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PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II – TEORIAS DA APRENDIZAGEM – UNIDADE 1 1 TEORIAS DA APRENDIZAGEM 4 2 TEORIAS BEHAVIORISTAS 5 2.1 Behaviorismo metodológico 5 2.2 Behaviorismo radical 6 3 UM POUCO DE HISTÓRIA SOBRE A TEORIA BEHAVIORISTA 6 3.1 Ivan Pavlov 7 3.2 John Watson 8 3.3 Dward Thorndike 8 3.4 Burrhus Frederic Skinner 9 4 TEORIAS DE TRANSIÇÃO ENTRE O BEHAVIORISMO CLÁSSICO E O COGNITIVISMO 10 4.1 Robert Gagné 10 4.2 Edward Tolman 10 5 TEORIA DA GESTALT 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 12 SU M Á R IO SU M Á R IO Prepare-se para uma Nova Jornada Acadêmica Somos o Grupo Ipemig, referência na formação acadêmica e desenvolvimento profissional de quase 100 mil alunos e estamos felizes em ter você conosco nessa trajetória de aprendizado e descobertas. Por acreditar que a educação é o melhor caminho para transformar a vida das pessoas, atuamos para oferecer ensino acessível e de qualidade. Pautados por um projeto pedagógico inovador, o Grupo Ipemig é mantenedor de outras instituições de ensino superior com reconhecimento e atuação nacional, chanceladas pela qualidade acadêmica e destaque na avaliação do MEC. Ao longo de mais de uma década seguimos contribuindo para que nossos estudantes alcancem níveis de excelência, por meio de um ensino inovador e tecnológico. Desejamos que sua trajetória conosco traga muitos aprendizados e contribua significativamente para alcançar seus objetivos pessoais, profissionais e acadêmicos. Bons estudos! 3 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 1. Teorias da Aprendizagem Teorias da aprendizagem são os estudos que procuram investigar, sistematizar e propor soluções relacionadas ao campo do aprendizado humano. Buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a relação entre o conhecimento pré-existente e o novo conhecimento. Aprender é um processo contínuo e ascendente, impulsionado pela experiência. O homem tem “o saber” como uma das principais características do seu desenvolvimento. Várias ciências procuram investigar e facilitar os processos envolvidos na aprendizagem e nas relações da convivência humana; é importante compreender o modo como as pessoas aprendem e as condições necessárias de aprendizagem. Esta área de investigação remonta à Grécia Antiga, onde o processo pelo qual uma pessoa adquire conhecimento já era tema de investigação dos filósofos gregos. Entretanto, essa área de estudo ganhou destaque a partir do século XX, com o advento da psicologia. Esses métodos de investigar, analisar e sistematizar é a tarefa da área da psicologia denominada Psicologia da Educação, que visa explicar o processo de aprendisagem pelos indivíduos através dos diversos modelos de teoria da aprendizagem. Entende-se a aprendizagem como um processo natural, dinânmico, contínuo e interativo do ser humano com mundo que o cerca, garantindo-lhe a apropriação de conhecimentos e estratégias adaptativas a partir de suas iniciativas, interesses e dos estímulos recebidos do meio social do qual está inserido, envolvendo uma série de fatores: aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. Piaget, 1996, reforça que o processo de aprendizagem é um processo vivo, dinâmico que se origina da ação e é decorrente da interação do sujeito com o meio e o objeto. É sabido que para os seres humanos se desenvolverem, é necessário aprender coisas novas a todo o momento; e esse desenvolvimento é marcado por inúmeras transformações biopsicossociais que se iniciam desde o nascimento e se estendem a todos os períodos da vida, podendo sofrer influências externas como também internas que podem ser de ordem normativa ou não normativa e essas influências incluem o ser em um todo que envolverá aspectos como a hereditariedade, ambiente entre outros. Acredita-se haver uma confusão entre a construção do conhecimento com aprendizagem. Entretanto, aprender é algo muito mais amplo, pois é a forma de o sujeito aumentar seu conhecimento. Enquanto o conhecimento é um processo que acontece no interior do sujeito, a aprendizagem é processada externamente, permitindo a este se modificar com suas experiências. Como o campo da investigação do conhecimento e aprendizado humano é bastante vasto, destacam-se