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TCC - LEI MARIA DA PENHA

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS
BÁRBARA MARCELA DE VILLIO ARAUJO
LEI MARIA DA PENHA
UM ESTUDO SOBRE OS MECANISMOS DE PROTEÇÃO À MULHER EM
SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
SÃO PAULO
2022
BÁRBARA MARCELA DE VILLIO ARAUJO
LEI MARIA DA PENHA
UM ESTUDO SOBRE OS MECANISMOS DE PROTEÇÃO À MULHER EM
SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência
parcial para a obtenção de título de Graduação do Curso de
Direito da Universidade São Judas.
Orientador: Prof. Dr. Cristian Kiefer
SÃO PAULO
2022
BÁRBARA MARCELA DE VILLIO ARAUJO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência
parcial para a obtenção de título de Graduação do Curso de
Direito da Universidade São Judas.
Orientador: Prof. Dr. Cristian Kiefer
Aprovado em:
Prof. Me
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS
Prof. Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS
Prof. Me
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo elucidar e analisar a aplicabilidade das
medidas protetivas prevista na Lei Maria da Penha, seja em sociedade ou no
ordenamento jurídico, também visa analisar a efetividade da lei diante dos
números da violência no Brasil, bem como o crescente índice de violência de
gênero que assola o país. Inicialmente, será apresentado um breve histórico de
como se originou a lei e alguns dos princípios constitucionais aplicáveis aos casos
de violência, buscando estudar a mulher e a violência no contexto sociológico.
Tendo como objetivo identificar se realmente existe uma eficácia contra a
violência doméstica na Lei nº 11.340/06, bem como abordar o caso emblemático
de Maria da Penha e por fim, os procedimentos das medidas a serem realizadas à
vítima. O artigo, ainda, aprofunda-se nas medidas protetivas, visando apresentar
a conceituação e aplicação. A metodologia aconteceu, principalmente, na
pesquisa bibliográfica, desenvolvida a partir da consulta dos mais variados títulos
da área das ciências jurídicas, psicológicas e sociológicas, textos legais, dados
quantitativos e análise de situações reais.
Palavras-chave: Medidas Protetivas. Lei Maria da Penha. Agressão.
ABSTRACT
This article aims to elucidate and analyze the applicability of the protective
measures provided for in the Maria da Penha Law, whether in society or in the
legal system, it also aims to analyze the effectiveness of the law in the face of the
numbers of violence in Brazil, as well as the growing rate of gender violence that
plagues the country. Initially, a brief history of how the law originated and some of
the constitutional principles applicable to cases of violence will be presented,
seeking to study women and violence in a sociological context. Aiming to identify if
there really is an effectiveness against domestic violence in Law nº 11.340/06, as
well as to address the emblematic case of Maria da Penha and finally, the
procedures of the measures to be carried out to the victim. The article also
deepens on protective measures, aiming to present the conceptualization and
application. The methodology took place, mainly, in the bibliographical research,
developed from the consultation of the most varied titles in the area of legal,
psychological and sociological sciences, legal texts, quantitative data and analysis
of real situations.
Keywords: Protective Measures. Maria da Penha Law. Aggression.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Ocorrências Registradas no mês: Junho de 2022
Figura 2 Ocorrências Registradas no mês: Julho de 2022
Figura 3 Ocorrências Registradas no mês: Agosto de 2022
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 8
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 9
2.1.Breve Histórico da Lei Maria da Penha 11
3. LEI MARIA DA PENHA 17
3.1 As contribuições e os desafios existentes
no enfrentamento da violência contra a Mulher no Brasil 17
4. MOTIVOS E RESULTADOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 21
5. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA 23
6. OS DIREITOS E GARANTIAS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 32
7. DADOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO ESTADO DE SÃO PAULO 36
8. A EFETIVIDADE DAS MEDIDAS PROTETIVAS 41
9. MELHORIAS PARA APLICAÇÃO DA MEDIDA PROTETIVA 42
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS 44
8
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, observou-se que a violência contra a mulher - seja ela
psicológica, moral ou física - ainda atinge diversas mulheres, o que leva à
desigualdade em relação ao agressor, pois elas se sentem amedrontadas e
subordinadas ao homem, presas em uma relação que na maioria das vezes não
relatam os abusos sofridos pois não possuem condições para se auto sustentar
ou pedir a separação.
É verdade que existe uma lacuna entre a lei e a vida. E mudar a maneira
como as pessoas pensam está se tornando mais difícil do que mudar a lei. Muitas
coisas precisam ser mudadas, mas há um anseio e, mais do que isso, uma
necessidade de mudar as relações assimétricas entre mulheres e homens,
acreditando que essas mudanças podem nos levar à igualdade, liberdade e
autossuficiência tão saudáveis para a humanidade.
Para entender a violência doméstica no contexto sociocultural, é
necessário analisar sob a ótica física e psicológica dessa violência, da mesma
forma, é importante conhecer o perfil da vítima nesses casos. Do ponto de vista
social, a violência contra a mulher não diz respeito ao ato, mas ao comportamento
das pessoas envolvidas e sua adequação aos modelos sociais de homens e
mulheres.
A Lei Maria da Penha, em seu artigo 7º, enumera as formas de
manifestação da violência de forma genérica, permitindo ao operador interpretá-la
de forma aberta, enunciativa, pois são mencionadas no dispositivo devido à
expressão “entre outras, "sempre favorecendo a mulher. Com base nisso, é
possível constatar que a violência doméstica existe em diversos contextos,
embora não seja utilizada pela legislação um rol taxativo.
Existem vários tipos de violência, incluindo violência física, psicológica,
sexual, patrimonial e moral. Em decorrência disso, são necessárias medidas
protetivas para punir o agressor, inclusive isolando-o da vítima e do lar, proibindo
qualquer contato com a vítima por qualquer meio de comunicação e garantindo
que ela possa sair de casa com seus direitos intactos. Analisar-se-á Analisar-se-á
9
a ineficácia dessas medidas protetivas e o medo constante que a vítima carrega
consigo.
A Lei Maria da Penha possui diversos artigos dedicados às medidas
protetivas, cujo objetivo é garantir às mulheres o direito a uma vida livre de
violência.
As medidas protetivas de urgência são aquelas que buscam garantir que
uma mulher possa agir livremente ao decidir se busca ou não a proteção do
Estado, ao mesmo tempo em que limita sua capacidade de processar seu
suposto agressor.
No entanto, é necessária a aprovação da autoridade para conduta que
caracterize violência contra a mulher ou grave ameaça à mulher.
Devido ao aumento da violência contra a mulher, pode-se considerar um
avanço significativo, embora deva-se observar que os direitos das mulheres nem
sempre foram plenamente concretizados. Na atualidade existe a premissa de que
a rapidez na ação do Estado diminuirá a vulnerabilidade da mulher.
Desta forma, o trabalho possui como escopo demonstrar a aplicabilidade e
a efetividade das medidas protetivas de urgência como mecanismo de proteção
às mulheres que sofrem violência doméstica dentro do âmbito familiar.
 2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Para tanto, é fundamental demonstrar os aspectos históricos da violência
contra a mulher nos ordenamentos jurídicos brasileiros, tendo em vista que desde
os primórdios a mulher é vista socialmente através de lentes patriarcais.
Nesse sentido, segundo Essy (2017, p. 45), no início do século XVI,
Portugal havia acabado de descobrir o Brasil e tinha um forte desejo de tomar
posse das terras e colonizá-las antes que outros países tentassem fazê-lo, bem
como para expandir os domínios da cristandade. Os portugueses não mostraram
interesse em se estabelecer aqui, preferindo explorar territórios desconhecidos,
enriquecer e voltarpara a Europa. Até então, a agricultura não era uma prioridade
10
para os exploradores, pois necessitaria de um grande investimento na fixação
das terras As ocupações de Portugal com posses fora da América, assim como
a frustração imediata com o dinheiro fácil no Brasil, não resultaram em maior
interesse do corte.
Complementa o autor, que afirma que em decorrência da valorização do
açúcar na Europa, foram necessários portugueses no Brasil para a produção de
lavouras de grande porte e, consequentemente, de latifúndios. Em decorrência
dessa necessidade, surgiram os primeiros engenheiros, com a fixação dos
portugueses no litoral, inaugurando uma sociedade patriarcal no Brasil.
É óbvio que a figura do patriarca da família era bastante dominante na
sociedade, e a mulher, de certa forma, tornava-se completamente submissa ao
homem, tanto emocional quanto financeiramente.
