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História da África

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História da África Pré Colonização
Aula 1: História da África Pré-Colonização
Apresentação
Nesta aula, você irá examinar alguns dos estereótipos existentes sobre o continente africano,
desconstruindo-os e analisando as particularidades existentes na história da África. Além disso,
identi�cará a necessidade de alargar o uso das fontes documentais para o estudo da história
africana, sobretudo no que diz respeito à oralidade.
Objetivo
Identi�car os preconceitos que cercam o estudo da história africana;
Reconhecer as múltiplas análises acerca das histórias do continente africano;
Analisar as possíveis contribuições de outras disciplinas para o estudo das histórias
africanas.
A África nos tempos históricos
Video
Assista o vídeo Telecurso - História, Aula 13.
 Atividade
1. Um dos grandes desa�os no estudo da história africana é conseguir partilhar o olhar que os
africanos têm de seu passado, para compreender que, na realidade, existem muitas Áfricas. Antes de
começar o estudo desta aula, veja o vídeo Chimamanda Adichie: o perigo de uma única história
disponível na Internet e faça uma pequena resenha sobre os perigos de uma história única.
A África dos Estereótipos
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Boa parte do sucesso desse personagem se
deve ao fato de sua trajetória misturar
passagens mitológicas que remetem à história
de fundação de Roma – na qual os gêmeos
Rômulo e Remo foram alimentados por um
animal, no caso, uma loba –, com cenas
românticas que fazem lembrar o amor proibido
de Romeu e Julieta.
O cenário africano criado também foi de grande
importância para notoriedade de Tarzan. A
amizade com a macaca Chita, a agilidade em
caminhar pela selva, a rapidez com que pulava
de um cipó para o outro, as lutas ferozes
travadas contra leões e leopardos foram
aspectos da vida do herói que encantaram os
leitores.
 Tarzan. //stevelowtwait.com/blog/cartoony-tarzan
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Uma das histórias mais famosas da literatura
mundial ambientada no continente africano é a
do Tarzan. Escrito pelo estadunidense Edgar
Rice Burroughs, em 1912, o romance Tarzan
dos Símios conta a história de um menino
branco, �lho de ingleses, que ainda bebê
acompanha seus pais a uma viagem para
África.
 Capa de um dos livros do Tarzan.
Devido a uma sequência de tragédias, os pais
de Tarzan morrem e ele é criado por uma
macaca em meio à selva africana. No início de
sua juventude, mesmo sofrendo por ser
diferente dos demais (já que acreditava ser um
símio), Tarzan se tornou líder do grupo de
macacos que o adotara.
A vida do herói muda drasticamente quando ele
salva um grupo de norte-americanos que havia
sido deixado na África por marujos revoltosos. A
partir deste episódio, Tarzan se apaixona por
Jane (uma das pessoas que ele salvou),
descobre ser �lho de uma nobre família inglesa
e vive o con�ito da escolha entre viver na África
ou na Europa.
Comentário
Tarzan se tornou um personagem tão cativante que outros autores passaram a narrar
suas incríveis histórias. Atualmente, além de inúmeros romances é possível conhecer
a epopeia de Tarzan por meio de �lmes, histórias em quadrinhos e desenhos
animados.
Na realidade, mais do que encantar, tais referências ao continente africano ajudaram a formar uma
determinada ideia de África.
Ainda que se trate de uma obra �ctícia escrita por um homem que nunca esteve no continente
africano, Tarzan reforçou uma imagem já difundida da África, na qual o continente aparece como uma
região homogênea, terra de leões, girafas, zebras, rinocerontes e também de algumas tribos
compostas por homens e mulheres negros que se vestiam como leopardos e possuíam pouco
contato com o que se costuma chamar de “mundo civilizado”.
Em outras palavras, a história de Tarzan coroou, no Ocidente, a imagem de
uma “África Selvagem”.
Por diversas razões, a “África de Tarzan” continua presente até os dias de hoje. Um exemplo disso é o
fato de muitas crianças em idade escolar avançada (e por vezes até adultos) não saberem precisar se
a África é um país ou um continente.