três tipos de aprendizagem: • Aprendizagem cognitiva: é aquela que resulta no armazenamento organizado de informações na mente do ser que aprende, é o resultado do condicionamento de indivíduos quando expostos a uma situação de estímulo e resposta. Os processos cognitivos envolvem, portanto, habilidades relacionadas ao desenvolvimento do pensamento, raciocínio, linguagem, memória, abstração etc. De acordo com os principais teóricos cognitivistas, dentre os quais se destacam Piaget, Wallon e Vigotsky, é preciso compreender a ação do sujeito no processo de construção do conhecimento. Apesar de diferenças entre suas teorias, procuraram compreender como a aprendizagem ocorre no que se refere às estruturas mentais do sujeito e sobre o que é preciso fazer para aprender. • Aprendizagem afetiva: propicia o desenvolvimento cognitivo, fazendo com que o individuo aprenda através dos sentimentos, das emoções e das experiências que são trocadas na interação com o outro. Sabe-se que as emoções podem interferir no processo de aprendizagem, sendo preciso estimula-las de maneira correta, para que o indivíduo aprenda a desenvolver suas habilidades expressivas e motoras, trabalhando a convivência social, a autoconfiança, o autocontrole, a tomada de decisões, desenvolvendo a ética, a responsabilidade e o respeito. 4 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 • Aprendizagem psicomotora: está presente nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolve a motricidade do indivíduo, visando ao conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo. É um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme. Durante o processo de aprendizagem, os elementos básicos da psicomotricidade são utilizados com freqüência. O desenvolvimento do Esquema Corporal, Lateralidade, Estruturação Espacial, Orientação Temporal e Pré-Escrita. Sendo assim, a aprendizagem é uma mudança significativa que ocorre baseada também nas experiências dos indivíduos. Todavia, para ser caracterizada como tal, é necessária a solidez, ou seja, ela deve ser incorporada definitivamente pelo sujeito. Desta forma, a teoria da aprendizagem é uma tentativa de interpretar sistematicamente, de reorganizar, de prever, conhecimentos sobre aprendizagem. Constata-se que existe as teorias que abordam a aprendizagem a partir do comportamento, outras a partir do aspecto humano e, ainda, aquelas que consideram apenas a capacidade cognitiva de cada um. 2. Teorias Behavioristas A abordagem comportamentalista analisa o processo de aprendizagem, desconsiderando os aspectos internos que ocorrem na mente do agente social, centrando-se no comportamento observável. Essa abordagem teve como grande precursor o norte-americano John B. Watson, sendo difundida e mais conhecida pelo termo Behaviorismo. A grande efervescência dessa teoria se deu pelo fato de ter caracterizado o comportamento como um objeto de análise que apresentava a consistência que a Psicologia científica exigia na época – caráter observável e mensurável – em função da predominância cientificista do Positivismo. Esta última sendo uma corrente de pensamento que triunfou soberana no século XIX, e que tinha como princípio fundamental à utilização do método experimental, tanto para as Ciências da Natureza quanto para as Ciências Sociais. Desse modo, o Behaviorismo desenvolveu-se num contexto em que a Psicologia buscava sua identidade como ciência, enfatizando o comportamento em sua relação com o meio. Com isso, se estabeleceucomo unidades básicas para uma análise descritiva nesta ciência os conceitos de “Estímulo” e “Resposta”. A partir da definição dessa base conceitual o ser humano passou a ser estudado como produto das associações estabelecidas durante sua vida entre os estímulos do meio e as respostas que são manifestadas pelo comportamento. Apesar de Watson ter sido o grande precursor do Behaviorismo, B. F. Skinner foi um dos psicólogos behavioristas que teve seus estudos amplamente divulgados, inclusive no Brasil, havendo um grau de aplicabilidade muito forte na educação. O behaviorismo tem como foco principal o comportamento, que é denominado como a resposta dada por determinado organismo a algum fator externo que o estimule, resposta observável, portanto, passível de descrição e quantificação. Essa teoria se atém, pois, somente aos comportamentos observáveis externamente. Essa corrente pode ser dividida em duas vertentes, a saber. 