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Psicologia Judiciária 1 PSICOLOGIA JUDICIÁRIA PARTE 01 – Conselho Nacional de Justiça: Resolução nº75/ 12 de maio de 2009 PARTE 02 – O Magistrado : O papel do Juiz 2.1 Importância da disciplina 2.1 O magistrado 2.3 O papel do Juiz na sociedade 2.4 Sociedade atual e Globalização PARTE 03 – Era da Incerteza 3.1 Estado –Juiz e Sujeito-Juiz PARTE 04 – Juiz e a Mídia PARTE 05 – Assédio Moral e Sexual 5.1 Assédio Moral 5.2 Assédio sexual PARTE 06 – Teoria do Conflito PARTE 07 – MESCS 7.1 Mediação 7.2 Conciliação 7.3 Negociação 7.4 Arbitragem PARTE 08 – Testemunho: fatores de influência Psicologia Judiciária 2 Aldeia Índigo: uma tribo PARTE 01 – Conselho Nacional de Justiça: Resolução nº75/ 12 de maio de 2009 Anexo VI NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA B) PSICOLOGIA JURÍDICA 1. Psicologia e Comunicação relacionamento interpessoal relacionamento do magistrado com a sociedade e a mídia. 2. Problema s atuais da psicologia com reflexos no direito: assédio moral e assédio sexual 3. Teria do conflito e os mecanismos autocompositivos. Técnicas de negociação e mediação. Procedimentos , posturas, condutas e mecanismos aptos para obter a solução conciliada dos conflitos. 4. O processo psicológico e a obtenção da verdade judicial. O comportamento de partes e testemunhas. PARTE 02 – O Magistrado : O papel do Juiz 2.1 Importância da disciplina Importância da disciplina (ALMEIDA, 2007): a psicologia judiciaria dá ao juiz o conhecimento necessário para ser um bom instrutor no processo: - para interrogar o acusado; - para inquirir as testemunhas; - para relacionar-se devidamente com o representante do Ministério Público e com o advogado; A Psicologia Jurídica gera para o Juiz: habilidade e objetividade indispensáveis para perscrutar o espírito humano 2.1 O magistrado Tríade Processual: autor, réu e Juiz alverse (imparcial) e indica para sociedade como ela deve se portar, pois faz Jurisprudência. Psicologia Judiciária 3 2.3 O papel do Juiz na sociedade - deve ser um sujeito ciente de suas próprias limitações e deficiências; - grandes problemas profissionais não são necessariamente problemas técnicos, mas problemas que envolvem o RELACIONAMENTO entre as pessoas; - Problemas de relacionamento: são mais difíceis de resolver , pois estão inseridos no íntimo dos indivíduos, dificultam a chegada a soluções em trabalhos em equipe, onde ocorrem choques de EGOS e outras SUSCETIBILIDADES; 2.4 Sociedade atual e Globalização Período atual: SOCIEDADE PÓS-MODERNA ou HIPERMODERNA > mudanças sociais ocorridas nos últimos tempos nos ajudam a entender o papel do juiz na sociedade atual. Mudanças sociais importantes que interferem no trabalho do Juiz: - GLOBALIZAÇÃO: Integração social e econômica > sociedade complexa e interrelacionada - IGUALDADE COMO OBJETIVO/FINALIDADE DA SOCIEDADE (: dissolveu as diferenças entre os seres humanos. Não se trata da igualdade plena entre as pessoas e apenas o sentimento da maioria de que há , no mínimo, um elemento igualitário entre os indivíduos que compõem a coletividade social. Consequência : criação de comportamentos “idealizados”, que servem para colocar as pessoas em “pé de igualdade”, COMO SE ESSE COMPORTAMENTO IDEALIZADO DOS INDIVÍDUOS LEVASSEM AS PESSOAS A SE SENTIREM MAIS IGUAIS. Esta é considerada a Era da Incerteza: Advém daquela desestruturação de valores e princípios do pós-segunda guerra mundial, onde se procura um conjunto de referenciais universais e a estruturação de norte, uniformidade e limites nas políticas públicas adotadas por cada estado a fim de um bem-comum planetário. PROCESSO CIVIL PARTE 03 – Era da Incerteza Consequências da ERA DA INCERTEZA: - perda de TRADIÇÕES e de VERDADES ABSOLUTAS; - desaparecimento de referenciais sobre o BEM e a VERDADE; - diminuição das restrições MORAIS; Psicologia Judiciária 4 - INTERCONECTIVIDADE SUBJETIVA VIRTUAL e “aproximação de pessoas” de maneira virtual aparente, pois não há uma convivência real. (afastamento das relações pessoais, relações pessoais virtuais ou líquidas – aparente entre indivíduos que trocam e-mails, não se condivide de um mesmo ambiente físico). - O PROVISÓRIO se tornou DEFINITIVO: Bauman, Zygmund cria o chamado “IMPÉRIO DO EFÊMERO” OU LIQUIDEZ DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS. Ex: união homoafetiva, famílias monoparentais, aborto dos anencéfalos. - FAMÍLIA: A nova estruturação (ou desestruturação) da sociedade atual: fluidez conceitual e a fluidez da comunicação. - Contratos/ família/ propriedade : funcionalismo das relações jurídicas. 3.1 Estado –Juiz e Sujeito-Juiz Estado-Juiz Sujeito-Juiz É a pessoa que representa o Estado. - Sem preconceitos: de acordo com os princípios do Estado distinção de cor, raça, sexo, idade, crença, etc. Representante de si mesmo, de sua história pessoal, com suas crenças e suas experiências emocionais. Com seus preconceitos 1. Ética: é a estética de dentro. Julgar com as vontades de Estado e não as suas próprias. 2. Papel esperado do Sujeito-Juiz: - ativismo judicial: criar novas possibilidades jurídicas, dentro do possível, sempre atento aos preceitos constitucionais. - Não simplesmente julgar replicando a jurisprudência, ou ainda, macular sua sentença com preconceitos. ( a sociedade se modifica no tempo, por isso a lei dura muito tempo, mas o juiz é necessário pois ele adapta a interpretação dos conceitos presentes na lei – ex: conceito de família) 3. Vazio existencial: existe um vazio existencial na sociedade moderna que acaba por atingir o Poder Judiciário. O PJ “que não terão a capacidade necessária para dirimir os conflitos a eles postos, dada a rapidez com que esses conflitos exigirão respostas adequadas para as suas realidades sociais cada vez mais diversas e mutantes. (Lycurgo, Ericksen, 2012) 4. Relacionamento interpessoal do Juiz: - conceito: é qualquer relação em que estão envolvidas duas ou mais pessoas no campo laborativo. - Atenção: manter um bom relacionamento com todos é impossível, porém é aconselhável manter tal relacionamento dentro dos limites da normalidade. Psicologia Judiciária 5 5. Atrações interpessoais: Porque nos damos melhor com certas pessoas? Porque tenho atrações interpessoais com determinadas pessoas ( que depende das características ambientais e pessoais) 6. Possibilidades de relacionamento interpessoal: Parâmetros (situação ou cotação de cada indivíduo em termos de atratividade dentro de seu grupo de inserção): - atração; * buscar como objetivo - rejeição; * não buscar - neutralidade. *evitar, pois o trabalho flui pouco 7. Determinantes da Atração Interpessoal: - proximidade física (elemento ambiental); - indivíduos tendem a ter um comportamento neutro em relação nos primeiros contatos; - se passa a gostar mais de alguém quando os contatos se tronam mais frequentes Leva a familiaridade: - a pessoa passa a ficar menos apreensiva, e menos desconfortável na presença do outro, pois ambos participam do mesmo ambiente. (convivência ambiental (não virtual), deixa a pessoa mais seguras, pela antevisão do comportamento do outro, assim começam a se aproximar. - E porque é possível antever as suas ações >>> o que faz gostar mais do outro >>> tenha um relacionamento melhor >>> trabalhe melhor. Mesma visão de Mundo - Característica do ser humano: quanto mais ideias eu compartilho com o outro, mesmas opiniões e crenças, proporcionalmente, o trabalho flui mais pacificamente (há um consenso) >>> atração - É a satisfação da necessidade humana de comparação/união com os semelhantes >>> porém não havendo consenso, haverá a rejeição e exclusão do grupo. Psicologia Judiciária 68. Competência Interpessoal: - faz parte da inteligência emocional; Conceito: (Fortuna, 2066) “competência interpessoal significa saber trabalhar eficaz e eficientemente em grupos homogêneos ou heterogêneos de modo participativo, sinergético, adulto e responsável.” Importância: - minimizar rejeição, indiferença e o desapreço dos demais; - necessária, pois todo trabalho é feito em equipe; - ajuda a evitar que problemas em um departamento se espalhem para o resto de instituição; - no caso de alguma falha, o próprio estudo da competência ajuda a evitar erros futuros. ( é sinergética > é auto aproveitada). Bom relacionamento é a base da boa argumentação (=convencer + persuadir): - Argumentação (elementos racionais): é uma construção coletiva entre os sujeitos, onde um termina por aceitar a “vitória argumentativa” do outro, pois passa a compartilhar da mesma visão. - Persuasão (elementos emotivos): conseguir que o outro faça aquilo que se deseja, utilizando as emoções das pessoas. Atenção: evitar a “clínica de rebanho” ( termo da medicina veterinária, você faz um estudo , antes de tratar o boi doente, se a carcaça do boi vale o preço do tratamento). Quando o Juiz trabalha em equipe, não está aplicando na equipe para ser “amigo pessoal e tirar vantagens” nessa relação. - o Juiz não pode ser amigo das partes; - o Juiz pode ser amigo da equipe, mas não precisa ser amigo da equipe. Moura (1995) afirma que: “a competência interpessoal é menos visível que a competência técnica, mas ambas são igualmente relevantes”. Psicologia Judiciária 7 Através da competência interpessoal aqueles que ocupa um cargo de direção dentro da cadeira laboral não faz sozinho as coisa próprias de seu cargo, mas as faz por meio de outras pessoas ( subordinados, mediatos, colegas, etc.) Conclusão: as pessoas que tem bom desempenho técnico, mas não tem bom desempenho no relacionamento interpessoal não conseguem subir na carreira, porque o trabalho não deslancha nas empresas e no PJ, pois o objeto do trabalho (processso) necessariamente precisa ser desenvolvido em grupo. 9. Fatores limitadores do bom relacionamento interpessoal: - Preconceito: - Sucesso= participar do meio ambiente + ter mesma visão de mundo; - Preconceito =participa do meio ambiente + tem um conceito anterior e separado = o preconceituoso - Conceito de preconceito: é a pré-concepção de alguma coisa, juízo de valor negativo sem conhecimento profundo do assunto. Promove o afastamento e a repulsa entre a pessoas. - Falta de sabedoria: não é falta de conhecimento o Conhecimento: é tudo aquilo que se faz com as informações, com aquilo que é criado pelo próprio homem. o Sabedoria: conhecimento ético aplicado a qualidade de vida das pessoas. Ex1: Conhecimento > Teoria da relatividade de Einstein + falta de sabedoria (invenção da bomba atômica de Oppenheimer) . Ex2: Paradoxo da pós-modernidade (muito conhecimento e pouca sabedoria): primeira causa de morte é a fome, a segunda causa é o excesso de alimentos ( efeitos da obesidade). 