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1 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S 2 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S 3 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Capa e Contra-capa: Anna Vasconcelos Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino Revisão Ortográfica: Dayane Costa PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S 6 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora: Ingrid Van Der Linden 7 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Esta unidade tratará brevemente da relação entre a psico- logia e o direito, trazendo, em um primeiro momento, as diferencia- ções terminológicas entre os diferentes campos da psicologia jurídica. Será tratado aquilo que se conhece como funções mentais superiores, que se trata de uma forma de programação realizada pelos indivíduos em que apresentam imagens mentais tanto em si mesmos quanto do mundo a sua volta, interpretando os estímulos que recebem e isso influencia seus comportamentos. Será abordado sobre o processo de investigação criminal, a importância da psicologia criminal na investi- gação criminal trazendo algumas ferramentas práticas, bem como a técnica do criminal profiling, além da relação entre psicologia jurídica e a criminologia abordando sobre o exame criminológico sob o enfo- que da criminologia, a criminologia midiática e a perícia psicológica forense. A psicologia jurídica aplicada ao cárcere tratando do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário e dos desafios do Servi- ço de Psicologia Aplicado. Sem a pretensão de esgotar o tema, a uni- dade utiliza-se do método hipotético-dedutivo, cuja hipótese baseia-se na utilização da psicologia jurídica para fins de investigação criminal. Diante deste cenário, apresenta-se ao leitor teorias e técnicas utili- zadas por psicólogos jurídicos demonstrando a realidade vivida por estes profissionais. Psicologia Jurídica. Investigação Criminal. Criminologia Midiática. 9 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 PSICOLOGIA E DIREITO Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 12 36 13 Introdução ____________________________________________________ A Importância da Psicologia Criminal na Investigação Policial ___ Determinação Terminológica: Psicologia Judicial x Psicologia Cri- minal x Psicologia Forense x Psicologia Carcerária x Psicologia Mi- litar x Psicologia Criminológica __________________________________ CAPÍTULO 02 PSICOLOGIA JURÍDICA E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL O Processo de Investigação Criminal ____________________________ 32 27Recapitulando ________________________________________________ 16As Funções Mentais Superiores - Síndrome de Pirandello ________ 44Criminal Profiling: Perfis Criminais e Comportamentais _________ Recapitulando _________________________________________________ 50 CAPÍTULO 03 PSICOLOGIA JURÍDICA E A CRIMINOLOGIA A Relação entre a Psicologia e a Criminologia __________________ 54 Criminologia Midiática _________________________________________ 57 10 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Criminologia e o Exame Criminológico ___________________________ Teste de Personalidade _________________________________________ Glossário ________________________________________________________ 59 68 79 Perícia Psicológica Forense _____________________________________ Recapitulando __________________________________________________ 62 70 A Psicologia Jurídica aplicada ao Cárcere _________________________ Fechando a Unidade ____________________________________________ Referências _____________________________________________________ 64 75 81 11 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S O direito é encarregado por tutelar a conduta humana, mas, evi- dentemente, a norma jurídica não consegue sozinha coibir comportamen- tos indesejáveis, por isso ela se vale da aliança com as ciências humanas e de saúde para compreender a complexidade do comportamento humano. Esta é uma relação que vem de longas datas entre as ciências, que vem sendo realizada pelos estudiosos ao longo dos séculos, desde a época em que o crime eraem que o suspeito fora incriminado pelo assassinato de quarenta e dois meninos no Maranhão e no Pará durante o período de 10 anos, entre 1993 a 2003. O Brasil foi representado perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos em virtude do descaso na investigação dos homicí- dios e estupros de crianças e adolescentes no Estado do Maranhão e Altamira-PA. Em dezembro de 2005, o Brasil e as ONGs Centro de De- fesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Padre Marcos Passerini e o Centro de Justiça Global assinaram um acordo amistoso e o Estado brasileiro reconheceu a responsabilidade internacional perante o caso, 38 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S firmando compromisso quanto ao julgamento e punição ao responsável pelos crimes de homicídio, estupro e emasculações dos menores nas quatro cidades onde os crimes ocorreram. Neste caso, o “Maníaco do Maranhão” foi condenado com a idade de quarenta e cinco anos, no julgamento encerrado no dia 27 de agosto de 2009, a trinta e seis anos e seis meses de prisão. Preso há mais de 20 anos, Francisco de Assis Pereira matou seis mulheres e violentou nove ficando conhecido como “Maníaco do Parque”. Condenado a mais de 280 anos de prisão, Francisco atacava as vítimas de idade entre 17 e 27 anos no Parque do Estado na Zona Sul da Capital paulista. Um crime que impressionou todo o país foi o homicídio co- metido pela filha juntamente com o namorado, Daniel Cravinhos, e o cunhado, Cristian Cravinhos, contra seus pais, o casal Manfred Albert von Richthofen e sua esposa Marísia von Richthofen. O casal estava dormindo quando foram golpeados pelos ir- mãos com barras de ferro. Marísia resistiu e foi sufocada com uma toa- lha. O revólver de Manfred foi colocado ao lado de seu corpo. Durante a execução, Suzane ficou no andar debaixo, na biblioteca e espalhou papéis para simular um assalto. Com a ajuda dos Cravinhos, arrombou a mala do pai e furtou todo dinheiro que estava nela. Após deixarem Cristian perto de casa, o casal seguiu para um motel para forjar um álibi. Diante dos casos narrados acima, é possível observar a necessi- dade de conhecimento técnico específico para enfretamento desses per- fis criminosos. Para tanto, faz-se necessário o treinamento das equipes para que possam conduzir a investigação de maneira eficiente que pos- sibilitem aos profissionais traçar o perfil comportamental do delinquente. É preciso que o investigador de polícia tenha o conhecimento da legislação penal, bem como as técnicas da psicologia criminal para que possa identificar os motivos que levam o sujeito ao cometimento do cri- me, o modus operandi, e que possa percorrer o iter criminis, auxiliando na identificação da autoria, materialidade e circunstâncias do cometimento do crime, colhendo provas para que haja a denúncia pelo Parquet. É inevitável o conhecimento de determinados conceitos dos Direitos Administrativo, Constitucional, Penal e Processual para que se compreenda a atuação da Polícia Investigativa abrangendo toda a fase pré e pós-processual. Conforme orienta Di Pietro, o poder de polícia é "[a] atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público". Em relação à Instituição Policial, Diocleciano Guimarães con- ceitua como: “órgãos do Poder Público incumbidos de garantir, manter, 39 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S restaurar a ordem e a segurança públicas; zelar pela tranquilidade dos cidadãos; pela proteção dos bens públicos e particulares; prevenir con- travenções e violações da lei penal, bem como auxiliar a Justiça”. A Constituição da República dispõe no art. 144 que “a segu- rança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos”: Polícia Fede- ral; Polícia Rodoviária Federal; Polícia Ferroviária Federal; Polícias Ci- vis; Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares e Polícias penais federal, estaduais e distrital. Cabe à Polícia Federal, dentre outras funções, apurar infrações penais “cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei", e, "exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União". É importante ressaltar a diferença entre a polícia judiciária e a investigação criminal. Enquanto a primeira trata do cumprimento de de- terminações judiciais nas fases pré-processual e processual, a segunda tem por fim a apuração da responsabilidade penal do crime, na busca da autoria e materialidade para que possa propiciar fundamentação para ação penal, posteriormente, oferecida pelo Ministério Público. Caso o Parquet entenda que possui elementos suficientes para apresentação da denúncia, pode dispensar a instauração do inquérito (inclusive esta é uma das características do inquérito policial, a dispensabilidade). Na esfera federal, a Polícia Federal desempenha as investiga- ções conforme suas atribuições, e os elementos colhidos na apuração pela equipe policial serão encaminhados ao Ministério Público Federal. Da mesma forma, na esfera estadual, a Polícia Civil, exercendo a ativi- dade de Polícia Judiciária e investigando infrações penais, será também lavrado inquérito policial e encaminhado ao Ministério Público Estadual. Assim que acontece um crime e a polícia tem conhecimento, algumas medidas precisam ser tomadas, conforme se compreende do art. 6º do Código de Processo Penal. A equipe policial se deslocará até o local providenciando para que o estado de conservação das coisas não seja alterado até que chegue a equipe de peritos criminais. É preci- so que haja a localização e a identificação dos criminosos, bem como a identificação de testemunhas e vítimas. Há também a apreensão de objetos que tiverem relação com o fato, realização de vigilância do local, reconhecimento de pessoas e coisas e acareações, e utilização de demais técnicas policiais que serão detalhadas a seguir. A investigação policial é um procedimento policial administrati- vo composto por um conjunto de procedimentos sistematizados, de na- 40 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S tureza interdisciplinar, que busca elementos de convicção que auxiliem na produção de provas da infração penal, buscando identificar autoria, a materialidade e as circunstâncias em que ocorreu. O resultado da investigação policial será enviado ao Poder Judiciário para que sejam realizados os procedimentos legais. A ciência da ocorrência de uma infração penal pela autoridade policial pode se dar de duas formas: a primeira, de forma direta, quando o Delegado de Polícia, em meio a uma investigação, descobre o fato criminoso (cognição imediata). Ou indiretamente, quando a vítima ou outra pessoa comunica a ocorrência do fato provocando a atuação po- licial (cognição mediata). Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, o investigador de polícia deverá montar um plano de ações chamado de Planejamento Operacional, que terá determinado o começo e o final da investigação; quem fará parte da equipe e quais os procedimentos se- rão adotados considerando o nível de complexidade do caso. Para que haja o efetivo cumprimento dos princípios, garantias e direitos estabelecidos no exercício da atividade de investigação poli- cial, é necessário que os operadores tenham conhecimento da legisla- ção brasileira. O art. 1º, inc. III da Constituição Federal determina como fun- damento básico a dignidade da pessoa humana, aplicada a todos sem distinção. No art. 5º, caput, a Constituição determina que todos são iguais perante a lei sem distinção de nenhuma natureza, garantia dada aos brasileiros e aos estrangeiros que residam no país; ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. A Convenção Americana de Direitos Humanos, também cha- mada como Pacto de San José da Costa Rica, consiste em um trata- do internacional entre países da Organização dos Estados Americanos (OEA) que se comprometem “a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem dis- criminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social”. O princípio da presunção de inocência, disposto no art. 5º, inc. LVII da Constituição Federal, determina que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Para fins da investigação policial, esse princípio implica a impossibilidade de que alguém que não tenha sido condenado pela justiça seja preso. Cabe ao 41 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Estado o ônus de provar que aquele indivíduo cometeu a infração penal. Outros princípios e direitos também são importantes, tais como: o princípio da legalidade (art. 5º, inc. XXXIX, CF), princípio da ampla de- fesa e ao contraditório, duplo grau de jurisdição e o direito ao silêncio. Durante a atividade investigativa, o operador deve aplicar téc- nicas policiais mais pertinentes para a apuração dos fatos dada a com- plexidade do caso, sempre devendo pautar sua conduta em bases le- gais e em cumprimento dos direitos e garantias do investigado. Abaixo, será feita uma breve exploração acerca das técnicas utilizadas na investigação policial, tais como a infiltração policial, a vigi- lância, a diligência para localização de pessoas e coisas, a interceptação telefônica, o requerimento de informação de entes públicos e privados, a declaração de testemunhas e vítimas, a busca pessoa e domiciliar. Trata-se a infiltração policial (técnica conhecida como underco- ver agent) de um meio de obtenção de prova previsto, inicialmente, na lei de crime organizado e, posteriormente, em outras legislações como a lei de drogas, mas só passou a ser completamente regulamentada na atual legislação de organizações criminosas. Consiste em uma técnica de investigação excepcional, espe- cial e sigilosa que deve ser previamente autorizada judicialmente, em que um ou mais policiais, sem revelar suas identidades policiais, inse- rem-se de forma dissimulada no mecanismo da organização criminosa com o objetivo de colher provas a fim de desmantelar tal organização. A infiltração de agentes se divide em três etapas. Antes que ocorra a infiltração em si, há a seleção do Investiga- dor de Polícia que será infiltrado, sendo observado: a) Análise do perfil do policial infiltrado. b) Criação de falsa identidade, preparando-o para o meio. c) Criação de uma cobertura (falsa história que apague sua condição de policial). d) Tempo de duração. e) Custo. Na segunda etapa, há a colocação do selecionado no bojo da organização, que pode acontecer de três formas: a) Por meio de informante (pessoa que tem laços com mem- bros da organização, porém não faz parte dela). b) Membro da organização (pessoa identificada que pretende os benefícios da delação premiada). c) Autocolocação (mais difícil e demorada, porém mais eficaz e segura para o policial). Depois da infiltração, começa-se a coleta de provas que pos- sam indicar autoria dos crimes praticados pela organização. No decor- 42 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S rer da infiltração, é preciso que observar alguns aspectos: a) Tempo de duração. b) Técnicas empregadas. c) Colheita de dados e informações. d) Custo da operação. e) Resultados obtidos. A vigilância policial consiste em uma prática policial que tem por objetivo realizar a colheita de dados para a investigação estando o mais próximo possível dos investigados. Geralmente, realizada por, no mínimo, quatro policiais que ficam de vigília, a pé ou em seus veículos, equipados com câmeras fotográficas ou filmadoras. Durante tal prática, a finalidade é que possam ser identificados indivíduos que tenham co- metido a infração penal escopo da investigação, bem como o levanta- mento de locais e práticas realizadas pelos criminosos. Já a diligência para localização de pessoas e coisas é uma técnica policial que é utilizada para encontrar ofensores, vítimas e tes- temunhas, tal qual objetos provenientes da infração penal que possam estar, posteriormente, à disposição da polícia. Para que haja o cumprimento de uma diligência policial, é pre- ciso que haja alguma informação proveniente da investigação que possa ensejar o uso de sites como: redes sociais, sites de busca, sites oficiais do governo, ou de pessoas desaparecidas. A partir da coleta dessas informa- ções, o investigador poderá confirmar se os dados coletados estão corretos e poderá se aprofundar na investigação por meio de entrevista de pessoas. A interceptação telefônica é uma técnica regida pela Lei n. 9.296/96 e se baseia, de forma simplificada, na captação da conversa te- lefônica de um terceiro, sem que haja o conhecimento dos interlocutores. Cabe ressaltar que, conforme interpretação do art. 5º, inc. XII da CF, a interceptação telefônica poderá ser utilizada tanto em fase de investigação criminal quanto em fase de instrução processual penal, ou seja, a interceptação vale como prova criminal. O investigador irá selecionar os trechos que sejam importantes para a investigação em tela e, ao fim do prazo, irá preparar um relatório indicando o que tenha sido apurado. O requerimento de informações de entes públicos e privados tra- ta-se da procura de indivíduos que estejam sob investigação e que estejam incluídos em bancos de dados públicos ou privados, obedecido ao critério de autorização judicial, quando o sigilo dos dados estiver sob proteção le- gal, como no caso de obtenção de dados telefônicos, fiscal e bancários, por exemplo: lista de passageiros, dados cadastrais de conta corrente etc. As declarações de testemunhas e vítimas são métodos realiza- dos pelos policiais, com a finalidade de fazer o levantamento de dados 43 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S em relação ao fato criminoso investigado. Nas entrevistas dadas por cada testemunha, o investigador deve observar os seguintes elementos: - Descrição do lugar onde o crime ocorreu. - Horário do cometimento do crime. - Relação entre a testemunha e o criminoso e entre a vítima e o criminoso. - Descrição da roupa que o criminoso vestia (que possa indicar sua profissão ou empresa onde trabalhava). - Sotaque. - Aparência, descrição física do criminoso (cor da pele, tatua- gem, corte de cabelo, cicatriz, cor dos olhos, altura, sexo etc.). - Placa e tipo de veículo que usava no dia do crime. - Instrumentos que usou para cometer o crime (arma de fogo, arma branca, cordas etc.) As declarações das testemunhas, do investigado e da vítima po- dem trazer dados que levarão à coautoria, à participação, à materialidade e a circunstâncias da ocorrência da infração penal. Ilana Casoy, descrevendo o método de David Canter, dá ênfase à coerência interpessoal entre vítima e agressor, acrescentando que "[...] a vítima representa alguém na vida ou no passado do agressor (como sua mãe ou sua ex-namorada)". Dessa forma, o investigador deve sempre estar alerta às manifestações da vítima em relação ao ofensor, buscando observar se em algum momento houve alguma agressão, violência ou comportamento que justificasse o crime. A busca pessoal é a inspeção do corpo do indivíduo com o objetivo é encontrar objetos de interesse à investigação, quais sejam: arma, faca, papéis ou quaisquer objetos que consistamcorpo de delito, podendo ser realizada a qualquer tempo, independentemente de man- dado judicial, desde que haja fundada suspeita ou mesmo no cumpri- mento de uma prisão em flagrante. Cabe ressaltar que a busca pessoal pode ser realizada durante o dia e durante a noite, também durante a busca domiciliar. A busca domiciliar é uma diligência realizada que tem por fim a localização de pessoas ou coisas por meio de ordem da autoridade judicial, devendo ser executada durante o dia