa os macrófagos para matar os microrganismos fagocitados. Por meio da ativação de células infectadas, as células NK despejamo conteúdo dos seus grânulos citoplasmáticos no espaço extracelular no ponto de contato com a célula infectada. Em seguida, as proteínas dos grânulos entram nas células infectadas e ativam as enzimas que induzem a apoptose. Os mecanismos citotóxicos das células NK, que são os mesmos mecanismos utilizados pelos linfócitos T citotóxicos (CTL; Cap. 6), resultam na morte das células infectadas. Assim como com os CTL, a função das células NK é eliminar reservatórios celulares de infecção e erradicar as infecções causadas por microrganismos intracelulares obrigatórios, tais como vírus. As células NK ativadas também sintetizam e secretam a citocina interferon‑γ. O IFN‑γ ativa os macrófagos para que sejam mais eficazes em matar os microrganismos fagocitados. As citocinas secretadas pelos macrófagos e as células dendríticas que encontraram microrganismos aumentam a capacidade das células NK de proteger contra as infecções. Três destas citocinas de ativação de células NK são a interleucina 15 (IL‑15), os interferons do tipo I (tipo IFN I) e a interleucina‑12 (IL‑12). A IL‑15 é importante para o desenvolvimento e a maturação das células NK, e IFN do tipo I e IL‑12 aumentam a função de destruição das células NK. Assim, as células NK e os macrófagos são exemplos de dois tipos de células que funcionam de forma cooperativa para eliminar os microrganismos intracelulares: os macrófagos ingerem os microrganismos e produzem IL‑12, esta ativa as células NK para secretar IFN‑γ, o qual, por sua vez, ativa os macrófagos para matar os microrganismos ingeridos. Conforme discutido no Capítulo 6, essencialmente, a mesma sequência de reações envolvendo macrófagos e linfócitos T é central para a via da imunidade adaptativa mediada por células. A ativação das células NK é determinada por um equilíbrio entre o acoplamento de receptores de ativação e inibitórios (Fig. 2‑11). Os receptores ativadores de superfície celular reconhecem moléculas geralmente expressas em células infectadas com vírus e bactérias intracelulares, bem como células estressadas por danos no DNA e transformações malignas. Esses receptores possibilitam que as células NK eliminem as células infectadas com microrganismos intracelulares, assim como as células com danos irreparáveis e células tumorais. Um dos receptores de ativação bem‑definidos das células NK é chamado de NKG2D; ele reconhece as moléculas que se assemelham às proteínas do complexo de histocompatibilidade principal de classe I (MHC; do inglês, major histocompatibility complex) e são expressas em resposta a diversos tipos de estresse celular. Outro receptor de ativação, chamado de CD16, é específico para anticorpos de imunoglobulina G (IgG) ligados às células. O reconhecimento das células revestidas de anticorpos resulta na morte dessas células, um fenômeno chamado de citotoxicidade celular anticorpo‑dependente (ADCC; do inglês, antibody‑dependent cellular cytotoxicity). As células NK são os principais mediadores da ADCC. O papel desta reação na imunidade mediada por anticorpos é descrito no Capítulo 8. Os receptores ativadores das células NK têm subunidades de sinalização que contêm imunorreceptores com base em tirosina (ITAM; do inglês, immunoreceptor tyrosine‑based activation motifs) nas suas caudas citoplasmáticas. Os ITAM, que também estão presentes nas subunidades dos receptores de antígeno dos linfócitos associados às moléculas de sinalização, se tornam fosforilados em resíduos de tirosina quando os receptores reconhecem seus ligantes de ativação. Os ITAMs fosforilados ligam‑se e promovem a ativação das proteínas tirosina quinase citosólicas e estas fosforilam, ativando outros substratos em várias vias de sinalização diferentes subsequentes na transdução do sinal, eventualmente levando à exocitose dos grânulos citotóxicos e à produção de IFN‑γ. FIGURA 211 Receptores de ativação e receptores de inibição das células natural killer (NK). A, As células saudáveis do hospedeiro expressam o complexo principal de histocompatibilidade (MHC) de classe I próprio, que são reconhecidos por receptores inibitórios, garantindo que as células NK não vão atacar as células hospedeiras normais. Note que as células saudáveis podem expressar ligantes para ativar os receptores (como mostrado) ou podem não expressar tais ligantes, mas eles não são atacados por células NK porque se ligam aos receptores inibitórios. B, As células NK são ativadas pelas células infectadas nas quais os ligantes para a ativação dos receptores esteja expressa (muitas vezes em níveis elevados) e a expressão do MHC de classe I é reduzida de modo que os receptores inibitórios não sejam envolvidos. O resultado é que as células infectadas são mortas. Os receptores inibitórios das células NK, que bloqueiam a sinalização através da ativação de receptores, são específicos para moléculas próprias do MHC de classe I, as quais são expressas em todas as células nucleadas saudáveis. Portanto, a expressão do MHC de classe I protege as células saudáveis da destruição pelas células NK. (No Capítulo 3, é descrita a importante função das moléculas de MHC de apresentar os antígenos peptídicos aos linfócitos T.) As duas principais famílias dos receptores inibitórios das células NK em humanos são os receptores do tipo imunoglobulina (KIR; do inglês, killer cell immunoglobulin‑like receptors), assim chamados porque partilham homologia estrutural com as moléculas Ig (Cap. 4), e os receptores que consistem em uma proteína chamada CD94 e uma subunidade de lectina chamada de NKG2. Ambas as famílias de receptores inibitórios contêm nos seus domínios citoplasmáticos motivos estruturais chamados de imunorreceptores inibitórios com base em tirosina (ITIM), que se tornam fosforilados nos resíduos de tirosina quando os receptores se ligam às moléculas do MHC de classe I. Os ITIM fosforilados ligam‑se e promovem a ativação da proteína citosólica tirosina fosfatase. Estas enzimas removem os grupos fosfato a partir de resíduos de tirosina de várias moléculas de sinalização, neutralizando assim a função dos ITAM e bloqueando a ativação das células NK por meio de receptores de ativação. Portanto, quando os receptores inibitórios de células NK encontram as moléculas próprias do MHC em células hospedeiras normais, as células NK são desligadas (Fig. 2‑11). Muitos vírus desenvolveram mecanismos para bloquear a expressão de moléculas de classe I em células infectadas, o que lhes permite fugir da morte pelos linfócitos CTL CD8+ específicos do vírus. Quando isso acontece, os receptores inibitórios das células NK não estão acoplados, e se o vírus induz a expressão de ligantes ativadores ao mesmo tempo, as células NK tornam‑se ativas e eliminam as células infectadas por vírus. O papel das células NK e dos linfócitos CTL na defesa ilustra como as células hospedeiras e os microrganismos estão envolvidos em uma luta constante pela sobrevivência. A célula hospedeira usa os CTL para reconhecer os antígenos virais apresentados pelo MHC, os vírus inibem a expressão de MHC para escapar da morte das células infectadas pelos CTL, e as células NK podem compensar a resposta defeituosa dos CTL porque são mais eficazes na ausência de moléculas do MHC. O vencedor desta luta, as células hospedeiras ou o microrganismo, determina o resultado da infecção. Os mesmos princípios podem ser aplicados às funções das células NK na erradicação de tumores, muitos dos quais tentam escapar da morte mediada por CTL, reduzindo a expressão de moléculas do MHC classe I. Linfócitos com Diversidade Limitada Vários tipos de linfócitos com algumas características dos linfócitos T e B também funcionam na defesa precoce contra microrganismos e podem ser considerados parte do sistemaimune inato. Uma característica unificadora destes linfócitos é o fato de expressarem receptores antigênicos rearranjados somaticamente (como fazem as células T e B clássicas), mas os receptores apresentam diversidade limitada. • Como mencionado anteriormente, as células T γδ estão presentes nos epitélios. • As células NK‑T expressam TCR com diversidade limitada e moléculas de superfície geralmente encontradas nas células NK. Elas estão presentes no epitélio e nos órgãos linfoides. Reconhecem os lipídeos microbianos ligados a uma molécula relacionada com o MHC de classe I chamado de CD1. • As células B‑1 são uma população de linfócitos B encontrada principalmente no interior da cavidade peritoneal e tecidos de mucosa, em que produzem os anticorpos em resposta aos microrganismos e toxinas microbianas que passam através das paredes do intestino. A maior parte dos anticorpos IgM circulantes encontrados no sangue de indivíduos normais é chamada de anticorpos naturais; eles são os produtos das células B‑1 e muitos destes anticorpos são específicos para carboidratos que estão presentes nas paredes celulares de muitas bactérias. • Outro tipo de linfócito B, as células B da zona marginal, está presente nas bordas dos folículos linfoides do baço e de outros órgãos e também está envolvido em respostas rápidas de anticorpos para microrganismos ricos em polissacarídeos. As células NK‑T, células T γδ, células B‑1 e os linfócitos B da zona marginal, respondem a infecções de modo típico da imunidade adaptativa (p. ex., a secreção de citocinas ou a produção de anticorpos), mas apresentam características de imunidade inata (respostas rápidas, diversidade limitada de reconhecimento de antígeno). Sistema Complemento O sistema de complemento é um conjunto de proteínas circulantes e associadas à membrana que são importantes na defesa contra os microrganismos. Muitas proteínas do complemento são enzimas proteolíticas e a ativação do complemento envolve a ativação sequencial destas enzimas. A cascata do complemento pode ser ativada por qualquer uma das três vias (Fig. 2‑12): • A via alternativa é desencadeada quando algumas proteínas do complemento estão ativadas nas superfícies microbianas e não podem ser controladas, porque as proteínas reguladoras do complemento não estão presentes nos microrganismos (mas estão presentes nas células hospedeiras). A via alternativa é um componente da imunidade inata. • A via clássica é mais frequentemente desencadeada por anticorpos que se ligam aos microrganismos ou outros antígenos e é, portanto, um componente da via humoral da imunidade adaptativa. • A via da lectina é ativada quando uma proteína plasmática ligadora de carboidratos, a lectina ligadora de manose (MBL; do inglês, mannose‑binding lectin), liga‑se aos resíduos terminais de manose na superfície das glicoproteínas dos microrganismos. Essa lectina ativa as proteínas da via clássica, mas, uma vez iniciada por um produto microbiano na ausência de anticorpos, é considerada um componente da imunidade inata. FIGURA 212 Vias de ativação do complemento. A ativação do sistema complemento (primeiras etapas) pode ser iniciada por três vias distintas, as quais levam à produção de C3b. C3b inicia as etapas tardias da ativação do complemento, culminando na formação de um complexo multiproteico chamado de complexo de ataque à membrana (MAC; do inglês, membrane attack complex), que é um canal transmembranar composto de moléculas C9 polimerizadas que causam lise de microrganismos de paredes delgadas. Os subprodutos peptídicos liberados durante a ativação do complemento são C3a e C5a indutores de inflamação. As principais funções das proteínas produzidas em diferentes etapas são mostradas. A ativação, as funções e a regulação do sistema complemento são discutidas com mais detalhes no Capítulo 8. As proteínas do complemento ativadas funcionam como enzimas proteolíticas para clivar outras proteínas do complemento. Tal cascata enzimática pode ser rapidamente amplificada, porque cada passo proteolítico gera muitas moléculas que são substratos para outras enzimas na cascata. O componente central do complemento é uma proteína plasmática denominada C3, que é clivada por enzimas geradas nos primeiros passos. O principal fragmento proteolítico de C3, chamado de C3b, fica covalentemente ligado aos microrganismos e é capaz de recrutar e ativar as proteínas abaixo na cascata do complemento na superfície microbiana. As três vias de ativação do complemento diferem na forma como são iniciadas, mas compartilham o final dos passos e executam as mesmas funções efetoras. O sistema complemento apresenta três funções principais na defesa do hospedeiro: • Opsonização e fagocitose. C3b reveste os microrganismos e promove a ligação destes aos fagócitos, em virtude dos receptores para C3b que são expressos nos fagócitos. Assim, os microrganismos que estão revestidos com as proteínas do complemento são rapidamente ingeridos e destruídos pelos fagócitos. Este processo de revestimento do microrganismo com as moléculas que são reconhecidas pelos receptores de fagócitos é chamado de opsonização. • Inflamação. Alguns fragmentos proteolíticos das proteínas do complemento, C3a e C5a, especialmente, são quimioatraentes de leucócitos (principalmente neutrófilos e monócitos), de modo que eles promovem o recrutamento de leucócitos (inflamação) no local de ativação do complemento. • Lise celular. A ativação do complemento culmina na formação de um complexo de proteínas poliméricas que se inserem na membrana celular microbiana, perturbando a permeabilidade da barreira e causando lise osmótica ou apoptose do microrganismo. Uma discussão mais detalhada da ativação e das funções do complemento é apresentada no Capítulo 8, em que abordamos os mecanismos efetores da imunidade humoral. Outras Proteínas Plasmáticas da Imunidade Inata Várias proteínas circulantes, além das proteínas do complemento estão envolvidas na defesa imune inata contra infecções. As MBL plasmáticas reconhecem os carboidratos microbianos e podem revestir os microrganismos para a fagocitose ou ativar a cascata do complemento pela via da lectina, como discutido anteriormente. A MBL pertence a uma família de proteínas chamadas as colectinas, porque são estruturalmente semelhantes ao colágeno e contêm um domínio de ligação de carboidrato (lectina). As proteínas surfactantes no pulmão também pertencem à família das colectinas e protegem as vias aéreas de infecções. A proteína C reativa (PCR) é uma pentraxina (molécula de cinco cabeças) que se liga à fosforilcolina nos microrganismos e opsoniza os microrganismos para a fagocitose pelos macrófagos que expressam um receptor para a PCR. Esta também pode ativar as proteínas da via clássica do complemento. Os níveis de circulantes de muitas dessas proteínas plasmáticas aumentam rapidamente após a infecção. Essa resposta protetora é chamada de resposta de fase aguda à infecção. Citocinas da Imunidade Inata Em resposta aos microrganismos, as células dendríticas, os macrófagos, os mastócitos e outras células secretam as citocinas que medeiam muitas reações celulares da imunidade inata (Fig. 2‑13). Conforme mencionado anteriormente, as citocinas são proteínas solúveis que medeiam as reações imunes e inflamatórias e são responsáveis pelas comunicações entre leucócitos e entre estes e outras células. A maior parte das citocinas molecularmente definidas é chamada de interleucinas por convenção, o que implica que essas moléculas são produzidas por leucócitos e agem sobre os leucócitos (na realidade, trata‑se de uma definição muito limitada, porque muitas citocinas são produzidas ou agem em outras células além dos leucócitos e várias citocinas que medeiam as comunicações entre os leucócitos receberam outros nomes por razões históricas.) Na imunidade inata, as principais fontesde citocinas são os mastócitos, as células dendríticas e os macrófagos ativados pelo reconhecimento de microrganismos, embora as células epiteliais e outros tipos de células também secretem citocinas. O reconhecimento de componentes bacterianos como LPS ou de moléculas virais como o dsRNA pelos TLR e outros sensores microbianos é um potente estímulo para a secreção de citocinas pelos macrófagos e células dendríticas. Na imunidade adaptativa, os linfócitos T auxiliares são uma das principais fontes de citocinas (Caps. 5 e 6). FIGURA 213 Citocinas da imunidade inata. A, Células dendríticas, macrófagos e outras células (tais como mastócitos e ILC, não mostrados) respondem aos microrganismos através da produção de citocinas que estimulam a inflamação (recrutamento de leucócitos) e ativam as células natural killer (NK) para produzir a citocina de ativação dos macrófagos interferonγ (IFNγ). B, Algumas características importantes das principais citocinas da imunidade inata são listadas. Note que o IFNγ e o fator de crescimento transformante beta (TGFβ) são citocinas tanto da imunidade inata quanto da adaptativa (Caps. 5 e 6). Mais informações sobre essas citocinas e seus receptores são fornecidas no Apêndice II. MHC, complexo principal de histocompatibilidade. As citocinas são secretadas em pequenas quantidades em resposta a um estímulo externo e se ligam aos receptores de alta afinidade nas células‑alvo. A maioria das citocinas age sobre as células que as produzem (ações autócrinas) ou em células adjacentes (ações parácrinas). Em reações imunes inatas contra as infecções, podem ser ativadas células dendríticas e macrófagos suficientes para que grandes quantidades de citocinas sejam produzidas, e eles podem ser ativados distante do seu local de secreção (ações endócrinas). As citocinas da imunidade inata apresentam várias funções na defesa do hospedeiro. O fator de necrose tumoral (TNF), a interleucina‑1 (IL‑1) e as quimiocinas (citocinas quimiotáticas) são as principais citocinas envolvidas no recrutamento sanguíneo dos neutrófilos e monócitos para os locais de infecção (descrito mais adiante). O TNF e a IL‑1 também possuem efeitos sistêmicos, incluindo a indução de febre agindo no hipotálamo, e estas citocinas, bem como a IL‑6 estimulam as células do fígado a produzirem várias proteínas de resposta de fase aguda, tal como a proteína C reativa e o fibrinogênio, que contribuem para a morte microbiana e isolamento dos locais infecciosos. Em concentrações elevadas, o TNF promove a formação de trombos no endotélio e reduz a pressão sanguínea por uma combinação da contratilidade miocárdica reduzida e dilatação vascular e vazamentos. As infecções bacterianas graves, quando disseminadas, por vezes podem levar a uma síndrome clínica potencialmente letal chamada de choque séptico, o qual é caracterizado por baixa pressão arterial (a característica que define o choque), coagulação intravascular disseminada e distúrbios metabólicos. O início das manifestações clínicas e patológicas do choque séptico pode ser provocado por níveis elevados de TNF, que é produzido em resposta às bactérias. As células dendríticas e os macrófagos também produzem IL‑12 em resposta ao LPS e outras moléculas microbianas. O papel da IL‑12 na ativação das células NK, conduzindo por último à ativação dos macrófagos, foi mencionado anteriormente. As células NK produzem IFN‑γ, cuja função como uma citocina ativadora de macrófagos também foi descrita anteriormente. Uma vez que o IFN‑γ é produzido pelas células T, ele é considerado uma citocina tanto da imunidade inata quanto da imunidade adaptativa. Nas infecções virais, um subconjunto de células dendríticas e, em menor grau, outras células infectadas, produzem IFN do tipo I, que inibem a replicação viral e previnem a disseminação da infecção para as células não infectadas. Reações imunes inatas O sistema imune inato elimina os microrganismos principalmente por induzir a resposta inflamatória aguda e através dos mecanismos de defesa antivirais. Diferentes microrganismos podem provocar diferentes tipos de reações imunes inatas, cada tipo sendo particularmente eficaz na eliminação de um tipo específico de microrganismo. As principais respostas imunes inatas protetoras aos diferentes microrganismos são as seguintes: • Bactérias extracelulares e fungos são combatidos principalmente pela resposta inflamatória aguda, em que neutrófilos e monócitos são recrutados para o local da infecção e pelo sistema do complemento. • Bactérias intracelulares, que podem sobreviver dentro dos fagócitos, são eliminadas pelos fagócitos que são ativados por receptores do tipo Toll e outros sensores, bem como por citocinas. • A defesa contra os vírus é fornecida pelos interferons tipo I e células NK. Inflamação A inflamação é uma reação de tecido que oferece os mediadores da defesa do hospedeiro – células circulantes e proteínas – para os locais de infecção e danos aos tecidos (Fig. 2‑14). O processo de inflamação consiste no recrutamento de células e vazamento de proteínas plasmáticas através de vasos sanguíneos e ativação destas células e proteínas nos tecidos extravasculares. A liberação inicial de histamina, substância P e de outros mediadores por mastócitos e macrófagos causa aumento no fluxo sanguíneo local, exsudação de proteínas plasmáticas e ativação das terminações nervosas. Isso contribui para que haja vermelhidão, calor, inchaço e dor, que são as características marcantes da inflamação. Esses sinais são frequentemente seguidos por uma acumulação local de fagócitos, principalmente neutrófilos no tecido, em resposta às citocinas, conforme discutido adiante. Os fagócitos ativados englobam os microrganismos e o material morto e destroem essas substâncias potencialmente nocivas. A seguir descreveremos as etapas de uma reação inflamatória típica. FIGURA 214 Resposta inflamatória aguda. As citocinas e outros mediadores são produzidos por macrófagos, células dendríticas, mastócitos e outras células em tecidos em resposta a produtos microbianos e células hospedeiras danificadas. Estes mediadores aumentam a permeabilidade dos vasos sanguíneos, que conduz à entrada de proteínas plasmáticas (p. ex., as proteínas do complemento) para dentro dos tecidos e promovem a circulação de leucócitos do sangue para os tecidos, em que os leucócitos destroem os microrganismos, depuram as células danificadas e promovem mais inflamação e reparação. Recrutamento de Fagócitos para os Locais de Infecção e Dano Tecidual Os neutrófilos e os monócitos migram para os sítios extravasculares de infecção ou de danos teciduais através da ligação a moléculas endoteliais de adesão dos vasos e em resposta a quimioatratores produzidos por células do tecido que reagem a infecção ou lesão. A migração dos leucócitos do sangue para os tecidos é um processo com várias etapas, em que fracas interações adesivas iniciais dos leucócitos com as células endoteliais são seguidas por adesão firme e transmigração através do endotélio (Fig. 2‑15). FIGURA 215 Sequência de eventos na migração de leucócitos sanguíneos para locais de infecção. Nos locais de infecção, os macrófagos, células dendríticas e outras células que encontraram microrganismos produzem citocinas, tais como fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina1 (IL1) que ativam as células endoteliais das vênulas próximas para expressar selectinas e ligantes para as integrinas e a secretar quimiocinas. As selectinas medeiam a fraca adesão e rolamento dos neutrófilos sanguíneos no endotélio; as integrinas medeiam a firme adesão dos neutrófilos; e as quimiocinas ativam neutrófilos e estimulam sua migração através do endotélio para o local da infecção. Monócitos sanguíneos e linfócitos T ativados utilizam os mesmos mecanismos para migrar paraos locais de infecção. Se um microrganismo infeccioso viola um epitélio e entra no tecido subepitelial, as células dendríticas residentes, os macrófagos e outras células reconhecem o microrganismo e respondem a ele produzindo citocinas. Duas destas citocinas, TNF e IL‑1, agem sobre o endotélio das vênulas próximas ao sítio de infecção e iniciam a sequência de eventos na migração dos leucócitos para os tecidos. • Rolamento dos leucócitos. Em resposta ao TNF e IL‑1, as células endoteliais expressam uma molécula de adesão da família das selectinas chamada E‑selectina. Outros estímulos, incluindo a trombina, causam rápida translocação de P‑selectina para a superfície endotelial (o termo selectina refere‑se às propriedades ligadoras de carboidratos ou lectina destas moléculas). Os neutrófilos circulantes e os monócitos expressam carboidratos de superfície que se ligam especificamente às selectinas. Os neutrófilos fixam‑se ao endotélio, o fluxo sanguíneo perturba essa ligação, as ligações se modificam abaixo da cascata, e este processo repetitivo resulta no rolamento dos leucócitos ao longo da superfície endotelial. • Adesão firme. Os leucócitos expressam outro conjunto de moléculas de adesão que são chamadas de integrinas, pois integram sinais extrínsecos nas alterações do citoesqueleto. As integrinas de leucócitos, tais como LFA‑1 e VLA‑4, estão presentes em um estado de baixa afinidade nas células não ativadas. Dentro de um local de infecção, os macrófagos teciduais e as células endoteliais produzem as quimiocinas, que se ligam aos proteoglicanos na superfície luminal das células endoteliais e são apresentadas em altas concentrações para os leucócitos que rolam sobre o endotélio. Essas quimiocinas estimulam o rápido aumento da afinidade das integrinas de leucócitos pelos seus ligantes no endotélio. Ao mesmo tempo, o TNF e a IL‑1 no endotélio agem para estimular a expressão de ligantes das integrinas, incluindo ICAM‑1 e VCAM‑1. A firme ligação das integrinas aos seus ligantes firma os leucócitos que estão rolando ao endotélio. O citoesqueleto dos leucócitos é reorganizado e as células se espalham na superfície endotelial. • Migração dos leucócitos. As quimiocinas também estimulam a motilidade de leucócitos, assim como os produtos bacterianos e produtos da ativação do complemento. Como resultado, os leucócitos começam a migrar entre as células endoteliais, através da parede dos vasos ao longo do gradiente de concentração desses quimioatratores para o local da infecção. A sequência de rolamento, mediada por selectinas, firme adesão dependente de quimiocinas mediada por integrinas e motilidade mediada por quimiocinas, leva a migração de leucócitos do sangue para um local de infecção extravascular dentro de minutos após a infecção. (Como discutido nos Caps. 5 e 6, a mesma sequência de eventos é responsável pela migração dos linfócitos T ativados em tecidos infectados.) As deficiências hereditárias em ligantes de integrinas e selectinas levam a defeitos no recrutamento dos leucócitos para os locais de infecção e a aumento da suscetibilidade às infecções. Estes distúrbios são chamados de deficiência de adesão leucocitária (LAD; do inglês, leukocyte adhesion deficiencies). Os produtos microbianos e as citocinas inflamatórias como o TNF levam os capilares a vazamentos, permitindo que proteínas circulantes, incluindo as proteínas do complemento e anticorpos, saiam dos vasos sanguíneos e sejam introduzidas ao local de infecção tecidual. Essas proteínas trabalham em conjunto com os fagócitos para destruir os agentes ofensores. Em algumas infecções, os leucócitos sanguíneos, mais que os neutrófilos e macrófagos, assim como os eosinófilos, podem ser recrutados para os locais de infecção e fornecer defesa contra os patógenos. Fagocitose e Destruição de Microrganismos Os neutrófilos e macrófagos ingerem (fagocitam) os microrganismos e destroem os microrganismos ingeridos em vesículas intracelulares (Fig. 2‑16). A fagocitose é um processo de ingestão de partículas maiores que 0,5 μm de diâmetro. Ela começa com a ligação dos receptores de membrana ao microrganismo. Os principais receptores fagocíticos são alguns receptores de reconhecimento padrão, tais como receptores de manose e outras lectinas e os receptores para anticorpos e para o complemento. Os microrganismos opsonizados com anticorpos e fragmentos de complemento são capazes de se ligar avidamente aos receptores específicos em fagócitos, resultando em uma internalização amplificada (Cap. 8). A ligação do microrganismo à célula é acompanhada pela extensão da membrana plasmática dos fagócitos em torno da partícula. A membrana, em seguida, se fecha e se comprime, e o microrganismo é internalizado em uma vesícula ligada à membrana, chamada de fagossomo. Os fagossomos fundem‑se aos lisossomos para formar os fagolisossomos. FIGURA 216 A fagocitose e morte intracelular de microrganismos. Macrófagos e neutrófilos expressam muitos receptores de superfície que podem se ligar aos microrganismos para subsequente fagocitose; exemplos de tais receptores são mostrados. Os microrganismos são ingeridos em fagossomos, que se fundem com os lisossomos, e os microrganismos são mortos por enzimas e outras substâncias tóxicas produzidas nos fagolisossomos. As mesmas substâncias podem ser liberadas de fagócitos e podem matar microrganismos extracelulares (não mostrados). iNOS, óxido nítrico sintase induzida; NO, óxido nítrico; ROS, espécies reativas de oxigênio. Ao mesmo tempo em que o microrganismo está sendo ligado pelos receptores dos fagócitos e ingerido, o fagócito recebe sinais a partir de vários receptores que ativam várias enzimas nos fagolisossomos. Uma dessas enzimas, chamada de fagócito oxidase, converte rapidamente o oxigênio molecular em ânion superóxido e radicais livres, um processo chamado de burst oxidativo (ou explosão respiratória). Estes radicais livres são chamados de espécies reativas de oxigênio (ROS; do inglês, reactive oxygen species) e são tóxicos para os microrganismos ingeridos. Uma segunda enzima, a óxido nítrico sintase induzida (iNOS; do inglês, inducible nitric oxide synthase), catalisa a conversão de arginina em óxido nítrico (NO), também uma substância microbicida. O terceiro conjunto de enzimas, as proteases lisossomais, quebra as proteínas microbianas. Todas essas substâncias microbicidas são produzidas principalmente dentro dos lisossomos e fagolisossomos, em que atuam ingerindo os microrganismos, mas não danificam os fagócitos. Além da morte intracelular, os neutrófilos utilizam mecanismos adicionais para destruir microrganismos. Eles podem liberar o conteúdo microbicida dos grânulos para o meio extracelular. Em resposta aos agentes patogênicos e mediadores inflamatórios, os neutrófilos morrem e, durante este processo, expulsam os seus conteúdos nucleares para formar redes de cromatina chamadas de armadilhas extracelulares de neutrófilos (NET; do inglês, neutrophil extracellular traps), que contêm substâncias antimicrobianas geralmente sequestradas em grânulos de neutrófilos. Essas NET capturam as bactérias e os fungos e destroem os organismos. Em alguns casos, as enzimas e ROS que são liberadas para o espaço extracelular podem ferir os tecidos do hospedeiro. Esta é a razão pela qual a inflamação, geralmente uma resposta do hospedeiro de proteção às infecções, pode também causar lesão tecidual. A deficiência hereditária na enzima oxidase de fagócitos é a causa de um distúrbio de imunodeficiência chamado de doença granulomatosa crônica (CGD; do inglês, chronic granulomatous disease). Na CGD, os fagócitos são incapazes de erradicar os microrganismos intracelulares, e o hospedeiro tenta conter a infecção atraindo mais macrófagos e linfócitos, resultando em coleções de células em torno dos microrganismos, chamadas de granulomas.Defesa Antiviral A defesa contra os vírus é um tipo especial de resposta do hospedeiro que envolve os interferons, as células NK e outros mecanismos. Os interferons do tipo I inibem a replicação viral e induzem um estado antiviral, em que as células tornam‑se resistentes à infecção. Os IFN do tipo I, que incluem várias formas de IFN‑α e uma de IFN‑β, são secretados por muitos tipos de células infectadas por vírus. Uma fonte importante dessas citocinas é um tipo de célula dendrítica chamado de célula dendrítica plasmocitoides (cuja denominação se deve ao fato de que as células se assemelham morfologicamente às células plasmáticas; ver Cap. 3), que secreta os IFN do tipo I quando ativada por reconhecimento de ácidos nucleicos virais por TLR e outros receptores. Quando os IFN do tipo I secretados a partir de células dendríticas ou outras células infectadas se ligam ao receptor do IFN nas células infectadas ou adjacentes, as vias de sinalização são ativadas e inibem a replicação viral e destroem os genomas virais (Fig. 2‑17). Esta ação é a base para a utilização do IFN‑α para tratar algumas formas crônicas de hepatite viral. FIGURA 217 Ações antivirais de interferons do tipo I. Interferons do tipo I (IFNα, IFNβ) são produzidos por células dendríticas plasmocitoides e células infectadas por vírus em resposta à sinalização intracelular de TLR e outros sensores de ácidos nucleicos virais. Os interferons tipo I ligamse aos receptores de células infectadas e não infectadas e ativam as vias de sinalização que induzem a expressão de enzimas que interferem na replicação viral em diferentes etapas, incluindo a inibição da tradução da proteína viral, aumento da degradação de RNA viral e inibição da expressão de genes virais e montagem do vírion. Os IFN do tipo I também aumentam a suscetibilidade das células infectadas à morte mediada por CTL (não mostrado). As células infectadas por vírus podem ser destruídas pelas células NK, como descrito anteriormente. Os IFN do tipo I melhoram a capacidade das células NK de matar as células infectadas. Além disso, parte da resposta inata de infecções virais inclui aumento da apoptose das células infectadas, o que também ajuda a eliminar o reservatório de infecção. Regulação das Respostas Imunes Inatas As respostas imunes inatas são reguladas por uma variedade de mecanismos concebidos para evitar danos excessivos aos tecidos. Esses mecanismos de regulação incluem a produção de citocinas anti‑inflamatórias pelos macrófagos e células dendríticas, incluindo a interleucina‑10 (IL‑10), que inibe as funções microbicidas e pró‑ inflamatórias dos macrófagos (via clássica de ativação dos macrófagos), e o antagonista do receptor de IL‑1, o que bloqueia as ações de IL‑1. Há também muitos mecanismos de feedback em que os sinais pró‑inflamatórios que induzem a produção de citocinas também induzem a expressão