O pater famílias tinha autoridade absoluta sobre o filho, fosse púbere ou
não, fosse casado ou não, e tinha o poder de deserdá-lo. Para casar, fazer
negócios, conseguir emprego, ocupar cargos públicos ou exercer qualquer outro
direito cívico, o filho precisava da aprovação do pai. Após a morte do pai, o filho
só se tornou inteiramente Romano, 'pai de família'(ARIÈS, Philippe e DUBY,
Georges. Op. Cit., p. 38.):
Assim, o pater famílias passou a exercer poder sobre a vida e a
morte de seus descendentes (ius vitae ac necis), conforme reconhecido
pela XII Tábuas (540-451 a.C.). TSUTSUI (2013).
Ressalte-se que na legislação brasileira, até recentemente, o homem ainda
era considerado o chefe da família, exercendo o mesmo domínio sobre a esposa
e os filhos. Assim, o patriarcado funcionou como um mecanismo neutralizador e,
consequentemente, de abusos sobre à exploração feminina, o que se reflete na
atual estrutura social em que a subordinação feminina aos homens pode ser vista
como costume e tradição em alguns casos.
Examine se, ainda que na época, um homem ainda podia manter a esposa
e os filhos em um cárcere particular. Os conventos, por exemplo, abrigavam
pessoas do sexo feminino que desejavam viver uma vida religiosa sem terem que
11
se submeter a um voto solo, como no caso das Freiras, transformando-se em
uma espécie de prisão para mulheres que votavam contra as regras patriarcais.
Como resultado, pode-se argumentar que a figura feminina foi
constantemente reprimida pela ideologia da sociedade. Essas crenças foram
institucionalizadas e protegidas por lei, legitimando assim o domínio do homem
sobre a mulher, visto como essencial para a preservação da família e
funcionamento da sociedade. A moral, principalmente no que se refere aos
aspectos sexuais, era permissiva ao sexo masculino e repressiva ao sexo
feminino, vinculando a honestidade ao comportamento sexual.
Inicialmente, qualquer ato da mulher era considerado uma violação das
normas sociais, e a violência era justificada como forma efetiva de punição. É
possível perceber como a figura feminina foi construída por meio de estratégias
de discurso de poder. Nesse sentido, a lei foi extremamente importante para
moldar comportamentos e decretar medidas punitivas contra as mulheres. O
Brasil declara independência de Portugal e estabelece suas próprias leis com a
Proclamação da Independência em 1822. O Código Penal de 1830 manteve as
injustiças e desigualdades existentes nas Ordenações Filipinas, em especial as
de gênero, assim, sendo lícito ao marido castigar sua esposa quando em defesa
de sua honra. (LOPES, 2011, p. 266).
Como resultado, o ciclo de violência começa com o silêncio, seguido de
indiferença. Em seguida, começam os castigos e punições. Além disso, a vítima
busca justificativas para o comportamento do agressor.
Dessa forma, fica claro que a evolução histórica da violência contra a
mulher tem ligação direta com uma sociedade patriarcal em que o homem era o
centro do poder e a mulher e os filhos eram subservientes. Como resultado, a
referida questão está ligada às percepções culturais da sociedade brasileira.
 2.1.Breve Histórico da Lei Maria da Penha
É hábito das vítimas de violência doméstica não denunciar seus
agressores às autoridades competentes. Foi por uma questão de direito e
injustiça que Maria da Penha Fernandes lutou e, de certa forma, revolucionou o
12
ordenamento jurídico brasileiro em busca de proteção. Com isso, após cansar-se
das contínuas agressões do ex-companheiro, o colombiano Marco Antônio
Heredia Viveiros, a farmacêutica decidiu denunciá-lo à polícia.
Porém, enquanto dormia, foi alvejada por tiros disparados pelo marido,
que, para frustrar a tentativa de homicídio, armou um atentado contra sua casa,
simulando um assalto.
Sob essa premissa, Maria da Penha passou por várias cirurgias e sofreu
uma paraplegia irreversível em decorrência dos tiros que a acertaram. Ao voltar
para casa, ela se torna vítima de mais uma tentativa de assassinato. Enquanto
tomava banho, seu ex-esposo tentou eletrocutá-la e a manteve em cárcere em
sua própria casa. (GALINA, 2009, p.26).
Assim, após o ocorrido, por meio da ajuda dos familiares, Maria então
conseguiu autorização judicial para o abandono do lar conjugal em companhia
das filhas menores no mês de outubro do ano de 1983.
Conforme Fonseca (2010, p. 45) no início de 1984, Maria da Penha dá seu
primeiro depoimento à polícia, seguido de apresentação penal pelo Ministério
Público no mês de setembro. Apenas em outubro de 1986 que a juíza aceita a
denúncia, e em maio de 1991, Heredia vai a Júri Popular, sendo condenado a
quinze anos de prisão. A defesa do agressor impetrou recursos, o Tribunal de
Justiça do Ceará rejeitou um dos recursos e em abril de 1995 solicitou novo
julgamento. Em maio, o Tribunal de Alçada Criminal do Ceará anulou o primeiro
julgamento argumentando que as perguntas aos jurados foram mal formuladas.
Em março de 1996 ocorreu novo julgamento, onde foi condenado a dez anos e
seis meses de prisão. Ocasião na qual a defesa impetrou novamente recurso,
mesmo sendo a medida intempestiva. Ainda assim, o Tribunal de Alçada acolheu
o recurso que alegava que o réu fora julgado a despeito das provas dos autos,
anulando o segundo julgamento. A impunidade de seu malfeitor fez com que a
vítima procurasse justiça em outros órgãos de competência legítima e, em
setembro de 1997, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos (OEA) recebeu a petição sobre o caso.
13
Em agosto de 1999, o Centro para a Justiça e o Direito Internacional e o
Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher
pedem à OEA - Organização dos Estados Americanos, que aceite as denúncias
contra o Brasil e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.
Segundo o autor, a Comissão da OEA aprovou o relatório do caso no mês
de outubro de 2000, e não houve protesto do governo brasileiro. A OEA enviou o
relatório ao Brasil em março do ano seguinte, com prazo final de 30 dias para
publicação.
Com isso, as denúncias são aceitas e o relatório torna-se público, exigindo
providências do governo brasileiro. Uma nova audiência sobre o caso é realizada
na OEA, e o governo finalmente apresenta suas considerações. Entretanto, Marco
Antônio Heredia Viveiros foi preso apenas 15 dias após a segunda reunião da
OEA, em setembro de 2002. Nesse sentido, surge a necessidade de
exemplificação histórica da Lei Maria da Penha (Lei nº 11. 340/2006). Desde
1999, muitas propostas legislativas foram introduzidas no legislativo brasileiro,
abordando a violência doméstica de várias maneiras, incluindo a definição de
instituições básicas, a tipificação da conduta como criminosa, o afastamento
cautelar do agressor, entre outros.
O primeiro foi o Projeto Lei nº 905/1999, que visava principalmente definir
instituições fundamentais como tipos de violência (psicológica, familiar, etc.) e
classificar diversas condutas criminosas. Além disso, trouxe à tona outras
questões processuais, como a representação da vítimapara o prosseguimento da
ação penal.
No entanto, por violar os princípios fundamentais do devido processo legal,
esse projeto foi considerado inconstitucional. Segue-se o Projeto nº 1.439/1999,
que foi apresentado como anexo ao documento anterior, quase idêntico, tentando
apenas sanar a referida inconsistência.
Como resultado, foi apresentado o Projeto Lei nº 2.372/2000, que dispõe
sobre o afastamento cautelar do agressor conjugal. No entanto, foi integralmente
vetado pelo Presidente da República. Além disso, no ano de 2000, foi
14
apresentado o Projeto nº 3.901/2000, posteriormente transformado na Lei nº
10.455/2002, que submete a violência doméstica à jurisdição dos Juizados
Especiais Criminais.
Desta forma, refira-se que se procedeu à substituição da exceção à regra
da não imposição da prisão em flagrante e da fiança pela possibilidade de se
determinar judicialmente o afastamento do lar conjugal nos casos de violência
doméstica. Além disso, em 2002, houve um Projeto de Lei que visava alterar o
artigo 129 do Código Penal Brasileiro, impondo pena mais severa para lesões
corporais cometidas por cônjuge ou companheiro; esse foi o Projeto de Lei nº
6.760/2002.
Por enquanto, apenas no Projeto Lei nº 4.559/2004, que viria a ser
convertido na Lei nº 11.340/2006, conhecida como "Lei Maria da Penha", em
homenagem à luta dessa mulher, não convencida com a impunidade do
ex-companheiro, houve a previsão do crime de violência doméstica contra a
mulher previsto no ordenamento jurídico brasileiro.
Além disso, por decisão do Fórum Nacional de Educação em Direitos
Humanos - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (online, 2006a, s/p),
não havia menção à violência doméstica na legislação do país até 2004. O
Código Penal, de 1940, em seu artigo 61, considerava tão-somente como
circunstâncias agravantes da pena o fato de que o delito fosse cometido contra
"ascendente, descendente, irmãos ou cônjuges; com abuso de autoridade ou
prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade
(inciso II, letra f) e contra criança, velho, enfermo ou mulher grávida”. O Código
especifica, no artigo 226, inciso II, que a pena é aumentada de um quarto na
categoria de infrações alfandegárias, que inclui espionagem.
