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• Constitui um distúrbio auto-imune na coagulação do sangue que causa trombose (coagulação anormal) em artérias e veias, além de complicações na gravidez (abortos repetitivos, pressão alta e prematuridade do bebê). • Ocorre devido à produção de anticorpos contra proteínas do próprio organismo (chamados de anticorpos anti-fosfolipídes) que são dosados no sangue através de exames laboratoriais. o Os principais anticorpos antifosfolípides são anticoagulantes lúpico, anticardiolipina e antibeta-2-glicoproteína I. o O anticoagulante lúpico é uma IgM ou uma IgG autoimune que provoca o prolongamento paradoxal do Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) in vitro e leva ao aumento do risco trombótico e a abortos de repetição. o O TTPA prolongado, que não se corrige com a adição de plasma normal, com Tempo de Protrombina (TP) e fibrinogênio normais, é bastante característico. o O tempo de Russel, realizado com veneno de cobra, é o teste mais específico. o Os anticorpos anticardiolipina ou antibeta-2-glicoproteína I também podem ser IgM ou IgG e afetam diretamente a camada fosfolípide plaquetária, levando, paradoxalmente, à plaquetopenia e à trombose, por ativação das plaquetas e formação de microcoágulos. Também estão associados a abortamentos de repetição, por microtrombos placentário EPIDEMIOLOGIA • A incidência de SAF é estimada em cerca de 5 casos a cada 100 mil indivíduos ao ano. • Anticorpos anti-FL ocorrem em 1 a 5% da população geral. • Sua prevalência aumenta com a idade; entretanto, é questionável o fato de esses anticorpos serem capazes de induzir eventos trombóticos em idosos. • Um terço dos pacientes com LES e outras doenças autoimunes têm esses anticorpos e, desse total, apenas 5 a 10% desenvolvem SAF. • A prevalência de anticorpos antifosfolipídeos em associação com o lúpus eritematoso sistêmico (LES) foi demonstrada ser de 30% a 40% e de 6% com artrite reumatoid • Relatou-se a presença de anticorpos antifosfolipídeos em até 14% dos pacientes com trombose e em 20% das pacientes com perdas gestacionais recorrentes • Foram observadas razões de 5:1 a 2:1 entre os sexos feminino e masculino • A maioria (98%) dos pacientes são brancos, 0.5% dos pacientes são negros e 1.5% pertencem a outras raças. • A idade média do início dos sintomas é de aproximadamente 34 anos, com 85% dos pacientes diagnosticados entre 15 e 50 anos CLASSIFICAÇÃO • SÍNDROME ANTI-FOSFOLÍPIDE PRIMÁRIA o É utilizado quando as manifestações da síndrome ocorrem de forma independente, sem a concomitância de outras doenças auto-imunes. o Menos frequentemente pacientes com “SAAF” primária podem vir a desenvolver o Lúpus Eritematoso Sistêmico • SÍNDROME ANTI-FOSFOLÍPIDE SECUNDÁRIA o É utilizado quando as manifestações da síndrome ocorrem concomitantemente com outras doenças auto-imunes como o Lúpus Eritematoso Sistêmico. o É mais frequente no sexo feminino • SÍNDROME ANTI-FOSFOLÍPIDE CATASTRÓFICA o É uma forma muito rara e grave da “SAAF”. o Ocorrem múltiplas tromboses difusas em vasos pequenos, podendo evoluir para a disfunção de múltiplos órgãos. o Doença tromboembólica de progressão rápida potencialmente fatal em que há envolvimento simultâneo de 3 ou mais órgãos. FATORES DE RISCO • Dislipidemias • Hipertensão arterial sistêmica • aCL IgG/IgM • a beta-2-glicoproteína-1IgG/IgM • aPS/PT IgG/IgM • LA • Tabagismo • Obesidade • Colagenose • Anticoncepcionais e estrogênios FISIOPATOLOGIA • AUMENTO: agregação plaquetária, tromboxanos A2, ativação endotelial, fator tecidual, estresse oxidativo, moléculas de adesão. • QUEDA: fibrinólise e anticoagulantes naturais. 2 gatilhos: presença dos anticorpos antifosfolipedes + estado inflamatório. 1. Está relacionado à ativação das células endoteliais pela ligação dos anticorpos antifosfolípides, o que promove um aumento da expressão de moléculas de adesão e da secreção de citocinas, interferindo com a liberação endotelial de prostaciclinas. 2. 2. Supõe que o estresse oxidativo provoca lesão no endotélio do vaso, pela ação da Low Density Lipoprotein (LDL) oxidada, que seria digerida pelo macrófago provocando ativação e consequente dano celular. 3. Sugere que os anticorpos antifosfolípides interferem na função das proteínas ligadoras de fosfolipídios envolvidas no processo da coagulação, como a β2 glicoproteína I (β2GPI), um importante co-fator, que tem seu efeito de anticoagulante natural afetado pela ligação com os fosfolipídios, passando a expressar efeito contrário, isto é, predispondo o paciente a um estado de hipercoagulabilidade. PATOGÊNESE HARISSON O evento desencadeador para a indução de anticorpos contra proteínas ligadoras de FL parece ser as infecções, o estresse oxidativo e os estresses físicos relevantes (p. ex., cirurgia ou traumatismo). Todos esses fatores parecem induzir apoptose aumentada de células endoteliais vasculares e subsequente exposição de FLs. Estes últimos, ligados a proteínas séricas, como a β2GPI ou a protrombina, levam à formação de neoantígeno, que, por sua vez, deflagra a indução de anti-FLs. A ligação de anti-FLs às células endoteliais rompidas leva à iniciação de coagulação intravascular e à formação de trombo. A ativação do complemento também foi proposta como mecanismo de lesão fetal associada à SAF. BMJ Anticorpos antifosfolipídeos (aFL) são autoanticorpos que reconhecem uma variedade de proteínas plasmáticas de ligação a fosfolipídeos, como a beta 2-glicoproteína I, protrombina, anexina A5 e fosfolipídeos expressos nas plaquetas, monócitos e células do trofoblasto. Foram propostos vários mecanismos para descrever a trombose e a morbidade gestacional mediada por anticorpos antifosfolipídeos, mas não existe mecanismo subjacente amplamente aceito para descrever todos os fenômenos da doença. A beta 2-glicoproteína I, uma proteína de controle do complemento construída de 5 domínios, é reconhecida como o principal antígeno-alvo dos anticorpos da síndrome antifosfolipídica (SAF). Foi observado que anticorpos que reconhecem um epítopo específico no domínio I da beta 2-glicoproteína I estão