de inibidores da sinalização de citocina. Por exemplo, a sinalização dos TLR estimula a expressão de proteínas chamadas de supressores da sinalização de citocinas (SOC; do inglês, suppressors of cytokine signaling), que bloqueiam as respostas de células para várias citocinas, incluindo os IFN. Evasão Microbiana da Imunidade Inata Os microrganismos patogênicos evoluíram para resistir aos mecanismos de imunidade inata e são assim capazes de entrar e colonizar seus hospedeiros (Fig. 2‑18). Algumas bactérias intracelulares resistem à destruição dentro dos fagócitos. A Listeria monocytogenes produz uma proteína que lhe permite escapar de vesículas fagocíticas e entrar no citoplasma de células infectadas, em que não são suscetíveis a ROS ou NO (produzidos principalmente em fagolisossomos). As paredes celulares de micobactérias contêm um lipídeo que inibe a fusão dos fagossomos contendo bactérias ingeridas com os lisossomos. Outros microrganismos têm paredes celulares resistentes às ações de proteínas do complemento. Como discutido nos Capítulos 6 e 8, esses mecanismos também possibilitam que os microrganismos resistam aos mecanismos efetores da imunidade celular e humoral, as duas vertentes da imunidade adaptativa. FIGURA 218 Evasão da imunidade inata por microrganismos. Exemplos selecionados dos mecanismos pelos quais os microrganismos podem fugir ou resistir à imunidade inata. LPS, lipopolissacarídeo. Papel da imunidade inata na estimulação das respostas imunes adaptativas Até agora, temos focado em como o sistema imune inato reconhece os microrganismos e combate as infecções. No início deste capítulo, mencionamos que, para além das suas funções em defesa do hospedeiro, a resposta imune inata aos microrganismos desempenha função importante alertando o sistema imune adaptativo de que uma resposta imune eficaz é necessária. Nesta seção final, resumimos alguns dos mecanismos pelos quais as respostas imunes inatas estimulam as respostas adaptativas imunes. As respostas imunes inatas geram moléculas que proporcionam sinais, além dos antígenos, que são necessários para ativar os linfócitos T e B imaturos. No Capítulo 1, introduzimos o conceito de que a ativação completa dos linfócitos específicos para o antígeno requer dois sinais. O antígeno pode ser referido como um sinal e as respostas imunes inatas para microrganismos e para células do hospedeiro danificadas por microrganismos podem proporcionar o sinal 2 (Fig. 2‑19). Os estímulos que avisam ao sistema imune adaptativo que ele precisa responder também têm sido chamados sinais de perigo. Este requisito para os segundos sinais dependentes do microrganismo assegura que os linfócitos respondam aos agentes infecciosos e não às substâncias inofensivas e não infecciosas. Em situações experimentais ou por meio da vacinação, as respostas imunes adaptativas podem ser induzidas por antígenos sem os microrganismos. Em todos esses casos, os antígenos devem ser administrados com substâncias chamadas adjuvantes que provocam as mesmas reações imunes inatas como fazem os microrganismos. Na verdade, muitos adjuvantes potentes são produtos de microrganismos. A natureza e os mecanismos de ação dos segundos sinais estão descritos na discussão sobre a ativação de linfócitos T e B nos Capítulos 5 e 7, respectivamente. Aqui nós descrevemos dois exemplos ilustrativos dos segundos sinais que são gerados durante as reações imunes inatas. FIGURA 219 Requerimento de dois sinais para a ativação dos linfócitos. O reconhecimento de antígenos pelos linfócitos fornece um sinal para a ativação dos linfócitos, e as substâncias produzidas durante as respostas imunes inatas a microrganismos (ou componentes de microrganismos) fornecem o sinal 2. Nesta ilustração, os linfócitos podem ser células T ou células B. Por convenção, os principais segundos sinais para as células T são chamados coestimuladores porque funcionam em conjunto com os antígenos para estimular as células. A natureza dos segundos sinais para os linfócitos T e B é descrita nos capítulos posteriores. Os microrganismos (ou IFN‑γ produzidos pelas células NK em resposta aos microrganismos) estimulam as células dendríticas e macrófagos para produzirem dois tipos de segundos sinais que podem ativar os linfócitos T. Em primeiro lugar, as células dendríticas aumentam a sua expressão de moléculas de superfície chamadas de coestimuladores, que se ligam a receptores nas células T imaturas e funcionam em conjunto com o reconhecimento do antígeno para ativar as células T. Em segundo lugar, as células dendríticas e os macrófagos secretam citocinas como IL‑12, IL‑1 e IL‑6, que estimulam a diferenciação de células T imaturas em células efetoras da imunidade adaptativa celular. Os microrganismos transmitidos pelo sangue ativam o sistema complemento pela via alternativa. Uma das proteínas produzidas durantea ativação do complemento por proteólise de C3b, chamado de C3d, é covalentemente ligada ao microrganismo. Ao mesmo tempo em que os linfócitos B reconhecem antígenos microbianos pelos seus receptores de antígenos, as células B reconhecem o C3d ligado ao microrganismo por um receptor para C3d. A combinação de reconhecimento do antígeno e reconhecimento C3d inicia o processo da diferenciação de células B em células secretoras de anticorpos. Assim, um produto do complemento serve como segundo sinal para as respostas imunes humorais. Estes exemplos ilustram uma característica importante dos segundos sinais: estes não apenas estimulam a imunidade adaptativa, mas também orientam a natureza da resposta imune adaptativa. Os microrganismos intracelulares e fagocitados precisam ser eliminados pela imunidade celular, a resposta adaptativa mediada pelos linfócitos T. Os microrganismos encontrados e ingeridos por células dendríticas ou macrófagos induzem os segundos sinais – isto é, os coestimuladores e as citocinas –, que estimulam as respostas das células T. Por outro lado, os microrganismos sanguíneos precisam ser combatidos por anticorpos, que são produzidos pelos linfócitos B durante as respostas imunes humorais. Os microrganismos transmitidos pelo sangue ativam o sistema complemento plasmático, que, por sua vez, estimula a ativação das células B e a produção de anticorpos. Assim, diferentes tipos de microrganismos induzem diferentes respostas imunes inatas, que, em seguida, estimulam os tipos de imunidade adaptativa que são mais capazes de combater a diferentes agentes infecciosos. Resumo ▪ Todos os organismos multicelulares apresentam mecanismos intrínsecos de defesa contra infecções, que constituem a imunidade inata. ▪ O sistema imune inato usa receptores específicos para cada linhagem de patógenos para responder a estruturas que são características de várias classes de microrganismos e também reconhece produtos de células mortas. As reações imunes inatas não são amplificadas pela repetição das exposições aos microrganismos. ▪ Os receptores do tipo Toll (TLR), expressos em membranas plasmáticas e nos endossomos de muitos tipos de células, são uma importante classe do sistema de receptores imunes inatos que reconhecem diferentes produtos microbianos, incluindo os constituintes da parede celular bacteriana e ácidos nucleicos virais. Alguns receptores da família NLR reconhecem os microrganismos, produtos de células danificadas e outras substâncias, e tais receptores sinalizam através de um complexo multiproteico citosólico, o inflamassoma, para induzir a secreção da citocina pró‑inflamatória interleucina‑1 (IL‑1). ▪ Os principais componentes da imunidade inata são epitélios, fagócitos, células dendríticas, células NK, citocinas e proteínas plasmáticas, incluindo as proteínas do sistema complemento. ▪ O epitélio fornece barreiras físicas contra os microrganismos, produz antibióticos e contêm linfócitos que podem prevenir infecções. ▪ Os principais fagócitos – neutrófilos e monócitos/macrófagos – são células do sangue recrutadas para os locais de infecção, em que são ativadas através do acoplamento com receptores diferentes. Alguns macrófagos ativados destroem os microrganismos e as células mortas, outros limitam a inflamação e iniciam a reparação dos tecidos. ▪ As células linfoides inatas (ILC) secretam várias citocinas que induzem a inflamação. As células NK matam as células hospedeiras infectadas pelos microrganismos intracelulares e produzem a citocina interferon‑γ, que ativa os macrófagos para matar os microrganismos fagocitados. ▪ O sistema de complemento é uma família de proteínas que são ativadas no encontro com alguns microrganismos (na imunidade inata) e por anticorpos (na via humoral da imunidade adaptativa). As proteínas do complemento revestem (opsonizam) os microrganismos para a fagocitose, estimulam a inflamação e lisam os microrganismos. ▪ As citocinas da imunidade inata têm a função de estimular a inflamação (TNF, IL‑1, quimiocinas), ativar as células NK (IL‑12), ativar os macrófagos (IFN‑γ) e evitar infecções virais (IFN do tipo I). ▪ Na inflamação, os fagócitos são recrutados a partir da circulação para locais de infecção e de danos nos tecidos. As células ligam‑se às moléculas de adesão endotelial que são induzidas pelas citocinas TNF e IL‑1, e migram em resposta a quimioatratores solúveis, incluindo as quimiocinas, os fragmentos do complemento e peptídeos bacterianos. Os leucócitos são ativados, ingerem e destroem os microrganismos e células danificadas. ▪ A defesa antiviral é mediada por interferons do tipo I, que inibem a replicação viral, e células NK, que matam células infectadas. ▪ Além de fornecer a defesa precoce contra as infecções, as respostas imunes inatas fornecem os sinais que funcionam em conjunto com antígenos para ativar os linfócitos B e T. O requerimento para tais segundos sinais assegura que a imunidade adaptativa seja provocada pelos microrganismos (os indutores das reações do sistema imune inato) e não por substâncias não microbianas. Perguntas de revisão 1. De que maneira a especificidade da imunidade inata difere da imunidade adaptativa? 2. Quais são exemplos de substâncias microbianas reconhecidas pelo sistema imune inato, e quais são os receptores para estas substâncias? 3. O que é inflamassoma e como é estimulado? 4. Quais são os mecanismos pelos quais o epitélio da pele impede a entrada de microrganismos? 5. Como os fagócitos ingerem e matam os microrganismos? 6. Qual é o papel de moléculas do MHC no reconhecimento de células infectadas por células NK e qual é o significado fisiológico desse reconhecimento? 7. Quais são os papéis das citocinas TNF, IL‑12 e interferons do tipo I na defesa contra as infecções? 8. Como as respostas imunes inatas melhoram a imunidade adaptativa? As respostas e as discussões das Perguntas de Revisão estão disponíveis em www.studentconsult.com.br. CAP Í T U LO 3 Captura e Apresentação de Antígenos aos Linfócitos O que os Linfócitos Veem Antígenos reconhecidos pelos linfócitos T Captura de antígenos proteicos pelas células apresentadoras de antígenos Estrutura e função das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade Estrutura das Moléculas de MHC Propriedades de Genes e Proteínas do MHC Peptídeo de Ligação a Moléculas de MHC Processamento e apresentação de antígenos proteicos Processamento de Antígenos Internalizados para Apresentação pelas Moléculas do MHC de Classe II Processamento dos Antígenos Citosólicos para Exibição pelas Moléculas do MHC de Classe I Apresentação Cruzada dos Antígenos Internalizados para Células T CD8+ Importância Fisiológica da Apresentação de Antígenos Associada ao MHC Funções das células apresentadoras de antígenos além da apresentação Reconhecimento de antígenos pelas células B e outros linfócitos Resumo As respostas imunes adaptativas são iniciadas pelo reconhecimento de antígenos pelos receptores de antígenos de linfócitos. Os linfócitos B e T diferem nos tipos de antígenos que eles reconhecem. Os receptores de antígenos de linfócitos B – ou seja, os anticorpos ligados à membrana – podem reconhecer uma variedade de macromoléculas (proteínas, polissacarídeos, lipídeos, ácidos nucleicos), em forma solúvel ou associados à superfície celular, assim como pequenos produtos químicos. Portanto, as respostas imunes humorais mediadas por células B podem ser geradas contra muitos tipos de parede celular microbiana e antígenos solúveis. Os receptores de antígenos da maioria dos linfócitos T, por outro lado, podem ver apenas fragmentos de peptídeos de antígenos proteicos e apenas quando esses peptídeos são apresentados por moléculas especializadas que se ligam a peptídeos gerados dentro de uma célula hospedeira e, em seguida, os apresenta na superfície celular. Portanto, as respostas imunes mediadas por célulasT podem ser geradas apenas contra antígenos proteicos que são produzidos ou absorvidos pelas células hospedeiras. Este capítulo tem como foco a natureza dos antígenos que são reconhecidos por linfócitos. O Capítulo 4 descreve os receptores utilizados pelos linfócitos para detectar esses antígenos. A indução de respostas imunes por antígenos é um processo altamente orquestrado com um número de características marcantes. A primeira é que muito poucos linfócitos imaturos são específicos para qualquer antígeno, poucos como 1 em cada 105 ou 106 linfócitos circulantes, e esta pequena fração de linfócitos do organismo precisa localizar e reagir rapidamente ao antígeno, onde quer que ele tenha sido introduzido. Em segundo lugar, diferentes tipos de respostas imunes adaptativas são necessários para a defesa contra diferentes tipos de microrganismos. Na verdade, o sistema imune tem de reagir de maneiras distintas, inclusive para o mesmo microrganismo em diferentes etapas da sua vida. Por exemplo, a defesa contra um microrganismo (como um vírus) que entrou na circulação e está livre no sangue depende dos anticorpos que se ligam ao microrganismo, os impede de infectar células hospedeiras e auxiliam a eliminá‑lo. A produção de anticorpos potentes requer a ativação de células T auxiliares CD4+. Depois de infectar as células hospedeiras, no entanto, o microrganismo está salvo de anticorpos, que não podem entrar nas células. Como resultado, a ativação dos linfócitos T citotóxicos CD8+ (CTL, do inglês, cytotoxic T lymphocyte) pode ser necessária para matar as células infectadas e eliminar o reservatório de infecção. Assim, somos confrontados com duas questões importantes: • De que maneira os raros linfócitos específicos para qualquer antígeno microbiano encontram aquele microrganismo, especialmente considerando‑se que os microrganismos podem entrar em qualquer lugar no corpo? • Como os diferentes tipos de células e moléculas do sistema imunológico reconhecem microrganismos em diferentes locais, de tal forma que as células T auxiliares e anticorpos respondem a microrganismos extracelulares e os CTL matam as células infectadas contendo microrganismos no seu citoplasma? A resposta a essas perguntas é que o sistema imune desenvolveu um mecanismo altamente especializado de captação e exibição de antígenos para linfócitos. Uma pesquisa feita por imunologistas, biólogos e bioquímicos levou a uma sofisticada compreensão de como os antígenos proteicos são capturados, inativados e apresentados para o reconhecimento pelos linfócitos T. Este é o grande tema de discussão neste capítulo. Antígenos reconhecidos pelos linfócitos T A maioria dos linfócitos T reconhece os antígenos peptídicos que estão ligados e que são apresentados pelas moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC; do inglês, major hystocompatibility complex) das células apresentadoras de antígenos. O MHC é um locus genético, cujos produtos proteicos funcionam como moléculas apresentadoras de peptídeos do sistema imunológico. Em todo indivíduo, diferentes clones de células T CD4+ e CD8+ T podem ver peptídeos apenas quando estes são apresentados por moléculas do MHC daquele indivíduo. Esta propriedade de células T é chamada restrição ao MHC. O receptor de células T (TCR; do inglês, T cell receptor) reconhece alguns resíduos de aminoácidos do antígeno peptídico e, simultaneamente, também reconhece os resíduos da molécula de MHC que está apresentando o peptídeo (Fig. 3‑1). As propriedades de moléculas de MHC e a significância da restrição do MHC são descritas mais adiante neste capítulo. A maneira como nós geramos células T que reconhecem os peptídeos apresentados apenas por moléculas MHC próprias é descrita no Capítulo 4. Além disso, algumas pequenas populações de células T reconhecem antígenos lipídicos e outros não peptídicos apresentados por moléculas do MHC de classe I não polimórficas ou sem um requisito para um sistema de exposição de antígeno especializada. FIGURA 31 Modelo mostrando como um receptor de células T reconhece um complexo de antígeno peptídico apresentado por uma molécula de MHC. Moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) são expressas em células apresentadoras de antígenos e agem para exibir peptídeos derivados a partir de antígenos proteicos. Os peptídeos ligamse a moléculas de MHC de resíduos de ancoragem, que acoplam os peptídeos nas moléculas de MHC. O receptor de antígeno de cada célula T reconhece alguns resíduos de aminoácidos do peptídeo e alguns resíduos (polimórficos) da molécula de MHC. As células que capturam os antígenos microbianos e os apresenta para o reconhecimento pelos linfócitos T são denominadas células apresentadoras de antígenos (APC; do inglês, antigen presenting cells). Os linfócitos T imaturos devem ver antígenos proteicos apresentados por células dendríticas para iniciar a expansão clonal e a diferenciação das células T em células efetoras e de memória. Por essa razão, as células dendríticas são consideradas as APC mais eficientes e especializadas, e são, portanto, por vezes chamadas de APC profissionais. As células T efetoras diferenciadas novamente precisam ver os antígenos, que podem ser apresentados por vários tipos de APC além das células dendríticas, para ativar as funções efetoras das células T, tanto na resposta imune humoral quanto na resposta celular. Primeiramente, descrevemos a maneira como as APC capturam e apresentam os antígenos para desencadear respostas imunes e, em seguida, examinar o papel das moléculas de MHC na apresentação de antígenos às células T. Captura de antígenos proteicos pelas células apresentadoras de antígenos Os antígenos proteicos de microrganismos que entram no corpo são capturados principalmente por células dendríticas e concentrados nos órgãos linfoides periféricos, em que são iniciadas as respostas imunes (Fig. 3‑2). Os microrganismos geralmente entram no organismo através da pele (por contato), do sistema gastrointestinal (ingestão) e das vias respiratórias (por inalação). Alguns microrganismos transmitidos por insetos podem ser injetados na corrente sanguínea, como resultado de mordidas de insetos, e algumas infecções são adquiridas através do sistema geniturinário. Os antígenos microbianos podem também ser produzidos em qualquer tecido infectado. Devido à grande área de superfície das barreiras epiteliais e ao grande volume de sangue, tecidos conjuntivos e órgãos internos, seria impossível para os linfócitos de todas as possíveis especificidades patrulhar eficientemente todos esses locais em busca de invasores estranhos; em vez disso, os antígenos são levados para os órgãos linfoides através dos quais os linfócitos recirculam. Este processo envolve uma série de acontecimentos que seguem o encontro das células dendríticas com os microrganismos – captura de antígenos, ativação das células dendríticas, migração das células transportadoras de antígenos para os gânglios linfáticos e apresentação do antígeno para as células T. FIGURA 32 Captura e exibição de antígenos microbianos. Microrganismos entram por uma barreira epitelial e são capturados por células apresentadoras de antígeno residentes no tecido ou microrganismos entram nos vasos linfáticos e vasos sanguíneos. Os microrganismos e os seus antígenos são transportados para os órgãos linfoides periféricos, os nódulos linfáticos e o baço, em que os antígenos proteicos são apresentados para reconhecimento por linfócitos T. Todas as interfaces entre o corpo e o ambiente externo são revestidas por epitélio contínuo, cuja função principal consiste em proporcionar uma barreira à infecção. Os tecidos epiteliais e subepiteliais contêmuma rede de células dendríticas; as mesmas células estão presentes nas áreas ricas em células T de órgãos linfoides periféricos e, em menor quantidade, na maioria dos outros órgãos (Fig. 3‑3). Existem duas grandes populações de células dendríticas, chamadas de clássica e plasmocitoides, que diferem na sua localização e respostas (Fig. 3‑4). A maioria de células dendríticas nos tecidos e órgãos linfoides pertence ao subconjunto clássico. Na pele, as células dendríticas epidermais são chamadas de células de Langerhans. As células dendríticas plasmocitoides são assim denominadas devido à sua semelhança morfológica com os plasmócitos; estão presentes no sangue e tecidos. As células dendríticas plasmocitoides são também a principal fonte de interferonas tipo I em respostas imunes inatas para as infecções virais (Cap. 2). FIGURA 33 Células dendríticas. A, Células dendríticas imaturas residem nos tecidos, incluindo o epitélio, como a pele, e formam uma rede de células com processos de interdigitação, vistos como células azuis sobre a secção de pele corada com um anticorpo que reconhece as células dendríticas. B, Células dendríticas maduras residem nas áreas ricas em células T dos nódulos linfáticos e do baço (não mostrado) e são vistas nesta secção de um linfonodo corada com anticorpos conjugados com fluorocromos contra células dendríticas (vermelho) e células B nos folículos (verde). Note que as células dendríticas estão nas mesmas regiões de nódulos linfáticos que as células T (Fig. 115, B). (A, Micrografia da pele cortesia de Dr. YJ Liu, MD, Anderson Cancer Center, em Houston; B, cortesia de Drs. Kathryn Pape e Jennifer Walter, University of Minnesota Medical School, Minneapolis.) FIGURA 34 Populações de células dendríticas. Esta figura lista as propriedades de duas classes principais de células dendríticas: clássica (ou convencional) e plasmocitoides. Muitos subconjuntos de células dendríticas clássicas descreveram (não mostrado) que é possível executar funções especializadas em diferentes tecidos. Os marcadores de superfície listados na tabela são mais bem definidos em camundongos. IL, interleucina; TLR, receptores tipo Toll; TNF, fator de necrose tumoral. As células dendríticas usam vários receptores de membrana para se ligar aos microrganismos, tais como receptores de lectina de estruturas de carboidratos típicas de glicoproteínas microbianas, mas não de mamíferos. Estes microrganismos ou os seus antígenos entram nas células dendríticas por fagocitose ou endocitose mediada pelo receptor. Ao mesmo tempo em que as células dendríticas estão capturando antígenos, os produtos desses microrganismos estimulam reações imunes inatas por ligação a receptores do tipo Toll (TLR; do inglês, Toll‑like receptors) e outros receptores de padrões inatos de reconhecimento nas células dendríticas, células epiteliais do tecido e macrófagos residentes (Cap. 2). Isso resulta na produção de citocinas inflamatórias, tais como o fator de necrose tumoral (TNF; do inglês, tumor necrosis factor) e interleucina‑1 (IL‑1). A combinação de sinalização do TLR e citocinas ativa as células dendríticas, resultando em várias alterações no fenótipo, migração e função. Após a ativação por esses sinais, as células dendríticas clássicas perdem a sua adesividade pelos epitélios e começam a expressar o receptor de quimiocinas CCR7, que é específico para citocinas quimioatraentes (quimiocinas) produzidas pelo endotélio linfático e pelas células estromais nas zonas de células T dos gânglios linfáticos. Essas quimiocinas direcionam as células dendríticas para sair do epitélio e migrar através dos vasos linfáticos para os linfonodos de drenagem daquele epitélio (Fig. 3‑5). Durante o processo de migração, as células dendríticas amadurecem, passando de células destinadas a capturar antígenos para APC capazes de estimular os linfócitos T. Esta maturação é refletida no aumento da síntese e expressão estáveis de moléculas do MHC, que apresentam antígenos às células T, e dos coestimuladores, que foram introduzidos no Capítulo 2, necessários para as respostas completas de células T. Os antígenos solúveis na linfa são captados pelas células dendríticas que residem nos gânglios linfáticos, e os antígenos sanguíneos são processados essencialmente da mesma maneira por células dendríticas no baço. FIGURA 35 Captura e apresentação de antígenos proteicos pelas células dendríticas. As células dendríticas imaturas no epitélio (pele, como mostrado aqui, em que as células dendríticas são chamadas de células de Langerhans) capturam antígenos microbianos, são ativadas e deixam o epitélio. As células dendríticas migram para os nódulos linfáticos de drenagem, sendo atraídas para lá por quimiocinas produzidas nos vasos linfáticos e dos gânglios. Em resposta a sinais induzidos pelo microrganismo, tal como os sinais do receptor de tipo Toll (TLR) e citocinas, as células dendríticas amadurecem e adquirem a capacidade de apresentar antígenos aos linfócitos T imaturos nos nódulos linfáticos. As células dendríticas em diferentes estágios de sua maturação podem expressar proteínas de membrana diferentes. As células dendríticas imaturas expressam receptores de superfície que capturam antígenos microbianos, enquanto as células dendríticas maduras expressam níveis elevados de moléculas do complexo principal de histocompatibilidade e coestimuladores, cuja função é estimular as células T. O resultado líquido desta sequência de eventos é que os antígenos proteicos de microrganismos que entram no corpo são transportados e concentrados nas regiões dos nodos linfáticos em que os antígenos são mais suscetíveis a encontrar os linfócitos T. Lembre‑se de que os linfócitos T imaturos recirculam continuamente através dos gânglios linfáticos e também expressam CCR7, que promove a sua entrada nas zonas das células T de gânglios linfáticos (Cap. 1). Portanto, as células dendríticas trazendo antígenos capturados e as células T imaturas preparadas para reconhecer antígenos se reúnem nos gânglios linfáticos. Este processo é notavelmente eficiente; estima‑se que, se um antígeno microbiano for introduzido em qualquer local do corpo, a resposta das células T para o antígeno começa nos nódulos linfáticos que drenam o local dentro de 12 a 18 horas. Diferentes tipos de APC apresentam funções distintas nas respostas imunes dependentes de células T (Fig. 3‑ 6). • As células dendríticas são os principais indutores de tais respostas, porque estão localizadas nos locais de entrada de microrganismos e são as mais potentes APC para a ativação dos linfócitos T imaturos. • Um tipo importante de APC para as células T efetoras é o macrófago, que é abundante em todos os tecidos. Nas reações imunes mediadas por células, os macrófagos fagocitam microrganismos e apresentam os antígenos desses microrganismos para as células T efetoras, que ativam os macrófagos para matar os microrganismos (Cap. 6). • Os linfócitos B ingerem os antígenos proteicos e os apresentam às células T auxiliares dentro dos tecidos linfoides; esse processo é importante para o desenvolvimento das respostas imunes humorais (Cap. 7). • Conforme será discutido mais adiante neste capítulo, todas as células nucleadas podem apresentar antígenos derivados de microrganismos no citoplasma de células T CD8+. FIGURA 36 Principais células apresentadoras de antígenos (APC). As propriedades do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) classe II expressando APC, que apresentam antígenos às células T auxiliares CD4+. Outros tipos de células, como as células endoteliais vasculares, também expressam o MHC classe II, mas seu papel na iniciação das respostas imunes aos microrganismos ainda não está bem estabelecido. No timo, as células epiteliais expressam MHC de classe II e as moléculas desempenham uma função na maturaçãoe seleção das células T. Todas as células nucleadas podem apresentar peptídeos do MHC de classe I associados a células T CD8+. IFNγ, interferonaγ; IL4, interleucina4; TLR, receptor tipo Toll. Agora que sabemos como antígenos proteicos são capturados, transportados e concentrados nos órgãos linfoides periféricos, então perguntamos: como esses antígenos são apresentados aos linfócitos T? Para responder a esta pergunta, é necessário, primeiramente, entender o que são as moléculas MHC e como elas funcionam nas respostas imunes. Estrutura e função das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade As moléculas do MHC são proteínas de membrana nas APC que apresentam antígenos peptídicos para o reconhecimento pelos linfócitos T. O MHC foi descoberto como o locus genético, que é o principal determinante da aceitação ou rejeição de enxertos de tecido trocados entre indivíduos (tecido, ou histo, compatibilidade). Em outras palavras, os indivíduos idênticos em seu locus do MHC (animais de mesma linhagem e gêmeos idênticos) irão aceitar enxertos um do outro, e indivíduos que diferem em seus loci do MHC rejeitarão tais enxertos. Uma vez que a rejeição de enxertos não é um fenômeno biológico natural, os genes do MHC e as moléculas que eles codificam devem ter evoluído para executar outras funções. Sabemos agora que o papel fisiológico das moléculas de MHC é a apresentação de peptídeos derivados de antígenos proteicos microbianos aos linfócitos T específicos para o antígeno como um primeiro passo nas respostas imunes protetoras mediadas por células T contra os microrganismos. Essa função das moléculas do MHC é a explicação para o fenômeno de restrição do MHC das células T, tal como mencionado anteriormente. A coleção de genes que compõem o locus do MHC é encontrada em todos os mamíferos (Fig. 3‑7) e inclui genes que codificam as moléculas de MHC e outras proteínas. As proteínas do MHC humano são chamadas de antígenos leucocitários humanos (HLA; do inglês, human leukocyte antigens), porque foram descobertas como antígenos de leucócitos que podem ser identificados com anticorpos específicos. Em todos os mamíferos, o locus do MHC contém dois conjuntos de genes altamente polimórficos, chamados de genes do MHC de classe I e classe II. (Conforme discutido adiante, o polimorfismo refere‑se à presença de muitas variantes desses genes na população.) Tais genes codificam as moléculas do MHC de classe I e classe II que apresentam os peptídeos para as células T. Além dos genes polimórficos, o locus do MHC contém muitos genes não polimórficos, alguns dos quais codificam proteínas envolvidas na apresentação dos antígenos. FIGURA 37 Genes do locus do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Mapas esquemáticos mostram o MHC humano, chamado de antígeno leucocitário humano (HLA), e o MHC de camundongos, chamado o complexo H2, que ilustra os principais genes que codificam para moléculas envolvidas na resposta imune. Tamanhos de genes e de segmentos de DNA intervenientes não estão em escala. Os loci de classe II são mostrados como blocos individuais, mas cada um é constituído por pelo menos dois genes que codifica as cadeias α e β, respectivamente. Os produtos de alguns dos genes (DM, componentes de proteassoma, TAP) estão envolvidos no processamento de antígeno. O locus do MHC também contém genes que codificam outras moléculas além das moléculas de apresentação de peptídeos, incluindo algumas proteínas do complemento e citocinas; esta região é eventualmente chamada de “classe III do MHC”. Além disso, existem vários genes tipo classe I e os pseudogenes (não mostrado). LT, linfotoxina; TAP, transportador associado com processamento de antígenos; TNF, fator de necrose tumoral. Estrutura das Moléculas de MHC As moléculas do MHC de classe I e classe II são proteínas de membrana, cada uma contendo uma fenda de ligação de peptídeos na porção aminoterminal. Embora as duas classes de moléculas difiram na composição de subunidades, elas são muito semelhantes em sua estrutura global (Fig. 3‑8). FIGURA 38 Estrutura das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) de classe I e classe II. Diagramas esquemáticos (à esquerda) e modelos de estruturas cristalinas (à direita) das moléculas do MHC de classe I e MHC de classe II ilustram os domínios das moléculas e as semelhanças fundamentais entre eles. Ambos os tipos de moléculas do MHC contêm fendas de ligação de peptídeos e cadeias invariantes que se ligam ao CD8 (domínio α3 de classe I) ou CD4 (domínio β2 de classe II). β2m, β2microglobulina; Ig, imunoglobulina. (Estruturas são cortesia de Dr. P. Bjorkman, California Institute of Technology, Pasadena.) Moléculas MHC de Classe I Cada molécula do MHC de classe I é constituída por uma cadeia α associada de forma não covalente a uma proteína chamada β2‑microglobulina que é codificada por um gene fora do MHC. A cadeia α consiste em três domínios extracelulares, seguida de pequenos domínios transmembranares e citoplasmáticos. • Os domínios aminoterminais α1 e α2 da cadeia α da molécula formam uma fenda de ligação ao peptídeo ou ranhura, que pode acomodar os peptídeos geralmente contendo 8 a 9 aminoácidos de comprimento. O fundo da fenda de ligação ao peptídeo é a região que se ligam peptídeos para apresentação aos linfócitos T, e as paredes da fenda são as regiões que fazem contato com o receptor de células T (que também faz contato com parte do peptídeo exibido; Fig. 3‑1). Os resíduos polimórficos das moléculas de classe I – isto é, os aminoácidos que diferem entre as diferentes moléculas do MHC dos indivíduos – estão localizados nos domínios α1 e α2 da cadeia α. Alguns destes resíduos polimórficos contribuem para variações no fundo da fenda de ligação ao peptídeo e, assim, para a capacidade das moléculas de MHC de se ligarem a diferentes peptídeos. Outros resíduos polimórficos contribuem para variações nas paredes das fendas, o que influencia o reconhecimento pelas células