pelo policial que irá ler o conteúdo do mandado antes de entrar no domicílio. Ao término do procedimento, o investigador deverá lavrar um termo circunstanciado informando tudo aquilo que fora encontrado. A prática de crimes como de homicídios, estupros e crimes cometidos por pessoas portadoras de psicopatologias exige da polícia investigativa uma equipe de profissionais com formação em Psicologia Criminal e Criminologia, para que haja eficiência na preservação do lo- 44 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S cal do crime, bem como na colheita das informações iniciais que pos- sam indicar a autoria e materialidade nas quais o fato ocorreu. A utilização correta das técnicas contribui para a elaboração assertiva do perfil criminoso, estabelecendo seu modus operandi e, até mesmo, prevenindo a ocorrência de outros crimes. A ineficiência e o despreparo das equipes apenas revelam a carência de transformação e desenvolvimentos nas técnicas de investi- gação policial que perpassem pelo processo de formação e aperfeiçoa- mento do investigador de polícia, visando capacitá-lo a entender, colher dados e formular informações que apontem para autores de crimes co- metidos por portadores de algum tipo de transtorno mental. CRIMINAL PROFILING: PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS Quando se fala em perfil psicológico, trata-se de conjunto de ca- racterísticas da personalidade, traços que são continuamente estáveis ao longo do tempo. É exatamente isso que é a matéria-prima da psicologia forense neste contexto em particular no criminal profiling, que permite ana- lisar comportamentos e fazer previsões em relação a esse comportamento, e isso pode ser contextualizado no âmbito criminal, mas também pode ser contextualizado em outros âmbitos que será desmistificado a seguir. Ao tratar do criminal profiling, indiretamente, associa-se a séries televisivas e muitas dessas servem para entreter. Embora tragam certa representatividade, trata-se de contextos fictícios na maior parte das vezes. Um dos casos mais proeminentes é do Criminal Mind, que é uma equipe do FBI (Federal Bureau of Investigation ou Departamento Federal de Investigação) que faz análise dos perfis criminológicos e como essas mentes criminosas comentem determinados tipos de crimes. Quando se fala em círculos de influência, logo se lembra da série americana Hannibal Lecter, personagem criado pelo escritor Tho- mas Harris, e depois famoso pela interpretação nas telas dada pelo ator Anthony Hopkins. O criminal profiling começou como uma arte investigativa e vá- rios autores começaram a escrever livros. O Sherlock Holmes (primeira versão é de 1887) foi um sucesso e continua a ser, seu o raciocínio lógico dedutivo e indutivo está presente nesses livros. Foi isso que, de certa forma, promoveu, em certa medida, a expansão do profiling cri- minal sob o ponto de vista teórico para o ponto de vista prático. Em um dado momento, em meados de 1960, passou a ser uma técnica forense que pudesse ajudar a resolver determinados crimes, nomeadamente, no que diz respeito a assassinos em série. 45 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Os assassinos em série têm um padrão de comportamento fa- cilmente identificável, um modus operandi específico, uma assinatura também específica, o que permite aos investigadores criminais determi- narem que tipo de comportamento podem ter e prever também a partir do profiling geográfico qual poderá ser o próximo local em que o ofensor cometerá o crime. Atualmente, é uma técnica auxiliar que não pode ser chama- da de ciência, isto porque seria pisar em um terreno minado. Em vários congressos internacionais, há o debate se o criminal profiling é conside- rado uma ciência ou técnica. Aqueles que defendem que é uma ciência compreendem que ela se utiliza de método científico, mas aqueles que entendem que é uma técnica a compreendem como falível, subjetiva, portanto, trata-se de comportamento humano e, como tal, o comporta- mento humano não é tão previsível como se pensa que é. Às vezes, pode acontecer algum acidente de percurso e pode ter alguma alteração da personalidade, e então há um rompimento daquilo que se julgava estável. A maior parte entende como uma técnica auxiliar e os esforços estão em levar as técnicas do laboratório para o contexto real. Como é possível implementar essa técnica de uma forma mais eficaz e mais assertiva? O criminal profiling consiste em referências das características da personalidade do indivíduo. Como dito no início, um perfil é exatamen- te isto: um conjunto de característica de personalidade. É uma aborda- gem clínica, podendo ser feita a partir, por exemplo, da análise de dados oceanográficos em relação ao ofensor. Pode-se determinar se ele tem psicopatologia ou não. A própria análise da cena de crime permite deter- minar isso com alguma frequência. Também, é possível fazer compara- ção de dados estatísticos a partir de uma abordagem estatística, tentando determinar se há uma ligação entre alguns casos e perceber se o mesmo ofensor está cometendo vários crimes iguais ou se há pessoas cometen- do crimes semelhantes, mas que não é o mesmo ofensor. Há análise da informação que é uma análise investigativa que se trata da aplicação da psicologia no contexto da investigação criminal. É tentar dizer quais são os procedimentos passo a passo que se deve ter de forma a garantir a informação fidedigna e permita construir um caso com alguma consolida- ção e que permita a partir deste ponto chegar a uma lista de suspeitos (não apenas de um suspeito numa primeira fase). No que diz respeito à aplicação desta técnica, vários países a utilizam. No Reino Unido, utiliza-se mais uma abordagem estatística, olha-se para os dados de uma maneira estatística. Softwares especia- lizados nesta análise permitem fazer a ligação entre os casos. Já nos Estados Unidos, é realizada uma análise comportamental. Basicamen- te, analise-se a pessoa, o comportamento que ela teve quando se vai à 46 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S cena do crime, a própria cena determina uma série de características do ofensor (se é organizado ou não), a partir dessa classificação, já se tem uma série de características que é possível traçar o perfil do criminoso. O que se pretende com o criminal profiling é responder às se- guintes questões: - O que é? - Por que é usado? - Onde é usado? - Quando? - Quem são os profilers? Entretanto, na prática policial, com a finalidade de ajudar na in- vestigação criminal, aplica-se técnica aos casos considerados de crimes violentos e complexos, sejam eles em série ou não, múltiplos ou únicos, permitindo limitar a lista de suspeitos e, muitas vezes, chegar ao ofensor. Ao finalizar o parecer, o psicólogo pode indicar caminhos a se- rem seguidos, mas não cabe a ele indicar quaisquer medidas jurídicas que lhe ache convenientes. A cena do crime é de extrema importância para o criminal profi- ling. Nela, poderá haver muitos indícios que se mostrarão cruciais para elucidação da investigação, podendo servir como materialidade e auto- ria para o inquérito policial e base para a ação penal. Dessa forma, uma equipe investigativa bem treinada e conhe- cedora de tais técnicas pode ser determinante na cena do crime na busca de vestígios. Embora não exista uma profissãoespecífica, qualquer pessoa pode ser um profiler, desde que tenha formação profissionalizante. Tra- ta-se de uma função, geralmente, qualquer investigador ou autoridade que esteja aplicando a técnica ou psicólogo forense que tenha uma for- mação de base abrangente e faça uma especialização também será um profiler. É importante que o profiler tenha: - Colaborações externas (internacionalização). - Formações profissionais e de competências. - Sistema de ensino adequado às exigências. - Colaborações com as entidades policiais. A utilização das técnicas de criminal profiling também são de grande valia nas práticas policiais em relação à preservação do local do crime para que possam ser realizadas as coletas de indícios de maneira adequadas. Geralmente, esses indícios são coletados em, no máximo, 24 horas após o cometimento do crime em virtude do perecimento do material. Entretanto, não é incomum que haja a perda de materiais ou pelo perecimento destes ou mesmo pela inabilidade técnica dos opera- dores na cena do crime, causando vários problemas dentre eles: 47 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S • Arquivamento do Inquérito Policial por falta de provas. • Indiciamento e autuação de cidadão que não é de fato autor do crime. • Absolvição de culpados por falta de prova. • Demora excessiva na elucidação de delitos. A presença de um profissional especializado na técnica do Cri- minal profiling, logo no início da investigação criminal, amplia a capacida- de de exploração e conservação do local do crime para coleta de indícios, uma vez que este será o primeiro contato entre a equipe policial e crime. O propósito do estágio de coleta de provas é relacionar e con- servar aqueles indícios que contribuirão para a reconstituição do crime e para provar a autoria do ofensor. São alguns indícios que podem ser encontrados: a) Vestígios (resíduo de arma de fogo, resíduo de tinta, vidro quebrado, produtos químicos desconhecidos, drogas). b) Impressões digitais, pegadas e marcas de ferramentas. c) Fluidos corporais (sangue, esperma, saliva, vômito). d) Cabelo e pelos. e) Armas ou evidências de seu uso (facas, revólveres, furos de bala, cartuchos). f) Documentos examinados (diários, bilhetes de suicídio, agen- das telefônicas; também inclui documentos eletrônicos tais como secre- tárias eletrônicas e identificadores de chamadas). Quais são as aplicações desta técnica: - Avaliações de personalidade: elas podem ser realizadas em qualquer contexto, não é preciso que seja necessariamente no contexto forense. - Análises equivocas da morte: muitas vezes, não se chega a uma conclusão em relação à causa da morte, e o profiler pode utilizar os dados e fazer uma anamnese, fazer uma autópsia psicológica e tentar saber o que causou esta morte, dando sugestões investigativas. - Sugestões investigativas: muitas vezes, as equipes investiga- tivas estão tão focadas no caso que lhes escapam algumas pistas e po- dem se socorrer aos consultores ou profilers para que possam sugerir algum caminho investigativo. - Estratégias de entrevistas: as entrevistas devem ser adequa- das conforme o perfil de entrevistados. - Ligações de casos: é possível fazer ligação de casos até mesmo com casos já prescritos. - Estratégias de comunicação com a mídia: alguns países, como os Estados Unidos, têm um organismo específico que é respon- sável por passar informações acerca da investigação de tal forma que 48 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S essa informação não comprometa a investigação. - Avaliação de perigo/ameaça: é possível que profiler também possa fazer uma análise em relação aos ataques e ameaças terroristas tão em voga atualmente. - Estratégias para o Tribunal: o psicólogo que estiver atuando como profiler pode auxiliar advogados ou mesmo Ministério Público na adoção da melhor estratégia perante o Tribunal. - Testemunho de um especialista: o profiler é um expert e vai ao tribunal podendo dar seu parecer. - Profiling geográfico: trata-se da ligação de casos em uma de- terminada área geográfica. Tentar perceber uma zona de residência ou de atuação de determinado ofensor mediante aos crimes que são cometidos. - Análise de incidentes críticos: avaliação de demais aspectos relevantes do caso. Tudo aquilo que for coletado na cena do crime servirá para fun- damentar condenação futura. Deste modo, a equipe de profilers utiliza- -se de equipamentos modernos para que possa realizar o agrupamento de indícios coletados no local do crime. A análise do local do crime é relevante para a compreensão da dinâmica do delito, mas também para a análise comportamental e construção do perfil do criminoso. Os objetivos do Criminal profiling são: • Fornecer a avaliação psicológica e social do ofensor. • Analisar os objetos encontrados com o autor do crime. • Elaborar estratégias que possam ser utilizadas na entrevista aos suspeitos. Por exemplo, o perfil dos hackers: - QI médio. - Histórico de leniência familiar. - Não tem ocupação fixa. - Comete erros. - Hábitos noturnos. - Homem de 20 a 30 anos. - Não acumula valores. Esse perfil ajuda para que, em meio a um grupo, os investiga- dores concentrem sua atenção para pessoas com esse perfil. Observando o comportamento de serial killers, é possível per- ceber algumas características comuns, por exemplo, o fato de urinar na cama ou fato de praticarem tortura com animais quando criança, mas- turbação compulsiva, isolamento social, dentre outros. É importante que o perfil psicológico do serial killer seja avalia- do, mas também que os fundamentos criminais que os classificam dessa 49 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S forma e a maneira como age, seja ele: nômade, territorial e estacionário. Diante do exposto, faz-se necessário profissionais preparados para exercerem com eficiência as técnicas do Criminal profiling, a fim de que os indícios coletados na cena do crime possam ser realizados de maneira correta e analisados de forma a contribuir para a construção do perfil do criminoso. Fonte: Laurent Montent (2003, p. 45-112) 50 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2013 Banca: FUNCAB Órgão: PC-ES Prova: Psicólogo Uma adequada compreensão do tipo de comportamento a ser obje- to da investigação policial depende dos resultados das pesquisas conduzidas no campo das ciências humanas. O comportamento criminoso é uma forma de comportamento que: a) Pode ser entendida como não intencional. b) É um delito praticado por um indivíduo deliberadamente. c) Pode ser entendida unicamente dentro do contexto social em que há uma norma e a transgressão a ela. d) É socialmente escusável. e) Deve ser punida incondicionalmente. QUESTÃO 2 Ano: 2013 Banca: FCC Órgão: MPE-MA Prova: Analista Ministerial - Psicologia A investigação de uma situação de abuso infantil é muito delicada e o profissional deve levar em consideração que a fala da criança e dos adultos pode estar permeada pelo que se conhece como: a) Falsas memórias. b) Hebefrenia. c) Bullying. d) Delinquência juvenil. e) Duplo vínculo. QUESTÃO 3 Ano: 2016 Banca: FAURGS Órgão: TJ-RS Prova: Psicólogo Judiciário Dentre os diferentes tipos de perícia que o psicólogo pode vir a realizar, está o da investigação sobre a presença de falsas memó- rias no discurso da vítima. Assinale a afirmação correta em relação ao conceito de Falsas Me- mórias (FMs). a) As lembranças autobiográficas não sofrem influência do contexto quando são recuperadas; sendo, portanto, um grupo de lembranças que dificilmente se constituem em FMs. b) Estudos da neurociência cognitiva demonstram que a região mais envolvida na produção de FMs são as áreas pré-frontais. c) As FMs são produzidas exclusivamente por fontesexternas ao sujei- to, principalmente por entrevistas de terceiros, e, por isso, são comuns no contexto forense. 51 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S d) As FMs podem parecer brilhantes e com muitos detalhes, de forma se- melhante às memórias verdadeiras, diferenciando-se dessas últimas ape- nas pelo fato de não terem ocorrido da forma como o indivíduo lembra. e) Em um processo psicoterápico, é possível distinguir memórias ver- dadeiras de FMs, pois as primeiras levam a uma melhora terapêutica. QUESTÃO 4 Ano: 2012 Banca: FCC Órgão: TJ-RJ Prova: Psicologia Em se tratando da avaliação psicológica realizada no contexto fo- rense, é possível dizer que as entrevistas: a) São idênticas àquelas realizadas no modelo clínico já que os objeti- vos e a metodologia são iguais. b) Não devem pressupor situações ligadas à dissimulação e simulação do entrevistado. c) Desconsideram informações e fatos ocorridos no passado focando apenas o momento presente da situação. d) Não devem se prestar a confirmar a validade dos achados e dos pró- prios métodos utilizados. e) Devem extrapolar o objetivo da investigação do mundo interno do avaliando, para valorizar, também, aspectos de sua realidade objetiva. QUESTÃO 5 Ano: 2012 Banca: PUC-PR Órgão: DPE-PR Prova: Psicólogo A Psicologia Jurídica, como a entendemos, guarda elementos gerais e outros muito particulares que a eleva ao patamar de disciplina dis- tinta e diferenciada. O uso correto da terminologia é condição para elaboração de Laudos e Pareceres. Como se denomina a área da Psi- cologia Jurídica que contempla a atividade pericial aos casos ape- nados quando da solicitação de progressão de regime e nos casos de penas convertidas em Medida de Segurança (exame de cessação de Periculosidade). Para esses fins, o exame seria complementar nas perícias psiquiátricas e seria emitido o Parecer Psicológico. a) Psicologia Judiciária. b) Psicologia Forense. c) Psicologia Social aplicada ao Judiciário. d) Psicodiagnóstico Pericial. e) Psicologia Criminal. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Cite e explique quais são os principais objetivos da técnica do Criminal profiling. Fundamente sua resposta. 