associados a um aumento do risco de trombose. Outros mecanismos propostos para o papel dos anticorpos anti-SAF na trombose incluem ligação endotelial, resistência à proteína C e ativação do complemento. Vários mecanismos trombóticos e mediados por inflamação induzidos pela ligação de aFL podem estar relacionados à patogênese dos anticorpos antifosfolipídeos nas complicações relacionadas à gestação. Em particular, o sistema complemento foi implicado na patogênese da trombose e perda fetal na SAF em camundongos, e a resistência à anexina A5 também pode ser um mecanismo significativo QUADRO CLÍNICO • TROMBOSE VENOSA E CONSEQUÊNCIAS RELACIONADA o Trombose venosa profunda o Livedo reticular − O livedo reticular consiste em um padrão vascular reticular moteao, observado com uma tonalidade púrpura e rendilhada na pele. É provavelmente causado pelo edema das vênulas decorrente da obstrução de capilares por trombos. − Este achado é decorrente do espasmo de algumas arteríolas ascendentes da derme (áreas de palidez) intercalado com vasodilatação de arteríolas adjacentes (áreas de eritema ou cianose), dando um aspecto mosqueado ou marmóreo à pele. o Embolia pulmonar o Tromboflebite superficial o Trombose em vários outros locais • TROMBOSE ARTERIAL E CONSEQUÊNCIAS RELACIONADAS o Acidente vascular cerebral o Espessamento/disfunção de valva cardíaca e/ou vegetações de Libman-Sacks − A endocardite de Libman-Sacks consiste em vegetações muito pequenas, caracterizadas do ponto de vista histológico por microtrombos de plaquetas-fibrina organizados, circundados por macrófagos e fibroblastos em crescimento. o Ataque isquêmico transitório o Isquemia miocárdica (infarto ou angina) e trombose de bypass coronário o Úlceras de perna e/ou gangrenadigital o Trombose arterial nos membros o Trombose da artéria retiniana/amaurose fugaz o Isquemia de órgãos viscerais ou necrose avascular do osso o Demência por múltiplos infartos • MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS DE ETIOLOGIA INCERTA o Enxaqueca o Epilepsia o Coreia o Ataxia cerebelar o Mielopatia transversa • MANIFESTAÇÕES RENAIS POR CAUSAS DIVERSAS (trombose da artéria renal/veia renal/glomerular, hiperplasia fibrosa da íntima) • MANIFESTAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS o Artralgias o Artrite • MANIFESTAÇÕES OBSTÉTRICAS (indicadas pelo número de gestações) o Pré-eclâmpsia o Eclâmpsia • MANIFESTAÇÕES FETAIS (indicadas pelo número de gestações) o Perda fetal precoce (< 10 semanas) o Perda fetal tardia (≥ 10 semanas) o Parto prematuro entre nascimentos de bebês vivos • Perda fetal recorrente, geralmente a partir do final do 1° trimestre da gestação. o é uma das manifestações mais importantes e se deve à oclusão de vasos uteroplacentários. O sofrimento fetal (com retardo no crescimento intrauterino), as perdas fetais, os partos prematuros, a pré- eclâmpsia e a síndrome HELLP podem ser observados. o A morte fetal inexplicada com mais de 10 semanas em feto morfologicamente normal é o critério obstétrico mais específico para SAF, enquanto o critério mais sensível é a história de abortamentos recorrentes • MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS o Trombocitopenia − É comum, mas geralmente é de grau leve a moderado, não determinando eventos hemorrágicos. − O mecanismo é idêntico ao da PTI (Púrpura Trombocitopênica Imune Idiopática), ou seja, a presença de autoanticorpos na superfície das plaquetas induz sua fagocitose pelos macrófagos esplênicos. o Anemia hemolítica autoimune CRITERIOS DIAGNÓSTICOS Critérios revisados para a classificação de SAF (Sidney, 2005) Para o diagnóstico, é necessária a presença de, pelo menos, 1 critério clínico (trombose vascular ou morbidade gestacional) em associação a, no mínimo, 1 critério laboratorial (presença de anticorpos antifosfolípides em 2 ou mais ocasiões com pelo menos 12 semanas entre estas e menos de 5 anos antes de alguma manifestação clínica) • CLÍNICOS o Trombose vascular (venosa ou arterial) − Um ou mais episódios de trombose arterial, venosa profunda − ou de pequenos vasos em qualquer órgão ou tecido confirmada por Doppler ou exame histopatológico. − A histopatologia deve excluir vasculite. o Complicações gestacionais − Ocorrência de uma ou mais mortes intra-uterinas de feto com morfologia normal, a partir da 10ª semana gestacional − Nascimento de um ou mais prematuros (com menos de 34 semanas) com morfologia normal, tanto em decorrência de eclampsia/pré-eclampsia grave quanto de evidência objetiva de insuficiência placentária − Ocorrência de três ou mais abortos espontâneos consecutivos antes da 10ª semana gestacional, excluindo-se anormalidades anatômicas e hormonais, bem como anomalias cromossômicas maternas e paternas • LABORATORIAIS – repetir em 12 semanas o Presença do anticoagulante lúpico − presente no plasma detectado de acordo com as recomendações da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia o Identificação de anticorpos anticardiolipina das classes IgG ou IgM (acima de 40 GPL ou MPL ou em título > percentil 99) o Encontro de anticorpos anti-ß2-glicoproteína I das classes IgG ou IgM (em título > percentil 99) • Comprovados por exames realizados em duas ocasiões distintas, com um intervalo de mais de três meses e menos de cinco anos. VDRL falso positivo ou provas biológicas falso positivas para sífilis: O VDRL e RPR são ensaios biológicos que utilizam um extrato que contém cardiolipina, fosfatidilcolina e colesterol. Na SAF, pode-se observar este teste com resultado falso positivo, ou seja, VDRL ou RPR positivos, acompanhados por um teste de FTA-ABS ou teste de imobilização do treponema negativos Pacientes com SAF frequentemente apresentam anticorpos que reconhecem complexos de colesterol/FL de Treponema pallidum, detectados por testes VDRL e caracterizados como testes sorológicos biológicos falso-positivos para sífilis CARACTERÍSTICAS DOS AUTO-ANTICORPOS ANTIFOSFOLÍPIDES ANTICARDIOLIPINA (aCL) - Seu teste utiliza placas de ELISA sensibilizadas com cardiolipina. - Ele permite a identificação e quantificação de isotipos específicos de aCL (IgG, IgA e