T. • O domínio α3 é invariante e contém um sítio que se liga ao correceptor de célula T CD8, mas não CD4. Como discutido no Capítulo 5, a ativação de células T requer o reconhecimento do antígeno peptídico associado ao MHC pelo TCR e reconhecimento simultâneo da molécula do MHC pelo correceptor. Portanto, as células T CD8+ podem somente responder aos peptídeos apresentados pelas moléculas do MHC de classe I, as moléculas do MHC às quais o correceptor de CD8 se liga. Moléculas MHC de classe II Cada molécula de MHC de classe II consiste em duas correntes transmembranares, chamadas de α e β. Cada cadeia tem dois domínios extracelulares, seguidas pelas regiões transmembranar e citoplasmática. • As regiões aminoterminais de ambas as cadeias, chamadas de domínios α1 e β1, contêm resíduos polimórficos e formam uma fenda grande o suficiente para acomodar os peptídeos de 10 a 30 resíduos. • Os domínios α2 e β2 não polimórficos contêm o local de ligação para o correceptor de células T CD4. Uma vez que CD4 liga às moléculas do MHC classe II, mas não de classe I, as células T CD4+ podem apenas responder aos peptídeos apresentados pelas moléculas do MHC classe II. Propriedades de Genes e Proteínas do MHC Várias características de genes e moléculas de MHC são importantes para a função normal dessas moléculas (Fig. 3‑ 9.): • Os genes do MHC são altamente polimórficos, o que significa que muitos alelos diferentes (variantes) estão presentes entre diversos indivíduos na população. O número total de alelos de HLA na população é estimado para ser mais de 10.000 para a classe I e mais de 3.000 para a classe II, com cerca de 3.000 para o locus HLA‑B sozinho, tornando os genes do MHC mais polimórficos de todos os genes em mamíferos. O polimorfismo de genes MHC é tão grande que quaisquer dois indivíduos não consanguíneos em uma população são extremamente improváveispara ter exatamente os mesmos genes e moléculas do MHC. Essas diferentes variantes polimórficas são herdadas e não geradas de novo em indivíduos por recombinação somática genética, como são os genes de receptores de antígeno (Cap. 4). Uma vez que os resíduos polimórficos determinam quais os peptídeos que são apresentados pelas moléculas de MHC, a existência de múltiplos alelos assegura que há sempre alguns membros da população que serão capazes de apresentar qualquer antígeno proteico microbiano particular. Portanto, o polimorfismo MHC que assegura uma população será capaz de lidar com a diversidade de microrganismos, e pelo menos alguns indivíduos vão ser capazes de montar respostas imunes eficazes aos antígenos peptídicos desses microrganismos. Assim, nem todas as pessoas vão sucumbir a um microrganismo recém‑encontrado ou mutado. • Os genes do MHC estão expressos codominantemente, o que significa que os alelos herdados de ambos os pais são expressos de forma igual. A herança codominante maximiza o número de genes HLA e, portanto, as proteínas presentes em cada indivíduo permite que este apresente um grande número de peptídeos. Uma vez que cada indivíduo expressa ambos os conjuntos de alelos do MHC herdados de cada genitor, há uma possibilidade de 1 em 4 irmãos expressando as mesmas moléculas de MHC. • As moléculas de classe I são expressas em todas as células nucleadas, mas as moléculas de classe II são expressas principalmente em células dendríticas, macrófagos e linfócitos B. O significado fisiológico deste padrão de expressão notavelmente diferente é descrito adiante. As moléculas classe II também são expressas nas células epiteliais do timo e nas células endoteliais, e podem ser induzidas em outros tipos de células pela citocina interferona‑γ. FIGURA 39 Propriedades das moléculas e genes do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Algumas das características importantes de moléculas MHC e sua importância para as respostas imunes. CTL, linfócitos T citotóxicos. Nomenclatura dos Genes e Proteínas HLA Em humanos, há três loci polimórficos do gene de classe I, chamados HLA‑A, HLA‑B e HLA‑C, e cada pessoa herda um conjunto destes genes de cada um dos pais, de modo que qualquer célula pode expressar seis diferentes moléculas de classe I. No locus de classe II, todos os indivíduos herdam de cada genitor dois genes que codificam a cadeia α e a cadeia e β de HLA‑DP, dois codificando DQα e DQβ, um ou dois para DRβ (HLA‑DRB1 e HLA‑DRB3, 4 ou 5), e um para DRα. O polimorfismo reside principalmente nas cadeias β. Por causa dos genes adicionais DRβ, pela produção de duas isoformas a partir de cada gene DQβ e porque algumas cadeias α codificadas pelo outro cromossomo podem associar‑se com cadeias β codificadas do outro cromossomo, o número total de moléculas expressas de classe II pode ser consideravelmente mais de seis. O conjunto de alelos do MHC presentes em cada cromossomo é chamado um haplótipo de MHC. Em humanos, para cada alelo de HLA é dada uma designação numérica. Por exemplo, um haplótipo HLA do indivíduo poderia ser HLA‑A2, B5, DR3, e assim por diante. Na terminologia moderna, com base na tipagem molecular, os alelos individuais podem ser chamados de HLA‑A*0201, referindo‑se ao subtipo 01 do HLA‑A2, ou HLA DRB1*0401, referindo‑se ao subtipo 01 do gene DR4B1, e assim por diante. Peptídeo de Ligação a Moléculas de MHC As fendas de ligação ao peptídeo das moléculas de MHC ligam peptídeos derivados de antígenos proteicos e apresentam tais peptídeos para serem reconhecidos pelas células T (Fig. 3‑10). Existem bolsas no fundo das fendas de ligação de peptídeos na maior parte das moléculas de MHC. Alguns dos aminoácidos nos antígenos peptídicos se encaixam nessas bolsas do MHC e ancoram os peptídeos na fenda da molécula de MHC; estes aminoácidos são chamados de resíduos de ancoragem. Outros resíduos do peptídeo ligado se projetam para cima e são reconhecidos pelos receptores de antígenos de células T. FIGURA 310 A ligação de peptídeos a moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). A, A vista de cima das estruturas cristalinas de moléculas de MHC mostra como os peptídeos (em amarelo) encontramse nos pisos das fendas de ligação e estão disponíveis para o reconhecimento pelas células T. B, A vista lateral de um recorte de um peptídeo ligado a uma molécula do MHC classe II mostra como resíduos de ancoragem do peptídeo a mantém na bolsa na fenda da molécula de MHC. (A, Cortesia de Dr. P. Bjorkman, California Institute of Technology, Pasadena, Califórnia; B, de Scott CA, Peterson PA, Teyton L, Wilson IA: estruturas dos dois complexos IAdpeptídicas que revelam uma elevada afinidade podem ser alcançadas sem grandes resíduos de ancoragem. Immunity 8:319329, 1998. ©Cell Press; com permissão.) Várias características da interação dos antígenos peptídicos com moléculas de MHC são importantes para a compreensão da função de apresentação dos peptídeos das moléculas de MHC (Fig. 3‑11): • Cada molécula MHC pode apresentar apenas um peptídeo de cada vez, porque existe apenas uma fenda de ligação, mas cada molécula de MHC é capaz de apresentar muitos peptídeos diferentes. Contanto que as bolsas da molécula de MHC possam acomodar os resíduos de ancoragem do peptídeo, aquele peptídeo pode ser apresentado pela molécula de MHC. Por conseguinte, apenas um ou dois resíduos em um peptídeo determinam se aquele peptídeo vai se ligar na fenda de uma determinada molécula de MHC. Assim, as moléculas de MHC teriam uma ampla especificidade de ligação de peptídeos; cada molécula de MHC pode ligar‑se a diversos peptídeos do alcance ótimo de comprimento, mas não todos os peptídeos possíveis. Esta característica é essencial para a função de apresentação de antígeno das moléculas MHC, pois cada indivíduo tem apenas algumas moléculas diferentes de MHC que devem ser capazes de apresentar um grande número e variedade de antígenos proteicos. • As moléculas do MHC ligam‑se principalmente a peptídeos e não a outros tipos de antígenos. Dentre várias classes de moléculas, apenas os peptídeos têm a estrutura e carregam características que permitem a ligação para as fendas das moléculas do MHC. Isso explica por que as células T CD4+ e células T CD8+ restritas ao MHC podem reconhecer e responder principalmente a antígenos proteicos, a fonte natural de peptídeos. O MHC também está envolvido nas reações de células T para alguns antígenos não peptídicos, tais como pequenas moléculas e íons metálicos. O reconhecimento de tais antígenos é discutido brevemente mais adiante. • As moléculas MHC adquirem a sua carga de peptídeos durante a sua biossíntese, montagem e transporte no interior das células. Portanto, as moléculas do MHC apresentam os peptídeos derivados de antígenos proteicos que estão dentro das células hospedeiras (produzidos dentro das células ou ingeridos a partir do ambiente extracelular). Isto explica porque as células T restritas ao MHC reconhecem os microrganismos associados às células. As moléculas de MHC de classe I adquirem peptídeos de proteínas citosólicas, e as moléculas de classe II, de proteínas que são tomadas em vesículas intracelulares. Os mecanismos e o significado dessas vias de associação de peptídeo‑MHC são discutidos mais adiante. • Apenas as moléculas de MHC carregadas com peptídeos são expressas estavelmente na superfície das células. O motivo disso é que as moléculas do MHC devem juntar ambas as suas cadeias e peptídeos ligados para obter uma estrutura estável, e moléculas vazias são degradadas dentro das células. Esta exigência para a ligação ao peptídeo garante que apenas as moléculas de MHC úteis – ou seja, aquelas apresentando peptídeos – estejam expressas nas superfícies das células para o reconhecimento pelas células T. Uma vez que os peptídeos se ligam a moléculas de MHC, eles ficam ligados por um longo período de tempo, até mesmo dias, para alguns peptídeos.A taxa de dissociação lenta assegura que, após uma molécula de MHC adquirir um peptídeo, este será exibido por tempo suficiente para que uma determinada célula T capaz de reconhecer o peptídeo possa encontrá‑lo e iniciar uma resposta. • Em cada indivíduo, as moléculas de MHC podem apresentar peptídeos derivados de proteínas próprias do indivíduo, bem como peptídeos de proteínas estranhas (ou seja, microbianas). Esta incapacidade das moléculas do MHC de discriminar entre antígenos próprios e antígenos estranhos levanta duas questões. Em primeiro lugar, a qualquer momento, a quantidade de proteínas próprias certamente será muito maior que a de quaisquer antígenos microbianos. Por que, então, as moléculas do MHC disponíveis não estão constantemente ocupadas por peptídeos próprios e são incapazes de apresentar antígenos estranhos? A resposta provável é que novas moléculas do MHC estão constantemente sendo sintetizadas, prontas para aceitar peptídeos, e eles são adeptos em capturar quaisquer peptídeos que estão presentes nas células. Além disso, uma única célula T pode precisar ver um peptídeo apresentado apenas por tão pouco como de 0,1% a 1% de aproximadamente 105 das moléculas de MHC na superfície de uma APC, de modo que até mesmo moléculas de MHC raras que apresentam um peptídeo são suficientes para iniciar uma resposta imune. O segundo problema é que, se as moléculas de MHC estão constantemente apresentando autopeptídeos, por que não desenvolvemos respostas imunes a autoantígenos, as chamadas respostas autoimunes? A resposta é que as células T específicas para autoantígenos são mortas ou inativadas (Cap. 9). Assim, as células T estão constantemente patrulhando o corpo à procura de peptídeos associados ao MHC; caso haja uma infecção, apenas aquelas células T que reconhecem os peptídeos microbianos responderão, enquanto as células T específicas dos autopeptídeos estão ausentes ou terão sido previamente inativadas. FIGURA 311 Características da ligação de peptídeos a moléculas de MHC. Algumas das características importantes da ligação de peptídeos a moléculas de MHC, com a sua importância para as respostas imunes. RE, retículo endoplasmático; Ii, cadeia invariante. As moléculas de MHC são capazes de exibir peptídeos intactos, mas não antígenos de proteína microbiana, que são muito grandes para se encaixar na fenda do MHC. Portanto, devem existir mecanismos para a conversão de proteínas que ocorrem naturalmente em peptídeos capazes de se ligarem a moléculas de MHC. Essa conversão, chamada de processamento de antígenos, é descrita a seguir. Processamento e apresentação de antígenos proteicos As proteínas extracelulares internalizadas por APC especializadas (células dendríticas, macrófagos, células B) são processadas em endossomos e lisossomos tardios e apresentadas pelas moléculas de MHC de classe II, enquanto as proteínas no citosol de qualquer célula nucleada são transformadas em estruturas proteolíticas chamadas proteassomas e apresentadas pelas moléculas de MHC de classe I (Fig. 3‑12). Essas duas vias de processamento de antígeno envolvem diferentes proteínas celulares (Fig. 3‑13). Elas são projetadas para demonstrar todas as proteínas presentes nos ambientes extracelular e intracelular. A segregação das vias processadoras de antígenos também garante que diferentes classes de linfócitos T reconheçam antígenos de diferentes compartimentos. Em seguida, discutiremos os mecanismos de processamento do antígeno, começando pela via do MHC de classe II porque foi a primeira a ser definida e foi a base para grande parte da nossa compreensão sobre o processamento do antígeno. FIGURA 312 Vias do processamento intracelular de antígenos proteicos. A via do MHC de classe II converte antígenos proteicos que são endocitados para as vesículas das células apresentadoras de antígeno em peptídeos que se ligam a moléculas de MHC classe II para o reconhecimento por células T CD4+. A via do MHC de classe I converte proteínas no citosol em peptídeos que se ligam a moléculas de MHC de classe I para reconhecimento por células T CD8+. CTL, linfócitos T citotóxicos; RE, retículo endoplasmático; TAP, transportador associado com processamento de antígeno. FIGURA 313 Características das vias de processamento de antígenos. Algumas das características comparativas das duas principais vias de processamento de antígeno. MHC, complexo principal de histocompatibilidade; TAP, transportador associado com processamento do antígeno. Processamento de Antígenos Internalizados para Apresentação pelas Moléculas do MHC de Classe II Os principais passos na apresentação de peptídeos pelas moléculas de MHC classe II incluem a internalização do antígeno, a proteólise em vesículas endocíticas e a associação de peptídeos com as moléculas de classe II (Fig. 3‑14.): • Internalização e digestão de antígenos. Os antígenos destinados para a via do MHC classe II são geralmente internalizados a partir do ambiente extracelular. As células dendríticas e macrófagos podem ingerir microrganismos extracelulares ou proteínas microbianas por vários mecanismos, incluindo fagocitose e endocitose mediada por receptores. Os microrganismos podem se ligar a receptores de superfície específicos para produtos microbianos ou aos receptores que reconhecem anticorpos ou produtos da ativação do complemento (opsoninas) ligados aos microrganismos. Os linfócitos B internalizam eficientemente as proteínas que se ligam especificamente aos receptores de antígeno das células (Cap. 7). Estas APC podem também pinocitar as proteínas sem qualquer evento específico de reconhecimento. Após a internalização nas APC por qualquer destas vias, as proteínas microbianas intracelulares entram nas vesículas ácidas, chamados endossomos ou fagossomos, que devem se fundir aos lisossomos. Nessas vesículas, as proteínas são quebradas pelas enzimas proteolíticas, gerando muitos peptídeos de diferentes comprimentos e sequências. • A ligação de peptídeos a moléculas de MHC. Os peptídeos ligam‑se às moléculas de MHC recém‑sintetizadas nas vesículas especializadas. As APC expressando MHC de classe II constantemente sintetizam essas moléculas MHC no retículo endoplasmático (RE). Cada molécula recém‑sintetizada de classe II carrega com ela uma proteína ligada chamada de cadeia invariante (Ii), que contém uma sequência chamada de peptídeo da cadeia invariante associado à classe II (CLIP; do inglês, class II invariant chain peptide), que se liga à fenda de ligação de uma molécula de classe II. Assim, a fenda de uma molécula de classe II recém‑sintetizada é ocupada e impedida de aceitar peptídeos no RE que se destinam a ligar‑se a moléculas de MHC de classe I (ver adiante). Esta molécula de classe II com seus Ii associados é voltada para as vesículas endossomais/lisossomais, que contêm os peptídeos tardios derivados de proteínas extracelulaes ingeridas. Nessas vesículas, a cadeia invariante é degradada, deixando apenas o CLIP na fenda de ligação peptídica. Os endossomos/lisossomos tardios também contêm uma proteína como o MHC de classe II, chamada DM, cuja função é trocar o CLIP na molécula da classe II do MHC com outros peptídeos que podem estar disponíveis neste compartimento e podem se ligar à molécula do MHC com maior afinidade. • Transporte de complexos peptídeo‑MHC para a superfície celular. O carregamento de peptídeos estabiliza as moléculas do MHC de classe II, que são exportadas para a superfície celular. Uma vez que a molécula do MHC de classe II se liga fortemente a um dos peptídeos gerados a partir das proteínas ingeridas, este complexo peptídeo‑MHC torna‑se estável e é entregue à superfície da célula. Se a molécula de MHC não encontrar um peptídeo ao qual ela possa se ligar, a molécula vazia é instável e é, eventualmente, degradada por proteases lisossomais. Um antígeno proteico pode dar origem a diversos peptídeos, somente poucos dos quais (talvez apenas um oudois) podem se ligar às moléculas de MHC presentes no indivíduo e têm o potencial de estimular as respostas imunes naquele indivíduo. FIGURA 314 Via do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) de classe II do processamento de antígenos interiorizados vesiculares. Os antígenos proteicos são ingeridos pelas células apresentadoras de antígenos (APC) em vesículas, nas quais são degradados em peptídeos. As moléculas de MHC de classe II entram nas mesmas vesículas em que é removido o peptídeo da cadeia invariante de classe II (CLIP) que ocupa a fenda de moléculas recentemente sintetizadas de classe II. Essas moléculas de classe II são, então, capazes de se ligar a peptídeos derivados da endocitose de proteínas. A molécula de DM facilita a remoção de CLIP e subsequente ligação do peptídeo antigênico. Os complexos MHCpeptídeo de classe II são transportados para a superfície das células e são reconhecidos pelas células T CD4+. RE, retículo endoplasmático; Ii, cadeia invariante. Processamento dos Antígenos Citosólicos para Exibição pelas Moléculas do MHC de Classe I Os principais passos na apresentação de antígenos pelas moléculas do MHC classe I incluem a marcação de antígenos no citosol ou núcleo, a proteólise por um complexo enzimático especializado e o transporte para o RE e a ligação de peptídeos para moléculas de classe I recém‑sintetizadas (Fig. 3‑15.): • A proteólise de proteínas citosólicas. Os peptídeos que se ligam a moléculas de classe I do MHC são derivados de proteínas citosólicas que seguem a digestão pela via da ubiquitina‑proteassoma. As proteínas antigênicas podem ser produzidas no citoplasma a partir de vírus que vivem dentro de células infectadas, a partir de alguns microorganismos fagocitados, que podem vazar ou ser transportados para fora dos fagossomas, para o citosol, e de genes mutados ou hospedeiros modificados que codificam as proteínas citosólicas ou nucleares, tal como em tumores. Todas essas proteínas, bem como as próprias proteínas citosólicas e proteínas nucleares mal enoveladas, são alvo de destruição por proteólise pela via ubiquitina‑proteassoma. Estas proteínas estão desdobradas, covalentemente marcadas com múltiplas cópias de um peptídeo chamado ubiquitina, e encaixadas através de um complexo de proteína chamado de proteassoma que é composto por anéis empilhados de enzimas proteolíticas. As proteínas desdobradas são degradadas pelos proteassomas em peptídeos. Nas células que foram expostas a citocinas inflamatórias (como em uma infecção), a composição enzimática dos proteassomas sofre alterações. Como resultado, essas células tornam‑se muito eficientes em clivar as proteínas citosólicas e nucleares em peptídeos com tamanho e propriedades de sequências que permitem que esses peptídeos se liguem bem a moléculas de classe I do MHC. • A ligação de peptídeos para moléculas de classe I do MHC. A fim de formar complexos peptídeo‑MHC, os peptídeos devem ser transportados para dentro do retículo endoplasmático. Os peptídeos produzidos por digestão proteossômica estão no citosol, enquanto as moléculas do MHC são sintetizadas no RE, e os dois precisam ser unidos. Esta função de transporte é fornecida por uma molécula chamada transportador associado com processamento de antígenos (TAP; do inglês, transporter associated with antigen processing), localizada na membrana do RE. TAP liga os peptídeos gerados pelo proteassoma no lado citosólico da membrana do RE; em seguida, os bombeia ativamente para o interior do RE. As moléculas de classe I do MHC recém‑sintetizadas, que não contenham peptídeos ligados, vão se associar a uma proteína de ligação chamada tapasina que as liga às moléculas TAP na membrana do RE. Assim, conforme os peptídeos entram no RE, eles podem ser facilmente capturados pelas moléculas de classe I vazias. (Lembre‑se que, no RE, as moléculas do MHC classe II não são capazes de se ligar a peptídeos devido à cadeia invariante associada.) • Transporte de complexos peptídeo‑MHC na superfície da célula. Se uma molécula de classe I encontra um peptídeo com o encaixe certo, o complexo está estabilizado, liberado da associação com a TAP e é transportado para a superfície da célula. FIGURA 315 Via do MHC de classe I de processamento de antígenos citosólicos. Proteínas entram no citoplasma de células a partir de síntese endógena por microrganismos, tais como vírus, que residem no citosol (ou núcleo, não mostrado) de células infectadas ou de microrganismos que são ingeridos, mas cujos antígenos são transportados para o citosol (processo de apresentação cruzada, descrito adiante). As proteínas citoplasmáticas são desdobradas, ubiquitinadas e degradadas em proteasomas. Os peptídeos que são produzidos são transportados pelo transportador associado com processamento de antígeno (TAP) para o retículo endoplasmático (RE), em que os peptídeos podem ser ainda mais aparados. As moléculas do MHC classe I recentemente sintetizadas são inicialmente estabilizadas por chaperonas e anexadas à TAP por uma proteína chamada ligante tapasina, de modo que as moléculas do MHC estão estrategicamente localizadas para receber peptídeos que são transportados para o RE pela TAP. Os complexos de peptídeoMHC de classe I são transportados para a superfície celular e são reconhecidos pelas células T CD8+. β2m, β2 microglobulina; Ub, ubiquitina. A luta evolutiva entre os microrganismos e seus hospedeiros é bem ilustrada pelas numerosas estratégias que os vírus têm desenvolvido para bloquear a via do MHC de classe I da apresentação de antígenos. Essas estratégias incluem a remoção das moléculas do MHC recentemente sintetizadas do RE, a inibição da transcrição de genes do MHC e o bloqueio do transporte de peptídeos pela TAP. Ao inibir a via do MHC classe I, os vírus reduzem a apresentação dos seus próprios antígenos para as células T CD8+ e são, portanto, capazes de evadir o sistema imune adaptativo. Esses mecanismos de evasão imune são discutidos no Capítulo 6. Apresentação Cruzada dos Antígenos Internalizados para Células T CD8+ Algumas células dendríticas podem apresentar antígenos ingeridos nas moléculas do MHC classe I para os linfócitos T CD8+. Esta via de apresentação de antígeno viola a presunção de que proteínas internalizadas são exibidas apenas por moléculas do MHC classe II a células T CD4+. A resposta inicial de células T CD8+ imaturas, semelhante às células CD4+, requer que os antígenos sejam apresentados por células dendríticas maduras. No entanto, alguns vírus podem infectar apenas tipos celulares específicos e não células dendríticas, e estas células infectadas não podem viajar para os gânglios linfáticos ou produzir todos os sinais necessários para iniciar a ativação das células T. Como, então, há linfócitos T CD8+ imaturos em linfonodos capazes de responder aos antígenos intracelulares de células infectadas? Da mesma forma, os tumores surgem a partir de muitos tipos diferentes de células, e como podem ser apresentados diversos antígenos tumorais pelas células dendríticas? Um subconjunto de células dendríticas clássicas têm a capacidade de ingerir células hospedeiras infectadas, células tumorais mortas, microrganismos e antígenos microbianos e tumorais e transportar os antígenos ingeridos para o citosol, onde eles são processados pelo proteassoma. Os peptídeos antigênicos que são gerados em seguida entram no RE e se ligam a moléculas de classe I, que apresentam os antígenos para o reconhecimento por linfócitos T CD8+ (Fig. 3‑16). Este processo é chamado de apresentação cruzada (ou cross‑priming), indicando que um tipo celular – as células dendríticas – pode apresentar os antígenos de outras células, as células infectadas ou que estejam morrendo – ou fragmentos celulares e iniciar (ou ativar) os linfócitos T imaturos específicos para esses antígenos. Uma vez que as células T CD8+foram diferenciadas em CTL, elas matam células hospedeiras infectadas ou células tumorais sem a necessidade de células dendríticas ou outros sinais além do reconhecimento de antígeno (Cap. 6). A mesma via de apresentação cruzada está envolvida na iniciação das respostas de células T CD8+ a alguns antígenos em transplantes de órgãos (Cap. 10). FIGURA 316 Apresentação cruzada restrita ao MHC classe I de antígenos microbianos de células infectadas pelas células dendríticas. Fragmentos de células infectadas com microrganismos intracelulares (p. ex., vírus) ou antígenos produzidos nestas células são ingeridos pelas células dendríticas, e os antígenos dos microrganismos infecciosos são discriminados e apresentados em associação com moléculas de MHC de classe I das células apresentadoras de antígenos (APC). As células T reconhecem os antígenos microbianos expressos na APC, e as células T são ativadas. Por convenção, a apresentação cruzada (ou priming) é aplicada a células T CD8+ (linfócitos T citotóxicos) que reconhecem antígenos associados ao MHC de classe I (como mostrado); a mesma APC de apresentação cruzada pode apresentar antígenos associados ao MHC de classe II do microrganismo para o reconhecimento pelas células T auxiliares CD4+. Importância Fisiológica da Apresentação de Antígenos Associada ao MHC Muitas características fundamentais da imunidade mediada pelas células T estão intimamente ligadas com a função das moléculas do MHC de apresentar os peptídeos: • A restrição de reconhecimento de células T para peptídeos associados ao MHC garante que as células T vejam e respondam apenas a antígenos associados a células. Isso é devido ao fato de as moléculas de MHC serem proteínas de membrana celular e porque o carregamento de peptídeos e a subsequente expressão de moléculas de MHC dependem da biossíntese intracelular e etapas de montagem. Em outras palavras, as moléculas do MHC podem ser carregadas com peptídeos somente no interior das células, em que os antígenos intracelulares e ingeridos estão presentes. Por conseguinte, os linfócitos T podem reconhecer os antígenos de microrganismos intracelulares, que necessitam de mecanismos efetores mediados por células T, bem como antígenos ingeridos a partir do ambiente extracelular, tais como aqueles contra os quais as respostas do anticorpo são geradas. • Ao segregar as vias de classe I e classe II de processamento de antígenos, o sistema imune é capaz de responder aos microrganismos extracelulares e intracelulares em diferentes maneiras que são especializadas para se defender contra estes microrganismos (Fig. 3‑17). Muitas bactérias, fungos e até mesmo vírus extracelulares são geralmente capturados e ingeridos por macrófagos, e seus antígenos são apresentados por moléculas de classe II. Devido à especificidade de CD4 para a classe II, os peptídeos associados à classe II são reconhecidos por linfócitos T CD4+, que funcionam como células auxiliares. Estas células T auxiliam os macrófagos a destruir microrganismos ingeridos, ativando um mecanismo efetor que pode eliminar os microrganismos que são internalizados do ambiente extracelular. Os linfócitos B ingerem antígenos proteicos de microrganismos e também apresentam peptídeos processados para o reconhecimento pelas células T CD4+ auxiliares. Essas células auxiliares estimulam a produção de anticorpos, que servem para eliminar os microrganismos extracelulares. Nem os fagócitos nem os anticorpos são eficazes contra vírus intracelulares e outros patógenos que podem sobreviver e se replicar no citoplasma das células do hospedeiro. Os antígenos citosólicos são processados e apresentados pelas moléculas do MHC de classe I, as quais são expressas em todas as células nucleadas – novamente, como esperado, porque todas as células nucleadas podem ser infectadas com alguns vírus. Os peptídeos associados à classe I são reconhecidos por linfócitos T CD8+, que se diferenciam em CTL. Os CTL matam as células infectadas e erradicam a infecção, sendo este o mecanismo mais eficaz para a eliminação dos microrganismos citoplasmáticos. FIGURA 317 Papel da apresentação de antígeno associado ao MHC no reconhecimento de antígenos microbianos por linfócitos T CD4+ e células T CD8+. A, Antígenos proteicos de microrganismos que sofrem endocitose a partir do ambiente extracelular por macrófagos e linfócitos B entram na via do MHC de classe II de processamento do antígeno. Como resultado, essas proteínas são reconhecidas por linfócitos T auxiliares CD4+, cujas funções são ativar macrófagos para destruir microrganismos fagocitados e ativar as células B a produzir anticorpos contra microrganismos e toxinas extracelulares. B, Antígenos proteicos de microrganismos que habitam o citoplasma de células infectadas entram na via do MHC de classe I do processamento do antígeno. Como resultado, essas proteínas são reconhecidas por linfócitos T citotóxicos CD8+, cuja função é matar as células infectadas. Assim, a natureza da resposta imune protetora a diferentes microrganismos é otimizada pela ligação de vários recursos de apresentação de antígenos e reconhecimento de células T: as vias de transformação de antígenos vesiculares e citosólicos, a expressão celular de moléculas do MHC de classe II e classe I, a especificidade dos correceptores de CD4 e CD8 para moléculas de classe II e classe I, e as funções de células CD4+ como células auxiliares e de células CD8+ como CTL. Esta função de vias de processamento e antígenos associados ao MHC é importante porque os receptores de antígenos das células T não podem distinguir entre os microrganismos extracelulares e intracelulares. De fato, conforme mencionado anteriormente, o mesmo vírus pode ser extracelular inicialmente na infecção e se tornar intracelular, uma vez que a infecção se estabeleça. Durante a sua vida extracelular, o vírus é combatido por anticorpos e fagócitos ativados por células T auxiliares, mas uma vez que o vírus tenha encontrado um refúgio no citoplasma das células, ele pode ser erradicado apenas pela morte das células infectadas mediada por CTL. A segregação das vias de apresentação dos antígenos classe I e classe II garante a resposta imune especializada correta contra microrganismos em diferentes locais. As limitações estruturais dos peptídeos de ligação a diferentes moléculas do MHC, incluindo o comprimento de resíduos de ancoragem, são responsáveis pela imunodominância de alguns peptídeos derivados de antígenos proteicos complexos e pela incapacidade de alguns indivíduos responderem a determinados antígenos proteicos. Quando qualquer proteína é degradada proteoliticamente nas APC, muitos peptídeos podem ser gerados, mas apenas aqueles peptídeos capazes de se ligar às moléculas de MHC naquele indivíduo podem ser apresentados para reconhecimento por células T. Estes peptídeos de ligação ao MHC são os peptídeos imunodominantes do antígeno. Mesmo os microrganismos com antígenos proteicos complexos expressam um número limitado de peptídeos imunodominantes. Muitas tentativas têm sido feitas para identificar estes peptídeos, a fim de desenvolver vacinas, mas é difícil selecionar um pequeno número de peptídeos a partir de qualquer microrganismo que fosse imunogênico em um grande número de pessoas, devido ao enorme polimorfismo das moléculas do MHC na população. O polimorfismo do MHC também significa que alguns indivíduos não podem expressar moléculas de MHC capazes de se ligarem a qualquer peptídeo derivado de um antígeno particular. Estes indivíduos seriam irresponsivos a esse antígeno. Uma das primeiras observações que estabeleceram a importância fisiológica do MHC foi a descoberta de que alguns animais endogâmicos não respondiam aos antígenos proteicos simples e a responsividade (ou falta dela) mapeada para os genes chamados de genes de respostaimune (Ir; do inglês, imune response), mais tarde mostrados como sendo os genes do MHC. Finalmente, deve ser mencionado que as células T também reconhecem e reagem contra pequenas moléculas e até mesmo íons de metais de uma forma restrita ao MHC. De fato, a exposição a algumas pequenas moléculas que são utilizadas como medicamentos terapêuticos e de metais, tais como níquel e berílio, muitas vezes leva a reações patológicas das células T (as chamadas de reações de hipersensibilidade; Cap. 11). Existem várias formas nas quais estes antígenos não peptídicos podem ser reconhecidos pelas células T CD4+ e CD8+ restritas ao MHC. Alguns dos produtos químicos são pensados para modificar covalentemente os peptídeos próprios ou as próprias moléculas do MHC, criando moléculas alteradas que são reconhecidas como estranhas. Outros produtos químicos se ligam de maneira não covalente a moléculas do MHC e alteram a estrutura da fenda de ligação do peptídeo, de forma que a molécula do MHC que pode conter peptídeos geralmente não é apresentada e estes complexos de peptídeo‑MHC são vistos como estranhos. Este capítulo começou com dois questionamentos: “como fazer os raros linfócitos antígeno‑específicos encontrarem antígenos?” e “como são as respostas imunológicas adequadas geradas contra os microrganismos extracelulares e intracelulares?”