Complementando o assunto, com base no decidido no Fórum Nacional de
Educação em Direitos Humanos - Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres (online, 2006a, s/p), até 2004, não havia previsão do crime de violência
doméstica na legislação do país. O Código Penal, de 1940, em seu artigo 61,
considerava tão-somente como circunstâncias agravantes da pena o fato de o
crime ter sido cometido contra “ascendente, descendente, irmãos ou cônjuges;
15
com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade (inciso II, letra f) e contra criança, velho, enfermo
ou mulher grávida”. Na categoria de crimes contra os costumes, os crimes
sexuais, inclusive o estupro, são definidos pelo Código, que dispõe em seu artigo
226, inciso II, que a pena é aumentada de quarta parte "se o agente for
ascendente, pai adotivo, irmão, tutor ou curador, preceptor ou empregador da
vítima ou por qualquer outro tipo tem autoridade sobre ela.”
Assim, a Lei Maria da Penha foi instituída em 2006 pelo então presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, como uma oportunidade de homenagear Maria da
Penha Maia Fernandes. Ao perceber que esse tributo era justo, ela lutou por 20
(vinte) anos para proteger seu direito de responsabilizar seu malfeitor pelos danos
causados à ela. A mulher que deu nome a essa lei é uma biofarmacêutica que se
tornou uma das muitas vítimas de violência doméstica.
Ela foi vítima de duas tentativas de homicídio pelo marido, um colombiano
naturalizado brasileiro chamado Marco Antônio Heredia Viveiros, professor
universitário e economista. Na primeira delas, ela levou um tiro de espingarda
desferido pelo companheiro, enquanto dormia, e em razão disso ficou
paraplégica, tendo o cônjuge relatado à polícia que a casa teria sido invadida por
assaltantes.
Após o ocorrido, a vítima resolveu retornar ao convívio de seu cônjuge, a
fim de não perder a guarda das filhas. Durante esse período ela vivia em cárcere
privado e acabou sofrendo novo atentado contra a vida, já que ele danificou um
secador de cabelos, pretendendo que ela morresse vítima pela descarga elétrica
produzida pelo objeto.
É possível acreditar que a violência vivida por Maria da Penha não tenha
ocorrido de súbito,; ao contrário, ela foi constantemente intimidada, ameaçada,
degradada e humilhada, permanecendo imóvel por temer represálias e os efeitos
de suas ações contra ela e suas três filhas, que também sofreram agressões.
Nesse ponto, somente após a tentativa de homicídio é que a vítima decidiu
denunciar seu agressor. Maria então se separou do marido e saiu de casa, apesar
de ter uma ordem judicial e o apoio de familiares. De acordo com os fatos, as
tentativas de assassinato foram forjadas porque o perpetrador persuadiu a
16
vítima a vender um carro e esperava que ela fizesse um seguro de vida,
contemplando-o como beneficiário. Além disso, diversos fatos foram fundamentais
para a confirmação da culpa do autor do crime, como o depoimento de
funcionários do do casal, que revelaram o comportamento agressivo do acusado
e a descoberta da espingarda utilizada no crime.
Nesse ínterim, Maria da Penha acabou descobrindo que seu esposo era
casado na Colômbia, possuindo mulher e filho, além de já ter se envolvido em
práticas criminosas.
Entretanto, após a denúncia, como inúmeras de mulheres agredidas, ela
enfrentou o primeiro obstáculo, seu agressor ainda estava em liberdade 15 anos
após os fatos e os tribunais brasileiros não se posicionaram a respeito do
ocorrido.
O ofensor, enfim, foi julgado e condenado pelo tribunal do Júri a cumprir 8
anos de pena privativa de liberdade. Contudo, tal julgamento foi anulado em sede
recursal e em novo julgamento, o réu sofreu outra condenação, dessa vez de 10
anos e 6 meses, sendo preso quase 20 anos após a ocorrência dos fatos.
Tal caso paradigmático retomou as discussões sobre a temática da
violência doméstica, sendo intensificada em 1984 quando Maria da Penha iniciou
sua luta por justiça nos tribunais brasileiros.
Como resultado, fica evidente a demora do governo brasileiro em dar uma
resposta efetiva aos temores das vítimas. Maria da Penha decidiu escrever um
livro sobre seu caso e as contradições do depoimento do agressor em resposta
ao pronunciamento judicial. Esse livro, chamou a atenção de diversas
organizações, entre elas o Centro Internacional de Justiça e Direitos Humanos
(CEJIL) e o Comitê Latino-Americano e do Caribe de Defesa dos Direitos da
Mulher (CLADEM), que denunciaram o Brasil perante a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da OEA Direitos.
Esta organização desempenha um papel significativo na investigação de
violações de direitos fundamentais. A violação dos seguintes artigos: 1º
(Obrigação de Respeitar os Direitos), art. 8º (Garantias Judiciais), 24º (Igualdade
17
Perante a Lei) e 25º (Proteção Judicial), todos os quais fazem parte da
Convenção Americana, bem como o art. 46, II, letra c, que dispõe que recursos
podem ser recebidos ainda que não estiverem findos os recursos internos aos
tribunais nacionais, devendo-se comprovar a mora injustificada na decisão deles.
Além disso, foram consagrados na Declaração Americana de Direitos e
Deveres Humanos, nos artigos 2º e 18 da Declaração, e na Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
(Convenção de Belém do Pará), nos artigos 3º e 4 (alíneas de a à g), 5º e 7º.
A entidade solicitou diversas vezes ao governo brasileiro informações
sobre o caso, mas não obteve resposta. Nesse caso, era preciso que um órgão
internacional pressionasse e responsabilizasse o país para que fossem tomadas
medidas para atenuar o problema da violência doméstica.
Esse fatofoi crítico na aprovação da Lei 11.340/2006, uma vez que o Brasil
foi sancionado por não promulgar, como uma das recomendações da Comissão, a
legislação específica para proteger e atender vítimas de violência doméstica.
Por isso, essa determinação foi fundamental para a promulgação da lei 25
anos depois dos atentados a Maria da Penha, em cumprimento a convenções e
tratados que o País era signatário.Dessa forma, diante da prevalência de
agressões à mulher e da inércia do Estado, a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos sancionou o país com o intuito de decretar medidas para
acabar com a violência.
Após a punição, o Estado brasileiro foi pressionado pelos órgãos
internacionais a cumprir os tratados que assinou, de forma a implementar
medidas para erradicar a violência doméstica e familiar contra a mulher.
Diante disso, as ONG 's (Organizações Não Governamentais), e
porta-vozes da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, confeccionaram o
texto do projeto de lei, contendo políticas públicas, medidas de proteção para as
ofendidas e sanções aos ofensores.
Essa proposta, de nº 4.559, foi aprovada pela Câmara e pelo Senado antes
de ser enviada ao Congresso Nacional. O projeto foi sancionado em 7 de agosto
18
de 2006, dando origem à Lei 11.340/2006, que estabeleceu um sistema de
enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher.
 3. LEI MARIA DA PENHA
 3.1 As contribuições e os desafios existentes no enfrentamento da violência
contra a Mulher no Brasil
A Lei Maria da Penha é resultado de anos de trabalho e luta de inúmeras
mulheres do Brasil e do mundo. Teve um impacto significativo na Convenção de
Belém do Pará e na Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Contra a Mulher. O desenvolvimento do seu texto
ocorreu ao longo de uma discussão prolongada. Uma coalizão de ONGs
feministas fez a primeira proposta, posteriormente revisada por um grupo de
trabalho interministerial sob a direção da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Pode-se dizer que uma das novidades da lei para o âmbito nacional foi a
forma como tratou o tema em suas particularidades, como a compreensão das
relações de poder entre os sexos.
Além disso, ela propõe ações para acabar com a violência contra a mulher,
proteger e apoiar as vítimas e punir os agressores.Um fato fascinante é que a Lei
Maria da Penha ganhou popularidade entre as mulheres porque, de acordo com
um estudo do Datasenado de 2013, "99% das mulheres no país já ouviram
mulheres discutindo sobre a Lei, e isso vale para todas as plataformas de mídia
social". Mulheres de todas as idades, níveis socioeconômicos e raças sabem da
existência da lei destinada a prevenir a violência doméstica e familiar (BRASIL,
2013, p. 2).
No campo da prevenção, a Lei Maria da Penha, prevê a cooperação entre
o Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública, além das áreas de
educação, assistência social, saúde, trabalho, segurança pública e habitação. A
lei também incentiva a promoção de estudos e pesquisas de gênero, o
desenvolvimento profissional dos envolvidos, o desenvolvimento de campanhas
educativas e preventivas, bem como a inclusão de aulas sobre violência contra a
mulher nos currículos escolares.