10. Escuta ativa bilateral - origem: na psicanálise - conceito: é um método de relacionamento interpessoal, no qual o psicanalista escuta o sujeito sem deter nenhuma verdade sobre o sujeito ou o que ele esta dizendo. - quando o Juiz escuta as partes: ele faz uma escuta ativa bilateral, pois ele não pode deter nenhuma verdade pré-concebida sobre o indivíduo que está Psicologia Judiciária 8 fazendo o relato e sobre aquilo que está sendo relatado, pois a verdade surge durante a investigação durante o processo ( sobre as partes e testemunhas). - requisitos da escuta ativa bilateral: o Paráfrase: repetir com outras palavras o que está sendo dito, porque isso permite que o interlocutor possa recapitular os momentos que considera mais importantes na narrativa. (para evidenciar para o magistrado o que realmente é importante na narrativa). o Retroalimentação: feedback: deverá ser imparcial . Ex: acenos de cabeça e expressões como “hum”, “sei”. Se você não acena o individuo se recolhe. - Recomendações da escuta ativa: o Não antecipe suas conclusões; o Seja imparcial; o Não manifeste o convencimento, para não cortar a argumentação e para que os relatos sejam os mais objetivos possível. PARTE 04 – Juiz e a Mídia 1. Papel da mídia: - lidar com fatos de modo instantâneo; - precisa dar significado à notícias do dia; - a mídia não vê com bons olhos o judiciário (não responde instantaneamente). Ex: chama-o de moroso, confundindo morosidade com abuso. 2. Conceito jurídicos não entendidos ou não especificados pela mídia: - a. A lógica do processo judicial: a duração razoável do processo é diferente do tempo das coisas na pós-modernidade; - b. Respeito às fases processuais: o o contraditório e a ampla defesa; o os direitos fundamentais das partes do processo ( citação, defesa das partes, elaboração de provas, perícias, etc.); Psicologia Judiciária 9 o princípio da dignidade da pessoa humana e a presunção da inocência até prova em contrário. (questão da prisão processual ou da liberdade provisória) 3. A visibilidade do Juiz se dá: - escândalos públicos em que o judiciário se viu envolvido (como protagonista ou como instância social que vai fazer cumprir a lei); - A sociedade espera: principalmente a punição dos responsáveis e a mídia expõe exatamente o juiz nessa atividade, é isso que é exigido pela mídia hodierna. Atenção: os tempos mudaram – exigência que pessoas investidas em funções públicas tenham transparência de posicionamento e responsabilidade social. 5. Como se preparar para uma ENTREVISTA: Segundo o Excelentíssimo Juiz de Direito Marcos de Lima Porta: - levantar dados sobre o meio de comunicação e o jornalista; - saber o assunto da entrevista: atenção aos impedimentos legais; - se o jornalista não for conhecido não dar entrevista pelo telefone; - casos com maior repercussão: antes de dar qualquer entrevista, acionar a assessoria de imprensa do Tribunal; - Caso não quiser dar a entrevista, se não estiver a vontade para dar entrevista: justificar para a mídia ( cuidado aqui, pois tem que ser cortês, pois a mídia está tentando criar um relacionamento interpessoal) e encaminhar para o departamento de imprensa; - O juiz deve ser sempre sincero e falar a verdade: se não puder falar a verdade, fale que não responderá àquela questão por impedimentos legais e passe para a próxima pergunta. - Não usar linguagem excessivamente técnica; - Não assumir atitudes de arrogância, desprezo ou ironia (porque estamos no papel de Estado –Juiz e não Sujeito-Juiz – nesse momento o Juiz é um elo de ligação) – manter uma postura de neutralidade; - Traje (boa vestimenta): barba feita para homens; - boa dicção e uso do bom português. Leitura Recomendada: O Juiz e a Mídia: como falar com a imprensa por marcos Lima Porta (Revista Diálogos e Debates– Revista da Escola paulista da Magistratura) – Ano 06 – nº01 Edição 21 – setembro/2005. Disponível em: http://www.epm.tjsp.jus.br/ Publicacoes/dialogofebatesView.aspx?ID-5534 Psicologia Judiciária 10 PARTE 05 – Assédio Moral e Sexual Anexo VI, B, 2 – problemas atuais da psicologia com reflexos no direito: assédio moral e assédio sexual. 5.1 Assédio Moral O dano do Código Civil: ART. 186: aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos costumes. Art. 188: Não constituem atos ilícitos: I – legítima defesa ou exercício regular de umdireito reconhecido; II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único: No caso do inc. II , o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não exercendo os limites do Psicologia Judiciária 11 indispensável para a remoção do perigo. Estudos internacionais comprovam a import6ancia do entendimento do assédio moral: - França: harc`element (assédio moral); - Inglaterra: bullying (tiranizar); - Estados Unidos: mobbing (molestar); - Japão: murahachibu (ostracismo social). 1. Assédio moral no Brasil: A professora insiste em dizer que no Brasil, há assedio moral mas em menor quantidade do que em outros locais do mundo. OIT: Organização Internacional do Trabalho - Pesquisas no Reino Unido demonstram que 53% dos trabalhadores foram vítimas de coações no trabalho e 78% foram testemunhas; - Na Suécia tem-se estimado que esse tipo de violência é causa de 10 a 15 % dos casos de suicídio. 2. Importância do Estudo do Assédio Moral: A definição de assédio moral é uma definição aberta, portanto é possível que condutas não assediadoras venham a ser configuradas como assédio. Por este motivo é fundamental a análise dos elementos que caracterizam o assédio moral. 3. Problema da sociedade capitalista : - sociedade capitalista globalizada incentiva a competição; - pressão por resultados e lucro; - estresse na manutenção dos cargos de trabalho (diminuindo pelo surgimento de novas tecnologias); Resultado: local de trabalho = palco de disputa ( como se como um dos produtos de refugo produzidos no rodar do nosso sistema econômico num sistema maquinário capitalista, temos o assedio moral. 4. Definição de Assédio Moral: Brodsky (1976): “tentativas repetidas e obstinadas de uma pessoa para atormentar, quebrar a resistência, frustrar ou obter uma reação do outro. É um tratamento que, com persistência, provoca, pressiona, amedronta, intimida ou incomoda outra pessoa. Psicologia Judiciária 12 Leyman (1996): o sueco especializado em mobbing ( = assedio moral). A deliberada degradação das condições de trabalho através de estabelecimento de relações não éticas (abusivas), que se caracterizam pela repetição, por longo tempo, de um comportamento hostil de um superior ou colega (s) contra um indivíduo que apresenta, como reação de um quadro de miséria física, psicológica e social duradoura. Hirigoyen (2002): francesa, é toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos (e-mails) que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr me perigo seu emprego ou psíquica de uma pessoa, por em perigo seu emprego ou degradar o ambiente do trabalho. Recomendação de leitura: Hirigoyen, Marie-France. Mal-estar no Trabalho: Redefinindo o Assédio Moral. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil LTDA., 2002. 5. Caracterísiticas: - Pode ser multilateral: o vertical: possibilidade de o chefe/empregado; o horizontal ou paritária (entre colegas) empregado/empregado; o ascendente (empregado/chefe). - Violência continuada: o duradoura por certo lapso temporal; o apenas um momento. Einarssen et al ( e outros) (2011): nem todos os gestos associados ao assédio moral são de natureza episódica. Por exemplo, um rumor pode circular e destruir ou ameaçar a carreira ou a reputação da vítima e não necessita se repetir semanalmente. Lhuillier (2002): examinou a exclusão física ( fica isolado das reuniões, não participa das decisões), nas organizações daqueles que são considerados como inúteis”(porque muitas vezes têm mais idade ou problemas de saúde) ou porque incomodam. Nestes casos, o assédio é um estado permanente ao invés de uma série de eventos ou gestos episódicos. 6. Tempo da duração da violência: depende Para a maioria dos autores > diz que tem que configurar a violência por pelo menos 6 meses (mas no corpo humano, a regra não funciona muito bem, pois pode configurar danos em menos tempo que isso) Essa regra foi emprestada do Leyman que referenciou esse prazo, mas o próprio disse tratar-se somente de uma questão estatística ( uma média, pode durar menos de 6 meses se configura ro dano). Via de regra = 6 meses. 7.Objetivo/resultado esperado do agente: Assédio moral Assédio sexual Destruir a autoestima para excluí-la do trabalho. Dominar sexualmente a pessoa, Para obter vantagens de natureza sexual. Psicologia Judiciária 13 - demissão; - aposentadoria precoce; - pedir licença para tratamento médico. 