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~ SUMÁRIO FEBRE E INFLAMAÇÃO .............................................................................................................. 1 FEBRE ............................................................................................................................................................... 7 PERGUNTAS REALIZADAS AO PACIENTE COM FEBRE: ............................................................................. 10 HIPOTERMIA ................................................................................................................................................... 14 INFLAMAÇÃO .................................................................................................................................................. 15 PERGUNTAS REALIZADAS AO PACIENTE COM INFLAMAÇÃO ................................................................... 20 EDEMA, DISPNÉIA E CIANOSE ................................................................................................ 21 EDEMA ............................................................................................................................................................ 23 DISPNEIA ........................................................................................................................................................ 36 CIANOSE ......................................................................................................................................................... 40 SÍNDROMES HEPÁTICAS ......................................................................................................... 44 SÍNDROME ICTÉRICA..................................................................................................................................... 47 ANAMNESE DO PACIENTE COM INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA ...................................................................... 58 SEMIOLOGIA DA DOR .............................................................................................................. 61 LESÕES ELEMENTARES .......................................................................................................... 66 SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E PERDA SÚBITA DE CONSCIÊNCIA ........... 85 SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA .................................................................................................. 85 PERDA SÚBITA DE CONSCIÊNCIA ................................................................................................................ 96 SÍNDROMES PLEURO-PULMONARES .................................................................................. 103 SÍNDROMES RENAIS .............................................................................................................. 121 ANAMNESE .............................................................................................................................. 132 ELEMENTOS DA ANAMNESE ....................................................................................................................... 134 EXAME FÍSICO GERAL E DE CABEÇA E PESCOÇO........................................................... 136 EXAME FÍSICO GERAL ................................................................................................................................. 138 EXAME FÍSICO DE CABEÇA E PESCOÇO ................................................................................................... 144 EXAME FÍSICO DE TÓRAX ..................................................................................................... 147 EXAME FÍSICO DE ABDOME .................................................................................................. 156 EXAME FÍSICO CARDIOVASCULAR ..................................................................................... 169 EXAME FÍSICO DO CORAÇÃO ..................................................................................................................... 171 SÍNDROMES DISPÉPTICA, DIARREICA E DISFÁGICA........................................................ 185 SÍNDROME DIARREICA ................................................................................................................................ 185 SÍNDROME ANÊMICA ............................................................................................................. 193 DOR TORÁCICA....................................................................................................................... 204 AVALIAÇÃO E EXAME OSTEOMUSCULAR ......................................................................... 215 SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA ............................................................................................... 226 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS .............................................................................................. 239 AVISOS 1- É recomendado que esse resumo seja impresso colorido, principalmente a parte de lesões elementares. 2- Os códigos QR ao longo do resumo são de vídeos do YouTube relacionados ao tema abordado. Para usá-los, use o aplicativo de câmera do celular (caso ele ofereça suporte) ou baixe um aplicativo de leitura de QR Code na Google Play/App Store (obrigada Nelore ♥). 3- A ordem das aulas podem variar de semestre para semestre, leve isso em conta ao encadernar o resumo ou numerar as páginas. 4- As referências usadas no resumo foram as aulas, o Porto de Semiologia e o Moore de Anatomia. 5- Podem avisar a Medusinha caso encontrem qualquer erro ou algo do tipo ao longo do resumo. Bons estudos amorecos. ♥ 1 FEBRE E INFLAMAÇÃO Medusa – 86 Os seres humanos, por serem animais endotérmicos, apresentam controle interno da temperatura corporal. Este controle é importante para que os processos bioquímicos e celulares sejam mantidos e realizados da melhor forma possível. Para que isso ocorra, há uma região cerebral (controle central) que, em associação com o hipotálamo e a hipófise, formam o centro termorregulador. O centro termorregulador é dividido em duas regiões: um centro de dissipação de calor e um centro de produção de calor. Estes dois centros funcionam em anfotonia (quando dois sistemas antagônicos atuam um sobre o outro, se auto-regulando – como ocorre no SNA -, ex.: quando o centro de dissipação é ativado, o centro de produção é desativado, e vice-versa). Como existe uma regulação anfótona dos dois centros, existe uma temperatura em torno da qual o organismo vai se manter, sendo chamada de ponto térmico marcado. A temperatura corporal permanece quase constante, em uma variação fisiológica de no máximo 0,6 ºC (indo de 36,6ºC a 37,2ºC). Em alguns momentos, é normal (alteração fisiológica) que a temperatura aumente, como após refeições e realização de exercícios físicos. Soma-se a essa alteração fisiológica do corpo uma alteração circadiana que ocorre também na temperatura, variando em até 1,5ºC. Portanto, a variação de temperatura normal vai de 36,6ºC a 37,2ºC, mais a variação circadiana. É possível chegar até 38,2ºC sem que seja patológico. Desta forma, só é realmente considerando um aumento da temperatura patológico acima de 38,2ºC. Hipertermia: Qualquer elevação da temperatura corpórea, acima de 38,2ºC. 2 Existem fatores tanto para a produção de calor quanto para a dissipação de calor, podendo ser citados: Fatores de produção de calor: Calor ambiental Atividade metabólica: Para alguns indivíduos, substâncias como a cafeína podem promover aumento da atividade metabólica. Exercício físico: Até mesmo a atividade física local (exemplo: realizar a flexão e extensão de apenas um braço) é capaz de causar um aumento da temperatura na região. Alimentação: Certos alimentos produzem mais calor do que outros, visto que alguns demandam mais energia para serem metabolizados. Isso explica a busca por alimentosmais calóricos durante dias mais frios (o corpo busca obter mais energia para suprir a sua nova necessidade: produzir mais calor para regular a temperatura interna em relação à externa). Atividade dos hormônios tiroideanos: A tiroxina (principalmente) aumenta a atividade metabólica celular, produzindo mais energia Contração muscular Vasoconstricção periférica: É uma maneira de reter a energia térmica, já que se diminui a superfície de perda de calor do sangue para o meio externo. Isso explica o aspecto pálido dos indivíduos em um dia mais frio. Fatores de dissipação de calor: Sudorese: É o mecanismo de perda de calor mais efetivo dos mamíferos. Taquipneia: Forma de perder calor efetiva nos mamíferos menores (ex.: cão) Vasodilatação: Ocorre para tentar aumentar a superfície de troca de calor do sangue no vaso. Causa vermelhidão na pessoa (especialmente nas bochechas). 