19
A lei introduziu a possibilidade de uma mulher solicitar medidas protetivas
imediatas quando se trata de proteção. Essas medidas podem ser solicitadas na
própria delegacia e a autoridade judiciária terá o prazo máximo de 48 horas para
analisar e conceder ou não o pedido; elas podem se referir ao agressor (proibir
sua aproximação da vítima, restrição de visitas aos dependentes menores, entre
outras), ou também à ofendida e seus bens como separação de corpos,
encaminhamento dela e seus dependentes ao programa oficial ou comunitário de
proteção ou atendimento, restituição de bens indevidamente subtraídos entre
outras medidas cabíveis..
Ainda no campo protetivo, a Lei proíbe que a mulher dê advertências ou
notificação ao agressor, estabelece a possibilidade de prisão em flagrante ou
preventiva e torna obrigatória a prestação de assistência jurídica às vítimas.
Acerca das ações propostas pela lei que visam a proteção das mulheres,
um dos policiais entrevistado pela pesquisa de Meneghel et al. (2013) relata que
depois da lei, nós temos a prerrogativa e obrigação, quando a vítima solicita esse
acompanhamento, de acompanhar até o local para garantir sua segurança e
retirar seus pertences da casa, até ela ter uma solução definitiva, que passa pela
justiça, através das medidas protetivas solicitadas no plantão mesmo, até o
afastamento do cidadão, do companheiro de casa. Isso a gente faz e tá previsto
na lei, era uma das resoluções que antes da Lei Maria da Penha não se tinha, e
eu acho que isso é bem positivo. (operador policial 2), (MENEGHEL et al., 2013,
p. 694).
Em relação ao atendimento que o Estado deve às mulheres vítimas de
violência, a referida Lei prevê novas ações integradas às políticas de assistência
social, saúde, segurança pública e emprego. Dessa forma, o juiz decidirá se as
mulheres podem participar de programas assistenciais, por exemplo. A mulher
também terá acesso a todos os serviços de saúde que necessitar, incluindo
contracepção de emergência e tratamento para profilaxia de AIDS e DSTs.
No que diz respeito à punição do agressor, um ponto que ilustra essa
mudança de paradigma é o fato de que, de acordo com a Lei 9.099/95, os casos
de ofensas físicas e ameaças contra a mulher não podem ser tratados
judicialmente; ou seja, deixaram de ser consideradas infrações de baixo potencial
20
e não podem ser punidas apenas com multa pecuniária). Antes de Maria da
Penha, as situações de violência contra a mulher eram julgadas de acordo com a
Lei 9.099/95 e grande parte dos casos era considerada crime de menor potencial
ofensivo, cuja pena ia até dois anos e os casos eram encaminhados aos Juizados
Especiais Criminais (JECRIM).
Desse ponto de vista, é possível compreender que a violência resulta da
falta de equilíbrio de poder, o que leva a relações baseadas na dominação. Além
disso, é preciso reconhecer que existem várias formas de violência. Além disso, a
Lei 11.340/2006 lista várias categorias de violência e elenca no artigo 7º no
decorrer dos incisos de I a V diversas categorias de agressões.
Um dos mecanismos de proteção a violência prevista na Lei Maria da
Penha são as medidas protetivas. Nos dizeres de Lavigne e Perlingeiro (2011, p.
291):
“Trata-se de mecanismo legal destinado a gerar procedimentos judiciais,
políticas e serviços especializados, particularmente no âmbito do sistema de
justiça, operando em rede, com perspectiva interdisciplinar e foco na mulher
usuária do sistema”.
Como resultado, fica claro que as medidas protetivas são um esforço
coordenado entre os poderes legislativo, judiciário e executivo, voltado para a
proteção das mulheres. Seguindo esse entendimento, deve-se entender que nem
sempre as medidas protetivas decorrem do cometimento de algum crime.
A violência doméstica, e não o crime, é o que justifica o uso de tais
medidas. Assim, a ideia de violência doméstica é totalmente dissociada de uma
ofensa criminal, permitindo que tanto a polícia quanto o magistrado imponham
sanções. A lei também deu aos juízes mais liberdade para agir por iniciativa
própria, em vez de apenas cumprir as medidas protetivas solicitadas pela vítima
ou pelo ministério público.
Uma vez constatado que as medidas protetivas não se relacionam
diretamente com a esfera judicial, torna-se possível à autoridade policial e ao
magistrado individual atuar com grande liberdade, prestando maior assessoria à
21
vítima. As medidas protetivas são apresentadas nos artigos 18 a 24 da Lei
11.340/2006.
A distância entre a vítima e o local de convívio e a proibição de
determinados comportamentos, como a proximidade e o contato, através de
qualquer meio de comunicação com a vítima e a sua família, estabelecendo uma
distânciamínima entre estes e o agressor, são inovações que se destacam
através da Lei Maria da Penha.
Outra inovação do ponto de vista jurídico, é a proposta de criação de
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, os quais devem ter
competência cível e criminal. A vantagem desse modelo de Juizado é agilizar e
tratar os casos dentro de suas complexidades, bem como reduzir a chamada rota
crítica da mulher vítima de violência (PARIZOTTO, 2016, p. 71).
A importância desse hibridismo decorre do fato de que, muitas vezes, os
aspectos construtivos são mais determinantes para garantir a interrupção do ciclo
da violência contra a mulher do que a própria punição do agressor.
 
 4. MOTIVOS E RESULTADOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
É possível perceber como os comportamentos tanto dos infratores quanto
das vítimas são fortemente influenciados por fatores históricos e culturais. Como
resultado, o homem foi treinado para ser superior fazendo uso de sua resistência
física e psicológica, enquanto a mulher foi preparada para ser submissa e
reprimida.
Essas concepções sociais, que estabelecem o papel dos gêneros
masculino e feminino, influenciam diretamente cada um deles ao atuarem nos
papéis de agressor e vítima. Mas este é apenas um dos vários fatores que
contribuem para a disseminação da violência doméstica e familiar contra a
mulher. Dessa forma, torna-se necessário entender a causa raiz do problema,
bem como os resultados, a fim de fortalecer as políticas públicas nesse sentido e
adotar medidas com o objetivo de eliminar ou pelo menos reduzir
22
significativamente essa forma de agressão. Estudos sugerem que uma parcela
significativa das crianças que sofrem violência se tornam agressores. Como
resultado, famílias desestruturadas e cercadas por conflitos tendem a produzir
comportamentos agressivos em crianças e adolescentes. Perceba que esse é um
ciclo vicioso, com crianças e adolescentes se transformando em adultos violentos
que potencializam situações de agressividade.
Assim, quando os homens testemunham violência doméstica contra suas
mães quando crianças ou quando eles próprios se tornam vítimas de ataques, é
provável que continuem disseminando esses comportamentos. As diferenças de
personalidade são outro fator que deve ser levado em consideração. Homens que
lutam para se ajustar a situações hostis, exibindo atitudes desequilibradas e
implacáveis, além de serem emocionalmente instáveis, impulsivos e teimosos,
são mais propensos a serem agressores.
Dessa forma, diante de uma cena imprevisível longe afastado de seus
arbítrios, expressam seus desapontamentos por meio da violência, esses traços
de personalidade são indicadores de um agressor em potencial; isto é, eles não
significam necessariamente que todos os que os possuem se comportam da
mesma maneira.
Para determinar quais são as causas da violência doméstica no país, um
estudo de 2017 realizado pelo Senado Federal retrata a realidade da violência
doméstica e familiar no Brasil. De acordo com esse estudo, entre os fatores que
levaram às agressões, 24% das mulheres apontaram a culpa pelo uso de álcool,
19% apontam que foram por causa de brigas e discussões, e o ciúmes apareceu
em 16% dos relatos.
Além disso, o uso de drogas contou com 5% (BRASIL;2017). Ressalta-se
que o ciúmes, pode ser conceituado como um sentimento de ira, sendo uma
sensação de domínio do agressor sobre a ofendida.
Assim, percebe-se que a construção social do homem opressor e
autoritário, não ficou alocada no passado. Nota-se que o ciúme pode se fazer
presente em situações banais, como a implicância com a vestimenta feminina,
com o relacionamento com outros indivíduos e até mesmo com os filhos e animais
23
domésticos. Ademais, o alcoolismo é um dilema frequente nas famílias brasileiras
e predispõe a violência. Como resultado, o agressor se torna mais agressivo e
capaz de agir de maneiras que normalmente não faria se estivesse sóbrio. O uso
de álcool frequentemente está associado ao uso de outras substâncias, muitas
vezes ilícitas como drogas, sendo este outro fator que favorece a violência.