8 Meios: - gestos obscenos; - palavras de baixo calão; - retirar a autonomia da vitima; - não repassar informações úteis para a realização de tarefas. (confundindo o trabalho da pessoa, a desautorizando, a desempoderando na frente dos outros). - criticar seu trabalho de forma injusta ou exagerada; - atribuir-lhe proposital ou sistematicamente tarefas inferiores ou muito superiores à sua competência (ex: colocar o médico para realizar serviços de portaria, ou vice-versa, colocar o porteiro para realizar o trabalho médico). - Agir de modo a impedir uma promoção ou vantagem; - dar-lhe deliberadamente instruções impossíveis de executar; - induzir a vítima ao erro; - na mesa ao lado, mas o chefe nunca fala com a pessoa, somente fala por escrito; - colocar a vítima em lugar separado dos outros; - superiores ou subordinados desacreditam na capacidade da vitima, pois isso é arquitetado pelo agressor (passa as informações erradas, mas as pessoas não sabem, eles somente veem o resultado final); - ameaçar com violência física ou gritos, tratamentos duros; - atribuir-lhe tarefas humilhantes, ex. servir cafezinho, lavar banheiro, levar sapatos para engraxar ou rebaixar, o médico para atendente de portaria); “O chefe vomita suas frustrações, sua criança ferida é lançada frente aos subalternos. Auto-responsabilidade, rapaz! Ele ainda nem tem consciência disso e sofre muito e se prejudica em seu carma, porque prejudica o próximo. O próximo vê a criança ferida dele exteriorizada, sente por essa exposição.” Mas todos estão pressionados dentro desse sistema! Perfil do agressor: Hirigoyen (2002): Os grandes perversos são também seres narcisistas e, como, tal, vazios, que se alimentam da energia vital e da seiva do outro. O perverso narcisista depende dos outros para viver, se nutrindo da energia vital do outro”. Psicologia Judiciária 14 - “É espécie movida pela inveja e seu objetivo é roubar a vida de suas vítimas. Como sujeito megalômano, o perverso tem um senso grandioso da própria importância, é absorvido por fantasias de sucesso ilimitado e de poder. Acredita ser especial e singular, pensa que tudo lhe é devido; tem excessiva necessidade de ser admirado, e age como um vampiro.” Vampiro psicológico: roubar a energia, o brio, a luz, o sucesso profissional do outro. - Não tem empatia, alimenta-se da energia dos que se veem seduzidos pelo seu charme: sente profunda inveja daqueles que parecem possuir coisas que lhe faltam, ou que simplesmente sabem extrair prazer da vida. Empatia: capacidade de colocar-se no lugar do outro. O ser humano tem empatia, pode se colocar no lugar do outro. Mas é difícil ver se a pessoa tem. • Psicopata: não consegue ter empatia; - são críticos ferinos, sentem prazer em criticar os outros, vazios e despossuídos de subjetividade, os perversos não se responsabilizam por seus erros e limitações, apontando o outro como responsável. (o que acontece de mal é sempre culpa dos outros). Irresponsável com a entrega do trabalho (pois se utiliza de informações erradas para confundir a vitima). Perfil da vítima: - bem preparada e tem inteligência acima da média; - é uma pessoa inconformista, questiona sistematicamenteos métodos e fórmulas; - possui um senso de responsabilidade definido como quase patológico; - é ingênua, acreditam no que fazem e no time, no chefe, etc. (ela acha que o erro é dela) Consequências: - as manobras perversas reduzem a autoestima, confundem e levam a vítima a desacreditar de sim mesma e a se culpar; - o grupo não acredita em sua inocência, acha que a vítima permite o comportamento ruim do agressor. Atenção: a ideia do agressor é fazer propaganda contra a vítima – reafirma características que o preconceito reforça como inferioridade ( cor, sexo, agressividade, contundência). Salin (2001): analisando profissionais da gestão na Finlândia, encontrou diferenças na prevalência e na forma do assedio moral. o Mulheres são mais assediadas, vítimas de fofocas e rumores e mais ostracizadas (excluir, afastar); o A chefe mulher é mais assediada por funcionários masculinos do que feminino. o Altos salários; o Sindicalizados, representantes. Psicologia Judiciária 15 Sintomas e efeitos e danos à saúde do assediado: - endurecimento ou esfriamento no ambiente de trabalho; - dificuldade de enfrentar as agressões e realizar trabalho em equipe; - dificuldades emocionais: o irritação constante ( no trabalho e vida pessoal); o falta de confiança em si (nas próprias capacidades, se culpa pelo insucesso no trabalho); o cansaço exagerado (por causa do stress, substâncias no organismo são produzidas, que dão essa sensação de cansaço); o diminuição da capacidade para enfrentar o estresse. (maior dificuldade do que uma pessoa normal); o pensamentos repetitivos (em relação à possibilidade de acabar com a própria vida, ela repete o momento do assédio na mente e vai ficando com vontade de sair da situação, suicidando-se); - alterações do sono: o pesadelos sequenciais ( quantidade alta e o assunto relacionado pelo pesadelo); o interrupções frequentes do sono; o insônia. - alteração da capacidade de concentrar-se e memorizar: o amnésia psicógena; o diminuição da capacidade de recordar os acontecimentos. (ele não consegue lembrar todos os detalhes do assédio); o anulação dos pensamentos ou sentimentos que relembram a tortura psicológica , como forma de se proteger e resistir; o estresse pós-traumático. ( resultado psicológico = assalto violento) - diminuição da capacidade de fazer novas amizades: o não consegue manter aços de amizade, até com amigos que ela tinha antes do trauma ( morte social); o não consegue fazer novas também. § redução do afeto; § sentimento de isolamento ou indiferença com respeito ao sofrimento alheio (falta de empatia : ela perde a capacidade de receber afeto dos outros, como no sentido de conseguir demonstrar afeto); tristeza profunda. - mudança da personalidade: o provavelmente termina o relacionamento (afetivo, casamento); o devido ao trauma, passa a ser o agressor; (maneira de se preservar, porque se você é o agressor, você não é a vítima); - sentimento de culpa: o pensamentos suicidas; o tentativas de suicídio. - alterações físicas: o aumento de peso ou emagrecimento exagerado; (vítimas de traumas + quadro de stress pós-traumático = come mais ou menos); o distúrbios digestivos ( azias, úlceras, problemas para digerir); Psicologia Judiciária 16 o hipertensão arterial; o tremores; (mãos trêmulas) o palpitações. (coração batendo mais rápido) - aumento do consumo de bebidas alcoólicas ou de drogas; (como fuga); - aumento exacerbado do estresse. - falta de equilíbrio quanto às manifestações emocionais; (crises de choro, de raiva, etc.) - pedido de demissão; (não diminui o estresse pós-traumático, mas tem outros efeitos psicológicos, por exemplo a questão da família e o fator econômico) - tensão nos relacionamentos afetivos. - o rendimento da vítima diminui 60%; Recomendação de leitura: SOARES, Angelo and Oliveira, Juliana Andrade. Assédio moral no trabalho. Rev. Bras. Saúde ocup. [online].2012, vol 37, n.126, pp. 195-202. ISSN 0303-7657 www.sclelo.com.br Consequência para a organização: - perda de tempo; - absenteísmo; - perda da produtividade; - rotação de mão-de-obra; - presenteísmo (dar presente para a vítima, para não acionar a empresa ou para não perder o profissional, dar algo para alguém), custos associados à dotação de pessoal e prêmios da apólice de seguro; isso não esta no budget da empresa, porque isso não deveria existir. - Processos; - Problemas com a maculação da imagem da empresa. 5.2 Assédio sexual Assédio moral Assédio sexual Destruir a autoestima para excluí-la do trabalho. - demissão; - aposentadoria precoce; - pedir licença para tratamento médico. Dominar sexualmente a pessoa, Para obter vantagens de natureza sexual. Assédio sexual pode mudar para assédio moral: quando a vítima se nega a prestar os favores sexuais. Assédio Sexual Art. 216-A CP: Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 a 2 anos Psicologia Judiciária 17 §2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menos de 18 anos. 1. Conceito de Assédio sexual no local de trabalho: Husdands: (que ultrapassado!) Praticado por um superior, geralmente, mas nem sempre, um homem, de exigir de um subordinado, geralmente, porém nem sempre, uma mulher, favores em contrapartida de certas vantagens profissionais. MHD: O assédio sexual é o ato de constranger alguém com gestos, palavras ou com emprego de violência prevalecendo–se de relações de confiança, de autoridade ou empregatícia, com o escopo de obter vantagem sexual. Sobrinho: O assédio sexual, por óbvio, e materializado em um comportamento comissivo do assediador, pelo que não se há de se pensar em assédio por omissão sob pena de a lógica ser agredida (...) decisivo para o conceito de assédio sexual é o comportamento subsequente à não aceitação da proposta de índole sexual. Se a outra parte não se mostra inclinada a aceitar essa proposta (não) e mesmo assim continua sendo abordada na mesma direção, nesse momento surge a figura do assédio sexual (...). E isto é assim porque nesse momento haverá uma agressão à esfera de liberdade do assediado quem naturalmente, não é obrigado a copular com quem não deseja. Dano Psicológico imbricado nas Ações Indenizatórias por Dano Moral: Dano Psicológico: - é uma injúria emocional que repercute na honra e na vida da pessoa; - uma deterioração, disfunção, distúrbio, transtorno ou desenvolvimento psicogênico; - limita a capacidade de prazer individual, familiar, laboral, social e/ou recreativa; - é uma “cicatriz” psicológica (não vai existir uma incapacidade de usar esse membro, mas fica uma marca na pessoa); - não leva a uma incapacidade psíquica. Dano Psíquico: - mais grave; - de caráter psicopatológico (tornou-se uma nova doença psicológica); - leva a uma incapacidade psíquica por causa do evento traumático; - de caráter duradouro e irreversível. Diagnóstico do Dano Psíquico: - um prejuízo na performance da pessoa decorrente de alteração mórbida de alguma esfera psíquica que nunca existiria antes do ocorrido; - uma causa ou evento relevante, diretamente relacionado e a partir do qual a alteração mórbida da esfera psíquica passou a existir; Psicologia Judiciária 18 - diagnóstico médico preciso (normalmente utilizando as classificações internacionais) de qual seria essa alteração psíquica mórbida =indicar a doença psicológica ( portanto, há dano psíquico); - Que o prognóstico do dano seja concretamente ruim, ou seja, incapacitante e permanente. (prognóstico, como lidar com a doença e como iremos tentar curá-la ≠ diagnóstico, que é a doença que ele tem); Empatia : capacidade de se colocar no lugar dooutro honestidade comigo mesmo PARTE 06 – Teoria do Conflito 1. Introdução à Teoria do Conflito: Psicologia Judiciária 19 Comportamento Humano: É determinado pelos: - mecanismos biológicos (filogênese); - uma história de vida pessoal (ontogênese); - uma cultura na qual ele está inserido. ( com suas variantes pessoais de adesão ou não) Resultado: essa perspectiva tem como efeito direto que cada indivíduo tenha características pessoais únicas, diferentes de todas as outras pessoas. Isso, gera , naturalmente, uma situação de conflito. Conflitos: Segundo Freud o ser humano vive em uma posição eterna de conflito entre um princípio do prazer e um princípio da realidade. - princípio do prazer: necessidade de realizar todos os desejos e impulsos. - princípio da realidade: possibilidades concretas impostas pela vida, que limita, o indivíduo fisicamente ou moralmente. São as oposições que o Prembaba cita, a pessoa está livre quando terminarem as oposições internas. O que somos em relações: De um ponto de vista psicológico, o