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RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 1 Resumo Gratuito Dedicação Delta Lei Maria da Penha 2 ÚLTIMOS CURSOS LANÇADOS: RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 3 Sumário 1. FINALIDADES DA NORMA ............................................................................................................................................... 6 2. PREVISÃO CONSTITUCIONAL E IGUALDADE MATERIAL ................................................................................................. 7 3. INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA ................................................................................................................... 8 3. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ............................................................................................. 9 4. SUJEITO PASSIVO ......................................................................................................................................................... 12 5. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................................................................. 14 6. ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................................................................. 16 7. HIPÓTESES DE CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ....................................................................................... 18 8. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ............................................................................................................... 20 9. FORMAS DE PREVENÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA .................................................................................................... 24 10. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA FAMILIAR ....................................................................... 25 11. DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL ...................................................................................................... 29 12. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA ........................................................................................................................ 34 12.1. Considerações Iniciais: ........................................................................................................................................ 34 12.2. Legitimidade para conceder as medidas protetivas de urgência: ...................................................................... 38 12.3. Das Medidas Protetivas De Urgência Que Obrigam O Agressor ......................................................................... 41 12.4. Das Medidas Protetivas De Urgência À Ofendida ............................................................................................... 42 12.5. Vias impugnativas ............................................................................................................................................... 43 12.6. Descumprimento das medidas protetivas de urgência ...................................................................................... 43 13. PRISÃO PREVENTIVA .................................................................................................................................................. 49 14. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES PRATICADOS NO CONTEXTO DA LEI 11.340/06 ........................... 51 15. VEDAÇÕES PREVISTAS NA LEI MARIA DA PENHA ....................................................................................................... 52 15.1 Vedação à pena de cesta básica, prestação pecuniária ou pagamento isolado da multa ................................... 52 15.2. Vedação às penas restritivas de direito .............................................................................................................. 53 15.3. Vedação à aplicação o Princípio da Insignificância ............................................................................................. 54 16. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DA LEI MARIA DA PENHA ................................................................................................ 56 17. COMPETÊNCIA NA LEI MARIA DA PENHA .................................................................................................................. 58 18. REPARAÇÃO DE DANOS NO ÂMBITO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ......................... 61 19. LEI 14.022/2020 ......................................................................................................................................................... 63 20. ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS IMPORTANTES ............................................................................................... 68 4 RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 5 TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA ⦁ Lei 11.340/06 ⦁ Lei 14.022/2020 ⦁ Art. 226, §8º, CF/88 ⦁ Art. 88, Lei 9099/95 (inaplicabilidade da Lei 9099/95 à Maria da Penha) CPP ⦁ Art. 312 e 313, III ⦁ Art. 322 ⦁ Art. 581, V CP ⦁ Art. 44, §2º ⦁ Art. 45, §1º e 2º ⦁ Art. 129, §9º ⦁ Art. 138 a 140 (os crimes contra a honra configuram violência moral contra a mulher) ⦁ Art. 330 ⦁ ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER! Lei 11.340/06 ⦁ Art. 5º e Art. 7º ⦁ Art. 8º, §4º ⦁ Art. 9º, §4º a §8º ⦁ Art. 10-A (importantíssimo) ⦁ Art. 11, 12 e 12-C (importantíssimos) ⦁ Art. 14-A ⦁ Art. 16 e 17 (importantíssimos) ⦁ Art. 18 e 19 ⦁ Art. 20 ⦁ Art. 22, VI e VII ⦁ Art. 24-A (importantíssimo) ⦁ Art. 38-A ⦁ Art. 41 CPP ⦁ Art. 312 e 313, III, CPP ⦁ Art. 322, CPP RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 6 LEI MARIA DA PENHA Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher (Lei n. 11.340/06) 1. FINALIDADES DA NORMA Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. A Lei Maria da Penha possui natureza multidisciplinar, pois, além do caráter penal material e procedimental, cria mecanismos de proteção à mulher também de natureza civil, e trata até mesmo temas afetos às políticas públicas. Ou seja, cuida-se de diploma direcionado à proteção da mulher frente a diversas áreas do direito. São quatro as finalidades da lei: ü Prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. ü Estabelecimento de medidas de assistência ü Estabelecimento de medidas de proteção ü Criação de Juizados Especiais de violência doméstica e familiar contraa mulher Cuidado! O juizado mencionado, não se confunde com os Juizados Especiais Criminais criados pela Lei nº 9.099 de 95. Ademais, a Lei Maria da Penha, ao teor do art. 41, disciplina a vedação da incidência da Lei dos Juizados no caso de aplicação da Lei Maria da Penha. Os arts. 2° e 3° da Lei nº 11.340/06 enumeram direitos e garantias fundamentais inerentes à pessoa humana que devem ser assegurados a toda e qualquer mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião: oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 7 intelectual e social, além de condições para o efetivo exercício dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. § 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput. 2. PREVISÃO CONSTITUCIONAL E IGUALDADE MATERIAL Art. 226 – A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. A Lei nº 11.340/06 foi criada, não apenas para atender ao disposto no art. 226, §8°, da Constituição Federal, que considerou ser dever do Estado assegurar a igualdade substancial nas relações domésticas, em razão da necessidade de proteção específica e da continuada relação de submissão experimentada pelas mulheres, mas também para dar cumprimento a diversos tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil. Nesse sentido, é dever do Estado, por meio de prestações positivas (ações afirmativas), extirpar a desigualdade histórica que existe entre homens e mulheres, construindo uma igualdade para além da meramente formal, estabelecida no art.5º, I, da CRFB, ou seja, uma igualdade materialmente perceptível no âmbito das relações sociais. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 8 Explica o professor Renato Brasileiro (2020): Com o objetivo de compensar desigualdades históricas entre os gêneros masculino e feminino, e de modo a estimular a inserção e inclusão desse grupo socialmente vulnerável nos espaços sociais, promovendo-se, assim, a tão desejada isonomia constitucional entre homens e mulheres (CF, art. 5°, I), esta Convenção passou a prever a possibilidade de adoção de ações afirmativas (" discriminação positiva"). Afinal, a promoção da igualdade entre os sexos passa não apenas pelo combate à discriminação contra a mulher, mas também pela adoção de políticas compensatórias capazes de acelerar a igualdade de gênero. Ressalta-se que esses programas de ação afirmativa não se colocam em rota de colisão com o princípio da igualdade, potencializando, pelo contrário, expectativas compensatórias e de inserção social de parcelas historicamente marginalizadas. Não violam o princípio da igualdade, pois há uma discriminação positiva e não negativa Inf. 654 do STF - Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de a Lei n. 11.340/06 ser voltada apenas à proteção das mulheres. 3. INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA Art. 4o - Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Cuida o dispositivo da famigerada “interpretação teleológica”, aquela que parte das finalidades da norma. Segundo o art. 4º, a interpretação da Lei deve levar em conta os fins sociais a que se destina, ou seja, deve tutelar a mulher que se encontra em uma situação de vulnerabilidade no âmbito de uma relação doméstica, familiar ou íntima de afeto. É nesse sentido que os dispositivos da lei devem ser interpretados, em favor da pessoa que mereceu maior proteção do legislador. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 9 3. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER O conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher é extraído do art. 5º, conjugado com o art. 7º, ambos da Lei 11.340/06. Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015) I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018) III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 10 instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo osdestinados a satisfazer suas necessidades; V - A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. De forma genérica, são exigidos três requisitos para a configuração de violência doméstica: 1) A vítima deve ser mulher. (Aqui é importante ser cuidadoso, uma vez que há jurisprudência do STJ reconhecendo o direito de transexuais à alteração do registro civil, mesmo sem realizar a cirurgia de redesignação sexual, logo a este seria extensível a proteção da Lei Maria da penha.) 2) Deve ocorrer uma das hipóteses do artigo 5º da referida lei: 2.1. A violência deve ter ocorrido âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; 2.2. No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa 2.3. Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Atenção à súmula 600 do STJ, segundo a qual a configuração da violência familiar não exige a coabitação entre autor e vítima. Tal entendimento visa estender o grau de proteção da norma de modo a abarcar um conjunto de relações fluídas, percebidas em grande parte na sociedade brasileira. Súmula 600 do STJ: “Para configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da lei 11.340/2006, lei Maria da Penha, não se exige a coabitação entre autor e vítima”. 3) Produção de forma de violência prevista nos incisos do art. 7º, Lei 11.340/06: a. Violência física b. Violência patrimonial RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 11 c. Violência sexual d. Violência moral. e. Violência psicológica ** ** Obs.: A Lei nº 13.772/2018 promoveu uma pequena mudança na Lei nº 11.340/2006 para deixar expresso que a violação da intimidade da mulher é uma forma de violência doméstica, classificada como violência psicológica. Considerações importantes: (1) Não há necessidade de habitualidade. O art. 5º, caput refere-se apenas à ação ou omissão. (2) É indispensável que ocorra uma violência de gênero, tal qual expresso no caput do art.5º. Ausente esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha. Segundo Renato Brasileiro: “O objetivo da Lei Maria da Penha não foi o de conferir uma proteção indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se encontrarem em uma situação de vulnerabilidade em razão de gênero. É indispensável, portanto, que a vítima esteja em uma situação de hipossuficiência física ou econômica, enfim, que a infração tenha como motivação a opressão à mulher”. (3) Para o STJ há presunção legal da hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica: Apesar de haver decisões em sentido contrário, prevalece o entendimento de que a hipossuficiência e a vulnerabilidade, necessárias à caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, são presumidas pela Lei nº 11.340/2006. A mulher possui na Lei Maria da Penha uma proteção decorrente de direito convencional de proteção ao gênero (tratados internacionais), que o Brasil incorporou em seu ordenamento, proteção essa que não depende da demonstração de concreta fragilidade, física, emocional ou financeira. Ex: agressão feita por um homem contra a sua namorada, uma Procuradora da AGU, que possuía autonomia financeira e ganhava mais que ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 620.058/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/03/2017. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1720536/SP, Rel. Min. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 12 Nefi Cordeiro, julgado em 04/09/2018. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 92.825, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca; Julg. 21/08/2018. O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para processar e julgar o delito. Isso porque a situação de vulnerabilidade e de hipossuficiência da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se ipso facto, sendo irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se de uma presunção da Lei. STJ. 5ª Turma. REsp 1416580- RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 1º/4/2014 (Info 539). APROFUNDANDO PARA AS PROVAS DISCURSIVAS... Em provas subjetivas, além de apresentar o entendimento do STJ, é importante demonstrar conhecimento acerca dos entendimentos doutrinários sobre o tema. Para parte da doutrina, somente haveria presunção absoluta de vulnerabilidade da mulher quando o sujeito ativo fosse homem. Em sendo uma mulher, essa presunção de vulnerabilidade deveria ser relativa, a ser demonstrada no caso concreto. Confira a explicação do professor Renato Brasileiro: “A nosso ver, não há como se afastar a aplicação da Lei Maria da Penha às hipóteses de violência doméstica e familiar perpetrada por um homem contra a mulher. Nesse caso, parece haver verdadeira presunção absoluta de vulnerabilidade. Em tais situações, a desigualdade entre os gêneros feminino e masculino que justifica o tratamento desigual contemplado pela Lei Maria da Penha pode ser facilmente constatada, seja pela maior força física do homem, seja pela posição de superioridade que geralmente ocupa no seio familiar e social. Todavia, quando esta mesma violência é perpetrada por uma mulher contra outra no seio de uma relação doméstica, familiar ou íntima de afeto, não há falar em presunção absoluta de vulnerabilidade do gênero feminino. Cuida-se, na verdade, de presunção relativa. A título de exemplo, possamos pensar numa violência física praticada por uma irmã contra a outra. Como o sujeito ativo de tal crime não se apresenta supostamente mais forte, ameaçador e dominante que a vítima, não há nenhum critério razoável capaz de justificar a aplicação dos ditames gravosos da Lei nº 11.340/06. Afinal, o objetivo da Lei Maria da Penha não foi o de conferir uma proteção indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se encontrarem em uma situação de vulnerabilidade.” 4. SUJEITO PASSIVO Exclusivamente a mulher (violência de gênero), independentemente da orientação sexual, sendo perfeitamente possível que o agressor e a vítima sejam do sexo feminino (vide parágrafo único do art.5º supracitado). Ensina o Professor Renato Brasileiro de Lima: RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 13 “Para a caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, não é necessário que a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O agressor tanto pode ser um homem (união heterossexual) como outra mulher (união homoafetiva)”. Ressalta-se que, para a doutrina majoritária e os Tribunais Superiores, é possível que os transgêneros e transexuais sejam vítimas no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher. APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS... Aplica-se a Lei Maria da Penha aos transexuais? Há duas correntes sobre o tema. 1ª Corrente: não seria possível, pois seria uma analogia in malan partem. 2ª Corrente: É possível conferir a proteção da Lei Maria da Penha, mesmo sem realizar a cirurgia de transgenitalização. (Prevalece!) Vejam: A Lei Maria da Penha não distingue orientação sexual e identidade de gênero das vítimas mulheres. O fato de a ofendida ser transexual feminina não afasta a proteção legal, tampouco a competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar.1 EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO CONTRA DECISÃO DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA VARA CRIMINAL COMUM. INADMISSÃO DA TUTELA DA LEI MARIA DA PENHA. AGRESSÃO DE TRANSEXUAL FEMININO NÃO SUBMETIDA A CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL (CRS).PENDÊNCIA DE RESOLUÇÃO DE AÇÃO CÍVEL PARA RETIFICAÇÃO DE PRENOME NO REGISTRO PÚBLICO. IRRELEVÂNCIA. CONCEITO EXTENSIVO DE VIOLÊNCIA BASEADA NO GÊNERO FEMININO. DECISÃO REFORMADA. 1. O Ministério Público recorre contra decisão de primeiro grau que deferiu medidas protetivas de urgência em favor de transexual mulher agredida pelo companheiro, mas declinou da competência para a Vara Criminal Comum, por entender ser inaplicável a Lei Maria da Penha porque não houve alteração do patronímico averbada no registro civil. 2. O gênero feminino decorre da liberdade de autodeterminação individual, sendo apresentado socialmente pelo nome que adota, pela forma como se comporta, se veste e se identifica como pessoa. A alteração do registro de identidade ou a cirurgia de transgenitalização são apenas opções disponíveis 1https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-‐em-‐temas/lei-‐maria-‐da-‐penha-‐na-‐visao-‐do-‐tjdft/sujeitos-‐e-‐ requisitos/sujeitos/transexual-‐feminina-‐como-‐sujeito-‐ passivo#:~:text=A%20Lei%20Maria%20da%20Penha,de%20Viol%C3%AAncia%20Dom%C3%A9stica%20e%20Familiar. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 14 para que exerça de forma plena e sem constrangimentos essa liberdade de escolha. Não se trata de condicionantes para que seja considerada mulher. 3. Não há analogia in malam partem ao se considerar mulher a vítima transexual feminina, considerando que o gênero é um construto primordialmente social e não apenas biológico. Identificando-se e sendo identificada como mulher, a vítima passa a carregar consigo estereótipos seculares de submissão e vulnerabilidade, os quais sobressaem no relacionamento com seu agressor e justificam a aplicação da Lei Maria da Penha à hipótese. 4. Recurso provido, determinando-se prosseguimento do feito no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, com aplicação da Lei Maria da Penha. (Acórdão 1089057, Relator Des. GEORGE LOPES, 1ª Turma Criminal, data de julgamento: 5/4/2018, publicado no DJe: 20/4/2018.) Obs.: Embora o homem não possa ser sujeito passivo na lei Maria da Penha, é perfeitamente possível a aplicação das medidas protetivas de urgência previstas na referida lei, com base no poder geral de cautela do juiz, caso o crime seja praticado no contexto de violência doméstica e familiar e haja situação de vulnerabilidade do sujeito passivo homem, à luz do art. 313, III do CPP. Um dos exemplos de que o homem pode ser vítima no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher é o art. 128, §§9º, 10 e 11 do Código Penal. § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 11. Na hipótese do § 9ºdeste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006) Inf. 501 do STJ – Lesão corporal (qualificadora no caso de violência doméstica) - A qualificadora prevista no § 9º do art. 129 do CP aplica-se também às lesões corporais cometidas contra HOMEM no âmbito das relações domésticas. 