Tal confusão - que pode parecer infantil, ou até mesmo ingênua -, retrata o grande desconhecimento
que existe sobre a história africana e a tendência em compreender a África como uma região única,
sem diferenças internas.
E você, o que sabe sobre a África?
Desconstruindo o Mito da “África selvagem”
Ainda que a África possua �orestas densas e seja habitada por leões, macacos e elefantes,
caracterizá-la unicamente como uma grande selva seria um erro ao mesmo tempo geográ�co e
histórico.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
 Mapa físico da África. Fonte: //ontheworldmap.com/africa/
Do ponto de vista geográ�co, basta uma rápida
análise do mapa físico do continente para
observar que a �oresta é uma das diversas
vegetações existentes na África.
Além das �orestas características da zona equatorial, a África ainda possui outros cinco tipos de
vegetação:
1
As savanas
Que na realidade são
o hábitat natural dos
animais de grande
porte
2
As estepes
3
Mediterrânea
4
Desértica
5
Oásis
Cada uma dessas vegetações está relacionada a um clima diferente (que
leva o mesmo nome das vegetações), que por sua vez estão ordenados de
forma muito parecida a partir da linha do Equador tanto ao norte quanto ao
sul. Tal atributo faz com a que a África seja chamada de “continente
espelho”.
O mesmo mapa ainda demonstra uma grande
diferença no quadro pluviométrico africano. As
regiões próximas à linha equatorial
(caracterizadas tanto pelas �orestas como
pelas savanas) são as que possuem a maior
concentração de rios e lagos. Em seguida estão
as regiões de estepes que têm poucos, mas
extensos rios; e por �m os dois grandes
desertos africanos (o Saara e o Calahari) que
possuem um único rio perene cada.
Embora não esteja explicitado nesse mapa, o
continente ainda apresenta diferentes relevos e
diversas paisagens litorâneas, além de estreitas
relações com outros continentes, devido à sua
proximidade com a Europa(via Mar
Mediterrâneo) e com o Oriente Médio (via Mar
Vermelho).
 Mapa físico da África
Frente a esse diversi�cado quadro geográ�co é
impossível pensar em uma única África. A
trajetória de povos que ocuparam as regiões
desérticas não pode ser a mesma dos povos
 Diversidade africana
que habitavam, por exemplo, a região dos
Grandes Lagos ou dos grupos que se
organizaram nas margens dos rios Senegal e
Gâmbia. Desta forma, tal como no continente
europeu, asiático e americano, o hábitat natural
teve grande in�uência nas diferentes formas de
organização social dos povos africanos.
Embora o continente africano seja muito
extenso, a concentração das bacias
hidrográ�cas em determinadas regiões e a
relativa falta de rios e lagos em outras
localidades acabou criando condições às quais
os grupos humanos tiveram que adaptar-se. Por
mais contraditório que possa parecer, uma das
principais estratégias de sobrevivência das
sociedades africanas foi se organizar em
pequenos grupos que �caram conhecidos como
as famosas “tribos” da África.
Dessa forma, é possível a�rmar que a grande quantidade de pequenas sociedades no continente
africano é decorrente do conhecimento que seus habitantes possuem sobre a natureza que fazem
parte, assunto que será melhor trabalhado na Aula 3 deste curso.
O importante a sublinhar neste momento é que a formação das “tribos” africanas não está
relacionada a nenhum pretenso atraso dessas populações, como se acreditou durante muitos anos.
 Hegel | Fonte: //www.biogra�a.inf.br
Ao contrário do que disse o �lósofo alemão Hegel no século XIX, a África
tem, sim, inúmeras histórias. O fundamental é termos as ferramentas certas
para conseguir enxergá-las.
Fontes e documentos para estudar a história da
África
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
 Books | Fonte: Shutterstock por Billion Photos
Um dos grandesproblemas encontrados pelos historiadores ocidentais para estudar a história da
África devia-se ao fato de que a maior parte das sociedades do continente serem ágrafas, ou seja,
elas não haviam desenvolvido a escrita, ou então não a usavam de forma sistemática.