IgM). Os anticorpos IgG estão mais relacionados a eventos trombóticos, enquanto o isotipo IgM tem uma relação mais forte com anemia hemolítica autoimune. - O IgA não foi relacionado a uma manifestação específica. - Os resultados são expressos em unidades GPL para IgG e MPL para IgM. - O anticorpo aCL apresenta maior sensibilidade do que o anticoagulante lúpico para o diagnóstico de SAF, no entanto, perde em especificidade. ANTICOAGULANTE LÚPICO (AL) - Tem melhor correlação com trombose e com morbidade gestacional do que os anticorpos aCL - Representa imunoglobulinas que, in vitro, prolongam algumas provas de coagulação, como o Tempo De Tromboplastina Parcial ativado (PTTa) e os tempos de coagulação induzidos pelo caolim e pelo veneno da víbora Russel (o teste mais sensível). O alargamento do PTTa não é corrigido com a adição de plasma humano, na proporção de 1:1, diferenciando a presença do anticorpo da deficiência de fatores da coagulação. - O anticoagulante lúpico apresenta maior especificidade para o diagnóstico de SAF, porém, perde em sensibilidade. ANTI-ß2-GLICOPROTEÍNA I (ANTI- ß2-GPI) - A b2-GPI é uma proteína que se liga à Fosfatidilserina (FS) na membrana das plaquetas e células endoteliais, e a ligação do anti-b2-GPI ao complexo b2-GPI/FS induz a expressão de um fenótipo pró-trombótico nessas células, justificando a ocorrência de tromboses clínicas. - Apresenta maior especificidade que a aCL para o diagnóstico de SAF e em até 10% dos casos é o único anticorpo antifosfolipídio presente - É o único anticorpo detectado em 3-10% dos casos de SAF ANTIFOSFATIDILETANOLAMINA E ANTIPROTROMBINA ISOLADA OU COMBINADA COM FOSFATIDILETANOLAMINA A associação de tais anticorpos com perda fetal e tromboembolismo não está estabelecida DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • SÍNDROME DE SNEDDON o Sinais/sintomas de diferenciação − É a manifestação do livedo reticular com acidente vascular cerebral (AVC) e hipertensão na ausência de doença vascular do colágeno reconhecida ou infecção. o Exames de diferenciação − Anticorpos antifosfolipídeos podem estar presentes, mas não são um critério de diagnóstico para a síndrome de Sneddon • TROMBOFILIA HEREDITÁRIA o Sinais/sintomas de diferenciação − Presente com trombose venosa (em particular, aparentemente eventos espontâneos) quando jovem; história familiar ou tromboembolismo venoso. o Exames de diferenciação − Níveis reduzidos da proteína C, nível da proteína S livre e nível da antitrombina III; mutação no gene da protrombina (G-20210-A). CONDUTA TERAPÊUTICA • Depois do primeiro evento trombótico, os pacientes com SAF deverão fazer uso vitalício da VARFARINA, seja isolada ou associada a 80 mg de ÁCIDO ACETILSALICÍLICO diariamente, com o objetivo de alcançar uma razão normalizada internacional (INR, de international normalized ratio) de 2,5 a 3,5. • A morbidade gestacional é evitada administrando-se uma combinação de HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR com ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (80 mg/dia) o Um curso de IMUNOGLOBULINA INTRAVENOSA (IgIV), 400 mg/kg ao dia por 5 dias, também pode evitar a ocorrência de aborto, ao passo que os glicocorticoides são ineficazes. Na ausência de qualquer evento clínico, os pacientes com aFL que são simultaneamente positivos para aCL, anti-β2GPI e AL ou têm LES correm risco de desenvolver eventos trombóticos, que podem ser prevenidos com a ingesta diária de 80 mg deácido acetilsalicílico e 200 mg de hidroxicloroquina ao dia. • Alguns pacientes com SAF e pacientes com SAFC apresentam eventos trombóticos recorrentes, mesmo com uma anticoagulação apropriada. o A administração de IgIV na dose de 400 mg/kg/dia por 5 dias pode ser benéfica o Pacientes com SAFC, que são tratados na unidade de terapia intensiva, são impossibilitados de receber VARFARINA, nessa situação, devem ser administradas doses terapêuticas de HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR • Nos casos de trombocitopenia induzida por heparina e síndrome de trombose, os inibidores do fator X ativado (FXa) ligado a fosfolipídeo, como o FONDAPARINUX na dose de 7,5 mg/dia por via subcutânea (SC) ou a RIVAROXABANA na dose de 10 mg/dia por via oral (VO), são efetivos Medidas Gerais É recomendável a interrupção do tabagismo, do uso de estrógenos como contraceptivos orais ou terapia de reposição hormonal, além, é claro, do controle de outros fatores de risco cardiovascular como diabetes, obesidade, hiperlipidemia e hipertensão arterial. Tratamento Agudo • A sequência terapêutica deve ser a mesma adotada em qualquer trombose aguda • HEPARINIZAÇÃO plena inicial com posterior introdução de cumarínicos, sobrepondo as duas medicações até que se obtenham 2 INR’s dentro da faixa terapêutica (em dois dias consecutivos). o Quando o INR se estabilizar na “faixa-alvo” a heparina poderá ser suspensa, e o cumarínico mantido. • Heparinas de Baixo Peso Molecular (HBPM) = enoxiparina. o Com elas pode-se iniciar o cumarínico já no primeiro dia de tratamento, e não é preciso monitorar o PTTa. • Heparina Não Fracionada (HNF) o É mandatório um ajuste da dose em função do PTTa (que deve ser medido de 6/6h) e, neste caso, o cumarínico só pode ser iniciado após obtermos pelo menos 2 PTTa consecutivamente dentro da faixa terapêutica Tratamento Crônico • A anticoagulação por tempo indeterminado (a princípio por toda a vida) é o tratamento a ser instituído nos pacientes com história de evento tromboembólico. • As drogas de escolha são os CUMARÍNICOS (ex.: warfarin), cujo efeito anticoagulante deve ser monitorado pela dosagem do INR. o Harrison (2012), recomenda para todos os doentes um INR entre 2,5-3,5, podendo-se associar ou não o AAS em baixas doses (ex.: 100 mg/dia). COMPLICAÇÕES • Gangrena das extremidades • Hipertensão arterial • Insuficiência renal • Insuficiência suprarrenal • AVC • Infarto do miocárdio • Embolia pulmonar • Síndrome de Budd-Chiari • Demência • Tromboses múltiplas • Abortamento • Pré-eclâmpsia • Prematuridade CID 10: I80 O termo tromboembolismo venoso (TEV) inclui duas condições frequentes, que são a