. A compreensão da biologia das APC e o papel das moléculas do MHC na apresentação dos peptídeos de antígenos proteicos têm proporcionado respostas satisfatórias a essas perguntas, especificamente para as respostas imunes mediadas pelas células T. Funções das células apresentadoras de antígenos além da apresentação As células apresentadoras de antígeno não apenas apresentam os peptídeos para o reconhecimento por células T, mas, em resposta aos microrganismos, também expressam sinais adicionais para a ativação das células T. A hipótese de dois sinais da ativação de linfócitos foi introduzida nos Capítulos 1 e 2 (Fig. 2‑19), e retornaremos a este conceito na abordagem das respostas de células T e B nos Capítulos 5 e 7. Lembre‑se que o antígeno é o sinal necessário 1 e que, para as células T, o sinal 2 é fornecido por APC reagindo aos microrganismos. A expressão das moléculas em APC que servem como segundos sinais para ativação de linfócitos é parte da resposta imune inata para diferentes produtos microbianos. Por exemplo, muitas bactérias produzem uma substância chamada lipopolissacarídeo (LPS, endotoxina). Quando as bactérias são capturadas pelas APC para a apresentação de seus antígenos proteicos, o LPS atua nas mesmas APC, através de um TLR, e estimula a expressão do coestimuladores e a secreção de citocinas. Os coestimuladores e as citocinas agem em conjunto com o reconhecimento do antígeno pela célula T para estimular a proliferação de células T e a sua diferenciação em células efetoras e de memória. Reconhecimento de antígenos pelas células B e outros linfócitos Os linfócitos B usam anticorpos ligados à membrana para reconhecer uma grande variedade de antígenos, incluindo proteínas, polissacarídeos, lipídeos e pequenos produtos químicos. Estes antígenos podem ser expressos nas superfícies microbianas (p. ex., antígenos capsulares ou envelopados) ou pode estar na forma solúvel (p. ex. toxinas secretadas). As células B diferenciam em resposta ao antígeno e outros sinais para as células que secretam anticorpos (Cap. 7). Os anticorpos secretados entram na circulação e nos fluidos das mucosas e se ligam aos antígenos, o que conduz à sua neutralização e eliminação. Os receptores de antígenos de células e os anticorpos que são secretados geralmente reconhecem antígenos na conformação nativa, sem a necessidade de processamento do antígeno ou visualização por um sistema especializado. Os macrófagos dos seios linfáticos e células dendríticas adjacentes aos folículos podem capturar antígenos que entram nos nódulos linfáticos e apresentam os antígenos na forma intacta (não transformados) aos linfócitos B nos folículos. Os folículos linfoides ricos em células B dos linfonodos e baço contêm uma população de células chamadas dendríticas foliculares (FDC; do inglês, follicular dendritic cells), cuja função é exibir antígenos para as células B ativadas. FDC não são derivadas da medula óssea, nem relacionadas com as células dendríticas que processam os antígenos apresentados às células T. Os antígenos que as FDC apresentam estão revestidos com anticorpos ou por subprodutos do complemento, tais como C3b e C3d. As FDC usam receptores chamados receptores de Fc, específicos para uma das extremidades das moléculas de anticorpo, para se ligar aos complexos antígeno‑anticorpo, e receptores para proteínas do complemento se ligarem a antígenos com essas proteínas acopladas. Esses antígenos são vistos pelos linfócitos B específicos durante a resposta imune humoral, e funcionam para selecionar as células B que se ligam aos antígenos com afinidade elevada. Este processo é discutido no Capítulo 7. Embora este capítulo tenha sido centrado no reconhecimento dos peptídeos pelas células T CD4+ e T CD8+ restritas ao MHC, existem outras populações menores de células T que reconhecem diferentes tipos de antígenos. As células T natural killers (chamadas células NK‑T), que são diferentes das células natural killers (NK) descritas no Capítulo 2, são específicas para lipídeos apresentados por moléculas CD1 tipo classe I, e células T γδ reconhecem uma grande variedade de moléculas, algumas apresentadas por moléculas tipo classe I e outras aparentemente não necessitando de processamento específico ou apresentação. As funções destas células e o significado de suas particularidades incomuns ainda não são totalmente compreendidos. Resumo ▪ A indução de respostas imunes aos antígenos proteicos de microrganismos depende de um sistema especializado para capturar e apresentar esses antígenos para o reconhecimento pelas raras células T imaturas específicas para qualquer antígeno. Os microrganismos e antígenos microbianos que entram no corpo pelo epitélio são capturados pelas células dendríticas localizadas no epitélio e transportados para os linfonodos regionais ou capturado pelas células dendríticas dos nódulos linfáticos e do baço. Os antígenos de proteínas dos microrganismos são apresentados pelas células apresentadoras de antígenos (APC) para os linfócitos T imaturos que recirculam através dos órgãos linfoides. ▪ As moléculas codificadas no complexo principal de histocompatibilidade (MHC) executam a função de apresentar peptídeos derivados de antígenos proteicos. ▪ Os genes do MHC são altamente polimórficos. Seus produtos principais são as moléculas do MHC de classe I e classe II, que contêm fendas de ligação ao peptídeo, em que são concentrados os resíduos polimórficos, e regiões invariantes, que se ligam aos correceptores de CD4 e CD8, respectivamente. ▪ As proteínas que são ingeridas pelas APC do ambiente extracelular são proteoliticamente degradadas dentro das vesículas das APC, e os peptídeos gerados ligam‑se às fendas das moléculas do MHC classe II recentemente sintetizadas. CD4 liga‑se a uma parte invariante do MHC de classe II, uma vez que as células T auxiliares CD4+ podem ser ativadas somente pelos peptídeos associados ao MHC de classe II e derivados principalmente de proteínas degradadas em vesículas, que são normalmente proteínas extracelulares ingeridas. ▪ As proteínas produzidas no citosol de células infectadas, ou que entram no citosol de fagossomos, são degradadas por proteassomas, transportadas para o retículo endoplasmático pela TAP e ligam‑se às fendas das moléculas de classe I do MHC recém‑sintetizadas. CD8 liga‑se a moléculas de MHC classe I, de modo que os linfócitos T citotóxicos CD8+ podem ser ativados apenas por MHC de classe I associado a peptídeos derivados da degradação proteassomalde proteínas citosólicas. ▪ O papel das moléculas de MHC na apresentação do antígeno assegura que as células T reconheçam apenas antígenos proteicos associados à células e que o tipo correto de células T (auxiliar ou citotóxica) responda ao tipo de microrganismo que a célula T seja mais capaz de combater. ▪ Os microrganismos ativam as APC para expressar proteínas de membrana (coestimuladores) e a secretar citocinas que fornecem sinais que funcionam em conjunto com antígenos para estimular células T específicas. O requisito para estes segundos sinais assegura que as células T respondam aos antígenos microbianos e não a substâncias inofensivas, não microbianas. ▪ Os linfócitos B reconhecem proteínas, bem como antígenos não proteicos, mesmo em suas conformações nativas. As células dendríticas foliculares apresentam os antígenos para células B do centro germinal e selecionam as células B de alta afinidade durante as respostas imunes humorais. Perguntas de revisão 1. Quando antígenos entram através da pele, em quais órgãos estão concentrados? Que tipo(s) celular(es) desempenha(m) papel importante neste processo de captura de antígeno? 2. O que são as moléculas do MHC? Como as moléculas do MHC humano são chamadas? Como foram descobertas as moléculas do MHC e qual é a sua função? 3. Quais são as diferenças entre os antígenos que são apresentados pelas moléculas de classe I e classe II do MHC? 4. Descreva a sequência de eventos pela qual as moléculas de classe I e classe II do MHC adquirem os antígenos para exibição. 5. Quais subconjuntos de células T reconhecem os antígenos apresentados pelas moléculas de classe I e classe II do MHC? Quais moléculas nas células T contribuem para sua especificidade para antígenos peptídicos associados ao MHC de classe I ou classe II? As respostas e as discussões das Perguntas de Revisão estão disponíveis em www.studentconsult.com.br. CAP Í T U LO 4 Reconhecimento Antigênico no Sistema Imunológico Adaptativo Estrutura dos Receptores de Antígenos dos Linfócitos e Desenvolvimento dos Repertórios Imunes Receptores antigênicos dos linfócitos Anticorpos Receptores de Células T para Antígenos Desenvolvimento dos repertórios IMUNES Desenvolvimento do Linfócito Produção de Receptores de Antígenos Diversos Maturação e Seleção dos Linfócitos B Maturação e Seleção dos Linfócitos T Resumo Os receptores antigênicos apresentam papéis essenciais na maturação de linfócitos desde progenitores e em todas as respostas imunes adaptativas. Na imunidade adaptativa, os linfócitos imaturos reconhecem os antígenos para iniciar respostas, e as células T efetoras e anticorpos reconhecem os antígenos para desempenhar suas funções. Linfócitos B e T expressam diferentes receptores que reconhecem os antígenos: os anticorpos ligados à membrana nas células B e receptores das células T (TCR; do inglês, T cell receptors) nos linfócitos T. A principal função dos receptores celulares no sistema imunológico, como em outros sistemas biológicos, é detectar estímulos externos (antígenos, para os receptores antigênicos do sistema imunológico adquirido) e iniciar a resposta das células nas quais os receptores são expressos. Para reconhecer uma grande variedade de antígenos distintos, os receptores de antígenos dos linfócitos devem ser capazes de se ligar e distinguir entre muitas estruturas químicas, frequentemente similares. Receptores de antígenos são clonalmente distribuídos, o que significa que cada clone de linfócito é específico para um antígeno diferente e contém um único receptor, diferente dos receptores de todos os outros clones. (Lembrando que um clone consiste em uma célula‑mãe e sua descendência.) O número total de clones distintos de linfócitos é muito grande e isso faz com que toda a coleção forme o repertório imunológico. Embora cada clone de linfócito B ou linfócito T reconheça um antígeno diferente, os receptores de antígenos transmitem fundamentalmente os mesmos sinais bioquímicos em todos os linfócitos, e não estão relacionados com a especificidade. Essas características de reconhecimento de linfócitos e receptores antigênicos levantam as seguintes questões: • Como os receptores antigênicos de linfócitos reconhecem os antígenos extremamente diversos e transmitem sinais ativadores para as células? • Quais são as diferenças nas propriedades de reconhecimento de receptores antigênicos de células B e T? • Como é gerada a vasta diversidade das estruturas dos receptores de antígenos nos linfócitos? A diversidade do reconhecimento antigênico implica a existência de muitas proteínas receptoras de antígenos estruturalmente diferentes, mais do que pode ser racionalmente codificado por herança genômica (germline). Portanto, deve haver mecanismos especiais para a geração dessa diversidade. Neste capítulo descreveremos as estruturas dos receptores de antígenos dos linfócitos B e T e o modo como esses receptores reconhecem os antígenos. Nós também discutimos como a diversidade dos receptores antigênicos é gerada durante o processo de desenvolvimento dos linfócitos, dando origem ao repertório de linfócitos maduros. O processo de ativação dos linfócitos induzido por antígeno é descrito nos capítulos posteriores. Receptores antigênicos dos linfócitos Os receptores de antígenos dos linfócitos B e T apresentam várias características importantes para a função desses receptores na imunidade adaptativa (Fig. 4‑1). Embora esses receptores apresentem muitas semelhanças em termos de estrutura e mecanismos de sinalização, existem diferenças fundamentais relacionadas com os tipos de estruturas antigênicas que as células B e as células T reconhecem. • Anticorpos vinculados à membrana, que funcionam como receptores antigênicos do linfócito B, podem reconhecer muitos tipos de estruturas químicas, enquanto a maioria dos receptores de célula T reconhece apenas peptídeos ligados a moléculas no complexo principal de histocompatibilidade (MHC; do inglês, major histocompatibility complex). Os receptores de antígenos dos linfócitos B e os anticorpos que as células B secretam são capazes de reconhecer formas ou conformações de macromoléculas incluindo proteínas, lipídeos carboidratos e ácidos nucleicos, bem com a subdivisão de molécula química (do inglês moieties) menores e mais simples. Esta ampla especificidade das células B para tipos estruturalmente diferentes de moléculas permite que os anticorpos reconheçam diversos patógenos e toxinas em sua forma nativa. Em extremo contraste, a maioria das células T vê apenas peptídeos, e somente quando esses peptídeos são mostrados nas células apresentadoras de antígeno (APC; do inglês, antigen‑presenting cells) ligados a moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Esta especifidade das células T limita o reconhecimento delas para apenas microrganismos associados a células (Cap. 3). • Moléculas receptoras de antígenos consistem em regiões (domínios) que estão envolvidas no reconhecimento antigênico – e, dessa forma, variam entre os clones dos linfócitos – e outras regiões requeridas para a integridade estrutural e para as funções efetoras – e, portanto, são relativamente conservadas entre todos os clones. As porções de reconhecimento antigênico entre os receptores são chamadas regiões variáveis (V), e as porções preservadas são as regiões constantes (C). Mesmo em cada região V, a maior parte da variabilidade das sequências é concentrada em curtos trechos, que são chamados de regiões hipervariáveis, ou regiões determinantes da complementaridade (CDR; do inglês, complementary‑determining regions), porque elas formam a parte do receptor que se liga ao antígeno (i.e, são complementares à forma dos antígenos). Por concentrar sequências variáveis em pequenas regiões dos receptores, é possível maximizar a variabilidade da parte de ligação ao antígeno, enquanto a estrutura básica dos receptores é mantida. Conforme será discutidoposteriormente, existem mecanismos especiais no desenvolvimento de linfócitos para criar genes que codificam diferentes regiões variáveis de proteínas receptoras antigênicas em clones individuais. • Cadeias receptoras antigênicas estão associadas às proteínas da membrana invariante, cuja função é fornecer sinais intracelulares que são acionados pelo reconhecimento do antígeno (Fig. 4‑1). Tais sinais, que são transmitidos para o citosol e o núcleo, podem fazer com que um linfócito divida‑se, diferencie‑se ou, em certas circunstâncias, morra. Assim, essas duas funções dos receptores de antígenos dos linfócitos – reconhecimento antigênico específico e sinal de transdução – são mediadas por diferentes polipeptídeos. Isso novamente permite a variabilidade a ser segregada em um grupo de moléculas, os próprios receptores, enquanto deixa a função preservada da transdução de sinal em outras proteínas invariantes. O conjunto associado dos receptores de antígenos da membrana plasmática e as moléculas sinalizadoras nos linfócitos B é chamado de complexo receptor da célula B (BCR; do inglês, B cell receptor), e nos linfócitos T é chamada de complexo receptor da célula T (TCR; do inglês, T cell receptor). Quando as moléculas de antígeno se ligam aos receptores antigênicos dos linfócitos, as proteínas de sinalização associadas aos complexos receptores são trazidas e aproximam‑se. Como resultado, as enzimas ligadas à porção citoplasmática das proteínas sinalizadoras catalisam a fosforilação de outras proteínas. A fosforilação desencadeia cascatas de sinalização complexas que culminam na ativação transcricional de muitos genes e na produção de numerosas proteínas que medeiam a resposta dos linfócitos. Retornaremos ao processo de ativação dos linfócitos T e B nos Capítulos 5 e 7, respectivamente. • Os anticorpos existem em duas formas, como receptores de antígenos ligados à membrana das células B ou como proteínas secretadas, mas TCR existem somente como receptores de membrana nas células T. Anticorpos secretados estão presentes no sangue e nas secreções das mucosas, onde eles agem para defender contra microrganismos (i.e., são moléculas efetoras da imunidade humoral). Anticorpos são também chamados de imunoglobulinas (Igs), referindo‑se a proteínas que conferem imunidade com características da mobilidade eletroforética lenta das globulinas. Anticorpos secretados reconhecem antígenos microbianos e toxinas por meio de seus domínios variáveis, do mesmo modo que os receptores de antígenos ligados à membrana dos linfócitos B. As regiões constantes de alguns anticorpos secretados têm a capacidade de se ligar a outras moléculas que participam da eliminação de antígenos: essas moléculas incluem receptores em fagócitos e proteínas do sistema complemento. Assim, anticorpos têm diferentes funções em diversos estágios na resposta da imunidade humoral: anticorpos ligados à membrana nas células B reconhecem antígenos e iniciam a resposta, e anticorpos secretados neutralizam e eliminam microrganismos e suas toxinas na fase efetora da imunidade humoral. Na imunidade mediada por células, a função efetora de eliminação dos microrganismos é realizada pelos próprios linfócitos T e por outros leucócitos que respondem às células T. Os receptores de antígenos das células T estão envolvidos somente no reconhecimento antigênico e na ativação da célula T, e essas proteínas não são secretadas e não medeiam as funções efetoras. FIGURA 41 Propriedades dos anticorpos e receptores de antígenos das células T (TCR). Anticorpos (também chamados de imunoglobulinas) podem ser expressos como receptores de membrana ou proteínas secretadas; TCR funcionam apenas como receptores de membrana. Quando a imunoglobulina (Ig) ou as moléculas de TCR reconhecem antígenos, sinais são liberados para os linfócitos pelas proteínas associadas aos receptores de antígenos. Os receptores de antígenos e as proteínas sinalizadoras ligadas formam os complexos receptores da célula B (BCR) e TCR. Note que receptores de antígenos únicos são exibidos reconhecendo antígenos, mas a sinalização geralmente requer a ligação de dois ou mais receptores ligados às moléculas antigênicas adjacentes. As características importantes dessas moléculas de reconhecimento antigênico estão resumidas. APC, células apresentadoras de antígenos; MHC, complexo principal de histocompatibilidade. Com essa introdução, descrevemos em seguida os receptores de antígenos dos linfócitos, primeiramente os anticorpos e então os receptores de células T. Anticorpos Uma molécula de anticorpo é composta de quatro cadeias polipeptídicas, sendo duas cadeias pesadas (H; do inglês, heavy) idênticas e duas cadeias leves (L; do inglês, light) idênticas, onde cada cadeia contém uma região variável e uma região constante (Fig. 4‑2). As quatro cadeias estão agregadas de modo a formar uma molécula em formato de Y. Cada cadeia leve está ligada a uma cadeia pesada, e as duas cadeias pesadas estão ligadas uma à outra, todas ligadas por pontes dissulfeto. Uma cadeia leve é composta por um domínio V e um C, e a cadeia pesada, por um domínio V e três ou quatro domínios C. Cada domínio se dobra em uma forma tridimensional característica, denominada domínio de imunoglobulina (Ig), (Fig. 4‑2, D). Um domínio de Ig consiste em duas camadas de folhas β pregueadas e unidas por uma ponte dissulfeto. Os filamentos adjacentes de cada folha β são conectados por circuitos protuberantes curtos; em moléculas de Ig, esses circuitos compõem os três CDR responsáveis pelo reconhecimento do antígeno. Domínios de imunoglobulina estão presentes em muitas outras proteínas do sistema imune, bem como fora do sistema imunológico, e a maioria das proteínas está envolvida na resposta aos estímulos do meio e de outras células. Todas essas proteínas são consideradas membros da superfamília das imunoglobulinas e podem ter se desenvolvido de um gene ancestral comum. FIGURA 42 Estrutura dos anticorpos. São exibidos os diagramas esquemáticos de A, uma molécula de imunoglobulina G (IgG), e B, uma molécula da forma de membrana da IgM, ilustrando os domínios das cadeias pesadas e leves e as regiões da proteína que participam do reconhecimento antigênico e das funções efetoras. N e C referemse às extremidades aminoterminal e carboxiterminal das cadeias polipeptídicas, respectivamente. C, A estrutura cristalina de uma molécula de IgG secretada ilustra os domínios e sua orientação espacial; as cadeias pesadas são de cores azul e vermelha, as cadeias leves são verdes, e carboidratos são cinza. D, Um diagrama de fita do domínio V da Ig mostra a estrutura básica da folha β pregueada e os laços salientes que formam as três CDR. CDR, regiões de determinação da complementaridade. (C, Cortesia de Dr. Alex McPherson, University of California, Irvine.) O local de ligação ao antígeno de um anticorpo é composto das regiões V de ambas as cadeias, pesadas e leves, e o núcleo na estrutura do anticorpo contém dois locais idênticos de ligação ao antígeno (Fig. 4‑2). Cada região variável da cadeia pesada (chamada de VH) ou da cadeia leve (chamada de VL) possui três regiões hipervariáveis, ou CDR. Dentre as três, a maior variabilidade é encontrada na CDR3, localizada na junção das regiões V e C. Como pode ser previsto a partir dessa variabilidade, CDR3 é também a porção da molécula de Ig com maior contribuição na ligação antigênica. Partes funcionalmente distintas de moléculas de anticorpos foram primeiramente identificadas com base em fragmentos gerados por proteólise. O fragmento de um anticorpo que contém uma cadeia leve inteira (com seus domínios V e C individualizados) ligada aos domínios V e primeiros domínios C de uma cadeia pesada contém a porção do anticorpo requerida para o reconhecimento antigênico, sendo denominada Fab (fragmento de ligação do antígeno; do inglês, fragment antigen‑binding). Os demais domínios C dacadeia pesada formam a região Fc (fragmento, cristalino); este fragmento tende a cristalizar em solução. Em cada molécula de Ig há duas regiões de Fab idênticas em que o antígeno se liga, e uma região Fc que é responsável pela maioria das atividades biológicas e funções efetoras dos anticorpos. (Como será descrito posteriormente, alguns tipos de anticorpos existem como multímeros de duas ou cinco moléculas de Ig ligadas umas às outras.) Entre as regiões Fab e Fc da maioria das moléculas de anticorpo há uma região flexível chamada de região de dobradiça (dobrável). A região de dobradiça permite que duas regiões Fab de ligação de antígenos de cada molécula de anticorpo movam‑se independentemente, possibilitando a elas ligarem‑se simultaneamente a epítopos antigênicos que estão separados um do outro por distâncias variadas. A ponta C terminal da cadeia pesada pode estar ancorada na membrana plasmática, como observado nos receptores das células B, ou pode terminar em uma extremidade que não tem uma âncora de membrana, de modo que o anticorpo é produzido como uma proteína secretada. As cadeias leves no receptor de célula B não são ligadas às membranas celulares. Há cinco tipos de cadeias pesadas, denominadas μ, δ, γ, ɛ and α, que diferem em suas regiões C. Em humanos, há quatro subtipos de cadeia γ e dois subtipos de cadeia α. Anticorpos que contêm diferentes cadeias pesadas pertencem a diferentes classes ou isótipos, e são denominados de acordo com a cadeia pesada (IgM, IgD, IgG, IgE e IgA). Cada isótipo tem propriedades física, biológica e funções efetoras distintas (Fig. 4‑3). Os receptores de antígenos dos linfócitos B virgens, que são células maduras, mas que ainda não encontraram os antígenos, são a IgM e a IgD ligadas à membrana. Após a estimulação por antígenos e linfócitos T auxiliares, o clone de linfócito B antígeno‑específico pode expandir‑se e diferenciar‑se em uma progênie que secreta anticorpos. Algumas progênies de IgM e IgD expressando células B podem secretar IgM, e outras progênies das mesmas células B podem produzir anticorpos de outras classes de cadeias pesadas. Essa mudança na produção do isótipo da Ig é chamada de troca da classe (ou isótipo) da cadeia pesada; seu mecanismo e sua importância serão discutidos posteriormente, no Capítulo 7. Embora as regiões C da cadeia pesada possam ser trocadas durante a resposta imunológica humoral, cada clone de célula B mantém a especificidade, porque as regiões V não são alteradas. FIGURA 43 Características dos principais isótipos (classes) de anticorpos. A tabela resume algumas características importantes dos principais isótipos de anticorpos humanos. Isótipos são classificados com base na sua cadeia pesada (H); cada um pode conter tanto a cadeia leve κ quanto a cadeia λ. O diagrama esquemático ilustra as estruturas distintas das formas secretadas desses anticorpos. Note que a IgA consiste em duas subclasses, chamadas de IgA1 e IgA2, e a IgG consiste em quatro subclasses, chamadas de IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4. (Por motivos históricos, são dados diferentes nomes às subclasses de IgG em outras espécies; em camundongos, elas são denominadas IgG1, IgG2a, IgG2b e IgG3.) O domínio das cadeias pesadas em cada isótipo está identificado. As concentrações plasmáticas são valores médios, em indivíduos normais. Os dois tipos de cadeias leve, denominadas κ e λ, diferem em suas regiões C. Cada célula B expressa κ ou λ, mas não ambos. Cada tipo de cadeia leve pode combinar com qualquer tipo de cadeia pesada em uma molécula de anticorpo, mas diferentemente das cadeias pesadas, os dois tipos de cadeias leves não têm diferença funcional. As classes de cadeia leve (κ ou λ) também permanecem inalteradas durante a vida de cada clone de célula B, independentemente de ter ocorrido ou não troca da classe da cadeia pesada. Ligação dos antígenos pelos anticorpos Anticorpos são capazes de se ligar a uma ampla variedade de antígenos, incluindo macromoléculas e pequenas moléculas químicas. A razão para isso é que o circuito CDR de ligação ao antígeno das moléculas do anticorpo pode se juntar para formar fendas capazes de acomodar pequenas moléculas ou para formar uma superfície plana, que é capaz de acomodar muitas moléculas maiores, incluindo partes de proteínas (Fig. 4‑4). Anticorpos ligam‑se aos antígenos por ligações não covalentes, reversíveis, incluindo pontes de hidrogênio, interações hidrofóbicas e interações com base nas cargas. As partes dos antígenos que são reconhecidas pelos anticorpos são chamadas de epítopos, ou determinantes. Diferentes epítopos de antígenos proteicos podem ser reconhecidos com base na sequência de aminoácidos alongados (epítopos lineares) ou na forma (epítopos conformacionais). Alguns desses epítopos estão escondidos na molécula antigênica e são expostos como um resultado de uma alteração físico‑ química. FIGURA 44 Ligação de um antígeno por um anticorpo. Este modelo de uma proteína antigênica ligada a uma molécula de anticorpo mostra como o sítio de ligação do antígeno pode acomodar macromoléculas solúveis em sua conformação nativa (dobrada). As cadeias pesadas do anticorpo estão em vermelho, as cadeias leves são amarelas e o antígeno está colorido em azul. (Cortesia de Dr. Dan Vaughn, Cold Spring Harbor Laboratory, Cold Spring Harbor, NY.) A força com a qual uma superfície de ligação de antígeno se liga a um epítopo de um antígeno é chamada de afinidade de interação. A afinidade é frequentemente expressa pela constante de dissociação (Kd), que é a concentração molar requerida de um antígeno para ocupar metade das moléculas de anticorpo disponíveis em solução; quanto menor a Kd, mais alta é a afinidade. A maioria dos anticorpos produzidos em uma resposta imunológica primária tem Kd entre 10−6 e 10−9 M; no entanto, com estimulação repetida (p. ex., em uma resposta imunológica secundária), a afinidade aumenta para Kd entre 10−8 e 10−11 M. Esse aumento na força de ligação do antígeno é chamado de maturação da afinidade (Cap. 7). Cada molécula de anticorpo IgG, IgD e IgE tem dois sítios de ligação de antígeno. A IgA secretada é um dímero e, dessa forma, possui quatro sítios de ligação ao antígeno, e a IgM secretada é um pentâmero, com 10 sítios de ligação ao antígeno. Portanto, cada molécula de anticorpo pode ligar dois a 10 epítopos de um antígeno, ou epítopos em dois ou mais antígenos próximos. A força total de ligação é muito maior que a afinidade de um único antígeno ligado a um anticorpo, e é chamada de avidez de uma interação. Anticorpos produzidos contra um antígeno podem ligar outros antígenos estruturalmente similares. A ligação a epítopos similares denomina‑se reação cruzada. Em linfócitos B, as moléculas de Ig ligadas à membrana estão associadas não covalentemente a outras duas proteínas chamadas Igα e Igβ, e as três proteínas formam o complexo receptor da célula B. Quando o receptor de célula B reconhece o antígeno, Igα e Igβ transmitem os sinais para o interior da célula B, que inicia o processo de ativação da célula B. Este e outros sinais de ativação da resposta imunológica humoral serão discutidos posteriormente, no Capítulo 7. Anticorpos Monoclonais A constatação de que um clone de célula B faz um anticorpo de apenas uma especificidade tem sido explorada para produzir anticorpos monoclonais, um dos mais importantes avanços tecnológicos em imunologia, com implicações que estavam fora do alcance para a clínica médica e a pesquisa. Para produzir anticorpos monoclonais, células B, que têm o menor tempo de vida in vitro, são obtidas de um animal imunizado com um antígeno e são fundidas com células de mielomas (tumores de células do plasma), que podem ser propagadas indefinidamente em cultura de tecido (Fig. 4‑5). A linha celular de mieloma utilizada necessitade uma enzima específica, como resultado de que estas células não podem crescer na presença de um determinado fármaco tóxico; células fundidas, que contêm tanto o mieloma quanto núcleos de células B normais, no entanto, crescem na presença do fármaco, porque as células B normais fornecem a enzima que falta. Assim, pela fusão de duas populações celulares e selecionando‑as por meio da cultura com fármacos, torna‑se possível o crescimento de apenas células fundidas derivadas de células B e de mielomas, chamadas de hibridomas. Estas crescem continuamente, tendo adquirido propriedade imortal do tumor de mieloma. De uma população de hibridomas é possível selecionar e expandir células que crescem continuamente e que secretam o anticorpo com a especificidade desejada; tais anticorpos, derivados de uma única célula B clone, são anticorpos monoclonais homogêneos. Isso significa que é possível fazer anticorpos monoclonais contra praticamente qualquer antígeno. FIGURA 45 Geração de hibridomas e anticorpos monoclonais. Neste procedimento, as células do baço de um camundongo imunizado com um antígeno conhecido são fundidas com uma linha celular de um mieloma com deficiência de enzima que não secreta imunoglobulinas por conta própria. As células fundidas são, então, colocadas em um meio selecionado, que permite a sobrevivência apenas de híbridos imortalizados – as células B normais fornecem a enzima que falta para o mieloma, e as células B não fundidas não podem sobreviver indefinidamente. Essas células híbridas são cultivadas como clones de uma única célula e testadas para a secreção de anticorpo da especificidade desejada. O clone produzindo este anticorpo é expandido e tornase uma fonte do anticorpo monoclonal. FIGURA 46 Anticorpos monoclonais selecionados em uso clínico. A tabela descreve alguns dos anticorpos monoclonais aprovados para o tratamento de vários tipos de doenças ou em estudo clínico para essas doenças. A maioria dos anticorpos monoclonais é feita pela fusão de células de camundongos imunizados com mielomas murinos. Tais anticorpos monoclonais de camundongos não podem ser injetados repetidamente em humanos, porque o sistema imunológico humano vê as imunoglobulinas murinas como antígenos estranhos e produz resposta imune contra os anticorpos injetados. Esse problema foi resolvido pela engenharia genética mantendo a região V ligada ao antígeno do anticorpo monoclonal murino e pela substituição do restante da Ig com uma Ig humana; tais anticorpos “humanizados” são aceitáveis para a administração em humanos (embora, com o uso prolongado, até mesmo alguns anticorpos monoclonais humanizados possam induzir respostas de anticorpos anti‑ Ig em indivíduos tratados). Mais recentemente, anticorpos monoclonais foram gerados utilizando‑se a tecnologia do DNA recombinante para clonar o DNA que codifica os anticorpos humanos de especificidade desejada. Outra abordagem é a substituição de genes de Ig de camundongos por anticorpos humanos e a imunização desses camundongos com um antígeno para produzir anticorpos humanos específicos. Atualmente, os anticorpos monoclonais são amplamente utilizados como terapêuticos e reagentes diagnósticos em muitas doenças em humanos. Receptores de Células T para Antígenos O TCR, que reconhece antígenos peptídicos apresentados pelas moléculas de MHC, é um heterodímero ligado à membrana, composto de uma cadeia α e uma cadeia β, cada uma contendo uma região variável (V) e uma região constante (C) (Fig. 4‑7). As regiões V e C são homólogas às regiões V e C das