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Fármacos no Acidente Vascular Encefálico 1 Brenna G Bonfante Definição - O AVE é definido como um déficit neurológico agudo, caracterizado por sinais clínicos de perturbação focal ou global da função neurológica, cuja causa consiste em uma etiologia vascular encefálica (anormalidade cerebrovascular) - O AVE pode ser classificado em: 1. AVE isquêmico 2. AVE hemorrágico Obs: O ataque isquêmico transitório (AIT) é definido como um episódio transitório de disfunção neurológica (reverte geralmente em menos de 1 hora) causado por isquemia focal no cérebro, na medula espinhal ou na retina, sem infarto agudo. Pacientes com AITs estão em alto risco de AVC isquêmico precoce. AVE Isquêmico - O AVEi é causado por uma redução crítica transitória ou permanente no fluxo sanguíneo cerebral decorrente da estenose (estreitamento do vaso) ou oclusão (bloqueio do vaso) arterial. Epidemiologia - Responsável por aproximadamente 85% dos casos - É mais comum em idosos, homens e afro-americanos e latinos/hispânicos. Etiologia - Aterosclerose - Êmbolos cardiogênicos (cardioembolismo): resulta de uma formação de trombo no coração, que então emboliza para a circulação intracraniana e é associado a doenças cardíacas, como a fibrilação atrial. *A PA alta é benéfica no AVCi? A PA mais alta (ex.: 180x110 mmHg) é benéfica para um paciente com AVCi porque ameniza a isquemia, ou seja, “força” a entrada de sangue no local da isquemia através dos vasos colaterais. Porém, se for fazer a trombólise, a pressão não pode estar maior que 185x110 mmHg Tratamento Farmacológico 1. Trombólise intravenosa - A trombólise é um tratamento recomendado no AVEi agudo (ver critérios de elegibilidade), que envolve o uso de fármacos trombolíticos (também chamados de fibrinolíticos) para a destruição do coágulo, como: alteplase, estreptoquinase e tenecteplase Alteplase - Fármaco mais utilizado e o único recomendado no protocolo da CONITEC (2021) para pacientes com AVE isquêmico agudo *Tenecteplase é a 2ª linha de tratamento segundo o BMJ (2022) Mecanismo de ação Ativador do plasminogênio tecidual (tPA). É uma forma recombinante do ativador do plasminogênio tecidual humano (t-PA) - As células endoteliais secretam tPA nos locais de lesão. O tPA se liga à fibrina e converte o plasminogênio (precursor inativo) em plasmina, que digere/dissolve a fibrina. - O tPA exerce pouco efeito sobre o plasminogênio circulante na ausência de fibrina Critérios de inclusão para a trombólise Para a realização de trombólise serão incluídos pacientes com todos os critérios a seguir: - Avaliação do médico neurologista que confirme AVCi agudo; - Quadro clínico de AVC com início há menos de 4,5 horas desde o início dos sintomas até a infusão do medicamento; - Tomografia computadorizada ou ressonância magnética sem sinais de hemorragia intracraniana; - Pacientes adultos (idade igual ou maior a 18 anos); - Pacientes cuja pressão arterial possa ser reduzida com segurança para < 185/110 mmHg com agentes anti-hipertensivos antes do início da terapia com Alteplase; - Pacientes com nível de glicose inicial > 2.8 mmol/L (> 50mg/dL) Alteplase e a pressão arterial - A PA sistólica deve estar < 185 mmHg e a diastólica < 110 mmHg antes de iniciar o tratamento com Alteplase IV e < 180/105 mmHg nas primeiras 24 horas após o tratamento. - Se for necessário, administrar anti-hipertensivos. - Motivo: alguns estudos observacionais sugerem que o risco de hemorragia após a administração de Alteplase é maior em pacientes com PA mais altas e em pacientes com maior variabilidade da PA. Alteplase e glicemia - A avaliação da glicemia deve preceder o início da Alteplase IV em todos os pacientes. - Motivo: a hipoglicemia foi associada a sintomas autonômicos e neurológicos, incluindo mimetização de AVE; a hipoglicemia pode ainda causar lesão cerebral; - A hiperglicemia foi associada ao sangramento intracerebral e piores desfechos clínicos em pacientes tratados com Alteplase; portanto, a glicemia deve ser normalizada antes de iniciar a trombólise. Critérios de exclusão Para a realização de trombólise serão excluídos pacientes que apresentem uma das contraindicações ao procedimento, que sejam: - Realização de cirurgia de grande porte nos últimos 14 dias, devido ao