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LEI MARIA DA PENHA – LEI 11.340/06 2 LEI MARIA DA PENHA – LEI 11.340/06 DISPOSIÇÕES FINAIS - ASPECTOS PROCESSUAIS AÇÃO PENAL NOS CRIMES DE LESÃO CORPORAL LEVE, LESÃO CORPORAL CULPOSA E AMEAÇA Ameaça (art. 147, CP) O próprio art. 147, parágrafo único do Código Penal determina que o processamento do crime de ameaça se dará mediante representação. No contexto da Lei Maria da Penha, o crime de ameaça ainda se procede mediante representação da vítima! Atente-se, pois a Lei 11.340/06 não veda a ação penal pública condicionada à representação, mas tão somente a aplicação dos dispositivos da Lei 9.099/95 (como se dá no caso da lesão leve e culposa). RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA – ART. 16 Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especial- mente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. ͫ * Embora o art. 16 utilize o termo “renúncia”, trata-se, na verdade, de verdadeira retratação (arrependimento) da representação oferecida anteriormente pela vítima. Contudo, cuidado com questões que simplesmente reproduzem o texto da lei e consid- erarão correto o texto do art. 16. Perceba que alguns passos deverão ser seguidos para a retratação, no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. Nos crimes comuns, a retratação da representação pode ser realizada sem qualquer formalidade exigida por lei, até o momento do oferecimento da denúncia pelo Ministério Público (pode-se retratar na Delegacia, por exemplo). Por outro lado, no âmbito da Lei Maria da Penha, a vítima até poderá se retratar. Contudo, teremos aqui as seguintes peculiaridades: ͫ Poderá até o momento do recebimento da denúncia pelo juiz (e não somente até o momento do oferecimento da denúncia pelo MP); ͫ Somente poderá acontecer em audiência específica para essa finalidade, na presença do juiz e ouvido o Ministério Público. Outrossim, merece destaque o conteúdo do art. 17 da Lei 11.340/06. Veda-se a aplicação de penas de cesta básica, prestação pecuniária ou substituição de pena que gere o pagamento isolado de multa. Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa. LEI MARIA DA PENHA – LEI 11.340/06 3 Visando evitar a estigmatização das infrações cometidas no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher, no sentido de que basta o mero pagamento de cesta básica (por exemplo), editou-se o art. 17 exposto acima. Súmula 588-STJ A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA DISPOSIÇÕES INICIAIS As medidas protetivas de urgência em espécie estão elencadas do art. 22 ao art. 24 da Lei 11.340/06. Antes disso, cabe estabelecer alguns aspectos gerais, como legitimidade para requerer, consequências, entre outros. Novidades de 2023: A Lei 14.550/23 acrescentou três parágrafos ao art. 19 da Lei Maria da Penha (recomenda-se a memorização dos dispositivos): Art. 19, § 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumá- ria a partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de suas alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de avaliação pela autoridade de inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes. § 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência. § 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes. Requerimento: Conforme o art. 19 da Lei Maria da Penha, podem requerer medidas protetivas de urgência: tanto o Ministério Público, quanto a ofendida. O delegado não pode fazer esse requerimento! Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. A hipótese mais comum, na prática, é que o pedido de concessão da medida protetiva seja realizado pela própria vítima, quando do registro da ocorrência policial. Dessa forma, a vítima com- parece à Delegacia de Polícia para registrar boletim de ocorrência e, em seu transcorrer, a Autoridade Policial colhe o pedido da ofendida quanto às medidas protetivas. Como já mencionado, o pedido é da própria ofendida, ela quem irá requerer as medidas protetivas. A função da Autoridade Policial é apenas orientar a vítima, reduzindo a termo o seu pedido e remetendo-o em autos apartados, no prazo de 48 horas, ao juiz competente. Questiona-se: a ofendida precisa estar assistida de advogado no momento do requerimento de medida protetiva? Não! 4 A Lei 11.340/06 determina que nos atos processuais, cíveis e criminais, a ofendida deverá estar assistida por advogado, exceto para requerer medida protetiva de urgência. Ademais, no formulário que serve para requerimento da medida protetiva, o delegado fará constar, além de dados pessoas da ofendida e descrição suscinta dos fatos, se a ofendida é portadora de deficiência, se a deficiência foi resultado da violência sofrida ou se a deficiência pré-existente foi agravada pela violência. Art. 12, § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter: I - qualificação da ofendida e do agressor; II - nome e idade dos dependentes; III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida. IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019). § 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocor- rência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida. Concessão: Em regra, a autoridade competente para decretar medidas protetivas de urgência é o juiz, ao qual, recebendo o expediente com o pedido da ofendida pela concessão das medidas, caberá, no prazo de 48 horas: • Decidir se as concede ou não; • Determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente; • Comunicar o Ministério Público. • Determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor. Saiba ainda que as medidas protetivas poderão ser concedidas de imediato pelo juiz, sem que haja necessidade de audiência das partes (contraditório prévio) e de manifestação do Ministério Público (o qual deverá ser apenas comunicado). *Lembre-se, por fim, que o art. 12-C permite, em caráter excepcional, ao delegado ou policial decidir pelo afastamento imediato do agressor do lar (apenas essa medida), desde que presentes as situações elencadas no artigo citado. APLICAÇÃO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA Ainda no que tange às medidas protetivas de urgência, tem-se que elas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo. Art. 19, § 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados. LEI MARIA DA PENHA – LEI 11.340/06 5 DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO Impostas as medidas protetivas de urgênciapelo juiz e na hipótese de descumprimento delas pelo agressor, temos algumas consequências possíveis: ͫ Substituição da medida protetiva por uma mais eficaz ou cumulação com outra; ͫ Decretação de prisão preventiva (nos termos dos arts. 312 c/c 313, III, CPP e art. 20 da Lei 11.340/06); ͫ Ocorrência do crime previsto no art. 24-A da Lei 11.340/06. A Lei Maria da Penha determina ainda que a ofendida deverá ser notificada de todos os atos processuais que envolvam o agressor, principalmente o seu ingresso ou saída da prisão. Além disso, é expressamente vedado que a ofendida entregue qualquer intimação ou notifi- cação ao agressor. Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, espe- cialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público. Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor. (FUNDEP/2019) Concluído inquérito policial que apurou crime de ameaça (art. 147 do Código Penal) praticado em situação de violência doméstica, a defesa técnica, antes do oferecimento da denúncia, apresentou carta na qual a vítima dizia que não tinha mais interesse na conde- nação do suposto autor do fato. Diante disso, o juiz deverá declarar a extinção da punibilidade pela renúncia ao direito de representação. Errado!
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