Da mesma forma, outro fator que dificulta a separação da vítima e do
agressor é a necessidade das mulheres de apoio social de seus familiares e
amigos, bem como a confiança de que algo pode ser feito para acabar com essa
violência.
Quando uma mulher pensa em se separar de seu parceiro, os agressores
frequentemente ameaçam sua vida. Como você pode ver, os homens também
costumam usar ameaças de morte como meio de capturar suas parceiras. Eles
usam o medo para impedir que a mulher rompa o contato com ele e, sobretudo, a
criação de um novo relacionamento afetivo. Para tentar mudar essa realidade, a
mulher deve abrir mão não apenas de seus sentimentos, mas também de sua
força de vontade. Como resultado, ela começa a desenvolver uma autopercepção
negativa de incapacidade, inutilidade e baixa auto-estima devido à perda de seu
próprio valor e amor-próprio.
Diante dos argumentos apresentados, é surpreendente que as mulheres na
situação atual, apesar de terem muito mais conhecimento sobre seus direitos e
proteções, continuem se submetendo a relacionamentos abusivos por anos a fio e
só os parem quando não há outra opção. Além disso, deve-se ter em mente que a
cultura brasileira ainda é bastante machista.
 5. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
A novidade trazida pela Lei 11.340/06 tenha sido a previsão das chamadas
medidas protetivas de urgências, que são medidas de natureza cautelar
destinadas à realização dos procedimentos inadiáveis na busca da tutela dos
direitos da mulher em situação de violência (Batista, 2007, p. 8, apud Bernardes e
Costa, 2016, p. 86).
24
As medidas protetivas podem ser vistas como ferramentas que garantem
que a mulher em situação de violência possa agir livremente contra seu agressor
quando ela optar por buscar assistência, seja esta assistência em nível estadual
ou especificamente judicial. Para que essas medidas sejam concedidas, precisa
ser constatado a prática que se caracteriza como violência contra a mulher, sendo
realizada no âmbito das relações familiares ou domésticas do agressor e vítima.
A criação das medidas protetivas de urgência é uma das previsões mais
importantes da Lei Maria da Penha, visando garantir a integridade física, moral,
psicológica e material da mulher que se encontra em situação de violência, e
oferta condições mínimas para a busca da intervenção jurisdicional frente às
agressões sofridas pelas vítimas.
O pedido da vítima, deve ser encaminhado aos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher e quando estes não existirem, após a vítima
realizar seu registro em um boletim de ocorrência o mesmo deverá ser
direcionado para a vara criminal.
Tendo por finalidade proteger as vítimas de violência doméstica e familiar e
punir os agressores com base na gravidade dos seus atos, estas medidas são de
extrema importância para o respeito e garantia dos objetivos desta norma. É
importante ressaltar que essas medidas foram desenvolvidas com o intuito de
proporcionar que a vítima possa prosseguir com a ação penal, bem como a
garantia de sua integridade física e psíquica para que ela possa continuar
vivendo sua vida como antes do crime, vivenciando a violência. Com isso,
entendemos que medidas protetivas podem ser requeridas tanto pela ofendida
quanto pelo Ministério Público.
De acordo com o parágrafo anterior, o artigo 18 da Lei 11.340/06 determina
que o juiz deve apreciar o pedido de medidas de urgência no prazo de 48 horas,
decidir pelo seu deferimento, encaminhar a ofendida para assistência judicial e,
quando necessário e acionar o Ministério Público para implementar as medidas
apropriadas.
Em grande parte dos casos de agressão, a vítima mostra-se satisfeita com
o resultado obtido pelo deferimento da medida protetiva, mostrando desinteresse
para prosseguir com o processo criminal. Como ocorre também sendo uma
25
hipótese menos comum,quando a vítima não tem interesse nas medidas
protetivas, apenas em prosseguir com a ação penal. Alguns dispositivos da Lei
Maria da Penha geraram mecanismos punitivos mesmo sem a criação de novos
tipos penais.
No artigo 129, §9º do Código Penal tem-se a qualificadora para o crime de
lesão corporal ocorrido no âmbito da violência doméstica e familiar, o que fez com
que ocorresse o aumento da pena em abstrato. A lei 11.340/2006, no seu artigo
20 previu a possibilidade da prisão preventiva ao agressor.
A Lei Maria da Penha estabelece medidas rigorosas de proteção e
afastamento para as vítimas de agressão e punições severas para os agressores,
servindo como ferramenta útil no combate à violência doméstica e familiar e
garantindo a integridade física e psicológica das vítimas em perigo.
Entre elas estão as medidas protetivas urgentes listadas no segundo
capítulo da lei. Nesta seção, a lei introduz mecanismos de atendimento às
mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, inclusive com o apoio social e
psicológico. No inciso II do referido capítulo, a lei estabelece medidas que
obrigam o agressor em relação à vítima. Essas medidas são usadas para
proteger a integridade física e psicológica das mulheres em risco. Essas medidas
obrigam o agressor a abster-se de comportamentos que representem ameaça à
vítima, entre eles, a separação da residência comum e a proibição de abordagem
da vítima ou de qualquer membro da suas famílias.
As medidas protetivas possibilitam às mulheres em situação de violência,
uma resposta mais rápida, protegendo a sua integridade física e psíquica e
garantindo o direito da permanência em seu lar no momento que o agressor é
afastado do convívio com a vítima. No momento em que a mulher vítima de
qualquer tipo de violência doméstica comparece a uma delegacia para realizar um
boletim de ocorrência, compete à mesma informar o seu desejo por alguma
medida protetiva contra o seu agressor, nos casos em que a medida é solicitada,
a autoridade policial terá que encaminhar o pedido ao juiz dentro de 48 hs, onde o
juiz terá o mesmo período para responder se acata ou não o pedido da medida
protetiva.
26
É necessário que existam semelhanças entre o depoimento da vítima e o
dos demais depoentes antes que medidas protetivas possam ser concedidas. Só
então o magistrado poderá reconhecer o “fumus bonis iuris”, ou seja, o direito da
vítima de requerer a concessão de medidas protetivas. No caso de “periculum in
mora'', que denota o perigo de atraso, pode resultar em lesões por retardar o uso
de medidas preventivas.(CAVALCANTE; RESENDE, 2014, p. 127). Foram criadas
as Medidas Protetivas de Urgência, previstas nos artigos 12, 18, 19 e 22 a 24 da
Lei 11.340/06.
Assim que uma mulher registra um boletim de ocorrência informando que
foi vítima de violência doméstica de qualquer tipo, autoridade policial é obrigada a
perguntar se a vítima está interessada no deferimento de algumas das medidas
protetivas previstas em lei, como o, afastamento do lar, proibição de aproximação,
de contato e de frequência a determinados lugares, restrição ao direito de visita
de menores e prestação de alimentos provisionais (art. 22). A vítima faz o pedido
por escrito na delegacia, sem a necessidade de um advogado, e esta deverá
encaminhar ao juiz em até 48 horas, acompanhado de cópia do boletim de
ocorrência e do depoimento da mulher.
Da mesma forma, o juiz deve decidir sobre o deferimento dos pedidos no
prazo de 48 horas. Esse procedimento possibilita ao juiz responder rapidamente
(em até 96 horas) a uma situação de urgência que uma mulher vítima de violência
esteja vivenciando, a fim de resguardar sua integridade física e moral. As medidas
protetivas da Lei Maria da Penha começam com o afastamento do agressor, ao
convívio da vítima e domicílio, não poderá existir nenhum contato do agressor
com a vítima, o limite mínimo de distância entre o agressor e a vítima é fixado, o
mesmo é restrito de visitar os dependentes menores e tem a obrigação do
pagamento de pensão alimentícia provisional.
A aplicação das medidas protetivas acaba gerando mais transtornos para
as vítimas, uma vez que estas não são garantias reais e concretas de que as
agressões não voltem a acontecer. Antes da Lei Maria da Penha entrar em vigor,
os casos de agressão e violência doméstica eram abordados nos juizados
especiais onde a pena aplicada ao agressor era a prestação de serviços à
27
comunidade e o pagamento de cestas básicas. Sendo assim, o agressor voltava
para casa com a sensação de impunidade, onde acabava repetindo atos
violentos por acreditar que não seria punido. E não havia como separar o
agressor da proximidade da vítima e do lar. Com a entrada em vigor da Lei
13.641/18, uma nova modalidade penal – prisão em flagrante por
descumprimento de medidas protetivas decretadas pelo tribunal – passa a
integrar a Lei 11.340/06 a partir de hoje. Desta forma, inclui-se o Artigo 24-A:
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de
urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº
13.641, de 2018)
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal
do juiz que deferiu as medidas. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial
poderá conceder fiança. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções
cabíveis. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
A alteração trazida pela Lei 13.641/18 inserida na Lei 11.340/06 possibilitou
a prisão de quem agredir mulher no âmbito doméstico ou familiar e que possua
medida cautelar em desfavor. Esses agressores não devem mais ser punidos com
penas alternativas. É possível que com essa garantia, o autor da violência
doméstica através do uso da proteção legal fornecida, reduza a probabilidade de
futuras agressões, protegendo assim a integridade física e emocional da vítima. A
autora Bianchini afirma que:
A retirada do agressor do interior do lar, ou a proibição de que lá adentre,
além de auxiliar no combate e na prevenção da violência doméstica,
pode encurtar a distância entre a vítima e a Justiça. O risco de que a
agressão seja potencializada após a denúncia diminui quando se
providencia para que o agressor deixe a residência em comum ou fique
sem acesso franqueado a ela.” (BIANCHINI, 2013, p. 167).