52 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S TREINO INÉDITO Entre os fatores que afetam substancialmente o processo de in- vestigação e que influenciam os resultados de entrevistas, sob o ponto de vista da psicologia, destacam-se, exceto: a) O intervalo de tempo entre o fato gerador e o início. b) A duração de realização do processo de investigação. c) A uniformidade dos procedimentos em relação a cada um dos envol- vidos que venham a ser investigados. d) A forma como são realizadas atividades de apoio, como as perícias médica, psicológica e o exame de corpo de delito. e) Reconstituição do cenário criminal. NA MÍDIA ENTENDA O PROFILING CRIMINAL E O PAPEL DO PROFILER O Profiling Criminal é uma forma de análise comportamental que se des- tina a auxiliar os investigadores a conhecer as características de sujeitos criminosos desconhecidos, a criar uma lista de suspeitos ou a reduzir um grupo de suspeitos, a elaborar perfis vitimológicos e a fazer análises motivacionais. O profiler criminal não se preocupa apenas com a identifi- cação do ofensor, albergando também a função de consultor, auxiliando detetives e outros investigadores na resolução de casos e também os intervenientes judiciários nos processos de tomada de decisão. Fonte: Justificando Data: 15 out. 2015 Leia a notícia na íntegra: http://www.justificando.com/2015/10/15/enten- da-o-profiling-criminal-e-o-papel-do-profiler/ NA PRÁTICA Em casos envolvendo estupro, maus-tratos e atentado violento ao pu- dor contra vulneráveis, a participação do psicólogo jurídico é extrema- mente relevante. Nessa toada, a doutrina e a jurisprudência compreendem que as declara- ções da vítima integram um meio de prova. Em tese, o conteúdo das decla- rações deve ser aceito com reservas. No entanto, por se tratar de um delito às ocultas, é necessário que as declarações sejam seguras, estáveis, coe- rentes, plausíveis, uniformes, perdendo sua credibilidade quando o depoi- mento se revela reticente e contraditório a outros elementos probatórios. PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: - A jurada (Brian Gibson, 1996). - O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme, 1991) 53 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Serão lançados, em 2 de abril de 2020, os filmes que contam a história de Suzane von Richthfen, sob o ponto de vista dela e de Daniel, seu namorado à época do crime: - A menina que matou os pais - O menino que matou meus pais Trailer do filme: https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noti- cia/2020/02/03/trailer-de-filmes-sobre-suzane-von-richthofen-e-divulga- do-assista.ghtml Séries sobre o assunto: Criminal Minds (2005), Mindhunter (2017), Manhunt: Unabomber (2017) Acesse os links: http://oaprendizverde.com.br/2017/05/14/perfil-crimi- nal-parte-1-historia-metodo-e-evolucao/ 54 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S A RELAÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA E A CRIMINOLOGIA A criminologia como uma ciência surgiu em meados do séc. XIX e dividiu-se em duas fases: uma pré-científica e outra científica. A princi- pal obra é do italiano nascido em Turim, Cesare Lombroso, chamado Tra- tado antropológico experimental do homem delinquente, que tinha uma ideia positivista evolucionista e que o comportamento criminoso teria ori- gem no atavismo, ou seja, o criminoso seria uma espécie não avançada. A criminologia mais contemporanea é mais extensiva, confor- me apresenta Garcia-Pablos de Molina (1997, p. 33), é uma ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, a PSICOLOGIA JURÍDICA E A CRIMINOLOGIA 54 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S 55 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S dinâmica e as variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social – assim como sobre os programas de preven- ção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente. O crime é obstáculo social que nele se origina e nele deve des- cobrir métodos de resposta positiva, até porque o criminoso e a vítima coexistem ativos na sociedade. Para que se possa compreender a relação entre a psicologia e a criminologia, as análises de alguns elementos serão importantes, tais quais; o ofensor, a vítima e as instituições de exclusão que fazem parte do processo de controle social do comportamento delitivo. O controle social pode ser formal ou informal, sendo o primeiro exercido por entidades estatais, iniciando-se desde a investigação cri- minal até a execução da pena, enquanto o controle informal se dá na sociedade por meio do desacolhimento, do clamor social, pela rejeição. A criminologia crítica trouxe novas percepções acerca do com- portamento do delinquente, avaliando a criminalidade como criminaliza- ção, compreendido por processos seletivos de construção social do com- portamento criminoso como maneira de permitir desigualdades sociais. A análise do crime como fenômeno social ensejou diversas classi- ficações ao longo da história. A seguir, dá-se a classificação dada pelo Prof. Hilário Veiga de Carvalho, citado por Maranhão (1981), que se refere ao indivíduo que comete o delito e as influências para que o ato delitivo ocorra. Nesta classificação, relaciona-se o começo do comportamento criminoso a dois tipos de fatores: as forças do meio e as forças intrapsíquicas. Logo: 1) Mesocriminoso:atuação antissocial por força das injunções do meio exterior, como se o indivíduo fosse mero agente passivo; por exemplo, o silvícola. 2) Mesocriminoso preponderante: maior preponderância de fa- tores ambientais. 3) Mesobiocriminoso: determinantes tanto ambientais, quanto biológicos. 4) Biocriminoso preponderante: portador de anomalia biológica insuficiente para levá-lo ao crime, mas capaz de torná-lo vulnerável a uma situação exterior, respondendo a ela com facilidade. 5) Biocriminoso puro: atua em virtude de incitações endóge- nas, como ocorre em algumas perturbações mentais. Em relação ao primeiro e ao quinto tipo, são compreendidos como pseudocriminosos, pois ao primeiro lhe falta o animus delinquendi e ao quinto lhe falta a capacidade de imputação penal. No entanto, em relação aos outros, utiliza-se a seguinte regra: 56 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Fonte: AMAR, Ay ush Morad, 1987. Existem vários elementos de derivação intrapsíquica reconhe- cíveis no comportamento delitivo, e há também elementos que se com- binam com elementos sociais, por exemplo: • O reconhecimento de uma pessoa como modelo a ser seguido. • Atuação de um grupo ao qual a pessoa pertença que exerce forte influência em suas ações. • Sujeição capaz de realizar determinados comportamentos in- desejáveis. • Emoções exarcebadas que levem a situações de descontrole e façam com que a pessoa cometa atos agressivos, violentos. Para que haja a correta análise do comportamento delito, é preciso que se faça a observação de dois aspectos importantes: a víti- ma e os meios de desestímulos utilizados por ela. Por óbvio, a vítima tem participação direta ou indireta no com- portamento delitivo. A participação da vítima é necessária não apenas para desencadear a motivação do delinquente, mas também para des- pertar emoção. Os próprios mecanismos de desestímulo e controle têm im- pacto determinante sobre as expectativas de sucesso e sobre consequ- ências do ato delitivo, afentando de maneira direta a percepção do po- tencial delinquente e combinam-se com todos os elementos anteriores, intra e extrapsíquicos. Este é um panorama sofisticado ao qual a perfilhação à classi- ficação se modelos simples definitivamente não se amoldam. A grande questão está nos motivos que sustentam o comporta- mento criminoso. Em relação a este tema, há um progresso do pensa- mento criminológico que passa pela concepção causalista, pela multifa- torial até chegar a uma concepção crítica. A concepção crítica se orienta nas indagações advindas do Di- reito Penal, questionando por que alguns atos são considerados crime e alguns sujeitos são considerados criminosos, aproximando-se mais de um conceito social. Esta concepção se opõe ao positivismo e ao determinismo biológico. Assim como ocorreu na psicologia ao observar o padrão bio- 57 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S lógico da psicologia, em que a pessoa era vista como um organismo que interage no meio físico, sendo que os processos psicológicos eram compreendidos como causa que evidenciam seu comportamento. Na verdade, o homem biológico não sobrevive por si, seu orga- nismo é uma infraestrutura que autoriza uma superestrutura que é so- cial. Logo, buscar individualmente a resposta dos motivos que levaram o indivíduo a cometer o crime sem considerar o meio social é desconsi- derar o comportamento humano. Tudo isto é bastante claro no ponto de intersecção entre a psi- cologia e o direito penal, quando se observa a história individual e a história social que chega todos dias aos fóruns criminais pelo Brasil. É importante ressaltar que não se trata de ignorar a existên- cia de elementos biopsíquicos, cujo transtorno pode estar associado a uma perturbação mental elevada, apesar de que estes indivíduos não se achem em maior quantidade no sistema prisional brasileiro. O estudo do fenômeno delitivo requer uma análise profunda acerca dos fatores que levam ao comportamento indesejado e, desse modo, tanto a quantidade, quanto a qualidade de dados e informações são muito importantes. As diversidades das condições sociais propiciam análises es- tatísticas segmentadas que observem o público-alvo, por exemplo: • Faixas etárias. • Características étnicas. • Características psicológicas e comportamentais. • Microssistemas sociais. • Grupos de atuação. • Escolaridade. • Especialidade profissional. • Opções políticas, religiosas e outras. Ademais, é importante que o fenômeno delitivo seja compre- endido na relação com os desencadeantes dos comportamentos, que compõem outra matriz de fatores. CRIMINOLOGIA MIDIÁTICA O homem é um ser social e, como tal, inclina-se a agrupar-se em comunidade. A partir do momento em que o indivíduo se une a ou- tros, é capaz de estabelecer costumes e hábitos de um grupo social, com comportamentos sociais específicos. A teoria do etiquetamento, também chamada de Labeling Apro- ach ou rotulação, trata das qualidades conferidas pelas instituições so- 58 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S ciais que terminam separando aspectos de alguma pessoa ou grupo à prática de determinada conduta que acaba sendo rotulada como crimi- nosa. A própria sociedade considera o indivíduo criminoso, decidindo aquilo que é ou não é aceito, tratando-o como um personagem social. Ao considerar o indivíduo como criminoso, a sociedade tomará atitudes desagradáveis contra tal pessoa; demonstrando rejeição, re- provação a sua conduta e de certa forma, causando-lhe humilhação em relação a quaisquer atos praticados por aqueles indivíduos, tornando-o estigmatizado. Esta teoria analisa os efeitos estigmatizantes no indivíduo, constatando o fenômeno social chamado de cifra negra. Há uma série de crimes cometidos que não constam em esta- tísticas oficiais, ou seja, trata-se da ideia de que todos já teriam prati- cado algum crime na vida, por exemplo, ameaça, difamação, mas que apenas uma parte desses crimes são realmente investigados, proces- sados e levam à condenação penal. Isso quer dizer que o risco de ro- tulação não está vinculado à conduta em si, mas sim à posição do in- divíduo na sociedade. Exatamente por este motivo, o sistema penal é extremamente seletivo, onde sua população carcerária é formada em sua grande maioria por indivíduos são pretos ou pardos (61,7%), e 75% dos encarcerados têm até o ensino fundamental. Hoje, impera a era da informação, onde a mídia e as redes sociais exercem um papel extremamente importante quando o tema é informação em tempo real. A televisão e a internet são, na época atual, os principais formadores de opinião da sociedade. Entretanto, do mesmo modo que transmitem informação em tempo recorde, transmitem desinformação e disseminam as chamadas “fake news” como dados verdadeiros, muitas vezes, sem que haja qual- quer hesitação. De tal forma que as pessoas se sentem legitimadas a tratar de assuntos de ordem constitucional, penal, processual, penal, extremamente técnicas, sem nenhum conhecimento ou preparo. Shecaira entende que, no Brasil, há aquilo que se entende como “fascinação pelo crime”, ou seja, a criminologia, seria uma espécie de en- tretenimento para a sociedade, com a venda de jornais, programas sensa- cionalistas de televisão que tem por fim apenas atrair os expectadores e aumentar a audiência, explorando o crime como se fosse um espetáculo. Para Zaffaroni, a televisão espalha um discurso neopunitivista que seria uma comunicação em relação aos fatos criminosos denominados de criminologia midiática. A televisão seria um impedimento ao raciocínio, é o mecanismo mais hábil para deformar a opinião de uma sociedade e afastar as informações fundamentais para o exercício da democracia. Muitas pessoas não leem um jornal sequer por dia, mas são 59 P SI C O LO G IA EIN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S expectadoras fiéis da televisão e têm esta ferramenta como sua única fonte de captação de informações. À medida que a sociedade completa seu tempo com as informações colhidas apenas pela TV, ela se afasta de sua capacidade crítica e do exercício de seus direitos democráticos. A finalidade dos meios de comunicação é bem clara: atingir o lucro. Os dados oferecidos nem sempre contam com uma fundamenta- ção bem-feita e, se o objetivo está previamente traçado, a maneira mais interessante de captar expectadores é transformar essas informações em um espetáculo atrativo e sensacionalista. Entretanto, o mais danoso dentro dessa prática é exatamente a rotulação do delinquente a partir da criação de um estereótipo com atributos fisiológicos, psicológicos e econômicos. Zaffaroni declara que, na América Latina, as características do delinquente são de homens jovens de classe menos abastadas e isto se reflete na seletividade do sistema penal, conforme mencionado acima. Sob a ótica sociológica, tratando à questão racial, ser pobre em uma sociedade rica implica em ser negro e ter o status de uma anomalia social, trata-se de efeito excludente. Dentro da discussão da criminologia midiática, faz-se uma di- visão entre dois grupos: “nós” e “os criminosos”, como se houvesse pessoas “boas” e pessoas “más”, “bem” ou “mal”. A partir dessa divisão, o pensamento punitivista da criminologia midiática determina que há aceitação por um direito penal total em que a solução para todos os problemas existentes passa pelo direito penal. Essa solução é completamente descabida e incoerente com princípio da subsidiariedade do direito penal. Para aqueles que se perfilham a essa solução, a prisão é a única solução para delinquentes que possam provocar ameaça física e moral. Trata-se de um mecanismo imediato e simples de neutraliza- ção dos criminosos, para que a sociedade não possa tratar dos proble- mas reais. Este tipo de criminologia atua em pessoas que não possuem conhecimento técnico e acabam curvando-se às pressões punivistas. Uma das saídas para modificar esse pensamento é por meio de grande transformação cultural e maior comunicação para que haja a ressignificação da criminalidade, de tal forma que a mídia passe real- mente a informar e não a formar opiniões. CRIMINOLOGIA E EXAME CRIMINOLÓGICO No Brasil, a história da psicologia no cárcere está ligada à Lei 60 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S de Execução Penal promulgada em 1984, quando o exame criminológi- co foi realmente implantado no sistema prisional brasileiro por meio da Comissão Técnica de Classificação (CTC), que contava com o psicólo- go como membro da comissão. A LEP – Lei n. 7.210/84 – foi promulgada antes da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. No ano de 2003, foi alterada pela Lei n. 10.792. O objetivo da LEP era de humanizar o sistema prisional deter- minar entre o Estado e o preso uma relação de direitos e deveres. Uma das mudanças trazidas pela reforma de 2003 foi a reti- rada da função de emissão de pareceres técnicos elaborados a partir de exame criminológico que antes pautavam as decisões judiciais nos casos de conversão de pena ou progressão de regime da Comissão Técnica de Classificação. Atualmente, as decisões são fundamentadas no comportamento carcerário do preso. No entanto, é importante diferenciar o exame criminológico re- alizado para fundamentar as decisões judiciais que foi extinto pela Lei n. 10.792/03 e o exame criminológico inicial para produção de um plano individual de tratamento penal que permanece vigente. A partir de então, alguns requisitos objetivos foram exigidos para a progressão de regime o cumprimento de um sexto da pena como requisito objetivo para progressão de regime e a apresentação de ates- tado de boa conduta carcerária assinado pelo diretor do estabelecimen- to prisional como requisito subjetivo. Com a aprovação do Pacote Anticrime e entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019, o art. 112 da LEP passou a ter outros critérios para progressão da pena, quais sejam: • 16% (dezesseis por cento) da pena, se for primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça, ou seja, o famoso 1/6 (um sexto). • 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça. • 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primá- rio e o crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça. • 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça. • 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for conde- nado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário (o que equivale a 2/5). • 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: - condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; ou 61 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S - condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou - condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada. • 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reinciden- te na prática de crime hediondo ou equiparado (o que equivale a 3/5). • 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reinciden- te em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional. Entretanto, é possível que o juiz peça o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, mas é preciso que a decisão seja funda- mentada. Este é o entendimento da Súmula 439 de 2010 do STJ e da Súmula Vinculante nº 26 de 2009 do STF. Embora a Reforma de 2003 tenha extinguido o exame crimino- lógico, a prática verifica que muitos tribunais ainda se utilizam da técni- ca como condição para a concessão de benefícios. O exame criminológico consiste em um conjunto de estudos científicos de caráter biopsicossocial do delinquente a fim de traçar um diagnóstico de sua personalidade e, dessa forma, alcançar um prognós- tico criminal. Alvino Augusto de Sá (2007, p. 191) ensina que o exame criminológico é uma perícia. Como tal, visa o estudo da dinâmica do ato criminoso, de suas ‘causas’, dos fatores a ele associados. Oferece, pois, como primeira vertente, o diagnóstico criminológico. À vista desse diagnós- tico, conclui-se pela maior ou menor probabilidade de reincidência, tendo-se então aí a segunda vertente, o prognóstico criminológico. Esse estudo tem por fim detalhar o perfil do criminoso, sua imputabilidade, periculosidade, viabilidade de sua reabilitação e sensi- bilidade à pena. É importante salientar que este exame não se confunde com exame psiquiátrico que trata de incidente de insanidade mental do acu- sado, com a finalidade averiguar a imputabilidade do indivíduo para fins de apenamento. O exame criminológico é realizado para a cautela da defesa social e procura estimar a temibilidade do delinquente. A atuação interdisciplinar da equipe é imprescindível para tra- çar um perfil psicossocial do criminoso. A seguir, tem-se a subdivisão do exame criminológico: 62 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Fonte: PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. 