3 Importâncias do aumento da temperatura corpórea O aumento da temperatura corpórea é importante para garantir a sobrevida em casos de infecção. O aumento da temperatura corpórea ativa a capacidade fagocítica dos glóbulos brancos, de modo que eles tenham mais avidez por realizar a fagocitose dos agentes infecciosos. Além disso, os efeitos citotóxicos das células são maiores também sobre os agentes agressores. Soma-se a estes fatores o fato de que o aumento da temperatura pode fazer diminuir o crescimento do agente infeccioso, além de diminuir a sua virulência (capacidade que o agente infeccioso possui de agredir o seu hospedeiro – quanto mais virulento, mais agressivo). O aumento da temperatura causa também maior consumo de oxigênio e, com isso, há um aumento da necessidade hídrica e calórica. A temperatura maior do que 37,8ºC em um feto dobra a chance de defeito no tubo neural. Devido a isso, mulheres cujos fetos estão no período embrionário (até 8ª semana) devem se manter atentas à ocorrência de processos infecciosos e inflamatórios e às variações de temperatura. Condições de hipertermia Há 3 condições onde ocorrem aumentos na temperatura corpórea, sendo elas: Insolação: o organismo aumenta a sua temperatura devido à recepção de energia irradiada (ex.: insolação solar – o indivíduo, à noite, relata 4 quadros de febre: possui uma hipertermia devido à energia solar irradiada) Intermação: o organismo aumenta a sua temperatura devido à energia proveniente por convecção Fármacos: substâncias termogênicas, como os barbitúricos (substâncias anticonvulsivantes que atuam no sistema nervoso central, como o fenobarbital - gardenal), as anfetaminas (substâncias que aumentam a temperatura corpórea, causam taquicardia, como LSD e ecstasy). o Apesar de por vezes substâncias termogênicas serem utilizadas com a finalidade de auxiliar na perda de peso durante a realização de atividades físicas, o seu efeito para essa finalidade é muito pequeno. Ocorre, ao invés disso, uma sobrecarga da atividade cardiovascular (que passa a funcionar mais do que seria necessário para a realização da atividade). É importante ressaltar que todo aumento de temperatura muito acentuado causa alteração das proteínas do citoplasma, desnaturando-as e evoluindo para um quadro de óbito. Regulação da temperatura Quando ocorre o aumento da temperatura por qualquer motivo, há no centro termorregulador a ativação do centro de dissipação de calor, e o desligamento do centro de produção de calor. Quando ocorre a ativação do centro de dissipação de calor, este envia estímulos para que ocorra a vasodilatação periférica (que deixa no indivíduo a sensação de calor), levando à perda de calor. Quando o centro de dissipação de calor é ativado, há uma ativação da sudorese, que promove uma dissipação de água para a perda de calor. Além disso, as glândulas sudoríparas, ao serem ativadas, liberam também bradicinina, que contribui ainda mais com a vasodilatação periférica. A sensação de calor provocada pela vasodilatação periférica faz com que o indivíduo evite permanecer em um lugar quente e manter situações que lhe tragam aumento da temperatura, de modo que ele passe, involuntariamente, a adotar ações que auxiliem na diminuição da temperatura corpórea, como a retirada de uma blusa de frio ou a busca por um local mais fresco para se posicionar (medida que também auxilia no controle da temperatura). Estas ações acontecem devido a uma ativação do sistema límbico. 5 O contrário ocorre se há uma diminuição da temperatura: passa a haver uma ativação do centro de produção de calor. Para haver esta produção de calor, há uma ativação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático, que causa um aumento do tônus muscular (o que explica porque o ser humano fica mais arrepiado durante o frio e muito mais tenso, contraído), de modo que ela pode ser tão intensa que chegue a causar calafrios (tremores). A função do calafrio é realizar uma contração muscular que produza calor para alcançar a temperatura objetivada pelo ponto térmico marcado. A ativação simpática causa também a liberação de neurotransmissores (epinefrina e norepinefrina) que aumentam a atividade metabólica (e, com isso, aumentam a temperatura). Ao contrário do que ocorre no aumento da temperatura, ocorre uma vasoconstrição periférica durante a diminuição da temperatura (visando reduzir as trocar de calor com o meio externo), de modo que a pessoa possua a sua ruborização da face reduzida e apresente certa palidez 6 7 FEBRE Define-se como febre uma elevação anormal da temperatura corpórea devido a uma alteração do centro termorregulador, levando a um aumento do ponto térmico marcado. Ao acontecer esta alteração do ponto térmico marcado, o organismo passa a entender que a temperatura ideal objetivada não é mais 36ºC, mas sim 39ºC (por exemplo). Com isso, se durante esta alteração o indivíduo se apresentar com uma temperatura de 37ºC, o centro termorregulador vai entender que a temperatura está mais baixa do que o esperado (39ºC), ativando o centro de produção de calor e todos os mecanismos que ocorrem em um cenário de diminuição de calor (vasoconstricção periférica, calafrios, busca por mais vestes, etc). A diferença entre a hipertermia e a febre é que a primeira NÃO altera o ponto térmico marcado, enquanto a segunda ALTERA. Isto explica por que o aumento da temperatura realizado durante a prática de um exercício físico não é caracterizado como febre, mas sim como um aumento fisiológico da temperatura. Fisiopatologia da febre Para compreender a fisiopatologia da febra, é necessário compreender o que é um Pirógeno Endógeno (PE). Um PE consiste em um sinal emitido pelas próprias células imunitárias do organismo frente ao contato com um corpo estranho. 8 Para que a febre ocorra, o PE circula pela corrente sanguínea, ativando as demais células imunitárias e promovendo respostas específicas no organismo frente ao quadro (é importante ressaltar que quem faz todo esse processo de sinalização da infecção não é o agente invasor em si, mas sim um intermédio produzido pelo próprio organismo – o PE). Exemplo disso é quando há um estímulo (ex.: bactéria) que entra em contato com o organismo. Este agente é non-self (visto que ele não faz parte do organismo humano naturalmente), sendo classificado como um antígeno. A presença dos antígenos desencadeia a cascata imunológica, que envia para o local uma célula capaz de reconhecer o antígeno e fagocitá-lo. Após a fagocitose, a célula elimina parte do DNA do antígeno, de modo que esta célula, do momento em diante, passa a ser chamada de apresentador de antígeno. Este apresentador de antígeno apresenta o antígeno para outras células (ex.: leucócitos), causando uma resposta inflamatória contra todos os demais antígenos circulantes. Todavia, para que essa “apresentaçãodo antígeno” ocorra, é necessário a liberação de algumas substâncias (pelo apresentador de antígeno) para que as demais células sejam atraídas. Estas substâncias liberadas são chamadas de citocinas. Existem diversos tipos de citocinas (ex.: interleucinas, interferons, fator de necrose tumoral – TNF. Quando a sua liberação não é efetiva, não há a devida sinalização da mitose incorreta para que as células alteradas sejam destruídas, de modo que elas continuam a se dividir e dão origem a um câncer). As citocinas são um exemplo de PE, visto que elas atravessam a barreira hemato-encefálica e, ao chegarem ao cérebro, ativam a liberação de prostaglandinas. As prostaglandinas, por consequência, alteram o hipotálamo, mudando a sua conformação habitual e fazendo com que o ponto de temperatura marcado seja aumentado. 9 Portanto, não é o antígeno em si (ex.: vírus/bactéria) que causa a alteração do ponto térmico marcado, mas sim todo o contexto da produção de um fator interno frente à presença do antígeno, que leva à produção de prostaglandinas que mudam o PTM. A febre é uma síndrome clínica A febre pode ser um sinal (se ao se utilizar o termômetro, observar a elevação da temperatura), ou sintoma (se o paciente referir que anteriormente apresentou febre), mas é mais comumente classificada como uma síndrome clínica, visto que ela envolve uma série de sinais clínicos. O paciente febril geralmente não se apresenta em bom estado geral, mas sim com os seguintes sinais clínicos e sintomas: Astenia: Sintoma que quer dizer que a pessoa está indisposta. Isso ocorre pois a circulação de citocinas leva à sensação de mal-estar. Taquicardia: O aumento da temperatura corpórea está diretamente relacionado com o aumento da temperatura sanguínea. A despolarização do nó sinusal é facilitada se o sangue que chega a ele está com uma temperatura maior, o que leva a uma taquicardia. Cefaleia: Sintoma. Uma das formas de dissipação de calor (que é objetivada em um quadro de controle da febre) é a vasodilatação. Ao ocorrer nas Aa. Cerebrais, a vasodilatação causa cefaleia (esta é a fisiopatologia da enxaqueca). Taquisfigmia: É definida como um aumento da frequência de pulso. O aumento da frequência cardíaca pode ser refletido em um aumento da pressão de pulso (percebida ao se palpar a A. Radial, por exemplo). Oligúria: A vasodilatação global acomete também as arteríola aferente e eferente do glomérulo. A queda de pressão nas arteríolas leva a uma menor pressão intraglomerular, levando a uma menor TFG. Com a redução desta, há uma menor produção de urina. Mialgia: As citocinas circulantes agridem as células musculares. Calafrios: São consequência do processo de subir a temperatura (objetivado pela febre, já que o PTM foi elevado). Sudorese: Devido à vasodilatação realizada pelo organismo para tentar abaixar a temperatura para controlar a febre. Náuseas e vômitos: As citocinas, ao atravessarem a barreira hemato- encefálica, ativam o centro de náusea e vômito. O indivíduo também pode perder a vontade de se alimentar, causando a hiporexia. 10 PERGUNTAS REALIZADAS AO PACIENTE COM FEBRE: 1. DURAÇÃO: Há quanto tempo apresenta o quadro de febre? De poucos dias: Se for há poucos dias, pode ser uma febre característica de doenças infecciosas. Prolongada: Pacientes com febre prolongada há mais de 14 dias necessitam de uma investigação diagnóstica. o Quadros de inflamações crônicas (como em quadros de Lúpus ou Artrite Reumatóide) ou neoplasias podem causar também febre, sendo mais prolongadas. 