2.1. Behaviorismo Metodológico O behaviorismo metodológico foi criado por John Brados Watson (1878-1958), Watson doutorou-se em Neuropsicologia, e produziu trabalhos em psicologia animal, estudando o comportamento de ratos e macacos, estudos que posteriormente foram replicados no comportamento humano. Segundo o autor, o objetivo teórico dessa corrente é prever e controlar o comportamento, caracterizando-se pelo empirismo. Para ele, o ser humano aprende tudo a partir do ambiente, ficando, assim, à mercê do meio. O indivíduo nasce vazio de conhecimento, é uma tabula rasa. Watson rejeita os processos mentais como objeto de estudo, pois, para ele, só poderia ser estudado aquilo que fosse passível de ser observado e mensurado. 5 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 2.2. Behaviorismo Radical O behaviorismo radical tem como fundador Burrhus Frederic Skinner (19041990), psicólogo americano que testou as teorias de Watson em laboratório, ampliando alguns conceitos dessas teorias para Skinner, os chamados fenômenos internos (processos mentais) são de natureza física, material e, portanto, mensuráveis. A principal diferença entre as duas vertentes é que a segunda não considera o indivíduo um ser passivo, uma tabula rasa. As pessoas respondem ao meio, mas elas também operam em seu ambiente, a fim de produzir certas consequências, contrapondo-se a Watson, que considerava o indivíduo completamente moldável pelo ambiente, um ser passivo, apenas responsivo aos estímulos do ambiente de forma condicionada. O ponto fundamental dos estudos de Skinner são as relações funcionais entre o estímulo e a resposta na modificação, permanência ou extinção de um comportamento. A base de sua teoria é a metodologia denominada por ele de condicionamento operante, que ele acrescentou à noção de reflexo condicionado, formulada pelo cientista russo Ivan Pavlov. Os dois conceitos estão essencialmente ligados à fisiologia do organismo, seja animal ou humano. O reflexo condicionado é uma reação a um estímulo casual. O condicionamento operante é um mecanismo que premia ou pune uma determinada resposta de um indivíduo, até ele ficar condicionado a um comportamento positivo ou aversivo. Sendo assim, agimos e operamos sobre o mundo por meio das respostas que nossas ações provocam. A diferença entre o reflexo condicionado e o condicionamento operante é que o primeiro é uma resposta a um estímulo puramente externo e o segundo, o hábito gerado por uma ação do indivíduo. No comportamento respondente (de Pavlov), a um estímulo segue-se uma resposta. No comportamento operante (de Skinner), o ambiente é modificado e produz consequências que agem de novo sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante. O condicionamento operante é um mecanismo de aprendizagem de novo comportamento – um processo que Skinner chamou de modelagem. O instrumento fundamental de modelagem é o reforço – a consequência de uma ação quando percebida por quem a pratica. Para o behaviorismo em geral, o reforço pode ser positivo (uma recompensa) ou negativo (ação que evita uma consequência indesejada). Skinner centrou seus estudos no condicionamento operante. 3. Um Pouco de História Sobre a Teoria Behaviorista Fonte: Pixabay.com O behaviorismo pode ser grosseiramente classificado em dois tipos: o behaviorismo metodológico e o radical. O criador da vertente do behaviorismo metodológico (também denominado como comportamentalismo) é John B. Watson. O behaviorismo metodológico tem caráter empirista. Como já vimos anteriormente, para Watson todo ser humano aprendia tudo a partir de seu ambiente (o homem estaria à mercê do meio). Também não possuía nenhuma herança biológica ao nascer. Foi nessa época que o behaviorismo emergiu como uma oposição ao Mentalismo europeu. 