Existe uma dificuldade na aplicação e fiscalização das medidas protetivas
28
quando se refere à conferência da eficácia das determinações judiciais, pois é
visto que muitas vezes é impossível a aplicação de tais dispositivos na íntegra,
devido a muitos fatores que favorecem para que as medidas não sejam
consolidadas.
O fato de que as vítimas frequentemente retornam e entram em conflito
com seu agressor torna as medidas ineficazes. Assim, a culpa pela ineficácia das
medidas raramente recai sobre o poder judiciário, mas, em muitos casos, sobre a
vítima que opta por desistir da representação, o que resulta na revisão das
medidas pela autoridade que as estabeleceu, neste caso, o juiz.
No que se trata de punições da Lei Maria da Penha, os artigos 17, 20 e 41
a 45 mesmo sendo fundamentais, ainda se mostram pouco atuantes
especialmente em função da retratação da representação que é oferecida pelas
vítimas na maior parte dos casos das ações públicas condicionadas. Muitas
vítimas buscam a justiça e a polícia para interferir no conflito familiar, mas o que
muitas almejam não é a condenação ou punição do seu agressor, e sim que
essas instituições resolvam a conflitualidade intrafamiliar travada com o agressor.
As medidas protetivas para as vítimas de violência doméstica e familiar
podem ser decididas pelo juiz competente, ou mesmo pela autoridade policial. O
Ministério Público também tem esse dever, pois trata-se de um serviço de
segurança pública, mesmo sendo na esfera administrativa.Normalmente, a polícia solicita medidas de proteção usando um
documento padrão. No entanto, esse documento varia conforme é solicitado a
uma delegacia geral ou a uma delegacia da DEAM (Delegacia Especializada em
Atendimento Feminino). A concessão da medida poderá ser concedida ou
indeferida, e muitas são indeferidas por não haver informações suficientes para
analisar as demandas, o que aponta para uma fragilidade na formulação das
medidas.Para as autoras dessa pesquisa, o Poder Judiciário adota uma postura
protelatória devido ignorar o caráter de urgência da medida e por sua vez
sobrecarregar as vítimas com um ônus de argumentação.
29
Para Paula Lavigne e Perlingeiro (2011, p. 294), a partir do momento em
que o Ministério Público tivesse o conhecimento da decisão, de casos de
indeferimento por falta de informações, ele poderia intervir ocasionando a
produção de provas, podendo desonerar a vítima desse encargo e garantir, de
forma mais ágil, a obtenção de uma resposta eficaz a todas as medidas
solicitadas. O momento da comunicação da vítima de violência ao agente policial
é considerado crítico, pois a vítima se encontra fragilizada mediante aquela
situação.No entanto, como este é o ponto de partida para uma possível ação
judicial contra o agressor, é fundamental que a mulher se sinta segura para
continuar relatando o incidente. Ainda que a DEAM siga os mesmos trâmites
burocráticos das demais delegacias, a atendida receberá atendimento
especializado e será acolhida neste momento difícil porque, apesar de vulnerável,
ainda é responsabilizada por boa parte da população .
Se faz necessário que na delegacia especializada, existam policiais
capacitados para atender a mulher vítima de violência, pois a mesma pode não
ter discernimento suficiente para identificar a gravidade da violência sofrida e
cabe à autoridade policial, averiguar a necessidade da solicitação ou não da
medida protetiva.
Essas medidas protetivas trazem a proteção da mulher, mas também a
garantia de que ela pode circular livremente e sem medo, de ter uma vida plena e
digna longe de seu agressor, sentindo-se amparada. Nos casos em que a vida da
mulher está em perigo iminente, são tomadas medidas protetivas urgentes para
proteger a integridade física e psicológica da mulher diante de seu ambiente
doméstico e familiar.
De acordo com Dias (2015, p. 78) “deter o agressor e garantir a segurança
pessoal e patrimonial da vítima e de sua prole está a cargo tanto da polícia como
do juiz, e do próprio Ministério Público''. Todos precisam agir de imediato e de
modo eficiente”.
É sabido que todos que testemunham violência devem agir imediatamente.
Diante dessas condutas, a autoridade policial terá mais condições de atuar no
momento em que for identificada a violência doméstica e familiar da mulher (e de
30
seus filhos).
As medidas protetivas são uma continuação desta lei e permitem que a
mulher elabore o pedido, que conduz ao juizado de violência doméstica e deve
ser aprovado em até 48 horas.Conforme indica o artigo 18 da Lei n° 11.340/2006:
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao
juiz, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas:
Conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de
urgência;
Determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência
judiciária,
quando for o caso; Comunicar ao Ministério Público para que adote as
providências cabíveis. (BRASIL, 2006, s/p)
Assim, somaram-se medidas para garantir o acesso das mulheres às
garantias, à medida que os índices de criminalidade aumentavam de um lugar
para outro. De acordo com o disposto na Lei nº 11.340/2006, às vítimas de
violência doméstica ou familiar têm direito a medidas protetivas de urgência que
visam garantir sua segurança e a segurança de seus familiares. Encontra-se no
artigo 19, §1°, §2º e §3°, da Lei n° 11.340/2006 sobre quem tem legitimidade ativa
para propor a medida protetiva, conforme a seguir:
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo
juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§1º - As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de
imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação
do Ministério Público,
devendo este ser prontamente comunicado.
§2º - As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por
outras de maior eficácia, sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.
§3º - Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da
ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever
aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida,
de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério
Público.(BRASIL, 2006, s/p)
31
Como resultado, é evidente que este artigo amplia ainda mais a
flexibilização das medidas protetivas emergenciais. Quanto à questão principal, é
possível que o oferecimento seja dirigido ao magistrado. Cunha e Pinto (2012, p.
18) reconhecem que dada a urgência da situação, que obriga à adoção de
medidas protetivas imediatas à vítima, é possível que a própria vítima se
aproxime do juiz, outorgando os seus direitos. Nos termos do artigo 20 da Lei
Maria da Penha (Lei nº 11.340 de 2006):
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal,
caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a
requerimento do Ministério Público ou mediante representação da
autoridade policial.
É claro que as circunstâncias específicas de cada caso determinam se o
agressor será preso ou não e lá permanecerá após a audiência de custódia. No
entanto, nem sempre as medidas protetivas são seguidas de acordo com as
ordens judiciais. Quando isso ocorre, o juiz tem a opção de solicitar o auxílio das
autoridades para garantir que seja efetivamente cumprido. De acordo com o
disposto no artigo 20 da Lei Maria da Penha, o juiz ainda poderá decretar a prisão
preventiva do acusado. Isso porque a Lei introduziu a possibilidade dessa
modalidade de prisão se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, conforme disposto no inciso IV do artigo 313 do Código Penal Brasileiro.
Ao estabelecer o artigo 22 da Lei Maria da Penha, o legislador procurou
evitar a surpresa do infrator e a falta de oportunidade de defesa, principalmente
quando a ordem de submissão do infrator era casual. Para tanto, nesse contexto,
reza o artigo 22, in verbis:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao
32
agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas
protetivas de urgência, entre outras:
- Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22
de dezembro de 2003;
- Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida; III - proibição de
determinadas condutas, entre as quais:
- Aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,
fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor;
- Contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por
qualquer meio de
comunicação;
- Frequentação de determinados lugares a fim de preservar a
integridade física e
psicológica da ofendida;
- Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores,
ouvida a equipe de
atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
- Prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§1º - As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de
outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da
ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a
providência ser comunicada ao Ministério Público.
§2º - Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor
nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no
10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará aorespectivo
órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência
concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o
superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da
determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação
ou de
desobediência, conforme o caso.
§3º - Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência,
poderá o juiz requisitar, a
a qualquer momento, auxílio da força policial.