conflito entre realidade e desejo se torna definidor de toda e qualquer relação do sujeito com o mundo em que está inserido. Interesses: vontade direcionada a um objeto; Pretensão: interesse em subordinar direito alheio ao próprio; Lide: conflito qualificado pela resistência à pretensão. Precisa trabalhar o foco gerador do conflito: - cada parte relata os fatos de acordo com sua própria percepção, crenças e interesses (sejam eles de natureza consciente ou inconsciente) o que invariavelmente leva ao contraditório; - o magistrado escuta de acordo com as suas próprias percepções, crenças e interesses. Para a solução dos conflitos é essencial que o magistrado: Psicologia Judiciária 20 - perceba esses mecanismos; - encontre os verdadeiros interesses por trás do conflito; - Para fazer isso é fundamental que o Juiz tenha autoconhecimento: se ele tem autoconhecimento ele tem percepção de qual é o seu limite de imparcialidade, segundo suas próprias percepções, crenças e interesses. Tipos de conflito: - Conflitos latentes: não declarados e não há consciência de sua existência. Esses conflitos não precisam ser trabalhados pelo Juiz. - Conflitos percebidos: há percepção da existência do conflito por pelo menos um dos atores, embora não existam manifestações abertas. - Conflitos sentidos: já são percebidos por ambs os atores, de forma consciente, mas não adversarial ( não há manifestações tão evidentes de conflitos – processos tumultuados, mas não tão tumultuados). - Conflitos manifestos: aqueles conflitos já declarados que podem ser percebidos por terceiros e podem intervir na dinâmica de funcionamento do conflito (Juiz é terceiro nessa situação), e o processo é apenas uma das modalidades do ataque. Aas partes não serão objetivas nos conflitos e nos relatos, sempre haverá como motor o conflito de relacionamento, como uma modalidade de ataque. Psicologia Judiciária 21 Conflitos e Justiça: é possível se observar a transferência dos conflitos para a pessoa do magistrado ou para o objeto do processo. O processo judicial é distinto do processo psicológico, e pode não dar fim ao conflito deste ponto de vista. Caso o processo psicológico é maior do que o pedido declarado procedente, ela ainda ficará insatisfeita. Isso gerará >>> novas situações de conflito judicial >> para Juiz isso é retrabalho>>> pois aí há um circulo vicioso de conflitos e novas lide e processos. Portanto, o Juiz deve trabalhar as situações conflituosas psicológicas, através dfos MESCs. “Existência é a soma de tudo que fizemos de nós até hoje.” Psicologia Judiciária 22 PARTE 07 – MESCS – Métodos de solução de conflitos Métodos alternativos de solução de conflitos: servem para pacificar os conflitos e buscam justiça. Novas formas de resolução te sido propostas, não falamos aqui sobre tecnicismos, mas vamos falar do ponto de vista psicológico: - Mediação; - Conciliação; - Arbitragem. 7.1 Mediação - conceito: próprios envolvidos que irão compor a resolução do conflito, assistidos por um terceiro imparcial; Psicologia Judiciária 23 - objetivo: recriar ou criar vínculos e estabelecer um diálogo e transformar e prevenir conflitos. - perspectiva cooperativa (não adversarial): diálogo, para chegar a uma solução pacificada, para evitar novos conflitos. Há uma possibilidade de cooperação e não adversarial. - características: - presença de um terceiro interventor: o que facilita o processo de diálogo e através disso é que se constrói o acordo final; o ajuda as partes a identificas, discutir e resolver as questões do conflito; o não deve emitir juízos de valor: “se eu estivesse no seu lugar eu faria”, “não acho isso certo”; o não pode influenciar ou persuadir, não é permitida a aceleração do processo pelo mediador, as partes precisam de tempo para discutir essas questões; - cooperação (política ganha x ganha): o pois não há vencedores e derrotados; o não competitividade; o consensualidade (ambos satisfeitos); o concessões mútuas no acordo; - flexibilidade e informalidade do processo: o não há necessidade de seguir uma formalidade e os passos do processo judicial comum; o a liberdade em escolher a solução dá as partes uma sensação vitoriosa e deixa a pessoa mais propensa a cumprir o combinado. Etapas do processo de mediação: - 1. Relatos (papel do mediador: neutralizar conteúdos emocionais e afetivos que possam impregnar a fala); - 2. Construção, ampliação e negociação de alternativas; - 3. Fechamento do processo e construção do acordo final. Características facilitadoras do Processo de Mediação: - Audiência não punitiva; - Empatia; - Autenticidade. 7.2 Conciliação TAESP: “Forma de resolução de controvérsias na relação de interesses administrada por um conciliador investido de autoridade ou indicado pelas partes, a quem compete aproximá-las, controlar as negociações, aparar as arestas, sugerir e formular propostas, apontar vantagens e desvantagens, objetivando sempre a composição do litígio pela partes”. Psicologia Judiciária 24 Conciliador: - é proativo, sugere propostas, dá opinião em vantagens e desvantagens. - Pode trazer alternativa e sugerir soluções ou acordos; 7.3 Negociação - Papel do Magistrado: auxilia a negociação; - Identificando os movimentos de negociação (esclarecimento, acordo, protelação) e intervindo na promoção do acordo final. Diretrizes para uma negociação de sucesso (instruir a parte): - seja claro no que diz respeito a suas necessidades e objetivos; - pense a respeito das necessidades e desejos da outra parte; - separe as pessoas do problema. - Concentre-se nos interesses, não nas posições; - Discuta as percepções de cada um; - Coloque seus argumentos de formas a sugerir benefícios. - Para a s partes: o Mantenha o controle; o Reconheça o nível de autoridade; o Reconheça o nível de autoridade; o Reconheça as táticas hostis se e quando elas são utilizadas pelas outras partes; 7.4 Arbitragem Arbitragem - é um método compositivo no qual o terceiro imparcial (árbitro) tem o poder de resolver o conflito; - informalidade - as partes escolhem, obedecerão o que for resolvido por terceiro. - Confidencialidade; - Celeridade: resolução em até 6 meses. - Impossibilidade de recurso contra a sentença arbitral (embargos – recurso inominado). Autonomia de decisão das partes MESC Intervenção externa +++ Mediação + ++ Conciliação ++ + Arbitragem +++ Psicologia Judiciária 25 PARTE 08 – Testemunho: fatores de influência 1. Fatores que influenciam o ato de expressão do testemunho: Atenção: é raro a pessoa ter a culturaou conhecimento/inteligência verbal ( suficiente para se expressar verbalmente. Papel do Magistrado: o deixar ao indivíduo a iniciativa em suas descrições, não intervir ativamente nela sob o pretexto de ajuda-lo; o feedback ou retroalimentação: gestos de intervenção ativa, para dar propulsão ao relato. (mas não deve completar as frases). Ω Cuidado: Não existe um deliberado propósito de resistência por parte do interrogado, este insensivelmente vai descrevendo os fatos e as situações, não como os viveu, mas como parece ao juiz que ele os devia ter vivido. Isso dificulta a obtenção da verdade dos acontecimentos por parte do Juiz. Amnésia emocional: todos os testemunhos versam sobre situações ilícitas das mais leves até as mais fortes, o próprio organismo trata de apagar as lembranças do fato traumático para evitar o pico de stress que a lembrança causa. Perde-se a totalidade da cena ou partes dela. Reforço de lembrança: É importante o Juiz não forçar a lembrança à pessoa, porque “quando mais se tenta lembrar uma cena, mais se esquece dela”. A lembrança somente será lembrada num momento futuro, quando a tendência emocional que a reprimia ( inibição paradoxal” – pelo pesquisador russo Ivan Petrovich Pavlov) dada a fadiga neurônica. Pseudomemórias: quando o indivíduo se dá conta da pobreza de suas lembranças, logo começa a completá-las, utilizando-se de associações de sua mente. Ele considera que a rotina é o que aconteceu ( ex. se você chega para trabalhar todo dia e a padaria esta aberta, mas com o tempo você já não repara mais se está aberta ou fechada. Então, se alguém te pergunta se estava aberta, você acha que estava aberta) . Não é mentira, mas ele tenta lembrar da informação e não lembra, mas começa a relacionar informações que estão na sua mente. Isso não é proposital. Psicologia Judiciária 26 Causas mais comuns da inexatidão do testemunho: - Imaginação: percepção das coisas como se queria que fossem, em contraposição ao que são; - Sugestão: inserida nos interrogatórios judiciais. Presença de indicações diretivas que podem condicionar as respostas. É importante o magistrado evitar fazer sugestões nas perguntas, pois a testemunha acaba seguindo a sugestão do magistrado. - Intercalações no tempo: possibilidade de colocar os fatos em ordem errada no tempo. - Distorção do tempo : momentos agradáveis tendem a ser descritos como “horas que passam mais rápido”, ao passo que momentos penosos e desagradáveis são usualmente descritos como “horas intermináveis”. Portanto, sempre leve em consideração as distorções de depoimentos sobre o período do fato. Ex: férias e ser vítima de um assalto. - Confusão no tempo: se a pessoa que está relatando não saiba das medidas temporais, há uma maneira de colher o tempo, através de uma abordagem mais concreta. Ex: Quanto tempo demorou a agressão, mais ou menos tempo que você demora para almoçar?! Que você demora para chegar ao trabalho (sabendo quanto tempo ele demora)? Sem insistir na abordagem do sistema horário. - Sentimentos pessoais: depende da simpatia ou antipatia das pessoas em relação às outras ou em relações aos locais que ocorreram os fatos. Ex: uma escola (sendo diretor ou dono), o marido ( sendo testemunha, a esposa). - Hábito: no lugar das memórias, as pseudomemórias. Perguntar se faz o mesmo trajeto todo o dia, se ele tem como provar que tomou café naquele dia na padaria, se vai todo dia tomar. Ex: de construção de Padrão: “a padaria está sempre aberta quando eu chego” – levar em conta que a pessoa pode não estar na memória, mas visitando uma pseudomemória. Fatores capazes de mudar a evocação das memórias: podem influenciar no modo que nossas memórias são armazenadas. Ω Atenção: testemunho ≠ evocação : é uma reprodução voluntária de um fato ( isso não é o que o magistrado tem em mente ou que tenha que colher) ≠ de testemunho (o objetivo aqui