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1 Daniela dos Santos Domingues Marino Metodologia de ensino de literatura em língua portuguesa e inglesa no Ensino Fundamental e Ensino Médio 2 AULA 7 Narrativas e mídias Diversos tipos de leitura Como vimos previamente, com a expansão do conceito de leitura e de sua função social, é possível crer que a capacidade de ler deve ir além da decodificação de símbolos, certo? Isso significa dizer que um bom leitor é aquele que consegue interpretar e compreender o texto que lhe é apresentado, independentemente de esse texto ser escrito, afinal, aprendemos que textos, sentidos, significados, estão impressos em diversos meios, mídias e artes ainda que de forma implícita. 3 Assim, a leitura de uma imagem e a compreensão do que ela representa depende não apenas do sentido da visão, mas de um repertório prévio ou de uma mediação, uma explicação que tem como base um texto. Da mesma maneira que uma sequência de imagens em uma história em quadrinhos, ainda que muda, depende de um roteiro prévio. Ou seja, a leitura transcende o texto escrito, no entanto, a literatura não. Ainda que a literatura possa estabelecer relações intertextuais com diversas mídias, como o cinema, as artes plásticas, os quadrinhos, o teatro, a fotografia, cada arte é uma arte em si mesma. Creative Bloq:https://br.pinterest.com/pin/406309197612469334/ Uma adaptação do Alienista ou de Romeu e Julieta para as histórias em quadrinhos ou para o cinema não é uma versão facilitada de suas obras originárias. Quadrinhos são quadrinhos, com seus quadros, requadros, balões e estrutura específica. Da mesma forma que o cinema. Mas, entendendo a falta de interesse que certas obras podem gerar em nossos alunos e o apelo que outras mídias oferecem para os jovens, trabalhar a intertextualidade de obras clássicas a partir de dessas mídias, pode ser uma opção para conferir maior diversidade às nossas aulas, gerando maior engajamento entre os alunos 4 “Você está dirigindo o carro enquanto ouve um áudiolivro e é interrompido por uma ligação no celular. Ou você está em casa, sentado numa poltrona, com o romance que acabou de comprar, enquanto na televisão ligada à espera do noticiário passam um anúncio sobre as novas funções do iPod. Você se levanta e vai até o computador para ver se compreende essas novidades que não estão mais nas enciclopédias de papel e, de repente, percebe quantas vezes, mesmo para procurar dados sobre outros séculos, recorre a esses novos patrimônios da humanidade que se chamam Google e Yahoo.” (Leitores, espectadores e internautas, Nestor Canclini, 2007) Ainda que tenhamos nossas ressalvas sobre os dispositivos eletrônicos, não podemos ignorar que o tempo que crianças e adolescentes passam diante das telas de seus celulares, tablets ou computadores é significativo e geralmente superior à quantidade indicada por pediatras e especialistas em desenvolvimento infantil e juvenil. Isso significa que ou os professores se aliam às novas tecnologias, ou estarão fadados a também se tornarem obsoletos. O ensino EAD é a prova de que é preciso repensar o valor que damos ao livro impresso, mesmo que ele não possa ser substituído em sua função social e cognitiva por outras mídias, pois cada vez mais passamos mais tempo conectados. Ou seja, precisamos oferecer maneiras mais atrativas de engajar nossos alunos em discussões provenientes de diversos tipos de leitura. 5 Isso não significa que devemos substituir os livros indicados. Significa apenas que além de oferecermos outras obras que dialoguem com os livros obrigatórios, nós devemos oferecer obras em outras mídias para ampliar os horizontes e o repertório dos alunos. Por exemplo, se o romantismo brasileiro foi marcado por uma perspectiva irrealista do processo de colonização, valorizando o índio como herói, quais discussões poderiam surgir se a história fosse contada na perspectiva do índio, por autores indígenas (povos originários). E se Casa Grande e Senzala e a Cabana do pai Tomás, que são livros que abordam a escravidão, fossem lidos após a leitura de obras como os quadrinhos Angola Janga e Cumbe, de Marcelo d’Salete, ganhador de vários prêmios nacionais e internacionais e a HQ Carolina de Jesus? 6 Maus é uma das histórias em quadrinhos mais frequentes em eventos acadêmicos de histórias em quadrinhos (sim, o estudo acadêmico de HQ existe há mais de 30 anos com eventos importantes todos os anos, em diversas universidades do mundo). Ganhadora do prêmio Pulitzer, um dos mais importantes prêmios jornalísticos do planeta, a história narra eventos do Holocausto na perspectiva do autor, Art Spiegelman, a partir dos depoimentos de seu pai, que é um sobrevivente. Com personagens retratados como animais, onde os judeus são ratos, os horrores dos campos de concentração são apresentados ao leitor de forma dramática, indicando que esse tipo de obra não se parece em nada com uma leitura facilitada ou infantil. Maus 7 Também ganhadora de diversos prêmios, Persépolis e Bordados, ambas da quadrinista iraniana Marjani Satrapi, ilustra a vida das mulheres iranianas após a revolução que resultou na ascensão do aiatolá Khomeini, transformando o país em uma república teocrática fundamentalista que subjugava as mulheres e previa uma série de medidas extremistas em nome da religião. Persépolis e Bordados Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=tVLhJwxRdsA https://www.youtube.com/watch?v=tVLhJwxRdsA 8 O universo da cultura pop está repleto de obras derivadas de grandes compêndios filosóficos, cânones literários, tratados de sociologia...Artigos e teses acadêmicas sobre a relação dessas obras com produções cinematográficas são facilmente encontradas em sites de busca como o Google acadêmico, anais de eventos de literatura e sites de cultura pop. Se munir desse conhecimento pode ser o grande diferencial entre uma aula monótona e uma aula divertida com muito aprendizado. Para isso, é importante que além dos materiais norteadores da prática docente, os professores tenham entre seus arquivos e livros, materiais que relacionem as obras obrigatórias com as produções de cultura pop e outras mídias para que as discussões e reflexões realizadas possam ser enriquecidas. Filmes, vídeos, RPG, música
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