5. SUJEITO ATIVO Pode ser tanto o homem quanto a mulher (art. 5º, parágrafo único, Lei 11.340/06). RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 15 Logo, a violência doméstica baseada em razão de gênero havida entre companheiras se submete à Lei Maria da Penha, não sendo o fato de se tratar de relação homoafetiva suficiente para afastar sua aplicação. Também é possível que em um conflito percebido mãe e filha, irmãs, ou mesmo sogra e nota esteja sujeito à aplicação da Lei 11.340/06. Violência praticada por filha contra a mãe Aplica-se a Lei Maria da Penha. O agressor também pode ser mulher. STJ. 5ª Turma. HC 277561/AL, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/11/2014. Constatada situação de vulnerabilidade, aplica-se a Lei Maria da Penha no caso de violência do neto praticada contra a avó A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1626825-GO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 05/05/2020 (Info 671). Atenção: o homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, porém sem a possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha. Aplica-se, portanto, o Código Penal (art.129, §9º, CP), hipótese em que a violência doméstica sofrida pelo sujeito do sexo masculino qualifica o crime de lesão corporal. Vejam : Não se aplica a Lei Maria da Penha. O sujeito passivo (vítima) não pode ser do sexo masculino. STJ. 5ª Turma. RHC 51481/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 21/10/2014. Lesão corporal contra irmão configura o § 9º do art. 129 do CP não importando onde a agressão tenha ocorrido Não é inepta a denúncia que se fundamenta no art. 129, § 9º, do CP – lesão corporal leve –, qualificada pela violência doméstica, tão somente em razão de o crime não ter ocorrido no ambiente familiar. Ex: João agrediu fisicamente seu irmão na sede da empresa onde trabalham, causando-lhe lesão corporal RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 16 leve. O agente deverá responder pelo art. 129, § 9º do CP. Sendo a lesão corporal praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, deverá incidir a qualificadora do § 9º não importando onde a agressão tenha ocorrido. STJ. 5ª Turma. RHC 50026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 3/8/2017 (Info 609) Vamos esquematizar? SUJEITO ATIVO SUJEITO PASSIVO Homem ou mulher; Há uma exigência de uma qualidade especial: ser mulher. 6. ELEMENTO SUBJETIVO RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 17 Para a doutrina amplamente majoritária: Apenas crimes dolosos podem atrair a aplicação da Lei Maria da Penha. Deve-se frisar que, no que tange à modalidade de culpa consciente, aplica-se a incidência da Lei nº 11.340/06. Isso porque, na culpa consciente, existe vontade e nítido liame subjetivo entre o agente e o resultado, na medida em que o sujeito reconhece que ultrapassa os limites do risco autorizado, ou seja, ele tem ciência de que está lesando um dever de cuidado por meio de sua conduta. Isso é: Quando atua com culpa consciente, o agente prevê a ocorrência do resultado penalmente relevante, em que pese acreditar, firmemente, que não irá se verificar. Já no tocante à culpa inconsciente, a doutrina entende não ser possível aplicar a Lei Maria da Penha para os crimes culposos (nos casos em que a culpa é inconsciente, o agente não possui conhecimento de que infringe um dever de cuidado, tampouco prevê a ocorrência do resultado danoso, razão pela qual sua ação/omissão não poderá ter qualquer base no gênero, implicando o afastamento do artigo 5º da Lei Maria da Penha.) Vejamos o julgamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, assim ementado: Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. DESCLASSIFICAÇÃO PARA LESÃOCORPORAL CULPOSA. ART. 129, § 6º, DO CÓDIGO PENAL. NÃO INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA. CONFLITO PROCEDENTE. Já que houve a desclassificação para o delito de lesão corporal culposa, impõe-se a procedência do conflito, fixando a competência do juízo da 1ª Vara Judicial da Comarca de Estrela para o processamento do inquérito policial e de eventual ação penal. CONFLITO DE COMPETENCIA PROCEDENTE. (Conflito de Jurisdição Nº 70051245728, Segunda Câmara, Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lizete Andreis Sebben, Julgado em 08/11/2012). Cuidado! Apesar de o Supremo não ter enfrentado diretamente a questão por ocasião do julgamento da ADI 4.424/DF (Rei. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/ 2012), o Plenário do Supremo concluiu que o crime de lesão corporal praticada contra a mulher em âmbito doméstico será de ação penal pública incondicionada, mesmo que de natureza leve ou culposa. Logo, por via oblíqua as infrações penais culposas também se sujeitam à incidência da Lei Maria da Penha. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 18 7. HIPÓTESES DE CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: A ação ou omissão da qual resulta a violência doméstica não precisa ser necessariamente uma infração penal, ações que não são típicas, ou são praticadas no bojo de alguma excludente de ilicitude ou culpabilidade, podem ser consideradas violência doméstica, mesmo não sendo punidas criminalmente. I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; A lei é clara no sentido de que não se exige o vínculo familiar para a caracterização do âmbito de unidade doméstica, sendo necessário apenas que o espaço seja de convivência permanente incluindo-se as pessoas agregadas esporadicamente. Nesse sentido, é possível aplicar a Lei Maria da Penha em relações de amigos que moram juntos, ou, ainda, em violência perpetrada contra empregada doméstica, desde que presentes os demais requisitos, sobretudo a situação de vulnerabilidade. II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; Nesta hipótese, sim, o determinante é a existência de vínculo familiar, de origem biológica ou não. A violência não precisa ser praticada no âmbito da unidade doméstica, podendo ocorrer dentro ou fora do espaço habitado pelos familiares. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 19 Lembrando que não basta a relação de parentesco, sendo imprescindível a presença dos requisitos: motivação de gênero e situação de vulnerabilidade. Obs.: Vinculo de natureza familiar é jurídico. Logo, pode ser um vínculo conjugal, vinculo de parentesco ou um vínculo por vontade expressa (adoção). III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. *Atenção: STJ CC 100654. A Lei n.º 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, em seu art. 5.º, inc. III, caracteriza como violência doméstica aquela em que o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Contudo, necessário se faz salientar que a aplicabilidade da mencionada legislação a relações íntimas de afeto como o namoro deve ser analisada em face do caso concreto. Não se pode ampliar o termo - relação íntima de afeto - para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. Em miúdos, o STJ afasta a aplicação da Lei para as relações de afeto que sejam meras “ficadas” eventuais entre pessoas que não tem efetiva conexão afetiva. STJ: “(...) LEI MARIA DA PENHA. VIOLÊNCIA PRATICADA EM DESFAVOR DE EXNAMORADA. (...) a aplicabilidade da mencionada legislação a relações íntimas de afeto como o namoro deve ser analisada em face do caso concreto. Não se pode ampliar o termo - relação íntima de afeto - para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. In casu, verifica-se nexo de causalidade entre a conduta criminosa e a relação de intimidade existente entre agressor e vítima, que estaria sendo ameaçada de morte após romper namoro de quase dois anos, situação apta a atrair a incidência da Lei n.º 11.340/2006. (...)”. (STJ, 3ª Seção, CC 100.654/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 13/05/2009). Violência praticada por companheiro da mãe ("padrasto") contra a enteada. Aplica-se a Lei Maria da Penha. Obs.: a agressão foi motivada por discussão envolvendo o relacionamento amoroso que o agressor possuía com a mãe da vítima (relação íntima de afeto). STJ. 5ª Turma. RHC 42092/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 25/03/2014. STJ: “(...) AMEAÇA. SOGRA E NORA. (...) A incidência da Lei n.