risco de hemorragia; - Histórico de hemorragia intracraniana; - Suspeita de hemorragia subaracnóide; - Malformações arteriovenosas ou tumores intracranianos; - Hemorragia gastrointestinal ou genitourinária nos últimos 21 dias; - Pressão arterial sistólica maior que 185 mmHg após tratamento anti-hipertensivo; - Pressão arterial diastólica maior que 110 mmHg após tratamento anti-hipertensivo; - Em uso de dose terapêutica de heparina de baixo peso molecular (ex.: enoxaparina) nas últimas 24 horas. Efeitos Colaterais - O principal efeito adverso da Alteplase é a hemorragia - A hemorragia intracraniana é o problema mais grave e pode ocorrer em até 1% dos pacientes - Hemorragia gastrointestinal - Se heparina for usada concomitantemente com a Alteplase: hemorragia grave em 2 a 4 % dos pacientes Hemorragia cerebral associada ao uso de Alteplase - Na suspeita de hemorragia cerebral associada ao uso IV da alteplase se deve interromper a infusão da alteplase (se ainda estiver em uso), colher exames laboratoriais (Hb/Ht, TP/RNI, TTPA, fibrinogênio e tipagem sanguínea), realizar TC de crânio sem contraste de urgência. - Caso o paciente ainda esteja recebendo o trombolítico, não retirar o sistema pelo qual o medicamento está sendo administrado, a fim de que, descartada a hemorragia, e havendo tempo hábil, se possa retomar imediatamente a infusão do medicamento. Após a confirmação da hemorragia cerebral sintomática relacionada ao uso da Alteplase, considerar as medidas abaixo: ◊ Crioprecipitado 10 UI IV (em 10-30 minutos); dar dose adicional se fibrinogênio < 200 mg/dL ◊ Plaquetas 6-8 UI IV ◊ Avaliação hematológica e tratamento hemostático: - Ácido tranexâmico 1000 mg IV (em 10 minutos): inibidor da fibrinólise - Ácido épsilon-aminocapróico 4-5 gramas IV (em 1 hora): dar dose adicional de 1 grama IV ou oral SN: inibidor da fibrinólise ◊Avaliação neurocirúrgica - Nos casos com hemorragia sistêmica e queda da hemoglobina administrar concentrado de hemácias. Inibidores da Fibrinólise - Ácido tranexâmico - Ácido e-aminocaproico Mecanismo de ação - Tanto o plasminogênio quanto a plasmina possuem domínios proteícos especializados (kringles) que se ligam às lisinas expostas no coágulo de fibrina e conferem especificidade do coágulo ao processo fibrinolítico. - O ácido tranexâmico e o ácido e-aminocaproico são análogos da lisina que competem pelos sítios de ligação da lisina no plasminogênio e na plasmina, bloqueando, assim, a sua interação com a fibrina. - Portanto, ambos os agentes inibem a fibrinólise e têm a capacidade de reverter estados associados à fibrinólise excessiva. Ácido e-aminocaproico - Uso terapêutico: redução do sangramento intraoperatório - Farmacologia clínica: inibe a degradação da fibrina mediada por plasmina. - Infusão IV Ácido tranexâmico Usos terapêuticos: - Traumatismo cranioencefálico significativo - Reanimação de traumatismo significativo - Redução do sangramento intraoperatório - Aplicação tópica para sangramento dentário e epistaxe - Menorragia - Sangramentos potencialmente fatais após administração de trombolíticos Farmacologia clínica: - Inibe a degradação da fibrina mediada por plasmina - Disponível por via oral ou IV - Administrado por via oral em pacientes submetidos a procedimentos dentários ou em mulheres com menorragia - Administrado por via IV em pacientes com traumatismo significativo ou submetidos a cirurgia ortopédica de grande porte 2. Aspirina - Aspirina 300 mg, 1 vez ao dia, 24 horas após o ativador de plasminogênio tecidual (r-tPA): tratamento recomendado para alguns pacientes e prescrita somente após demonstração de ausência de hemorragia intracraniana na TC de crânio 3. Heparina - Heparina intravenosa não fracionada: pacientes com trombose venosa cerebral 4. Estatinas - Após 48 horas:aterosclerose (prevenção de novos eventos) 5. Paracetamol - A ocorrência de febre foi associada a desfechos piores em pacientes com AVE AVE Hemorrágico - Se deve à ruptura de uma artéria cerebrospinal, resultando em hemorragia intracerebral (hemorragias intraparenquimatosas ou intraventricular não causada por trauma) e/ou subaracnóidea. - A PA tem que ser muito bem controlada aqui, pois, o paciente já tem ruptura de algum vaso. Portanto, se a PA do paciente for alta, vai haver ainda mais extravasamento