imunoglobulinas. Na região V da cada cadeia do TCR há três regiões hipervariáveis, ou determinantes da complementaridade, cada uma correspondendo a uma alça do domínio. Como nos anticorpos, a região CDR3 é a mais variável entre os diferentes TCR. FIGURA 47 A estrutura do receptor de antígenos da célula T (TCR). O diagrama esquemático do αβ TCR (à esquerda) mostra os domínios de um TCR específico para um complexo peptídeoMHC. A porção que se liga ao antígeno do TCR é formada pelos domínios Vα e Vβ. N e C referemse às extremidades aminoterminal e carboxiterminal dos polipeptídeos. O diagrama em fita (à direita) mostra a estrutura da porção extracelular do TCR como revelado pela cristalografia em raios X. (De Bjorkman PJ. MHC restriction in three dimensions: a view of T cell receptor/ligand interactions. Cell 89:167–170, 1997. © Cell Press; com permissão.) Reconhecimento do Antígeno pelo TCR Tanto a cadeia α como a cadeia β do TCR participam do reconhecimento específico das moléculas de MHC e peptídeos ligados (Fig. 4‑8). Uma das mais marcantes características do reconhecimento antigênico pelas células T resultou da análise cristalográfica de raios X de TCR ligados a complexos peptídeo‑MHC, em que cada TCR reconhece apenas um de três resíduos do peptídeo associado ao MHC. FIGURA 48 Reconhecimento do complexo peptídeoMHC por um receptor de antígeno da célula T. O diagrama em fita é desenhado a partir de uma estrutura cristalográfica da porção extracelular de um complexo peptídeoMHC ligado a um TCR que é específico para o peptídeo apresentado pela molécula de MHC. O peptídeo pode ser observado ligado no topo da fenda da molécula de MHC, e um resíduo de peptídeo está em contato com a região V do TCR. A estrutura das moléculas de MHC e suas funções como peptídeos mostrando proteínas são descritas no Capítulo 3. β2m, β2microglobulina; MHC, complexo principal de histocompatibilidade; TCR, receptor de célula T. (De Bjorkman PJ: MHC restriction in three dimensions: a view of T cell receptor/ligand interactions. Cell 89:167–170, 1997. © Cell Press; com permissão.) O TCR reconhece o antígeno, mas como parte da membrana de Ig na célula B, o TCR é incapaz de transmitir, sozinho, sinais para a célula T. Existe um complexo de proteínas associado com o complexo TCR, denominado CD3 e proteínas ξ, que, junto com o TCR, formam o complexo TCR (Fig. 4‑1). CD3 e cadeias ξ transmitem alguns dos sinais que são iniciados quando o TCR reconhece antígeno. Adicionalmente, ativação de célula T requer participação de molécula correceptor CD4 ou CD8, que reconhece porções não polimórficas das moléculas de MHC e também transmite sinais ativadores. As funções dessas proteínas associadas ao TCR e correceptores são discutidas no Capítulo 5. Reconhecimento de antígenos pelos receptores de linfócitos B e T difere em aspectos importantes (Fig. 4‑9) Anticorpos podem se ligar a muitos tipos de estrutura química, frequentemente com alta afinidade; por essa razão, anticorpos podem ligar e neutralizar diversos micróbios e toxinas que podem estar presentes em baixas concentrações na circulação. TCR apenas reconhece complexos peptídicos de MHC e liga‑se a esses complexos com baixa afinidade, o que pode explicar a ligação das células T a APC que precisam ser reforçadas adicionalmente por moléculas de adesão da superfície celular (Cap. 5). A estrutura tridimensional do TCR é semelhante com a região Fab de uma molécula Ig. Diferentemente dos anticorpos, ambas as cadeias TCR estão ancoradas na membrana do plasma; TCR não são produzidas em uma forma secretora e não passam por troca de classe ou afinidade de maturação durante a vida da célula. FIGURA 49 Características do reconhecimento antigênico por imunoglobulinas e receptores de antígenos das células T. Diferenças e similaridades importantes de moléculas Ig e TCR, os receptores de antígenos dos linfócitos B e T, respectivamente. Entre as células T do corpo, 5% a 10% expressam receptores compostos de cadeias gama (γ) e cadeias delta (δ), que são estruturas similares ao TCR αβ, mas apresentam especificidade muito diferente. O TCR γδ pode reconhecer uma variedade de antígenos proteicos e não proteicos, que geralmente não são apresentadospor moléculas clássicas do MHC. Células T que expressam TCR γδ são abundantes no epitélio. Essa observação sugere que as células T γδ reconhecem patógenos comumente encontrados na superfície epitelial; no entanto, nem a especificidade nem a função dessas células T estão bem estabelecidas. Outra subpopulação de células T, representando menos que 5% das células do total de todas as células T, expressa marcadores de células natural killer, as quais são denominadas células T natural killer (células NK‑T). As células NK‑T expressam TCR αβ com diversidade limitada, mas reconhecem antígenos de lipídeos apresentados por moléculas não polimórficas semelhantes ao MHC. As funções das células NK‑T ainda não são bem compreendidas. Desenvolvimento dos repertórios imunes Agora que foi discutida a estrutura dos receptores de linfócitos B e T e como esses receptores reconhecem antígenos, a próxima questão é como a enorme diversidade desses receptores é produzida. Como previsto na hipótese de seleção clonal, há muitos clones de linfócitos com especificidades distintas, talvez tanto quanto 109, e estes clones aumentam antes de encontrar com o antígeno. Não há genes suficientes no genoma humano para cada possível receptor ser codificado por um gene diferente. Na realidade, o sistema imune desenvolveu mecanismos para gerar receptor de antígenos extremamente diversos, e a geração de diversos receptores está intimamente relacionada com o processo de maturação do linfócito B e T. O objetivo da maturação do linfócito é gerar o maior número possível de células com receptores de antígenos diversos (com um receptor em cada célula) e então preservar as células com receptores úteis. A geração de grande número de receptores (tanto quanto vários bilhões) é um processo molecular que não pode ser influenciado pelo o que é reconhecido pelo receptor, porque o reconhecimento deve seguir a geração e expressão do receptor. Uma vez que receptores de antígenos são expressos em linfócitos em desenvolvimento, processo de seleção promove a sobrevivência das células com receptores úteis e eliminação de células que não podem reconhecer antígenos no indivíduo ou com potencial de causar dano. Cada um desses eventos será discutido posteriormente. Desenvolvimento do Linfócito O desenvolvimento dos linfócitos da medula óssea envolve os progenitores hematopoéticos para linhagens celulares B ou T, a proliferação desses progenitores, o rearranjo e a expressão dos genes de receptor de antígeno, e eventos seletivos para preservar e expandir células que potencialmente expressam receptores de antígenos úteis (Fig. 4‑10). Esses passos são comuns para linfócitos B e T, mesmo que linfócitos B amadureçam no timo. Cada processo que ocorre durante a maturação do linfócito tem uma função especial na geração do repertório de linfócitos. • Comprometimento da linhagem de célula B ou célula T está associado a mudanças em progenitores de linfócito comum na medula óssea. Essas mudanças incluem a ativação de várias linhagens específicas de fatores de transição e aumentaram a acessibilidade de Ig e genes TCR para a maquinaria de recombinação genética, descrito posteriormente. • Linfócitos imaturos passam por proliferação por vários estágios durante sua maturacão. Proliferação no desenvolvimento de linfócitos é necessária para assegurar que um número adequado de células estará disponível para expressar receptores de antígenos úteis e maduros em linfócitos funcionalmente competentes. A proliferação e a sobrevivência dos precursores iniciais dos linfócitos são estimuladas principalmente por um fator de crescimento, a interleucina‑7 (IL‑7), que é produzida pelas células estromais da medula óssea e do timo. A IL‑7 mantém e expande o número de progenitores dos linfócitos (principalmente progenitores de células T em humanos, e precursores de células B e T em camundongos) antes de eles expressarem receptores de antígenos, gerando assim grande quantidade de células, nas quais diversos receptores de antígenos podem ser produzidos. Proliferação expansiva ainda maior das linhagens celulares B e T ocorre após os linfócitos em desenvolvimento concluírem o rearranjo dos primeiros genes do receptor antígeno e montarem um receptor de pré‑antígeno (descrito posteriormente). Este passo é um ponto de verificação da qualidade no desenvolvimento dos linfócitos que garante a preservação de células com receptores funcionais. • Os linfócitos são selecionados em vários estágios durante o processo de maturação, de modo a preservar sua capacidade de especificidade. A seleção baseia‑se na expressão dos componentes intactos dos receptores de antígenos e como eles são reconhecidos. Conforme será discutido posteriormente, muitas tentativas para gerar receptores antigênicos falharam por causa de erros durante o processo de recombinação de genes. Portanto, pontos de verificação são necessários para que somente as células com receptores antigênicos intactos e funcionais sejam selecionadas para sobreviver e proliferar. Pré‑ ‑linfócitos e linfócitos imaturos que falham na expressão de receptores de antígenos morrem por apoptose (Fig. 4‑10). Rearranjo do gene no desenvolvimento de linfócitos aleatoriamente gera receptores de antígeno com especificidade mais diversa. Alguns desses receptores podem ser incapazes de reconhecer antígenos no indivíduo; por exemplo, se acontecer que o TCR seja específico para uma molécula MHC que não está presente no indivíduo. Com o objetivo de preservar células T que serão funcionais, células T imaturas são selecionadas para sobreviver apenas se elas reconhecem moléculas MHC no timo. Este processo, chamado de seleção positiva, assegura que células que completem a maturação sejam capazes de reconhecer antígenos apresentados pelas mesmas moléculas MHC nas APC (que são as únicas moléculas de MHC que estas células podem encontrar normalmente). Outros receptores de antígeno podem reconhecer antígenos próprios. Portanto, outro processo de seleção é necessário para eliminar esses linfócitos potencialmente perigosos e evitar o desenvolvimento de respostas autoimune. O mecanismo que elimina fortemente linfócitos B e T autorreativos é denominado seleção negativa. FIGURA 410 Estágios da maturação de linfócitos. Durante a maturação, linfócitos B e T passam por ciclos de proliferação e expressão de proteínas dos receptores de antígenos por recombinação gênica. Células que falham na expressão dos receptores intactos funcionais morrem por apoptose, pois não recebem os sinais necessários para a sobrevivência. No fim do processo, as células passam pela seleção positiva e negativa. Os linfócitos apresentados podem ser células B ou T. Os processos de maturação e seleção de linfócitos B e T compartilham algumas características importantes, mas diferem em muitos aspectos. Começamos com o evento central que é comum a ambas as linhagens: a recombinação e a expressão de genes de receptores antigênicos. Produção de Receptores de Antígenos Diversos A formação de genes funcionais que codificam os receptores antigênicos de linfócitos B e T é iniciada pela recombinação somática dos segmentos de genes que codificam para as regiões variáveis dos receptores, e a diversidade é gerada durante esse processo. Genes de Receptor de Antígenos Herdados As células‑tronco hematopoéticas da medula óssea e os progenitores linfoides iniciais contêm genes de Ig e TCR na sua configuração herdada ou na linhagem germinativa. Nessa configuração, os loci da cadeia pesada e da cadeia leve da Ig e os loci das cadeias α e β do TCR contêm segmentos de gene com múltiplas regiões variáveis (V), cerca de 100; e um ou poucos genes da cadeia constante (C). (Fig. 4‑11). Entre os genes V e C existem grupos de várias sequências de codificação curtas, chamadas de segmentos gênicos de diversidade (D) e de junção (J). (Todosos loci de receptores de antígenos contêm genes V, J e C, mas somente as cadeias pesadas de Ig e os loci da cadeia TCRβ também contêm segmentos gênicos D.) FIGURA 411 A organização dos loci do receptor de antígenos na linhagem germinativa. Na linhagem germinativa, os loci dos genes do receptor de antígenos que foram herdados contêm segmentos codificadores (éxons, mostrados aqui como blocos coloridos de diversos tamanhos) que estão separados por segmentos que não se expressam (íntrons, mostrados aqui na forma de secções cinza). Cada região constante (C) da cadeia pesada das Ig e da região C do receptor de célula T (TCR) consiste em múltiplos éxons que codificam os domínios das regiões C; a organização do éxons Cμ no locus da cadeia pesada das Ig é usada como exemplo. Os diagramas mostram os loci do receptor de antígenos dos seres humanos; a organização básica é a mesma em todas as espécies, mas a ordem exata e o número de genes podem variar. O tamanho dos segmentos e a distância entre eles não estão na escala real. D, diversidade; J, junção; L, sequêncialíder (uma pequena extensão de nucleotídeos que guia as proteínas através do retículo endoplasmático, sendo clivada das proteínas maduras); V, variável. Recombinação Somática e Expressão dos Genes de Receptor de Antígeno O comprometimento do progenitor do linfócito para tornar‑se um linfócito B está associado à recombinação de um segmento gênico aleatoriamente selecionado no locus das cadeias pesadas de Ig – primeiro um segmento genético D com um segmento J, seguido pelo rearranjo de um segmento V fundido com o elemento D‑J (Fig. 4‑12). Assim, a célula B comprometida, mas ainda em desenvolvimento, agora tem um éxon recombinado V‑D‑J no locus da cadeia pesada. Este gene é transcrito e, na transcrição primária, o éxon VDJ é unido aos éxons da região C da cadeia μ, a maioria da região 5’ C, para formar um RNA mensageiro de μ (mRNA) completo. O mRNA de μ é traduzido de modo a originar a cadeia pesada μ, que é a primeira proteína de Ig sintetizada durante a maturação da célula B. Essencialmente, a mesma sequência de recombinação de DNA e o splicing do RNA (splicing é a junção das partes de forma entrelaçada) leva à produção de uma cadeia leve em células B, exceto que, na cadeia loci leve, faltam segmentos D; portanto, um éxon da região V se recombina diretamente com um segmento J. O rearranjo dos genes das cadeias TCR α e β em linfócitos T é semelhante àqueles das cadeias Ig L e H, respectivamente. FIGURA 412 Recombinação e expressão dos genes de imunoglobulina (Ig). A expressão de uma cadeia pesada de imunoglobulina envolve dois eventos de recombinação gênica (junção de DJ, seguida pela junção de uma região V ao complexo DJ, com a deleção e a perda dos segmentos gênicos intermediários). O gene recombinado é transcrito, e o segmento VDJ passa pela edição (splicing) para a primeira cadeia pesada de RNA (que é μ), resultando em mRNA μ. O mRNA é traduzido de modo a produzir a proteína da cadeia pesada μ. A recombinação de outros genes de receptores de antígenos, isto é, a cadeia leve da Ig e as cadeias α e β do receptor de célula T (TCR), segue essencialmente a mesma sequência; exceto nos loci em que o segmento D não faz parte (cadeia leve de Ig e TCR α), um gene V recombinase diretamente com o segmento gênico J. Mecanismos da Recombinação V(D)J A recombinação somática de segmentos genéticos V e J, ou de V, D e J, é mediada por uma enzima linfoide‑ específica, recombinase VDJ, e enzimas adicionais, a maioria não consiste em linfócito‑específica e está envolvida em reparar quebras no DNA de dupla‑hélice iniciado pela recombinase. A recombinase VDJ é constituída pelas proteínas do gene de ativação da recombinase 1 e 2 (RAG‑2 e RAG‑1). Ela reconhece sequências de DNA que flanqueiam todo o receptor de antígeno e os segmentos genéticos V, D, J. Como resultado desse reconhecimento, a recombinase traz dois segmentos gênicos Ig ou TCR bem próximos e cliva o DNA em lugares específicos. As rupturas do DNA são reparadas pelas ligases, produzindo um éxon recombinado completo VJ ou VDJ sem intervir nos segmentos do DNA (Fig. 4‑12). A recombinase VDJ é expressa somente em linfócitos B e T imaturos. Embora a mesma enzima possa mediar a recombinação de todos os genes de Ig e TCR, genes intactos de Ig das cadeias pesada e leve são rearranjados e expressos somente em células T. A especificidade da linhagem de rearranjo do gene receptor parece estar associada à expressão de fatores de transcrição específicos da linhagem. Nas células B, fatores de transcrição de linhagem específica de B “abrem” o local (locus) do gene Ig no nível da cromatina, mas não o locus do TCR, enquanto em células T em desenvolvimento, reguladores de transcrição ajudam abrir o locus do TCR, mas não o locus Ig. A “abertura” loci é aquela acessível para a recombinase. Geração de Ig e Diversidade de TCR A diversidade dos receptores de antígenos é produzida pelo uso de diferentes combinações de segmentos gênicos V, D e J em diferentes clones de linfócitos (denominadas diversidade combinatória) e também por meio de alterações na sequência de nucleotídeos inseridas nas junções dos segmentos gênicos recombinados V, D e J (chamadas de diversidade juncional) (Fig. 4‑13). A diversidade combinatória é limitada pelo número disponível de segmentos gênicos V, D e J, mas a diversidade juncional é quase ilimitada. Essa diversidade juncional é produzida por três tipos de alterações na sequência, cada um dos quais gera mais sequências que aquelas presentes na linhagem germinativa. • Exonucleases podem remover nucleotídeos a partir de segmentos genéticos V, D, J nos locais de recombinação. • Uma enzima linfócito‑específica denominada desoxirribonucleotidil transferase terminal (TdT) catalisa a adição aleatória desses nucleotídeos que não são parte da linhagem germinativa para as junções entre os segmentos V e D e os segmentos D e J, formando as chamadas regiões N. • Durante um estágio intermediário do processo de recombinação V(D)J, antes de as falhas do DNA serem reparadas, pode ser gerada maior acessibilidade das sequências de DNA que são então preenchidas, formando “nucleotídeos‑P”, introduzindo ainda mais variabilidade nesses sítios de recombinação. FIGURA 413 Mecanismos de diversidade dos receptores de antígeno. A diversidade de imunoglobulinas (Ig) e receptores de células T é produzida pela combinação aleatória dos segmentos gênicos V, D e J, que são limitados pelo número desses segmentos e pela remoção e adição de nucleotídeos às junções VJ ou VDJ, que são quase sempre ilimitadas. A diversidade juncional aumenta as variações nas regiões CDR3 de proteínas do receptor de antígeno, uma vez que CDR3 é o local de recombinação de VJ e VDJ. São apresentadas as contribuições estimadas desses mecanismos para o tamanho potencial do repertório dos receptores de células B e T maduras. Além disso, a diversidade é aumentada pela capacidade de diferentes cadeias pesadas e leves de Ig, ou diferentes cadeias α e β do TCR, estando associada a diferentes células, formando diferentes receptores (não mostrado). Embora seja muito grande o limite superior do número de proteínas de imunoglobulina (Ig) e receptor da célula T (TCR) que podem ser expressas, isso pode ser estimado para cada conteúdo individual na ordem de somente 107 clones de células B e T, com especificidades e receptores distintos; em outras palavras, somente uma fração do potencial de repertório pode ser expressa realmente. (Modificada de Davis MM, Bjorkman PJ: Tcell antigen receptor genes and Tcell recognition. Nature 334:395–402, 1988.) Como resultado desses mecanismos, a sequência de nucleotídeos no sítio da recombinação V (D) J ou as moléculas de TCR criadas por um clone de linfócito diferem da sequência no sítio de V(D)J do anticorpo ou das moléculas de TCR gerados por qualqueroutro clone. Essas junções e os segmentos D e J codificam os aminoácidos da região CDR3, que foi mencionada como sendo a mais variável das CDR e a mais importante para o reconhecimento de antígenos. Assim, a diversidade juncional maximiza a variabilidade de anticorpos e TCR nas regiões que ligam os antígenos. No processo de criação da diversidade juncional podem ser produzidas sequências genéticas que não podem codificar proteínas e, dessa forma, não são inúteis. Este é o preço que o sistema imune paga por gerar uma diversidade enorme. O risco de produzir genes não funcionais é também a razão pela qual o processo de maturação dos linfócitos contém pontos de checagem nos quais apenas as células com receptores úteis são selecionadas para sobreviver. Maturação e Seleção dos Linfócitos B A maturação dos linfócitos B ocorre principalmente na medula óssea (Fig. 4‑14). Os progenitores comprometidos com a linhagem de células B proliferam, resultando em um grande número de precursores de linfócitos B, chamados de células pró‑B. Maturação subsequente envolve expressão e seleção do gene para receptor de antígeno. FIGURA 414 Estágios de maturação e seleção dos linfócitos B. A maturação dos linfócitos B segue estágios sequenciais, cada um caracterizado por alterações particulares na expressão gênica de imunoglobulina (Ig) e no padrão na expressão de proteínas de Ig. A falha da expressão funcional nos estágios de células próB e préB (cadeia pesada e cadeia leve de Ig, respectivamente) resulta na morte das células pela ativação da via de apoptose. O préBCR consiste em uma proteína associada a uma membrana Igμ ligada a duas outras proteínas chamadas substitutos de cadeias leves, porque podem tomar o lugar da cadeia leve de uma molécula completa de Ig. BCR, receptor de célula B. Passos iniciais na maturação de células B Primeiramente, o locus da cadeia pesada da Ig rearranja, e apenas células que são capazes de fazer uma Ig μ proteína de cadeia pesada são selecionadas para sobreviver e se tornar células pré‑B. Estas células começam a rearranjar genes de Ig, inicialmente no locus de cadeia pesada. As células que fazem rearranjos VDJ produtivos no locus de cadeia pesada de Ig desenvolvem células pré‑B, definidas pela presença da proteína de cadeia pesada de Ig μ, principalmente no citoplasma. Algumas das proteínas μ são expressas na superfície das células associadas a duas outras proteínas invariáveis, denominadas cadeia leve substituta, pois são semelhantes às cadeias leves e estão associadas à cadeia pesada μ. O complexo da cadeia μ e cadeia leve substituta associam com a Igα e Igβ, sinalizando moléculas para formar o complexo de receptor de células pré‑B. Papel do Complexo préBCR em Maturação de Célula B. O pré‑BCR montado tem função essencial na maturação das células B: • Sinais do complexo pré‑BCR promovem a sobrevivência e a proliferação de linhagens de células B que têm feito um rearranjo produtivo no locus da cadeia H. Este é o primeiro ponto de checagem do desenvolvimento das células B, e tal checagem seleciona e expande as células pré‑BCR que expressam uma cadeia pesada de μ funcional (um componente essencial do pré‑BCR e BCR). As pré‑células B que realizam rearranjos fora da estrutura (não produtivos) no locus de cadeia pesada não conseguem criar a proteína μ, não podem expressar um pré‑BCR ou receber sinais de pré‑BCR e morrem por morte celular programada (apoptose). • O complexo pré‑BCR também sinaliza o processo de fechamento da recombinação dos genes da cadeia pesada da Ig no segundo cromossomo, pois cada célula B pode expressar uma cadeia pesada Ig de somente um dos dois alelos parentais herdados. Esse processo é chamado de exclusão alélica, e ajuda a assegurar que cada célula possa apenas expressar receptores de uma única especificidade. • O pré‑BCR também desencadeia a recombinação do locus da cadeia leve de Ig κ e a cadeia leve λ é produzida somente se o locus da cadeia κ recombinado falhar em expressar uma proteína funcional ou se a cadeia κ gerar um receptor autorreativo potencialmente prejudicial e que deve ser eliminado, pelo processo chamado de edição do receptor (Cap. 9). Qualquer uma das cadeias leves que for produzida e for funcional é associada à cadeia μ para formar o receptor de antígeno completo IgM associado à membrana. Esse receptor novamente transmite sinais que promovem sobrevivência, preservando as células que expressam receptores de antígenos completos, o segundo ponto de controle durante a maturação. Sinais dos receptores de antígeno também interrompem a produção da enzima recombinase e a posterior recombinação dos loci da cadeia leve. Como resultado, cada célula B produz uma cadeia leve κ ou λ de um dos genes alelos parentais herdado. A presença de dois grupos de genes de cadeia leve herdado simplesmente aumenta a chance de completar o sucesso da recombinação gênica e da expressão do receptor. Término de maturação da célula B O linfócito B expressando IgM é uma célula imatura B. Posteriormente, a maturação pode ocorrer na medula óssea ou após a célula deixar a medula óssea e entrar no baço. O estágio de maturação final envolve a coexpressão da IgD juntamente com a IgM, que ocorre porque, em qualquer célula B, a cadeia pesada VDJ recombinada pode ser transformada (spliced) para C μ ou C δ na transcrição primaria do RNA, resultando em mRNA μ ou δ, respectivamente. Sabemos que a capacidade de o linfócito B responder a antígenos desenvolve‑se juntamente com a coexpressão de IgM e IgD, mas a razão pela qual ambas as classes de receptor são necessárias não é conhecida. A célula IgM+IgD+ é a célula B madura, capaz de responder aos antígenos nos tecidos linfoides periféricos. Seleção de Células B Maduras Células B em desenvolvimento são positivamente selecionadas principalmente com base na expressão de receptores de antígenos completos, e não com relação à especificidade de reconhecimento dessas células (isto é fundamentalmente diferente em células T em maturação, como será discutido posteriormente). O repertório de células B é adicionalmente moldado por seleção negativa. Neste processo, se uma célula imatura B liga‑se um antígeno na medula óssea com elevada afinidade, pode reativar a enzima recombinase VDJ, submetendo‑se a uma recombinação V‑J da cadeia leve adicional, gerando uma cadeia leve diferente, e, assim, alterando a especificidade do receptor de antígenos, um processo chamado de edição do receptor. Algumas células B que encontram antígenos na medula óssea podem morrer por apoptose, processo conhecido como deleção. Os antígenos mais comumente encontrados na medula óssea são antígenos próprios abundantemente expressos por todo o corpo (i.e., são ubíquos), como as proteínas do sangue e as moléculas de membrana comuns a todas as células. A seleção negativa também pode envolver a eliminação de células B autorreativas. A seleção negativa elimina as células potencialmente perigosas que podem reconhecer e reagir contra antígenos próprios ubíquos. O processo de recombinação de genes de Ig é aleatório e não pode ser inerentemente inclinado para reconhecimento de microrganismos. No entanto, os receptores produzidos são capazes de reconhecer os antígenos de vários micróbios que o sistema imune deve combater. O repertório de linfócitos B é selecionado positivamente pela expressão de receptores intactos e selecionado negativamente contra o forte reconhecimento de antígenos próprios. O que resta após esses processos de seleção é uma grande coleção de células B maduras, que por acaso incluem células capazes de reconhecer quase qualquer antígeno microbiano que possa ser encontrado. Subgrupos de Células B Maduras A maioria das células B maduras é chamada de célulasB foliculares, porque são encontradas dentro de linfonodos e folículos do baço. As células da zona marginal B, encontradas nas margens dos folículos do baço, desenvolvem‑se a partir dos mesmos progenitores (pró‑células B) como as células B foliculares. Os linfócitos B‑1, uma população distinta encontrada em órgãos linfoides e na cavidade peritoneal, podem se desenvolver mais cedo e a partir de diferentes precursores. A participação desses subgrupos de célula B na imunidade humoral é descrita no Capítulo 7. Maturação e Seleção dos Linfócitos T Progenitores de células T migram da medula óssea para o timo, onde ocorre o processo inteiro de maturação (Fig. 4‑15). O processo de maturação de linfócitos T apresenta características únicas, que estão primariamente relacionadas com a especificidade de diferentes subgrupos de células T para peptídeos apresentados por diferentes classes de moléculas de MHC. FIGURA 415 Etapas no amadurecimento e na seleção dos linfócitos T restritos pelo complexo principal de histocompatibilidade (MHC). A maturação dos linfócitos T no timo tem etapas sequenciais geralmente definidas pela expressão de correceptores CD4 e CD8. A cadeia β do TCR é a primeira a se expressar no estágio de précélula T duplamente negativa, enquanto o TCR completo se expressa nas células duplamente positivas. O pré TCR consiste na cadeia β do TCR associada a uma proteína chamada préTα. O amadurecimento culmina no desenvolvimento de células T CD4+ e CD8+ únicopositivas. De modo semelhante ao que ocorre com as células B, a incapacidade de expressar receptores antigênicos em qualquer estágio leva à morte das células por apoptose. Passos Iniciais na Maturação de Célula T A maioria dos progenitores imaturos no timo é chamada de pró‑células T ou células T duplo‑negativas (ou timócitos duplo‑negativos), porque não expressam CD4 ou CD8. Essas células se expandem em número principalmente sob a influência da IL‑7 produzida no timo. A recombinação do gene TCR β, mediada pela recombinase VDJ, ocorre em algumas destas células duplo‑negativas (as células T γδ passam por uma recombinação similar envolvendo os loci do TCR γ e δ, mas elas são uma linhagem distinta, e não serão discutidas posteriormente). Se a recombinação VDJ for bem‑sucedida em um dos dois loci herdados e uma proteína da cadeia TCR β for sintetizada, esta é expressa na superfície associada a uma proteína invariante chamada pré‑Tα, para formar o complexo pré‑TCR de células pré‑T. Se a recombinação em um dos dois loci herdados não for bem‑ sucedida, a recombinação irá ocorrer em outro local. Caso isso também falhe e uma cadeia TCR β completa não for produzida em uma célula pró‑T, esta célula morre. O complexo pré‑TCR fornece sinais intracelulares, pois é montado semelhantemente aos sinais do complexo pré‑ BCR no desenvolvimento de células B. Esses sinais promovem a sobrevivência, a proliferação e a recombinação do gene TCR α e inibe a recombinação VDJ no segundo locus da cadeia β do TCR (exclusão alélica). A falha na expressão da cadeia α e do TCR completo novamente resulta na morte da célula. As células sobreviventes expressam o completo TCR αβ e ambos os correceptores CD4 e CD8; essas células são chamadas de células T duplo‑positivas (ou timócitos duplo‑positivos). Seleção de Células T Maduras Diferentes clones de células T duplo‑positivas expressam diferentes TCR αβ. Se o TCR de uma célula T reconhecer uma molécula de MHC no timo, que deve ser uma molécula do MHC próprio apresentando um peptídeo próprio, e se a interação for de afinidade baixa ou moderada, essa célula é selecionada para sobreviver. As células T que não reconhecem uma molécula de MHC no timo morrem por apoptose; essas células T não são funcionais, porque são incapazes de reconhecer um antígeno apresentado pelo MHC associado à célula naquele indivíduo. Essa preservação das células T restritas ao MHC próprio (i.e., funcional) é o processo de seleção positiva. Durante esse processo, as células T cujos TCR reconhecem o complexo peptídeo‑MHC classe I preservam a expressão do CD8, o correceptor que se liga ao MHC classe I, e perdem a expressão de CD4, o correceptor específico para as moléculas de MHC classe II. Inversamente, se uma célula T reconhece o complexo peptídeo‑MHC classe II, essa célula mantém a expressão de CD4 e perde a expressão de CD8. Assim, as células T que emergem são células T único‑ positivas (ou timócitos único‑positivos), que podem ser CD8+ restritas ao MHC classe I ou CD4+ restritas ao MHC classe II. Durante a seleção positiva, as células T também passam a ser funcionalmente segregadas: as células T CD8+ positivas são capazes de se tornar CTL após a ativação, e as células CD4+ positivas são células auxiliares. As células T imaturas duplo‑positivas cujos receptores reconhecem fortemente o complexo peptídeo‑MHC no timo passam por apoptose. Esse é o processo de seleção negativa, e serve para eliminar os linfócitos T que poderiam reagir de maneira perigosa contra proteínas próprias que estão presentes no timo. Algumas dessas proteínas próprias estão presentes no corpo, e outras são proteínas teciduais expressas em células epiteliais tímicas por mecanismos especiais, como discutido no Capítulo 9, no contexto da tolerância própria. Pode parecer surpreendente que tanto a seleção positiva quanto a seleção negativa sejam mediadas pelo mesmo grupo de complexos peptídeo‑MHC próprio no timo. (Note que o timo pode conter moléculas de MHC e peptídeos próprios; peptídeos microbianos são concentrados nos tecidos linfoides periféricos e tendem a não entrar no timo.) A explanação provável para esses resultados distintos é que se o receptor de antígeno de uma célula T reconhecer um complexo peptídeo‑MHC próprio com uma baixa avidez, o resultado é a seleção positiva, mas o reconhecimento de alta avidez leva à seleção negativa. O reconhecimento de alta avidez ocorre se a célula T que expressa um TCR tiver afinidade elevada com o autopeptídeo e se o próprio peptídeo estiver presente no timo em uma concentração maior que os peptídeos selecionados positivamente. Se uma célula T puder amadurecer, o reconhecimento de antígenos pode levar a respostas imunes perigosas contra um antígeno próprio na periferia, então a célula T deve ser eliminada. Como acontece com as células B, a capacidade das células T de reconhecer antígenos estranhos depende da geração de um repertório muito diverso de receptores antigênicos clonais. As células T que reconhecem fracamente antígenos próprios no timo podem reconhecer fortemente e responder a antígenos microbianos estranhos na periferia. Resumo ▪ No sistema imunológico adaptativo, as moléculas responsáveis pelo reconhecimento específico de antígenos são os anticorpos e os receptores de antígenos das células T. ▪ Anticorpos (também chamados de imunoglobulinas) podem ser produzidos como receptores de membrana dos linfócitos B e como proteínas secretadas pelas células B estimuladas por antígenos que tenham se diferenciado em células plasmáticas secretoras de anticorpos. Os anticorpos secretados são moléculas efetoras da imunidade humoral, capazes de neutralizar microrganismos e toxinas microbianas e eliminá‑los pela ativação de vários mecanismos efetores. ▪ Os receptores das células T (TCR) são receptores de membrana e não são secretados. ▪ A estrutura central dos anticorpos consiste em duas cadeias pesadas idênticas e duas cadeias leves idênticas, formando um complexo ligado por pontes dissulfeto. Cada cadeia consiste em uma região variável (V), que é a porção que reconhece o antígeno, e uma região constante (C), que promove estabilidade estrutural, e, em cadeias pesadas, realiza as funções efetoras dosanticorpos. A região V de uma cadeia pesada e de uma cadeia leve em conjunto forma o local de ligação ao antígeno e, assim, a estrutura do núcleo tem dois locais idênticos de ligação ao antígeno. ▪ Os receptores da célula T consistem em uma cadeia α e uma cadeia β. Cada cadeia contém uma região V e uma região C, e ambas as cadeias participam do reconhecimento de antígenos, que, para a maioria das células T, são peptídeos apresentados por moléculas de MHC. ▪ As regiões V das moléculas de imunoglobulina (Ig) e TCR contêm segmentos hipervariáveis, também chamados de regiões determinantes da complementaridade (CDR), que são as regiões de contato com os antígenos. ▪ Os genes que codificam os receptores de antígenos consistem em múltiplos segmentos gênicos, os quais são separados na linhagem germinativa e agrupados durante a maturação dos linfócitos. Nas células B, os segmentos gênicos das Ig passam pela recombinação e tornam‑se células maduras na medula óssea; nas células T, os segmentos gênicos do TCR se recombinam durante a sua maturação no timo. ▪ Receptores de especificidades diferentes são gerados em parte pelas diferentes combinações dos segmentos gênicos V, D e J. O processo de recombinação introduz variabilidade nas sequências de nucleotídeos nos sítios de recombinação pela adição e remoção de nucleotídeos das junções. O resultado dessa variabilidade introduzida é o desenvolvimento de um repertório diverso de linfócitos, no qual clones de diferentes especificidades de antígeno expressam receptores que diferem na sequência e no reconhecimento, e a maioria das diferenças está concentrada nas regiões da recombinação gênica. ▪ Durante a maturação, os linfócitos são selecionados para sobreviver em vários pontos de controle; apenas células com receptores antigênicos funcionais completos são preservadas e ampliadas. Além disso, os linfócitos T são selecionados positivamente para reconhecer antígenos peptídicos apresentados por moléculas do MHC próprias e para assegurar que o reconhecimento do tipo de molécula do MHC adequada coincida com o correceptor preservado. ▪ Linfócitos imaturos que reconhecem fortemente antígenos próprios são selecionados negativamente, o que evita a sua completa maturação e elimina, assim, as células que podem reagir de maneira perigosa contra tecidos próprios. Perguntas de revisão 1. Quais são os domínios (regiões) funcionalmente distintos do anticorpo e das moléculas de TCR? Quais características na sequência de aminoácidos dessas regiões são importantes para suas funções? 