º 11.340/2006 reclama situação de violência praticada contra a mulher, em RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 20 contexto caracterizado por relação de poder e submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade. Precedentes. No caso não se revela a presença dos requisitos cumulativos para a incidência da Lei n.º 11.340/06, a relação íntima de afeto, a motivação de gênero e a situação de vulnerabilidade. Concessão da ordem. Ordem não conhecida. Habeas corpus concedido de oficio, para declarar competente para processar e julgar o feito o Juizado Especial Criminal da Comarca de Santa Maria/RS”. (STJ, 5ª Turma, HC 175.816/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze, j. 20/06/2013, DJe 28/06/2013). Vamos esquematizar? ÂMBITO DA UNIDADE DOMÉSTICA ÂMBITO DA FAMÍLIA. QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO Espaço de convívio permanente de pessoas, COM OU SEM VÍNCULO FAMILIAR, inclusive as esporadicamente agregadas. Indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, INDEPENDENTEMENTE DE COABITAÇÃO. Não se exige o vínculo familiar. Leva em conta apenas o aspecto espacial. Aqui importam os laços, pouco importando o lugar, pouco importando se há coabitação. Aqui, o importante é que haja um relacionamento entre duas pessoas, seja baseado na amizade ou em qualquer outro sentimento, desde que não seja uma relação passageira. 8. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER O conceito de violência doméstica e familiar é divorciado do conceito de violência existente na esfera penal (emprego de força física obre o corpo da vítima). O termo “violência”, na Lei Maria da Penha, abarca: a violência física, a violência psicológica, a violência sexual, a violência patrimonial e a violência moral. As violências, como já exposto anteriormente, devem ser praticadas a título de dolo. Lembrando que há entendimento admitindo também na prática do crime culposo consciente. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 21 Note que o art. 7° faz uso da expressão "entre outras", portanto não se trata de um rol taxativo, mas sim exemplificativo. Logo, é perfeitamente possível o reconhecimento de outras formas de violência doméstica e familiar contra a mulher. Tem-se aí verdadeira hipótese de interpretação analógica. • Violência física – Entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal • Violência psicológica – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima, lhe prejudique o pleno desenvolvimento, ou que vise degradar ou controlar suas ações de maneira geral Lei 13.772/2018: acrescentaum novo crime ao Código Penal - Crime de registro não autorizado da intimidade sexual (art. 216-B).2 Promoveu ainda uma pequena mudança na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) para deixar expresso que a violação da intimidade da mulher é uma forma de violência doméstica, classificada como violência psicológica. • Violência sexual - entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; • Violência patrimonial - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de 2 https://www.dizerodireito.com.br/2018/12/lei-‐137722018-‐crime-‐de-‐registro-‐nao.html RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 22 trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS... Há divergência doutrinária se há a aplicação das escusas absolutórias, das imunidades absoluta e relativa previstas no CP nos casos de violência patrimonial no âmbito doméstico e familiar. 1ª posição – Maria Berenice: NÃO. Defendem a inaplicabilidade das escusas absolutórias por ser uma medida de política criminal incompatível com a mens legis da Lei Maria da Penha. Permitir a incidência das imunidades é enfraquecer a proteção (que deveria ser mais intensa) à mulher vítima de violência patrimonial no seio das relações domesticas, familiares e intimas de afeto. 2ª posição- Nucci e Renato Brasileiro: SIM. Diante do silêncio da Lei, o ideal é concluir pela aplicação das escusas absolutórias no caso de crimes patrimoniais perpetrados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher. Estender a vedação expressa presente no estatuto do idoso constitui verdadeira analogia in malam partem, colocando-se em rota de colisão com o princípio da legalidade. • Violência moral - entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte alternativa: A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria, é uma das formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecida na Lei n. 11.340/2006 RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 23 Logo, é importante perceber que as agressões da qual a lei protege não são necessariamente físicas, podendo ser objeto do procedimento previsto na Lei 11.340 atos de disposição ilegítima de patrimônio e crimes contra a honra, caso presentes das hipóteses já estudadas no art. 5°. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 24 9. FORMAS DE PREVENÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes: I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às consequências e à frequência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas; III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; Já tem MP instaurando ACP contra programas de TV que violam este dispositivo. IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher; V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres; VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher; VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia; VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia; IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 25 Merece destaque o inciso IV, que trata da implementação de Delegacias especializadas no atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar. Em alguns locais chamada de DEAM. A vítima deve ser encaminhada a esta Delegacia especializada para que lá seja adequadamente atendida e para que lá sejam tomadas todas as providências em relação a essa espécie de delito. 10. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA FAMILIAR Art. 9° A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso. § 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal. § 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica: I - Acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta; II - Manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) § 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violênciasexual. § 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os serviços. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 26 § 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e disponibilizados para o monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) § 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) § 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo de violência doméstica e familiar em curso. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) § 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou transferidos conforme o disposto no §4º** deste artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Ministério Público e aos órgãos competentes do poder público. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) ** Obs.: o §8º faz referência ao §4º porque o projeto de lei que o inseriu transitou de forma concomitante ao projeto de lei que alterou os §§4º, 5º e 6º (Lei 13.871/2019), não havendo um ajuste na numeração dos parágrafos. Onde se lê §4º, devemos ler §7º. Ao tratar sobre a assistência à mulher em condição de violência doméstica o legislador possibilitou a decretação judicial de diversas ações e programas de auxilio por prazo determinado para a vítima, dentre as quais: • Possibilidade de remoção prioritária da servidora pública, integrante da administração direta e indireta. • Manutenção do vínculo trabalhista pelo prazo de até seis meses quando necessário o afastamento da vítima de seu local de trabalho. Obs.: Segundo o STJ, o INSS deverá arcar com a subsistência das mulheres que precisaram se afastar do trabalho para se proteger de violência doméstica. Para o colegiado, tais situações ofendem a integridade física ou psicológica da vítima, o que justifica o direito ao “auxílio-doença”: RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 27 A medida de afastamento do local de trabalho, prevista no art. 9º, § 2º, da Lei é de competência do Juiz da Vara de Violência Doméstica, sendo caso de interrupção do contrato de trabalho, devendo a empresa arcar com os 15 primeiros dias e o INSS com o restante O art. 9º, § 2º da Lei Maria da Penha prevê que: O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica, manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. A competência para determinar essa medida é do Juiz da Vara de Violência Doméstica ou do Juiz do Trabalho? Juiz da Vara de Violência Doméstica. O juiz da vara especializada em Violência Doméstica (ou, caso não haja na localidade, o juízo criminal) tem competência para apreciar pedido de imposição de medida protetiva de manutenção de vínculo trabalhista, por até seis meses, em razão de afastamento do trabalho de ofendida decorrente de violência doméstica e familiar. Isso porque o motivo do afastamento não advém da relação de trabalho, mas sim da situação emergencial que visa garantir a integridade física, psicológica e patrimonial da mulher. Qual é a natureza jurídica desse afastamento? Sobre quem recai o ônus do pagamento? A natureza jurídica do afastamento por até seis meses em razão de violência doméstica e familiar é de interrupção do contrato de trabalho, incidindo, analogicamente, o auxílio- doença, devendo a empresa se responsabilizar pelo pagamento dos quinze primeiros dias, ficando o restante do período a cargo do INSS. STJ. 6ª Turma. REsp 1757775-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/08/2019 (Info 655). • Encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente. NOVIDADE LEGISLATIVA: A Lei nº 13.894/2019 acrescentou um novo inciso ao § 2º do art. 9º prevendo que, se a vítima e o agressor forem casados ou viverem em união estável, a mulher deverá ser encaminhada à assistência judiciária para que possa ter a oportunidade de, assim desejando, desvincular-se formalmente do marido/companheiro agressor por meio da ação judicial própria. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 28 Atenção aos parágrafos 4º ao 8º: são novidades legislativas: O autor de violência doméstica praticada contra mulher terá que ressarcir os custos relacionados com os serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência doméstica e familiar e com os dispositivos de segurança utilizados pelas vítimas para evitar nova violência. NOVIDADE LEGISLATIVA: A Lei nº 13.894/2019 acrescentou o § 4º e §5º e 6º do art. 9º prevendo que o autor de violência doméstica praticada contra mulher terá que ressarcir os custos relacionados com: • os serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência doméstica e familiar: Quando se fala em ressarcir todos os danos causados, isso significa que o agressor tem o dever, inclusive, de pagar ao Sistema Único de Saúde (SUS) as despesas que foram realizadas com os serviços de saúde prestados para o total tratamento da vítima em situação de violência doméstica e familiar. Ex: custos com cirurgia, com medicamentos, com atendimento de psicóloga etc. Assim, mesmo o SUS sendo um serviço oferecido gratuitamente à população, o agressor tem o dever de ressarcir os gastos que o poder público teve com isso. • com os dispositivos de segurança utilizados pelas vítimas para evitar nova violência: como por exemplo: “Botão do Pânico”3; tornozeleira eletrônica com dispositivo de aproximação que fica com a mulher. Observações importantes sobre o ressarcimento previsto no §6º: - O ressarcimento não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes; - O fato de o agressor ter feito o ressarcimento não configura atenuante (art. 65, III, b, CP); - O ressarcimento não enseja possibilidade de substituição da pena aplicada (art. 17 desta lei e 3 http://www.tjes.jus.br/botao-‐do-‐panico-‐dispositivo-‐de-‐seguranca-‐que-‐ajuda-‐a-‐proteger-‐mulheres-‐vitimas-‐de-‐ violencia-‐domestica-‐completa-‐6-‐anos/ RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 29 Súmula 588 STJ). • Prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial. NOVIDADE LEGISLATIVA: A Lei nº 13.882/2019 amplia esse rol de assistência e prevê que a mulher vítima da violênciadoméstica terá prioridade para matricular ou para transferir seus filhos ou outros dependentes para escolas próximas de seu domicílio. E se não houver vaga na escola próxima, ainda assim, o dependente da vítima terá direito de ser matriculado como um excedente, ou seja, mesmo fora do número de vagas. É nesse sentido a previsão da medida protetiva de urgência constante do art. 23, V: Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: V – “determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga.” Obs: A informação de que o aluno foi transferido ou matriculado por conta de violência doméstica sofrida por sua mãe deverá ficar em sigilo, sendo de conhecimento apenas do juiz, do MP e dos órgãos competentes do poder público (ex: diretora da escola). 11. DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis. Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo feminino - previamente capacitados. Trata-se de tema rotineiramente abordado em prova de carreiras policiais, uma vez que é direito da mulher ser atendida de forma especializada, ininterrupta e preferencialmente, por servidoras do sexo RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 30 feminino. Como se depreende do texto legal, não há uma necessidade absoluta de que o atendimento seja realizado por Mulher. § 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 2º Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) Em linhas gerais, busca-se por meio do estabelecimento de diretrizes especiais à polícia judiciária evitar a vitimização secundária, bem como a heterovitimização, impedindo que a vítima seja objeto de sucessivas inquirições e procedimentos que possam potencializar as sequelas das violências sofridas. Os arts. 11 e 12 da Lei Maria da Penha tratam das providências que devem ser tomadas pela autoridade policial que tenha atuação na Delegacia especializada no atendimento à mulher vítima de RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 31 violência doméstica e familiar contra a mulher, ou da Delegacia de Polícia comum, nos locais em que não houver a Delegacia especializada. Algumas providências são de caráter obrigatório, como, por exemplo, a oitiva da vítima, lavratura do boletim de ocorrência, atermação da representação e a verificação se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo; outras, no entanto, têm sua realização condicionada à discricionariedade da autoridade policial, que deve determinar sua realização de acordo com as peculiaridades do caso concreto. M Artigos importantíssimos de alta incidência nas provas de delegado de polícia! Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências: ! Trata-se de rol exemplificativo, pois o caput fala “entre outras”. I - Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; II - Encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; O encaminhamento ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal decorre da necessidade de realização de perícia, para que se forme o conjunto probatório ligado à prova de existência da infração penal, nos moldes do art. 158 do Código de Processo Penal ("Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado") III - fornece transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; IV - Se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; V - Informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial, de divórcio, de RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 32 anulação de casamento ou de dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019) Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: I - Ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; II - Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência; IV - Determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; V - Ouvir o agressor e as testemunhas; VI - Ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele; VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento); (Incluído pela Lei nº13.880, de 2019) VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquéritopolicial ao juiz e ao Ministério Público. § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter: I - Qualificação da ofendida e do agressor; II - nome e idade dos dependentes; III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida. IV - Informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019) § 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida. § 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 33 Aqui é importante ficar atento, pois se trata de dispositivo diretamente voltado à autoridade policial, em especial para o dever de remessa dos autos para o magistrado no prazo de 48 horas, bem como para a inovação legislativa que orienta a verificação do registro de posse ou porte de arma de fogo por parte do agressor. Note que a autoridade policial não tem legitimidade para aplicar diretamente a medida protetiva ou representar por ela. O delegado apenas encaminha ao juiz, em 48 horas, quando há pedido da ofendida! Não há que se falar em representação pelos procedimentos legais. O inciso VI determina que a autoridade policial deve fazer juntar aos autos do procedimento investigatório a folha de antecedentes criminais do agressor, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele. Nessa toada, é igualmente importante que o delegado verifique se há, no banco de dados criado pela Lei n. 13.829/19 (que inseriu o art. 38-A na Lei), eventual registro de medida protetiva de urgência anteriormente determinada em detrimento do agressor. Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência. Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e da assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas". A consulta em questão é de fundamental importância, não apenas para fins de verificação de eventual tipificação do crime do art. 24-A (descumprimento das medidas protetivas), mas também no sentido de evidenciar a necessidade de representação ao juiz pleiteando a decretação da prisão preventiva do agressor (Lei n. 11.340/06, art. 20). De forma semelhante com o que ocorre na lei 9.099/95, há possibilidade de utilização de laudos e boletins de atendimentos médicos fornecidos fora do Instituto Médico Legal. Essa possibilidade consiste em uma espécie de mitigação da obrigatoriedade do exame de corpo de delito, porquanto laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde poderiam ser utilizados para embasar a denúncia e, até mesmo, eventual condenação. Nas palavras de Renato Brasileiro: RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 34 “Ora, se a própria Lei Maria da Penha faz referência a tais documentos como verdadeiros meios de prova, ou seja, a um instrumento por meio do qual as fontes de prova são introduzidas no processo, é evidente que, nos mesmos moldes do que ocorre no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95, art. 77, § 1 °), os laudos ou prontuários médicos também podem ser utilizados na sentença condenatória para a formação do convencimento do juiz acerca da materialidade de uma violência doméstica e familiar contra a mulher, e não apenas para fins de oferecimento da peça acusatória ou decretação de medidas cautelares” Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte assertiva: “Para configurar a materialidade do delito de lesão corporal culposa no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher, é prescindível o exame de corpo de delito do art. 158 do CPP, se existentes outros elementos de prova, tais como laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. Outra inovação ocorreu no §1º, inciso IV. A Lei 13.836/2019 estabeleceu que uma das providências do Delegado de Polícia é informar à autoridade judicial caso a mulher vítima da violência seja pessoa com deficiência. ! Por questões didáticas, analisaremos o art. 12-C juntamente com o estudo acerca das medidas protetivas de urgência, no tópico abaixo 12. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA 12.1. Considerações Iniciais: Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas: I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência; II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso; II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 35 dissolução de união estável perante o juízo competente; (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019) III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis. IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. § 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado. § 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados. § 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. a) Conceito e Natureza jurídica As medidas protetivas de urgência são medidas adotadas para proteger a mulher em situação de vulnerabilidade. Possuem natureza de medidas cautelares, razão pela qual se submetem, em regra, à clausula de reserva de jurisdição, devendo, portanto, apresentar os seguintes pressupostos: • Fumus comissi delicti; • Periculum libertatis. Obs.: Medidas cautelares situacionais: As medidas protetivas de urgência, por possuírem natureza cautelar, dependem da manutenção da situação fática de perigo que legitimaram a sua decretação. Assim, desaparecido o suporte fático legitimador da medida, deve o magistrado revogar a constrição. Nesse sentido, é possível dizer que a decisão que decreta a medida sujeita-se à clausula rebus sic stantibus, estando sempre sujeita à nova verificação de seu cabimento à luz do seu suporte fático legitimador. Explica o professor Renato Brasileiro (2020): “Assim, urna vez decretada