trombose venosa profunda (TVP) e o tromboembolismo pulmonar (TEP), sendo esta a causa de morte evitável mais comum no paciente hospitalizado. o TVP – formação de coágulo de forma patológica em qualquer leito venoso do corpo, sendo mais comum nos membros inferiores. Aqui o paciente irá se apresentar dor na região acometida, com edema distal e hiperemia. o TEP – quando ocorre um TVP em uma veia proximal, esse trombo pode sair da circulação venosa, passar pelo coração e se impactar no pulmão do paciente. Aqui o paciente irá se apresentar com dor torácica, dispneia, chegando em alguns momentos a apresentar hemoptise. EPIDEMIOLOGIA • A TEV, englobando TVP de membros inferiores e EP, é uma condição frequente na população geral, com incidência anual de 1 a 2 casos para cada mil indivíduos. • A TEV é considerada um problema de saúde pública em função de sua morbidade e mortalidade. • O impacto da TEV na saúde pública decorre também de suas complicações tardias, como síndrome pós- trombótica e hipertensão pulmonar crônica tromboembólica. • A recorrência é outra complicação, cuja incidência pode chegar a 25% dos casos nos primeiros 5 anos após 1° evento de TEV. FATORES DE RISCO • ADQUIRIDOS o Idade o Obesidade o Câncer acho o Colagenose o DII – doença inflamatório intestinal o Neoplasias mieloproliferativas o HPN - hemoglobina paroxística noturna o SN - síndrome nefrótica. o Síndrome antifosfolipídica • GENÉTICOS o Deficiência de antitrombina o Deficiência de proteína C o Deficiência de proteína S o Fator V Leiden o Protrombina G20210A • TRANSITÓRIOS o Cirurgia, imobilização, trauma o Gestação/puerpério o Uso de contraceptivo oral e terapia de reposição hormonal • MISTOS/INCERTOS o Elevação de FVIII, FIX, FXI o Elevação de fibrinogênio o Elevação de TAFI - inibidor da fibrinólise ativado pela trombina o Redução de TFPI - inibidor da via do fator tecidual o Hiper/homocisteinemia PATOGÊNESE • A TRÍADE DE VIRCHOW sugere que há três componentes importantes na formação de trombo: o Lentidão do fluxo sanguíneo − O hipofluxo sanguíneo e a estase promovem a formação de trombos. Estase venosa e congestão resultam em danos valvulares, promovendo ainda mais a formação de trombos. A estase venosa aumentada está associada com idade >40 anos, imobilidade, anestesia geral, paralisia, lesão na medula espinhal, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) prévio, veias varicosas insuficiência cardíaca congestiva (ICC) avançada e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) avançada. o Hipercoagulabilidade sanguínea − esse fator, as vezes intrínseco ao paciente, é decorrente do aumento dos agentes pró-coagulantes ou pela diminuição dos agentes anticoagulantes, como ocorre em trombofilias hereditárias, doenças reumatológicas, doenças hematológicas e neoplasias o Dano à parede vascular − Danos às células endoteliais promovem a formação de trombos, geralmente, nas válvulas venosas. Danos à parede vascular podem ocorrer após uma série de lesões, incluindo trauma, TVP prévia, cirurgia, dissecção venosa e cateterização venosa central.; • Na trombose venosa, aumento de coagulabilidade do sangue e estase são mais importantes. • A lesão à parede vascular é menos relevante do que na trombose arterial, embora possa ser significativa em pacientes com sepse, cateteres venosos e em locais onde há́ dano venoso por tromboses prévias. • A estase permite que a coagulação do sangue seja completada no local de início do trombo (p. ex., atrás de bolsas valvulares das veias da perna em pacientes imobilizados). Trombose Venosa Profunda – CID 10: I80 BIOPATOLOGIA A tríade de Virchow da hipercoagulabilidade, estase venosa e lesão da parede vascular fornece um modelo para a compreensão de muitos dos fatores de risco que levam à formação de trombose. Por exemplo, em pacientes submetidos a cirurgia de substituição total do quadril ou do joelho, há lesão do endotélio venoso causada pela cirurgia, estase venosa resultante da imobilização perioperatória e hipercoagulabilidade como resultado do desligamento fibrinolítico pós-operatório. Em outros pacientes, uma “trombofilia” ou “tendência à coagulação” identificável, como a deficiência congênita de antitrombina (antigamente antitrombina III) ou a presença de fator V de Leiden,1 combinada com o uso de anticoncepcionais orais resulta em TVP em mulheres em idade reprodutiva. Entretanto, uma proporção relativamente grande de pacientes apresenta TVP inexplicada, sem fatores de risco “clínicos” que causem dano endotelial ou estase venosa, ou trombofilias identificáveis que causem hipercoagulabilidade. Sem dúvida, alguns desses pacientes ainda têm trombofilias a serem determinadas, mas atualmente a TVP é chamada de idiopática ou não provocada. QUADRO CLÍNICO • Pode ser assintomática • Dor, edema, aumento da temperatura do membro acometido. • Sinal de Homans - Dor na perna, com dorsiflexão do pé. • Sinal de Olov - Dor à palpação da musculatura da panturrilha. • Empastamento da musculatura da panturrilha • Ingurgitamento das veias superficiais • Febre (raramente, exceto na tromboflebite séptica). • Edema intenso,com cianose e isquemia (flegmasia cerúlea dolens). • Indicador clínico indireto - Embolia pulmonar As características clínicas da TVP de membros inferiores incluem dor, hipersensibilidade, edema (Fig. 81-1), cordão palpável, descoloração (vermelha para a inflamação e purpúrea para estase venosa) bem como distensão e proeminência das veias superficiais. Esses sinais e sintomas são inespecíficos, e exames por imagem diagnósticos são necessários para um diagnóstico definitivo. Em pacientes que se apresentam com sintomas suspeitos para TVP, esta é confirmada em apenas 10% a 30% dos casos. Em contraposição, pacientes com poucos sinais e sintomas de TVP podem apresentar TVP extensa com ou sem embolia pulmonar. Por outro lado, cerca de um terço dos pacientes com achados altamente suspeitos para TVP não a terá (p. ex., pacientes com ruptura de cisto de Baker). ESCORE DE WELLS – AVALIAÇÃO CLINICA • Baixa Probabilidade - Um escore de 0 ou menos • Probabilidade Moderada – Um escore de 1 ou 2 • Probabilidade alta – Um escore de 3 ou mais DIAGNÓSTICO • Suspeita clínica o Deve-se suspeitar de DVT em pacientes com um membro inchado e doloroso. o É mais comum em pacientes com DVT previa, com câncer ou confinados ao leito. o No membro inferior, tumefacção ou dor unilateral, na coxa ou na panturrilha, edema notado por fóvea à pressão digital e presença de veias colaterais superficiais não varicosas na perna são sinais importantes. o O sinal de Homan (dor na panturrilha à flexão do quadril) não é confiável https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150706/epub/OEBPS/Text/B9788535284904000810.xhtml?favre=brett#f1110 • Dosagem de D-dímeros no plasma o É uma proteína plasmática produzida especificamente após a lise das pontes cruzadas de fibrina pela plasmina o É um teste útil na suspeita de trombose venosa, principalmente quando auxiliado pelo escore de probabilidade clínica de Wells o As concentrações estão quase invariavelmente elevadas na presença de TEV agudo, de modo que a mensuração das concentrações de D-dímero é um teste sensível para TVP recente e embolia pulmonar. o Inúmeras condições não trombóticas, incluindo sepse, gravidez, cirurgia e insuficiência cardíaca ou renal, também podem causar níveis elevados. Como resultado dessa inespecificidade, o papel dos ensaios de D-dímero é limitado à exclusão de TEV quando as concentrações não estão elevadas. o O teste é útil quando houver suspeita de um novo trombo em localização já trombosada, onde o scanning mostra resultado duvidoso. o É muito útil quando não houver disponibilidade de ultrassonografia. • Ultrassonografia com compressão seriada o É um método confiável e prático para pacientes com suspeita de DVT nas pernas e em outros locais o Se for combinada com Doppler espectral, em cores ou potencializado (duplex), melhora a precisão, pois pode focalizar em veias individuais. Não faz distinção entre trombos agudos e crônicos. o Persistência de obstrução venosa, detectada por ultrassonografia, ao fim do tratamento com varfarina, não se associa, em geral, a risco aumentado de recorrência de trombose, e scanning para evidenciar oclusão venosa residual não é prática de rotina. • Venografia por Ressonância Magnética (VRM) o Usa a diferença nos sinais de ressonância magnética entre o sangue fluindo e coágulo estacionário, tem altas sensibilidade e especificidade para TVP proximal. o É indicada quando houver dificuldade à ultrassonografia por obesidade do paciente ou por imobilidade do membro com gesso ou plástico. o O trombo produz uma imagem positiva sem o uso de material de contraste, devido ao seu conteúdo de meta-hemoglobina. o Embora a VRM seja precisa para diagnosticar e excluir a TVP, o exame é caro e ainda não está disponível na maioria dos centros • Venografia com Contraste o A venografia contrastada ascendente ainda é o “padrão-ouro” para o diagnóstico, mas em consequência de seu custo, desconforto para o paciente e potencial de efeitos adversos, atualmente só é indicada em pacientes sintomáticos quando persiste incerteza diagnóstica após exame não invasivo ou em caso de indisponibilidade destes. o Um defeito de enchimento intraluminal constante é diagnóstico de trombose aguda, e a TVP pode ser excluída em pacientes que têm um venograma normal adequadamente executado. o Efeitos colaterais menores de dor local, náusea e vômito não são incomuns, enquanto reações adversas mais sérias, como anafilaxia ou outras manifestações alérgicas, são raras. o A venografia também pode induzir TVP DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Tromboflebite superficial • Celulite • Linfedema • Compressão extrínseca de veia por tumor ou linfonodo aumentado • Estiramento, distensão ou dilaceração muscular • Ruptura de cisto sinovial do joelho (cisto de Baker) CONDUTA TERAPÊUTICA • Repouso no leito, de preferência na posição de Trendelenburg com frequente movimentação passiva e ativa dos membros inferiores. • Meias elásticas de tamanho e compressão adequados quando a dor e o edema tiverem diminuído bastante. • Quando a dor diminuir fazer caminhadas MEDICAMENTOSO • ANTIPLAQUETARIO o AAS − Mecanismo de ação inibição irreversível da atividade das isoenzimas cicloxigenase - COX 1 (plaquetas, estômago e rim) e COX 2 (SNC, traquéia, rim, células endoteliais, testículos, ovários etc), que propiciam a transformação do ácido aracdônico em PGH2, que é o precursor imediato da PGD2, PGE2, PGF2a, PGI2 e TXA2, ocorrendo bloqueio da produção de tromboxane A2. Esta inibição decorre da acetilação da molécula da serina (posição 529 na COX-1 e 516 na COX-2). − Efeitos adversos Efeitos comuns: dor de estômago e sangramento leve (micro-hemorragias); Efeitos ocasionais: náuseas, vômitos e diarreia; Casos raros: podem ocorrer sangramentos e úlceras do estômago, reações alérgicas em que aparece dificuldade para respirar e reações na pele, principalmente em pacientes asmáticos e anemia após uso prolongado, devido ao sangramento oculto no estômago ou intestino; Casos isolados: podem ocorrer alterações da função do fígado e dos rins, queda do nível de açúcar no sangue e reações cutâneas graves. Doses baixas de ácido acetilsalicílico reduzem a excreção de ácido úrico e isso pode desencadear ataque de gota em pacientes susceptíveis. o CLOPIDOGREL − Mecanismo de ação É um pró-fármaco – precisa de metabolização hepática pelas enzimas do citocromo P450. Seu metabólito ativo age como inibidor irreversível do receptor de adenosina difosfato (ADP) – inibe seletivamente a ligação da ADP ao receptor plaquetário P2Y12, inibindo assim a ativação do complexo glicoproteico GP IIb/IIIa mediado por ADP. − Efeitos adversos hemorragias; dispepsia, dor abdominal, diarreia; pode causar aumento do tempo de sangramento, leucopenia e plaquetopenia (raro). • ANTICOAGULANTES o Heparina não fracionada − A HNF tem efeito anticoagulante ligando-se à antitrombina e acelerando sua atividade, evitando, assim, a formação de novos trombos. − A dose de HNF tem como meta obter tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) de 60 a 80 segundos. − A principal vantagem da HNF