2012. p. 319. A Reforma ocorrida em 2003 extinguiu do texto legal o exame criminológico, mas a uniformização de orientação por meio da súmula do STJ e a Súmula Vinculante do STF admitiu que o exame fosse exigido. Ainda com as inovações legislativas trazidas pelo Pacote Anti- crime, nada muda acerca das regras concernentes à exigência do exa- me criminológico que caberá ao juiz de direito solicitar o exame, se en- tender necessário,desde que o faça de forma fundamentada. PERÍCIA PSICOLÓGICA FORENSE Embora muitas técnicas e métodos que hoje fazem parte do estudo da psicologia fossem usados ao longo dos séculos, apenas em meados do século XIX é que a psicologia surgiu como ciência experi- mental na Alemanha, por meio de Wilhelm Wundt. Seu objetivo era estabelecer a psicologia como ciência, a partir da criação de um laboratório em Leipzing em 1879 e na primeira edição de seu livro Wundt “Grundüge der Phisiologische Psychologie” (Funda- mentos da Psicologia Física). Para o médico alemão, esta nova ciência seria intermediária dentre as ciências da natureza e as ciências da cultura, cujo propósito se evidencia na maneira como o indivíduo vive as experiências da vida, antes de refletir sobre ela. A Psicologia pesquisa os elementos de funcionamento interno da mente como o pensamento, a memória, os sentimentos, a percepção, o comportamento, a linguagem, a aprendizagem, a inteligência, o desenvol- 63 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S vimento da personalidade. Algumas técnicas são utilizadas para tais estu- dos, por exemplo: observação, testes para avaliação de funções cogniti- vas, de personalidade e de inteligência, coleta de histórias pessoais etc. A psicologia como ciência em si é recente e, portanto, isso tam- bém se aplica à psicologia forense. Mas, da mesma forma, é possível afirmar que muitos métodos eram utilizados durante a história sem que tomassem feição de científica. Assim como o Direito, a Psicologia tem o interesse pelo com- portamento humano. Mas, é preciso salientar que, ao passo que o Di- reito enfrenta o estudo do dever ser, a Psicologia enfrenta o estudo do ser. Portanto, a maneira como se analisa o indivíduo diante de cada perspectiva será diferente, embora sejam complementares. A Psicologia Forense aplica as áreas do saber da psicologia para responder às indagações realizadas pela justiça, contribuindo com sua administração, atuando no Tribunal, estabelecidos os limites legais. Apenas em 1962, a profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil, a partir da Lei n. 4.119 que definiu quais são as funções de competência exclusiva dos psicólogos, auxiliando a estabelecer a ati- vidade do profissional em assuntos jurídicos, posto que o art. 13, § 2º determina que “é da competência do Psicólogo a colaboração em as- suntos psicológicos ligados a outras ciências”. No §1º do art. 13, o legislador estabelece que é função privati- va do psicólogo a utilização de métodos e técnicas psicológicas com os objetivos de diagnóstico psicológico; orientação e seleção profissional; orientação psicopedagógica; e solução de problemas de ajustamento. Em 20 de dezembro de 2000, o Conselho Federal de Psico- logia editou a Resolução n. 14/2000 que instituiu o título profissional de Especialista em Psicologia, sendo uma das especialidades a serem concedidas Psicologia Jurídica. A Psicologia Forense é exercida pelo psicólogo por meio da de- finição dos processos mentais e comportamentais e utilização de méto- dos psicológicos aceitos, atendendo rigorosamente à diligência judicial, sem haja emissão de juízo de valor. Assim, é importante destacar que o psicólogo também responde judicialmente por seus atos na medida de sua culpabilidade. Contudo, é preciso diferenciar a psiquiatria e psicologia foren- se, pois, enquanto a primeira cuida dos distúrbios mentais e suas liga- ções com o delito, a psicologia forense trata dos elementos subjetivos do indivíduo e de sua personalidade e como este indivíduo significa suas experiências com o objetivo de ajudar o juiz no processo decisório. É importante salientar que a Psicologia Forense não caminha sozinha, ela necessita de outras ciências, por exemplo, Direito, Crimi- 64 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S nologia, Psiquiatria, Medicina, Sociologia, Antropologia, dentre outras. A Perícia Psicológica Forense consiste em um exame científico feito por um especialista por meio da utilização de métodos e técnicas aceitos pela Psicologia com a finalidade de preparar diagnósticos em relação a fatos e indivíduos, traçando uma provável conexão de causa e efeito, e reconhecer a motivação e alterações psicológicas dos agentes envolvidos no processo judicial. Podemos definir a perícia psicológica no contexto forense como o exame científico, desenvolvido por um especialista, realizado com o uso de métodos e técnicas reconhecidas pela Psicologia, com o objetivo de elaborar análises e conclusões sobre os fatos e pessoas, apontando uma possível correlação de causa e efeito, além de identificar a motivação e as alterações psicológicas dos agentes envolvidos no processo judicial. Para que a pessoa seja um perito, é preciso que tenha concluí- do o nível superior e esteja inscrito em seu conselho de classe. No caso do psicólogo perito, deverá possuir graduação em Psicologia e inscrição regular no Conselho Regional de Psicologia. Não é necessário que o psicólogo tenha especialização na área de perícia, apenas é preciso que tenha capacidade técnica, embo- ra aquele que tem formação na área jurídica/forense é mais capaz de responder às questões apontadas no processo judicial. Caso o psicólogo perito preste informações falsas, responderá judicialmente por dolo ou culpa e, neste caso, poderá ser responsabili- zado pelos prejuízos causados à parte, ficando inabilitado para exercício da profissão por 2 anos e incorrer na sanção penal que a lei estabelecer. A PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA AO CÁRCERE O tratamento penal precisa ter uma intervenção multidisciplinar e institucionalizada, ou seja, a instituição como um todo deve estar dedicada ao preso e procurar ser inclusiva. Por óbvio, tais trabalhos são mais mar- cantes nos regimes prisionais fechados, onde esses trabalhos têm maior continuidade e exclusividade dado ao tempo em que o preso ali passa. Data-se da década de 60 o ingresso dos primeiros psicólogos no sistema penitenciário do Brasil no Estado do Rio de Janeiro, logo após a regulamentação da profissão em 1962, inicialmente, no interior de mani- cômios judiciários e no âmbito das medidas de segurança. Todavia, em relação aos estabelecimentos prisionais, a presença dos profissionais de psicologia deu-se, em geral, a partir do final da década de 1970, simulta- neamente à elaboração do projeto da Lei de Execução Penal. A partir da promulgação da LEP – Lei n. 7.210 – em 1984, o 65 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S exame criminológico foi efetivamente implementado no sistema prisional brasileiro. Esta foi a primeira regulamentação sobre saúde penitenciária no país, e embora o art. 14 contemplassem a assistência médica, farma- cêutica e odontológica, não tratava da assistência psicológica ao preso. Nesta lei foi instituída que, em cada presídio, seria criada uma Comissão Técnica de Classificação (CTC) que o psicólogo passa a ser membro efetivo em conjunto com o assistente social e o médico psi- quiatra. Na época, a CTC deveria funcionar como um dispositivo para o acompanhamento individualizado da pena, devendo propor à autorida- de judicial as progressões e regressões de regime. Mesmo assim, a atividade de psicologia não era reclamada na legislação, o que permitia que o psicólogo atuasse apenas como perito e como membro da CTC. Apenas a partir de 1994 com as Regras Mí- nimas para o Tratamento do Preso no Brasil (Resolução n. 14 de 11 de novembro de 1994) é que a assistência psicológica foi incluída como serviço de saúde aos presos. Posteriormente, em 2003, é criada a Portaria Interministerial n. 1777 que se transformou em 2014 na Política Nacional de Atenção Inte- gral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito do SUS – Portaria Interministerial n. 1, de 2 de ja- neirode 2014, que alterou a composição mínima de saúde nas prisões passando a incluir um psicólogo na equipe de Atenção Básica (EAB) nas unidades com um efetivo carcerário de 501 a 1.220 PPL. Conforme determina tal portaria, o principal objetivo da legislação é promover o acesso das pessoas em PPL à Rede de Atenção à Saúde; garantir autonomia dos profissionais de saúde que trabalham com essas pessoas; qualificar e humanizar a atenção à saúde no sistema prisional por meio de ações conjuntas das áreas da saúde e da justiça; promover relações intersetoriais com as políticas de direitos humanos, afirmativas e sociais básicas e fomentar e fortalecer a participação e o controle social. De acordo com a edição de 2007 das Diretrizes para Atuação e Formação dos Psicólogos do Sistema Prisional Brasileiro do Conse- lho Federal de Psicologia realizado conjuntamente ao DEPEN – Depar- tamento Penitenciário Nacional – prática dos psicólogos em estabele- cimentos prisionais aconteceram na prática, ou seja, não receberam um treinamento específico para exercer a função de realizar perícias, elaborar laudos e pareceres que eram usados como fundamento para decisões judiciais na concessão de benefícios. Além dessas questões de capacitação, muitos outros questio- namentos permeavam a atividade do psicólogo no ambiente do cárcere. No Fórum Nacional de 2010, o texto exibido pelo Conselho Fe- deral de Psicologia “Desafios para Resolução sobre a Atuação do Psi- 66 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S cólogo no Sistema Prisional” traduz o exercício da psicologia em meio prisional, desde o início, como um “modelo médico-psiquiátrico do sé- culo XIX” e de “concepções higienistas” ainda com sob influências po- sitivistas, em que suas práticas serviam como mecanismos de controle social, segregando os indivíduos indesejáveis longe da sociedade. A partir da promulgação da Lei de Execuções Penais, apare- cem novos aspectos em relação às atividades dos psicólogos em esta- belecimentos prisionais, principalmente no que tange à sua participação como membro da CTC e ao exame criminológico. Durante a década que se seguiu dos anos 2000, muitos even- tos e muitos materiais foram produzidos pelo CFP com o objetivo de trazer para o debate medidas que pudessem contribuir efetivamente com o processo de ressocialização do preso, essencialmente com a minimização de danos psíquicos provenientes do cárcere, por meio de uma rede de auxílio aos familiares e acompanhamento psicossocial. No ano de 2005, aconteceu o 1º Encontro Nacional dos Psicó- logos do Sistema Prisional que deu início a uma parceria entre o De- partamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e o Conselho Federal de Psicologia (CFP) que consumou na publicação, em 2007, das Diretrizes para Atuação e Formação dos Psicólogos do Sistema Prisional Brasilei- ro, resultante de um estudo feito com os profissionais de psicologia que trabalhavam em estabelecimentos prisionais, e que teve como objetivo apontar questões e observações em relação ao exercício das atividades do psicólogo no contexto prisional, além de pensar medidas que pudes- sem contribuir mais do aquelas já realizadas. Já em 2008, foi editado o documento Falando Sério sobre Prisões, Prevenção e Segurança Pública, em que o CPF faz uma contextualização em três dimensões para enfrentamento da crise no sistema prisional: 1. A questão da superlotação dos estabelecimentos prisionais e o aumento da demanda por encarceramento. 2. As condições degradantes de vida nas prisões brasileiras, situa- das entre as piores em todo o mundo, produtoras de sofrimento e violência. 3. A política criminal brasileira centrada nas penas privativas de liberdade, em detrimento das penas alternativas. O Conselho Federal de Psicologia edita em 2010 a Resolução n. 009 e cria uma controvérsia entre os profissionais e o judiciário, isto porque a resolução impedia que o psicólogo de estabelecimentos peni- tenciários fizesse o exame criminológico e que participasse de ações e/ ou decisões que envolvessem práticas de caráter punitivo e disciplinar. Em setembro do mesmo ano, o CPF edita a Resolução n. 019/2010 sus- pendendo os efeitos da Resolução n. 009/2010 pelo prazo de 6 meses. Depois de muita discussão, o CPF edita, em 25 de maio de 67 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S 2011, a Resolução n. 012/2011 que retira do texto anterior o impedi- mento para realização do exame criminológico pelo psicólogo em es- tabelecimento prisional, entretanto, mantém a vedação em relação à participação de ações de caráter punitivo e disciplinar. Apenas em abril de 2015, na decisão de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal contra o Conselho Federal de Psicologia, a Resolução n. 012/2011 é declarada nula e perde seu efeito em todo território nacional. Concomitantemente, existe uma movimentação legislativa para que o exame criminológico seja reintroduzido no ordenamento jurídico e exigido como condição para concessão de benefício na progressão de regime, conforme é possível se verificar nos Projetos de Lei n. 75/2007, do senador Gerson Camata e n. 190/2007, da senadora Maria do Car- mo Alves. Contudo, embora a letra da lei tenha trazido um caráter mais humano para estabelecimento prisional, isto não é o que se vê no dia a dia na realidade das penitenciarias pelo Brasil afora, pois 36 anos após a promulgação da LEP, muitas penitenciárias não seguem um terço do que a lei determina, sendo comum se deparar com a ausência de CTC, de alimentação e condições de higiene. Trata-se de estabelecimentos com altos índices de DSTs (do- enças sexualmente transmissíveis), em especial o HIV, dentre outras doenças como a tuberculose, e doenças de pele que são um risco tanto para a população carcerária, quanto para os funcionários e para os fa- miliares que visitam as prisões. É um desafio diário. Aqueles que se opõem ao exame criminológico consideram que o exame não cumpre rigor científico e não traz respostas asser- tivas aos questionamentos demandados pelo judiciário, bem como se trata de uma sujeição compulsória, o que poderia ferir o princípio ético do consentimento do examinando, além da precariedade de condições dos estabelecimentos prisionais, laudos incompletos feitos pela CTC ou com uma visão com uma concepção positivista ou estereotipados. O que se pode observar é que, geralmente, o exame de clas- sificação (art. 8º, LEP) que deve ser realizado no início de cumprimento da pena não é feito, mas apenas aqueles que fundamentam decisões judiciais. Dessa forma, a finalidade para a qual o exame criminológico se originou não cumpre seu papel, pois acaba por não individualizar a pena daquele indivíduo. Ao descumprir as regras de instalação da CTC, a instituição penitenciária acaba delegando ao psicólogo a responsabilidade pelo ve- redito em relação à progressão da pena. Como dito anteriormente, embora a Lei n. 10.792/03 tenha extin- 68 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S guido a exigência do exame criminológico, muitos magistrados continuam a exigi-lo até hoje com base na Súmula Vinculante nº 26 do Supremo Tribunal Federal (STF). Esse fator possivelmente tem contribuído para que, em várias regiões do país, o exame criminológico continue sendo a principal prática dos psicólogos que atuam no sistema prisional. Um estudo realizado pelo Conselho Federal entendeu que as ne- cessidades jurídicas em relação à psicologia estiveram ligadas às ques- tões comportamentais do indivíduo considerado indesejável, por exemplo, periculosidade, psicopatia, reincidência ou perspectivas de tratamento. Hoje, a prática psicológica trata de questões heterogêneas, por exemplo, a eficiência do exame criminológico. A psicologia não é capaz de responder a aspectos como a reincidência se for consideradaao fenômeno complexo como é o crime. Por meio da produção de pareceres, como os exames crimi- nológicos para aferição de mérito, a psicologia se coloca a serviço da garantia da defesa social, logo, do controle social exercido pelo siste- ma punitivo. Ressalta-se que a avaliação psicológica é uma importante atuação da profissão, e tem como meta informar acerca de fenômenos psicológicos. Entretanto, o crime e a reincidência são fenômenos so- ciais por excelência e, portanto, devem ser considerados sob um prisma social, cultural, político e econômico. TESTE DE PERSONALIDADE Os testes de personalidade e exames criminológicos têm por fim avaliar a personalidade do indivíduo por meio de desenhos, qua- dros, ensaios, entre outros, que apresentam estímulos à pessoa que está sob avaliação, captando seus aspectos afetivos. A eficiência e a confiabilidade na realização dos testes para um parecer assertivo estão condicionadas à capacidade daquele que aplica a técnica, bem como das condições daquele que é avaliado. Outros testes de personalidade são aplicáveis, quais sejam: a) PMK (psicodiagnóstico miocinético de periculosidade delin- quencial), criado por Myra Y Lopes, tem fundamentação na consciên- cia motora, unindo a psiquê ao movimento muscular, ou seja, avalia-se a personalidade do indivíduo por meio de suas atitudes, as quais são previamente idealizadas no cérebro antes de acontecerem e advém de movimentos musculares em resultado de estímulos recebidos. Ex.: em- prego para candidatos a motoristas, maquinistas e para aquelas fun- ções em que será necessário portar arma de fogo. b) Teste da árvore de Koch, neste exame, o examinando de- 69 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S senhará uma árvore, e esta representará seu autorretrato, de tal forma que o desenho proporcionará esclarecimentos em relação ao desenvol- vimento e caráter do examinando. c) Teste de Apercepção Temática (TAT), neste teste, será exi- bido ao examinando várias pranchas gráficas sobre as quais ele deverá contar uma história. d) Minnesota Multiphasic Personality Inventary (MMPI), tra- ta-se de 550 afirmativas sobre as quais o examinando deve assinalar como verdadeira ou falsa quando cabível a si mesmo. e) Teste de Rorscharch, o examinando receberá 10 pranchas com manchas disformes de tinta devendo responder o que acredita que seja cada uma delas. f) Inventário Fatorial de Personalidade (IFP), tem por fim anali- sar a pessoa normal em quinze necessidades ou motivos psicológicos: assistência, dominância, ordem, denegação, interação, desempenho, exibição, heterossexualidade, afago, mudança, persistência, agressão, deferência, autonomia e afiliação. g) Teste de Atenção Concentrada, tem por objetivo analisar a capacidade de concentração que o indivíduo tem em determinado inter- valo de tempo. h) Teste Palográfico, faz uma análise da personalidade do in- divíduo por meio da expressão gráfica com a produção de leves traços verticais e paralelos. i) QUATI, que examina a personalidade por meio das preferên- cias situacionais de cada sujeito. j) Teste de Raciocínio Lógico, criado com o objetivo de apurar o raciocínio lógico de motoristas, mas, também, pode ser usado na sele- ção de pessoal e avaliação do potencial de funcionários. k) Teste Não Verbal de Inteligência, utilizado para analisar a capacidade intelectual por meio de aspectos gráficos ou numéricos. l) Inventário de Administração de Tempo, ferramenta que tem por fim coletar dados sobre a maneira como os indivíduos usam o seu tempo no trabalho. m) Teste de Zulliger, que pode ser usado para toda a finalidade de diagnóstico, avaliação da personalidade, seleção de pessoal, avalia- ção de desempenho etc. n) Teste Wartegg, método de aferição da personalidade por meio de desenhos alcançados por meio de uma diversidade de peque- nos elementos gráficos que se enquadram como uma série de temas formais a serem desenvolvidos pelo indivíduo de maneira pessoal. 70 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2017 Banca: IBADE Órgão: SEJUDH - MT Prova: Enfermeiro De acordo com o Plano Nacional de Saúde no Sistema Peniten- ciário, a equipe técnica mínima para a atenção de até 500 pessoas presas deverá ser composta por: a) Assistente social, enfermeiro, odontólogo, nutricionista, assistente social e técnico de enfermagem. b) Médico, enfermeiro, odontólogo. Psicólogo, assistente social, auxiliar de enfermagem e auxiliar de consultório dentário. c) Psicólogo, odontólogo. Enfermeiro, auxiliar de enfermagem e auxiliar de consultório dentário. d) Enfermeiro, odontólogo, psicólogo, assistente social, técnico de en- fermagem e auxiliar de consultório dentário. e) Médico, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, odontólogo, assistente social, técnico de enfermagem e auxiliar de consultório dentário. QUESTÃO 2 Ano: 2011 Banca: FUNIVERSA Órgão: SES-DF Prova: SES-DF - Es- pecialista em Saúde - Assistente Social O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), ins- tituído pela Portaria Interministerial n.