é chegar a uma verdade de acontecimentos). Evocação: trata de externar os elementos internos da concepção do sujeito de forma voluntária, é meio de reprodução externa, que não tem a pretensão de ser um recorte fiel da realidade. Fatores: - amnésia emocional: esquecimento involuntário por motivação emocional, por conta do trauma do evento, o organismo reage a esse trauma, bloqueia o acontecimento da memória para a lembrança não trazer o stress. Há, segundo os autores, um esquecimento ativo. o ≠ do esquecimento não motivado ou simples esquecimento - esquecimento não motivado: não é objeto da psicologia em geral, haja vista que está mais atrelado aos distúrbios neurológicos estudados pela medicina ( esclerose, mal de Alzheimer – elas tem uma dificuldade Psicologia Judiciária 27 neurológica/fisiológica e não bloqueio psicológico ocasionadas por motivos traumáticos. É um esquecimento forçado não voluntário. Há correlação entre esquecimento voluntário (amnésia emocional) e involuntário (mal de Alzheimer)? Qual prevalece se a pessoa tem os dois ? Não , não há . Prevalece o esquecimento involuntário (biológico), pois ele nem teria condição de lembrar que tentou esquecer. Psicologia Judiciária 28 PARTE CRIMINAL: 1. PSIQUIATRIA FORENSE Psiquiatria forense é uma subespecialidade da psiquiatria, que lida com a interface entre lei e psiquiatria. Para ser um psiquiatra forense é necessário treinamento específico para ser reconhecido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (no Brasil) ou pela Ordem dos Médicos (em Portugal). Os psiquiatras forenses trabalham com tribunais, onde, a pedido da justiça, avaliam a sua capacidade para atos da vida civil e também de sua capacidade de serem responsabilizados criminalmente (quando não, são chamados "inimputáveis"), baseando-se no estado mental do indivíduo avaliado e determinando recomendações. O espanhol Emilio Mira y López é considerado o pai da psicologia e da psiquiatria forense. A psiquiatria forense atua nos casos em que haja qualquer dúvida sobre a integridade ou a saúde mental dos indivíduos, em qualquer área do Direito, buscando esclarecer à justiça se há ou não a presença de um transtorno ou enfermidade mental e quais as implicações da existência ou não de um diagnóstico psiquiátrico. É uma sub-especialidade tanto da Psiquiatria como da Medicina Legal. Ela é em larga medida desconhecida dos psiquiatras (que geralmente não entendem de leis), e dos juristas (que quase sempre ignoram a Psiquiatria), e ainda hoje é muito pouco estudada com rigor e metodologia científica. 2. IMPORTÂNCIA DA PSIQUIATRIA E DA PSICOLOGIA NAS EXECUÇÕES PENAIS O papel da psiquiatria e da psicologia na execução penal 03 de agosto de 2012, 08:00h�Por Hewdy Lobo Ribeiro e Ana CarolinaSchmidt A psiquiatria forense é uma subespecialidade da psiquiatria atuante na interface psiquiatria e Direito. Sua função é proporcionar o diálogo técnico entre a Medicina e o Direito com a tradução dos significados dos termos de uma das ciências para a outra. Nesta interface faz-se mister que o perito médico tenha conhecimento técnico em psiquiatria, além de ser imprescindível o conhecimento jurídico. Somados estes dois quesitos, o psiquiatra forense deverá fazer as conversões de linguagem médica para que os operadores do Direito possam exercer suas funções legais.1 Psicologia Judiciária 29 A psicologia forense corresponde à área da psicologia que atua com os sistemas da Justiça. No caso da psicologia que trabalha justamente com execução das penas restritivas de liberdade e restritivas de direito nomeia-se Psicologia Penitenciária ou Carcerária. Nesta área do conhecimento e da atuação profissional é papel do psicólogo a realização de estudos sobre condenados, intervenção junto ao recluso, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis em população carcerária, trabalho com agentesde segurança, ações com o stress em agentes de segurança penitenciária, labor com egressos, penas alternativas (penas de prestação deserviço à comunidade), entre outros.2 Execução penal A individualização da pena3 não se encerra quando a sentença é proferida. É necessário também que sejam feitas adaptações durante o cumprimento da pena. Para tanto, o juízo da execução pode contar com diversos mecanismos apresentados na Lei de Execução Penal (LEP), como o exame de personalidade, o exame criminológico e o parecer da Comissão Técnica de Classificação (CTC).4, 5 A LEP, Lei 7.210, promulgada em 1984, prevê a individualização da pena, oferecendo ao sentenciado maiores possibilidades de recuperação e reinserção social.6 Para isso, define a existência da CTC em cada estabelecimento de execução penal.5, 6 A CTC deve ser presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade. (LEP, art. 7o) A CTC tinha como função, segundo a LEP, artigo 6o,elaborar um programa individualizado e acompanhar a execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, devendo propor, à autoridade competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões. Este artigo citado previamente, alterado em 1o de dezembro de 2003, dava à CTC a incumbência de propor as progressões. Para Sá & Alves, a CTC, diferentemente da equipe de perícia, ao dever tomar a iniciativa nos procedimentos de progressão de pena, traria a possibilidade de uma execução de pena realmente dinâmica e humana, em prol da própria paz na população carcerária.4 Com a alteração na LEP citada anteriormente, foi suspendida a avaliação do sentenciado para a progressão de regime realizada pela CTC:6 Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório. Sá & Alves apontam que as modificações trazidas pela Lei 10.792/03 representaram um retrocesso. Segundo os autores, o resultado é que hoje os benefícios prisionais estão lastreados em mero atestado de boa conduta fornecido pelo diretor do presídio. Por outro lado, de nada adiantará modificar novamente a lei se os estabelecimentos prisionais não possuírem CTC com infraestrutura adequada para a elaboração de pareceres interdisciplinares, humanos, de qualidade, e não “mecanizados”, “padronizados”.4 O parecer de CTC deve avaliar o histórico prisional e a conduta do indivíduo Psicologia Judiciária 30 de forma global e justa. Representa uma avaliação das respostas que o preso vem dando às propostas terapêutico-penais que lhe têm sido disponibilizadas. Para tanto, há que se oferecer um programa que dê oportunidade ao preso, minimamente planejada e adequada à sua pessoa, para que nela ele possa se encontrar, conhecer-se melhor, conhecer seus interesses, aptidões e pensar melhor em seu futuro, e que ele seja acompanhado, humanamente observado, e estimulado. Esse trabalho de planejamento de oportunidades adequadas ao perfil dos presos é especificamente a função da CTC.4 A partir do exposto, pode-se observar o importante papel desempenhado pelos médicos e pelos psicólogos na execução penal. O exame criminológico Art. 8o O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução. (LEP, art. 8o) O exame criminológico é caracterizado como perícia e deve ser feito e assinado somente por psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. Por se tratar de perícia, o Manual de Tratamento Penitenciário Integrado para o Sistema Penitenciário Federal coloca que o exame criminológico deve ser realizado, sempre que possível, por profissionais sem envolvimento com o dia-a-dia do preso.7 Devido o envolvimento diário com o presídio e seus programas, uma relação interessada com o cotidiano do cárcere e dos presos, o parecer de CTC não tem as características para ser perícia, e portanto, exame criminológico deve ser feito.4 Este exame visa avaliar as condições pessoais, das funções mentais, corpo, e fatores sócio-familiares do preso; e as circunstâncias que o envolveram; o que, de alguma forma, podem explicar sua conduta criminosa anterior. Esta avaliação possibilita a verificação sobre a adaptação do preso ao cárcere, oferecendo subsídios para a individualização da execução de sua pena. Ou ainda, possibilita uma aferição sobre possíveis desdobramentos futuros de sua conduta, em termos de probabilidade de recidiva e obviamente nunca apresentar certeza. Portanto, outros profissionais designados pelo Ministério da Justiça e Poder Judiciário devem fazer o exame criminológico, ainda que a Portaria 2.065/2007 indique a possibilidade de o exame criminológico ser feito pelos mesmos profissionais da CTC. Deve-se também a motivos teóricos e éticos e das Classes Profissionais de Psicologia, Serviço Social, ser importante que sejam feitos por profissionais especialmente designados para o exame.7 Atualmente o Conselho Federal de Psicologia, de acordo com a Resolução CFP 12/2011, coloca que:8 Art. 4o. Em relação à elaboração de documentos escritos para subsidiar a decisão judicial na execução das penas e das medidas de segurança:�a) A produção de documentos escritos com a finalidade exposta no caput deste artigo não poderá ser realizada pela(o) psicóloga(o) que atua como profissional de referência para o acompanhamento da pessoa em cumprimento da pena ou medida de segurança, em quaisquer modalidades Psicologia Judiciária 31 como atenção psicossocial, atenção à saúde integral, projetos de reintegração social, entre outros;�b) A partir da decisão judicial fundamentada que determina a elaboração do exame criminológico ou outros documentos escritos com a finalidade de instruir processo de execução penal, excetuadas as situações previstas na alínea 'a', caberá à (ao) psicóloga (o) somente realizar a perícia psicológica, a partir dos quesitos elaborados pelo demandante e dentro dos parâmetros técnico-científicos e éticos da profissão. § 1o Na perícia psicológica realizada no contexto da execução penal ficam vedadas a elaboração de prognóstico criminológico de reincidência, a aferição de periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito delinquente. Reforma psiquiátrica�O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em 30 de julho de 2010, dispôs quanto à substituição do modelo manicomial de cumprimento de medida de segurança para o modelo antimanicomial, no que tange à atenção aos pacientes judiciários e à execução da medida de segurança. Essa substituição deve ser implantada e concluída no prazo de 10 anos.9 A partir de então, fica determinado a mudança do modelo assistencial de tratamento e cuidado em saúde mental, que deve acontecer de modo antimanicomial; em serviços substitutivos em meio aberto; buscando a intersetorialidade como forma de abordagem; o acompanhamento psicossocial contínuo, realizado pela equipe interdisciplinar; a individualização da medida; a inserção social; o fortalecimento das habilidades e capacidades do sujeito em responder pelo que faz ou deixa de fazer.9 A adoção do modelo antimanicomial traz funções importantes ao psiquiatra forense e ao psicólogo jurídico, como a elaboração de projeto individualizado de atenção integral; o acompanhamento psicológico do paciente judiciário; perícias criminais nos casos em que houver exame de sanidade mental e cessação de periculosidade; emitir relatórios e pareceres ao juiz competente sobre o acompanhamento do paciente judiciário nas diversas fases processuais; sugerir à autoridade judicial medidas processuais pertinentes, com base em subsídios advindos do acompanhamentoclínico social; prestar ao Juiz competente as informações clínico sociais necessárias à garantia dos direitos do paciente judiciário.9�A psicologia e a psiquiatria forense são áreas do conhecimento em saúde com estudo em interface com as Ciências Jurídicas que auxiliam as tomadas de decisões da Justiça. Possuem importante participação na matéria das execuções penais, como na elaboração de programa individualizador da pena, exame criminológico e abordagens antimanicomiais. Referências �1. Palomba GA. Tratado de psiquiatria forense civil e penal. São Paulo, Atheneu, 2003.