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Manual de Prática Penal Revisado - 2021

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MANUAL DE 
PRÁTICA PENAL 
APOSTILA SISTEMATIZADA 
 
 
 
PROFESSOR ANDERSON PINHEIRO DA 
COSTA 
09 de fevereiro de 2019 
 
 
 
 
MATERIAL COMPLEMENTAR – MANUAL DE PRÁTICA PENAL I 
 
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I – COMPETÊNCIA E JURISDIÇÃO PENAL 
 
1 - JURISDIÇÃO 
 
Inicialmente, cabe consignar o sentido da palavra “Jurisdição”. A mesma vem 
do latim, “jurisdictio”, e significa prerrogativa de dizer o direito, decidir. 
 
Além disso, podemos dizer que a jurisdição é: 
Uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos 
interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito 
que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante a atuação da 
vontade do direito objetivo que rege o caso apresentando em concreto para ser 
solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre mediante o processo, 
seja expressando imperativamente o preceito (através de uma sentença de 
mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece 
(através da execução forçada)1. 
 
Pode-se concluir pelo exposto, que jurisdição é o poder-dever do Estado de 
solucionar, através do processo, os conflitos de interesses (lides) que são trazidos à sua 
apreciação, isto é, o Estado tem por objetivo agir em prol da segurança jurídica e da ordem 
para que haja paz na sociedade. 
 
Cabe ressaltar que a jurisdição é una, uma só, porque tem por objetivo a 
aplicação do direito objetivo privado ou público. Contudo, se a pretensão de alguém é a 
aplicação de norma de Direito Penal, ou de Direito Processual Penal, a jurisdição 
será penal, se a finalidade é a aplicação de norma jurídica extrapenal, a jurisdição é civil. 
 
Em síntese, nota-se que jurisdição penal é o poder de solucionar o conflito 
entre os direitos relacionados à liberdade do indivíduo e a pretensão punitiva. 
1.1 Princípios da Jurisdição 
 
Convém ressaltar que a atividade jurisdicional é regida por certos princípios 
fundamentais, quais sejam: 
 
O Princípio do juiz natural diz que “ninguém será processado nem 
sentenciado senão pela autoridade competente (art.5º, LIII, da CF)”. Ademais, este 
princípio garante a proibição do juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII, CF). 
 
Em decorrência do Princípio do devido processo legal (due process of law) 
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal 
(art.5º, LIV, CF)”. 
 
Consoante o Princípio da investidura, “a jurisdição só pode ser exercida por 
quem tenha sido regularmente investido no cargo e esteja em exercício”. 
Já o Princípio da indeclinabilidade da prestação jurisdicional diz que nenhum 
juiz poderá subtrair-se do exercício da função jurisdicional. Outrossim, este princípio 
 
1 CINTRA, Antônio Carlos de A.; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do 
processo. São Paulo: Malheiros editores, 2008. p. 147. 
 
 
 
MATERIAL COMPLEMENTAR – MANUAL DE PRÁTICA PENAL I 
 
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determina que o legislador não poderá produzir leis que restrinjam o acesso ao Poder 
Judiciário (art.5º,XXXV, CF). 
 
Pelo Princípio da improrrogabilidade, o juiz não poderá invadir nem ter sua 
competência invadida por outro juízo. 
 
Conforme o Princípio da indelegabilidade, o juiz não poderá delegar sua 
jurisdição a outro órgão, exceto nos casos taxativamente permitidos, como ocorre, por 
exemplo, nas cartas precatórias. 
 
Já o Princípio da inevitabilidade ou irrecusabilidade, determina que as partes 
não poderão recusar o juiz que o Estado designou, salvo nos casos de incompetência, 
impedimento e suspeição. 
 
De acordo com o Princípio da inércia ou da titularidade (ne procedat judex ex 
officio) “a função jurisdicional só pode atuar mediante provocação das partes, não sendo 
lícito ao juiz instaurar ações penais de ofício, sob pena de não estar agindo com a 
necessária imparcialidade”. 
 