2. DEFERVESCÊNCIA: Como foi a queda da temperatura? Todo quadro febril possui um período de ascensão da temperatura e um período de queda da temperatura (que pode ser espontânea ou devido ao uso de antitérmicos). O período de queda de temperatura é chamado de defervescência. Em crise: Quando a queda da temperatura é súbita, não dando tempo para o organismo se acomodar à queda (ex.: O PTM está em 40ºC, e ao se tomar o antitérmico ele cai bruscamente para 35,6ºC. Com isso, o corpo passa a apresentar os diversos mecanismos para se diminuir a temperatura (já que está mais elevada – 40ºC – do que o novo PTM – 35,6ºC), como vasodilatação e sudorese.) Em lise: A temperatura vai caindo lentamente, de modo que o organismo tenha tempo de se acomodar com esta diminuição (Ex.: A febre cai de 40ºC, para 39,8ºC, 39,6ºC...). Desta forma, não causa sintomas de queda temperatura como a em crise (sudorese e vasodilatação) 11 3. MODO DE EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA: Como a temperatura foi mudando? A maneira pela qual a temperatura vai decrescendo (ou aumentando) é registrada por meio de uma curva térmica (um gráfico das temperaturas). Há diversos tipos de evolução da febre, expostas a seguir: Febre contínua/Platô Febril: Variações de até 1ºC, sempre acima do normal. Febre intermitente: Há períodos em que o paciente apresenta apirexia (não possui febre) e períodos de febre, com variações muito grandes da temperatura (maior que 1ºC). Se a variação entre os períodos de ausência e presença de febre ocorre de maneira cíclica, ela pode ser chamada de febre terçã, quartã ou diária (ex.: Tuberculose – uma febre diária vespertina), dependendo da sua frequência de oscilações. Febre remitente: Não há períodos de apirexia (está sempre febril), mas há uma grande variação da temperatura (mais do que 1ºC) 12 Febre irregular ou séptica: A curva apresenta picos muito altos intercalados com temperaturas baixas ou apirexia, sem caráter cíclico ou qualquer regularidade (totalmente imprevisível) Febre recorrente ou ondulante: Há uma fase em que o paciente apresenta febre, desaparecendo em seguida durante um período prolongado, e retornando posteriormente. Se ela ocorre em um paciente com linfoma, é chamada de febre de Pel-Ebstein. DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA FEBRE Para realizar o diagnóstico clínico da síndrome febril, é necessário realizar a aferição da temperatura, procedimento feito com a utilização de um termômetro clínico. A aferição da temperatura do paciente pode ser: Termometria direta: Insere-se um sensor no interior da veia do paciente, levando-o até à desembocadura das Vv. Cavas (para que seja medida a temperatura central do paciente; do átrio direito). Por ser um procedimento invasivo, normalmente ele não é realizado (a não ser que o paciente já esteja invadido – com um cateter central). Indireta: É avaliada através de um termômetro clínico em determinados locais: o Bucal o Axilar o Retal 13 Devem ser tomados alguns cuidados com a aferição da temperatura (para que não seja medida uma temperatura fictícia), como deixar o termômetro sob luz solar; medir no local adequado e pelo tempo adequado. INVESTIGAÇÃO SEMIOLÓGICA DA FEBRE 1. Houve aferição de temperatura? É sempre a primeira coisa a ser questionada ao paciente que relatou febre como sintoma. Se sim, questionar qual a temperatura encontrada (visto que por vezes a temperatura encontrada não é classificada como febre – ex.: 36,5) 2. Qual a intensidade? Quanto deu no termômetro? 3. Qual a duração? Há quanto tempo ela vem ocorrendo? 4. Qual a evolução? Ex.: aparecia a cada 12 horas e passava espontaneamente; aparecia e só desaparecia quando tomava antitérmico, etc 5. Como foi o término da febre? Como foi a defervescência (perguntar com que velocidade passava e se sentia algo enquanto isso acontecia – sinais da defervescência em crise). 6. Qual a periodicidade? Quantos picos aconteceram ao longo do dia? 7. Quais os fatores que acompanhavam a febre? Como calafrios, mialgias, mal-estar, vômitos, astenia etc. 8. Houve uso de medicamentos? Se sim, quais e em qual quantidade? É importante obter estes dados para saber sobre a possível influência de fármacos sobre a curvatérmica (ex.: antitérmicos, corticoides, drogas para o SNC (como anticonvulsivantes) ou drogas que possam produzir febre – ex.: cápsula de cafeína). 9. Viajou recentemente? Foi para algum lugar onde estava circulando algum vírus em específico? A presença de viagens na história clínica pode auxiliar a detectar doenças infecciosas de determinada região (ex.: praias ou Amazônia). Deve-se notar também se o relato é recente (condizente com o tempo de transmissão da doença). Sinal de Lenander: Há um aumento da temperatura retal (maior em 1ºC do que a axilar). É indicatório de um processo inflamatório intra- abdominal (como acontece na apendicite). Sinal de Faget: Casos em que o paciente tem febre, mas não apresenta taquicardia (há essa dissociação). É clássica na febre amarela (em sua segunda fase) e na febre tifoide. 14 HIPOTERMIA É o oposto da hipertermia, ocorrendo quando há uma temperatura inferior a 35ºC. Ela pode ser primária ou secundária; aguda, subaguda ou crônica: Primária: Há alteração neurológica causando queda do ponto térmico marcado (exemplo disso é que a maior parte das hipotermias é causada por traumas com lesões cerebrais) Secundária: Quando se está perdendo calor para o meio externo. Hipotermia aguda: Há uma rápida queda da temperatura, sem proporcionar um tempo adequado para que o corpo se adapte. Ex.: Pessoa que cai em lago muito gelado (pode levar a uma parada cardíaca também) Hipotermia subaguda: Quando demora algumas horas para acontecer. Ex.: Ficar ao relento em uma noite muito fria Hipotermia crônica: Geralmente devido a alguma doença. Sinais da Hipotermia Os sinais da hipotermia são os sinais de resposta ao frio: são visíveis no início uma vasoconstricção, tremores e taquicardia. A hipotermia pode também ser classificada de acordo com a faixa de temperatura na qual se encontra: Hipotermia leve: De 36ºC a 33ºC. Apresenta as características descritas acima, mais letargia motora, espasmos musculares e cianose (este último devido à vasoconstricção) Hipotermia moderada: De 33ºC a 30ºC. A musculatura passa a ficar rígida, inicia-se uma vasoconstricção, uma bradipnéia (na tentativa de reter calor) e um aumento da sonolência (desligamento do SNC para poupar energia). Hipotermia grave: Menos do que 30ºC. Sonolência evolui para o coma e é dificilmente revertida. Tratamento da hipotermia O tratamento da hipotermia é baseado em aquecimento e ministração de soro fisiológico morno. 15 INFLAMAÇÃO É um termo para designar uma reação nos locais vascularizados frente qualquer agente agressor, na qual há perda de líquido e de células do sangue para o interstício. A perda de líquido para o interstício é responsável pela formação de edema. Processo inflamatório 1 - Para que a inflamação ocorra, algum agente causador de agressão (microorganismos, parasitos, agentes físicos ou químicos ou mesmo reações imunológicas) causam a liberação de mediadores inflamatórios locais, como as citocinas já citadas anteriormente ou o óxido nítrico. O óxido nítrico causa uma potente vasodilatação nos vasos, levando a uma alteração na sua permeabilidade. A maior permeabilidade leva à saída de plasma e células para o interstício (causando o edema). 2 - Com a eliminação do agente inflamatório, há uma redução da liberação dos mediadores inflamatórios, levando a uma redução do edema. A inflamação é controlada por um balanço entre a produção de substâncias anti-inflamatórias e pró-inflamatórias. 16 A partir do momento em que o agente entra no organismo (ex.: bactéria adentrando por uma lesão de pele) (1), há a ativação de um macrófago para tentar fagocitá-lo (2). O macrófago inicia então a produção de citocinas (3), as quais alteram a permeabilidade do vaso (4), levando a uma liberação de plasma e de células (como neutrófilos) para o tecido (5). Os neutrófilos liberados auxiliarão no processo de agressão do agente infeccioso (no exemplo, as bactérias) (6). Todavia, se um número excedente de neutrófilos for liberado, terá início então uma agressão do próprio tecido (além da bactéria). Portanto, a inflamação pode ser tanto boa ou ruim: a mesma inflamação que pode ser benéfica para limitar um processo inflamatório, causar aumento da sobrevida e levar à restauração e recuperação do tecido atingido, se realizada de forma muito acentuada e sem controle, pode começar a atacar o próprio órgão. Este fenômeno é observado nas doenças inflamatórias crônicas, como a Lúpus (em que há uma atividade inflamatória muito exacerbada, de modo a produzir anticorpos contra seus próprios órgãos), a artrite reumatoide, AVEs e esclerose múltipla. 17 Sinais e sintomas da inflamação No processo inflamatório é possível notar a presença de 4 sinais e sintomas clássicos (que podem evoluir para 5, se não tratado o quadro): Inchaço: Devido à alteração da permeabilidade vascular supracitada, é possível observar a presença de edema. O edema pode ocorrer de duas formas, sendo que uma delas em específico está relacionada com processos inflamatórios: o Transudato: Quando o edema ocorre devido a um aumento da pressão hidrostática, não retornando para o interior do vaso. Este edema é chamado de edema frio, pois não está acompanhado de um processo inflamatório. Ex.: Paciente com Insuficiência Cardíaca Congestiva Direita – o ventrículo direito não bombeia adequadamente, fazendo com que o sangue fique acumulado na câmara (e por consequência, no átrio direito também). Com isso, o sangue proveniente das Vv. Cavas não consegue fluir para dentro do coração, ficando acumulado dentro das veias do corpo (incluindo as de médio e pequeno calibre), levando a um aumento da pressão hidrostática dentro destes vasos. Com este aumento da pressão hidrostática, ocorre edema (de membros inferiores principalmente). Este edema, portanto, não é inflamatório, mas sim um transudato. o Exsudato: Ocorre quando, por algum motivo, há uma agressão na permeabilidade vascular, fazendo com que as proteínas e células sanguíneas migrem do interior do vaso para seu exterior. À medida que elas se concentram no interstício, tem início uma atração de líquido para o local por osmose (o que leva ao aparecimento do edema). Devido á diminuição das proteínas no sangue, o plasma tem dificuldade de retornar para dentro do vaso. Este edema é chamado de edema quente, visto que é inflamatório. Geralmente apresenta-se brilhante. 