2. Quais são as diferenças entre os tipos de antígenos reconhecidos pelos anticorpos e TCR? 3. Quais mecanismos contribuem para a diversidade das moléculas de anticorpos e TCR? Quais desses mecanismos contribuem para a maior diversidade? 4. Quais são alguns dos pontos de checagem durante a maturação dos linfócitos que asseguram a sobrevivência das células funcionais? 5. O que é o fenômeno da seleção negativa e qual a sua importância? As respostas e as discussões das Perguntas de Revisão estão disponíveis em www.studentconsult.com.br. CAP Í T U LO 5 Imunidade Mediada pelas Células T Ativação de Linfócitos T por Antígenos Associados a Células Etapas das respostas das células T Reconhecimento do antígeno e coestimulação Reconhecimento de Peptídeos Associados ao MHC Papel das Moléculas de Adesão na Ativação das Células T Papel da Coestimulação na Ativação das Células T Estímulos para Ativação das Células T CD8+ Vias bioquímicas da ativação das células T Respostas funcionais dos linfócitos T aos antígenos e à coestimulação Secreção de Citocinas e Expressão dos Receptores para Citocina Expansão Clonal Diferenciação de Células T Imaturas em Células Efetoras Desenvolvimento da Memória dos Linfócitos T Migração dos linfócitos T em reações imunes mediadas por células Declínio da Resposta Imune Resumo Os linfócitos T executam várias funções na defesa contra infecções causadas por vários tipos de microrganismos. O principal papel dos linfócitos T é na imunidade mediada por células (CMI; do inglês, cell‑mediated immunity), que fornece defesa contra várias infecções causadas por microrganismos intracelulares. Em vários tipos de infecção, microrganismos podem encontrar um refúgio no interior das células, de onde têm de ser eliminados por meio das respostas imunes mediadas por células (Fig. 5‑1). • Os microrganismos são englobados por fagócitos como parte dos mecanismos de defesa iniciais da imunidade inata, mas alguns desses microrganismos desenvolveram resistência às atividades microbicidas dos fagócitos. Muitas bactérias e protozoários intracelulares patogênicos são capazes de sobreviver, e até de duplicar‑se no interior das vesículas dos fagócitos. Em tais infecções, células T estimulam a habilidade dos macrófagos para matar os microrganismos ingeridos. • Alguns desses microrganismos, notavelmente vírus, são capazes de infectar e replicar dentro de uma ampla variedade de células, e partes do ciclo de vida dessas viroses ocorrem no citosol. Essas células infectadas frequentemente não apresentam mecanismo intrínseco para destruição de microrganismos, especialmente no citosol. Mesmo alguns micróbios fagocitados dentro dos macrófagos podem escapar dentro do citosol e fugir do mecanismo microbicida do compartimento vesicular. As células T matam as células infectadas, eliminando, portanto, as reservas de infecção. FIGURA 51 Tipos de microrganismos intracelulares combatidos por imunidade mediada pelas células T. A, Os microrganismos podem ser englobados por fagócitos e sobreviver dentro de vesículas (fagolisossomas) ou escapar para o citoplasma, onde não são suscetíveis aos mecanismos microbicidas dos fagócitos. B, Os vírus podem infectar muitos tipos de células, inclusive de células não fagocitárias, e duplicarse no citoplasma e núcleo das células infectadas. Riquétsias e alguns protozoários são parasitas intracelulares obrigatórios que residem em células não fagocitárias. Além da imunidade mediada por célula, linfócitos T também têm papéis importantes na defesa de microrganismos que replicam fora das células, incluindo vários tipos de bactérias, fungos e parasitas helmínticos. Algumas células T induzem resposta inflamatória rica em leucócitos ativados que são particularmente eficientes em matar microrganismos extracelulares. Discutiremos estes subgrupos de células T e suas funções no Capítulo 6. Outras populações de células T auxiliam as células B em produzir anticorpos como parte da resposta imune humoral (Cap. 7). A maioria das funções dos linfócitos T (ativação de fagócitos, matando células infectadas, e ajuda para células B) requer que os linfócitos interajam com outras células, que podem ser fagócitos, células hospedeiras infectadas ou linfócitos B. Além disso, a iniciação da resposta da célula T requer que as células reconheçam antígenos apresentados por células dendríticas, que capturam antígenos e os concentram nos órgãos linfáticos. Portanto, os linfócitos trabalham por meio de comunicação com outras células. Lembrando que a especificidade das células T por peptídeos apresentados pelas moléculas do complexo maior de histocompatibilidade (MHC; do inglês, major histocompatibility complex) assegura que as células T podem ver e responder apenas a antígenos associados com outras células (Caps. 3 e 4). Este capítulo discute a forma em que os linfócitos são ativados pelo reconhecimento de antígenos associados à célula e outros estímulos. Serão abordadas as seguintes questões. • Quais sinais são precisos para ativar linfócitos T, e quais receptores celulares são usados para identificar e responder a esses sinais? • Como um pequeno número de células T imaturas específicas para quaisquer microrganismos é convertido em um grande número de células T efetoras dotadas da capacidade de eliminar diversos microrganismos? • Que moléculas são produzidas pelos linfócitos T que medeiam suas comunicaçõescom outras células, como macrófagos e linfócitos B e outros leucócitos? Após descrever aqui o modo como células T reconhecem e respondem aos antígenos de microrganismos associados a células, no Capítulo 6, é apresentada uma discussão sobre como essas células T eliminam esses microrganismos. Etapas das respostas das células T Os linfócitos T imaturos reconhecem antígenos nos órgãos linfoides periféricos (secundário), o que inicia a proliferação das células T e a diferenciação delas em células efetoras e de memória, e as células efetoras realizam suas funções quando são ativadas pelos mesmos antígenos em tecidos periféricos e órgãos linfoides (Fig. 5‑2). As células T imaturas expressam receptores e correceptores de antígenos que funcionam em reconhecer células com microrganismos, mas estas células são incapazes de realizar as funções efetoras necessárias para eliminar os microrganismos. Células efetoras diferenciadas são capazes de executar essas funções e as executam em órgãos linfoides e tecidos periféricos não linfoides. Neste capítulo, vamos nos concentrar nas respostas das células T imaturas para antígenos. O desenvolvimento dos linfócitos efetores e suas funções em imunidade mediada por células (CMI; do inglês, cell‑mediated immunity) são descritos no Capítulo 6, e as funções das células T auxiliares nas respostas de anticorpo são descritas no Capítulo 7. FIGURA 52 Indução e fases efetoras da imunidade mediada por células. Indução da resposta: as células T CD4+ e as células T CD8+ imaturas reconhecem peptídeos que são derivados de antígenos proteicos e apresentados pelas células dendríticas (DC) nos órgãos linfoides periféricos. Os linfócitos T são estimulados a proliferar e a se diferenciar em células efetoras, muitas das quais entram na circulação. Alguma das células T CD4+ ativadas permanecem no linfonodo, migram para dentro de folículos e ajudam as células B a produzirem anticorpo (Fig. 513). Migração das células T efetoras e outros leucócitos para o local do antígeno: as células T efetoras e outros leucócitos migram através dos vasos sanguíneos nos tecidos periféricos pela ligação com as células endoteliais que haviam sido ativadas pelas citocinas produzidas em resposta à infecção nesses tecidos. Funções das células T efetoras: as células T CD4+ recrutam e ativam os fagócitos para destruir os microrganismos, e os linfócitos T CD8+ citotóxicos (CTL) destroem as células infectadas. As respostas dos linfócitos T imaturos aos antígenos microbianos associados à célula consistem em uma série de etapas sequenciais que resultam no aumento do número de células T antígeno‑específicas e na conversão de células T imaturas em células efetoras e células de memória (Fig. 5‑3). • Uma das primeiras respostas consiste na secreção de citocinas e no aumento de expressão dos receptores por várias citocinas. • Algumas citocinas estimulam a proliferação de células T com antígenos ativados, resultando em um rápido aumento no número de linfócitos com antígenos específicos, um processo chamado expansão clonal. • A ativação de linfócitos passa por um processo de diferenciação, o que resulta na conversão de células T imaturas em uma população de células T efetoras, cuja função é eliminar microrganismos. • Muitas células T efetoras deixam os órgãos linfoides, entram na circulação e migram para algum local da infecção, onde elas podem erradicar a infecção. Algumas das células T podem permanecer no linfonodo, onde têm função de erradicar células no local ou providenciar sinais para células B que promovem respostas do anticorpo contra microrganismos. • Algumas das progênies das células T que proliferaram em resposta ao antígeno se desenvolvem em células T de memória, as quais têm vida longa, são funcionalmente inativas e circulam durante meses ou anos prontas para responder com rapidez a repetidas exposições ao mesmo microrganismo. • Na medida em que as células T efetoras eliminam o agente infeccioso, o estímulo que desencadeia expansão e diferenciação das células T também é eliminado. Como resultado, a maioria das células do clone expandido de linfócitos antígeno‑específicos morre, voltando o sistema para um estado de repouso, ficando apenas células de memória restantes dessa resposta imune. FIGURA 53 Etapas da ativação dos linfócitos T. As células T imaturas reconhecem os antígenos peptídicos associados ao complexo principal de histocompatibilidade (MHC) exibidos na superfície das células apresentadoras de antígenos e também outros sinais (não exibidos). As células T respondem com a produção de citocinas, como a interleucina2 (IL2), e a expressão de receptores para essas citocinas, criando, assim, uma via autócrina de proliferação celular. Como consequência, ocorre uma expansão clonal de células T que é específica para o antígeno. Parte da progênie diferenciase em células efetoras, que servem a várias funções da célula mediando imunidade (CMI) e em células de memória, que sobrevivem por longos períodos de tempo. São mostradas outras mudanças associadas com ativação, como a expressão de várias moléculas de superfície. APC, Célula apresentadora de antígeno. CTL, linfócitos T citotóxicos; IL2R, receptor de interleucina2. Essa sequência de eventos é comum para ambos os linfócitos T tipo CD4+ e CD8+, embora haja diferenças importante nas propriedades e funções efetoras das células CD4+ e CD8+, como discutido no Capítulo 6. Células efetoras e imaturas apresentam características diferentes de circulação e migração através dos tecidos, as quais são cruciais para as diferentes funções nas respostas imunes. Como discutido nos capítulos anteriores, linfócitos imaturos recirculam constantemente através dos órgãos linfoides periféricos em busca de antígenos proteicos estranhos. Os antígenos dos microrganismos são transportados dos portais de entrada dos microrganismos para as mesmas regiões dos órgãos linfoides periféricos onde recirculam as células T imaturas. Nesses órgãos, os antígenos são processados e apresentados pelas moléculas do MHC situadas nas células dendríticas, as células apresentadoras de antígenos (APC; do inglês, antigen‑presenting cells), que são os estimuladores mais eficientes das células T imaturas (Cap. 3). Quando a célula T reconhece o antígeno, este é ligado transitoriamente na célula dendrítica e inicia‑se um programa de ativação. Após a ativação e diferenciação, as células podem deixar o órgão linfoide e migrar preferencialmente para o tecido inflamado, a fonte original do antígeno. O controle dessa migração dirigida é discutido posteriormente neste capítulo. Com esta visão geral, passamos a uma descrição dos estímulos necessários para a ativação e regulação de células T. Serão descritos os sinais bioquímicos que são gerados pelo reconhecimento do antígeno e a resposta biológica dos linfócitos. Reconhecimento do antígeno e coestimulação A iniciação de respostas da célula T requer receptores múltiplos nas células T reconhecendo ligantes nas APCs (Fig. 5‑4). • O receptor da célula T (TCR; do inglês, T cell receptor) reconhece antígenos peptídicos associados ao MHC. • Correceptores CD4 ou CD8 nas células T reconhecem moléculas MHC na APC e ajudam o complexo TCR a distribuir sinais de ativações. • Moléculas de adesão fortalecem a ligação das células T às APC. • Moléculas denominadas coestimuladoras, que são expressas nas APC após encontrarem com microrganismos, ligam‑se a receptores coestimuladores nas células T imaturas, promovendo, assim, respostas para patógenos infecciosos. • As citocinas amplificam a resposta da célula T e as direcionam ao longo de várias vias de diferenciação. Os papéis dessas moléculas nas respostas das células T aos antígenos estão descritos posteriormente. Citocinas são discutidas principalmente no Capítulo 6. FIGURA 54 Receptores e ligantes envolvidos na ativaçãode células T. A, Principais moléculas de superfície das células T CD4+ envolvidas na ativação dessas células e ligantes correspondentes nas células apresentadoras de antígenos. As células T CD8+ utilizam a maioria das mesmas moléculas, exceto que o TCR reconhece complexos peptídeoMHC classe I, e o correceptor é CD8, que reconhece o MHC classe I. CD3 e composto por três cadeias polipeptídicas δ, ɛ, e γ, dispostas em dois pares (δɛ e γɛ); Mostramos CD3 como três cadeias. Os motivos de ativação de imunorreceptores via tirosina (ITAM) são as regiões das proteínas de sinalização cujos resíduos de tirosina são fosforilados, tornandoas locais de ancoragem para outras moléculas sinalizadoras (Fig. 5 10). Os motivos da inibição de imunorreceptores via tirosina (ITIM) são as regiões de proteínas sinalizando que são locais para fosfatases de tirosina que neutralizam ações dos ITAM. B, As propriedades mais importantes de grandes moléculas da superfície de células T envolvidas em respostas funcionais. Citocinas e receptores de citocinas não são listados aqui. As funções da maioria destas moléculas são descritas neste capítulo; o papel do CTLA4 e PD1 no desligamento das respostas de células T é descrito no Capítulo 9. LFA1 e uma integrina envolvida na ligação do leucócito ao endotélio e outras células. APC, Célula apresentadora de antígeno; ICAM1, molécula de adesão intercelular 1; LFA1 leucócito funçãoassociado antígeno 1; MHC, complexo principal de histocompatibilidade; PD1, morte programada 1; TCR, receptor de célula T. Reconhecimento de Peptídeos Associados ao MHC O receptor das células T para antígenos (TCR; do inglês, T cell receptor) e o correceptor CD4 ou o CD8 reconhecem, juntos, o complexo formado por antígenos peptídicos e moléculas do MHC nas APC, e esse reconhecimento produz a iniciação ou sinal inicial, para a ativação das células T (Fig. 5‑5). O TCR expressado em todas as células T CD4+ e CD8+ consiste em uma cadeia α e uma cadeia β, ambas participando do reconhecimento de antígenos (Cap. 4, Fig. 4‑7). (Um pequeno subconjunto de células T expressa TCR compostos de cadeias γ e δ). O TCR de célula T específica para um peptídeo estranho (p. ex., microbiano) reconhece o peptídeo apresentado e simultaneamente reconhece os resíduos da molécula do MHC localizados ao redor da fenda de ligação do peptídeo. Cada célula T restrita ao MHC que atingiu a fase madura expressa a molécula CD4 ou a CD8, ambas as quais são denominadas correceptores porque se ligam à mesma molécula do MHC que o TCR liga e são requeridas para a iniciação da sinalização proveniente do complexo TCR. Ao mesmo tempo em que o TCR está reconhecendo o complexo peptídeo‑MHC, o CD4 ou CD8 reconhece a molécula do MHC classe II ou I, respectivamente, em um local afastado da fenda de ligação do peptídeo. Conforme discutimos no Capítulo 3, quando antígenos proteicos presentes no meio extracelular são englobados por APC, esses antígenos são processados em peptídeos que são apresentados por moléculas de MHC classe II. Em contraste, os antígenos proteicos presentes no citosol são transformados em peptídeos pelos proteossomos, e são apresentados pelas moléculas classe I de MHC. No entanto, as células T CD4+ e T CD8+ reconheçam antígenos provenientes de diferentes compartimentos. O TCR e seu correceptor precisam estar simultaneamente engajados para iniciar a resposta da célula T, e múltiplos TCR provavelmente precisam ser ligados para que a ativação da célula T ocorra. Uma vez que essas condições são adquiridas, a célula T inicia seu programa de ativação. FIGURA 55 Reconhecimento do antígeno e transdução de sinal durante a ativação das células T. Diferentes moléculas da célula T reconhecem um antígeno e, como consequência desse reconhecimento, liberam sinais bioquímicos para o interior da célula. As proteínas CD3 e ξ ligamse de modo não covalente às cadeias α e β do receptor de célula T (TCR) e essa ligação ocorre por meio de interações entre aminoácidos carregados presentes nos domínios transmembrana dessas proteínas (não mostrados). A figura ilustra uma célula T CD4+; essas mesmas interações estão presentes na ativação das células T CD8+, exceto que o correceptor é a CD8 e o TCR reconhece um complexo peptídeoMHC classe I. APC, Célula apresentadora de antígenos; ITAM; motivos de ativação de imunorreceptores via tirosina MHC, complexo principal de histocompatibilidade. Os sinais bioquímicos que levam à ativação da célula T são desencadeados por um grupo de proteínas associadas ao TCR que são parte do complexo TCR e pelo correceptor CD4 ou CD8 (Fig. 5‑5). Nos linfócitos, o reconhecimento de antígeno e os sinais subsequentes são realizados por diferentes grupos de moléculas. O heterodímero αβ do TCR reconhece antígenos, mas esse heterodímero não é capaz de transmitir sinais bioquímicos para o interior da célula. O TCR é associado não covalentemente com o complexo de moléculas transmembrana sinalizadora incluindo três proteínas CD3 e uma proteína chamada de cadeia ξ. TCR, CD3 e cadeia ξ formam o complexo TCR. Embora os TCR α e β devam variar entre clones de célula T objetivando o reconhecimento de antígenos diversos, as funções sinalizadoras dos TCR são as mesmas em todos os clones e, portanto, as proteínas CD3 e ξ são invariáveis entre diferentes células T. Os mecanismos de transdução de sinal por essas proteínas do complexo TCR são discutido posteriormente neste capítulo. As células T também podem ser ativadas experimentalmente por moléculas que se ligam aos TCR de muitos ou de todos os clones de células T, independentemente da especificidade do TCR ao complexo peptídeo‑MHC. Esses ativadores policlonais de células T incluem anticorpos específicos para o TCR ou para as proteínas CD3 associadas, proteínas poliméricas que se ligam a carboidratos, como a fitohemaglutinina (PHA; do inglês, phytohemaglutinin), e certas proteínas microbianas, incluindo enterotoxicinas estafilocócicas, denominadas superantígenos. Os ativadores policlonais são frequentemente utilizados como ferramentas experimentais no estudo das respostas decorrentes da ativação das células T e, no contexto clínico, são empregados no exame da função das células T e no preparo de esfregaços de células em metáfase para cariotipagem (análise cromossômica). Os superantígenos microbianos podem causar doença inflamatória sistêmica por meio da ativação e da liberação excessiva de citocinas de muitas células T. Papel das Moléculas de Adesão na Ativação das Células T Moléculas de adesão nas células T reconhecem seus ligantes nas APC e estabilizam a ligação das células T às APC. A maioria dos TCR liga‑se com baixa afinidade aos complexos peptídeo‑MHC para os quais são específicos. Para induzir uma resposta, a ligação das células T com as APC precisa ser estabilizada durante um período de tempo suficientemente longo para que o limiar de sinalização necessário seja alcançado. Essa estabilização é realizada pelas moléculas de adesão situadas na superfície das células T que se unem aos ligantes expressos na superfície das APC. A molécula de adesão mais importante pertence à família das proteínas heterodiméricas (duas cadeias) denominadas integrinas. A principal integrina das células T envolvida na ligação dessas células com as APC é o antígeno‑1 associado à função dos leucócitos (LFA‑1; do inglês, leukocyte function‑associated antigen 1), cujo ligante na superfície das APC é chamado de molécula de adesão intercelular‑1 (ICAM‑1; do inglês, intercellular adhesion molecule 1). Nas células T imaturas e em repouso, que ainda não reconheceram um antígeno nem foram ativadas por ele, a integrina LFA‑1 encontra‑se em um estado de baixa afinidade. O reconhecimento de um antígeno por uma célula T aumenta a afinidade da LFA‑1 dessa célula. Portanto,assim que uma célula T detecta um antígeno, há um aumento na força da sua ligação com a APC que está apresentando o antígeno, o que produz uma alça de retroalimentação positiva. Assim, a adesão mediada pelas integrinas é crucial para a capacidade das células T de se ligar às APC que estão exibindo antígenos microbianos. As integrinas também desempenham papel importante no controle da migração das células T efetoras e outros leucócitos da circulação para os locais onde há infecção. Esse processo é discutido no Capítulo 2 e adiante neste capítulo. Papel da Coestimulação na Ativação das Células T A ativação total das células T depende do reconhecimento de coestimuladores presentes na superfície das APC em adição ao antígeno (Fig. 5‑6). Referimo‑nos previamente aos coestimuladores como sinais secundários para a ativação das células T (Caps. 2 e 3). O nome coestimulador deriva do fato de que essas moléculas produzem estímulos para as células T, as quais agem em conjunto com a estimulação proveniente do antígeno. FIGURA 56 Papel da coestimulação na ativação das células T. As células apresentadoras de antígenos (APC) em repouso, que não foram expostas a microrganismos ou adjuvantes, podem apresentar antígenos peptídicos, mas não expressam coestimuladores e são incapazes de ativar as células T imaturas. As células T que reconhecem o antígeno sem coestimulação podem deixar de responder (tornamse tolerantes) à exposição subsequente ao antígeno. Os microrganismos, assim como as citocinas produzidas durante as respostas imunes inatas a microrganismos, induzem a expressão de coestimuladores, como as moléculas B7, na superfície das APC. Os coestimuladores B7 são reconhecidos pelos receptores CD28 presentes na superfície das células T imaturas, o que gera o “segundo sinal”; juntamente com o reconhecimento do antígeno (“primeiro sinal”), esse reconhecimento dá início às respostas das células T. As APC ativadas também produzem citocinas que estimulam a diferenciação de células T imaturas em células efetoras. IL, Interleucina. Os coestimuladores de células T mais bem definidos são duas proteínas relacionadas, denominadas B7‑1 (CD80) e B7‑2 (CD86), que são expressas na superfície das APC e cuja expressão aumenta quando as APC encontram microrganismos. Essas proteínas B7 são reconhecidas por um receptor chamado CD28, que é expresso em praticamente todas as células T. Membros diferentes da família B7 e CD 28 têm como função estimular ou inibir respostas imunes (Fig. 5‑7). A ligação da CD28 nas células T para B7 nas APC gera sinais nas células T, que trabalham em conjunto com os sinais gerados pelo reconhecimento do TCR do antígeno apresentado pelas proteínas do MHC nas mesmas APC. A sinalização mediada pelo CD28 é essencial para o início das respostas das células T imaturas; na ausência das interações CD28‑B7, o reconhecimento de antígeno pelo TCR é insuficiente para ativar a célula T. A necessidade de coestimulação assegura que os linfócitos T imaturos sejam totalmente ativados pelos antígenos microbianos e não por substâncias estranhas danosas ou pelos próprios antígenos, pois, conforme exposto, os microrganismos estimulam a expressão dos coestimuladores B7 na superfície das APC. FIGURA 57 Proteínas das famílias B7 e CD28. Ligantes nas APC que são homólogos à ligação de B7 aos receptores em células T que são homólogos a CD28. Pares diferentes de receptorligante efetuam papéis distintos na resposta imune. CD28 e ICOS são receptores estimulatórios na célula T, e CTLA4 e PD1 são receptores inibitórios. Suas funções são discutidas no texto. A proteína chamada coestimulador induzível (ICOS; do inglês, inducible costimulator), relacionada com CD28 e também expressa nas células T, tem papel importante no desenvolvimento e função das células T foliculares auxiliares durante resposta central germinal (Cap. 7). Outro grupo de moléculas que participam nas repostas das células T consiste no ligante para a CD40 (CD40L ou CD154), presente na superfície das células T ativas e na CD40, localizada na superfície das APC. Essas moléculas não intensificam de modo direto a ativação das células T. Em vez disso, a CD40L expressa na superfície de uma célula T estimulada por um antígeno liga‑se à CD40 localizada na superfície das APC, ativando‑as, e as APC ativadas expressam mais coestimuladores B7 e secretam citocinas (como a interleucina‑12 [IL‑12]) que intensificam a diferenciação das células T. Assim, a interação CD40L‑CD40 promove a ativação das células T ao incrementar a ação das APC por esse estímulo. O papel da coestimulação na ativação das células T explica uma observação mencionada em capítulos anteriores. Os antígenos proteicos, como aqueles utilizados na forma de vacinas, não conseguem provocar respostas imunes dependentes de células T, a menos que sejam administrados juntamente com substâncias que ativam APC, especialmente as células dendríticas. Essas substâncias são chamadas de adjuvantes, e suas principais funções consistem em induzir a expressão de coestimuladores na superfície das APC e estimular as APC a secretarem citocinas que ativam as células T. A maioria dos adjuvantes é composta de produtos microbianos (p. ex., micobactérias que foram mortas, o que é usado frequentemente em estudos experimentais) ou de substâncias que imitam os microrganismos, e eles se ligam a receptores de reconhecimento de padrões do sistema imunológico inato, como os receptores tipo Toll (Cap. 2). Assim, os adjuvantes enganam o sistema imunológico na resposta aos antígenos proteicos purificados em uma vacina como se essas proteínas fossem parte de microrganismos infecciosos. O crescente entendimento dos coestimuladores tem levado a novas estratégias para inibir respostas imunes prejudiciais. Agentes que bloqueiam interações de B7:CD28 são usados no tratamento de artrite reumatoide, outras doenças inflamatórias e rejeição de enxertos; anticorpos que bloqueiam interações estão sendo testados em doenças inflamatórias e para tratar a rejeição de enxertos. Receptores inibitórios das células T Receptores inibitórios são cruciais por limitar e terminar respostas imunes. Dois receptores inibitórios importantes, CTLA‑4 e PD‑1, são estruturalmente relacionados com CD28 (Fig. 5‑7). CTLA‑4, similar ao CD28, reconhece B7‑1 e B7‑2 na superfície das APC, e PD‑1 reconhece ligantes diferentes, mas com estruturas relacionadas na superfície de muitos tipos de células. Tanto CTLA‑4 quanto PD‑1 são induzidos em células T ativadas, e têm função de terminar as respostas dessas células. CTLA‑4 também tem papel importante na função de supressão das células T regulatórias (Cap. 9). O fato de esses receptores inibitórios terem evoluído para prevenir resposta imune contra antígenos próprios, deleção genética ou bloqueio dessas moléculas em camundongos e humanos pode resultar em doença autoimune sistêmica. CTLA‑4 e PD‑1 estão também envolvidos em inibição de resposta a alguns tumores e infecções virais crônicas. Essas descobertas são a base para o uso de anticorpos que bloqueiam o CTLA‑4 ou o PD‑1 para aumentar a resposta imunológica a tumores em pacientes com câncer (Cap. 10). O papel desses receptores inibitórios na manutenção da falta de responsividade a antígenos próprios é discutido no Capítulo 9. Estímulos para Ativação das Células T CD8+ A ativação das células T CD8+ é estimulada pelo reconhecimento dos peptídeos associados ao MHC classe I e requer coestimulação e células T auxiliares. As respostas das células T CD8+ podem ser diferentes em vários aspectos das respostas dos linfócitos T CD4+: • O início da ativação de células T CD8+ frequentemente requer antígenos citoplasmáticos de uma célula (p. ex., células infectadas comvírus ou células de tumor) que devem ser apresentados de maneira cruzada pelas células dendríticas (Fig. 3‑16, Cap. 3). • A diferenciação de células T CD8+ em linfócitos T citotóxicos completamente ativos (CTL; do inglês, cytotoxic T lymphocytes) e em células de memória pode precisar da ativação concomitante das células T auxiliares CD4+ (Fig. 5‑8). Quando as células infectadas por vírus são englobadas pelas células dendríticas, a APC pode apresentar antígenos virais do citosol em complexos formados por moléculas do MHC classe I e aqueles do interior de vesículas em complexos com moléculas do MHC classe II. Assim, tanto as células T CD8+ quanto as células T CD4+ específicas para os antígenos virais são ativadas próximas umas das outras. As células T CD4+ podem produzir citocinas ou moléculas de membrana que auxiliam na ativação das células T CD8+. Essa necessidade de células T auxiliares nas respostas das células T CD8+ é uma possível explicação para as respostas incompletas dos CTL a muitos vírus em pacientes infectados com o vírus da imunodeficiência humana (HIV; do inglês, human immunodeficiency virus), o qual mata as células T CD4+, mas não as células T CD8+. Por motivos desconhecidos, parece que os CTL não precisam do auxílio das células T CD4+. Respostas de CTL a alguns vírus não parecem requerer ajuda das células T CD4+. FIGURA 58 Ativação das células T CD8+. As células apresentadoras de antígenos (APC), principalmente as células dendríticas, podem ingerir células infectadas e apresentar antígenos microbianos para as células T CD8+ (apresentação cruzada) e para células T CD4+ auxiliares. Por vezes, a APC pode estar infectada e pode apresentar diretamente os antígenos (não mostrado). Em seguida, as células T auxiliares produzem citocinas que estimulam a