Segundo o Princípio da correlação ou da relatividade “ou da congruência da 
condenação com a imputação ou ainda da correspondência entre o objeto da ação e o 
objeto da sentença”, o réu não poderá ser condenado sem, previamente, ter ciência dos 
fatos criminosos que lhe são imputados pela acusação. Ademais, sob o mesmo ponto de 
vista, Mirabete diz que: 
não pode haver julgamento extra ou ultra petita (ne procedat judex ultra 
petitum et extra petitum). A acusação determina a amplitude e conteúdo da 
prestação jurisdicional, pelo que o juiz criminal não pode decidir além e fora 
do pedido em que o órgão da acusação deduz a pretensão punitiva. Os fatos 
descritos na denúncia ou queixa delimitam o campo de atuação do poder 
jurisdicional2. 
 
Por fim, o Princípio da unidade e identidade da jurisdição, ou seja, a 
jurisdição é única em si e em seus fins, diferenciando-se somente no julgamento de ações 
penais ou cíveis. 
 
2 - COMPETÊNCIA 
 
É importante salientar que o poder jurisdicional é privativo do ESTADO-
JUIZ. Entretanto, em face de uma expansão territorial, de determinadas pessoas (ratione 
personae) e de determinas matérias (ratione materiae), o exercício desse poder de aplicar 
o direito (abstrato) ao caso concreto sofre limitações, nascendo daí a noção de 
competência jurisdicional. Pode-se, pois, conceituar a competência como sendo o âmbito, 
legislativamente delimitado, dentro no qual o órgão exerce seu Poder Jurisdicional. 
 
 
2 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.153 
 
 
 
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2.1 Competência pelo lugar da infração 
 
A competência pelo lugar da infração (competência ratione loci), via de regra, 
é determinada pelo lugar em que se consumar o delito, ou, no caso de tentativa, pelo lugar 
em que for praticado o último ato de execução. 
 
Convém ressaltar que: 
A competência pelo lugar da infração, também chamada de competência de 
foro ou territorial, determina qual será a comarca competente para o 
julgamento do fato criminoso. Esse critério é o mais utilizado porque inibe a 
conduta de todas as pessoas que vivem no local e tomaram conhecimento do 
fato e, além disso, possibilita maior agilidade à colheita de provas sem que seja 
necessária a expedição de cartas precatórias para oitiva de testemunha, 
realização de perícias, etc3. 
 
Para melhor esclarecimento podemos citar como exemplo o entendimento do 
STF e do STJ em relação à emissão de cheques sem fundos, ou seja, nesse caso será 
competente o juízo do local onde ocorreu a recusa do pagamento pelo banco. 
 
Imperioso consignar que a regra da competência pelo lugar da infração foi 
adotada pelo código de processo penal em seu art. 70. 
 
2.1.2 Competência pelo domicílio ou residência do réu 
 
A competência pelo domicílio ou residência do réu, também chamada de foro 
subsidiário, está disposta no artigo 72 do CPP, o qual determina que; “não sendo 
conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência 
do réu”. 
 
É válido frisar um exemplo, bem ilustrativo, abordado por Tourinho Filho, 
que diz: 
Suponha-se que um cadáver apareça boiando nas águas do Tietê, na comarca 
de Bariri. Foi ele arrastado pela correnteza. Constatou-se ter havido homicídio. 
Das investigações levadas a cabo, descobriu-se quem foi o criminoso. Este não 
soube explicar o local do crime. Disse apenas que ocorrera bem distante. Nessa 
hipótese, o processo deve tramitar pelo foro do domicílio ou residência do 
réu4. 
 
Ressalta-se, ainda, que excepcionalmente, nos casos de ação penal privada 
exclusiva, o autor poderá escolher o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda 
quando conhecido o lugar da infração. É o chamado foro alternativo, que não se aplica ao 
caso de ação penal privada subsidiária. 
 
3 SANTOS, Vauledir Ribeiro; NETO, Arthur da Motta Trigueiros. Como se preparar para o examede Ordem, 1ª fase: 
Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Método, 2010. p. 65. 
4 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 30. ed. revista e atualizada.São Paulo: Saraiva, 2008. 2 v., 
p. 116. 
 