18 Calor: No sítio onde ocorra a atividade é inflamatória é possível observar uma atividade metabólica mais exacerbada, levando a um aumento da temperatura local. Rubor: Devido à vasodilatação que acontece com a liberação de óxido nítrico, é possível observar a região mais avermelhada. A região da pele mais avermelhada é chamada de eritema. Dor: A presença de líquido e células do sistema imune no interstício faz com que terminações nervosas periféricas relativas a dor sejam ativadas, fazendo com que o paciente refira dor na área infeccionada. Perda da função: Se o quadro de infecção não for controlado, os agentes inflamatórios passam a realizar agressões no tecido, levando à 19 perda da função do órgão/membro. É o que ocorre, por exemplo, na sepse (uma perda da função orgânica devido a um processo inflamatório não controlado causado por uma infecção). 20 PERGUNTAS REALIZADAS AO PACIENTE COM INFLAMAÇÃO 1. Há quanto tempo a inflamação vem ocorrendo? Esta informação é importante pois ela é capaz de informar se o quadro observado é uma inflamação aguda ou crônica. a. Aguda: Acontece há poucos dias, geralmente devido a um agente pouco patogênico (agentes mais patogênicos causariam uma inflamação mais prolongada), com uma agressão leve e em menor intensidade. O processo agudo geralmente cicatrizano final, não levando à perda de função do órgão/tecido. b. Crônica: O processo perdura vários dias, sendo o agente resistente e causando uma inflamação em grande intensidade. Pode ocorrer devido a um contato persistente (exemplo: a pessoa ser alérgica a um produto químico e estar sempre exposta a ele), podendo levar à perda da função do tecido devido a um processo de fibrose que não pode mais ser reparado. Exemplo desta perda de função devido à inflamação ocorre em um quadro crônico da Doença de Chagas, no qual o coração passa constantemente por um processo de inflamação devido à presença do Trypanosoma cruzi. Devido a isso, os cardiomiócitos passam a ser destruídos e, visando à reparação do tecido, o organismo passa a depositar colágeno no lugar das células. Todavia, o colágeno depositado não confere a elasticidade necessária às contrações cardíacas, o que leva o coração a perder parte de sua função. Além dos cardiomiócitos, pode ser destruído também o sistema de condução do coração, dando origem a arritmias. Alguns exemplos de inflamação: Terçol (acompanhando de ptose palpebral – queda da pálpebra) Espinhas (pústulas) Artrite reumatoide (produção de anticorpos contra a sinóvia. Processo irreversível em que estão presentes os sinais: dedo em boutonniere/de costureira) Amigdalites Utilização de equipamentos não esterilizados em cirurgias podem causar infecções (por microbactéria de crescimento rápido). 21 EDEMA, DISPNÉIA E CIANOSE Medusa – 86 (Primeiramente, algumas considerações que o professor fez no começo da aula) Fáscies Ao realizar a anamnese, a primeira coisa ao se observar no paciente é a sua expressão facial (denominada fácies). Ela geralmente transpassa o estado psicológico e/ou físico do paciente. Determinadas patologias possuem uma fáscie característica, como por exemplo: Fácies cunshingóide: Característica da Doença de Cushing, na qual o rosto se apresenta em meia-lua com o terço inferior arredondado Fácies renal: Característica de quando há comprometimento renal, no qual o rosto fica edemaciado bilateralmente. 22 Estado geral O estado geral do paciente pode ser classificado em bom, regular ou mau. É ele quem define, por exemplo, o agravamento de um quadro clínico. Exemplo disso é observar que, mesmo apresentando a mesma doença, dois indivíduos podem se localizar em diferentes estados gerais, de modo que um possua mais urgência no tratamento do que o outro. 23 EDEMA O edema é caracterizado pelo excesso de líquido no espaço intersticial. Este líquido pode se acumular no interior das cavidades corporais, como por exemplo no interior da cavidade peritoneal (causando a ascite) ou na cavidade pleural. A presença de líquido nas cavidades faz com que o seu som, ao ser percutido, seja submaciço. FORMAÇÃO DO EDEMA Para a formação do edema, é necessário que ocorra um desequilíbrio entre a relação de forças da pressão hidrostática e da pressão oncótica. A pressão hidrostática é aquela exercida na parede do vaso sanguíneo pela quantidade de líquido (sangue) em seu interior, sendo que ela constantemente impulsiona o plasma em direção ao interstício (de dentro para fora do vaso). A pressão oncótica é aquela exercida pela composição química do sangue, principalmente por proteínas como a albumina (que, devido à osmose, atraem o plasma que extravasa para o interstício para o interior do vaso sanguíneo novamente – evitando o acúmulo de líquido no interstício). É importante que estas duas pressões estabeleçam uma constância em sua relação, para que assim seja evitada a formação do edema. O mecanismo que normalmente ocorre (evitando a formação do edema) se dá da seguinte maneira: quando o sangue chega à transição entre o nível arteriolar e o nível capilar, o sangue possui uma pressão hidrostática (Pc) maior que a pressão oncótica (πc) (mostrado em 1), o que leva a uma migração do plasma do interior do capilar para o interstício (1.1). Todavia, ao avançar pelo leito capilar Tipos de sons que podem ser obtidos com percussões: Som maciço: Se obtém ao percutir regiões desprovidas de ar (ex.: músculo da coxa, fígado, baço, rins e coração) Som submaciço: Se obtém quando há a presença de ar em uma quantidade restrita (ex.: pulmões com edema – parte da região que deveria estar preenchida com ar somente contém agora líquido também) Som timpânico: Se obtém ao percutir qualquer área que contenha ar e seja recoberta por uma membrana flexível (ex.: intestinos ou fundo do estômago – espaço de Traube) Som claro pulmonar: Se obtém ao se percutir um tórax normal. Depende da presença de ar dentro dos alvéolos 24 e atingir a extremidade venular, a relação entre a prevalência das pressões vai sendo alterada: a pressão hidrostática (Pc) torna-se inferior à pressão oncótica (πc) (2), invertendo assim a direção do fluxo e fazendo com que o plasma que extravasou no primeiro terço do trajeto retorne para o interior do vaso (2.1). Todavia, este retorno não ocorre totalmente (não é 100% efetivo), visto que resta no interstício 1ml dos 10 que foram filtrados (reabsorve-se apenas 9). Este 1ml é retirado do interstício por meio do sistema linfático, que integra o sistema venoso na junção entre a V. Subclávia e a V. Jugular em ambos os lados do corpo, fazendo com que o plasma retorne à corrente sanguínea. Todavia, se acontece uma alteração nos fatores que mantém essa constância (pressão hidrostática, pressão oncótica e sistema linfático), há acúmulo de líquido no interstício, levando à formação do edema. As alterações podem ocorrer das seguintes formas: 1. Alteração na pressão hidrostática: Acometimento renal: O acometimento renal pode causar dois tipos de edema, tanto devido à alteração da pressão hidrostática quando à alteração da pressão oncótica: o Retenção hidrossalina devido à insuficiência renal: Decorre da morte de glomérulos. Com a morte dos glomérulos, o sangue deixa de ser filtrado em sua totalidade e, portanto, não há a eliminação dos íons na urina. O acúmulo dos íons leva a uma retenção hidrossalina, causando uma hipervolemia. Por consequência há o aumento da pressão hidrostática, levando ao extravasamento de plasma para o interstício 25 o Albuminúria devido a glomerulopatias: Decorre da lesão da membrana basal, permitindo a passagem de albumina para a urina, causando portanto uma alteração na pressão oncótica do sangue. o De forma clássica, o edema causado pelo acometimento renal é facial bipalpebral, causando a fácies descrita anteriormente (fáscies renal). Além de edemaciado, o rosto do indivíduo fica também pálido. Hipervolemia Estase venosa: Como ocorre nos casos de Insuficiência Cardíaca Direita ou Esquerda. o IC Direita: Neste caso, o sangue não consegue ser bombeado adequadamente para o Tronco Pulmonar, ficando acumulado no VD, o que leva a ele se acumular no AD também. Como está acumulado no AD, o sangue das Veias Cavas não consegue fluir para dentro do coração, ficando acumulado em todo o sistema venoso do organismo. Este acúmulo de sangue nas veias faz com que a pressão hidrostática aumente em todo corpo, causando um edema generalizado, denominado anasarca. Este edema é ascendente (tem início nos membros inferiores e vai subindo), e geralmente o paciente relata que este se acentua no período da tarde (vespertino). Vem acompanhado de hepatomegalia pois o acúmulo de sangue em todos os vasos que direcionam o seu fluxo para a V. Porta acomete também os sinusoides hepáticos, de modo que eles fiquem congestionados como