qualquer das medidas protetivas de urgência , ou até mesmo a prisão preventiva do agressor, mudanças do estado de fato subjacente ao momento de sua decretação ou RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 36 mesmo o surgimento de novas provas que alterem o convencimento judicial sobre o fumus comissi delicti ou o periculum libertatis podem levar à necessidade de: 1) revogação da medida; 2) substituição da medida por outra , mais gravosa ou mais benéfica;3) reforço da medida, por acréscimo de outra em cumulação; 4) atenuação da medida, pela revogação de uma das medidas anteriormente imposta cumulativamente com outra.” b) Momento: As medidas cautelares poderão ser requeridas e deferidas durante a investigação preliminar e também após a instauração do processo penal. c) Possibilidade de aplicação de mais de uma medida protetiva concomitantemente: As medidas protetivas de urgência poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente. Ex: determinação para que o agressor se afaste do lar (inciso II do art. 22) e não se aproxime da vítima (inciso III do mesmo artigo). Além disso, as medidas protetivas de urgência poderão ser aplicadas em conjunto com as medidas cautelares do CPP. Ex: determinação para que o agressor se afaste do lar (inciso II do art. 22 da LMP) e que compareça periodicamente em juízo (inciso I do art. 319 do CPP). d) Novidades Legislativas: § Inciso II - Encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária: ⦁ Uma dessas medidas protetivas de urgência que a vítima poderá pedir é justamente a assistência judiciária (art. 18, II, da Lei nº 11.340/2006). ⦁ A Lei nº 13.894/2019 alterou esse inciso II do art. 18 para deixar claro que essa assistência judiciária abrange o direito de ajuizar ações de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável. § Inciso IV – Apreensão imediata da arma de fogo em posse do agressor ⦁ Lei nº 13.880/2019 inseriu o inciso IV ao artigo 18, estabelecendo que o juiz, ao receber os autos pela autoridade policial, constatando que o suposto agressor possui registro de RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 37 porte ou posse de arma de fogo, deverá determinar, como medida cautelar, a apreensão desta arma. RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 38 12.2. Legitimidade para conceder as medidas protetivas de urgência: As medidas protetivas de urgência, em regra, são concedidas pela autoridade judicial (Juiz ou Desembargador), após requerimento do Ministério Público ou da ofendida – cujo o pedido é formulado perante a autoridade policial. Note, portanto, que as medidas protetivas de urgências não podem ser objeto de representação pela autoridade policial. Como vimos na análise do art. 12, §1º, o que o delegado de polícia pode fazer é apenas tomar a termo a declaração da ofendida pela concessão das medidas protetivas, ou seja, somente pode transcrever esse pedido e encaminhá-lo ao Poder Judiciário. Ressalta-se que, até a edição da Lei nº 13.827/2019, a regra que exigia cláusula de reserva de jurisdição não possuía exceções. A referida Lei, no entanto, inovou e trouxe uma hipótese em que uma das medidas protetivas de urgência poderia ser concedida pelo Delegado de polícia, ou até mesmo pelo policial, em determinadas situações. O art. 12-C, inserido pela Lei nº 13.827/2019, permite que a medida protetiva de AFASTAMENTO DO LAR seja concedida pelo Delegado de Polícia, se o Município não for sede de comarca ou até mesmo pelo policial, caso também não haja Delegado de Polícia no momento, devendo o juiz ser comunicado no prazo máximo de 24 horas. M Cuidado para não confundir com o prazo de 48 horas previsto no art. 12, III e art. 18! Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou a ̀ integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: I - Pela autoridade judicial; II - Pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou III - Pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) § 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 39 § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) Explicação via dizer o direito: Verificada a existência de... ∘ Risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ∘ Ou de seus dependentes, ∘ O agressor deverá ser imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida. Quem determina esse afastamento? ∘ 1º) em primeiro lugar, a autoridade judicial. ∘ 2º) se o Município não for sede de comarca: o Delegado de Polícia poderá determinar essa medida. ∘ 3º) se o Município não for sede de comarca e não houver Delegado disponível no momento: o próprio policial (civil ou militar) poderá ordenar o afastamento. Se a medida for concedida por Delegado ou por policial (situações 2 e 3), o Juiz será comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente! Obs.: Há ADI pendente de julgamento sobre as inovações da lei 13.827 de 2019, com relação à hipótese de afastamento do lar por parte da autoridade policial, devemos ficar atentos quanto a seu julgamento, entretanto, em virtude de ausência de decisão cautelar, por conta da presunção de constitucionalidade das leis, ainda vigora o dispositivo. CONCLUSÃO: Em regra, as medidas protetivas de urgência somente podem ser concedidas pela autoridade judiciária, por se tratar de medida submetida à cláusula de reserva de jurisdição, após o requerimento do MP ou da ofendida. No entanto, em havendo risco à vida ou integridade física da ofendida ou de seus dependentes, poderá o Delegado de Polícia ou o RESUMO DEDICAÇÃO DELTA LEI MARIA DA PENHA GRATUITO 40 próprio policial determinarem o AFASTAMENTO IMEDIATO DO LAR, nas hipóteses previstas em lei! PEGADINHA DE PROVA: * REGRA: O delegado tem 48 horas para enviar a representação da vítima ao juiz (art. 12, III), e o juiz também possui 48 horas para tomar as devidas providências (art. 18, caput) * EXCEÇÃO: em relação à medida protetiva de afastamento do lar concedida pelo Delegado de Polícia ou pelo Policial, nas hipóteses previstas em lei, tal medida deve ser comunicadas ao juiz em 24 horas, tendo este o mesmo prazo de 24 horas para decidir sobre ela. (Art. 12-C, §1º). As medidas protetivas podem ser concedidas de ofício pelo juiz? • 1ª C – NÃO! Em observância ao Sistema Acusatório, que inclusive foi reforçado com o advento do Pacote Anticrime, não pode o juiz, de ofício, decretar as medidas protetivas de urgência. Isso porque é vedado, ao magistrado, decretar qualquer medida cautelar de ofício, e como a medida protetiva de urgência tem natureza de medida cautelar, o juiz também não poderia aplicá-la sem prévio requerimento das partes. Ø Obs.: há quem defenda que, nas hipóteses de afastamento imediato do lar (art. 12-C, inc. I) ou decretação da prisão preventiva, o juiz poderia agir de ofício, tendo em vista que há autorização expressa na Lei nesse sentido, devendo-se invocar, para tanto, o princípio da especialidade. (Tema extremamente controverso que será anal isado adiante) • 2ª C – SIM! Apesar de o dispositivo não prever expressamente, seria possível que as medidas protetivas fossem concedidas pelo Juiz de ofício. Isso porque o juiz, ao conceder medidas protetivas de urgência de ofício, não estaria promovendo a persecução penal contra o acusado, mas
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