 
 
 
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2.1.3 Competência pela natureza da infração 
 
Uma vez fixada a competência pelo lugar da infração ou pelo domicílio ou 
residência do réu (art.69, I e II, do CPP), será necessário fixar a justiça competente em 
razão da natureza da infração (ratione materiae), melhor ainda, em razão da matéria. 
 
Oportuno se torna dizer que: 
a jurisdição (justiça) pode ser Especial, que se divide em Justiça Militar e 
Justiça Eleitoral ; e Comum, que se divide em Justiça Federal e Justiça 
Estadual. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de 
organização judiciária (federal ou estadual), salvo a competência privativa do 
Tribunal do Júri, cuja competência é atribuída pela Constituição Federal5. 
 
O Tribunal do Júri tem a competência para julgar os crimes dolosos contra a 
vida, tais como o homicídio doloso, o infanticídio, previstos nos arts. 121 e 123 do CP. 
Em relação à jurisdição especial, a Constituição Federal determina que 
compete à Justiça Eleitoral (art.121 da CF), julgar os crimes eleitorais e os seus conexos. 
A Constituição Federal também prevê a competência da Justiça Militar (art.124 da CF), 
qual seja, processar e julgar os crimes militares previstos em lei. 
 
Além do mais, a Constituição Federal também prevê a competência da 
jurisdição comum (federal ou estadual), por exemplo, compete à Justiça Federal 
processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a 
competência da Justiça Militar (art.109,IX,da CF). 
 
Finalmente, a Justiça Comum Estadual tem a competência residual. Em outras 
palavras, é competência da Justiça Estadual tudo o que não for de competência das 
jurisdições federal e especial. 
 
2.1.4 Competência por prevenção e distribuição 
 
Através da distribuição (art. 69, IV, do CPP), haverá a fixação da competência 
do juízo quando houver mais de um juiz igualmente competente em uma mesma 
circunscrição judiciária. 
2.1.5 Competência por conexão ou continência 
 
Há conexão (art.69, V, do CPP) quando duas ou mais infrações estão ligadas 
por um liame, sendo que estes crimes devem ser julgados em um só processo em virtude 
da existência desse nexo. 
 
Além disso, “há continência quando uma coisa está contida em outra, não 
sendo possível a separação. No processo penal a continência é também uma forma de 
modificação da competência e não de fixação dela”. Ademais, ocorrerá a continência 
quando duas ou mais pessoas são acusadas pelo mesmo crime, ou se o comportamento do 
 
5 SANTOS, Vauledir Ribeiro; NETO, Arthur da Motta Trigueiros. Como se preparar para o exame de Ordem, 1ª fase: 
Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Método, 2010. p. 67. 
 
 
 
 
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indivíduo configurar concurso formal, aberratio criminis (resultado diverso daquele 
pretendido) com duplo resultado e aberratio ictus (erro na execução). 
 
Diante do exposto, nota-se que a continência e a conexão são critérios de 
prorrogação de competência e não de fixação. Outrossim, a existência de continência e 
conexão ocasionará a reunião de processos e prorrogação da competência. Todavia, 
segundo a Súmula 235 do STJ “a conexão não determina a reunião dos processos, se um 
deles já foi julgado”. 
2.1.6 Competência por prerrogativa de função 
 
Cumpre-nos assinalar que a competência por prerrogativa de função (art. 
69, VII, do CPP) ou competência ratione personae (em razão da pessoa) é determinada 
pela função da pessoa, ou melhor, é garantia inerente ao cargo ou função. Ademais, a 
prerrogativa surge da relevância do desempenho do cargo pela pessoa e devido a isso, não 
pode ser confundida com o privilégio, uma vez que este constitui um benefício concedido 
à pessoa. 
 
Convém enfatizar que a competência pela prerrogativa de função referente, 
por exemplo, ao Supremo Tribunal Federal, está prevista na Constituição Federal. 
Vejamos: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a 
guarda da constituição, cabendo-lhe: 
I – processar e julgar, originariamente: 
(...) 
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice- 
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios 
Ministros e o Procurador-Geral da República; 
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os 
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da 
Aeronáutica, ressalvado o disposto no artigo 52, I, os membros dos 
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de 
missão diplomática de caráter permanente; (...) 
 