6 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 A introspecção não poderia, segundo ele, ser aceita como prática científica. O Behaviorismo Metodológico tem também caráter determinista. Sendo uma teoria muito baseada em estímulo-resposta (E-R), nela há uma indicação de que o comportamento humano é previsível. Se um antecedente X ocorre, o evento Y ocorrerá como consequência. Alguns enunciados de Watson evidenciam essa característica. Outra vertente é o behaviorismo radical, criada por Burrhus Frederic Skinner. Ao contrário do behaviorismo metodológico, essa vertente não pressupõe que o ser humano seja uma tábula rasa, desprovido de qualquer dote fisiológico e genético. Essa era uma das principais diferenças entre as duas vertentes behavioristas e também é o que separa bastante os trabalhos de Skinner e Watson. Para Skinner, o behaviorismo não era um estudo científico do comportamento, mas sim, uma Filosofia da Ciência que se preocupava com os métodos e objetos de estudo da psicologia. Segundo o próprio Skinner: Se a psicologia é uma ciência da vida mental – da mente, da experiência consciente – então ela deve desenvolver e defender uma metodologia especial, o que ainda não foi feito com sucesso”. Se, por outro lado, ela é uma ciência do comportamento dos organismos, humanos ou outros, então ela é parte da biologia, uma ciência natural para a qual métodos testados e muito bem- sucedidos estão disponíveis. A questão básica não é sobre a natureza do material do qual o mundo é feito ou se ele é feito de um ou de dois materiais, mas sim as dimensões das coisas estudadas pela psicologia e os métodos pertinentes a elas (SKINNER, 1963/1969, apud CUNHA 2011, P.14) Skinner, ao contrário de Watson, não nega a visão mentalista da psicologia. Para ele, os chamados fenômenos da privacidade (processos mentais) são de natureza física, material e, portanto, mensuráveis. Faremos aqui uma breve introdução à três behavioristas: Watson (por ser o fundador dessa corrente no mundo ocidental), Thorndike (por ter criado o conceito de reforço e pela sua influência na psicologia da educação) e Skinner (por ser o mais famoso dos behavioristas e, cuja teoria, até hoje influencia o meio educacional). Além deles, falaremos também do russo Ivan Pavlov, que deu bases a Watson para fundar essa linha no mundo ocidental. 3.1. Ivan Pavlov Foi no estudo com animais em laboratório, em especial a digestão de cães, que Pavlov percebeu que alguns estímulos provocavam a salivação e a secreção estomacal no animal, o que deveria ocorrer apenas quando o animal ingerisse um alimento. A partir disso, ele percebeu que o comportamento do cão estava condicionado a esses estímulos, normalmente aplicados poucos instantes antes do cão se alimentar. Por exemplo, acionando-se uma campainha antes de alimentar o cão, Pavlov percebeu que as reações no animal já se faziam presentes. Assim, o estímulo campainha provocou reflexos alimentares no cão (resposta) mesmo sem a presença do alimento. Constatou ainda, que o cão não podia ser enganado por muito tempo. Os reflexos sumiam se a comida não fosse dada ao cão logo. Pavlov postulou que o reflexo condicionado teria um papelimportante no comportamento humano e, consequentemente, na educação. Assim, seu trabalho forneceu bases para que John Watson fundasse o comportamentalismo (ou behaviorismo) no mundo ocidental. 7 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 3.2. John Watson Watson é o fundador do behaviorismo no mundo ocidental e utilizou o termo behaviorismo para enfatizar sua preocupação com os aspectos observáveis do comportamento. Foi fortemente influenciado pelo trabalho de Pavlov e enfatizou suas pesquisas mais nos estímulos do que nas consequências destes, realizando experimentos com animais e seres humanos (bebês, inclusive). A psicologia era, para ele, parte das Ciências Naturais, tendo no comportamento seu objeto de estudo, investigado por meio de experimentos envolvendo estímulos e respostas. Essa forma de pensar tem raízes nos critérios epistemológicos do positivismo, que conhecera nos seus estudos em Filosofia. Pode-se dizer que era um empirista. Para ele, a aprendizagem se dava como o condicionamento clássico de Pavlov: o estímulo neutro, quando emparelhado um número suficiente de vezes como estímulo incondicionado, passa a eliciar a mesma resposta do último, substituindo-o. As emoções humanas como, por exemplo, o medo, também poderiam ser explicadas pelo processo de condicionamento. Ou seja, o medo poderia ser condicionado emparelhando um estímulo incondicionado com um estímulo neutro. Watson descartava o mentalismo, a