§4º - Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o
disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).(BRASIL, 2006, s/p)
Para atendê-la com a maior brevidade possível, a Polícia Judiciária deve
estar preparada para fazer todos os possíveis para lhe prestar um rápido
atendimento médico. Inquestionavelmente, uma consideração jurídica crucial é
33
exigir que a polícia judiciária informe a vítima sobre seus direitos para que, na
prática, a proteção seja realmente efetiva.
Assim, atender uma mulher vítima de violência implica ceder um nível
absoluto de proteção que inclui recursos humanos especializados além da
infraestrutura física da polícia.
É bem conhecida a responsabilidade da autoridade policial em informar e
instruir a ofendida sobre seus direitos e serviços disponíveis. Desta forma, as
autoridades policiais devem alertar a população para a existência da rede de
serviços de apoio, pois muitas mulheres desconhecem seus direitos e obrigações
legais.
6. OS DIREITOS E GARANTIAS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988
O ordenamento jurídico brasileiro, prevê na Constituição Federal de 1988,
em seu artigo 5º, caput, sobre o princípio constitucional da igualdade, perante a
lei, nos seguintes termos:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes. (BRASIL, 1988, s/p).
O princípio da igualdade da Constituição Federal de 1988 pode ser
observado, por exemplo, no artigo 4º, inciso VIII, que dispõe sobre a igualdade
racial; do artigo 5º, I, que trata da igualdade entre os sexos; do artigo 5º, inciso
VIII, que versa sobre a igualdade de credo religioso; do artigo 5º, inciso XXXVIII,
que trata da igualdade jurisdicional; do artigo 7º, inciso XXXII, que versa sobre a
igualdade trabalhista; do artigo 14, que dispõe sobre a igualdade política ou ainda
do artigo 150, inciso III, que disciplina a igualdade tributária.
Como resultado, conclui-se que o princípio da igualdade
constitucionalmente garantido opera em dois níveis distintos. De uma parte, frente
34
ao legislador ou o poder executivo, respectivamente, na elaboração de leis, atos
normativos e medidas provisórias, impedindo que possam criar tratamentos
abusivamente diferenciados a pessoas que se encontram em situação idêntica.
No ensinamento de Moraes (2016, p. 64) “em outro plano, na
obrigatoriedade ao intérprete, basicamente, a autoridade pública, de aplicar a lei e
atos normativos de maneira igualitária, sem estabelecimento de diferenciações
em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça e classe
social”.
Com isso, o legislador não poderá alterar leis que violem o princípio da
igualdade, sob pena de ofender flagrantemente a Constituição. O referido instituto
pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de
forma desigual, dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades
(NERY JUNIOR, 2009, p. 42).
O princípio da igualdade entre os gêneros, estabelece que os direitos e
obrigações relacionados com a sociedade matrimonial são exercidos igualmente
por homens e mulheres, garantindo assim o princípio da igualdade de gênero no
âmbito da família. Retrata-se o princípio da isonomia, onde a Constituição Federal
iguala homens e mulheres em deveres e direitos perante a sociedade. Auxiliando
a reflexão sobre desigualdade Iamamoto (2011, p. 27), debate sobre questão
social salienta que:
“Questão social apreendida como o conjunto das expressões das
desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz
comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se
mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos
mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.”
No entanto, a desigualdade está ligada à impunidade, que se sobrepõe a
uma justiça falha. Dessa forma, a Constituição Federal de 1988 concede à mulher
a liberdade e a preferência que ela merece desde já nas primeiras leis que
incorporam seus direitos individuais e coletivos.
Além disso, a Constituição Federal da República Federativa do Brasil
35
introduziu dispositivos eficazes para desfazer estereótipos e fortalecer garantias.
Junto com o já mencionado enriquecimento, a Constituição favorece a valorização
da participação da mulher em qualquer tipo de circunstância. Além disso, a
Constituição de 1998 marcou uma vitória contundente para os esforços do
movimento feminista, somando-se às vitórias já conquistadas pelas mulheres
brasileiras no passado.
Segundo Barsterd (2001, p. 35, seguindo PIOVESAN, 2014, p. 134), o
movimento feminista foi “crítico para o processo de mudança legislativa,
dissecando as disparidades, propondo políticas públicas e lutando para atuar
sempre ao lado do poder legislativo. " Como se sabe, desde meados da década
de 1970, o movimento feminista brasileiro tem lutado pela igualdade de direitos
entre homens e mulheres, iluminando os conceitos de direitos humanos e
trabalhando para eliminar todas as formas de discriminação, tanto nas leis quanto
nas práticas sociais. Na verdade, a participação do movimento organizado de
mulheres na elaboração da Constituição Federal de 1988 abriu caminho para a
aquisição de vários novos direitos e obrigações, entre eles o direito ao voto.
Como já se sabe, leis anteriores já faziam referência à isonomia; no
entanto, essas leis apenas abordavam a igualdade perante a lei e não abordavam
as várias formas de discriminação de gênero existentes na sociedade.
Juntamente com as disposições anteriormente mencionadas, a
Constituição de 1988 garante no artigo 226, §5º que homens e mulheres têm
direitos e obrigações iguais no que diz respeito à sociedade conjugal. Isso reforça
a importância do princípio da igualdade entre os sexos.
Nota-se que o princpio constitucional de igualdade, exposto no artigo 5º da
Constituição Federal de 1988, é considerado uma norma de eficácia plena, desta
forma garantindo a todos, indistintamente, independentemente de raça, cor, sexo,
classe social, situação econômica, orientação sexual, convicções políticas e
religiosas, igual tratamento perante a lei.
Nesse sentido, a Constituição Federal e a lei podem fazer distinções e
conceder tratamento diferenciado de acordo com critérios de valoração justos e
razoáveis que visem à igualdade de tratamento entre todas as partes.É evidente
36
que a igualdade de tratamento entre homens e mulheres prevista no inciso I, do
art. 5º da Constituição Federal de 1988 veda o uso do sexo como fundamento de
discriminação com o intuito de denegrir qualquer um dos gêneros; ao contrário,
pode e deve ser usado para diminuir as disparidades sociais, políticas,
econômicas, culturais e legais entre os sexos que existem na sociedade moderna.
A participação das mulheres no processo constitutivo teve um impacto
significativo na história política e jurídica do país. Com o slogan "Constitui pra
valer tem que ter palavra de mulher", o Conselho Nacional dos Direitos Humanos
da Mulher, em 1985, Mulher fundou e divulgou a campanha Mulher e Constituinte,
que gerou inúmeras discussões entre mulheres de todo o país e levou à criação
da Carta da Mulher Brasileira aos Constituintes, apresentada ao CongressoNacional em 26 de agosto.Dessa forma, a Constituição modernizou-se
satisfatoriamente no que diz respeito à igualdade de gênero e ao reconhecimento
que é imprescindível para a ascensão da mulher na sociedade. No entanto, não
se pode dizer que houve mudanças nas atuais práticas discriminatórias que se
observam na sociedade brasileira. Diante dessas formas opressoras e
persistentes, é possível argumentar que, dentre os princípios delineados no texto
constitucional, o mais importante é o princípio da igualdade, que consta do artigo
5º da lei pertinente.
Sob esse princípio, todos são iguais perante a lei, independentemente de
quaisquer distinções de qualquer natureza.
Nesse sentido, Aires (2017, p.10) compreende que a atual Constituição
Federal, promulgada em 1988, amparou a maior reforma já ocorrida no Direito de
Família.
A Constituição Brasileira de 1988 é o marco jurídico de uma nova
concepção da igualdade entre homens e mulheres, reflexo da transformação
social que tomou a sociedade a partir da segunda metade do século XX e ainda
não cessou. A inovação da constituição, diferente das demais anteriores, se dá
quando o texto legal consagra a igualdade não apenas no plano de direitos, como
no plano de deveres. O artigo 5º preconiza que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
37
estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, assegurando ainda no seu inciso
primeiro que homens e mulheres são iguais em direito.
O autor destaca ainda que outra inovação na área do direito à
licença-maternidade é a extensão de 84 (oitenta e quatro) para 120 (cento e vinte)
dias, o que evita a perda do vínculo empregatício e redução salarial. Essas
garantias foram estendidas também aos trabalhadores domésticos, avulsos e
rurais.
Dias comenta (2015, p. 100) que três eixos nortearam uma grande
reviravolta nos aspectos jurídicos da família; a já supracitada igualdade de todos
perante a lei enfatizando no sentido de direitos e obrigações (inc. I do art. 5º); os
direitos e
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher (§ 5º do art. 226); e por fim no preâmbulo da Constituição, a
afirmação do direito à igualdade e estabelecimento como objetivo fundamental do
Estado de promover o bem de todos, sem preconceito de sexo.
Com isso, a Constituição Federal de 1988 serve como um marco legal
contra a discriminação da família contemporânea, que assume diversas formas.
Assim, a política criminal extrapenal é orientada para uma máxima intervenção
voltada para os objetivos preventivos, aumentando a criminalização das condutas
e a severidade das penas impostas.
7. DADOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO ESTADO DE SÃO PAULO
Dados de 2022 revelam que a cada meia hora uma mulher procura
atendimento na cidade de São Paulo. Como uma grande parte desses casos
nunca chegam a ser denunciados, isso sugere que a quantidade real de vítimas
seja maior .
Para 85% dos paulistanos, a violência doméstica aumentou no último ano.
Sabemos que diante do vastos casos tão como violência doméstico ou até outros
tipos de violência como:
38
I - violência física. Conduta que ofende a integridade ou saúde corporal;
II - violência psicológica.
III - violência sexual.
IV - violência patrimonial.
V - violência moral.
Temos suporte para denúncias como rede de proteção à mulher, sendo a
maior do país, capaz de atender a população dando direção e apoio para a vítima,
vemos que em São Paulo temos todo esse suporte porém a questão é a vítima ir
atrás para buscar acolhimento.
Claudia Carletto secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania,
explica que:
“A violência contra a mulher, infelizmente, ainda é uma realidade
extremamente marcante. É por isso que a Prefeitura de São Paulo é
parte de uma rede de enfrentamento, junto com o Ministério Público,
Tribunal de Justiça, Defensoria e com a Secretaria da Segurança
Pública. Nós somos a porta de entrada para a garantia desse direito”
Contamos também com a casa da mulher brasileira (CMB), casa que
abrigam vítimas com o intuito de acolher e ter proteção e prevenção contra a
violência doméstica para que não piore os caso, fornecendo alojamentos
provisórios 24 horas por dia, além de ter toda assistência e direcionamentos para
a vítima. Abaixo segue Quadros Estatísticos referente aos Índices de violência
contra mulher no Estado de São Paulo:
39
FIGURA 1 - Dados Junho 2022
40
FIGURA 2 - Dados Julho 2022
41
FIGURA 3 - Dados Agosto de 2022
42
 8. A EFETIVIDADE DAS MEDIDAS PROTETIVAS
A atuação do Estado ao instituir a Lei 11.340/2006 de proteção às vítimas
de violência doméstica disseminou a sensação de segurança entre as agredidas,
diminuindo a relutância e o medo de se assumirem diante de situações de
agressão. De acordo com as medidas protetivas de urgência, essas têm caráter
essencial e devem ser adotadas no prazo de 48 horas, sem necessidade de
consulta prévia entre as partes ou notificação pública, nos termos do artigo 19 da
Lei Maria da Penha.
A intenção do legislador ao redigir esse conjunto de medidas protetivas foi
atender as mulheres vitimadas por qualquer tipo de violência. Assim, as medidas
foram aplicadas de acordo com os hábitos que são utilizados com frequência na
prática de agressões. No entanto, existem lacunas nas medidas de proteção que
os impedem de trabalhar em todo o seu potencial. Dessa forma, elas não
conseguem proteger completamente as vítimas de violência, após a sua
concessão.
Existe uma lacuna profissional e de humanização em relação às questões
de gênero. Muitas mulheres se ofendem com a forma como são tratadas em
espaços públicos, onde deveriam ter sido protegidas e protegidas.
A autora Tavares (2015, p.553) afirma que outras dificuldades surgem na
perspectiva do atendimento às mulheres vítimas de violência. A primeira delas é a
barreira que a própria vítima coloca diante de sua angústia e sofrimento, o que
dificulta o atendimento efetivo dos profissionais que poderiam auxiliá-la. Além
disso, muitas pessoas têm medo de aceitar o apoio emocional por medo de que
isso possa ser usado como prova em um processo criminal contra o companheiro.
Além disso, algumas vítimas têm histórias marcadas pela violência desde a
infância. Isso normaliza a situação e muitas vezes impede a quebra do ciclo de
violência em curso (COSTA et al., 2013, p. 203). Outros fatores ligados à rede de
atenção à saúde também foram identificados pela pesquisa, incluindo a
vulnerabilidade tanto dos recursos físicos quanto humanos. A falta de local
adequado e de pessoal qualificado dificulta a realização de um bom atendimento
às vítimas.
43
Além disso, há problemas de responsabilização e comunicação entre as
organizações que compõem a rede de atenção às mulheres vítimas de violência.
 9. MELHORIAS PARA APLICAÇÃO DA MEDIDA PROTETIVA
Ocorre que é preciso perceber que muitos aspectos das medidas protetivas
da Lei Maria da Penha precisam ser aprimorados antes que sua eficácia seja
alcançada. A principal preocupação surge durante a fase extralegal, a ofendida
registra a queixa sendo atendida pela autoridade policial que, muitas vezes
possuem um atendimento precário devido ao efetivo insuficiente.
De acordo com o artigo 33 da Lei Maria da Penha (nº 11.340/06) sobre
competência, caso o juiz que julga o processo de violência doméstica e familiar
contra a mulher não estiver disponível para conceder a medida cautelar, a mesma
será concedida por meio do processo penal judicial, acumulando competência
cível e criminal. Vejamos:
“Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as
competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,
observadas as previsões do Título IV desta Lei,subsidiada pela
legislação processual pertinente.”’ (BRASIL, 2006, on-line)
Em virtude da inexistência de legislação específica que regule o
acompanhamento das medidas agropecuárias, há falha na fiscalização da medida
protetiva contra o agressor. Devido ao desconhecimento do juiz sobre o paradeiro
do agressor e se ele estiver frequentando locais específicos designados pelo juiz,
esse controle torna-se difícil.
No que se diz respeito à fiscalização da medida protetiva contra o agressor
há uma falha ao verificar se o ato está sendo cumprido ou não, uma vez que não
há uma legislação específica para o monitoramento das medidas de afastamento.
44
Devido ao desconhecimento do juiz sobre o paradeiro do agressor e se ele estiver
frequentando locais específicos designados pelo juiz, esse controle torna-se
difícil.
Alguns autores defendem o uso de tornozeleira eletrônica nos casos de
medida cautelar a fim de repelir o agressor, prevista na Lei nº 11.340/06. Essa
medida de utilização da tornozeleira eletrônica faria com que o agressor não
chegasse perto da vítima, uma vez que ao chegar teria, então, a sua prisão
preventiva decretada, conforme Art. 20 da Lei nº 11.340/06.
A criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
marcou um avanço significativo, mas ainda há muitas deficiências porque nem
toda comarca têm esse Juizado, e aqueles que o têm geralmente carecem de um
juiz, promotor, advogado de defesa e outros funcionários qualificados para melhor
atender essas mulheres agredidas.
No entanto, entende-se que a melhor forma de abordar a questão, que é a
prevenção da reincidência do crime e que resulte no arrependimento e
reintegração do agressor, seja por meio da reeducação por meio de um trabalho
socioeducativo com o agressor e a vítima que inclua a abordagem dos aspectos
culturais da violência e seu enfrentamento.
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste trabalho, foi possível compreender aspectos importantes da
Lei 11.340/2006, inclusive os benefícios trazidos às vítimas, que até 2006
contavam com lei específica, embora se encontrassem em situação de
vulnerabilidade e insuficiência.
Pode-se dizer também que o Estado começou a desenvolver políticas
públicas desde que alguns efeitos positivos foram produzidos por elas. Conforme
demonstrado, a quase totalidade da população feminina tem conhecimento da
existência da Lei Maria da Penha e das medidas protetivas, e mesmo
desconhecendo seus detalhes e restrições legais, entendem que existe uma
norma destinada a proteger direitos das mulheres, mantendo sua integridade
física e psicológica.
45
Como resultado deste estudo, é possível identificar algumas questões que
levam as medidas protetivas a serem utilizadas apenas como formas simbólicas
de proteção e não na prática real, onde sua eficácia é testada. Observações
iniciais revelaram que o atendimento às vítimas normalmente ocorre em uma
delegacia comum, pois nem todos os municípios possuem delegacias
especializadas para atender as mulheres. Além disso, na maioria das vezes, o
lesado deve contar a um homem o que aconteceu, o que causa certo desconforto.
A doutrina se refere a essa circunstância como vitimização secundária.
O objetivo das medidas protetivas é proteger as mulheres agredidas. No
entanto, este não parece ser o caso desde que a lei seja aplicada corretamente, o
que põe em causa não só a eficácia das próprias medidas de proteção, mas
também a eficácia da lei como um todo.
No entanto, às preocupações levantadas pelos autores através das leituras
bibliográficas, deixa claro que a lei é eficaz no que diz respeito a todas as à
orientações voltadas à mulher vítima de violência doméstica e as sanções
voltadas ao agressor, mas que a realidade é bastante diferente porque a lei é mal
aplicada, como é o caso da fiscalização do infrator mesmo cumprindo as sanções
que lhe foram impostas.
46
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