acúmulo de sangue venoso em seu interior (fazendo com que o fígado aumente de tamanho). o IC Esquerda: Já nesta situação, a dificuldade no bombeamento ocorre no lado esquerdo, de modo que o sangue não consegue fluir para a Aorta e seacumula no VE, e, por consequência, no AE. Como grande parte do sangue permanece no AE, o fluxo proveniente das Vv. Pulmonares não consegue chegar a seu destino, ficando acumulado nestas e também nos capilares presentes no parênquima pulmonar. O aumento de sangue nos capilares pulmonares causa aumento da pressão hidrostática na parede dos vasos, levando ao extravasamento de plasma e à presença do edema pulmonar. Bloqueadores de canais de cálcio (medicamento para hipertensão e arritmias): Estes medicamentos atuam sobre a membrana dos cardiomiócitos, inibindo a entrada de Ca+² na célula e assim diminuindo a sua excitabilidade (efeito para as arritmias) e sua contratibilidade (efeito para a hipertensão). O período de relaxamento é prolongado, o que leva à diminuição da frequência cardíaca e diminuição velocidade da condução do estímulo eléctrico fisiológico pelo nó AV e https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Nodo_AV&action=edit&redlink=1 26 secundariamente por todo o miocárdio (efeito para as arritmias). Todavia, este medicamento pode causar também vasodilatação (a contração do músculo liso das arteríolas ocorre devido ao cálcio externo que entra na célula; desta forma, com o bloqueio de sua entrada, há menos cálcio disponível e há uma redução da contratilidade que mantém o tônus da arteríola, de modo que o vaso fique mais dilatado). Esta vasodilatação leva a um acúmulo do sangue dentro das arteríolas e aumenta a pressão hidrostática na parede destes vasos, causando a uma maior extravasamento do plasma. (só pra lembrar rs) 2. Alterações na pressão oncótica: Estão normalmente relacionadas a alterações na concentração de albumina no sangue, a principal proteína responsável por exercer a pressão oncótica. Desnutrição: Uma dieta baseada em uma baixa ingestão de proteínas leva à presença de edema, principalmente na região do abdome. Isso explica o motivo pelo qual os indivíduos em locais assolados pela desnutrição apresentam geralmente membros finos (pouca massa muscular), mas um abdome globoso (devido à ascite ocasionada pelo acúmulo de linfa na cavidade abdominal) https://pt.wikipedia.org/wiki/Mioc%C3%A1rdio 27 Problemas na absorção: Estão relacionados à uma ingestão adequada de proteínas, mas à incapacidade de absorvê-las. Entre suas causas, estão: o Tumores o Síndromes de má-absorção o Cirurgias do aparelho gastrointestinal o Verminoses Hepatopatias: Como a albumina é produzida no fígado, doenças que acometem o seu funcionamento (ex.: cirrose hepática) levam a um comprometimento da síntese da albumina, levando a um quadro de edema generalizado, principalmente na cavidade abdominal. Isso se explica pela maior pressão do sistema porta. Todavia, ainda assim é possível observar edema de membros inferiores. o Os pacientes com edema de origem hepática geralmente se apresentam com membros finos com pouca massa muscular e um volumoso abdome devido à ascite 28 Glomerulopatias: Há casos em que a ingestão e a absorção de proteínas estão adequadas, assim como a produção de albumina. Todavia, a membrana basal dos capilares glomerulares encontra-se lesionada, de modo que a albumina é capaz de atravessá-la e ser eliminada na urina (albuminúria). 3. Obstrução no sistema linfático: O sistema linfático é outro componente importante no processo de se evitar formar o edema, visto que ele é o responsável por drenar o 1ml/min restante no interstício. As principais interrupções no seu funcionamento são: Filariose: Devido à obstrução do vaso pelo verme e morte dos linfonodos adjacentes, não é possível ocorrer a drenagem, levando a um quadro de edema crônico que distende toda a pele do indivíduo e torna-a grossa e dura, como a de um elefante. Retirada de linfonodos: Ocorre principalmente nas cirurgias de retirada de mama. A retirada dos linfonodos compromete a drenagem na linfa e o seu destino aos grandes ductos do sistema linfático, de modo que o líquido se acumule no membro e ele fique edemaciado. 29 Mixedema: Tipo específico de edema que acontece devido ao hipotireoidismo. Decorre do acúmulo de polissacarídeos no espaço intersticial abaixo da pele, de modo a atrair líquido para o local, tornando-o edemaciado. Edema alérgico: Ocorre principalmente devido a uma alteração da permeabilidade capilar. Da reação antígeno-anticorpo surgem diferentes substâncias, como a histaminas e cininas que, agindo a nível capilar, alteram a sua permeabilidade. Esta alteração permite a passagem de água para o interstício entre as células. SINAIS TÍPICOS DO EDEMA O edema apresenta alguns sinais que permitem caracterizá-lo, sendo eles: Alteração do contorno do membro (aumento do seu tamanho). Pode ser notado principalmente na região dos tornozelos (perimaleolar) quando acomete o membro inferior. Pele lisa e brilhante: O estiramento da pele pela presença da linfa excedente não drenada faz com que seja percebido este sinal, principalmente em edemas que ocorrem há pouco tempo 30 Sinal do Cacifo/de Godet: O edema pode ser duro (como o da filariose) ou mole, como a maioria dos casos. Nestas ocasiões, ao se pressionar a região edemaciada e retirar o dedo, é possível observar que a área em questão apresenta a forma de uma depressão (permanece afundada), demorando um intervalo de tempo para retornar ao seu aspecto original. INVESTIGAÇÃO SEMIOLÓGICA DO EDEMA Deve-se investigar na avaliação semiológica as seguintes características do edema: Tempo de duração Acontece há pouco tempo ou o edema já é crônico? Localização e distribuição O edema é localizado ou generalizado? O edema localizado é segmentar: acomete um segmento apenas de apenas um membro. Se o edema ocorrer no mesmo segmento, mas em ambos os membros, é caracterizado como generalizado. O edema localizado está normalmente relacionado a alterações na circulação local (ex.: torção do tornozelo ao realizar atividade física). Dentre as principais causas de edema localizado, pode-se citar as varizes, flebites e trombose venosa, processos inflamatórios, afecção dos vasos linfáticos e postura. 31 Geralmente o edema generalizado está relacionado a uma condição sistêmica (ex.: condição renal, cardíaca ou hepática). Para que este último ocorra, é necessário que aconteça a retenção de mais de 2 litros de linfa. Este acúmulo de líquido faz com que o membro pese, dificultando a realização das atividades diárias do paciente (como caminhar, por exemplo). Geralmente os MI são as regiões mais acometidas. Todavia, também é necessário se investigar a face (principalmente as regiões subpalpebrais) e a região pré-sacra, visto que elas também podem apresentar edemas. Evolução O edema sempre esteve naquele aspecto? Iniciou-se restrito a uma região e depois se espalhou para as demais? Houve aumento progressivo do diâmetro da área edemaciada? Intensidade É medida ao se pressionar a região edemaciada (em direção a uma estrutura dura, como os ossos) com a polpa digital e observar a profundidade da fóvea que ficou no local da compressão. A intensidade é graduada em cruzes (+ a ++++). Pode-se avaliar também a amplitude do edema por meio da pesagem do paciente 1x ao dia (pela manhã ou pela noite), e notar se houve alguma variação muito grande no peso (que pode ser traduzida na retenção ou eliminação de água. Nos casos de edema nos MI, medir o perímetro da região edemaciada em dias sucessivos e ir comparando com o membro não edemaciado é uma outra forma de avaliar a intensidade o edema. 32 Consistência Também utiliza-se a manobra da compressão com a polpa digital (utilizada para mensurar diversas características), mas agora se avalia qual a resistência encontrada ao se comprimir a região edemaciada. Pode ser classificado em: Edemamole: Facilmente depressível. Retenção de duração não muito longa Edema duro: Maior resistência para a formação da fóvea. Acontece devido à proliferação de fibroblastos que ocorre em edemas de longa duração, ou se acompanharem repetidos surtos inflamatórios. Elasticidade É avaliada conjuntamente à consistência, observada pela volta da pele á posição primitiva quando se termina a compressão. O edema pode ser classificado em: Edema elástico: A pele retorna imediatamente à situação normal (fóvea perdura pouco tempo). Característico de edemas inflamatórios. Edema inelástico: A pele comprimida demora para voltar à posição primitiva (depressão persiste por mais tempo) Temperatura da pele circunjacente Utiliza-se normalmente o dorso dos dedos ou as costas das mãos para medi-la, podendo-se notar: Pele de temperatura normal: Sem significado especial Pele quente: Característica de edema inflamatório Pele fria: Significa comprometimento da irrigação sanguínea do local. Sensibilidade da pele circunjacente Se o paciente referir dor ao ser realizada a digitopressão, o edema em questão é inflamatório. Coloração da pele circunjacente Pode ser notada: Palidez: geralmente acontece nos edemas que acompanham distúrbios de irrigação sanguínea Cianose: indicativa de perturbação venosa localizada (mas pode ser parte de uma cianose central ou mista) Vermelhidão: indica processo inflamatório 33 Textura e espessura da pele: Pele lisa e brilhante: Acompanha o edema recente e intenso Pele espessa: Vista em pacientes com edema de longa duração Pele enrugada: aparece quando o edema está sendo eliminado SINAIS PARA IDENTIFICAÇÃO DE CADA TIPO DE EDEMA: Edema renal: É observado nos quadros de síndrome nefrítica, síndrome nefrótica e pieolonefrite. Apresenta algumas características em específico: Edema generalizado, predominante facial, se acumulando nas regiões subpalpebrais Mais evidente no período matutino É mais intenso na síndrome nefrótica (intenso) do que na síndrome nefrítica ou pielonefrite (discreto a moderado) Edema mole, inelástico, indolor e com pele de temperatura normal Edema da ICC/ICD Generalizado e predominante nos MMII Vespertino (devido ao fato de o paciente já ter se mantido de pé por diversas horas) Varia em intensidade, é mole, inelástico, indolor, com pele lisa e brilhante. 