º 1.777/2003, tem como obje- tivo primordial garantir o acesso à saúde pelas pessoas privadas de liberdade, oferecendo ações e serviços de atenção básica in loco, ou seja, dentro das unidades prisionais. Essas ações envolvem, entre outras, campanhas de vacinação; di- reito à visita íntima; distribuição de kits de medicamentos da farmá- cia básica, incluindo a distribuição de preservativos masculinos e medicamentos específicos para gestantes; inclusão da população penitenciária na política de planejamento familiar; e são desenvol- vidas por equipes multiprofissionais, compostas minimamente por médico, cirurgião-dentista, psicólogo, assistente social, enfermeiro e auxiliar de enfermagem, com ações voltadas para prevenção, pro- moção e tratamento de agravos em saúde, primando pela atenção integral em saúde bucal, saúde da mulher, doenças sexualmente transmissíveis, AIDS e hepatites virais, saúde mental, controle da tuberculose, hipertensão e diabetes, hanseníase, assistência farma- cêutica básica, imunizações e coletas de exames laboratoriais. Internet: (com adaptações). Considerando as informações do texto e o conteúdo expresso no PNSSP, assinale a alternativa que apresenta um dos princípios bá- 71 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S sicos desse plano. a) A transparência na perspectiva de prestar assistência integral resolu- tiva, contínua e de boa qualidade às necessidades de saúde da popu- lação penitenciária. b) A qualidade na perspectiva de contribuir para o controle e(ou) a redução dos agravos mais frequentes que acometem a população penitenciária. c) A justiça na perspectiva de definir e implementar ações e serviços consoantes com os princípios e as diretrizes do SUS. d) A cidadania na perspectiva dos direitos civis, políticos, sociais e re- publicanos. e) Os direitos humanos na perspectiva de contribuir para a democratiza- ção do conhecimento do processo saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da saúde. QUESTÃO 3 Ano: 2018 Banca: AOCP Órgão: SUSIPE-PA - Técnico em Enfermagem A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Priva- das de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) foi instituída por meio da Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014, e tem como objetivo principal: a) Formar equipes de especialistas para atuar apenas dentro de unida- des penais. b) Garantir que os presos não recebam atendimento fora da unidade penal. c) Aumentar a fiscalização e vigilância em saúde dentro do sistema pe- nitenciário. d) Garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade no sistema pri- sional ao cuidado integral no SUS. e) Minimizar o risco de contaminação e epidemias no sistema peniten- ciário. QUESTÃO 4 Ano:concebido a partir de uma visão individu- alista e o delinquente era percebido como um ser anormal, devendo ser banido da comunidade que integrava. Antigamente, o criminoso era compreendido como alguém motivado pelo demônio. O movimento Renascentista teve como característica mais mar- cante a valorização do ser humano, e o antropocentrismo colocou a pes- soa humana no centro das reflexões, o que possibilitou uma visão mais humanizada das penas e do tratamento aos condenados a partir deste momento, trazendo maior relevância às causas sociais e econômicas. No entanto, a explicação para o comportamento criminoso ain- da é mola propulsora dos estudos de diversas áreas, tanto nas ciências jurídicas, quanto nas ciências humanas e de saúde. Dessa forma, este material tem por fim apresentar uma breve amostragem sobre a Psicologia Jurídica e a sua aplicação no Direito Crimi- nal, demonstrando como se relacionam em relação à investigação criminal, a relação da Psicologia com a criminologia, as características comporta- mentais dos delinquentes, as motivações que podem levar o indivíduo ao cometimento de atos delituosos, alguns tipos mais comuns de delitos, o exame criminológico, a perícia psicológica forense, e a psicologia jurídica aplicada ao cárcere, bem como os principais métodos e técnicas que sub- sidiam a atuação do psicólogo jurídico, explicando e diferenciando algumas delas, sem a pretensão de esgotá-las no presente trabalho. Nesta unidade, a reunião entre a psicologia e o direito desta- ca-se para tentar conciliar as teorias psicológicas com as determina- ções legais, lembrando que estas são determinadas pela ética social e construídas de acordo com determinantes históricos, sociais, culturais e econômicos. Essas considerações preliminares trazem uma perspec- tiva mais ampliada; partindo-se da alegação de que o entendimento so- bre o comportamento criminoso abre um grande espectro teórico, cujo entendimento, com o objetivo de coibir o cometimento de crime e esti- mular políticas públicas que previnam a ocorrência criminosa, solicita uma ampla interdisciplinaridade, uma vez que nenhuma ciência atingiu o grau de previsibilidade efetiva do comportamento humano. 12 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S INTRODUÇÃO A Psicologia Jurídica, como ramo da Psicologia que se conec- ta com as Ciências Jurídicas, vale-se de recursos técnicos e teóricos, definindo-se como área interdisciplinar de desempenho em quadro mul- tidisciplinar para melhor entendimento do comportamento do indivíduo. Este ramo surgiu da Psicologia do Testemunho cuja prática be- neficiou a consolidação da Psicologia como uma ciência, em razão da contribuição na comprovação da confiabilidade de testemunhos, princi- palmente a partir dos testes psicológicos na metade do séc. XX, bem como o desenrolar de trabalhos sobre meios de prova como interroga- tórios, dos falsos testemunhos e falsas memórias, servindo de ensaio para a criação dos primeiros laboratórios de Psicologia. PSICOLOGIA E DIREITO 12 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S 13 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S Não obstante, no Brasil, a prática psicológica jurídica somente tinha sido validada no ano 2000 pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP, ela foi iniciada ainda na década de 1960 na área criminal em trabalhos voluntários realizados em pessoas que estavam presas e em adolescentes infratores que passavam por avaliação psicológica. Por volta dos anos de 1979, a atuação do psicólogo em âmbito jurídico é ampliada à área civil, por meio de trabalho voluntário realizado com famílias em vulnerabilidade econômica-social no Tribunal de Justi- ça de São Paulo. Apenas em 1985, a entrada do cargo de oficial do psicólogo no Tribunal de Justiça de São Paulo é exigida por meio de concurso público. No final da década de 90, o estado do Rio de Janeiro começa a realizar concursos públicos para contratação de psicólogos na estrutura judiciária. A partir desse momento, os Tribunais de Justiça em todas as suas esferas, bem como as Defensorias Públicas, os Ministérios Públi- cos e as penitenciárias passaram a contar com o profissional de psico- logia em seus quadros. Filme sobre o assunto: A experiência (Oliver Hirschbiegel, 2001) Minority Report (Steven Spielberg, 2002) DETERMINAÇÃO TERMINOLÓGICA: PSICOLOGIA JUDICIAL X PSICOLOGIA CRIMINAL X PSICOLOGIA FORENSE X PSICOLOGIA CARCERÁRIA X PSICOLOGIA MILITAR X PSICOLOGIA CRIMINO- LÓGICA A psicologia é a ciência que cuida do estudo dos elementos psíquicos e comportamento do ser humano, sejam influenciados pelo coletivo ou sejam resultado individual, por meio da avaliação de ideias, valores e emoções. Subdivide-se em vários ramos, quais sejam: psicologia clínica, psicologia jurídica, psicologia escolar/educacional, psicologia organiza- cional e do trabalho, psicologia do trânsito, psicologia hospitalar, psico- pedagogia, psicologia social, psicomotricidade, psicologia do esporte e neuropsicologia. Apesar de ser um ramo novo, a Psicologia Jurídica é um ramo 14 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S promissor e acredita-se que isso se deve a sua ligação com o direito, uma vez que ambos têm como finalidade o comportamento humano, a psicologia prioriza questões específicas da vida do ser humano, seus re- lacionamentos e afetos, enquanto o direito cuida da relação do indivíduo na sociedade, seu comportamento no tocante às leis estipuladas, à apli- cação de normas e regras com o objetivo de manter seu bem-estar social. Para complementar o estudo do comportamento humano, é pre- ciso citar a criminologia, uma ciência empírica que preserva a importância de que o delito seja julgado também pelos motivos que levaram o indi- víduo a cometê-lo, compreendendo o crime como um fenômeno social. Na Psicologia Jurídica, existem diferentes campos intimamen- te relacionados entre si, entre os quais vale a pena destacar principal- mente os seguintes: Psicologia Jurídica propriamente dita, Psicologia Forense, Psicologia Legal, Criminologia, Psicologia Policial etc. Isso quer dizer que a Psicologia Jurídica teria dois significados: um mais amplo que incorporaria todas as áreas psicológicas relaciona- das ao âmbito da lei; e outro mais reduzido, que, para diferenciação, será chamado de Psicologia Judicial e definido como "a aplicação da Psicolo- gia Social que estuda os comportamentos psicossociais de pessoas ou grupos que pensam da mesma forma, estabelecidos e controlada por lei em seus diversos aspectos, bem como os processos psicossociais que orientam ou facilitam atos e regulamentos legais" (SORIA, 1998, p. 4). Isso posto, dentro da psicologia jurídica, no sentido amplo, existem diferentes campos, embora relacionados uns aos outros. Des- tarte, Soria (2005, pp. 33-35) subdividem a Psicologia Jurídica em doze áreas: judicial, forense, penitenciária, criminal e prevenção, vitimização, policial, criminal, militar, investigação da juventude, resolução alternati- va de conflitos, etiqueta da lei e regra legal, quais sejam: • Psicologia Judicial é aquela divisão da Psicologia Jurídica que estuda a influência de fatores extralegais nas decisões dos órgãos judiciais, seja individual ou colegiado, juízes ou jurados, sejam eles pro- fissionais ou leigos. • Criminologia ou Psicologia Criminal é a disciplina que lida com ajudar a explicar o crime e fornecer medidas para o seu controle. Enquanto a Psicologia Criminologia aborda o crime, o estudo do ato criminoso é uma tentativa de preveni-lo (com programas de tra- tamento para infratores ou com medidas destinadas a tornar as vítimas menos vulneráveis), a Psicologia Legal se cuida de estudos psicológi- cos no âmbito do Tribunal, e também trabalha no âmbito dos aspectos2020 Banca: CESPE Órgão: TJ-PA Prova: Analista Judiciário - Psicologia A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência como um grave problema de saúde pública e uma violação aos di- reitos humanos. A respeito desse tema, julgue os seguintes itens. I. A denúncia de violência é cabível apenas se concretizada a agres- são física, evitando-se, assim, eventual calúnia e leviandade do(a) denunciante. II. Por conta do sigilo, os psicólogos, no exercício da profissão devem notificar os casos de violência contra criança apenas após 72 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S terem certeza de que o menor é, de fato, vítima. III. A notificação de confirmação ou de suspeita de caso de violên- cia é compulsória aos profissionais que atenderem pessoas nessa situação. Assinale a opção correta. a) Apenas o item II está certo. b) Apenas o item III está certo. c) Apenas os itens I e II estão certos. d) Apenas os itens I e III estão certos. e) Todos os itens estão certos. QUESTÃO 5 Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: TJ-BA Prova: Analista Judiciário - Psicologia “De acordo com o relatório Mundial sobre violência e Saúde da OMS, em 48 pesquisas realizadas com populações do mundo todo, de 10% a 69% das mulheres relataram ter sofrido agressão física por um par- ceiro íntimo em alguma ocasião de sua vida. (...) A violência domésti- ca e o estupro seriam a sexta maior causa de anos de vida perdidos por morte ou incapacidade física em mulheres de 15 a 24 anos – mais do que todo tipo de câncer, acidentes de trânsito e guerras”. (MOR- GADO, Rosana. Mulheres em situação de violência doméstica: limites e possibilidades de enfrentamento. In BRANDÃO, E. et GONÇALVES, H. S. Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: NAU, 2011). Os dados mundiais disponíveis suscitam a necessidade de reto- mar-se à ideia de que a violência doméstica expressa: a) Um fenômeno típico das classes pauperizadas mais vulneráveis so- cialmente. b) Uma dinâmica em que os agressores são portadores de psicopatolo- gias disfuncionais. c) A necessária criminalização das condutas perpetradas pelos agressores. d) A forçosa repetição da violência, já que os agressores foram vítimas ao longo de sua vida. e) Um conjunto de relações de violência que se desenvolvem a partir de uma escalada da violência. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE “A teoria do labelling approach (interacionismo simbólico, etiquetamen- to, rotulação ou reação social) é uma das mais importantes teorias de conflito. Surgida nos anos 1960, nos Estados Unidos, seus principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker. Por meio dessa teoria ou enfoque, a criminalidade não é uma qualidade da conduta 73 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S humana, mas a consequência de um processo em que se atribui tal “qualidade” (estigmatização)”. (página 62 - Manual Esquemático de Cri- minologia – 8ª Edição) A partir da afirmação acima, conceitue a teoria do labelling approach e justifique por que esta teoria compreende que “a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um proces- so em que se atribui tal qualidade”. Justifique sua resposta. TREINO INÉDITO São subdivisões do exame criminológico; o exame, exceto: a) Corporal. b) Moral. c) Psiquiátrico. d) Psicológico. e) Funcional. NA MÍDIA A CRISE DE SAÚDE ENTRE PRESOS EM RORAIMA. E A SUPERLO- TAÇÃO NOS PRESÍDIOS Detentos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, estão sofrendo infecções e ferimentos na pele. Relatórios apontam superlota- ção e más condições de higiene no local. O problema ganhou visibilidade quando imagens das mãos inchadas e feridas de um detento começaram a circular na internet. Veículos de imprensa local atribuíram os sintomas a uma bactéria desconhecida. No dia 17/01/2020, representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do estado foram ao Hospital Geral de Roraima, para onde pre- sidiários doentes são encaminhados, e reafirmaram que uma doença infecciosa desconhecida vinha atingindo detentos. Segundo o órgão, havia 24 pacientes, dos quais sete estavam impedidos de andar devido ao inchaço nas articulações. Fonte: Nexo Data: 20 jan. 2020. Leia a notícia na íntegra: https://www.nexojornal.com.br/ex- presso/2020/01/20/A-crise-de-sa%C3%BAde-entre-presos-em- -Roraima.-E-a-superlota%C3%A7%C3%A3o-nos-pres%C3%ADdios NA PRÁTICA A profissão de psicólogo apenas foi regulamentada no Brasil em 1962 a partir da Lei n. 4.119. Diversamente do foco idealizado quando surgiu como ciência em mea- dos do séc. XIX, atualmente, a psicologia busca compreender o sujeito 74 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S biopsicossocial e sua rede que envolver áreas transdisciplinares. A psicologia jurídica na prática é um ramo a ser mais bem explorado ao longo dos próximos anos, a exemplo da importância do psicólogo no contexto prisional. O psicólogo pode ser solicitado a atuar como perito para averiguação das condições de discernimento ou sanidade mental das partes em lití- gio ou em julgamento, destacando-se o papel dos psicólogos junto ao Sistema Penitenciário e aos Institutos Psiquiátricos Forenses. Os psicólogos jurídicos que atuam nos Ministérios Públicos Estaduais concentram seu atendimento às demandas das Promotorias de Justiça relacionadas ao conhecimento específico na área de Psicologia, dentre as quais realizam avaliações psicológicas de pessoas em situação de violência, ou avaliação psicológica relacionadas à saúde mental, avalia- ções institucionais em entidades acolhedoras, dentre outras atividades. É possível também que o psicólogo seja demandado a atuar nas Defen- sorias Públicas Estaduais, onde fornecem assessoria aos defensores, auxiliando na realização de conciliações e na elaboração de laudos e encaminhamentos de casos a redes de serviços públicos. O Psicólogo Jurídico também poderá atuar avaliando e acompanhando adolescente que seja autor de ato infracional e que esteja submetido à medida socioeducativa regulamentada pelo Sistema Nacional de Aten- dimento Socioeducativo (SINASE). PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: - Como nascem os anjos (MURILO SALES, 1996) retrata essa face conflituosa, humana e social da criminalidade. - A respeito da pena de morte, indicam-se dois filmes paradigmáticos: O lavador de almas (Adrian Shergold, 2006) e A vida de David Gale (Alan Parker, 2003). - Papillon (Steve McQueen, 1973) - Carandiru (Luiz Carlos Vasconcelos, 2003) Documentário sobre o assunto: - O Cárcere e a Rua (Liliana Sulzbach, 2005) Séries sobre o assunto: - Garotas no Cárcere (Netflix, 2018) - Starred Up (Netflix, 2013) 75 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S GABARITOS CAPÍTULO 01 QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA A criminologia ou psicologia criminal é a disciplina que lida com a expli- cação de um crime e fornecer medidas para o seu controle (Blackburn, 1993). Enquanto a Psicologia Criminologia aborda o crime, o estudo do ato criminoso é uma tentativa de preveni-lo (seja com programas de tra- tamento para infratores ou com medidas destinadas a tornar as vítimas menos vulneráveis), a Psicologia Legal se trata de estudos psicológicos no âmbito do Tribunal e trabalha no âmbito dos aspectos psicológicos que levam a gerar novas leis na compreensão da reação social a eles. TREINO INÉDITO Gabarito: D 76 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 02 QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA São objetivos do Criminal profiling: fornecer a avaliação psicológica e so- cial do ofensor; analisar os objetos encontrados com o autor do crime, e elaborar estratégias que possam serutilizadas na entrevista aos suspeitos. TREINO INÉDITO Gabarito: C 77 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 03 QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA A teoria do labelling approach (interacionismo simbólico, etiquetamen- to, rotulação ou reação social) é uma das mais importantes teorias de conflito. Surgida nos anos 1960, nos Estados Unidos, seus principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker. Por meio dessa teoria ou enfoque, a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um processo em que se atribui tal “qualidade” (estigmatização). Assim, o criminoso apenas se diferencia do homem comum em razão do estigma que sofre e do rótulo que recebe. Por isso, o tema central desse enfoque é o processo de interação em que o indivíduo é chama- do de criminoso. A sociedade define o que entende por “conduta desviante”, isto é, todo comportamento considerado perigoso, constrangedor, impondo san- ções àqueles que se comportarem dessa forma. Destarte, condutas desviantes são aquelas que as pessoas de uma sociedade rotulam as outras que as praticam. A teoria da rotulação de criminosos cria um processo de estigma para os condenados, funcionando a pena como geradora de desigualdades. O sujeito acaba sofrendo reação da família, amigos, conhecidos, cole- gas, o que acarreta a marginalização no trabalho, na escola. Sustenta-se que a criminalização primária produz a etiqueta ou rótulo, que, por sua vez, produz a criminalização secundária (reincidência). A etiqueta ou rótulo (materializados em atestado de antecedentes, folha corrida cri- minal, divulgação de jornais sensacionalistas etc.) acaba por impregnar o indivíduo, causando a expectativa social de que a conduta venha a ser pra- ticada, perpetuando o comportamento delinquente e aproximando os indi- víduos rotulados uns dos outros. Uma vez condenado, o indivíduo ingressa numa “instituição” (presídio), que gerará um processo institucionalizador, com seu afastamento da sociedade, rotinas do cárcere etc. Uma versão mais radical dessa teoria anota que a