�2. FRANCA, Fátima. Reflexões sobre psicologia jurídica e seu panorama no Brasil.Psicol. teor. prat., São Paulo, v. 6, n. 1, jun. 2004.�3. (art. 5o, XLVI, da CF)�4. SÁ, Alvino Augusto de. ALVES, Jamil Chaim. Dos pareceres da comissão técnica de classificação na individualização executória da pena: uma revisão interdisciplinar.Boletim IBCCRIM: São Paulo, ano 17, n. 201, p. 7-9, ago. 2009.�5. Brasil. Lei de Execução Penal. LEI No 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.�6. Serafim AP & Saffi F. Psicologia e práticas forenses. Manole. 2012.�7. Ministério Da Justiça. Psicologia Judiciária 32 Departamento Penitenciário Nacional. Diretoria Do Sistema Penitenciário Federal. Projeto Bra 05/038. Modernização Do Sistema Penitenciário Nacional. Manual De Tratamento Penitenciário Integrado Para O Sistema Penitenciário Federal: Gestão Compartilhada E Individualização Da Pena. Brasilia 2011.�8. Resolução CFP 012/2011. Regulamenta a atuação da(o) psicóloga(o) no âmbito do sistema prisional.�9. Conselho Nacional De Política Criminal E Penitenciária. Resolução No- 4, de 30 de julho de 2010. Atenção aos Pacientes Judiciários. Hewdy Lobo Ribeiro é psiquiatra forense, médico psiquiatra no Programa de Saúde Mental da Mulher – ProMulher no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo, conselheiro no Conselho Penitenciário do Estado de São Paulo, secretário do Comitê Multidisciplinar de Psiquiatria Forense da Associação Paulista de Medicina e diretor da Vida Mental Serviços Médicos de Psiquiatria Forense. Ana Carolina Schmidt é psicóloga especialista em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo, atua na área de psicologia jurídica na Vida Mental Serviços Médicos de Psiquiatria Forense. 3. Revista Consultor Jurídico, 03 de agosto de 2012, 08:00h 4. PROGNOSE CRIMINAL s.f. Suposição que, baseada em eventos atuais, traça uma previsão sobre o que deverá acontecer; conjectura ou prognóstico. (Etm. do grego: prógnósis.eós) COMPLEMENTO DE CRIMINOLOGIA DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL DE SÃO PAULO 9. SISTEMA DA CRIMINOLOGIA Nos ensinamentos do emérito jurista, Pablos de Molina, o denominado sistema da criminologia é caracte- rizado por duas amplas concepções: a primeira proposta pela escola austríaca (concepção enciclopédica) enquanto a segunda, designada concepção estrita, segrega do estudo criminológico disciplinas fundamentais como a vitimologia, a criminalística e a penologia, razão pela qual concentraremos nosso estudo na primeira concepção. De acordo com a concepção enciclopédica, as disci- plinas interligadas com o sistema da criminologia estu- Psicologia Judiciária 33 dam a realidade criminal, o processo e a repressão e prevenção do delito. Vejamos: 9.1. disciplinas relacionadas com a Realidade Criminal: fenomenologia, etiologia, prognose, biologia criminal, psicologia criminal, antropologia, geografia criminal e ecologia criminal. 9.2. disciplinas relacionadas com o Processo: criminalística. 9.3. disciplinas relacionadas com a Repressão e Pre- venção do delito: penologia e profilaxia. 10. CLASSIFICAÇÃO DOS DELINQUENTES Hilário Veiga de Carvalho após classificar mais de sessenta e sete espécies de delinquentes sem exaurir o tema, propôs sua própria classificação baseada na maior ou menor presença de fatores biológicos ou mesológicos na conduta delitiva. São eles: I. Biocriminosos Puros: Considerado um pseudo ou falso criminoso dada sua inimputabilidade. São indivíduos que sofrem ape- nas interferência de fatores biológicos quando da práti- ca delitiva. Grupo representado pelos loucos de todos os gêneros, psicóticos e psicopatas. II. Biocriminosos Preponderantes: Aqueles que praticam por influência prepominan- temente biológica, entretanto, sofrem ligeira interferên- cia de cunho biológico em sua conduta. Ostentam alta probabilidade de reincidência. III. Biomesocriminosos: São aqueles com pouca probabilidade de reincidência, os quais sofrem influência biológica e social não sendo pos- sível identificar qual fator predominou na ocorrência do crime. IV. Mesocriminosos Preponderantes: São aqueles que sofrem influência predominante- mente social, oriundas do ambiente em que vivem, cuja chance de reincidência é pouco provável. V. Mesocriminosos Puros: Igualmente considerado pseudo ou falso criminoso, sofrem interferência exclusivamente social em sua con- duta delitiva, tornando-o inimputável. 12. ESCOLAS SOCIOLÓGICAS TEORIAS CONSENSUAIS E CONFLITIVAS 12.1. Teoria da Anomia Grande parte da criminalidade que uma sociedade padece tem raízes em conflitos sociais face às situa- ções de carências, desigualdade econômica e intelec- tual além de outros conflitos não resolvidos, fatos estes evidenciados na perspectiva da teoria da Anomia de Emile Durkheim e Robert Merton. Para Durkheim o crime é a manifestação de um desregulamento social fruto da estimulação de dese- jos, decorrentes da modernização. Observando o con- texto social do Brasil o modo de vida advindo dessa es- trutura nos faz concluir que temos que buscar suporte principalmente na teoria da Anomia, para justificarmos o aumento da criminalidade buscando soluções de cará- ter social que possam amenizar o problema. Desta forma a teoria da anomia estaria vinculada a filoso- fia do “Sonho Americano”, proposta por Robert Merton em 1938, a qual propõe a igualdade real de oportunidades entre os cidadãos visando construir uma “sociedade do bem-es- tar”, propondo modos de adaptação individual baseada na conformidade, inovação, ritualismo, Psicologia Judiciária 34 retraimento e rebelião. 12.2. Escola de Chicago 12.2.2. Teoria Espacial (1950): Ainda atrelada a escola de Chicago à teoria norte-ame- ricana das “Janelas Quebradas” propõe a repressão dos menores delitos para inibir os mais graves, fazendo surgir a política da tolerância zero implementada pelo ex- prefeito nova-iorquino Rudolph Giuliani, naquela cidade. Baseada em decisões desprovidas de discricio- nariedade por parte das autoridades policiais as quais agem segundo padrões pré-determinados no que se refere à atribuição de punições - independentemente da culpa individual do infrator ou situação peculiar que se encontre – a lei da tolerância zero é extremamente in- transigente com delitos menores, como por exemplo, não pagar o transporte público , penduras em botecos, pequenos furtos , pichações etc. acarretando, eventual- mente, a prisão das classes menos favorecidas. Seu objetivo é promover a redução dos índices de criminalidade e evitar que um determinado local se tor- ne uma zona de concentração da criminalidade hot spot. 12.3. Teoria da Associação Diferencial De acordo com Edwin Sutherland os indivíduos de- terminam seus comportamentos a partir de suas expe- riências pessoais. Com relação às situações de confli- to, reagem por meio de interações pessoais ancoradas no processo de comunicação. Desta aprendizagem, determinam-se os comportamentos favoráveis e desfa- voráveis ao crime. Central de Concursos complemento_criminologial_delegado.pmd 1 12/7/2011, 10:05 2 - Criminologia Nesse sentido, tanto os contatos pessoais como o con- tato com métodos e técnicas criminosas, são formas de aprendizado que motivam e legitimam o comportamento delituoso criando a famigerada “Teoria da Aprendizagem Social”, conclusãoesta abstraída da delinquência juvenil típica dos bairros menos favorecidos (periferias) onde os menores infratores – sem qualquer parâmetro de êxito pro- fissional fora da criminalidade – acabam por se associar a grupos delinquentes, onde aprenderão e imitarão técnicas criminosas legitimando o comportamento criminoso. Escolas Sociológicas 1) TEORIASdeCONSENSO • Escola de Chicago - è teoria ecológica - è teoria espacial • Teoria da Associação Diferencial • Teoria da Subcultura Delinquencial • Teoria da Anomia 2) TEORIASdeCONFLITO • Teoria do Etiquetamento • Teoria Crítica 13. VITIMOLOGIA 13.3. Vitimização Consiste no ato ou efeito de alguém tornar-se vítima de sua própria conduta (auto lesão, suicídio), da condu- ta de terceiros (crimes diversos) ou mesmo de fato da natureza (acidentes, catástrofes). Psicologia Judiciária 35 13.3.1. vitimização primária: são os efeitos naturais do crime, sua consequência. Exemplo: subtração do objeto. 13.3.5 vitimização indireta: consiste na autoculpabi- lização da vítima pelo crime, atribuindo a si a responsa- bilidade do delito como nos casos de não assegurar seu veículo e este ser furtado, ter sua residência incendiada por ter esquecimento de vela acesa etc... 14. PROGNOSE CRIMINAL Etimologicamente prognóstico consiste em um pa- recer médico acerca do seguimento e desfecho de uma doença. Em se tratando de prognóstico criminológico, podemos afirmar ser a estimativa da probabilidade do indivíduo delinquir a qual será constatada através de exame criminológico previsto nos artigos 5o e 6o da Lei de Execução Penal – Lei n. 7.210/84. 