2.1.7 Modificações de competência 
 
Pela modificação de competência podemos entender que há regras sobre 
competência material e funcional, que por sua vez poderão ser modificadas nas hipóteses 
de prorrogação de foro, delegação (interna ou externa) e desaforamento. 
 
A prorrogação da competência é: 
a possibilidade de substituição da competência de um juízo por outro, podendo 
ser necessária ou voluntária; a necessária decorre das hipóteses de conexão (é 
o nexo, a dependência recíproca que as coisas e os fatos guardam entre si) e 
continência (como o próprio nome já diz é quando uma causa está contida na 
outra, não sendo possível a cisão); e a voluntária ocorre nos casos de 
incompetência territorial quando não oposta a exceção no momento oportuno 
(caso em que ocorre a preclusão), ou nos casos de foro alternativo6. 
 
6 SANTOS, Vauledir Ribeiro; NETO, Arthur da Motta Trigueiros. Como se preparar para o exame de Ordem, 1ª fase: 
Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Método, 2010. p. 75. 
 
 
 
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A delegação é o ato pelo qual um juiz transfere para o outro a atribuição 
jurisdicional que é sua. Essa delegação pode ocorrer de duas formas, interna ou externa. 
A delegação interna ocorre nos casos de juízes substitutos e juízes auxiliares do titular do 
Juízo, melhor ainda, é quando um juiz cede a outro a competência para praticar atos no 
processo, inclusive decisórios, cabe entendermos que neste caso não há uma modificação 
de competência, mas sim de atribuições. Já a delegação externa é utilizada nos casos em 
que os atos são praticados em juízos diferentes, isto é, quando há o uso das cartas 
precatórias, rogatórias e de ordem. 
 
O desaforamento nada mais é do que o instituto privativo dos crimes de 
competência do Tribunal do Júri. Nos casos em que houver necessidade desse instituto, o 
pedido poderá ser proposto pela acusação (MP ou querelante, em casos de ação privada 
subsidiária), por representação do juiz, pelo assistente de acusação ou a requerimento do 
acusado e será endereçado ao Tribunal de Justiça. Neste sentido, a Súmula 712 do STF 
diz que “é nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do 
júri sem audiência da defesa”. 
 
2.1.8 Competência absoluta e relativa 
 
Chama-se competência absoluta, visto que as competências em razão da 
matéria e a por prerrogativa de função, tem conteúdo de interesse público e, por isso, não 
podem ser prorrogadas e nem modificadas pelas partes e o seu reconhecimento, que pode 
ocorrer em qualquer tempo ou grau de jurisdição, gera nulidade absoluta do processo. 
 
Para entendermos competência relativa, é indispensável uma breve análise da 
Súmula 706 do STF que diz; “é relativa a nulidade decorrente da inobservância da 
competência penal por prevenção”. Outrossim,, na competência territorial, na qual o que 
prevalece é o interesse privado de uma das partes, é prorrogávelse não for alegada no 
tempo oportuno e é capaz de gerar, se comprovado o prejuízo pela parte interessada, 
apenas a nulidade relativa do ato ou de uma fase do processo. 
 
3 - CONCLUSÃO 
 
Diante da exposição construída ao longo do texto, observa-se que a jurisdição 
não é absoluta para um determinado juiz, isto é, a jurisdição não pode incidir sobre todos 
os tipos de demanda. Logo, para que haja uma delimitação para a atuação dessa jurisdição 
o legislador disciplinou regras sobre competência. 
 
Percebe-se, ainda, que a jurisdição é o poder do Estado decorrente de sua 
soberania, para editar leis e ministrar a justiça, além de ser um poder legal no qual são 
investidos certas pessoas e órgãos. Já a competência é a capacidade de uma autoridade 
pública de efetuar determinados atos, ou ainda, qualidade legítima de apreciar e julgar um 
pleito ou questão dentro de uma determinada divisão judiciária. 
 