distinção entre corpo e mente. Para Watson, o comportamento compunha-se inteiramente de impulsos fisiológicos. Devido à influência de Pavlov, focalizou seu estudo muito mais nos estímulos do que nas consequências e, assim, encarou a aprendizagem na forma do condicionamento clássico: o estímulo condicionado, depois de ser emparelhado um número suficiente de vezes com o estímulo incondicionado, passa a eliciar a mesma resposta e pode substituí-lo. Apesar de não usar o conceito de reforço, como faz Skinner. Na aprendizagem, Watson explica tal processo através do Princípio da Frequência e do Princípio da Recentidade. O primeiro princípio diz que quanto mais frequentemente associamos uma dada resposta a um dado estímulo, mais provavelmente os associaremos outra vez. Com isso, nessa perspectiva, cabe ao professor promover o maior número de vezes possível a associação de uma resposta (desejada) a um estímulo para que o aprendiz adquira conhecimentos. Já o Princípio da Recentidade coloca que quanto mais recentemente associarmos uma dada resposta a um dado estímulo, mais provavelmente os associaremos outra vez. Assim, o professor deverá proporcionar ao estudante o vínculo mais rápido possível entre a resposta que ele quer que o aluno aprenda e o estímulo a ela relacionado. Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e meu próprio mundo especificado para fazê-los crescer e, garanto, qualquer um que eu pegue ao acaso posso treiná-lo para se transformar em qualquer tipo de especialista que eu poderia escolher - médico, advogado, artista, o comerciante-chefe e, sim, até mesmo mendigo e ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e raça dos seus antepassados (WATSON, 1930 apud CUNHA 2011, p. 19). 3.3. Dward Thorndike Ao contrário de Watson, Thorndike foi um teórico do reforço (talvez devido a isso sua influência na psicologia e na educação foi muito grande) e sua principal contribuição ao behaviorismo, provavelmente, foi a Lei do Efeito. Essa lei traz consigo uma concepção de aprendizagem na qual uma conexão é fortalecida quando seguida de uma consequência satisfatória (é mais provável que a mesma resposta seja dada outra vez ao mesmo estímulo) e, inversamente, se a conexão é seguida de um estado irritante, ela é enfraquecida (é provável que a resposta não seja repetida). O professor, nesta concepção, deverá proporcionar ao aprendiz um reforço positivo (por exemplo, um elogio), caso o aluno tenha dado uma resposta desejada, ou um reforço negativo (por exemplo, uma punição) quando o aprendiz apresenta uma resposta indesejável. Além da Lei do Efeito, Thorndike propõe mais duas leis principais (Lei do Exercício e Lei da Prontidão) e cinco leis subordinadas (resposta múltipla, “set” ou atitude, preponderância de elementos, resposta por analogia e mudança associativa). 8 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 A Lei do Exercício e a da Prontidão, como implicação para o ensino-aprendizagem, colocam que: • É preciso praticar (lei do uso) para que haja o fortalecimento das conexões; e o enfraquecimento ou esquecimento ocorre quando a prática sofre interrupção (lei do desuso). Cabe ao professor, portanto, propor aos alunos a prática das respostas desejadas através de muitos exercícios que fortalecem as conexões a serem aprendidas e, ao mesmo tempo, descontinuar a prática de conexões indesejáveis. É preciso praticar para melhorar o desempenho; • É preciso que haja prontidão (ajustamentos preparatórios, “sets”, atitudes) para que a concretização de uma ação seja satisfatória. Assim, se o professor demonstrar ao aluno que sua resposta é culturalmente aceita (se for o caso) mais predisposto ele estará para responder de uma certa maneira. 