15. PREVENÇÃO DO DELITO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 15.2. Técnicas de Prevenção Situacional Consiste a prevenção situacional, modalidade pre- ventiva que cuida da diminuição das oportunidades que influenciam a vontade delitiva dificultando a prática do crime cujas principais técnicas são classificadas em: 15.3. Programas de Prevenção do Delito 15.3.2. Programas de Prevenção Axiológico É o que ocorre na delinquência juvenil nos bairros menos favorecidos, onde os menores infratores – sem qualquer parâmetro de êxito profissional fora da criminalidade – acabam por associar-se a grupos delinquentes, onde aprenderão técnicas criminosas as quais imitarão, legitimando o comportamento criminoso. 15.3.3. Programas de prevenção por inspiração Políti- co-Social Em síntese, são programas autenticamente etiológicos, isto é, voltados para a prevenção primária do delito cuja orientação atua na essência do problema criminal onde o fato típico ou infração penal é um mero sintoma. Sob o prisma da prevenção político-social, busca-se assegurar a todos os membros de uma sociedade o acesso digno aos direitos sociais e fundamentais como a saúde, o lazer, a educação, a moradia etc. com máxima efetividade na prestação com o fito de reduzir, consideravelmente, as ta- xas de criminalidade decorrentes da satisfação pessoal e sensação de respeito público trazidos à sociedade. 17. CRIMINOLOGIA NA AMÉRICA LATINA O nascimento da Criminologia na América Latina co- meça com a tradução do positivismo como uma impor- tação cultural que vai configurar racionalidades, progra- mas e tecnologias. Raúl Zaffaroni em curso de mestrado no Rio de Ja- neiro reforçava o pensamento lombrosiano por meio da disseminação das ideias de Nina Rodrigues. Rosa Del Olmo fez a primeira tentativa de reconstru- ção histórica da criminologia latino-americana trabalhan- do os encontros internacionais, as publicações e as cáte- dras como fontes, associando os processos econômi- cos e culturais ao processo de mundialização do capita- lismo, da divisão internacional do trabalho à entrada do positivismo e do correcionalismo na América Latina, ques- tões estas debatidas no Congresso Internacional de Criminologia sediado no Rio de Janeiro no século XXI. Externando o nobre ensinamento de Lélio Calhau, nome de significativa relevância em matéria de criminologia na América Latina é, sem dúvida, o do ar- gentino José Ingenieros representante da Escola Posi- tiva da Criminologia no início do século passado. Ingenieros apontava fatores psiquiátricos como prin- cipal causa da conduta delitiva, propondo classificações psicopatológicas onde o temperamento criminal era considerado uma síndrome psicológica cuja degenera- ção poderia ser adquirida por influência social. Sintetiza concluindo que, seja social ou congênita, a degenera- ção é sempre em última instância biológica. Psicologia Judiciária 36 Pioneiro da Criminologia Clínica na América Latina com sua obra Criminologia publicada em 1907 -primeira do seguimento no continente - Ingenieros fundou no mesmo ano o Instituto de Criminologia da Penitenciária Nacional de Buenos Aires, dividido em três departamentos: Etiologia Criminal, Clínica Criminológica e Terapêutica Criminal. Central de Concursos complemento_criminologial_delegado.pmd 2 12/7/2011, 10:05 Criminologia - 3 Com a obra A Vaidade Criminal & A Piedade Homi- cida atentou para o espírito de imitação (mimetismo) - típico nos delitos de repercussão - quando, por vaida- de ou sentimento similar, uma conduta criminosa é repetida formando lendas no meio criminal chaman- do-lhe atenção a personalidade de certos agentes que não se contentam em praticar apenas o delito, neces- sitando obter lucro ilícito com sua conduta como ocor- re, geralmente, na prática de delitos sem violência como no estelionato. Assevera que por vaidade e deformação de caráter sentem uma necessidade incontrolável de se exibirem para a sociedade, comprando carros importados caros, roupas de grifes não acessíveis ao trabalhador comum, gerando mais sentimento de impunidade no meio social. Já no estudo da Piedade Homicida fala sobre a euta- násia, consentimento da vítima nos tempos de guerra, do direito à morte e da discordância entre o moral e o legal no homicídio-suicídio com fins piedosos e altruístas. José Ingenieros médico, sociólogo e psiquiatra. Nas- ceu em Palermo, Itália em 1877 e faleceu em 1925 em Buenos Aires. Publicou diversos trabalhos no campo da psiquiatria e da criminologia. Foi um dos maiores inte- lectuais da Argentina e América Latina, tendo defendido as posições dos positivistas à época. 18. CRIMINOLOGIA E O PAPEL DA POLÍCIA JUDICIÁRIA Compete às polícias civis dos Estados da federa- ção, segundo a norma constitucional do artigo 144, pa- rágrafo quarto, a atribuição de polícia judiciária através da apuração de infrações penais, as quais implicam investigação. Nesses termos, dentre as funções relati- vas ao inquérito policial - procedimento administrativo imprescindível da primeira fase da persecução criminal – está a investigação de boa qualidade, isto é, realizada de forma minuciosa, com maior riqueza de detalhes de modo a circunstanciar a contribuição ou participação da vítima na dinâmica dos fatos, inclusive, por figurar aludi- do instrumento persecutório como a espinha dorsal da atividade jurisdicional em sede de ação penal. Investigar, por muitas vezes, envolve capacidade sub- jetiva, iniciativa, tirocínio e perspicácia; qualidades explo- radas individualmente no agente estatal que influenciam no adequado desenvolvimento da persecução penal. Desta forma, o perfil do investigador (delegados e demais agentes) envolve a formação de um corpo de profissionais hábeis em manusear o fenômeno crimi- nal, suas particularidades no tocante à materialidade ou a apresentação de autoria delitiva. Daí, portanto, a exis- tência dos necessários conhecimentos de criminalística, sexologia forense, vitimologia, sociologia, antropologia dentre outras ciências e disciplinas presentes no estu- do criminológico. Ademais, no tocante às delegacias especializadas assim como em alguns departamentos específicos da instituição policial civil, faz-se necessário a existência de um contingente de homens treinados e preparados para o desempenho de talmister, uma polícia dotada de notório conhecimento acerca da visualização do local de crime, do perfil de criminosos e das possibilidades múl- tiplas de circunstâncias apuráveis no decorrer da ativi- dade diante do fenômeno criminal. A polícia tem como característica exclusiva o uso da força física, entretanto, nem sempre nos valemos da mes- ma para regular relações interpessoais na comunidade. Como bem explica o professor Fernando Antonio da Silva Alves, destaca-se dentre as atribuições conferidas pelo Psicologia Judiciária 37 Estado à polícia, o papel de investigação proativa e reativa. “A primeira consiste na iniciativa de investigação desenvolvida pela própria polícia, enquanto que a última corresponde ao início da investigação, por iniciativa do público em geral. Enquanto que determinadas ativida- des demandam uma iniciativa proativa, como o controle de organizações criminosas, o monitoramento por interceptação telefônica ou infiltração, outras atividades podem ser facilmente produzidas pelo próprio cidadão interessado ou pela vítima, que recorrem à polícia quan- do eles próprios já desenvolveram práticas de investiga- ção que visaram elucidar a autoria de delitos”. Desta forma, além de desenvolver suas funções precípuas e geral, compete incutir na ideologia policial conceitos básicos de criminologia para melhor compre- ensão do fenômeno delitivo – desprovida do rigor re- pressivo imposto pelo direito penal – sem prejuízo para a vítima e, quiça para o Estado. No mesmo diapasão, há de iniciarmos a cultura da prevenção delitiva como medida de conscientização a longo prazo em busca reeducação social e penal. 19. CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL Como disciplina auxiliar das ciências criminais, a política criminal confere um conteúdo político aos dados oferecidos pela Criminologia orientando o legislador na construção dos tipos penais. A nosso ver consiste no conjunto sistemático de princí- pios e estratégias utilizados pelo Estado na luta contra o delito cuja finalidade é abastecer o Direito Penal por meio de ações individualizadoras, sugerindo reformas no Códi- go Penal em prol da redução da prática de crimes. Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli definem a política criminal como a “ciência ou a arte de selecionar os bens (ou direitos) que devem ser tutela- dos jurídica e penalmente e escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que iniludivelmente implica a crítica dos valores e caminhos já eleitos”, em síntese, conclu- em ser a política criminal “a arte ou a ciência de governo com respeito ao fenômeno criminal.” Pioneiro nos trabalhos de política criminal, Franz von Liszt, citado por Claus Roxin afirma na obra Princípios de Política Criminal, publicada em1889, que a política cri- minal assinala métodos racionais em sentido social glo- bal no combate à criminalidade, isto é, que a política criminal é significativa tarefa social do Direito Penal. A Política Criminal se tornou uma disciplina independen- te que implica uma pesquisa principalmente jurídica não se limitando, unicamente, ao Direito Penal seu estudo. Central de Concursos complemento_criminologial_delegado.pmd 3 12/7/2011, 10:05 4 - Criminologia Jorge de Figueiredo Dias acentua que a Política Cri- minal - baseada nos conhecimentos da realidade crimi- nal naturalística e empírica oriundos da Criminologia - tem o objetivo de dirigir ao legislador recomendações e propor-lhe diretivas em tema de reforma penal. Para o autor, o objeto da política criminal não é constituído ape- nas pela infração penal, mas, por todos os fenômenos patológicos e sociais substancialmente aparentados com aquela. Concluindo, assinala que a política criminal tem competência para definir os limites da punibilidade. Sendo o Estado principal responsável na aplicação da política criminal, oportuno os ensinamentos de Fernando Galvão ao asseverar que uma das preocupa- ções da política criminal é dirigir o legislador à indaga- ção sobre o que fazer com as