34 Edema da cirrose Generalizado, quase sempre discreto (+ a ++), predominando MMII Ascite concomitante Mole, inelástico e indolor Edema da desnutrição proteica (carencial): Generalizado, predominante nos MMII Mole, inelástico, indolor e não costuma ser de grande intensidade Mixedema: Depressível, inelástico, pouco intenso Pele apresenta as alterações próprias da hipofunção tireoidiana Edema alérgico: Pode ser generalizado, mas costuma a restringir-se a determinadas áreas, principalmente a face Acontece de modo súbito e rápido Pele torna-se lisa e brilhante A temperatura pode estar aumentada e a coloração avermelhada. Edema mole e elástico 35 Edema inflamatório: Localizado, intensidade leve a mediana, elástico, doloroso Pele adjacente se apresentando lisa, brilhante, vermelha e quente Edemas e corpo feminino É comum aparecer edema durante a gravidez, principalmente em MI. Em casos de toxemias gravídicas, o edema torna-se mais intenso (devido a nefropatias gravídicas e às alterações hormonais da gravidez). Há também o edema pré-menstrual (na semana que antecede a menstruação) e o que acompanha o climatério. Ascite É definida como acúmulo de líquido na cavidade abdominal. A cirrose é a causa mais comum para que ocorra. A ascite pode ser identificada através do Sinal de Piparote (ou Sinal de Onda Líquida). Para realizar o procedimento, pede-se para o paciente (ou outra pessoa) posicionar a mão na linha mediana do abdômen (apoiar com certa firmeza - não apoiando a palma, mas sim a lateral da mão esticada na linha mediana) e o médico localiza sua mão esquerda sobre o flanco esquerdo do paciente. Com a mão direita, o médico realiza então a percussão no lado direito do abdômen (dá-se um piparote). Se observada que há transmissão de onda de líquido para o lado esquerdo (de modo que o médico seja capaz de sentir a movimentação em sua mão esquerda), o sinal é considerado positivo. 36 DISPNEIA A dispneia é definida como a dificuldade para respirar, podendo o paciente ter ou não consciência desse estado. Ela pode ser subjetiva, se for percebida apenas pelo paciente, ou objetiva, se for perceptível ao exame físico também. Ela é relacionada à atividade física, sendo classificada em: Aos grandes esforços: Percebida ao realizar exercícios mais intensos (como correr e subir vários lances de escada). Aos médios esforços: Realizar atividades mais intensas que as diárias (como andar apressadamente no plano, subir um lance de escada) Aos pequenos esforços: Quando se realiza atividades diárias (como andar ou banhar-se) Dispneia de repouso é aquela em que o paciente, mesmo em repouso, apresenta a dificuldade em respirar. A dispneia pode estar acompanhada de taquipneia (frequência respiratória aumentada) ou hiperpneia (amplitude aumentada). Ortopneia é a dispneia na qual o paciente sente a dificuldade respiratória ao estar deitado, obrigando-o a se sentar ou a ficar de pé para obter alívio. Trepopneia é a dispneia que é aparente no decúbito lateral (ex.: pacientes com derrame pleural que se deitam sobre o lado são). Platipneia é sentida na posição ortostática, sendo aliviada com o decúbito. Causas As causas da dispneia podem ser divididas em: Atmosféricas: Quando a composição da atmosfera é pobre em oxigênio, impossibilitando a respiração. O organismo reage com taquipneia Obstrutivas: Ocorre pois as vias respiratórias (da faringe aos bronquíolos) podem sofrer redução de calibre. Estas obstruções podem ser devido a reações biológicas ou à presença de um corpo estranho. Parenquimatosas: Todas as afecções que possam reduzir a área de hematose de modo intenso Toracopulmonares: Alterações que reduzem a elasticidade e a movimentação toracopulmonar, provocando assimetria entre os hemitórax e causando dispneia (ex.: fraturas dos arcos costais). 37 Diafragmaticas: Toda afecção que interfira no seu funcionamento causa a dispneia, já que ele é responsável por mais de 50% da ventilação pulmonar (ex.: hérnias diafragmáticas) Pleurais: Qualquer irritação na pleura provoca dor no paciente ao inspirar. Devido a isso, frente a essas alterações na estrutura, o paciente tende a limitar ao máximo seus movimentos respiratórios (o que causa a dispneia). Além disso, grandes derrames pleurais reduzem a expansão pulmonar e por isso também causam dispneia Cardíacas: Ocorrem devido ao mal funcionamento do coração (evidente à congestão passiva do pulmão) Tecidual: A intensificação do exercício físico faz com que o consumo celular de oxigênio aumente, levando à necessidade de obtenção de oxigênio mais rapidamente. Ligadas ao sistema nervoso: Pode ser causada por alterações neurológicas no ritmo respiratório (ex.: hipertensão craniana) e de origem psicogênica (dispneia suspirosa). As dispneias psicogênicas graves (síndrome da hiperventilação) se acompanham de modificações somáticas decorrentes da alcalose respiratória provocada pela intensa retirada de CO2 do organismo (como espasmos musculares e dormências) Ritmo respiratório Normalmente, o ritmo respiratório é marcado por uma inspiração que dura quase o mesmo tempo que a expiração, possuindo a mesma amplitude dos movimentos e sendo intercalados por uma leve pausa. Quando isso não ocorre, é possível observar os ritmos respiratórios anormais: Respiração de Cheyne-Stokes: Causada principalmentepor insuficiência cardíaca, hipertensão intracraniana, AVCs e traumatismos cranoencefálicos. Possui uma fase de apneia seguida de inspirações mais profundas até atingir um máximo, para depois decrescer até a nova pausa. É melhor ouvida do que vista. Respiração de Biot: As causas são as mesmas da respiração de Chayne- Stokes, podendo quase sempre significar um grave comprometimento cerebral. 38 Há primeiro uma apneia, seguida de movimentos inspiratórios e expiratórios diversos (anárquicos) quanto ao ritmo e à amplitude Respiração de Kussmaul: Causada principalmente pela acidose diabética. Possui 4 fases: Inspirações profundas alternadas com inspirações rápidas e de pequena amplitude Apneia na inspiração Expirações profundas alternadas com expirações rápidas e de pequena amplitude Apneia em expiração Respiração suspirosa: Ocorre durante a tensão emocional e a ansiedade. Movimentos respiratórios são interrompidos por suspiros. Ou ainda, o paciente pode apresentar movimentos inspiratórios de amplitude crescente seguidos por expirações breves e rápidas. 39 Dispneia: movimentos respiratórios amplos e rápidos Tiragem É caracterizada como o esforço muscular a ser realizado em um indivíduo com dificuldades respiratórias. Devido à atelectasia de um determinado segmento do pulmão, por exemplo, a pressão exercida pela caixa torácica deve ser ainda mais negativa para que os alvéolos se encham de ar. Devido a isso, os músculos passam a realizar maiores contrações, sendo mais visíveis durante a inspiração. A tiragem pode ser difusa ou localizada (ex.: supraclavicular, infraclavicular, intercostal ou epigástrica) Exemplo de tiragem intercostal: 40 CIANOSE A cianose é definida como cor azulada da pele e das mucosas, ocorrendo devido ao aumento da hemoglobina reduzida nos capilares. Há três tipos de cianose: Central: Acomete todas as extremidades do corpo. Pode ocorrer devido a: o Falta de disponibilidade de O2 no ambiente (ex.: altas altitudes) o Acometimento da ventilação pulmonar (ex.: obstrução das vias respiratórias por corpos estranhos) o Por aumento da resistência das vias respiratórias (ex.: enfisema), o Depressão do centro respiratório o Paralisia dos músculos respiratórios (fármacos) o Pleurites (levam a uma respiração dolorosa superficial) o Transtornos da difusão (aumento da espessura da membrana alveolocapilar) o Transtornos de perfusão devido a cardiopatias congênitas (ex.: comunicação entre as câmaras cardíacas – leva à mistura de sangue, ocasionando uma condução de sangue pouco oxigenado com sangue bastante oxigenado) Periférica: O sangue não circula, ficando acumulado no tecido e tendo o seu oxigênio consumido, adquirindo uma cor azulada. Pode ser devido a estases venosas ou à diminuição funcional ou orgânica do calibre dos vasos da microcirculação. Este tipo de cianose geralmente se concentra em áreas distas (MI) e com pele fria. A causa mais comum é a vasoconstricção generalizada devido à exposição ao ar ou à água fria. Mista: É assim chamada quando se associam os mecanismos responsáveis pela cianose do tipo central com os do tipo periférico: o ICC à direita: há uma falha no bombeamento do coração (causa central), levando a um acúmulo de sangue nas extremidades do organismo, o qual vai tendo o seu oxigênio progressivamente consumido e, por consequência, vai se tornando azulado (causa periférica). Por alterações de hemoglobina: Relacionadas a alterações bioquímicas que impedem a fixação do oxigênio pelo pigmento. Exemplo disso é a presença da meta-hemoglobina. 