 
 
 
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II - QUEIXA CRIME: 
 
 
Trata-se de ação penal privada e, como ocorre nas ações penais públicas, deve 
estar amparada por prova pré-constituída. O ofendido, antes da propositura da queixa, 
deve requerer a instauração de inquérito para ofertar justa causa à ação penal privada, 
indicando materialidade e indícios de autoria, salvo se possuir indícios suficientes para 
tal. 
 
O advogado deve receber poderes especiais para propositura da queixa crime, 
ou seja, a procuração deve fazer expressa menção à propositura da ação penal privada, 
com um breve resumo dos fatos. Se preferir, o ofendido pode assinar a queixa juntamente 
com o advogado (art. 44 do CPP). 
 
Cuidando-se de dois ou mais agentes, em homenagem ao princípio da 
indivisibilidade da ação penal privada, é indispensável o oferecimento de queixa contra 
ambos, sob pena de configuração de renúncia (art. 48 e 49 do CPP). Importante ressaltar 
o prazo para oferecimento da queixa, que é de 06 meses contados da data em que se tem 
conhecimento da autoria do crime. Este prazo é decadencial e de natureza penal, ou seja, 
conta-se o dia do início e exclui-se o dia do fim, diferente do que ocorre na contagem de 
prazo processual. 
 
Como saber se o crime será processado mediante queixa? 
 
O próprio tipo penal ou o capítulo em que tal crime estiver inserido irá trazer 
a ressalva de que o crime em análise se procede mediante queixa, a exemplo dos crimes 
contra honra (Art. 145 do Código Penal), Induzimento a erro essencial e ocultação de 
impedimento (art. 236, parágrafo único do CP), Exercício arbitrário das próprias razões 
sem emprego de violência (art. 345, parágrafo único, do CP) e crime de Dano (art. 167 
do CP). Mais corriqueiro e presente no cotidiano da maioria dos profissionais do direito, 
estão os crimes contra a honra. 
 
a) CRIMES CONTRA A HONRA: 
 
O Cap. V do Título I da Parte Especial do Código Penal Brasileiro trata “Dos 
Crimes Contra a Honra”. O conceito de honra abrange tanto aspectos objetivos como 
subjetivos, de maneira que, aqueles representariam o que terceiros pensam a respeito do 
sujeito – sua reputação - enquanto estes representariam o juízo que o sujeito faz de si 
mesmo – seu amor-próprio. 
 
A honra é vista como o conjunto de atributos morais, físicos e intelectuais de 
uma pessoa, que a tornam merecedora de apreço no convívio social e que promovem a 
sua autoestima. 
 
Em tal capítulo temos a presença de três modalidades de crimes que violam a 
honra, seja ela objetiva ou subjetiva, a saber: a Calúnia ( art. 138 ), a Difamação ( art. 139 
) e a Injúria ( art. 140 ). Tais crimes são causadores de freqüentes dúvidas entre os 
profissionais da área jurídica, que, muitas vezes, acabam fazendo confusão entre aqueles. 
 
 
 
 
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Inicialmente, insta fazer a exposição da definição de cada modalidade de 
crime com alguns exemplos, para, posteriormente, diferenciá-las. Cabe ressaltar, também, 
que o prazo para intentar a queixa-crime nos casos aqui expostos é decadencial (06 
meses), incluindo-se neste computo o dia do inicio e excluindo do mesmo a data final. Se 
o prazo cair em dia não útil, ou seja, final de semana ou feriado, deve-se ANTECIPAR o 
prazo e final e não prorrogá-lo para o próximo dia útil subseqüente, como se faz no prazo 
processual. 
 
A calúnia consiste em atribuir, falsamente, à alguém a responsabilidade pela 
prática de um fato determinado, definido como crime . Na jurisprudência temos que “a 
calúnia exige dolo específico e exige três requisitos : imputação de um fato + qualificado 
como crime + falsidade da imputação”. Assim, se “A” diz que “B” roubou a moto de 
“C”, sendo tal imputação falsa, estamos diante de crime de calúnia. 
 
A difamação, por sua vez, consiste em atribuir à alguém fato determinado 
ofensivo à sua reputação. Assim, se “A” diz que “B” foi trabalhar embriagado semana 
passada, constitui crime de difamação, pois sua reputação perante os colegas de trabalho 
foi atingida. 
 