criminalidade é ape- nas a etiqueta aplicada por policiais, promotores, juízes criminais, isto é, pelas instâncias formais de controle social. Outros menos radicais en- tendem que o etiquetamento não se acha apenas na instância formal de 78 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S controle, mas também no controle informal, no interacionismo simbólico na família e escola (“irmão ovelha negra”, “estudante rebelde” etc.). As consequências políticas da teoria do labelling approach são reduzidas àquilo que se convencionou chamar “política dos quatro Ds” (descrimi- nalização, diversão, devido processo legal e desinstitucionalização). No plano jurídico-penal, os efeitos criminológicos dessa teoria se deram no sentido da prudente não intervenção ou do direito penal mínimo. Existe uma tendência de vertente garantista, de não prisionização, de progres- são dos regimes de pena, de abolitio criminis etc. O problema criminal brasileiro ultrapassa a ridícula dicotomia de es- querda ou direita na política penal. É uma falácia pensar na criminalida- de atual como subproduto de uma rotulação policial ou judicial. Observa-se o crime organizado: uma verdadeira empresa multinacional, com produção, gerências regionais, inteligência, infiltração nas univer- sidades e no Poder Público, lavagem de dinheiro, hierarquia, disciplina, controle informal dos presídios. Isso seria produzido por etiquetamento? Certamente não, mas os penalistas brasileiros insistem na minimização do direito penal, na exacerbação de direitos dos presos, sendo “etique- tada” de reacionária, démodé ou “conservadora” qualquer medida de contenção e ordem imposta pelo Estado. TREINO INÉDITO Gabarito: A 79 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S EFEITO HAWTHORNE: Conceito que se originou nos Estudos Hawthor- ne e que consiste numa mudança positiva do comportamento de um gru- po de trabalhadores em relação aos objetivos de uma empresa devido ao fato de eles se sentirem valorizados pela gerência ou por sua direção. Esse comportamento ocorreu durante os experimentos realizados em Hawthorne, quando os pesquisadores passaram a ouvir os desabafos e as sugestões dos trabalhadores. Estes consideraram que o simples fato de estarem sendo ouvidos pela empresa – e algumas de suas sugestões postas em prática – tinha sido a melhor coisa que se fizera até então. Os trabalhadores se sentiam valorizados também por terem sido se- lecionados para participar dos experimentos de Hawthorne: nas salas especiais onde estes se realizavam, a supervisão se exercia de uma forma muito menos opressiva e tirânica do que na fábrica. ESCALA HARE PCL-R: A escala Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R) é considerada o "padrão ouro" na avaliação da psicopatia. É o instrumento mais extensamente investigado em termos de suas proprie- dades psicométricas dentro da área. PILOEREÇÃO: A piloereção é um fenômeno frequentemente encon- trado em pacientes submetidos a teste de ecocardiografia de estresse com injeção intravenosa de dobutamina. A incidência aumenta quando é perguntado aos pacientes avisados previamente sobre a presença de piloereção durante a injeção de catecolamina. SKINHEAD: É uma palavra em inglês que significa "cabeça raspada" em português. É uma expressão que descreve um grupo social, que teve início na Inglaterra. A palavra skinhead é formada pela junção de skin (que significa pele) e head, que significa cabeça. Skinhead também é um movimento cultural iniciado nos anos 60 do sé- culo XX no Reino Unido. Considerado por muitos a fusão de duas sub- culturas, os mods e os rudeboys, os seus representantes eram quase exclusivamente pertencentes à classe operária. Nos anos 80, a ideologia skinhead sofreu várias alterações, e houve uma divisão entre grupos muitos diferentes, com ideias e formas de atuação distintas. Foi nessa altura que alguns grupos passaram a ado- tar influências neonazistas e homofóbicas. Nessa altura, também houve uma mistura e alguns conflitos com elementos do movimento punk, o que causou uma rivalidade durante vários anos. Com o passar do tempo, a palavra skinhead é usada quase exclusivamen- 80 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S te para se referir a indivíduos fascistas ou que pertencem a grupos neona- zistas, apesar de nem todos os skinheads seguirem essas doutrinas. 81 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 1999. BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Trad. Flório De Angelis. Bauru: Edipro, 2001. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal; parte geral. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. CARVALHO, Hilário Veiga de. Compêndio de criminologia. São Paulo: Bushatsky, 1973. CARVALHO, Hilário Veiga de et al. Compêndio de medicina legal. São Paulo: Saraiva, 1987. DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Le- tras, 1996. ______. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. ______. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimen- tos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicolo- gia jurídica. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2020. FERNANDES, N.; FERNANDES, V. Criminologia integrada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 19. ed. 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Certos benefícios da Psicologia Fo- rense são realizados em contextos bem definidos, como a atividade do psicólogo penitenciário que se encaixa nos casos acima, uma vez que desempenha outras funções, como o tratamento que iria mais fundo no escopo de psicóloga nos tribunais de família, engajada na avaliação de diferentes membros em prol do bem-estar das crianças. Por sua vez, Miguel Angel Soria (2005, p. 33) o define como "aquele ramo da Psicologia Jurídica que desenvolve o seu conhecimen- to e aplicações com vista a concluir as suas conclusões dentro de um tribunal com o objetivo de ajudar o tribunal na sua tomada de decisão” (SORIA, 2005, p. 33). De maneira geral, os termos Psicologia Legal e Psicologia Fo- rense são considerados termos equivalentes, apesar da Alemanha e Holanda usarem mais o primeiro, à medida que os Estados Unidos e a Inglaterra utilizam mais o segundo termo. • Psicologia Policial: não muito explorada no Brasil, os psicó- logos aqui exercem nas corporações policiais atividades como a sele- ção das pessoas que são aprovadas em concursos públicos, bem como preparação de aulas no curso de preparação das academias de polícia. Há alguns estudiosos que defendem uma psicologia policial de base interventiva, ou seja, que ultrapasse as simples atividades corri- queiras dos psicólogos policiais, propondo: - O melhoramento da imagem da polícia perante a sociedade. - Melhor qualidade de vida aos sujeitos policiais, por meio de adequada supervisão e assistência psicológica. - Aperfeiçoamento de capacidades e maior efetividade em seus trabalhos. - Redução dos impactos psicossociais nos policiais e naqueles cidadãos que recorrem à Corregedoria por motivos diversos. - Prestação serviço à sociedade em conformidade com os Di- reitos Humanos. Os autores Ibáñez e González (2002) distinguem a Psicologia Policial em dois tipos de aplicações: a) A aplicação interna consiste em conhecimentos psicológicos aplicados aos integrantes do Corpo e das Forças de Segurança após a entrada em tais corporações, sendo exercida por meio da seleção de pessoas, curso de formação de policiais, estudo da organização e da 16 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S estrutura organizacional e avaliação psicossocial dos integrantes. b) Implementação operacional que é realizada por psicólogos ou por agentes especializados em indivíduos que estão ou podem estar relacionados com a atividade dos Corpos Policiais. Neste caso, há uma série de técnicas como por exemplo a entrevista cognitiva, traçagem de perfis criminais e as atuações em crises ou catástrofes. Em última análise, a subcultura policial possui uma série de aspectos a serem considerados, uma vez que a socialização de seus integrantes singular possui grande solidariedade entre si, costumam não acreditar em ninguém, portanto não são adeptos da presunção de inocência, costumam considerar todas as informações como sigilosas e se vestem de um conservadorismo excessivo. Este conceito de subcultura é, portanto, particularmente útil para estudar grupos que, como a polícia, "opõem-se em um ou mais aspectos o resto do complexo cultural ao qual pertencem e que enfren- tam de várias maneiras, ou seja, através de produções simbólicas ou simbólicas transgredido sua ordem" (López Latorre y Alba, 2006, p. 82). • Psicologia Carcerária explora e estabelece processos de ava- liação e tratamento de pessoas que estão sob custódia na prisão, são condenados ou aguardam julgamento, e os processos subsequentes de tipo comunitário destinado à reintegração social. Sua aplicabilidade está expressamente estabelecida nos regulamentos prisionais: programas de reintegração e o sistema de classificação dos presos (Soria, 2005, p. 34). • Psicologia Militar; muito fraco no Brasil, mas com muita rele- vância em outros países, é muito próximo à Psicologia Policial, como sub- cultura policial e subcultura militar, compartilham muitas características. • Psicologia Criminologia consiste na aplicação da Psicologia e, sobretudo, da Psicologia Social ao estudo do crime. Trata-se da sub- divisão da Psicologia Jurídica que avalia os aspectos individuais, bio- lógicos, familiares, sociais e culturais que fazem com que o indivíduo cometa um crime. Por este motivo, é possível defini-lo como ciência que determina tanto o delito quanto os motivos que levaram o indivíduo a cometer o crime, assim como medidas que possam ter o alcance pre- ventivo e de controle, para fins de políticas públicas. AS FUNÇÕES MENTAIS SUPERIORES – SÍNDROME DE PIRAN- DELLO Antes de traçar o elo entre a psicologia jurídica e a investiga- ção criminal propriamente dita, é importante conhecer os instrumentos que a mente possui para constituir a realidade, levando em conta que a 17 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S psicologia se utiliza da realidade psíquica produzida pelas pessoas com base nos conteúdos arquivados na mente. O objetivo das técnicas de psicologia é que as pessoas pos- sam identificar elementos até então desconhecidos que as encaminha- vam para um comportamento indesejado, a hesitação e apreensão. Seguem abaixo os fenômenos mentais utilizados para a forma- ção das imagens das quais o cérebro se utiliza para criar conteúdo com os quais o psiquismo lida. • Corpo, cérebro e mente: No livro “o Erro de Descartes”, o Prof. António Damásio, chefe do departamento de neurologia da Univer- sidade de Iowa, contraria Descartes (penso, logo existo) quando afirma que sem corpo não há mente (2004, p. 226). Para o mundo científico e, especialmente, a psicologia, é importante reconhecer que o ser hu- mano é formado dois elementos: corpo e mente, na qual “o cérebro é a audiência cativa do corpo” (DAMÁSIO, 2000, p. 196), haja vista que in- centiva reflexões conceituais e metodológicas de grande acepção para a compreensão das engrenagens que dominam o comportamento. É exatamente no cérebro onde ocorrem as funções mentais superiores. O que a mente coordena não extrapola as fronteiras de de- sempenho das organizações cerebrais e as capacidades dessas fun- ções, por meio do processamento de tudo que se está armazenado ali. As funções mentais superiores ocorrem concomitantemente, embora neste material estejam separados apenas para que possam ser estudados e devidamente compreendidos. Cada uma das funções con- siste numa espécie de elementos formados pelas pessoas que juntos formam imagens mentais, tanto dos próprios indivíduos como do mun- do, fazendo com que passem a interpretar os estímulos recebidos e elaborem conceitos e comportamentos a partir disso. São funções mentais superiores: a sensação, a percepção, a atenção, a memória, o pensamento, a linguagem e a emoção, esta últi- ma é compreendida como a mais influente no comportamento humano. • Sensação e percepção: “sensação” e “percepção” consti- tuem-se em sequência, com o início da recepção do estímulo, seja ele interno ou externo ao corpo, até a análise da informação pelo cérebro, utilizando-se de conteúdos nele armazenados. Na realidade, a sensação é uma etapa para absorção de infor- mação do mundo exterior para chegada ao cérebro para que então seja formada uma imagem mental correspondente àquela realidade.Em uma segunda fase denominada como percepção, existe a avaliação da imagem mental que foi formada anteriormente, ou seja, trata-se de um “processo de transferência de estimulação física em in- formação psicológica; processo mental pelo qual os estímulos senso- 18 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S riais são trazidos à consciência” Kaplan e Sadock (1993, p. 237). - Características das sensações: para a psicologia jurídica, é importante dizer que: • Alguns indivíduos passam por sensações resultantes de pe- quenas transformações fisiológicas em seus interlocutores, como se “adivinhassem emoções”, por exemplo, quando a pessoa prevê que alguém irá ou não fazer algo. Geralmente, a pessoa não sabe dessa habilidade que é desenvolvida inconscientemente pelo contato com os mais diversificados tipos de pessoas. • A emoção afeta a sensação. Por exemplo, no decorrer de uma discussão, os oponentes passam a estar mais sensíveis a alguns estímulos como o movimento, a luz, o calor, o barulho. Mas, é possí- vel que haja uma redução seletiva da sensibilidade, um mecanismo de proteção criado pelo organismo, fazendo com que o indivíduo crie um bloqueio que a inibe de ver tudo que ocorre a sua volta. • A sensação não é a mesma de uma pessoa para a outra. Ainda que duas pessoas tenham participado de uma mesma situação, cada uma terá uma sensação diferente. A sensação possui um limiar in- ferior, que varia de um indivíduo para o outro, abaixo do qual o estímulo não é reconhecível. • Quando se trata de um limiar superior, que provocam danos nos mecanismos de recepção dos estímulos, podendo ocasionalmente causar dor, chega-se ao “patamar de saturação”. Aparece o bloqueio da sensação. • Se o indivíduo recebe muitas informações ao mesmo tempo, elas podem não ser registradas, uma vez que o cérebro não tem capa- cidade de armazenar todas elas e acaba descartando algumas. • O estado emocional que indivíduo se encontra afeta direta- mente a sensação, uma vez que se está agressivo em dado momen- to, um estímulo sonoro, um sorriso, um olhar pode ser registrado com maior intensidade do que o normal. • O estresse, exaustão física ou emocional, aumenta considera- velmente a sensibilidade em relação aos ruídos; o indivíduo fica menos tolerante. Tudo isso potencializa o estresse e influencia os comportamen- tos em situações de conflito, podendo comprometer o poder de observa- ção das pessoas em relação aos eventos que ocorrem ao seu redor. • Tanto o álcool quanto as substâncias psicoativas também alte- ram as análises dos estímulos (distância, temperatura, dor etc.), ainda que o indivíduo tenha consciência do estímulo, a reação será inadequada. A sensação necessita do estímulo e da capacidade da pessoa de captá-lo; a percepção necessita de acontecimentos prévios que en- volveram o mesmo estímulo (ou outros semelhantes) e que afetam a interpretação da sensação pelo cérebro. 19 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S - Fatores que afetam a percepção: assim como as sensações, os mesmos estímulos são capazes de gerar distintas percepções em cada indivíduo. a) Captura visual: caso haja confronto entre a visão e qualquer um dos sentidos, a visão sempre prevalecerá. b) Características particulares do estímulo: intensidade, dimen- sões, mobilidade, cor, frequência etc. c) Experiências anteriores com estímulos iguais ou semelhan- tes: À medida que indivíduo vai praticando, ele vai melhorando e reco- nhecendo os estímulos e suas particularidades. d) Conhecimentos do indivíduo: Obviamente, os conhecimen- tos de um indivíduo impactam em sua percepção, por exemplo, um mé- dico que é mais perceptivo às questões ligadas ao organismo, ou um contador que observa mais as questões ligadas aos números etc. e) Crenças e valores: há pessoas que têm a crença de que “todo político é desonesto” e percebem desonestidade em atos de quaisquer políticos. f) Emoções e expectativas envolvendo o estímulo ou as cir- cunstâncias que o geram: as pessoas que presenciam um acidente com mortos e feridos têm percepções diferentes de pessoas que um aciden- te parecido, mas que os danos sejam apenas materiais. O estado emo- cional impacta fortemente na percepção, na memorização de conteúdos e depois em sua recuperação. g) A situação em que a percepção acontece: a namorada faz uma cena de ciúme, pois vê seu namorado almoçando com outra. Essa mesma situação poderia ser considerada de outra maneira em outro momento ou mesmo em outro local. A percepção é construída no decorrer da vida e, não sendo pra- ticada, pode ter retrocesso. Esse processo de aprendizagem é perceptí- vel quando se avalia a adolescência, uma época em que as atenções e percepções estão voltadas para novos estímulos e o indivíduo dá menos atenção a outras pessoas, sendo mais indiferentes e desleixados. - Fenômenos da percepção: a seguir será aprofundada a rela- ção figura e fundo e a ilusão, que são utilizados para maior entendimen- to da psicologia jurídica. Esses fenômenos têm atuação em relação ao uso de drogas. a) Organização perceptiva de figura e fundo: a “relação figura e fundo” define uma direção construtiva essencial, habitual em qualquer percepção. Seja qual for o estímulo, permite a escolha de uma parte mais simples e ordenada; a figura, com um fundo coadjuvante. O cére- bro, constantemente, dá preferência ao que exerce a função de figura. b) Ilusões perceptivas: trata-se de ilusão a deformação de 20 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S “imagens ou sensações reais”. O estado emocional impede que os estímulos obtenham a compreensão correta. É perceptível a influência da emoção em relação à percepção provocando ilusões, por exemplo, quando torcedores observam erros de um árbitro que favorecem uma outra equipe. Logo, é compreensível que se verifique ilusões em depoimentos de testemunhas decorrentes de cenas com grandes emoções, uma vez que a emoção provoca pro- cessos mentais que trazem ilusões. - O conflito e as percepções: em um momento de conflito, a per- cepção de cada uma das partes em relação àquela situação é distinta, e a figura de um pode abafar-se no fundo percebido pelo outro, ou pelo menos, haver diferenças importantes ao que se entende como figura mais relevan- te no conflito, tanto para os conflitantes, quanto para as testemunhas. Não deve ser considerado apenas a visão do opositor para a solução do conflito, visto que é possível que essa medida tenha o efeito contrário: quanto mais se esforce para entender o outro lado, mais opo- sitores podem se tornar, aumentando ainda mais suas diferenças. Entretanto, entender as percepções de cada um dos lados de embate é muito importante para compreensão do todo, principalmente, na tentativa de propositura de possíveis acordos entre as partes e, caso seja possível, no estabelecimento da reparação de danos às vítimas. • Atenção: o cérebro ganha incontáveis estímulos e a atenção propicia coleta de uns e a rejeição de outros, por intermédio de células cerebrais chamadas de detectores de padrão. Vários são os motivos que impactam na atenção seletiva, por exemplo, a emoção, a curiosidade da pessoa, a imposição da situação, a vivência. Os fatores que alteram uma situação chamam atenção: um barulho, uma movimentação, uma luz mais intensa, um cheiro mais for- te etc., fazendo com que a atenção retenha os estímulos e aqueles inex- plorados sejam excluídos. Aqueles que forem retidos estarão presentes no processo de percepção. A emoção desperta a atenção para estímulos que provocam vários sentimentos como amor, ódio, dor etc. Isso também acontece com o comportamento. Igualmente importante é a falta de atenção e vários fatores fa- vorecem seu acontecimento, quais sejam: - O indivíduo não compreende o que está acontecendo naque- la situação.