41 A cianose é um importante sinal de doenças cardíacas, principalmente na infância. As regiões observadas no exame físico do paciente para a detecção da cianose são os lábios, a ponta do nariz, a região malar (bochechas), os lóbulos das orelhas, a língua, o palato, a faringe e as extremidades das mãos e dos pés. Casos de impregnação da pele (ex.: icterícia) podem mascarar a cianose. Ela pode ser classificada em leve, moderada e grave, mas não há parâmetros para estabelecer o grau da cianose. INVESTIGAÇÃO SEMIOLÓGICA DA CIANOSE Qual a duração da cianose? Se estiver presente desde o nascimento, provavelmente é devido a uma doença cardíaca congênita Há a presença de hipocratismo digital? Consiste na deformidade dos dedos com aumento de volume, tornando-se globosos em formato de baqueta e com unhas convexas (como vidro de relógio). Quando está associado à cianose, o baqueteamento é sinal de algumas cardiopatias congênitas e doenças pulmonares. Fenômeno de Reynauld: Pode ser natural (devido à exposição ao frio ou alterações emocionais) ou devido a doenças como lúpus e artrite reumatoide. Ocorre um espasmo das arteríolas das extremidades no corpo, de modo que elas se fechem e o aporte de sangue para o local deixe de acontecer. Acontece em 3 etapas (podendo acontecer apenas em 2 também): 42 1: Em consequência do estreitamento das arteríolas, o suporte de sangue para o membro vai diminuindo e este vai se tornando pálido. 2: Após um tempo, os capilares vão tentando extrair do sangue ainda presente a maior quantidade de oxigênio possível (já que não está havendo irrigação), tornando o sangue (que ainda existia no local) azulado, caracterizando a cianose 3: Depois disso, a arteríola se abre e permite a passagem do sangue novamente, de modo que o membro/dedo fique bem avermelhado. 43 OBS.: Pacientes intensamente anêmicos não apresentam cianose. Isso acontece pois, para se alcançar a cianose, uma determinada quantidade de hemoglobina deve estar reduzida no capilar. Como a pessoa intensamente anêmica possui uma quantidade de hemoglobina já muito restrita, ela nunca conseguirá ser reduzida em tanta quantidade para que a cianose seja percebida. 44 SÍNDROMES HEPÁTICAS Medusa – 86 O fígado é a maior glândula do corpo humano e possui diversas funções (sendo a metabólica a principal delas). O tecido hepático é formado principalmente por hepatócitos, sinusoides e por uma importante estrutura: o espaço porta. O espaço porta localiza-se em cada vértice de um lóbulo hepático, sendo formado por um ramo da V. Porta, um ramo da A. Hepática e um canalículo biliar. O espaço porta possui comunicação com a V. centrolobular. Para que estas duas estruturas se comuniquem, o sangue passa pelos sinusoides hepáticos: capilares descontínuos que possuem contato com os hepatócitos, com as Células de Kupffer (os macrófagos do fígado). É necessário que os hepatócitos e sinusoides sejam mantidos intactos, para que assim o metabolismo do fígado possa ocorrer de maneira correta e o fluxo possa correr adequadamente. Há alterações intra-hepáticas que alteram essa dinâmica do fígado. Exemplo disso é que os lóbulos e os ácinos hepáticos podem ficar isolados se houver o estímulo para que alguns sinusoides passem a produzir colágeno, que vai se depositando e formando uma fibrose hepática. Quando este evento acontece, há a formação de lóbulos hepáticos (os quais podem ser percebidos – palpados - durante um exame físico). O fígado é um órgão normalmente palpável no exame físico a 2 cm abaixo do rebordo costal. Todavia, em casos de hepatomegalia, é possível palpar o fígado em locais mais baixos em relação ao rebordo costal. 45 O fígado pode também ser dividido em segmentos, característica que é necessária ao se considerar procedimentos cirúrgicos. Por exemplo: se houver uma neoplasia que se desenvolva no segmento III, é possível realizar uma segmentectomia. Todavia, se esta neoplasia ocorre no segmento IV, não é possível realizar apenas uma segmentectomia (devido ao seu difícil acesso), sendo necessário realizar uma lobectomia. É importante lembrar que mesmo após estes procedimentosinvasivos, o fígado é capaz de regenerar a sua região retirada. O fígado é o órgão metabolicamente mais complexo. Isso se explica devido às suas funções realizadas: Formação e excreção da bile Regulação da homeostase dos carboidratos (formação de glicogênio e mecanismos que evitam a hipoglicemia – glicogenólise e gliconeogênese), Síntese de lipídeos e formação de proteínas carreadoras dos lipídeos Metabolismo do colesterol 46 Formação da uréia Formação da albumina sérica (responsável por manter a pressão oncótica dos vasos e por carrear algumas substâncias) Formação dos fatores de coagulação da via extrínseca Formação de várias enzimas e proteínas sanguíneas Desintoxicação de qualquer substância que o organismo entra em contato (drogas, medicamentos e outras substâncias). Durante o processo de desintoxicação, é causada uma alteração da função hepática. O fígado realiza essa desintoxicação através de dois processos: a indução enzimática e a inibição enzimática o Indução enzimática: A droga em questão promove a produção de mais enzimas pelo fígado, fazendo com que a metabolização de outras substâncias seja acelerada, diminuindo a concentração destas no organismo. o Inibição enzimática: A substância que causa inibição enzimática atua sobre as enzimas hepáticas que neutralizariam outras substâncias, fazendo com que a metabolização delas pelo fígado seja diminuída. Desta forma, a estas substâncias terão a sua concentração plasmática aumentada. 47 SÍNDROME ICTÉRICA Icterícia é a coloração amarelada da pele e das mucosas devido à impregnação da bilirrubina. Quanto mais clara a pessoa, mais visível essa impregnação. Os níveis totais normais de bilirrubina sérica são em torno de 1,4 md/dl, de modo que níveis acima deste padrão já são classificados como uma hiperbilirrubinemia. Todavia, a impregnação da bilirrubina na pele e nas mucosas só acontece se os níveis plasmáticos estiverem acima de 2,0 mg/dl. A melhor maneira de observar um paciente ictérico é sob a luz natural (visto que a luz fluorescente já deixa a pessoa levemente esverdeada). É importante ressaltar que a icterícia é visível também em mucosas, sendo percebida principalmente nas escleras, no palato e no frênulo da língua (sendo que este último auxilia muito no diagnóstico em pacientes pardos e negros, visto que por vezes a icterícia não é percebida na pele destes indivíduos). Utilizar a coloração da mão do examinador é um bom padrão para observar se a pele do indivíduo encontra-se ictérica ou não. Pacientes com hiperbetacarotenemia (consumo excessivo de alimentos ricos em betacaroteno) também apresentam uma coloração de pele amarelada. Todavia, as suas mucosas não se apresentam coradas como na icterícia (fator que diferencia os dois quadros clínicos). 48 Metabolismo das bilirrubinas Origem: Cerca de 70% da bilirrubina é proveniente da destruição das hemácias senis quando elas passam pelo sistema retículo-endotelial. 10 a 20% pode ser proveniente de eritrócitos jovens que sofrem hemólise, ou mesmo a partir de uma hemólise intravascular. 10% das bilirrubinas provêm de proteínas sanguíneas (não relacionadas com hemácias). Desta forma, um paciente que apresenta-se ictérico pode estar com algum distúrbio relacionado com a destruição das suas hemácias – uma anemia hemolítica. É o que ocorre, por exemplo, na anemia falciforme. Metabolismo: 49 Após a lise da hemácia e liberação da hemoglobina, a segunda passa a sofrer uma redução no sistema retículo-endotelial (do baço principalmente), se transformando em biliverdina. A biliverdina é reduzida ainda no sistema retículo-endotelial a bilirrubina. A bilirrubina sai então do baço ligada à albumina, sendo transportada até o fígado. A bilirrubina ligada à albumina é chamada de bilirrubina não conjugada (indireta) (1). No hepatócito há proteínas carreadoras de bilirrubina (proteínas X e Y), que trazem a bilirrubina para dentro da célula e desprendem- na da albumina, deixando esta última livre na circulação. No interior da célula, a bilirrubina se direciona ao sistema retículo-endotelial do hepatócito, onde será conjugada. Para que isso ocorra, a bilirrubina recebe primeiramente apenas uma molécula de ácido glicurônico, recebendo, em seguida, outra molécula deste mesmo ácido. Após este processo, a bilirrubina passa então a ser chamada de bilirrubina conjugada (direta) (2). 