Até meados do século XX, os povos que viveram na África - bem como em outras regiões do mundo
como partes da Ásia, América e Oceania - eram considerados desprovidos de história, porque não
haviam feito registros escritos de seu passado.
Sendo assim, os primeiros historiadores do continente africano foram os antropólogos, arqueólogos e
linguistas. Com o intuito de estudar manifestações culturais, vestígios materiais e a imensa
pluralidade de línguas faladas na África, esses pro�ssionais conseguiram resgatar muitos fatos e
costumes dos povos africanos, chegando a estudar sociedades milenares.
Ao longo do século XX, a História Ocidental passou por diversas mudanças, sendo a principal delas o
alargamento das fontes documentais, ou seja, das ferramentas do historiador. Ainda que a escrita
seja a principal forma de acessar o passado, os historiadores do século XX ampliaram seu diálogo
com outras disciplinas, sobretudo com a:
Tal ampliação permitiu que novas fontes passassem a fazer parte do escopo
documental dos historiadores, e que a África passasse a ser vista como um
continente possuidor de história.
 Nascer do Sol na África. Fonte: //www.cashadvance6online.com/data/archive/img/2827007406.jpeg
Paralelamente à reorientação metodológica dos estudos de história, a partir da década de 1920, no
contexto da luta das colônias africanas por liberdade, muitos africanos (de diferentes regiões)
começaram a reivindicar a possibilidade de contarem a história de seu povo.
Importantes nomes, como Amadou Hampatê Ba e Joseph Ki-Zerbo, apresentaram para o Ocidente
uma África pouco conhecida, mas de uma complexidade ímpar. Uma das maiores contribuições
desses historiadores foi apresentar para o Ocidente, de maneira palatável e compreensível, que a
África era um continente complexo, que precisava ser analisado dentro de sua complexidade, mas
que, em muitas vezes, sua história estava mais próxima da perspectiva eurocêntrica do que os
próprios europeus imaginavam.
Paralelamente à reorientação metodológica dos estudos de história, a partir da década de 1920, no
contexto da luta das colônias africanas por liberdade, muitos africanos (de diferentes regiões)
começaram a reivindicar a possibilidade de contarem a história de seu povo.
No entanto, um dos temas que ainda se apresenta como um desa�o para o estudo da história
africana e que pode ser ampliado como uma questão para a disciplina de História como um todo, é
trabalhar com a oralidade. Como já foi apontado, antes do contato com os muçulmanos e com os
europeus, a imensa maioria das sociedades africanas era ágrafa. A principal forma que elas
desenvolveram para guardar e resgatar seu passado foi por meio da oralidade, ou seja, da palavra
falada.
Saiba mais
Como este é um tema complexo, ele será retomado em outros momentos do curso.
Todavia, é fundamental compreender o que os africanos entendiam por oralidade, e,
para isso, o mais adequado é examinar o que um africano escreveu sobre o assunto.
Baixe o arquivo em PDF.
Ao longo do curso, nós iremos estudar diferentes povos do continente africano, fazendo uso das
ferramentas disponíveis para o historiador, inclusive a oralidade.
O objetivo é conseguirmos compreender os aspectos comuns existentes entre muitos povos da
África, mas, sobretudo, entender a multiplicidade e complexidade que circunda o estudo deste
continente para que possamos compreender a nossa própria história de maneira mais aprofundada.
Comecemos com aquela África que nos é mais próxima. Bons estudos!
Referências
M'BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Lisboa: Vulgata, 2003.
SILVA, Alberto da Costa e. A manilha e o libambo. A África e a escravidão de 1500 a 1700, Rio de
Janeiro, Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2002.
SILVA,A.C. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses. Nova Fronteira/EDUSP. São Paulo,
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ç p g
1992.
Próxima aula
Os aspectos gerais no Egito Antigo;
A organização sociopolítica e econômica do Reino da Núbia;
A trajetória do Egito faraônico com a dinâmica política dos núbios.
Explore mais
Leia o livro Perícia Contábil – Judicial e Extrajudicial, de Ril Moura.

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