A injúria, de outro lado, consiste em atribuir à alguém qualidade negativa, 
que ofenda sua dignidade ou decoro. Assim, se “A” chama “B” de imbecil, ou imprime 
uma palavra ofensiva em um papel higiênico e espalha pelo condomínio, dentre outras 
condutas, constitui crime de injúria. 
 
Momento Consumativo: A Calúnia e a difamação, por serem crimes que 
atentam contra a honra objetiva, se consumam a partir do momento em que terceiros 
tomam conhecimento do fato. A injúria, por sua vez, se consuma no instante em que o 
próprio ofendido tem conhecimento do fato. 
 
b) RESUMÃO: 
 
CALÚNIA - falsa imputação de FATO CRIMINOSO a outrem. 
 
DIFAMAÇÃO - imputação a alguém de FATO OFENSIVO a sua reputação. 
 
INJÚRIA - ofensa à dignidade, decoro ou qualidade de outrem. Manifestação de 
desrespeito e desprezo. 
 
c) MACETES: 
 
 
"C" ALÚNIA - começa com "C" de CRIME 
 
DI "FA" MAÇÃO - a segunda sílaba é "FA" de FATO, pouco importante se tal fato é 
mentira ou verdade. 
 
"IN" JÚRIA – INternamente, ataquei alguém ao falar mal de atributos desta pessoa. Pode-
se pensar também nesta frase que não me agrada muito, mas... “Essa pergunta eu não sei 
 
 
 
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responder porque quem me ensinou é muito "IN"GUINORANTE. Pronto, sem querer eu 
injuriei o meu professor”. 
 
CALÚNIA 
 
Imputação de um fato concreto a alguém determinado; 
Essa fato deve ser falso ou quando o fato em si for verdadeiro, mas o agente imputa aquele 
fato à vitima falsamente. Ex: Fulano roubou a moto de cicrano, mas beltrano diz que o 
verdadeiro autor do roubo é altrano, mesmo sabendo que é fulano. 
Esse falso deve ser definido como crime (se for contravenção o crime será de difamação) 
 
Considerações: 
A calúnia atinge a honra objetiva, ou seja, o status que a pessoa goza no meio social. 
Assim, o crime só se consuma quando terceiro toma conhecimento das alegações 
caluniosas; a vítima pode estar ausente. 
 
PESSOA JURÍDICA- não pode ser vítima de calunia (apesar da Lei 9605). No caso, as 
pessoas responsáveis pela pessoa jurídica é que podem ser caluniadas. 
 
O § 1º do art. 138 pune a conduta de quem, sabendo falsa a imputação, a propala e divulga; 
A calúnia contra os mortos é punível, mas os sujeitos passivos serão os familiares e não 
o cadáver. O crime de calúnia admite a exceção da verdade. A lei de imprensa (5.250/67) 
pune a calúnia e a difamação contra a memória dos mortos. 
 
DIFAMAÇÃO 
imputar fato concreto; 
imputando FALSAMENTE OU NÃO; 
fato ofensivo à reputação; 
 
Considerações 
1) O crime atinge a honra objetiva (reputação). Assim, só estará consumado após terceiro 
tomar conhecimento. 
 
2) Exceção da verdade – em regra não é admitida, salvo se o ofendido é funcionário 
público e se a ofensa é relativa ao exercício das funções. 
 
INJÚRIAComo dito, é a ofensa à dignidade, decoro ou qualidade de outrem. Manifestação de 
desrespeito e desprezo. 
 
Tipos : a) Injúria Simples 
 b) Injúria Real (art. 140, § 2º) – por violência ou vias de fato. 
 c) Injúria Racial (art. 140, § 3º) – “ÍNDIO É RAÇA DE GENTE FEDORENTA”. 
 