3.4. Burrhus Frederic Skinner Skinner foi o teórico behaviorista que mais influenciou o entendimento do processo ensino-aprendizagem e a prática escolar. No Brasil, a influência da pedagogia tecnicista remonta à segunda metade dos anos 50, mas foi introduzida mais efetivamente no final dos anos 60 com o objetivo de inserir a escola nos modelos de racionalização do sistema de produção capitalista. A concepção skinneriana de aprendizagem está relacionada a uma questão de modificação do desempenho: o bom ensino depende de organizar eficientemente as condições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da situação de aprendizagem diferente de como entrou. O ensino é um processo de condicionamento através do uso de reforçamento das respostas que se quer obter. Assim, os sistemas instrucionais visam o controle do comportamento individual face a objetivos préestabelecidos. Trata-se de um enfoque diretivo do ensino, centrado no controle das condições que cercam o organismo que se comporta. O objetivo do behaviorismo skinneriano é o estudo científico do comportamento: descobrir as leis naturais que regem as reações do organismo que aprende, a fim de aumentar o controle das variáveis que o afetam. Os componentes da aprendizagem – motivação, retenção, transferência – decorrem da aplicação do comportamento operante. Segundo Skinner, o comportamento aprendido é uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma: “se a ocorrência de um comportamento operante é seguida pela apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de reforçamento é aumentada”. Os métodos de ensino consistem nos procedimentos e técnicas necessários ao arranjo e controle das condições ambientais que asseguram a transmissão/recepção de informações. O professor deve, primeiramente, modelar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais e, acima de tudo, conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino (através da tecnologia educacional). As etapas básicas de um processo de ensino aprendizagem na perspectiva skinneriana são: • Estabelecimento de comportamentos terminais, através de objetivos instrucionais; • Análise da tarefa de aprendizagem, a fim de ordenar sequencialmente os passos da instrução; • Executar o programa, reforçando gradualmente as respostas corretas correspondentes aos objetivos. • Exemplos de aplicação da abordagem skinneriana ao ensino seriam, entre outros, a instrução programada e o método Keller. 9 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 4. Teorias de Transição Entre o Behaviorismo Clássico e o Cognitivismo 4.1. Robert Gagné Gagné situa-se entre o behaviorismo e ocognitivismo por falar, de um lado, em estímulos e respostas e, por outro, em processos internos da aprendizagem (parece ser o pioneiro da teoria de processamento de informação). De acordo com este autor, a aprendizagem é uma modificação na disposição ou na capacidade cognitiva do homem que não pode ser simplesmente atribuída ao processo de crescimento. Ela é ativada pela estimulação do ambiente exterior e provoca uma modificação do comportamento que é observada como desempenho humano. Mas, ao contrário de Skinner (e outros behavioristas), Gagné se preocupa com o processo de aprendizagem, com o que se realiza “dentro da cabeça” do indivíduo. Com isso, ele distingue entre eventos externos e internos da aprendizagem, sendo os primeiros a estimulação que atinge o estudante e os produtos que resultam de sua resposta e os últimos são atividades internas que ocorrem no sistema nervoso central do estudante. Os eventos internos compõem o ato de aprendizagem e a série típica desses eventos pode ser analisada através das seguintes fases: fase de motivação (expectativa), fase de apreensão (atenção; percepção seletiva), fase de aquisição (entrada de armazenamento), fase de retenção (armazenamento na memória), fase de rememoração (recuperação), fase de generalização (transferência), fase de desempenho (resposta) e fase de retroalimentação (reforço). Para Gagné a aprendizagem estabelece estados persistentes no aprendiz, os quais ele chama de capacidades humanas (que são: informação verbal, habilidades intelectuais, estratégias cognitivas, atitudes e habilidades motoras). A função de ensinar, para Gagné, é organizar as condições exteriores próprias à aprendizagem com a finalidade de ativar as condições internas. Nesse sentido, cabe ao professor promover a aprendizagem através da instrução que consistiria de um conjunto de eventos externos planejados com o propósito de iniciar, ativar e manter a aprendizagem do aluno. 