expansão e a diferenciação das células T CD8+. É também postulado que as células auxiliares podem ativar as APC para tornálas potentes estimuladores das células T CD8+ (não mostrado). CTL, Linfócitos T citotóxicos. Agora que os estímulos necessários para a ativação dos linfócitos T imaturos foram descritos, o próximo tema a ser enfocado será a ativação das vias bioquímicas pelo reconhecimento do antígeno e outros estímulos. Vias bioquímicas da ativação das células T Ao reconhecer os antígenos e os coestimuladores, as células T expressam proteínas que estão envolvidas na proliferação, na diferenciação e nas funções efetoras das células (Fig. 5‑9). As células T imaturas que não tiveram contato com um antígeno têm baixo nível de síntese proteica. Alguns minutos após o reconhecimento de um antígeno, as células T ativadas apresentam nova transcrição de genes e síntese proteica. As proteínas recém‑ expressas medeiam muitas das respostas subsequentes das células T. FIGURA 59 Proteínas produzidas pelas células T estimuladas por um antígeno. O reconhecimento de um antígeno pelas células T resulta em síntese e expressão de várias proteínas, algumas das quais são exibidas nesta figura. Os valores relativos à cinética da produção dessas proteínas (A) são aproximados e podem variar entre as diferentes células T e também com tipos distintos de estímulo. Os possíveis efeitos da coestimulação nos padrões ou na cinética da expressão dos genes não são exibidos. As funções de algumas das proteínas de superfície expressada em células T ativadas são mostradas em B. O CD69 é um marcador de ativação da célula T envolvido na migração celular; o ligante CD40 é uma molécula efetora de células T. Os receptores de interleucina2 (IL2R) recebem sinais de citocinas IL2 que promovem sobrevivência e proliferação de células T; o ligante CD40 é uma molécula efetora de células T; CTLA4 é um inibidor das respostas imune. cFos (mostrado em A) é um fator de transcrição. TCR, Receptor de célula T. O reconhecimento de antígenos ativa vários mecanismos que conduzem a várias respostas da célula T, incluindo a ativação de enzimas como quinases, no recrutamento de proteínas adaptadoras e na produção de fatores de transcrição ativos (Fig. 5‑10). Essas vias bioquímicas são iniciadas pela reunião de vários complexos TCR com um correceptor apropriado por meio da ligação de complexos peptídeo‑MHC na superfície das APC. Além disso, ocorre redistribuição ordenada de outras proteínas da membrana celular da APC e da célula T no ponto de contato entre essas células, assim como o complexo TCR, os correceptores CD4/CD8 e CD28 coalescem para o centro e as integrinas se movem para formar um anel periférico. Acredita‑se que essa redistribuição ordenada de moléculas de sinalização e adesão seja responsável por uma ótima indução dos sinais de ativação da célula T. A região de contato entre a APC e a célula T, incluindo as proteínas de membranas redistribuídas, é denominada sinapse imune. Embora a sinapse tenha sido primeiramente descrita como um sítio de envio de sinais ativadores dos receptores de membrana para o interior da célula, ela pode ter outras funções. Algumas moléculas efetoras e citocinas podem ser secretadas através dessa região. A sinapse assegura que essas secreções não se dissipem, mas sejam direcionadas para a APC. Enzimas que servem para degradar ou inibir moléculas sinalizadoras são também recrutadas para a sinapse, então esta pode estar envolvida em cessar com ativação de linfócito. FIGURA 510 Vias da transdução de sinais nos linfócitos T. O reconhecimento de um antígeno pelas células T desencadeia fenômenos de sinalização iniciais, que incluem a fosforilação da tirosina das moléculas do complexo receptor de células T (TCR) e o recrutamento de proteínas adaptadoras para o local da célula T onde ocorreu o reconhecimento. Esses fenômenos iniciais levam à ativação de várias substâncias intermediárias, que, por sua vez, ativam fatores de transcrição que estimulam a transcrição de genes cujos produtos mensuram as respostas das células T. Os possíveis efeitos da coestimulação nessas vias de sinalização não são mostrados. Estas vias de sinalização estão ilustradas como independentes uma da outra, por simplicidade, mas podem ser interligadas em redes mais complexas. P1, Proteína ativadora1; APC, célula apresentadora de antígeno; GTP/GDP, trifosfato de guanosina/difosfato de guanosina; ITAM, motivo de ativação do imunorreceptor via tirosina; mTOR, alvo da rapacimina em mamíferos; NFAT, fator nuclear de células T ativadas; PKC, proteína quinase C; PLCγ1, isoforma γ1 da fosfolipase C específica para o fosfatidilinositol; PI3, fosfatidilinositol3; ZAP70, proteína de 70 kD associada à zeta. Os correceptores CD4 ou CD8 facilitam a sinalização por meio da proteína tirosina quinase denominada Lck, que não se encontra fixada por ligação covalente às caudas citoplasmáticas desses correceptores. Como discutido no Capítulo 4, várias proteínas de sinalização da transmembrana estão associadas ao TCR, incluindo o CD3 e cadeias ξ. CD3 e ξ contêm motivos, cada um com dois resíduos de tirosina, chamados motivos de ativação imunorreceptores via tirosina (ITAM; do inglês, immunoreceptor tyrosine‑based activation motifs), que são essenciais para a sinalização. A Lck, que é transportada perto do complexo TCR pelas moléculas CD4 ou CD8, fosforila os resíduos de tirosina contidos dentro dos ITAM das proteínas ξ e CD3. Os ITAM fosforilados na cadeia ξ tornam‑se locais de ancoragem para uma tirosina quinase denominada ZAP‑70 (proteína de 70 kD associada à zeta), que também é fosforilada pela Lck, passando a ser, assim, enzimaticamente ativa. Em seguida, a ZAP‑70 ativada fosforila diversas proteínas adaptadoras e enzimas, que se agrupam próximo ao complexo TCR e medeiam fenômenos de sinalização adicionais. As principais vias de sinalização associadas à fosforilação da cadeia ξ e à ZAP‑70 são a via cálcio‑NFAT, as vias Ras– e Rac‑MAP quinase, a via PkCθ–NF‑κB e a via PI‑3 quinase. • O fator nuclear das células T ativadas (NFAT;do inglês, nuclear factor of activated T cells) é um fator de transcrição presente na forma fosforilada inativa no citoplasma de células T em repouso. A ativação do NFAT e sua translocação nuclear dependem da concentração de íons cálcio (Ca2+) na célula. A via cálcio‑NFAT é iniciada pela fosforilação mediada pela ZAP‑70 e pela ativação de uma enzima denominada fosfolipase Cγ (PLCγ), que catalisa a hidrólise de um fosfolipídio da membrana plasmática que contém inositol, denominado fosfatidilinositol 4,5‑bifosfato (PIP2). Um subproduto da quebra dos PIP2 mediada pela PLCγ, chamado de 1,4,5‑ trifosfato de inositol (IP3), liga os receptores IP3 na membrana do retículo endoplasmático (ER; do inglês, endoplasmic reticulum) e estimula a liberação de Ca2+ pelo ER, aumentando, assim, a concentração citosólica de Ca2+. Em resposta à perda de cálcio dos reservatórios intracelulares, os canais de cálcio da membrana plasmática são abertos, causando influxo de Ca2+ extracelular para dentro da célula, o que sustenta a concentração elevada de Ca2+ por horas. A alta concentração de Ca2+ citoplasmático induz a ativação de uma fosfatase denominada calcineurina. Esta enzima remove os fosfatos do NFAT citoplasmático, permitindo a migração do fator de transcrição para dentro do núcleo, onde esse fator se liga a promotores de vários genes e ativa‑os, incluindo os genes que codificam o fator de crescimento da célula T IL‑2 e componentes do receptor IL‑2. Um fármaco denominado ciclosporina inibe a atividade de fosfatase da calcineurina, e então suprime a produção de citocinas pelas células T dependentes de NFAT. Este agente é amplamente usado como um fármaco imunossupressor para prevenir rejeição de enxertos; a introdução desse agente foi um dos grandes fatores no sucesso de transplante de órgãos (Cap. 10). • As vias Ras/Rac‑MAP quinase incluem o trifosfato de guanosina (GTP; do inglês, guanosine triphosphate), que se liga às proteínas Ras e Rac, várias proteínas adaptadoras e uma cascata de enzimas que, no final, ativam uma proteína quinase de uma família de proteínas quinases ativadas por mitógenos (MAP; do inglês, mitogen‑ activated protein). Essas vias são iniciadas pela fosforilação dependente da ZAP‑70 e pelo acúmulo de proteínas adaptadoras na membrana plasmática, que leva ao recrutamento da Ras ou da Rac e à ativação destas últimas pela transformação do GTP em difosfato de guanosina (GDP; do inglês, guanosine diphosphate). Tanto a Ras•GTP quanto a Rac•GTP iniciam diferentes cascatas de enzimas, que resultam na ativação de MAP quinases distintas. As MAP quinases terminais dessas vias, denominadas quinase regulada por sinais extracelulares (ERK) e quinase c‑Jun amino (N)‑terminal (JNK), respectivamente, promovem a expressão de uma proteína chamada de c‑Fos e a fosforilação de outra proteína denominada c‑Jun. A c‑Fos e a c‑Jun fosforilada combinam‑se para formar o fator de transcrição ativo proteína ativadora 1 (AP‑1), que aumenta a transcrição de vários genes das células T. • Outra via importante envolvida na sinalização do TCR consiste na ativação da isoforma Ø da quinase C serina‑ treonina denominada proteína quinase C (PKCØ), o que leva à ativação de fator de transcrição fator nuclear κB (NF‑κB). A PKC é ativada pelo diacilglicerol, que, como o IP3, é formado pela hidrólise mediada pelo PLC dos lipídeos da membrana que contêm inositol. A PKØ age por meio de proteínas adaptadoras que são recrutadas para o complexo TCR para ativar o NF‑κB. Este está presente, em uma forma inativa, no citoplasma de células T em repouso, ligado a um inibidor denominado IκB. Os sinais gerados pelo TCR, uma regulação negativa da PKCØ, ativam uma quinase que fosforila o IκB e têm como alvo a sua destruição. Como consequência, o NF‑κB é liberado e migra para o núcleo, onde ativa a transcrição de vários genes. • O sinal de transdução do receptor da célula T também envolve a quinase lipídica, chamada de fosfatidil inositol‑3 (PI‑3) quinase, a qual fosforila PIP2 de membrana e gera PIP3. O fosfolipídio PIP3 é necessário para a ativação de um número de alvos importantes, incluindo uma serina‑treonina quinase chamada de Akt, ou proteína quinase B, a qual tem muitas funções, incluindo expressão de proteínas antiapoptóticas, promovendo assim a sobrevivência de células T estimuladas por antígeno. A via da quinase PI‑3/Akt é iniciada não somente pelo TCR, mas também por receptores de CD28 e IL‑2. Junto à via AkT está o alvo da rapamicina em mamíferos, o mTOR (do inglês, mammalian target of rapamycin), uma serina‑treonina‑quinase que está envolvida na estimulação da tradução de proteínas e na sobrevivência e crescimento das células. A rapamicina é um fármaco que se liga e inativa o mTOR e é usada para tratar a rejeição do enxerto. Os vários fatores de transcrição que são induzidos ou ativados nas células T, incluindo NFAT, AP‑1 e NF‑κB, estimulam a transcrição e a subsequente produção de citocinas, receptores para citocinas, indutores do ciclo celular e moléculas efetoras, como o CD40L (Fig. 5‑9). Todos esses sinais são iniciados pelo reconhecimento de um antígeno, pois a ligação do TCR e dos correceptores ao antígeno (os complexos peptídeo‑MHC) é necessária para iniciar a sinalização nas células T. Como afirmado anteriormente, o reconhecimento dos coestimuladores, como as moléculas B7, por seus receptores (CD28) é essencial para que as respostas das células T sejam completas. Os sinais bioquímicos transduzidos pelo CD28 ao se ligarem a coestimuladores B7 são menos bem definidos que os sinais provocados pelo TCR. O acoplamento de CD28 possivelmente amplifica algumas vias de sinalização de TCR que são desencadeadas pelo reconhecimento do antígeno (sinal 1), e também inicia um conjunto distinto de sinais que complementam os sinais de TCR. A ativação de linfócito está também associada a uma profunda mudança nas vias metabólicas. Em células T imaturas (em repouso), baixos níveis de glicose são absorvidos e utilizados para gerar energia na forma de ATP, por fosforilação oxidativa mitocondrial. Após ativação, a absorção da glicose aumenta substancialmente, e células alternam para glicólise aeróbica. Esse processo gera menos ATP, mas facilita a síntese de mais aminoácidos, lipídeos, e outras moléculas que proporcionam blocos de construção para organelas e para produção de novas células. Como resultado, é possível, para as células T ativadas, produzir com mais eficiência os constituintes celulares que são necessários para seu rápido aumento em tamanho e por produzir células filhas. Depois de descrever os estímulos e os caminhos bioquímicos na ativação de células T, discutiremos agora como as células T respondem aos antígenos e se diferenciam em células efetoras capazes de combater os microrganismos. Respostas funcionais dos linfócitos t aos antígenos e à coestimulação O reconhecimento de um antígeno e dos coestimuladores pelas células T dá início a um conjunto orquestrado de respostas que culmina na expansão de clones de linfócitos específicos para antígeno e na diferenciação das células T imaturas em células efetoras e células de memória (Fig. 5‑3). Muitas das respostas das células T são mediadas por citocinas que são secretadas pelas células T e atuam sobre elas mesmas e sobre várias outras células envolvidas nas defesas imunológicas. No próximo tópico discutiremos cada um dos componentes das respostas biológicas das células T. Secreção de Citocinas e Expressão dos Receptores para Citocina Em resposta a um antígeno e aos coestimuladores, os linfócitos T, sobretudo as células T CD4+, secretam rapidamente a citocina IL‑2. As citocinas constituem um grande grupo de proteínas que atuam como mediadoras da imunidade e da inflamação. Já discutimos sobre as citocinas nas respostas imunes inatas, que são produzidas principalmente pelas células dendríticas e os macrófagos (Cap. 2). Naimunidade adquirida, as citocinas são secretadas pelas células T, principalmente as células CD4+. Como a maioria dessas citocinas é produzida por células T efetoras e tem diversas funções na defesa do hospedeiro, essas citocinas serão descritas no Capítulo 6, quando discutiremos os mecanismos efetores de imunidade mediada por célula. IL‑2 é produzida dentro de 1 a 2 horas após ativação das células T CD4+. A ativação também aumenta a expressão dos receptores de IL‑2 com alta afinidade, aumentando, portanto, rapidamente a habilidade das células T de ligar e responder a IL2 (Fig. 5‑11). FIGURA 511 Papel dos receptores de interleucina2 e IL2 na proliferação de célula T. Células T imaturas expressam baixa afinidade ao complexo do receptor IL2 (Il2R), composto por cadeias β e γc (γc designa cadeia γ comum, assim denominada porque essa cadeia é um componente dos receptores para várias citocinas). Na ativação por reconhecimento e coestimulação de antígeno, as células produzem IL2 e expressam a cadeia α da IL2R (CD25), que se associa com as cadeias β e γc para formar a alta afinidade ao receptor IL2. Ligação do IL2 a seu receptor inicia proliferação das células T que reconhece o antígeno. APC, Célula apresentadora de antígeno. O receptor para IL‑2 consiste em uma molécula com três cadeias. As células T imaturas que expressam duas cadeias sinalizadoras, mas não a cadeia α (CD25) que capacita o receptor a se ligar a IL‑2 com alta afinidade. Poucas horas após sua ativação pelos antígenos e coestimuladores, as células T produzem a terceira cadeia do receptor, e agora o receptor completo da IL‑2 é capaz de se ligar fortemente à IL‑2. Assim, a IL‑2 produzida por uma célula T que foi estimulada por um antígeno se liga preferencialmente à mesma célula T que a produziu e atua sobre ela, um exemplo da ação de citocinas autócrinas. As principais funções da IL‑2 são estimular a sobrevivência e a proliferar as células T, resultando no aumento do número das células T específicas do antígeno; devido a essas ações, a IL‑2 foi originalmente chamada de fator de crescimento de células T. A IL‑2 também é essencial para a manutenção de células T reguladoras, e, portanto, para controlar as respostas imunes, como discutido no Capítulo 9. Os linfócitos T CD8+ que reconhecem antígenos e coestimuladores não secretam grandes quantidades de IL‑2, mas esses linfócitos proliferam de maneira prodigiosa durante as respostas imunes. O reconhecimento do antígeno e a coestimulação podem ser capazes de conduzir a proliferação de células T CD8+, ou a IL‑2 pode ser fornecida pelas células T auxiliares CD4+. Expansão Clonal Os linfócitos T ativados pelos antígenos e a coestimulação começam a proliferar dentro de 1 ou 2 dias, resultando na expansão dos clones específicos para o antígeno (Fig. 5‑12). Essa expansão fornece rapidamente uma grande população de linfócitos antígeno‑específicos, da qual podem ser geradas células efetoras para combater a infecção. FIGURA 512 Expansão e declínio das respostas da célula T. Os números de células T CD4+ e CD8+ específicos para vários antígenos e a expansão clonal e contração durante as respostas imunes são ilustrados. São aproximados com base nos estudos de modelo microbiano e de outros antígenos em camundongos consanguíneos; em seres humanos, os números de linfócitos são aproximadamente 1.000 vezes maiores. A magnitude da expansão clonal é notável, principalmente em relação às células T CD8+. Antes de uma infecção, o número de células T CD8+ específicas para qualquer um dos antígenos proteicos microbianos é de cerca de 1 para 105 ou 106 linfócitos no corpo. No auge de algumas infecções virais, o que pode ocorrer dentro de 1 semana após a infecção, até 10% a 20% de todos os linfócitos dos órgãos linfoides podem tornar‑se específicos para os vírus causadores dessas infecções. Isso significa que os clones antígeno‑específicos aumentaram mais de 10.000 vezes e que o tempo estimado para uma população dobrar é de cerca de 6 horas. Várias características dessa expansão clonal são surpreendentes. Em primeiro lugar, essa enorme expansão de células T específicas para um microrganismo não é acompanhada por um aumento detectável de células expectadoras que não reconhecem esse microrganismo. Em segundo lugar, mesmo nas infecções causadas por microrganismos complexos que contêm muitos antígenos proteicos, a maioria dos clones expandidos é específica para apenas alguns peptídeos imunodominantes desses microrganismos, com frequência para menos de cinco deles. A expansão das células T CD4+ parece 100 a 1.000 vezes menor que a das células CD8+. Essa disparidade na magnitude da expansão clonal das células T CD8+ em relação à das células T CD4+ pode refletir as diferenças nas funções dessas duas populações de células. Os CTL CD8+ são células efetoras que exterminam as células infectadas por contato direto, e muitos CTL podem ser necessários para destruir grandes quantidades de células infectadas. Por sua vez, as células efetoras CD4+ secretam citocinas que ativam outras células efetoras, então um número relativamente pequeno de produtores de citocinas pode ser suficiente. Diferenciação de Células T Imaturas em Células Efetoras Uma parte da progênie das células T que proliferaram após terem sido estimuladas por um antígeno diferencia‑ se em células efetoras, cuja função é erradicar as infecções. Esse processo de diferenciação resulta de alterações na expressão de genes, tal como a ativação de genes que codificam citocinas (nas células T CD4+) ou proteínas citotóxicas (nos CTL de CD8+). A diferenciação começa junto com a expansão clonal, e as células efetoras diferenciadas surgem dentro de 3 ou 4 dias após a exposição aos microrganismos. Células efetoras da linhagem CD4+ adquirem a capacidade de produzir diferentes grupos de citocinas. Os subgrupos dessas células T que são distinguidas por seus perfis de citocinas são denominadas Th1, Th2, e Th17 (Fig. 5‑13). Muitas dessas células deixam os órgãos linfoides periféricos e migram para o local da infecção, onde as citocinas dessas células recrutam outros leucócitos que destroem o agente infeccioso. O desenvolvimento e funções dessas células efetoras são descritos no Capítulo 6, quando será discutido imunidade mediada por célula. Outras células T diferenciadas permanecem nos órgãos linfáticos e migram para dentro de folículos linfoides, onde essas células ajudam linfócitos B a produzir anticorpos (Cap. 7). As células efetoras da linhagem CD8+ adquirem a habilidade de matar células infectadas; o desenvolvimento e as funções dessas células estão descritos no Capítulo 6. FIGURA 513 Desenvolvimento de células T efetoras CD4+. Quando células T imaturas CD4+ são ativadas em órgãos linfoides secundários, elas proliferam e se diferenciam em células efetoras. Alguns desses efetores (as populações Th1, Th2, Th2, e Th17) saem principalmente do órgão linfoide e têm função de erradicar microrganismos em tecidos periféricos. Outras células diferenciadas, denominadas células foliculares (Tfh), permanecem nos órgãos linfoides e ajudam as células B a produzir anticorpos potentes. Células T auxiliares CD4+ ativam fagócitos e linfócitos B através da ação da membrana plasmática e por citocinas secretadas (Fig. 5‑14). A proteína mais importante da superfície da célula envolvida na função efetora das células T CD4+ é o ligante CD40, um membro de uma grande família de proteínas estruturalmente relacionadas com a citocina do fator de necrose tumoral (TNF). Nas células T CD4+, o gene do CD40L é transcrito em resposta ao reconhecimento do antígeno e à coestimulação, e o resultado é a expressão do CD40L na superfície das células T auxiliares ativadas (Fig.5‑9). O CD40L liga‑se ao seu receptor, o CD40, que é expresso principalmente na superfície de macrófagos, linfócitos B e células dendríticas. O acoplamento do CD40 ativa essas células e, por essa razão, o CD40L é um componente importante da ativação de macrófagos e linfócitos B pelas células T auxiliares (Caps. 6 e 7). A interação do CD40L da superfície das células T com o CD40 da superfície das células dendríticas estimula a expressão de coestimuladores na superfície dessas APC e a produção de citocinas ativadoras de células T, fornecendo, dessa maneira, um mecanismo de retroalimentação positiva (amplificação) para a ativação de células T induzidas pelas APC. FIGURA 514 Papel da CD4OL e citocinas em funções efetoras de células T auxiliares CD4+. Células T CD4+ diferenciadas em células efetoras expressam CD40L e secretam citocinas. CD40L liga ao CD40 em macrófagos ou linfócitos B, e citocinas se ligam aos seus receptores nas mesmas células. A combinação dos sinais enviados pela CD40 e receptores de citocina (setas) ativam macrófagos em célula mediando imunidade (A) e ativam células B para produzir anticorpos de isotipos trocados de altaafinidade em resposta imune humoral (B). Desenvolvimento da Memória dos Linfócitos T Uma fração dos linfócitos T ativados por antígenos diferencia em células de memória de longa duração. Estas células são um conjunto de linfócitos que são induzidos por microrganismos e estão esperando para a infecção retornar. Não sabemos quais fatores determinam se os descendentes dos linfócitos estimulados por antígenos se diferenciarão em células efetoras ou células de memória. Células de memória têm várias características importantes. • Células de memória sobrevivem mesmo após a infecção ser erradicada e o antígeno não estar mais presente. Certas citocinas, incluindo IL‑7 e IL‑15, que são produzidas por células estromais nos tecidos, podem servir para manter as células de memória vivas e o ciclo lento. • Células T de memória podem ser rapidamente induzidas para produzir citocinas ou matar células infectadas ao encontrar o antígeno que elas reconhecem. Essas células não promovem qualquer função efetora até elas encontrarem um antígeno; no entanto, uma vez ativadas, elas respondem mais vigorosamente e rapidamente que os linfócitos imaturos. • Células T de memória podem ser encontradas nos órgãos linfáticos, em vários tecidos periféricos, especialmente mucosa e pele, e na circulação. Elas podem ser distinguidas das células imaturas e efetoras por vários critérios (Cap. 1). Um subgrupo de células T de memória, denominada células de memória central, preenche os órgãos linfoides e é responsável pela rápida expansão clonal depois da reexposição ao antígeno. Outro subgrupo, denominado células de memória efetoras, localizado no tecido da mucosa e outros tecidos periféricos, medeia funções efetoras rápidas em reintrodução de antígenos nesses locais. Migração dos linfócitos t em reações imunes mediadas por células Como discutido no início deste capítulo, as respostas da célula T são iniciadas em órgãos linfoides secundários, e a fase efetora ocorre principalmente no local da infecção nos tecidos periféricos (Fig. 5‑2). Então, as células T em estágios diferentes da vida têm de migrar em caminhos diferentes: • Células T imaturas devem migrar entre sangue e órgãos linfoides secundários por todo o corpo (periférico), até elas encontrarem células dendríticas dentro dos órgãos linfoides que apresentam os antígenos que as células T reconhecem (Cap. 3). • Após as células T imaturas serem ativadas e diferenciadas em células efetoras, estas células devem migrar de volta para o local da infecção, onde elas têm função de matar os microrganismos. A migração das células imaturas e efetoras é controlada por três famílias de proteínas, selectinas, integrinas e quimiocinas, que regulam a migração de todos os leucócitos, como descrito no Capítulo 2 (Fig. 2‑16). As rotas de migração de células T imaturas e efetoras diferem significantemente devido à expressão seletiva de moléculas de adesão e receptores de quimiocinas na superfície de células T imaturas versus células T efetoras, e também pela expressão seletiva das moléculas de adesão do endotélio e quimiocinas nos tecidos linfático e locais da inflamação (Fig. 5‑15). FIGURA 515 Migração de linfócitos T imaturos e efetores. A. Linfócitos T imaturos retornam para o linfonodo como resultado de Lselectina, integrina, e receptor de quimiocinas CCR7 ligando aos seus ligantes sobre vênulas endoteliais altas (HEV). Quimiocinas expressas nos linfonodos ligam ao CCR7 em células T imaturas, aumentando a adesão dependente de integrina e migração através do HEV. O fosfolipídeo esfingosina1fostato (S1P) tem um papel na saída de células T de linfonodo, ligandose ao receptor, denominado S1PR1 (receptor de fosfato esfingosina tipo 1). Linfócitos T ativados, incluindo a maioria das células efetoras, voltam aos locais da infecção no tecido periférico, e esta migração é mediada por Eselectina e Pselectina, integrinas, e quimiocinas secretadas nos locais da inflamação. Células T auxiliares foliculares (Tfh) (não mostrado) são células efetoras que permanecem nos órgãos linfoides, porque eles expressam o receptor de quimiocina (CXCR5) que os atraem para dentro de folículos linfoides, onde podem interagir com linfócitos B residentes. B, Esta tabela resume as funções do principal receptor guia de célula T (receptor homing) e receptores de quimiocina e seus ligantes. ICAM1, molécula de adesão intercelular 1; LFA1, função de leucócito associado com antígeno 1; VCAM1, célula vascular com molécula de adesão 1; VLA4, antígeno tardio 4. Células T imaturas expressam a molécula de adesão selectina‑L (CD62L) e o receptor de quimiocina CCR7, que medeia a migração seletiva de células imaturas para dentro dos gânglios linfáticos através de vasos especializados denominados vênulas endoteliais altas (HEV, do inglês, high endothelial venules) (Fig. 5‑15). HEV estão localizadas nas zonas da células T em tecidos linfoides e são revestidas por células endoteliais especializadas, que expressam ligantes de carboidrato que ligam a selectina‑ L. Nas HEV também se encontram quimiocinas que são produzidas apenas nos tecidos linfoides e são especificamente reconhecidas por CCR7. A migração de células T imaturas prossegue em uma sequência de vários estágios similares à migração de todos os leucócitos pelos vasos sanguíneos (Cap. 2): • Células T imaturas no sangue se envolvem nas interações de rolamento mediadas por selectina‑L com o HEV, permitindo que as quimiocinas liguem ao CCR7 na superfície das células T. • CCR7 transduz sinais intracelulares que ativam a integrina de leucócito associado a funções de antígeno 1, LFA‑ 1 (do inglês, leukocyte function‑associated antigen 1), na superfície das células T imaturas, aumentando a afinidade de ligação das integrinas. • O aumento na afinidade das integrinas por seus ligantes, molécula‑1 de adesão intracelular (ICAM‑1) nas HEV, resulta em firme adesão e impedimento das células T rolando. • As células T então saem através das junções endoteliais e são retidas na zona de células T dos linfonodos por causa das quimiocinas produzidas nessa área. Assim, muitas células T imaturas são carregadas pelo sangue para dentro da HEV e migram para a zona de célula T do estroma dos linfonodos. Isso acontece constantemente em todos linfonodos e tecido linfoide da mucosa do corpo. Células T efetoras não expressam CCR7 ou selectina‑L e, por isso, não são atraídas para dentro dos linfonodos. Os fosfolipídeos esfingosina‑1‑fosfato (S1P; do inglês, sphingosine 1‑phosphate) desempenham papel importante na saída de células T dos linfonodos. Os níveis de S1P são mais elevados no sangue e linfa do que dentro dos linfonodos. S1P liga‑se e, portanto, reduz expressão de seu receptor, o que mantém baixa a expressão do receptorem células T‑imaturas circulantes. Quando uma célula T imatura entra no nódulo, ela é exposta à baixa concentração de SIP, e expressões dos receptores começam a aumentar. Se a célula não reconhecer qualquer antígeno, as células deixam o nódulo através de vasos linfáticos eferentes, seguindo o gradiente de S1P dentro da linfa. Se a célula T não encontrar antígenos específicos e for ativada, a expressão da superfície do receptor SIP é suprimida por vários dias. Como resultado, células T recentemente ativadas ficam no linfonodo tempo suficiente para passar por expansão clonal e diferenciação. Quando esse processo é completado, o receptor S1P é reexpressado na superficie da célula; ao mesmo tempo, as células perdem expressões de selectina‑L e CCR7, que anteriormente atraíram células T imaturas para linfonodos. Portanto, células T ativadas são retiradas dos nódulos para dentro da linfa de drenagem, o que então transportará as células para a circulação. O resultado dessas mundanças é que células T efetoras diferenciadas saem dos linfonodos e entram na circulação. A importância da via SIP tem sido destacada pelo desenvolvimento do fármaco fingolimode, que se liga ao receptor S1P e bloqueia a saída de células T dos linfonodos. Este fármaco é aprovado para o tratamento da doença inflamatória esclerose múltipla. Células T efetoras migram para locais da infecção porque elas expressam moléculas de adesão e receptores de quimiocinas relacionados com ligantes expressados ou apresentados no endotélio vascular em resposta imune inata para microrganismos. O processo de difenciação dos linfócitos T imaturos em células efetoras é acompanhado por mudanças no tipo de moléculas de adesão e receptores de quimiocinas expresso nessas células (Fig. 5‑15). A migração de células T ativadas para tecidos periféricos é controlada pelos mesmos tipos de interações envolvidas na migração de outros leucócitos para dentro dos tecidos (Cap. 2). • Células T ativadas expressam alto nível de ligantes de glicoproteinas para E‑ e P‑selectinas e as integrinas LFA‑1 e um antígeno muito tardio denominado VLA‑4 (do inglês, very late antigen 4). Citocinas imunes inatas produzidas no local da infeccão, tais como TNF e IL‑1, agem sobre as células endoteliais para aumentar a expressão das selectinas E e P bem como ligantes para integrinas, especialmente ICAM‑1 e molécula 1 de adesão da célula vascular (VCAM‑A; do inglês, vascular cell adhesion molecule 1), o ligante para a integrina VLA‑4. • Células T efetoras que estão passando pelos vasos sanguíneos no local da infecção se ligam primeiro a selectinas endoteliais, levando a interações no processo de rolamento. • Células T efetoras também expressam receptores para quimiocinas que são produzidos por macrófagos e células endoteliais nos locais de inflamação e são apresentados na superfície do endotélio. As células T em rolamento reconhecem essas quimiocinas, levando ao aumento na afinidade de ligação das integrinas por seus ligantes e firmar adesões das células T para o endotélio. • Após os linfócitos T efetores serem presos sobre o endotélio, eles envolvem outras moléculas de adesão nas junções entre as células endoteliais, percorrendo através destas junções dentro do tecido. Quimiocinas produzidas por macrófagos e outras células nos tecidos estimulam a motilidade das células T transmissoras. O resultado dessas interações moleculares entre as células T e células endoteliais é que a células T migram para fora dos vasos sanguíneos para o local da infecção. Células T imaturas não expressam ligantes para selectina E ou P e não expressam receptores para quimiocinas produzidas nos locais da inflamação. Portanto, células T imaturas não migram para dentro dos locais de infecção ou tecido danificado. A volta dessas células efetoras para o local de infecção é independente do reconhecimento do antígeno, mas linfócitos que reconhecem antígenos são preferencialmente retidos e ativados no local. A volta das células efetoras para o local da infecção depende principalmente das moléculas de adesão e quimiocinas. Portanto, algumas células efetoras presentes no sangue, independentemente da especificidade do antígeno, podem entrar nos locais de qualquer infecção. Essa migração não seletiva presumivelmente maximiza as chances dos linfócitos efetores que estão entrando nos tecidos onde eles podem encontrar os microrganismos que eles reconhecem. As células T efetoras que deixam a circulação, e que especificamente reconhecem antígeno microbiano apresentado por APC de tecido local, tornam‑se reativadas e contribuem para a morte do microrganismo na APC. Uma consequência dessas reatividades