de sangue. Epidemiologia - Responsável por aproximadamente 15% dos casos - A incidência de hemorragia intracerebral aumenta com a idade - Em geral, os homens têm uma incidência maior que as mulheres, embora a diferença diminua com a idade - Pessoas negras e asiáticos ou latino/hispânica tem uma taxa mais alta de hemorragia intracerebral que pessoas brancas. Etiologia primária - Angiopatia amiloide cerebral: deposição beta-amiloide nas paredes das artérias, causando danos à arquitetura vascular, necrose fibrinoide e ruptura da parede vascular - Hipertensão: ruptura de vasos - Hemorragia associada a anticoagulação: considerada pela maioria dos especialistas como uma forma de hemorragia intracerebral primária Etiologia Secundária - Malformação vascular identificável - Quadros clínicos ou neurológicos que causam comprometimento da coagulação ou ruptura vascular: infarto cerebral ou tumor, abuso de drogas simpaticomiméticas (cocaína e anfetaminas) ou neoplasias hematológicas Tratamento Farmacológico 1.Anti-hipertensivo intravenoso - Labetalol que é um antagonista beta adrenérgico não seletivo, com efeitos cardiovasculares adicionais) - A pressão arterial elevada pode provocar sangramento no futuro. As diretrizes sugerem o controle em caso de PAS > 180 mmHg ou de PAM > 130 mmHg 2.Anticonvulsivantes intravenosos - Fenitoína que é um bloqueador de canais para o sódio - Para tratar as convulsões clínicas e os pacientes com estado mental alterado nos quais se encontrem evidências de convulsões eletrográficas no EEG - As convulsões complicam o manejo da hemorragia intracraniana aguda em 4 a 8% dos casos 3.Paracetamol - A febre foi associada a mais desfechos favoráveis após a hemorragia não cerebelar Reversão da anticoagulação (correção da coagulopatia) Situação Manejo Varfarina antagonista da vitamina K Fitomenadiona (vitamina K) associada a plasma fresco congelado (contém todos os fatores de coagulação em níveis normais) Heparina não fracionada liga-se à antitrombina III para acelerar a inativação do fator Xa e da trombina (fator IIa) Protamina Dabigatrana inibidor oral direto da trombina (Fator IIa), inibindo assim a clivagem do fibrinogênio em fibrina Idarucizumabe (Praxbind) Plaquetas < 100.000 mm3 Transfusão de plaquetas Alteplase ativador do plasminogênio tecidual recombinante Crioprecipitado ou ácido tranexâmico Questões 1.A trombólise intravenosa é um tratamento recomendado no Acidente Vascular Cerebral isquêmico (AVCi) agudo. Atualmente, a trombólise intravenosa padrão é feita com Alteplase Sobre a Alteplase avalie as seguintes afirmações: I) É um ativador de plasminogênio tecidual recombinante (r-tPA) II) A janela de oportunidade recomendada para o uso de Alteplase é de até 4,5 horas após o início dos sintomas do AVCi III) Também pode ser utilizada no tratamento do AVC hemorrágico IV) O uso de Ácido Tranexâmico pode ser considerado após a confirmação de hemorragia cerebral relacionada ao uso da Alteplase Está correto o que se afirma em: a) II e III apenas b) I, II e IV apenas c) I, III e IV apenas d) II e IV apenas 2.Os sintomas de isquemia cerebral podem ser transitórios, durando segundos a minutos, ou podem persistir por períodos mais longos. Os sinais e sintomas permanecem indefinidamente, se o encéfalo se tornar irreversivelmente lesionado e ocorrer infarto. Sobre AVE isquêmico, analise as afirmativas e assinale a alternativa que contém a sequência correta. I) O tratamento inicial do AVE isquêmico consiste na administração de trombolítico endovenoso em até 24 horas e trombectomia mecânica em até 4,5 horas do início dos sintomas II) As três principais causas de isquemia neurológica são trombose, embolismo e hipoperfusão sistêmica III) O acidente isquêmico transitório (AIT) é definido como episódio transitório de disfunção neurológica causada por isquemia encefálica sem infarto, com resolução em até 24 horas. IV) O uso de anticoagulantes deve ser mantido indefinidamente após o primeiro AVE isquêmico, objetivando reduzir a probabilidade de novo episódio. a) Apenas os itens I e IV são verdadeiros b) Apenas os itens II e III são verdadeiros c) Apenas os itens I e III são verdadeiros d) Apenas os itens I, II e III são verdadeiros Gabarito 1 – B 2 - B
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