 O crime de injúria não admite a exceção da verdade. 
 
d) DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL 
DO PROCESSO: 
 
 
 
 
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Dispõe o artigo 89 da Lei 9.099/95: 
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano (Cabe 
no crime de furto e apropriação indébita, por exemplo), abrangidas ou não por esta Lei, 
o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, 
por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha 
sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a 
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). 
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo 
a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob 
as seguintes condições: 
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; 
II - proibição de freqüentar determinados lugares; 
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; 
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e 
justificar suas atividades. 
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, 
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. 
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser 
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. 
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do 
prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. 
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. 
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. 
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá 
em seus ulteriores termos. 
Trata-se da suspensão condicional do processo, um instituto de despenalização, ou seja, 
uma alternativa à jurisdição penal que tem natureza penal material. Com sua utilização 
evita-se a aplicação da pena. 
Uma vez preenchidos os requisitos legais, a suspensão do processo é um direito do 
acusado. Logo, o termo utilizado no caput do artigo 89, da Lei 9.099/95, "poderá", 
indicando que o Ministério Público teria a faculdade de propor ao acusado a suspensão 
condicional do processo, em verdade deve ser entendido como um "deverá". 
Vale dizer que, de acordo com os ensinamentos de Damásio de Jesus, o instituto 
disciplinado no artigo 89 é aplicável dentro e fora do Juizado Especial Criminal. A 
conclusão n. 2 da Comissão Nacional de Interpretação da Lei 9.099/1995 diz o seguinte: 
 
 
 
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"São aplicáveis pelos juízos comuns (estadual e federal), militar e eleitoral, imediata e 
retroativamente, respeitada a coisa julgada, os institutos penais da Lei 9099, como a 
composição civil extinta da punibilidade (art. 74, parágrafo único), transação (arts. 72 
e 76), representação (art. 88) e suspensão condicional do processo (art. 89)". 
Veja-se que diante do caso concreto, o Promotor de Justiça tem duas opções: indicar a 
transação penal, prevista no artigo 76, da mesma Lei (Art. 76. Havendo representação ou 
tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de 
arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena 
restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta) ou propor a suspensão 
condicional do processo. 
Neste sentido, vale mencionar as diferenças entre a transação penal e suspensão 
condicional do processo. A transação é cabível quando a pena máxima abstrata cominada 
ao delito não seja superior a dois anos (art. 61 da Lei 9.099/95). A suspensão é para os 
crimes cuja pena mínima não seja superior a um ano (art. 89, da mesma Lei). A transação 
encerra-se com a aplicação de pena restritiva de direitos ou multa, enquanto que a 
suspensão, não havendo motivos que justifiquem sua revogação, culmina com a extinção 
da punibilidade, não havendo imposição de pena. 
Os parágrafos 3º e 4º dispõem, respectivamente, sobre os casos obrigatório e facultativo 
de revogação do benefício e, de acordo com o entendimento do STF, nos termos indicados 
neste informativo, o benefício poderá ser revogado após o período de prova, desde que os 
fatos que ensejaram a revogação tenham ocorrido antes do término deste período. 
 Observação importante: Crime do art. 236 do Código Penal!! 
 
 
 
 
 
 
QUEIXA – CRIME: MODELO E ESTRUTURA DA PETIÇÃO. 
 
Caso: Danildo Salomão, 32 anos, em reunião de prestação de contas da empresa, imputou 
ao senhor Fausto Faustino, sabendo-o inocente, a conduta de ter constrangido, mediante 
grave ameaça, o contador Hildebrando Fialho a não exercer sua atividade. Fausto 
Faustino, assim teria agido, com o propósito de se vingar da gerência que não o promoveu 
ao posto almejado. Fausto Faustino, sentindo-se injustiçado, contratou você para 
promover a medida processual cabível. Insta consignar que o fato ocorreu em 01 de 
fevereiro de 2011 e Fausto Faustino soube quem era o responsável por espalhar as 
informações aqui citadas em 05 de junho de 2011. A empresa Millenium é situada na Asa 
Sul, Brasília-DF. 
 