- Alguns estímulos são impedidos de serem captados pela atenção por ferramenta inconsciente de defesa do próprio organismo do indivíduo. 21 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S - O nível de concentração da pessoa em outra atividade é tão grande que ela não consegue prestar atenção nos estímulos recebidos (quando alguém conversa com uma pessoa que está “vidrada” olhando para o celular). - A conquista e a continuidade da atenção consistem nos se- guintes aspectos, vejamos: - Características dos estímulos: intensidade, novidade, repetição. - Fatores internos aos indivíduos: necessidades e objetivos (o que se quer obter); coisas que proporcionam prazer; indícios de algo temido, esperado ou antecipado etc. É interessante observar que esses aspectos são diretamente inspirados pelos interesses, pela formação profissional, pela bagagem de vida que cada um trouxe até aquele momento. Todas as partes de um processo, o juiz, o promotor, o advogado, testemunha, jurados fixam sua atenção em situações de mais ponto de interesse em relação a outras. • Memória: “A faculdade de reproduzir conteúdos inconscien- tes” (JUNG, 1991, p. 18) é provocada por sinais, dados obtidos pelos sentidos, que despertam a atenção. Se esta não acontecer, a informa- ção não ativa a memória. Se prestar atenção e o estímulo for registrado, a informação pode- rá ser recuperada. A memória proporciona o reconhecimento do estímulo. Isto posto, cabe ressaltar que a emoção é muito relevante, uma vez que ela contribui para as lacunas, composições, ampliações, distor- ções, redução dos conteúdos ou mesmo o reconhecimento. Por exem- plo, quando se passa em frente a um prédio azul e se lembra de uma música que tocava no rádio no dia em se estava indo casar. Geralmente, aqueles assuntos que causam dor são esqueci- dos. Essa inclinação ao esquecimento faz com que as pessoas não se recordem dos detalhes da situação, principalmente, quando são chama- das a testemunhar. Trata-se, na verdade, de um mecanismo de prote- ção utilizado pelo organismo inconscientemente que dificulta identifica- ção da verdade dos fatos. Os pesquisadores não são unanimes em relação ao fato de que os assuntos dolorosos são preferivelmente esquecidos, mas aquilo que é entendido como mais importante, geralmente, é lembrado com mais simplicidade, ainda que o critério de relevância seja situacional e mediado pela emoção. Do mesmo modo, não é unanime o fato de que o indivíduo possa reprimir e, posteriormente, recuperar a lembrança completa de evento traumático. O maior desafio seria esquecer. Ainda que uma lembrança esteja viva em uma mente esqueci- da, não significa que realmente algo aconteceu. A memória não é ape- 22 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S nas uma reprodução, mas é, também, uma reconstrução, não é possí- vel que se tenha certeza de que algo é real apenas por parecer real, as memórias irreais também parecem ser reais. Uma prova disso é a recordação de alucinações. A alucinação é um fenômeno da percepção em que o indivíduo tem a convicção ina- balável de ver algo que não existe. A recordação da alucinação em pes- soas que fazem jejuns por períodos longos provoca visões de inferno e paraíso que se tornam reais em suas mentes. Estudos em relação a falhas na recuperação de conteúdos me- morizados têm levado a conclusões importantes. As falsas lembranças, como as fantasias, não são criadas apenas por crianças, também podem ser criadas por adultos, que se utilizam desse artifício para suprimir uma lacuna da memória com conjecturas aparente- mente verdadeiras, muito comuns em casos de acidentes de carros. As memórias realizadas sob efeito de hipnose, sob uso de dro- gas e aquelas que estejam até os três anos de idade são consideradas não confiáveis. Cada indivíduo ativa a memória por meio de um sentido dife- rente. Enquanto uns recordam de um fato por meio da audição, outros recordam por meio da visão. Por isso, a necessidade da reconstituição dos fatos em dados crimes. A utilização de técnicas e métodos adequados permitem o es- tímulo correto da memória, algo que só pode ser feito um especialista para que não se corra o risco de surgirem falsas lembranças. A confabulação é um fenômeno comum quando se trata da ativação da memória de pessoas idosas. Trata-se de uma falha de me- mória que é preenchida por uma realidade que não é verdadeira para a ocasião e são narradas com detalhes dando aparência de lucidez. Majoritariamente, os pesquisadores entendem que todo o con- teúdo processado é armazenado pela memória e ali permanece por tempo indeterminado, salvo exista dano físico em suas estruturas cere- brais. Entretanto, não assegura a recuperação desses conteúdos. • Linguagem e pensamento: trata-se de duas funções direta- mente ligadas. Por meio da linguagem, “o homem transforma o outro e, por sua vez, é transformado pelas consequências de sua fala” (GODO; LANE, 1999, p. 32). A linguagem possibilita a integração, a constituição de modelos socioeconômicos e a construção da tecnologia. Quanto mais requintada for a linguagem, mais evoluído é o pensamento, pois ela influencia e é influenciada pelo pensamento de forma a estabelecer um círculo progressivo. 23 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S A linguagem conserva o registro na memória, uma vez que as percepções são modificadas à medida que são faladas. O pensamento está inteiramente ligado ao processamento, à compreensão e à comunicação de informações, bem como às ativida- des de raciocínio, resolução de problemas e conceituações. Dificilmente, as pessoas concentram seus pensamentos no presente e, quando o fazem, há uma projeção para o futuro. Isto é im- portante para que os conflitantes possam estabelecer seus reais inte- resses e se abrirem a soluções e negociações. - Desenvolvimento do pensamento: Jean Piaget, biólogo, psicólo- go e epistemólogo suíço foi um dos maiores pensadores do séc. XX. De- fendeu a ideia de que os indivíduos desenvolvem a capacidade de pensar passando por fases que levam desde o nascimento, e sua evolução acom- panha o desenvolvimento anátomo-fisiológico das estruturas cerebrais. A primeira etapa é chamada de estágio sensório-motor e ocor- re do nascimento até o segundo ano de vida. Neste período, acontecem explorações em relação ao mundo e a si mesmo pelo indivíduo, mas o domínio do corpo é parcial e ali se começa a descoberta da linguagem. Já na segunda etapa, denominada de pré-operacional, que ocorre entre o terceiro e o sétimo ano, o indivíduo começa a solucionar problemas com objetos concretos; e, até o fim do quinto ano, boa parte já se utiliza da mesma linguagem empregada pelos adultos. A partir da aprendizagem da linguagem, inicia-se um processo de abstração, pois a criança começa com brincadeira de imaginação e cria realidades a partir de seu próprio mundo, de sua própria perspectiva com uma confiança cega no sensorial. Na terceira etapa, chamada de estágio operatório-concreto, que se dá entre o sétimo e o décimo ano, a criança passa a compreender uma estrutura lógica e perde a confiança cega no sensorial. Possui distinção en- tre aquilo que tem aparência e aquilo que é realidade, aquilo que é tempo- rário e o que permanente. Tende a solucionar problemas por ensaio e erro, mas persiste a dificuldade para lidar racionalmente com ideias abstratas. No quarto estágio, denominado de operações formais, que é iniciado após os 11 anos de idade, a criança inicia o desenvolvimento da capacidade de compreensão lógico-abstrata, ou seja, pensar sobre aquilo que pensa. Consegue gerar soluções para os problemas e con- frontar mentalmente suas soluções (permitindo-se abandonar a técnica de “ensaio e erro”). Ao fim desta etapa, atinge a capacidade mental do adulto. A evolução permanece portoda a vida desde que haja estímulo, mesmo que o indivíduo tenha algum problema motor ou sensorial. A evolução do pensamento acompanha a evolução anatômica, fisiológica e psicológica do indivíduo e ocorre: 24 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S • Do concreto para o abstrato. • Do real para o imaginário. • Da análise para a síntese. • Do emocional para o racional. Durante os anos, a linguagem também sofre evolução e o de- senvolvimento do pensamento depende de uma linguagem que possa prepará-lo. Este processo evolutivo traz uma indagação para o profissional do direito: parcela dos adolescentes e até mesmo dos adultos se man- têm na etapa de operações concretas e de operações formais, mas nem todos iniciam a etapa do operatório formal juntos, ou mesmo podem nem iniciar essa etapa ficando na etapa anterior pela vida toda. Isso tudo traz a reflexão acerca da evolução dos conflitos e o estágio de pensamento do indivíduo, pois, enquanto um encara o conflito como um ataque, outro percebe como desafio e outro pode nem o abalar. - Pensamento, linguagem e conflitos: os confrontos começam e ficam mais graves pela incapacidade dos conflitantes de tratar as mu- danças. São restrições impostas pelo pensamento e pela emoção. A restrição do pensamento deriva do fato de que o cérebro já está condicionado a aplicar solução previamente estabelecidas a deter- minadas situações similares. A linguagem interfere na maneira como se pensa e no que se pensa, na medida que pode se tornar o ápice do conflito. Um simples “oi” pode deixar de ser um cumprimento e ser um verdadeiro insulto. O poder da palavra justifica o questionamento de GADAMER (2007, p. 41): “Por que uma palavra errada, em um instante errado, pode ser tão funesta, sim, claramente fatal? E por que, inversamente, a palavra correta, no instante correto, pode desvelar pontos em comum e dissolver tensões?”. • Emoção: Kaplan e Sadock (1993, p. 230) conceituam emoção como “um complexo estado de sentimentos, com componentes somáti- cos, psíquicos e comportamentais, relacionados ao afeto e ao humor”. A emoção delimita o campo de ação e conduz a razão. Da- másio enfatiza (1996, p. 204) que “a atenção e a memória de trabalho possuem uma capacidade limitada. Se sua mente dispuser apenas do cálculo racional puro, vai acabar por escolher mal e depois lamentar o erro, ou simplesmente desistir de escolher, em desespero de causa”. As emoções são processos biológicos e dependem de meca- nismos cerebrais estabelecidos de modo inato, embora sofram influên- cias hormonais, culturais e socais. 25 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S - Tipos de Emoção: • Emoções básicas: felicidade, surpresa, raiva, tristeza, medo e repugnância. • Emoções sociais: simpatia, compaixão, embaraço, vergonha, culpa, orgulho, ciúme, inveja, gratidão, admiração, espanto, indignação e desprezo. Todas podem estar presentes na gênese, na manutenção e no agravamento de conflitos. • Emoções de fundo: são representativas de estados corporais e mentais: felicidade, tristeza, bem-estar, mal-estar. Elas se subdividem em dois grandes grupos (LENT, 2001, p. 659-670): - emoções positivas, ou seja, relacionadas com o prazer; e - emoções negativas, ou seja, relacionadas com a dor ou com o desagrado. Enquanto as emoções positivas proporcionam a receptivida- de, a tolerância, a disposição para inovar e ousar e a solidariedade; as emoções negativas provocam ao recolhimento, à limitação, ao conser- vadorismo e podem ensejar discussões. O medo tenciona a musculatura, aumenta a frequência cardí- aca, produz a vasoconstrição cutânea, produzindo um estado de alerta no indivíduo e preparando o organismo para o conflito. O medo bloqueia o raciocínio. Pessoas expostas a uma situa- ção de agressão, de violência doméstica, por exemplo, não conseguem reagir ou encontrar solução para situação que vivem e permanecem presas no ciclo de violência. A raiva cria comportamentos impróprios e, geralmente, faz com que homens e mulheres reajam de forma distinta a essa emoção. É pos- sível que raiva surja naturalmente, mas, também, é possível que seja derivada do medo. A paixão é uma emoção intensa e dominante sob a pessoa, em que o dominado não percebe quão ampla é o poder de dominação da pai- xão e, ao perceber a frustração, acaba por cometer o “crime passional”. Trata-se de um crime cometido por motivo torpe, individualista e cruel. A inveja é classificada como uma emoção social associada ao fenômeno da relatividade da alegria. Ela possui seu lado positivo em que a pessoa invejada desperta na invejosa uma ação proativa para conquistar aquilo que quer, seja um melhor trabalho, uma casa, uma si- tuação social melhor etc., mas também tem seu lado perverso, quando o invejoso se utiliza de delitos para se satisfazer ou mesmo de compor- tamentos que causam sofrimento para o indivíduo e para outros. Como não pode acabar com a diferença, o invejoso escolhe por prejudicar 26 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S aquela pessoa que lhe causa inveja. Alegria: é uma emoção que propicia a sensação de felicidade, ampliando a percepção, estimulando a memória, flexibilizando os esque- mas de pensamento e abre espaço para comportamentos cooperativos. Esta emoção propicia a abertura para a sensação de felicida- de (a qual, na perspicaz visão de Damásio, constitui uma emoção de fundo). Ela contagia, amplia a percepção, estimula a memória, dando oportunidade para comportamentos cooperativos. A emoção funciona como uma energia que se acumula no cor- po até que ocorra a explosão emocional nas hipóteses em que essa energia não encontrou alguma maneira de ser consumida. São exem- plos de emoções represadas; os choros sem motivos, depressões pro- fundas, ataques de ansiedade e comportamentos agressivos. O psicólogo jurídico ou operador do direito não deve de ma- neira nenhuma reagir na mesma proporção a uma explosão emocional dada pelo cliente, sob o risco de comprometer a relação de confiança profissional previamente estabelecida. Há situações em que as explosões emocionais podem ser uti- lizadas de maneira a simular determinadas situações para que o indiví- duo obtenha determinados benefícios. Conforme entendimento de Fiorelli (2020, p. 27-28), a gestão das explosões emocionais exige que o indivíduo tenha equilíbrio e es- colha algumas técnicas, por exemplo: a) desviar o foco: esquecendo-se do passado e passando a pensar no futuro. b) Concentrar-se nas questões práticas: focaliza-se nos atos, procedimentos e não na pessoa do inimigo. c) Promover idealizações do futuro: o indivíduo vê-se forçado a investir no campo da racionalidade. d) Manter-se bem-humorado: a melhor maneira de combater a raiva é oportunizar a descontração, desde que seja realizada com crité- rio e sensibilidade para que não seja encarado como desdém. 27 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: MPE-AL Prova: Psicólogo Os fundamentos da entrevista cognitiva, usados para a entrevista de testemunhas no âmbito jurídico, estão enraizados nas técnicas de recuperação da memória do acontecimento testemunhado. So- bre os fatores envolvidos na capacidade de adquirir, armazenar e evocar informações, assinale a afirmativa correta. a) A atenção é focada em todos os estímulos ambientais. b) A percepção é subjetiva, particular e individual. c) As memórias antigas são evocadas graças ao fenômeno do déjà vu. d) As lacunas da memória devem ser preenchidas com mentiras. e) A lembrança de eventos emocionalmente marcantes desvanece com o tempo. QUESTÃO 2 Ano: 2012 Banca: FCC Órgão: TRT - 6ª Região (PE) Prova: Analista Judiciário - Psicologia No tocante à delinquência juvenilsabe-se que, originalmente, os psicólogos faziam parte do processo de reabilitação do jovem. Atualmente, existe uma grande variedade de papéis para o psicó- logo forense, incluindo tratamento, avaliação da receptividade do tratamento, avaliações de capacidade, inimputabilidade e situação mental. Além desses papéis, os psicólogos forenses estão sendo cada vez mais utilizados: a) Na avaliação de risco ou ameaça de violência. b) Na mensuração do quociente de inteligência ou índices cognitivos. c) Na aferição da autoestima ou capacidade afetiva. d) Na avaliação para interdição ou mobilização da força física. e) No escrutínio de mecanismos de defesa ou rompimento egoico. QUESTÃO 3 Ano: 2016 Banca: LEGALLE Concursos Órgão: Prefeitura de Por- tão - RS Prova: Psicólogo __________é um ramo da psicologia que estuda como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras. Sur- giu no século XX como uma- área de atuação da psicologia para estabelecer uma ponte entre a psicologia e as ciências sociais (sociologia, antropologia, geografia, história, ciência política). Sua formação acompanhou os movimentos ideológicos e conflitos do século, a ascensão do nazifascismo, as grandes guerras, a luta do 28 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S capitalismo contra o socialismo, entre outros. Quanto ao objeto de estudo, a _______________ procura explicar os sentimentos, pensamentos e comportamentos do indivíduo na presença real ou imaginada de outras pessoas. A partir do fragmento acima, estamos falando da: a) Psicologia Jurídica. b) Psicologia Social. c) Psicologia Clínica. d) Psicologia do Esporte. e) Psicologia Hospitalar. QUESTÃO 4 Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TJ-RO Prova: Analista Judiciário - Psicologia Ainda com base na situação hipotética apresentada, assinale a op- ção correta. a) A justificação dos comportamentos de Antônio pela via do processo de adolescer não é adequada, pois seu comportamento insere-se em um contexto mais complexo, que requer compreensão sistêmica. b) É adequado ao caso de Antônio o psicodiagnóstico avaliativo que in- dique elementos preponderantes de sua personalidade e suas funções mentais superiores, a fim de fornecer subsídios técnicos e soluções que auxiliem a decisão do magistrado. c) O comportamento de Francisco permite o estabelecimento do diag- nóstico de transtorno psicótico devido ao uso de álcool. d) Ao completar vinte anos de idade, ou seja, após dois anos de interna- ção, Antônio deverá ser compulsoriamente liberado. e) A justiça poderia ter decretado a prisão de Antônio pela proximidade da maioridade penal. QUESTÃO 5 Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: DPE-RJ Prova: Técnico Superior Es- 29 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S pecializado - Psicologia A menina B., de 3 anos, foi atendida no Serviço de Pediatria de um hospital público, levada por seus pais, com um quadro de múlti- plas verrugas na região perianal. Após anamnese e exame clínico, a pediatra desconfiou de condiloma, causado por contaminação pelo vírus HPV. Confirmada a doença após exames laboratoriais, a médica acionou o Conselho Tutelar para notificar a suspeita de violência sexual. Para a necessária apuração dessa situação, o psi- cólogo deverá considerar que: a) Uma criança nesta faixa etária se encontra no estágio de desenvol- vimento cognitivo definido por Jean Piaget como operatório-concreto, caracterizado pelo pensamento egocêntrico e pela deformação na per- cepção da realidade. b) O complexo centrado na fantasia de castração, que vem trazer uma resposta ao enigma decorrente da diferença anatômica entre os sexos, é um sintoma presente em algumas crianças precocemente expostas a experiências sexuais. c) A presença de sinais físicos da violência perpetrada contra a criança, apurada no exame de corpo de delito, é condição indispensável para a confirmação da ocorrência do abuso sexual infantil. d) A palavra da criança pode ser a única prova possível ao processo legal e será preciso utilizar estratégias adequadas à idade em um am- biente emocionalmente facilitador para permitir a revelação do abuso. e) A inquirição de crianças deve se dar na presença de seus pais, o que garantirá um ambiente psicologicamente seguro e isento das variáveis que serão introduzidas por um entrevistador desconhecido. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Qual a diferença entre a psicologia criminal e a psicologia criminologia? Justifique sua resposta. TREINO INÉDITO Leia o trecho abaixo e responda à pergunta que se segue. “Constitui a aplicação da Psicologia e, principalmente, da Psico- logia Social ao estudo do crime, é o ramo da Psicologia Jurídica que analisa os fatores individuais, biológicos, familiares, sociais e culturais que levar uma pessoa a se tornar um criminoso”. A qual ramo da psicologia jurídica o trecho acima se refere? a) Psicologia Social. b) Psicologia Criminal. c) Psicologia Carcerária. d) Psicologia Criminológica. 30 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S e) Psicologia Judicial. NA MÍDIA HUMANIZAÇÃO NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO O total de pessoas encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em junho de 2016. Em dezembro de 2014, era de 622.202. Houve um crescimen- to de mais de 104 mil pessoas. Cerca de 40% são presos provisórios, ou seja, ainda não possuem condenação judicial. Mais da metade des- sa população é de jovens de 18 a 29 anos e 64% são negros. Os dados são do Levantamento Nacional de Informações Penitenciá- rias (Infopen) e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça. A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que se dedica à recuperação e reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade, bem como socorrer a vítima e proteger a sociedade. Opera, assim, como uma entidade auxiliar do Poder Judiciário e Execu- tivo, respectivamente na execução penal e na administração do cumpri- mento das penas privativas de liberdade. Sua filosofia é ‘matar o crimi- noso e salvar o homem’, a partir de uma disciplina rígida, caracterizada por respeito, ordem, trabalho e o envolvimento da família do sentenciado. Para a APAC, toda pessoa é recuperável, por isso lá o preso é tratado como um ser humano que merece respeito e acolhimento. Na APAC, os presos não usam uniformes e não são identificados por números. Eles têm a oportunidade de estudar e aprender um ofício, já que são oferecidos cursos, palestras, oficinas. Além disso, eles mesmos cuidam da limpeza e da alimentação e cumprem horários. Os detentos recebem assistência jurídica, espiritual, psicológica e médica por uma rede de voluntários da comunidade de Itaúna (MG). O método socializador da APAC espalhou-se por todo o território na- cional (aproximadamente mais de 100 unidades em todo o Brasil) e no exterior. Já foram implantadas APACs na Alemanha, Argentina, Bolívia, Bulgária, Chile, Cingapura, Costa Rica, El Salvador, Equador, Eslová- quia, Estados Unidos, Inglaterra e País de Gales, Latvia, México, Mol- dovia, Nova Zelândia e Noruega. O modelo Apaqueano foi reconhecido pelo Prison Fellowship International (PFI), organização não-governa- mental que atua como órgão consultivo da Organização das Nações Unidas (ONU) em assuntos penitenciários, como uma alternativa para humanizar a execução penal e o tratamento penitenciário. O método de ressocialização humanizada foi finalista no Prêmio Innova- re, da Justiça Brasileira. Nele, a reincidência é de apenas 10%, número muito menor se comparado com as cadeias tradicionais. Isso acontece 31 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S porque aos detentos é oferecida uma chance para recomeçar através de um tratamento digno. Além disso, o custo do detento é muito menorna APAC, um salário-mínimo e meio, enquanto nas cadeias tradicionais cada detento custa ao Estado quatro salários mínimos. Fonte: DireitoNet Data: 22 Jul 2019. Leia a notícia na íntegra: https://www.direitonet.com.br/artigos/exi- bir/10579/Humanizacao-no-sistema-penitenciario-brasileiro NA PRÁTICA Tanto no contexto nacional quanto no contexto internacional é possível se observar uma legítima participação do profissional de psicologia no meio judiciário, o que lhe exige especialização, capacitando-o como psi- cólogo jurídico. Cabe distinguir que há diferença entre intervenção psicológica e inter- venção judicial. Quando se trata de um contexto jurídico, não terapêu- tico, o psicólogo pode não se identificar com o exercício da função e acabar atuando de maneira inadequada. O Direito não trabalha com conjecturas, não podendo o juiz proferir de- cisão por mera presunção. Para que haja uma sentença, é necessá- rio que haja autoria dos fatos e da culpabilidade do agente baseadas em provas contundentes. Para a Psicologia e para o Direito, o que são provas? E como o profissional da psicologia pode auferir valor à prova jurídica? Qual o espaço ocupado por esse profissional e como conside- rar sua participação no sistema jurídico, considerando que a psicologia jurídica só existe a partir de um sistema jurídico? Na prática, os psicólogos atuam como peritos que não têm a finalidade de buscar provas ou fazer terapias, mas atuam como agentes sociais que cuidam daqueles que passam pelo sistema avaliando risco, e pro- movendo proteção e prevenção. Embora sejam reconhecidos pelos operadores do direito na busca de provas e como peritos, os psicólogos são incapazes de afirmar a verdade. PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: Entre quatro paredes – 2001 – Todd Field M. Butterfly – 1993 – David Cronenberg KOLKER, Tania. A atuação do psicólogo no sistema penal. In: GONÇAL- VES, Hebe Signorini; BRANDAO, Eduardo Ponte. Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: NAU, 2004. 32 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL A investigação criminal é um processo para se desvendar e ob- ter informações a respeito das circunstâncias de um crime, materializar elementos de prova e procurar descobrir quem o cometeu, apurando- -se, tanto quanto possível, a realidade dos fatos. No entanto, para a Psicologia, deve-se distinguir a realidade objetiva da realidade psíquica, que é a única existente para cada indiví- duo. É possível que, em uma determinada situação, a realidade objeti- va não corresponda a nenhuma das realidades psíquicas das pessoas nela envolvidas e, também, que a combinação dessas realidades não resulte na mesma realidade objetiva. Disso decorre a importância de diversas medidas relacionadas com o fato criminoso: PSICOLOGIA JURÍDICA E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 32 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S 33 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S - a preservação da cena do crime; - a reconstituição dos acontecimentos; - as entrevistas com as testemunhas; - as entrevistas com pessoas relacionadas aos protagonistas da ocorrência. A preservação da cena do crime tem a ver com a atividade de coleta de provas e com a reconstituição dos acontecimentos. Diversos fenômenos da percepção e da atenção assim o justificam; quando tes- temunhas e participantes de uma ocorrência reveem o local, os objetos, os sinais do que ali aconteceu, despertam-se conteúdos da memória que podem ter sido suprimidos, ainda que temporariamente, pela emo- ção que cercou o acontecimento. A fragilidade da memória, os fenômenos da percepção e da atenção justificam o amplo cuidado com esses tipos de detalhes. As entrevistas (com criminosos, vítimas, testemunhas) consti- tuem um momento peculiar, porque existe o fator emocional sempre pre- sente capaz de proporcionar inúmeros fenômenos. Lapsos, bloqueios, modificações de lembranças, confabulações podem estar presentes, e somente a habilidade do entrevistador permite eliminar ou reduzir essas possibilidades. A linguagem peculiar entre adolescentes e entre integrantes de grupos coesos (por exemplo, organizações criminosas etc.) é muito importante para criar um vínculo entre o entrevistador e entrevistado, facilitando a comunicação. Por isso, é tão relevante ter o conhecimento das técnicas de entrevista para inibir que este mecanismo de investigação seja um fator de enviesamento na condução da investigação. Entre os motivos que sensibilizam consideravelmente o proces- so de investigação e que influenciam nos resultados das medidas ante- riormente apontadas, sob o ponto de vista da psicologia, destacam-se: - o intervalo de tempo entre o fato gerador e o início; - a duração de sua realização; - a uniformidade dos procedimentos em relação a cada um dos envolvidos que venham a ser investigados; - o estilo de relacionamento interpessoal dos que investigam; - a divulgação que se dá ao caso; - a forma como são realizadas atividades de apoio, como as perícias médica, psicológica e o exame de corpo de delito. A memória e o tempo não convivem em harmonia, daí a impor- tância de se realizarem entrevistas, reconstituições da cena e outras providências que possam estar relacionadas com as lembranças, tão logo quanto possível. 34 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S A rapidez na realização da investigação pode ser prejudicada pela emoção do momento. Mas, quando as emoções forem muito for- tes, as lembranças podem sofrer influência das referências com fato e com os impactos sofridos pelos expectadores das cenas. É possível que alguns detalhes da situação surjam após o mo- mento de emoção. O instante sucessivamente subsequente pode não ter tantos detalhes recuperados pela mente haja vista o curto período de tem- po de recuperação para reflexão, tranquilidade e absorção daquele evento. Todavia, a delonga na realização da investigação é imensamen- te danosa, visto que as testemunhas e demais enredados podem ser sujeitos a vários dados, notícias, pontos de vistas, posições que podem embaralhar suas ideias de tal medida que não saibam mais quais são realmente as suas ideias ou quais são aquelas que realmente ouviram. Ademais, detalhes pouco marcantes, por exemplo, rostos mal vi- sualizados, cenas não muito nítidas, características não exatas podem ter influência de estímulos que, muitas vezes, nunca tiveram causando convic- ções sem sustentação concreta, convertendo indícios em verdades plenas. As confabulações, ainda que não patológicas, podem ocorrer caso uma série de lembranças tenha pequenos prejuízos advindos do lapso temporal entre determinada situação e a investigação. Sem cons- ciência, a mente o corrigi utilizando-se de pensamento lógico indiscu- tível, mas não necessariamente real, com o objetivo de preencher as lacunas apagadas pela memória. Por outro lado, caso a investigação seja muito longa, há o aumen- to do estresse da testemunha e dos envolvidos e o prejuízo à memória. No Tribunal do Júri, os jurados são incomunicáveis, pois, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se entre si, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa. Crianças e idosos possuem vulnerabilidade em situações des- se tipo, podendo levar à fantasia como ferramenta de defesa. A delonga do processo investigativo pode ser causadora de vários transtornos psíquicos, como a depressão, a ansiedade, podendo danificar a regeneração das lembranças. Quando se têm várias pessoas em um processo investigativo, a utilização regular de técnicas de entrevistas é de suma importância, uma vez que cada investigador tem uma característica pessoal que pode induzir as respostas do entrevistado enviesando um resultado.Do mesmo modo, a maneira como é conduzida a investigação é determinante, pois o comportamento do entrevistador pode colocar o entrevistado em uma situação de medo, ou mais relaxado, ou estabele- cer autoridade, ou cooperação ou mesmo punição. Diante de momentos de estresse, as pessoas podem ter blo- 35 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S queios para se expressar ou têm a atenção estimulada; captam deta- lhes emitidos pelo entrevistador. Um fator importante (será tratado no item 3.2) é a questão da Criminologia Midiática, também chamada de Labeling Approach (Teoria do Etiquetamento Social), em que as noções de crime e criminoso são construídas socialmente a partir da definição legal e das ações de ins- tâncias oficiais de controle social a respeito do comportamento de deter- minados indivíduos. Na realidade, a criminalidade não seria inerente ao sujeito, mas, sim, uma “etiqueta” atribuída a determinados indivíduos que a sociedade conhece como criminosos, a sociedade os rotula como tal. A disseminação do caso na mídia afeta diretamente testemunhas, jurados, vítima e até mesmo aqueles que estão em julgamento, pela pro- porção que tudo toma, pois há uma comoção social em torno do caso que perde toda a técnica e é tomada por fatores emocionais relevantes. Todo esse clamor público pode ocasionar interferências impor- tantes no julgamento, pois exigem das partes maior responsabilidade e imparcialidade quando do julgamento. Segundo o Professor Fiorelli (2020, p. 273), o quadro emocio- nal de um episódio como este ocasiona impactos em todos os envol- vidos e os meios de comunicação têm a potencialidade de ampliá-los, tanto no que tange às responsabilidades para os que julgam, os que acusam e defendem, como afetando as interpretações de testemunhas e, até mesmo, dos diretamente envolvidos. O efeito Hawthorne ganha proporções e acentua-se à repre- sentação. Conforme a personalidade do indivíduo, ter-se-á a incidên- cia deste efeito. Haverá três tipos de indivíduos: aquele que se sentirá amedrontado e, portanto, tornar-se-á mais dependente; aquele que vai procurar uma forma de se libertar de processos e, ainda, haverá aquele que vai se utilizar dos processos para se expor. Nas entrevistas, este efeito torna-se especial, pois, a depender da personalidade e do quadro emocional que cerca aquele aconteci- mento, existirão respostas com consequências importantes. A maneira como a entrevista é realizada pelo profissional, seja ele investigador, médico, psicólogo, assistente social ou perito, é também capaz de iden- tificar se há de algum envolvido má-fé, ou mesmo, no caso de crianças, adotar uma postura de proximidade cria uma relação fundamental de confiança e acolhimento, fazendo com que ela deixe de acreditar que é culpada pela violência que sofrera. 36 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA CRIMINAL NA INVESTIGAÇÃO POLICIAL A utilização correta das técnicas de investigação policial é impor- tantíssima para correta elucidação do fato criminoso. E, ao tempo em que a sociedade evoluiu, a criminalidade também se desenvolveu, organizan- do-se e se estruturando, exigindo o aperfeiçoamento das técnicas investi- gativas que se tornavam ineficazes para solucionar casos tão complexos. Tal evolução se deu ao longo dos séculos e por meio de uma busca interdisciplinar para solução de tais casos. Vejamos: Um senhor em 1850, criminoso arrependido, voluntariamen- te procurou um comissário de polícia em Paris e disse conhecer quem pratica cada um dos crimes, disse que era um criminoso habitual, que conseguiria à paisana desvendar o crime (fichário de todos os criminosos conhecidos e individualização por meio de cicatrizes, tatuagens e pega- das). Essa era a figura do informante. Este senhor era Eugène-François Vidocq, que conseguiu convencer o comissório e fez surgir a Sûreté Na- tionale, a primeira Polícia Civil, a primeira polícia investigativa do mundo, muito antes da Scotland Yard. É um marco da Polícia Investigativa. Vidocq trabalhava com análise de cenas de crimes, papéis de carta inalteráveis e tintas indeléveis, infiltração de agentes, disfarces em quadrilhas, ou seja, tudo o que acontece hoje já se fazia naquela época. Jean Alexandre Eugène Lacassagne montou um axioma im- portante: é necessário saber como duvidar. Ou seja, fazendo a pergunta certa, ainda que não se saiba do assunto, pode-se ter grande chance de se ter esclarecido a sua dúvida e questão processual. Nessa época, para saber se o sujeito estava morto, colocava-se um espelho próximo às narinas e, se não o embasasse, significava que o sujeito estava morto. Muitas pessoas foram dadas como mortas mais cedo do que deveriam. Lacassagne, como médico, começou a desenvolver técnicas mais apura- das para tal verificação para substituição à técnica do espelho (estudo da variação da temperatura corporal e das manchas sanguíneas no óbito). Mathieu Joseph Bonaventure Orfila (1800) estuda a trajetória do veneno no corpo. Existia uma máxima que o veneno estaria sempre na corrente sanguínea, então a autópsia era muito comum e não detec- tava a maior parte dos crimes. Nessa época, as pessoas morriam muito por envenenamento por arsênicos, só que não era possível encontrar os arsênicos no corpo. Ele começou a fazer biópsias para saber onde o arsênico realmente se instalava. Nessa época, o arsênico era conheci- do como “poder de sucessão”, ou seja, o sujeito tinha uma tia velha, que normalmente faleceria de gota e, normalmente, o envenenamento por 37 P SI C O LO G IA E IN V E ST IG A Ç Ã O C R IM IN A L - G R U P O P R O M IN A S arsênico é muito parecido com o falecimento por gota, então dava-se a causa da morte por gota. Após Orfila, começa-se a ter a explicação. Alphonse Bertillon era um policial medíocre, filho de uma pessoa importante, que foi tolerado e colocado em uma repartição em um subsolo e passou anos tentando medir o criminoso (sistema de medições do corpo humano - antropometria). Nessa época, o sujeito era preso e, do jeito que foi preso, ia para penitenciária, não tomava banho e ficava com a roupa que estava. Muitas vezes, o sujeito era preso da primeira vez e da segunda vez já tinha cicatrizes, tinha se disfarçados muitas vezes, ninguém exami- nava a pessoa, ninguém tocava no preso. Bertillon que era uma pessoa meticulosa começou a querer medir o preso e aí ele passa anos catalo- gando, fazendo fichas em arquivos físicos (crânio, distância entre os olhos, altura etc.). Ele passou anos catalogando, até que resolveu um caso muito famoso de um falso Conde que era um criminoso que ele conseguiu des- mascarar. O criminoso não se deixava fotografar e era malcheiroso. Juan Vucetich (1891), argentino de origem do leste europeu, inventou a chamada identificação datiloscópica. Bertillon cai no ostra- cismo, pois Vucetich afirma que a impressão digital é individual, não era preciso medir a pessoa inteira. O geneticista britânico Alec Jeffreys desenvolveu a técnica de impressão do DNA usada na ciência forense. Atualmente, é comum observar o aumento de investigação poli- ciais que concluam por delitos praticados por indivíduos que tenham psi- copatologias, dentre os quais são: homicídio; feminicídio; induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação; estelionato; estupro; importunação sexual; registro não autorizado da intimidade sexual; estupro de vulnerável; satisfação de lascívia mediante presença de criança ou ado- lescente; divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulne- rável, de cena de sexo ou de pornografia; estupro coletivo ou corretivo etc. Casos icônicos resultados de investigações policiais históricas conduziram à apreensão de delinquentes como Francisco das Chagas Rodrigues Brito, caso conhecido como “O caso dos Meninos Emascula- dos de Altamira”,