4.2. Edward Tolman A teoria de Tolman pode ser classificada como uma abordagem behaviorista intencional, pois, diferentemente da linha behaviorista clássica, se ocupa muito mais de variáveis intervenientes do tipo cognições e intenções, dos chamados processos mentais superiores do que de estímulos e respostas. Tolman chama de “cognição” - um construto teórico - o que intervém entre estímulos e respostas. Define este termo tanto no sentido de estímulos como de recompensas (reforços), e a experiência com eles leva ao desenvolvimento de cognições que dirigem o comportamento. Certas necessidades produzem demandas para certos objetivos. A partir das suposições básicas da proposta de Tolman podemos extrair algumas implicações para o ensinoaprendizagem: • É a intenção, a meta, que dirige o comportamento, e não a recompensa (reforço) em si. Assim, é mais importante o professor evidenciar ao estudante a meta que ele pode atingir caso responda corretamente a um dado estímulo do que recompensá-lo pelo comportamento exibido. • As conexões que explicam o comportamento envolvem ligações entre estímulos e conexões, ou expectativas, as quais se desenvolvem como função de exposição a situações nas quais o reforço é possível. Para que o aluno apresenta um comportamento desejado, o professor deverá reforçar o maior número de vezes as conexões entre estímulos e expectativas. • O que é aprendido é uma relação entre sinal e significado, o conhecimento de uma ligação entre estímulos e expectativas de atingir um objetivo. O professor deve promover a aprendizagem do aluno através do fortalecimento da ligação entre um sinal (estímulo) e um significado confirmando a expectativa de recompensa do aluno. 10 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 5. Teoria da Gestalt Fonte: Pixabay.com A Gestalt e o behaviorismo surgem praticamente na mesma época como uma reação ao estruturalismo. No entanto, são completamente diferentes. A Gestalt foi criada pelos psicólogos alemães Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. A premissa básica da Gest alt é que o todo é mais do que a soma de suas partes. Tomemos como exemplo uma árvore: ela é mais do que a soma de suas partes (tronco, raiz, galhos e folhas). Ela é isso e mais: uma árvore está presente em nossa mente como um conjunto de símbolos que não são suas partes. Assim, a interpretação e a percepção desempenham papéis importantes na Gestalt. A Gestalt não era exatamente uma teoria de aprendizagem, mas uma teoria psicológica. O seu conceito mais importante para o estudo da aprendizagem é o de “insight” – súbita percepção de relações entre elementos de uma situação problemática. Uma característica da aprendizagem por insight é que algumas situações são mais favoráveis do que outras nas aliciações do insight. Com isso, em uma situação de ensino, caberia ao professor selecionar condições nas quais a aprendizagem por insight poderia ser facilitada: por exemplo, mostrar ao aluno que a solução de um problema alcançada por insight é facilmente aplicável a outros problemas. Por meio das leis de percepção/aprendizagem, na teoria da Gestalt, veemse outras contribuições para o ensino-aprendizagem. Por exemplo, a Lei da Pregnância (do alemão Prägnanz): nossa mente tende a organizar nossas percepções de forma a capturar as sensações da forma mais simples, simétrica e ordenada possível. Em conjunto com essas leis estão outras complementares que, combinadas, tratam da percepção e da interpretação. A relação observação-interpretação foi ponto de debate também na Epistemologia. O físico e filósofo Norwood Russel Hanson argumentava que observação e interpretação são indissociáveis. Isso pode se constituir em uma forte crítica ao empirismo baconiano, que afirmava ser a observação neutra a gênese das teorias. Embora haja exemplos isolados para cada um dos princípios da Gestalt, esses princípios aparecem combinados em situações de percepção visual ambíguas que podem ser encontradas facilmente em ilusões de óptica. A percepção visual humana é um campo extensivamente estudado pela neurociência e outras ciências e tem se revelado bem mais complexa do que se pensava na época em que Gestalt foi criada. Ainda assim, seu princípio mais geral de que a soma das partes não reproduz o todo é aplicável a qualquer ilusão de óptica. 11 PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA II - TEORIAS DA APRENDIZAGEM - UNIDADE 1 • FEUERSTEIN, R. In: OTMSSNS, W. Sobre la inteligencia humana. Madri, S. A. 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