é sua meia-vida curta, o que é especialmente útil nos pacientes em que se deseja controle hora a hora do grau de anticoagulação. A heparina também tem efeitos pleiotrópicos que podem diminuir a inflamação local e sistêmica. − Dose inicial: 80 U/ kg, EV − Dose de manutenção:18 U/ kg/h, em infusão continua. (Controle do TTPa, que deve ser mantido em 1,5 a 2 vezes o normal) TTPa DOSE (UI/kg) Dose inicial 80 bolus, em seguida 18/h <35 s (<1,2x) 80 bolus, em seguida 4/h 35 a 45 s (1,2 a 1,5 ×) 40 bolus, em seguida 2/h 46 a 70 s (1,5 a 2,3 ×) Sem mudança 71 a 90 s (2,3 a 3 ×) Diminuir a taxa de infusão para 2/h >90 s (>3 ×) Manter a infusão por 1 hora, em seguida diminuir a taxa de infusãopara 3/h o Heparina de baixo peso molecular (HBPM) (não há necessidade do controle laboratorial rígido e frequente) − Nadroparina -SC,85,5 UI mg/kg, 12/12 h, ou 171 UI mg/kg, 1 vez ao dia; OU − Enoxaparina, 100 UI mg/kg, 12/12 h, ou 150-200 UI mg/kg, 1 vez ao dia; OU − Dalteparina, 100 UI mg/kg, 12/12 h, ou 200 UI mg/kg, 1 vez ao dia. INDICAÇÕES DIRETRIZES TEV suspeito Obter a linha de base de TTPa, TP, HC Verificar contraindicação à terapia com heparina Solicitar um estudo de imagem; considerar prescrição de heparina não fracionada IV (5.000 UI) ou HBPM TEV confirmado Administrar HBPM (dalteparina, enoxaparina, nadroparina, tinzaparina, fondaparinux) Iniciar a terapia com varfarina no dia 1 com 5 mg e ajustar a dose diária subsequente de acordo com a INR Verificar a contagem de plaquetas entre os dias 3 e 5 Interromper a terapia com HBPM depois de, pelo menos, 4 ou 5 dias da terapia combinada quando a INR >2 Anticoagular com varfarina por, pelo menos, 3 meses em uma INR de 2,5, intervalo de 2 a 3 (ver texto para alternativas à varfarina: “Inibidores Diretos Orais da Trombina e Inibidores do Fator Xa”) • Warfarina “Cumarinicos” o Antagonista da vitamina K impede a ativação da carboxilação dos fatores de coagulação II, VII, IX e X. o São necessários pelo menos 5 dias para que a varfarina exerça seu efeito completo, mesmo se o tempo de protrombina, usado para monitoração, apresentar elevação mais rápida. o Se a varfarina for iniciada como monoterapia durante um episódio de trombose aguda, uma exacerbação paradoxal da hipercoagulabilidade aumenta a probabilidade de trombose o A sobreposição de HNF, HBPM, fondaparinux ou de inibidores diretos da trombina com a varfarina por pelo menos 5 dias irá anular o efeito pró-coagulante inicial da varfarina. o Administração VO, iniciar 1 a 5 dias após a primeira dose de heparina, dose diária única de 5 mg OU • Femprocumona o Administração VO, 3 mg/dia ajustando-se a dose com base no tempo de protrombina (atingir TP de 1,3- 1,5 vez o valor de controle ou o RNI de 2 a 3). − O paciente deve permanecer em uso de heparina, até atingir o nível desejado de TP. (Se a warfarina ou femprocumona forem contraindicadas, administrar heparina de baixo peso molecular.) TERAPIA TROMBOLITICA Estreptoquinase, ativador do plaminogênio tecidual - Para acelerar a redução do edema, pode-se associar flebotônico ou linfocinéticos. FILTRO DE CAVA Filtros de veia cava têm sido indicados para pacientes com TEP aguda, na presença de contraindicação ou de complicação relacionada ao uso de anticoagulantes. São também utilizados nas recidivas de TEP, a despeito de anticoagulação adequada, bem como na presença de TEP maciça e nos casos cirúrgicos de embolectomia COMPLICAÇÕES • Insuficiência venosa crónica. • Síndrome pós-trombótica. • Isquemia dos tecidos moles associada a coagulo maciço e pressões venosas muito altas - Flegmasia cerulea dolens (condição rara, mas, quando presente, deve ser considerada uma emergência cirúrgica) • Gangrena • Embolia pulmonar (10-20% dos casos). • Embolia sistêmica (" embolização paradoxal") nos casos em que existe derivação arteriovenosa (rara), ou comunicação direita-esquerda no coração. • Hemorragia induzida pelo tratamento anticoagulante: cerebral, digestiva, urinária. PREVENÇAO • Evitar imobilidade prolongada • Praticar exercícios com regularidade • Utilizar contraceptivos orais com baixas doses de estrogênio • Usar meias elásticas antitrombose em pacientes de risco • Compressão mecânica intermitente dos membros inferiores • Movimentação dos membros inferiores no repouso prolongado • Anticoagulação oral contínua nos pacientes com história de TVP de repetição ou com trombofilia Tromboembolismo Pulmonar A embolia pulmonar (EP) é consequência da formação de trombos em uma veia profunda do corpo, mais frequentemente nos membros inferiores. A formação de trombos no sistema venoso ocorre como resultado de estase venosa, trauma e hipercoagulabilidade. Esses fatores são coletivamente conhecidos como a tríade de Virchow. EPIDEMIOLOGIA • Aproximadamente 51% dos trombos venosos profundos embolizam para a vasculatura pulmonar, resultando em uma EP • A tromboembolia pulmonar (TEP) aguda é uma das principais causas de emergência cardiovascular e, em cerca de 25% dos casos, a manifestação clínica inicial é a morte súbita. • A incidência anual varia de 23 a 69 casos para cada 100.000 habitantes, com mortalidade de até 30% nos pacientes não tratados e com redução desta taxa para 2,5 a 10% nos pacientes tratados adequadamente. • Entre as doenças cardiovasculares é a 3ª causa de morte, ficando atrás somente de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular. • Nos Estados Unidos, cerca de 5 milhões de pacientes são acometidos anualmente por pelo menos um episódio de trombose venosa profunda (TVP) das pernas. Destes, 500.000 pacientes (10%) desenvolvem TEP e 10% (50.000) acabam morrendo. Mesmo assim, apenas 30% dos casos de TEP são diagnosticadas antes do óbito FATORES DE RISCO • Os fatores de risco estão intimamentes linkados com a fisiopatologia da doença: formação de trombos. • As situações que propiciam a formação desses trombos compõem a Tríade de Virchow: Estase, Hipercoagulabilidade e Lesão Endotelial. • Fatores de Risco Hereditários o Mutação do fator V de Leiden o Mutação do gene de protrombina o Deficiência da proteína C ou S o Deficiência de antitrombina o Desfibrinogemia