é aumento na expressão de integrinas VLA na superfície das células T. Algumas dessas integrinas especificamente ligam a moléculas presentes na matriz extracelular, tais como ácido hialurônico e fibronectina. Portanto, os linfócitos estimulados por antígenos aderem firmemente a proteínas de matriz de tecido perto dos antígenos, que podem servir às células nos locais de inflamação. Essa retenção seletiva contribui para acúmulo de mais células T específicas para antígenos microbianos no local da infecção. Como resultado dessa sequência de eventos de migração da célula T, a fase efetora de resposta imune mediada por célula T pode ocorrer em qualquer local de infecção. Em contraste com a ativação de células T imaturas, o que requer apresentação de antígeno e coestimulação pelas células dentríticas, células efetoras diferenciadas são menos dependentes de coestimulação. Portanto, a proliferação e a diferenciação das células T imaturas são restritas aos órgãos linfáticos, onde células dendríticas (que expressam coestimuladores abundante) apresentam antígenos, mas as funções das células T efetoras podem ser reativadas por qualquer célula hospedeira apresentando peptídeos microbianos ligados às moléculas de MHC, não apenas nas células dendríticas. A elucidação das interações moleculares envolvidas na migração de leucócitos tem encorajado muitas tentativas de desenvolver agentes para bloquear o processo de migração de células para dentro de tecidos. Anticorpos contra integrinas são efetivos na esclerose múltipla e doença intestinal inflamatória, mas a utilidade clínica desses fármacos é limitada porque reduz a entrada de leucócito dentro dos tecidos, especialmente o sistema nervoso central, permitindo a reativação de vírus latente em paciente tratado ocasionalmente. Uma pequena molécula inibidora da via SIP é usada para tratar a esclerose múltipla, como mencionado anteriormente. Também têm sido desenvolvidas pequenas moléculas que se ligam a receptores de quimiocinas e algumas têm mostrado eficácia para doença inflamatória intestinal. Declínio da Resposta Imune Devido à notável expansão dos linfócitos antígeno‑específicos no pico da resposta imunológica, espera‑se que, uma vez que a resposta esteja terminada, o sistema retorne ao seu estado de equilíbrio, chamado de homeostase, de forma que ele esteja preparado para responder à próxima infecção por patógenos (Fig. 5‑12). Durante a resposta, a sobrevivência e a proliferação das células T são mantidas pelo antígeno, por sinais coestimuladores das CD28 e por citocinas como a IL‑2. Uma vez que a infecção e o estímulo para a ativação dos linfócitos tenham desaparecido, muitas das células que tinham proliferado em resposta aos antígenos são privadas desses sinais sobreviventes. Como resultado, essas células morrem por apoptose (morte celular programada). A resposta é reduzida em 1 ou 2 semanas após a infecção ser erradicada, e o único sinal de que a resposta imunológica mediada por célula T ocorreu é um conjunto de linfócitos de memória sobreviventes. Vários mecanismos têm evoluído para ultrapassar os desafios que as células T enfrentam na geração de uma respostaimunológica útil mediada por células: • Células T imaturas precisam encontrar o antígeno. Esse problema é resolvido pelas APC que capturam o antígeno e concentram‑no nos órgãos linfoides especializados, por meio dos quais as células T virgens recirculam. • O tipo correto de linfócito T (i.e., células T auxiliares CD4+ ou CTL CD8+) precisa responder aos antígenos presentes nos compartimentos endossomais e citosólicos. Essa seletividade é determinada pela especificidade dos correceptores CD4 e CD8 pelas moléculas do MHC classes II e I, respectivamente, e pela separação dos antígenos proteicos em extracelulares (vesiculares) e intracelulares (citosólicos) para a apresentação dos primeiros por moléculas do MHC classe II e dos últimos por moléculas classe I. • As células T devem responder aos antígenos microbianos, mas não às proteínas inofensivas. Essa preferência por microrganismos é mantida, porque a ativação das células T requer a presença de coestimuladores, cuja expressão na superfície das APC é induzida por microrganismos. • O reconhecimento de um antígeno por um pequeno número de células T deve liderar uma resposta grande o suficiente para ser efetivo. Isso ocorre por meio da expansão clonal robusta após a estimulação e por vários mecanismos de amplificação induzidos pelos microrganismos e ativados pelas próprias células T que levam a uma intensificação da resposta. • A resposta tem de ser melhorada para combater diversos tipos de microrganismos. Isso é feito em grande parte pelo desenvolvimento de subgrupos especializados de células T efetoras. Resumo ▪ Os linfócitos T são as células da imunidade mediada por células, o braço do sistema imunológico adquirido que combate os microrganismos intracelulares, os quais podem ser microrganismos que são englobados por fagócitos e vive dentro dessas células ou microrganismos que infectam células não fagocitárias. Os linfócitos T também medeiam a defesa contra alguns microrganismos extracelulares e ajudam os linfócitos B a produzir anticorpos. ▪ As respostas dos linfócitos T são constituídas de etapas sequenciais: reconhecimento de microrganismos associados a células pelas células T imaturas, expansão dos clones específicos para antígeno por meio da proliferação e diferenciação de algumas das progênies em células efetoras e células de memória. ▪ As células T utilizam seus receptores para antígenos para reconhecer os antígenos peptídicos apresentados pelas moléculas do MHC presentes na superfície das células apresentadoras de antígenos (APC), que são responsáveis pela especificidade da resposta resultante, e os resíduos polimórficos das moléculas do MHC, que são responsáveis pela restrição das respostas das células T ao MHC. ▪ O reconhecimento de um antígeno pelo TCR desencadeia sinais que são liberados para o interior das células por moléculas associadas ao TCR (as cadeias CD3 e ξ) e pelos correceptores, CD4 e CD8, que reconhecem as moléculas do MHC classes II e I, respectivamente. ▪ A ligação das células T às APC é intensificada pelas moléculas de adesão, notadamente pelas integrinas, cuja afinidade por seus ligantes é aumentada pelo reconhecimento do antígeno pelo TCR. ▪ As APC expostas a microrganismos ou às citocinas produzidas como parte das reações imunológicas inatas aos microrganismos expressam coestimuladores que se ligam aos receptores presentes na superfície das células T e liberam sinais secundários necessários para a ativação dessas células T. ▪ Os sinais bioquímicos desencadeados nas células T pelo reconhecimento e pela coestimulação de um antígeno resultam na ativação de vários fatores de transcrição que estimulam a expressão de genes que codificam citocinas, de receptores para citocinas e de outras moléculas envolvidas nas respostas das células T. ▪ Em resposta ao reconhecimento de um antígeno e à coestimulação, as células T secretam citocinas, que induzem a proliferação das células T estimuladas pelo antígeno e medeiam as funções causadoras das células T. ▪ Células T proliferam após ativação pelo antígeno e coestimuladores, resultando em expansão dos clones de antígenos específicos. A sobrevivência e a proliferação das células T ativadas são dirigidas ao fator de crescimento interleucina‑2. ▪ Algumas das células T diferenciam em células efetoras que são responsáveis por erradicar infecções. Células efetoras CD4+ produzem moléculas de superfície, notavelmente CD40L, e secretam várias citocinas que ativam outros leucócitos para destruir microrganismos. Células efetoras CD8+ são capazes de matar células infectadas. ▪ Outras células T se diferenciam em células de memória, que sobrevivem mesmo após o antígeno ser eliminado e são capazes de resposta rápida para encontro subsequente com antígeno. ▪ Células T imaturas migram para órgãos linfoides periféricos, principalmente linfonodo drenando locais de entrada de microrganismos, em que muitas das células T efetoras geradas nos órgãos linfoides são capazes de migrar para qualquer local da infecção. ▪ As vias de migração de células T imatura e efetora são controladas por moléculas de adesão e quimiocinas. A migração de células T é independente do antígeno, mas células que reconhecem antígenos microbiais em tecidos são retidas nesses locais. Perguntas de revisão 1. Quais são os componentes do complexo TCR? Quais desses componentes são responsáveis pelo reconhecimento de um antígeno, e quais são responsáveis pela transdução de sinais? 2. Cite algumas das moléculas que, quando adicionadas ao TCR, são utilizadas pelas células T para iniciar suas respostas aos antígenos, e quais são as funções dessas moléculas? 3. O que é coestimulação? Qual é o significado fisiológico da coestimulação? Cite alguns dos pares ligante‑receptor envolvidos na coestimulação. 4. Resuma as ligações existentes entre o reconhecimento de um antígeno, as principais vias bioquímicas da sinalização das células T e a produção de fatores de transcrição. 5. Qual é o principal fator de crescimento para as células T? Por que as células T antígeno‑ específicas se expandem mais que outras células T (as espectadoras) quando expostas a um antígeno? 6. Quais são os mecanismos pelo qual células T efetoras CD4+ ativam outros leucócitos? 7. Quais são as principais propriedades dos linfócitos de memória T? 8. Por que as células T imaturas migram preferencialmente para órgãos linfoide, e células T efetoras diferenciadas (que têm sido ativadas por antígeno) migram preferencialmente para tecidos que são locais de infecção? As respostas e as discussões das Perguntas de Revisão estão disponíveis em www.studentconsult.com.br. CAP Í T U LO 6 Mecanismos Efetores da Imunidade Mediada por Células T Funções das Células T na Defesa do Hospedeiro Tipos de reações imunes mediadas por células T Desenvolvimento e funções dos linfócitos t EFETORES CD4+ Subgrupos de Células T CD4+ Auxiliares Diferenciadas por Perfis de Citocinas Células Th1 Células Th2 Células Th17 Desenvolvimento e funções dos linfócitos t citotóxicos CD8+ Resistência de microrganismos patogênicos à imunidade mediada por célula Resumo A defesa do hospedeiro em que os linfócitos T servem como células efetoras é denominada imunidade mediada por células. As células T são essenciais para a eliminação de microrganismos que sobrevivem e se replicam no interior de células e para a erradicação de infecções por alguns microrganismos extracelulares, com frequência pelo recrutamento de outras células para eliminar os patógenos infecciosos. As respostas imunes mediadas por células começam pela ativação de células T imaturas que proliferam e se diferenciam em células efetoras. Essas células T efetoras então migram para locais da infecção e funcionam para eliminar os microrganismos. Descrevemos no Capítulo 3 a função das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC; do inglês, major histocompability complex) na apresentação de antígenos de microrganismos intracelulares para o reconhecimento peloslinfócitos T, e discutimos no Capítulo 5 os primeiros eventos na ativação de linfócitos T imaturos. Neste capítulo, abordaremos as seguintes questões: • Qual tipo de células T efetoras está envolvido na eliminação de microrganismos? • Como as células T desenvolvem de células T imaturas, e como células T efetoras erradicam infecções por diversos microrganismos? • Qual é o papel dos macrófagos e de outros leucócitos na destruição de patógenos infecciosos? Tipos de reações imunes mediadas por células T Dois tipos principais de reações imunes mediadas por células são designados para eliminar diferentes tipos de microrganismos: as células T CD4+ auxiliares secretam citocinas que recrutam e ativam outros leucócitos para fagocitar (ingerir) e destruir microrganismos. As células T citotóxicas CD8+ (CTL; do inglês, cytotoxic T lymphocytes) matam qualquer célula infectada contendo proteínas microbianas no citosol, eliminando os reservatórios celulares de infecção (Fig. 6‑1). As infecções microbianas podem ocorrer em qualquer ponto do corpo, e alguns patógenos infecciosos são capazes de infectar células do hospedeiro e de viver dentro delas. Os microrganismos patogênicos que infectam células do hospedeiro e sobrevivem no interior delas incluem (1) muitas bactérias, fungos e protozoários que são ingeridos por fagócitos, mas resistem aos mecanismos de destruição desses fagócitos e, por isso, sobrevivem em vesículas ou no citoplasma, e (2) vírus que infectam células fagocitárias e não fagocitárias e se replicam no citoplasma dessas células (Cap. 5, Fig. 5‑1). As diferentes classes de células T reconhecem microrganismos em compartimentos celulares distintos e diferem na natureza da reação por elas evocadas. De modo geral, as células T CD4+ reconhecem antígenos de microrganismos em vesículas fagocitárias e secretam citocinas que recrutam e ativam leucócitos que matam os microrganismos, enquanto as células CD8+ reconhecem antígenos de microrganismos que estão presentes no citosol e destroem as células infectadas. FIGURA 61 Imunidade mediada por células contra microrganismos intracelulares. A, Células T auxiliares efetoras dos subgrupos CD4+ Th1 e Th17 reconhecem antígenos microbianos e secretam citocinas que recrutam leucócitos (inflamação) e ativam fagócitos para matar os microrganismos. Células efetoras do subgrupo Th2 (não mostrados) funcionam para erradicar infecções de parasitas helmínticos. B, Linfócitos T CD8+ citotóxico (CTL) matam células infectadas com microrganismos dentro do citoplasma. Células CD8+ também produzem citocinas que induzem inflamação e ativam macrófagos (não mostrado). A imunidade mediada por célula contra patógenos foi descoberta como uma forma de imunidade para uma infecção intracelular por bactéria que poderia ser transferida de animais imunes para animais não imunizados por células (agora conhecido como linfócitos T), mas não por soro com anticorpo (Fig. 6‑2). É conhecido desde os primeiros estudos que a especificidade de imunidade mediada por célula contra microrganismos distintos era função de macrófagos ativados. Como mencionado antes, células T CD4+ são principalmente responsáveis por esse tipo de classe de imunidade mediada por célula, enquanto células T CD8+ podem erradicar infecções sem um requerimento por fagócitos. FIGURA 62 Imunidade mediada por célula para uma bactéria intracelular, Listeria monocytogenes. Nestes experimentos, uma amostra de soro ou linfócitos (uma fonte de anticorpos) foi coletada a partir de um camundongo que tinha anteriormente sido exposto a uma dose subletal de organismos Listeria (camundongo imune) e transferido para um camundongo normal (sem exposição a Listeria), e o destinatário da transferência adotiva foi desafiado com as bactérias. O número de bactérias foi medido no baço do rato destinatário para determinar se a transferência tinha imunidade conferida. Proteção contra o desafio bacteriano (visto pela redução de recuperação de bactérias vivas) foi induzida pela transferência de células linfoides imunes, agora conhecidas como células T (A), mas não pela transferência do soro (B). As bactérias foram mortas in vitro por macrófagos ativados, mas não pelas células T (C). Portanto, a proteção depende de linfócitos T específicos para o antigénio, mas a morte bacteriana é a função dos macrófagos ativados. As reações imunes mediadas por células T consistem em múltiplas etapas (Cap. 5, Fig. 5‑2). As células T imaturas são estimuladas por antígenos microbianos nos órgãos linfoides periféricos (secundário), dando origem a células T efetoras cuja função é erradicar microrganismos intracelulares. As células T efetoras diferenciadas migram então para o local da infecção. Nesses locais, os fagócitos que ingeriram os microrganismos para vesículas intracelulares apresentam fragmentos peptídicos de proteínas microbianas ligados a moléculas MHC classe II na superfície celular para reconhecimento pelas células T efetoras CD4+. Os antígenos peptídicos derivados de microrganismos vivendo no citosol de células infectadas são apresentados por moléculas de MHC de classe I para o reconhecimento por células T efetoras CD8+. O reconhecimento de antígenos ativa as células T efetoras a executar sua tarefa de eliminar os patógenos infecciosos. Portanto, na imunidade mediada por células (CMI; do inglês, cell‑mediated immunity), as células T reconhecem antígenos proteicos em dois estágios. Em primeiro lugar, células T imaturas reconhecem antígenos em tecidos linfoides e respondem proliferando e se diferenciando em células efetoras (Cap. 5). Segundo, as células T efetoras reconhecem os mesmos antígenos em qualquer lugar do corpo e respondem eliminando esses microrganismos. Este capítulo descreve como células T efetoras CD4+ e CD8+ desenvolvem resposta a microrganismos e os eliminam. Como linfócitos T CD4+ auxiliares e CTL CD8+ aplicam mecanismos distintos para combater infecções, o desenvolvimento e as funções das células efetoras dessas classes de linfócito são discutidos individualmente. Concluímos por descrever como as duas classes de linfócitos podem cooperar para eliminar micrororganismos intracelulares. Desenvolvimento e funções dos linfócitos T efetores CD4+ No Capítulo 5, foi introduzido o conceito de que células efetoras da linhagem CD4+ podem ser diferenciadas baseando‑se nas citocinas que elas produzem. Estes subgrupos de células T CD4+ diferem em sua função e servem a papéis distintos na imunidade mediada por célula. Subgrupos de Células T CD4+ Auxiliares Diferenciadas por Perfis de Citocinas Análises de produção de citocina por células T auxiliares têm mostrado que existem subgrupos de CD4+ funcionalmente distintos que produzem citocinas diferentes. A existência desses subgrupos explica como o sistema imune responde diferentemente para microrganismos diferentes. Por exemplo, microrganismos intracelulares como micobactérias são ingeridos por fagócitos, mas resistem à morte no interior da célula. A resposta imune adaptativa para tais microrganismos resulta na ativação dos fagócitos para matar os microrganismos ingeridos. Em contraste, a resposta imune para helmintos é dominada pela produção de anticorpo de imunoglobina E (IgE) e a ativação de eosinófilos, que destroem os helmintos. Ambos desses tipos de resposta imune dependem de células T CD4+auxiliares, mas por muitos anos não estava claro como as células CD4+ auxiliares são capazes de estimular tal mecanismo efetor de imunidade distinta. Agora sabemos que essas respostas são mediadas por subpopulações de células T CD4+ efetoras que produzem citocinas diferentes. Células T CD4+ auxiliares podem se diferenciar em três principais subgrupos de células efetoras queproduzem grupos distintos de citocinas na defesa do hospedeiro (Fig. 6‑3) (um quarto subgrupo, células T auxiliares foliculares, que é importante em resposta imune humoral, é discutido no Capítulo 7). Os subgrupos definidos primeiro são chamados de células Th1 e células Th2 (para células T auxiliares do tipo 1 e células T auxiliares do tipo 2); uma terceira população, identificada mais tarde, é chamada de células Th17 porque sua citocina marcadora (assinatura) é interleucina (IL)‑17. A descoberta dessas subpopulações tem sido um marco importante para o entendimento das respostas imunes e para fornecer modelos para o estudo dos processos da diferenciação celular. Assim, é necessário observar que muitas células T CD4+ ativadas podem produzir diversas citocinas e, portanto, não podem ser prontamente classificadas dentro desses subgrupos, e podem apresentar notável plasticidade nessas populações, tanto que um subgrupo pode ser convertido em outro sob algumas condições. FIGURA 63 Características dos subgrupos de linfócitos T CD4+ auxiliares. Uma célula T CD4+ imatura pode se diferenciar em subgrupos diferentes que produzem citocinas, que recrutam e ativam diferentes tipos de células (referido como célulasalvo) e combate diferentes tipos de infecções em defesa do hospedeiro. Esses subgrupos também estão envolvidos em vários tipos de doenças inflamatórias. A tabela resume as principais diferenças entre os subgrupo Th1, Th2 e Th17 de células T auxiliares. IFN, interferon; IL, interleucina. As citocinas produzidas na resposta imune adaptativa incluem aquelas produzidas pelos três grupos Th, assim como as citocinas produzidas por células T regulatórias CD4+ e células T CD8+. Essas citocinas da imunidade adaptativa compartilham algumas propriedades gerais, mas elas têm atividades biológicas diferentes e desempenham papéis únicos na fase efetora ou regulação dessas respostas (Fig. 6‑4). As funções dos grupos de célula T CD4+ refletem as ações das citocinas que elas produzem. FIGURA 64 Propriedades das principais citocinas produzidas pelos linfócitos T CD4+ auxiliares. A, Propriedades gerais de citocinas produzidas durante as respostas imunitárias adaptativas. B, Funções de citocinas envolvidas na imunidde mediada pela célula. Note que a IL–2, que é produzida pelas células T após a ativação e foi a primeira citocina identificada de células T, foi discutida no Capítulo 5, no contexto da ativação das células T. O fator de crescimento de transformação β (TGFβ) funciona principalmente como um inibidor de respostas imunes; o seu papel é discutido no Capítulo 9. As citocinas de imunidade inata são mostradas na Figura 214. Mais informações sobre estas citocinas e seus receptores são fornecidas em Apêndice II. IgE, imunoglobulina E; IL, interleucina. Cada subgrupo de células T CD4+ se desenvolve em resposta para o tipo de microrganismos cujo subgrupo é melhor em erradicar. Microrganismos diferentes induzem a produção de citocinas diferentes e provenientes de células dentríticas e outras células, e estas citocinas direcionam a diferenciação de células T ativadas para um ou outro subgrupo. Assim, esses subgrupos de células T são excelentes exemplos da especialização da imunidade adaptativa, porque eles medeiam respostas especializadas para combater uma diversidade de patógenos que podem ser encontrados. Posteriormente, serão mostrados exemplos de tais especializações ao discutir cada um dos principais subgrupos. Células Th1 O subgrupo Th1 é induzido por microrganismos que são ingeridos por macrófagos e ativam essas células de defesa (Fig. 6‑5). A assinatura da citocina das células Th1 é interferon‑γ (IFN‑γ), a citocina mais potente de ativação de macrófago conhecida. (O nome “interferon” originou‑se do descobrimento dessa citocina como uma proteína que inibiu ou interferiu na infecção viral, mas IFN‑γ é uma citocina muito menos potente como antiviral que IFN [Cap. 2]). FIGURA 65 Funções das células Th1. Células Th1 produzem a citocina Interferonγ (IFNγ), que ativa macrófagos para matar microrganismos fagocitados (via clássica da ativação de macrófago). Em algumas espécies, o IFNγ estimula a produção de anticorpos IgG, mas células T auxiliares foliculares podem ser a fonte do IFNγ nesse caso, e o papel das citocinas Th1 na troca de isotipo para IgG não foi estabelecido em humanos. APC, Célula apresentadora de antígeno. Células Th1 agem através de ligante‑CD40 e IFN‑γ e aumentam a habilidade de macrófagos em matar microrganismos fagocitados (Fig. 6‑6). Macrófagos ingerem e tentam destruir microrganismos como parte da resposta imune inata (Cap. 2). A influência desse processo é substancialmente aumentada pela interação de células Th1 com os macrófagos. Quando os microrganismos são ingeridos dentro dos fagossomos dos macrófagos, peptídeos microbianas são apresentados na superfície de MHC classe II e são reconhecidos por células T CD4+. Se essas células T pertencem ao subgrupo Th1, elas expressam o ligante CD40 (CD40L, ou CD154) e secretam IFN‑γ. A ligação do CD40L ao CD40 nas funções do macrófago juntamente com a ligação do IFN‑γ ao seu receptor no mesmo macrófago desencadeia vias de sinalização bioquímica que levam à ativação de vários fatores de transcrição. Esses fatores induzem a expressão de genes que codificam proteases lisossomais e enzimas que estimulam a síntese de espécie reativa de oxigênio e óxido nítrico, potentes destruidores de microrganismos. O resultado da ativação mediada pelo CD40 e IFN‑γ é que macrófagos se tornam fortemente microbicidas e podem destruir a maioria dos microrganismos ingeridos. Esta via de ativação dos macrófagos pelo CD40L e IFN‑γ é chamada de ativação clássica de macrófagos, em contraste à ativação alternativa de macrófagos, mediada por Th2 e discutida posteriormente. Classicamente, macrófagos ativados, frequentemente chamados de macrófagos M1, também secretam citocinas que estimulam a inflamação e aumentam a expressão de moléculas de MHC e coestimulação, o que amplifica a resposta da célula T. As células T CD8+ também secretam IFN‑γ e podem contribuir para ativação de macrófagos e matar os microrganismos ingeridos. FIGURA 66 Ativação de macrófagos por linfócitos Th1. Os linfócitos T efetores do subgrupo Th1 reconhecem os antígenos de microrganismos ingeridos em macrófagos. Em resposta a esse reconhecimento, os linfócitos T expressam CD40L, que engaja CD40 nos macrófagos, e as células T secretam interferonγ (IFNγ), que se liga a receptores para IFNγ nos macrófagos. Essa combinação de sinais ativa os macrófagos a produzir substâncias microbicidas que matam os microrganismos ingeridos. Os macrófagos ativados também secretam fator de necrose tumoral (TNF), interleucina1 (IL1) e quimiocinas, as quais induzem inflamação, e IL12, que promove respostas do Th1. Esses macrófagos támbem expressam mais moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) e coestimuladores, que aumentam as respostas das células T. A, A ilustração mostra uma célula T CD4+ reconhecendo peptídeos associados ao MHC classe II e ativando os macrófagos. B, A tabela resume as respostas dos macrófagos e seu papel na imunidade mediada por células. Em roedores, o IFN‑γ produzido por células Th1 ou por células T auxiliares foliculares (T�) estimula a produção de anticorpos IgG, o que promove a fagocitose de microrganismos, porque esses anticorpos se ligam direto a receptor Fc do fagócito e ativam o complemento, gerando produtos que ligam ao receptor do complemento no fagócito (Cap. 8). Assim, anticorpos dependentes de IFN‑γ e a ativação clássica de macrófagos trabalham juntos na defesa do hospedeiro, mediada porfagócito. O papel crítico das células Th1 em defesa contra microrganismos intracelulares é o motivo pelo qual indivíduos com defeitos hereditários no desenvolvimento ou função desses subgrupos são suscetíveis a infecções por tais microrganismos, especialmente micobactéria atípica normalmente inofensiva (não tuberculosa). Essencialmente a mesma reação, consistindo em recrutamento de leucócito e ativação, pode ser provocada pela injeção de uma proteína microbiana na pele de um indivíduo que tenha sido imunizado contra os microrganismos por infecção prévia ou vacinação. Esta reação é chamada de hipersensibilidade do tipo retardada (DTH; do inglês, delayed type hypersensitivity) e é descrita no Capítulo 11 quando, ao discutirmos reações imunes prejudiciais. Desenvolvimento das Células Th1 A diferença de células T CD4+ para células efetoras Th1 é regida por uma combinação das citocinas IL‑2 e IFN‑γ (Fig. 6‑7, A). Em resposta a muitas bactérias (especialmente bactéria intracelular) e vírus, células dentríticas e macrófagos produzem IL‑12 e células NK (natural killers) produzindo IFN‑γ. Quando a célula T imatura reconhece os antígenos desses microrganismos, as células T são expostas a IL‑12 e IFN‑γ. IFN tipo 1, produzidos em resposta a infecções virais, também promovem diferenciação de Th1. FIGURA 67 Desenvolvimento de células Th1, Th2, e Th17 efetoras. As células dendríticas e outras células do sistema imunológico que respondem aos diferentes tipos de microrganismos secretam citocinas que induzem o desenvolvimento de células T CD4+ ativadas por antígenos em subgrupos Th1 (A), Th2 (B), e Th17. Os fatores de transcrição envolvidos na diferenciação de células T são indicados nos boxes dentro das células ativadas por antígeno Essas citocinas ativam fatores de transcrição (chamado T‑bet, Stat4 e Stat1) que promovem a diferenciação das células T para os subgrupos Th1. O IFN‑γ não apenas ativa macrófagos para matar microrganismos, mas também promove mais desenvolvimento de Th1 e inibe o desenvolvimento de Th2 e células Th17. Assim, o IFN‑γ cada vez mais polariza a resposta para o subgrupo Th1. Células Th2 As células Th2 são induzidas em infecções causadas por vermes parasitas e promovem a destruição desses parasitas mediada por IgE, mastócitos e eosinófilos (Fig. 6‑8). As citocinas Th2 características (IL‑4, IL‑5, e IL‑13) funcionam cooperativamente em erradicar vermes. Os helmintos são grandes demais para serem fagocitados; assim, outros mecanismos, além de ativação de macrófagos, são necessários para a destruição desses vermes. Quando células Th2 e T� relacionadas encontram o antígeno de helmintos, as células T secretam suas citocinas. A IL‑4 produzida por células T� estimula a produção de anticorpos IgE, que revestem os helmintos. Os eosinófilos usam seus receptores Fc para ligar a IgE e são ativados por IL‑5 produzida pelas células Th2, bem como pelos sinais dos receptores Fc. Os eosinófilos ativados liberam o conteúdo de seus grânulos, que são tóxicos para parasitas. A IL‑13 estimula a secreção de muco e a peristalse do intestino, aumentando a expulsão do parasita do intestino. A IgE também reveste mastócitos e é responsável pela ativação dos mastócitos; o papel dessa reação no hospedeiro não está clara. FIGURA 68 Funções de células Th2. As células Th2 produzem as citocinas interleucina4 (IL4), IL5 e IL13. IL4 (e IL13) atuam sobre as células B para estimular a produção de anticorpos IgE, que se ligam aos mastócitos. A ajuda para produção de anticorpo pode ser fornecida por células Tfh que produzem citocinas Th2 e residem em órgãos linfoides, e não por células Th2 clássicas. A IL5 ativa os eosinófilos, uma resposta que é importante na destruição de helmintos. APC, célula apresentadora de antígeno; Ig, imunoglobulina; IL, interleucina. As citocinas Th2 inibem a ativação clássica de macrófagos e estimulam a via alternativa da ativação de macrófagos (Fig. 6‑9). IL‑4 e IL‑3 desligam a ativação de macrófagos inflamatórios, finalizando essas reações potencialmente prejudiciais. Essas citocinas também podem ativar macrófagos para secretar fatores de crescimento que agem sobre fibroblastos para aumentar a síntese de colágeno e induzir fibrose. Esse tipo de resposta de macrófago é chamado de ativação alternativa de macrófago, para distingui‑la da ativação clássica, que aumenta funções microbicidas. A ativação alternativa do macrófago é mediada por citocinas Th2 que podem desempenhar um papel no reparo de tecidos após lesão e podem contribuir para fibroses em uma variedade de doenças. Macrófagos alternativamente ativados são também chamados de macrófagos M2. FIGURA 69 Ativação clássica e alternativa dos macrófagos. Macrófagos classicamente ativados (M1) são induzidos por produtos microbianos que se ligam a TLR e citocinas, particularmente interferony (IFNγ), e são microbicidas e próinflamatórios. Macrófagos alternativamente ativados (M2) são induzidos por interleucina4 (IL4) e IL13 (produzidos por determinados subconjuntos de linfócitos T e outros leucócitos) e são importantes na reparação de tecidos e fibrose. NO, óxido nítrico; ROS, espécies reativas de oxigênio; TGFβ, fator de crescimento transformante β. Células Th2 estão envolvidas em reações alérgicas para antígenos ambientais. Os antígenos que provocam tais reações são chamados alérgenos. Eles induzem respostas Th2 em indivíduos geralmente suscetíveis, e a exposição repetida aos alérgenos desencadeia ativação de mastócitos e eosinófilos. As alergias são os tipos mais comuns de distúrbio imune; retornaremos a abordar essas doenças no Capítulo 11, ao discutir reações de hipersensibilidade. Antagonistas e IL‑13 são efetivos em tratamento de pacientes com asma severa que tiveram forte resposta a Th2, e agentes que bloqueiam receptores IL‑4 ou a citocina IL‑5 estão sendo testados em asma e outros transtornos alérgicos. A ativação relativa de células Th1 e Th2 em resposta à infecção de microrganismos pode determinar os resultados da infecção (Fig. 6‑10). Por exemplo, o protozoário parasita Leishmania major vive dentro de macrófagos, e sua eliminação requer a ativação de macrófagos por células Th1 específica para L. major. Camundongos isogênicos desenvolvem resposta Th1 efetiva ao parasita e são, portanto, capazes de erradicar a infecção. Em algumas linhagens isogênicas, no entanto, a resposta a L. major é dominada pelas células Th2, e esses camundongos sucumbem. Mycobacterim leprae, a bactéria que causa hanseníase, é um patógeno de humanos que também sobrevive dentro de macrófagos e pode ser eliminado por mecanismo imune mediado por células. Algumas pessoas infectadas com M. leprae são incapazes de erradicar a infecção, que, se deixada sem tratamento, progredirá para a forma destrutiva da infecção, chamada hanseníase lepromatosa. Em contraste, em outros pacientes, a bactéria induz forte resposta imune mediada por células com a ativação de células T e macrófagos em volta do local da infecção e poucos microrganismos sobreviventes; esta forma menos danosa de infecção é chamada de hanseníase tuberculoide. A forma tuberculoide é associada à ativação de células Th1 específica para M. leprae; enquanto a forma lepromatosa destrutiva está associada a um defeito na ativação da célula Th1 e às vezes a uma forte resposta Th2. O mesmo princípio – de que a resposta de citocinas de células T a um patógeno infeccioso é um determinante importante do resultado da infecção – pode ser verdade para outras doenças infecciosas. FIGURA 610 Equilíbrio entre a ativação de células Th1 e Th2 determina o resultado de infecções intracelulares. Linfócitos T CD4+ imaturos podem diferenciarse em células Th1, que ativam os fagócitos para matar microrganismos ingeridos, e células Th2, as