50 Depois que a bilirrubina é conjugada, ela é excretada pelo hepatócito, caindo no canalículo biliar. Para que este processo ocorra, há consumo de energia em forma de ATP. Tal peculiaridade é importante, visto que, se o hepatócito estiver passando por qualquer tipo de sofrimento, ele para de gastar energia e deixa de excretar a bilirrubina. Se a bilirrubina conjugada passa a se acumular no interior do hepatócito, ela começa a voltar para a corrente sanguínea. Isso explica porque pacientes com hepatite viral passam a apresentar maiores concentrações de bilirrubina conjugada sérica: como esta doença é uma doença hepatocelular, o hepatócito está passando por sofrimento, deixando de realizar o transporte ativo para a excreção da bilirrubina e fazendo com que esta se acumule no interior do hepatócito e reflua novamente para a corrente sanguínea. Voltando a descrever o funcionamento normal: após a bilirrubina ser excretada no canalículo biliar, ela flui pelo ducto biliar até alcançar a vesícula biliar, onde fica armazenada. Quando há um estímulo da digestão, a vesícula biliar se contrai e excreta a bile no duodeno (3), onde ela emulsificará os lipídeos ali presentes. Após a absorção dos lipídeos, há também a absorção de parte da bilirrubina, de modo que ela passa por um ciclo entero-sanguíneo (4), podendo possuir dois destinos: Ser reaproveitada para formar mais bilirrubina (4.1) Ser filtrada no rim: é o que promove a coloração amarelada à urina (4.2). Entretanto, outra parte da bilirrubina presente no TGI continua no trato mesmo após a emulsificação dos lipídeos. Esta bilirrubina acompanhará as fezes em seu trajeto, sofrendo um processo de oxidação e se transformando em urobilinogênio (que dá a cor acastanhada às fezes) (5) Causas da icterícia A icterícia pode ocorrer tanto devido a doenças congênitas quanto devido a doenças adquiridas. É necessário avaliar em que etapa está ocorrendo a alteração, visto que ela acarreta diretamente no tipo de icterícia que está sendo apresentada (se é devido ao acúmulo de bilirrubina direta ou indireta). A alteração pode ser: Icterícia pré-hepática/hemolítica: É chamada assim visto que a alteração ocorre antes de a bilirrubina entrar no hepatócito. Decorre de um aumento na produção de bilirrubina: Este caso é observado nos processos de hemólise, como na anemia falciforme. Icterícia hepática/hepatocelular: A alteração ocorre já no interior do hepatócito Decorre de uma alteração no metabolismo das bilirrubinas. As alterações podem ser deficiências na captação da bilirrubina pelo hepatócito, alterações no processo de conjugação, ou mesmo deficiências no processo de excreção intra-hepática 51 Icterícia pós-hepática/obstrutiva: Ocorre alteração na excreção da bilirrubina ou no seu processo de chegar até à vesícula biliar. Colestase é definida como a dificuldade da bile chegar ao duodeno. É qualquer evento que ocorre entre o hepatócito e a Ampola de Vater. Em um paciente com colestase, a bile não consegue alcançar o duodeno, permanecendo nas vias biliares e refluindo em direção ao fígado novamente. Esta volta da bile ao fígado causa uma hepatomegalia, além de tornar o fígado esverdeado devido à impregnação por bilirrubina. Soma-se a este quadro clínico o fígado rombo: não é possível palpar os bordos hepáticos devido ao crescimento do órgão, os bordos hepáticos(que eram bem finos) tornam-se roliços. Microscopicamente, é possível observar em um paciente com colestase a presença de bilirrubina no interior das células de Kupffer (devido á estase de bile nos canalículos) e um espessamento das células que formam os ductos biliares. 52 Dentre as principais causas para as colestases estão as colelitíases (presença de cálculos na vesícula) e as colédocolitíases (presença de cálculos no ducto colédoco). Cirrose hepática Colecistite: inflamação da vesícula biliar Colelitíase: cálculo na vesícula biliar Colédocolitíase: cálculo no ducto colédoco Colangite: inflamação das vias biliares 53 Ocorre quando há uma inflamação crônica do tecido hepático, levando ao aumento da produção de colágeno e à formação de septos fibrosos. Com isso, ao longo do tempo, o fibrosamento vai interferindo na viabilidade do tecido hepático, de modo que ele vá progressivamente morrendo. Devido à alta capacidade do fígado de se auto-regenerar, o efeito deste fibrosamento geralmente demora a acontecer. Há diversos fatores que podem levar à cirrose, sendo eles: Hepatite C (principal causa) Hepatite B o Hepatite Delta (vírus incompleto – só ocorre em associação com o vírus da hepatite B; comum na Amazônia) Doenças autoimunes: Produção de anticorpos contra o fígado Doenças vasculares: se houver uma alteração na vascularização hepática (não permitindo que o sangue chegue aos hepatócitos ou não permitindo que o sangue saia deles) o Doença de Budd-Chiari o Trombose da V. Porta (formada pela V. Esplênica, V. Gástrica Esquerda e V. Mesentérica Superior) Doenças biliares Doenças metabólicas 54 o NASH – Esteatose hepática não alcoólica (paciente com síndrome metabólica ou colesterol elevado) Drogas o Álcool o Paracetamol (tão tóxico que, se grande quantidade, pode causar uma insuficiência hepática aguda) o Uso crônico de anti-inflamatório HIV: causa alteração renal, hepática e óssea. Causa uma ativação imunológica tão grande que o sistema imunológico se envelhece (causando um envelhecimento precoce do organismo). Se acontece uma fibrose muito grande no fígado, o sangue terá dificuldade para passar por esse órgão. Com isso, o fluxo na V. Porta fica diminuído (o que pode ser percebido por meio de um ultrassom com Doppler), de modo que o sangue começa a refluir novamente para as veias que a formam: o V. gástrica esquerda: A v. gástrica esquerda se liga com o sistema ázigos, que é responsável por drenar o esôfago. O aumento da pressão venosa em todos estes vasos causa como consequência varizes esofagianas. A principal complicação das varizes esofagianas são hemorragias digestivas altas, percebidas pela hematêmese (vômito com sangue vermelho). Este sangue pode também ser deglutido, seguindo o fluxo normal do alimento e sendo oxidado, para posteriormente ser liberado nas fezes, apresentando um aspecto escuro e com odor fortemente desagradável, caracterizando uma melena. OBS.: Melena é a presença de sangue digerido nas fezes, resultante de uma hemorragia digestiva alta. É diferente de uma enterorragia, quando o paciente evacua sangue vivo, sem ser digerido (resultando de uma hemorragia digestiva baixa). Há também a hematoquezia, que consiste na evacuação de fezes com rajas de sangue, característico de doenças orificiais (ex.: hemorróidas). o V. esplênica: Baço passa a receber muito sangue, causando esplenomegalia (aumento do tamanho do baço) e hiperesplenismo (maior funcionamento do baço – leva a uma hemocaterese mais acentuada), resultando em anemia, plaquetopenia (redução do número de plaquetas) e, por consequência, facilidade de sangramento. São as primeiras manifestações quando há um quadro de estenose de sangue da V. Porta, devido à facilidade de o fluxo ir mais para a V. esplênica. 55 o V. mesentérica superior: Causa o aumento do fluxo venoso em todo o percurso intestinal, causando varizes no intestino. Pode atingir o plexo hemorroidário. O sinal clínico característico é o aumento da expressão das veias na parede abdominal O quadro de cirrose pode se apresentar de diversas maneiras: o Fase compensada: Quando o paciente ainda não percebe que possui a cirrose e não apresenta os sintomas o Fase descompensada: Quando há os sintomas e sinais, como a ascite (o fígado comprometido diminui a produção de albumina, diminuindo a pressão oncótica e aumentando o extravasamento do plasma), hemorragia digestiva alta, icterícia, alteração de fluxo para o rim (levando a uma diminuição da função renal – síndrome hepato-renal), maior número de infecções bacterianas (devido ao acometimento do baço – diminuição da efetividade do sistema imune; é o que geralmente leva o paciente cirrótico a óbito) e encefalopatias (fígado perde a capacidade de depurar substâncias e, com isso, as substâncias passam a ultrapassar a barreira hemato-encefálica, interferindo no funcionamento do encéfalo) Insuficiência Hepática Aguda O paciente com insuficiência hepática aguda apresenta uma perda abrupta da função hepática. O paciente apresenta distúrbio na coagulação (devido à não produção dos fatores de coagulação) e alterações no Sistema Nervoso, resultando em encefalopatias (visto que as substâncias nitrogenadas não são depuradas pelo fígado), podendo levar o paciente ao coma. 56 Um sinal clínico da encefalopatia por acúmulo de amônia é o flapping/asterixis. Este sinal clínico é um sinal extrapiramidal, visto que não acomete as sinapses da camada piramidal do córtex cerebral, a qual é responsável pela movimentação voluntária – portanto, este sinal percebido acomete as sinapses de comando involuntário. Para que este sinal seja percebido, o paciente deve estar com seu pulso estendido e o examinador deve realizar uma hiperextensão do pulso, aproximando a mão do paciente ao antebraço. Se ao se soltar a mão do paciente, ele persistir movimentando-a rapidamente em curtos movimentos de flexão e extensão, o teste é dado como positivo. Sinais crônicos da insuficiência hepática Ascite: É perceptível uma macicez móvel devido ao acúmulo de líquido na cavidade abdominal Teleangiectasias: aumento dos vasos da pele. 57 Eritema palmar: vermelhidão na mão Ginecomastia: Desenvolvimento das mamas em homens. Ocorre aumento na produção de hormônios sexuais, já que o fígado não está metabolizando algumas substâncias Atrofia testicular: Também ocorre devido à alteração hormonal 58 ANAMNESE DO PACIENTE COM INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA Qual a idade e quando se iniciaram as alterações? A idade do paciente e o tempo de persistência dos sinais e sintomas é extremamente importante para a definição da causa do problema o Exemplos: Recém-nascido com icterícia: pode ser devido a uma atresia das vias biliares; Criança com icterícia: está sofrendo uma intensa hemólise devido à incompatibilidade do Rh; Pacientes mais velhos: são mais frequentes e característicos casos de hepatite, cirrose ou cálculos nas vias biliares Qual a profissão do indivíduo? Algumas profissões propiciam mais certas patologias Há quanto tempo a icterícia se manifesta? Em quadros mais agudos, pode-se pensar em obstruções por cálculos ou hepatites. Em quadros mais crônicos (icterícia mais prolongada), é provável que o quadro aconteça devido a cirrose ou a neoplasias Verificar sintomas associados. o A icterícia veio acompanhada de dor? o Houve perda de peso acompanhando o quadro? o Houve coceira - prurido (ocorre nos casos de impregnação por bilirrubina direta na pele)? o Houve febre (comum em casos de inflamações das vibras biliares – colangites)? Qual o aspecto das fezes e da urina do paciente? Geralmente essas alterações são observadas em casos de aumento de bilirrubina conjugada:
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