o Deficiência de Plasminogênio • Fatores de Risco Adquiridos o Uso de CVC o Tabagismo o Idade > 75 anos o Trauma o Doença inflamatória intestinal o Acidente Vascular Cerebral o Gestação e puerpério o Insuficiência Cardíaca o Imobilização o Obesidade o Hermoglobinúria paraxística noturna o Doenças mieloproliferativas o TVP prévio o Síndrome Nefrótica o Síndrome do Anticorpo Anti-Fosfolípide - SAAF o Malignidade o Infecção atual o Uso de ACO ou terapia hormonal É importante saber que a maior parte dos trombos que se desprendem, ganham a corrente sanguíneo, vão para os pulmões e originam TEP estão nas veias ílio-femorais (metade dos trombos íleo-femorais evoluem para embolia pulmonar). Os trombos na panturrilha sozinhos, tem risco baixo, porém a maioria dos trombos ílio-femorais advém de trombos na veia poplítea. FISIOPATOLOGIA • Os trombos raramente se desenvolvem de novo na vasculatura pulmonar. • Os coágulos geralmente se formam no sistema venoso profundo dos membros inferiores e embolizam. • A fisiopatologia está diretamente relacionada à da trombose venosa profunda (TVP). • A embolia pulmonar (EP) ocorre quando um trombo se desloca e fica preso na vasculatura pulmonar. Essa obstrução aumenta a resistência vascular pulmonar (RVP), aumentando o trabalho do ventrículo direito. O ventrículo direito compensa aumentando a frequência cardíaca e usando a reserva de pré-carga de Frank-Starling através da dilatação. Aumentos adicionais na RVP fazem com que os mecanismos compensatórios do ventrículo direito (VD) sejam superados, causando super distensão do ventrículo direito, aumento na pressão diastólica final do VD e diminuição no débito cardíaco do VD. A diminuição do débito do VD causa uma diminuição na pré-carga ventricular esquerda (VE). Conforme diminuem o enchimento e o débito cardíaco do ventrículo esquerdo, a queda na pressão arterial média evolui para hipotensão e choque. • Em indivíduos previamente saudáveis, isso pode ocorrer quando 50% da vasculatura pulmonar estiver obstruída QUADRO CLÍNICO A TVP e TEP estão conectados, portanto, devemos valorizar os sinais e sintomas de ambas as patologias. Ao identificar algum sinal que abra a suspeita de embolia pulmonar devemos pesquisar os sinais e sintomas de TVP e vice-versa. • Sinaise sintomas de TVP o Dor espontânea ou a palpação do membro inferior o Sinal de Homans - Caracterizada por dor ou desconforto na panturrilha após dorsiflexão passiva do pé o Edema assimétrico e depressível de membro inferior o Dilatação Venosa superficial (rubor local) o Empastamento o Calor local • Sinais e sintomas de Tromboembolismo Pulmonar (TEP) o Dispneia súbita o Dor torácica o Hemoptise o Taquicardia o Dor pleurítica o Taquipneia O quadro clínico clássico da TEP, ocorre em apenas 20% dos casos o Dor torácica subesternal o Sibilos o Tosse o Febre o Hemoptise o Edema unilateral de MMII Os sinais e sintomas de TEP são muito inespecíficos, logo, o que nos ajuda na conduta diagnóstica são os escores de probabilidade pré teste! Entretanto, há um achado que SEMPRE deve levantar suspeita de TEP: DISPNEIA SÚBITA! Os sintomas e sinais de TEP submaciça são pouco evidentes e podem ser transitórios. Na TEP maciça ou em pacientes com pouca reserva cardiovascular, as manifestações clínicas são mais intensas. o Os sintomas mais frequentes são a dispneia, dor pleural, ansiedade, tosse, taquicardia, febre e hemoptise. DIAGNÓSTICO • Utiliza-se dois escores: Geneva modificado ou Wells. • Ao calcular a probabilidade vocês irão dividir o paciente em baixo, moderado ou alto risco. • Essa classificação guia a conduta diagnóstica EXAMES COMPLEMENTARES NO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR (TEP) • D-dímero o O D-dímero é um produto da degradação da fibrina, portanto, está aumentado nos insultos em que o sistema de coagulação está trabalhando a todo vapor. Então, ele não é um exame específico de TEP e é insuficiente para fechar o diagnóstico. o A principal função do D-dímero é excluir TEP em casos em que os escores pré-teste resultaram em baixa probabilidade. Isso se dá por causa do seu alto valor preditivo negativo (99,5%). Porém, temos que ter em mente: − Não exclui TEP quando a probabilidade é alta; • Escore baixo o d-dímero − Negativo eu descarto TEP. Positivo realiza- se Angio-TC de Tórax • Escore médio ou alto o Angio-TC de tórax − Positivo confirma TEP − Negativo eu descarto TEP. • O d-dímero positivo não confirma TEP mas devido ao seu valor preditivo negativo, quando o d-dímero estiver negativo as chances de ser tromboembolismo pulmonar são MUITO baixas! https://www.instagram.com/p/B1gXc2QB4uL/ − Está aumentado em outras patologias (ex.: infarto agudo do miocárdio). • Angio-TC de Tórax o A Angio-TC de Tórax não é o padrão ouro, porém é o exame mais acurado para ser utlizado na prática! Apesar de não está disponível em todos os serviços, a Angio-TC de Tórax é exame de escolha em pacientes estáveis com intermediária ou alta probabilidade de TEP pelos escores prognósticos. • BNP, NT-proBNP e Troponina o Utilizados como avaliação prognóstica e estratificação de risco. Alguns autores sustentam que níveis elevados em pacientes estáveis, porém com disfunção de ventrículo direito, indicam pior prognóstico. Portanto, esses pacientes podem se beneficiar de trombólise. • Gasometria Arterial o Gasometria arterial demonstrando hipoxemia no contexto de um Raio-X de Tórax limpo aumentam a suspeita de TEP. No entanto, esse exame pode vim normal em até 18% dos casos. Dentre as alterações: − Hipoxemia (74%); − Hipocapnia e alcalose respiratória (41%); − Gradiente A-a aumentado (62%) • Eletrocardiograma o O ECG tem pouca contribuição no TEP, mas ele deve ser usado como diagnóstico diferencial de SCA. Geralmente, demonstram alterações inespecíficas como: taquicardia sinusal (principal – em 50% dos casos), desvio do eixo para a direita, Bloqueio de Ramo Direito - BRD (15%), inversão da onda T em V1 a V4, ou presença de “strain de VD” o O único sinal específico de TEP é bastante incomum (menos de 10% dos casos): a presença do “S1Q3T3”: onda S em D1, onda Q em D3 e inversão