pessoas que violam as regras de convivência social, uma vez que, no combate à criminalidade a política criminal representa sempre uma investigação inacabada sobre como realizar tal comba- te, propondo recomendações que orientem as ações da justiça criminal no momento da elaboração legislativa ou na aplicação e execução das normas. Finalmente, com propriedade, João Mestieri obser- va a importância da política criminal como a ciência que estuda a forma segundo a qual o Estado deve orientar o sistema de prevenção e repressão das infrações pe- nais fomentando a consciência crítica do Direito Penal vigente, indicando os caminhos que o legislador deve percorrer para o aprimoramento deste ramo do Direito. Psicologia Judiciária 38 Processualmente podemos citar o sursis, o livramen- to condicional, a inimputabilidade do menor de 18 anos, os benefícios despenalizadores da Lei n.o 9.099/95 como ações praticadas a título de política criminal. Politica- mente, ressaltamos a importância na melhoria das con- dições de infraestrutura de certa localidade, a ilumina- ção pública, o saneamento básico, a educação etc.. Assim, concluímos que enquanto a criminologia es- tuda o homem delinquente com o fito de identificar os fatores criminógenos para então propor medidas erradicadoras, a política criminal traz medidas solucionadoras, sugerindo reforma das normas e me- lhor eficácia do aparato estatal capaz de diminuir os índi- ces de criminalidade. A prognose póstuma objetiva como elemento balizador do aumento do risco na imputação objetiva » Marco Túlio Rios Carvalho Notas introdutórias: prognose póstuma objetiva, o contexto inserido A teoria da imputação objetiva, sob a dicção de Claus Roxin, construiu suas bases doutrinárias em alicerces de caráter teleológico-funcional, isto é, com o intuito de funcionalização de seus aparatos de aferição de atribuição do resultado ao comportamento deflagrado. Para tanto, foram instituídos três segmentos a orientar o processo analítico de verificação da imputação, quais sejam, a criação de um risco juridicamente relevante e proibido e sua realização específica no resultado, bem como sob o alcance do tipo penal. Com o desiderato de trazer maior concretude à aplicação da imputação objetiva, houve o desdobramento destes três segmentos, sendo que no âmbito da criação do risco relevante e proibido, surgiram outros três mecanismos que enquadram-se como pressuposto de imputação ou de exclusão objetiva, sendo o aumento do risco como requisito e o risco permitido e a diminuição do risco como elementos de exclusão da incidência de imputação. Inserido no cerne do aumento do risco, Roxin introduziu dispositivo utilizado pelo intérprete para a aferição da ocorrência de um incremento do perigo, denominado prognose póstuma objetiva, objeto de nossas elucubrações. A prognose póstuma como dispositivo de aferição da imputação objetiva A prognose póstuma objetiva decorre da formulação da teoria da adequação, que após anos de desenvolvimento e aprimoramento teórico, passou a entender que “[...] se considera adequada uma condição, quando ela eleva a possibilidade de produção do resultado de maneira não irrelevante, quando não é simplesmente improvável que o comportamento traga consigo um tal resultado” (ROXIN, 2002, p.303). Psicologia Judiciária 39 No entanto, a teoria da adequação, reputada como teoria de imputação e não como uma teoria da causalidade, não vingou em decorrência da restrição quanto à sua aplicabilidade, bem como em razão do excesso de abstração da teoria, que se resolvia, tão somente por via da verificação da adequação, o que resultou na sua insuficiência autônoma, vindo a ser incorporada pela teoria da imputação objetiva, reduzindo-se a elemento estrutural desta. Destarte, a prognose póstuma objetiva, inserida no contexto do aumento do risco, avalia se a conduta provocada pelo agente realmente criouum risco juridicamente relevante a ponto de cogitar a possibilidade de poder atribuir o resultado a este comportamento apriorístico. Acerca deste critério de avaliação do incremento do risco, Luís Greco segmenta o conceito de prognose póstuma objetiva, o que facilita o entendimento sobre o instituto “Prognose, porque é um juízo formulado de uma perspectiva ex ante, levando-se em conta apenas dados conhecidos no momento da prática da ação; Objetiva, porque a prognose parte dos dados conhecidos por um observador objetivo, por um homem prudente, cuidadoso – e não apenas por um homem médio – pertencente ao círculo social em que se encontra o autor. Póstuma, porque, apesar de tomar em consideração apenas os fatos conhecidos pelo homem prudente no momento da prática da ação, a prognose não deixa de ser realizada pelo juiz, ou seja, depois da prática do fato” (GRECO, 2007, p.25-26) Com isso, o dispositivo de avaliação da imputação abarcado por Roxin visa considerar o indivíduo antes da prática da conduta criadora de um risco, juntamente com os conhecimentos exigíveis de um homem prudente do seu meio social, que visa a conservação dos bens jurídicos, bem como os conhecimentos especiais, de índole eminentemente subjetiva – contrastando com a predominância da estrutura da imputação objetiva composta por elementos objetivos – que é tudo aquilo que o agente sabe sobre as circunstâncias fáticas, independente de seu dever como homem prudente integrante do corpo social. Assim, este critério não se restringe ao papel social do indivíduo, como o faz Jakobs na sistematização de sua teoria de imputação objetiva, que incita a stardandização na avaliação do comportamento, e não o que realmente o agente conhece, mas o que um indivíduo na sua posição de portador de seu papel deveria conhecer. A adição dos conhecimentos especiais carreia para a prognose póstuma objetiva característica peculiar que a redefine como juízo crítico em contato direto com a realidade dos fatos, e por conseguinte, atenua a abstração antes vislumbrada. Interessante ressaltar como Guilherme Guimarães Feliciano explica a respeito da prognose, em que “[...] o juiz deve apreciar os eventos causais com objetividade e perspectiva apriorística (juízo ex ante), como se fora observador apto a examinar os fatos antes do evento causal[...]” (FELICIANO, 2005, p.71). Desta forma, o magistrado apreciará face ao caso concreto, extrinsecamente, se houve ou não um incremento relevante do risco perpetrado, como observador situado na posição que se encontra o agente que virá a produzir o risco, e, reiterando o exposto acima, aditado ao âmbito cognitivo próprio os conhecimentos do homem prudente, como também os conhecimentos especiais, que o agente produtor do risco Psicologia Judiciária 40 tinha ciência. Para melhor entender, trazemos à baila exemplo em que um médico, tio do paciente aplica uma dose de determinada substância neste, que, em razão de reação alérgica ao que fora injetado vem a falecer, não tendo sido possível detectar a alergia por meio de todos os exames que eram necessários e foram oportunamente realizados pelo médico. Neste caso, aplicando a prognose póstuma objetiva, considerando os dados conhecidos anteriormente ao ato de injetar, conforme o homem prudente, isto é, um médico diligente com seus pacientes, não haveria o incremento do risco, elidindo a imputação do resultado ao médico. No entanto, utilizando o mesmo exemplo, se o médico tinha conhecimentos especiais, por ser tio do paciente, isto é, ter ciência desta alergia que um médico qualquer não teria acesso, mas apenas soube na qualidade de familiar, haverá a atribuição das conseqüências da provocação deste risco relevante e proibido ao médico. Nesta perspectiva, a aplicação da prognose póstuma objetiva afigura-se facilmente utilizável na prática jurisdicional penal. No entanto, ainda aparece acanhado seu emprego no âmbito jurisprudencial, não obstante existir pontuais decisões que já usaram deste dispositivo, como o trecho de acórdão abaixo mencionado “A aferição da criação de um risco juridicamente desaprovado se desenvolve em dois planos: a geração do risco baseado no critério da prognose póstuma objetiva e a sua desaprovação jurídica, com fulcro em normas jurídicas e extrajurídicas de cautela.” (Apelação Criminal nº 1.0405.07.001467-6/001 da 5ª Câmara Criminal TJMG. Relator: Alexandre Victor de Carvalho. Data do Julgamento: 25.11.08. Unânime. Data da Publicação: 09.12.08) Neste diapasão, apesar da incipiência da aplicação da prognose póstuma objetiva como critério de aferição do aumento do risco nos pretórios tupiniquins, apresenta grande potencial, em decorrência de sua consonância com a equidade ansiada pela sociedade. Considerações Finais Conforme explanado acima, a prognose póstuma objetiva de resume a um juízo de apreciação do aumento do risco, em que o magistrado no transcurso do processo, isto é, ulteriormente à ocorrência do fato, coloca-se, hipoteticamente, como um observador na cena do ato, em momento anterior à sua prática, considerando os conhecimentos de uma pessoa prudente do círculo social do agente. Somado a isso, acrescente-se os conhecimentos especiais deste naquela ocasião. Pronto, esta é a fórmula de análise da prognose póstuma objetiva. Entrevê-se que a verificação do aumento do risco proibido necessita das balizas instituídas pela prognose póstuma objetiva, sobretudo por assentar conceitos abstratos em um procedimento analítico, que desemboca em convergência concreta à pragmática judicial, sem se perder em divagações infrutíferas. Neste ponto, cabe ressaltar que o critério de prognose, embora pouco conhecido pela doutrina e jurisprudência pátrias, exsurge conjuntamente com toda a estrutura da teoria da imputação objetiva como arcabouço plenamente tangível e aplicável, prescindindo de lege ferenda para fazer valer suas disposições doutrinárias, bastando tão somente à compreensão e propagação de sua órbita Psicologia Judiciária 41 sistêmica. Referências Bibliográficas FELICIANO, Guilherme Guimarães. Teoria da Imputação Objetiva no Direito Penal Ambiental Brasileiro. São Paulo: LTr, 2005. GRECO, Luiz. Um panorama da teoria da imputação objetiva. Rio de Janeiro: Lúmen Iuris, 2007. JAKOBS, Günther. A imputação objetiva no Direito Penal, tradução de André Luís Callegari, São Paulo: RT, 2000. ROXIN, Claus. Funcionalismo e Imputação Objetiva no Direito Penal – Tradução e Introdução de Luiz Greco. São Paulo: Renovar, 2002.