de onda T em D3 • Radiografia de Tórax o No tromboembolismo pulmonar, o Raio-X de Tórax está sem alterações na maioria dos casos. Mas isso não quer dizer que esse exame não deve ser feito. Ele é muito útil para avaliar os possíveis diagnósticos diferenciais de TEP, como pneumonias, derrames pleurais e congestão pulmonar. o Achados inespecíficos são podem ser vistos em alguns casos: atelectasias laminares, aumento da área cardíaca (direita), derrame pleural unilateral e de pequeno volume e elevação da hemicúpula diafragmática. o Existem achados mais específicos, porém raros, que sugerem TEP, são eles: o Corcova de Hampton: imagens hipotransparentes em formato de cunha em bases pulmonares referentes à área de infarto pulmonar (figura 2); o Sinal de Westermark: áreas de hipoperfusão pulmonar com diminuição da trama vascular; o Sinal de Palla: dilatação da artéria pulmonar • USG à beira do leito o A USG à beira leito é um exame muito útil e prático para diagnóstico presuntivo de TEP, principalmente em pacientes instáveis em que o diagnóstico permanece obscuro. o Portanto: a visualização de TVP no Doppler Venoso de Membros Inferiores em pacientes com clínica sugestiva de TEP nos permitem iniciar a terapêutica adequada. • Ecocardiograma Transtorácico (ECO-TT) o Nos permite um diagnóstico presuntivo e iniciar terapia. o Os achados principais são: dilatação de ventrículo direito, hipertensão pulmonar, insuficiência tricúspide e visualização de trombo em VD ou AD. o Um sinal bem sugestivo é o Sinal de McConnel: hipocinesia segmentar da base livre de VD. No entanto, o ideal seria a visualização de trombo no trombo pulmonar ou na parte proximal das artérias pulmonares, porém esse achado é difícil de ser visto em ECO-TT, sendo mais fácil de ser observado no Ecocardiograma Transesofágico. OUTROS EXAMES DE IMAGEM • Cintilografia com relação V/Q: muito pouco utilizado na prática atualmente • Arteriografia pulmonar: padrão-ouro no diagnóstico de TEP, porém pouco utilizado por ser invasivo • Conduta terapêutica no Tromboembolismo Pulmonar (TEP) Corcova de Hampton em base pulmonar direita DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Pneumonia • Pleurite • Pericardite • Pneumotórax • Síndrome isquêmica coronariana aguda • Infarto agudo do miocárdio • Dissecção aguda da aorta CONDUTA TERAPÊUTICA • Suporte respiratório e hemodinâmico conforme necessário. • Paciente com alta probabilidade clínica de embolia pulmonar - Iniciar tratamento até resultados de exames MEDICAMENTOSO HEPARINA • Heparina de baixo peso molecular (HBPM) o Enoxiparina, 2 mg/kg/dia, SC, 12/12 h (cada 0,2 cc = 20 mg). o Dalteparina, 200 unidades/kg/dia, se, 12/12 h (1 amp. = 10 ml = 10 .000 unidades. o Nadroparina, 225 unidades/kg/dia, SC, 12/12 h (cada 0,3 cc = 3.075 unidades). Não há necessidade de monitoriza r laboratorialmente. Em embolia não maciça é o tratamento mais recomendado. Pode ser utilizada com segurança em obesos mórbidos de até 150 kg com dose conforme o peso AGENTE DOSE POSOLOGIA Enoxaparina 1 mg/kg Duas vezes ao dia 1,5 mg/kg Uma vez ao dia Dalteparina 100 U/kg Duas vezes ao dia 200 U/kg Uma vez ao dia Tinzaparina 175 U/kg Uma vez ao dia Fondaparinux 5 mg (peso <50 kg) Uma vez ao dia 7,5 mg (peso 50 a 100 kg) Uma vez ao dia 10 mg (peso >100 kg) Uma vez ao dia Rivaroxabana 15 mg Duas vezes ao dia durante 3 semanas 20 mg Uma vez ao dia a partir daí Apixabana 10 mg Duas vezes ao dia durante 7 dias 5 mg Duas vezes ao dia a partir daí ALTERNATIVAS • Heparina não fracionada (HNF) o Bolus EV, 80 U/lkg ou 5.000 UI. o Infusão contínua, 18 Ul/kg/h ou 1.300 UI/h, ajustado a seguir para manter o TTPA entre 1,5 e 2,5 o controle. Determinar TTPA a cada 6 horas e ajustar a dose conforme necessário até TTPA ideal. A seguir, TTPA diariamente Preferir esse esquema em casos de TEP maciço com necessi dade de trombolítico, em pacientes com insuficiência renal grave (CI Creatinina< 30 ml/min). • Heparina não fracionada (HNF) se dose ajustada o Dose inicial de 17.500 UI ou 250 Ul/kg, SC,de 12/12 h, ajustar a dose para manter TTPA entre 1,5 e 2,5 o controle (dosar o TTPA 6 h após a infusão). • Heparina não fracionada (HNF) se dose fixa o Dose inicial de 333 Ul/kg e, a seguir, 250 Ul/kg, 12/12 h. VARFARINA • 5 mg/dia, VO, iniciar no primeiro dia e, após o 3° dia, ajustar dose aumentando ou diminuindo a dose semanal em 20%, de acordo com o tempo de protrombina (RNI deve fica r entre 2 e 3 vezes o controle normal). • A duração do tratamento com anticoagulante oral vai depender da persistência ou não do(s) fator(es) de risco (duração mínima de 3 meses). • Suspender heparina após atingir RNI ideal por 2 dias consecutivos (manter heparina e anticoagulante oral por no mínimo 5 dias). Observações: 1. Anticoagulante oral em gestante é contraindicado; 2. Em paciente anticoagulado que continua apresentando episódios de embolia ou em paciente com contra indicação absoluta de anticoagulante, avaliar possibilidade de colocar filtro de veia cava. TROMBOLÍTICOS (ESTREPTOQUINASE, ATIVADOR DO PLASMINOGÊNLO) • Indicados em pacientes com instabilidade hemodinâmica • Podem também ser considerados em pacientes com disfunção de VD e injúria miocárdica. COMPLICAÇÕES • Infarto pulmonar • Infecção pulmonar • Embolia pulmonar recorrente • Hipertensão pulmonar tromboembólica crônica • Cor pulmonale (agudo e crônico) REFERÊNCIAS 1. Medicina interna de Harrison [recurso eletrônico] / J. Larry Jameson... [et al.] . 20. ed. – Porto Alegre: AMGH, 2020. 2. Harrison’s Principles of Internal Medicine. Kasper et al., 19ª ed. McGraw-Hill, 2015. 3. Goldman-Cecil Medicina, volume 1. 25. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. 4. Manual de hematologia: Programa Integrado de Hematologia e Transplante de Medula Óssea/coordenador Nelson Hamerschlak -Barueri, SP: Manole, 2010. 5. Vademecum de clínica médica - Celmo Celeno Porto. 3.ed.- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 6. Tratado de hematologia. Nelson Spector, Dimas Tadeu Covas, Eduardo Magalhães Rego. - São Paulo: Editora Atheneu, 2013. 7. BMJ
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