 
 
 
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO... JUIZADO ESPECIAL 
CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA-DF 
 
 
 Fausto Faustino, Nacionalidade..., Estado Civil..., Profissão..., portador do RG 
nº... e do CPF nº..., com endereço de email ... residente e domiciliado em ..., por intermédio de 
seu advogado que esta subscreve, conforme instrumento de mandato em anexo, com os poderes 
especiais do 44 do Código de Processo Penal, vem perante Vossa Excelência, com fulcro nos arts. 
30 e 41 e ss. do Código de Processo Penal em combinação com os artigos 100 §2º e 145, caput, 
ambos do Código Penal, oferecer (gente, lembrando que é 145 por ser crime contra a honra. 
Quando não for, colocar o 100, §2º, do Código Penal e a fundamentação do artigo específico que 
se procede mediante queixa). 
 
QUEIXA CRIME 
 
em face de Danildo Salomão, Nacionalidade..., Estado Civil..., Profissão..., portador do RG nº... 
e do CPF nº..., com endereço de email ... residente e domiciliado em ...,, em virtude da prática 
delituosa abaixo alinhavada. 
 
I - DA TEMPESTIVIDADE 
 
 Preliminarmente, cabe mencionar que a presente ação penal de iniciativa privada é 
tempestiva visto que (trazer a tempestividade). 
 
II - DOS FATOS 
 
No dia 01 de fevereiro de 2011, por voltas das 16:00 horas, em reunião realizada na 
sede da empresa Millenium, situada na Asa Sul, nesta cidade, o querelado imputou ao querelante 
a prática do crime descrito no art. 197, I, do Código Penal. Afirmou, sabendo ser o querelante 
inocente, que os dados contábeis da empresa não se encontravam regulares, tendo em vista que o 
querelante, por ter sido preterido em promoção realizada no dia 29 de dezembro de 2010, para 
vingar-se da gerência que deixou de indicá-lo ao posto, teria constrangido o contador Hildebrando 
Fialho, mediante grave ameaça, a deixar de realizar sua atividade, durante certo período. A 
ameaça fundar-se-ia na expulsão do filho do contador da escola particular onde atualmente cursa 
o segundo ano do ensino médio, com bolsa integral, levando-se em conta que a esposa do 
querelante é a diretora geral do referido estabelecimentode ensino.7 
 
III - DO DIREITO 
 
A honra é bem jurídico de alta relevância, sendo protegido pelo inciso X do artigo 
5º da Constituição Federal. A violação pode se dar em face da honra objetiva ou subjetiva, 
incidindo em condutas devidamente tipificadas no código penal brasileiro. 
 
A criativa história idealizada pelo querelado teve o fim de prejudicar o querelante, 
conspurcando sua reputação diante de terceiros, sendo certo saberem eles que não foi feito nada 
contra Hildebrando. A conduta do querelado evidencia seu inquestionável dolo em ferir a honra 
objetiva do querelante. 
 
Como é sabido, no ordenamento jurídico pátrio, a calúnia consiste em atribuir, 
falsamente, a alguém a responsabilidade pela prática de um fato determinado, definido como 
 
7 A história que trouxe na petição tem detalhes que o modelo não trouxe, mas na peça que faram vocês 
terão riquezas de detalhes. 
 
 
 
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crime. Na jurisprudência tem-se que a calúnia exige dolo específico e três requisitos, a saber: 
imputação de um fato + fato qualificado como crime + falsidade da imputação. 
 
O querelado não só sabia ser inocente o querelante como também engendrou a versão 
apresentada na reunião mencionada com o objetivo de macular sua imagem entre os diretores e 
gerentes, justamente para afastá-lo da concorrência ao próximo cargo de gerência a ser disputado 
dentro de alguns meses, quando ocorrerá a aposentadoria do atual ocupante. Portanto, 
maliciosamente, o querelado, concorrente do querelante, buscou vincular a negligência do 
contador da empresa a uma inexistente grave ameaça, associada a um desejo de vingança 
igualmente fictício, com o fim de prejudicar de forma leviana e covarde o querelante. 
 
O fato evidentemente é considerado crime sob a ótica da teoria tripartida. É fato 
típico por preencher todos os requisitos que o caracterizam (dissertar). É antijurídico (explicar) e 
é culpável, na medida em que abarca todos os seus requisitos, quais sejam ... (dissertar). 
 
IV - DOS PEDIDOS 
 
 
Diante do exposto, por ter o querelado infringido os ditames do art. 138 caput do 
Código Penal pugna o querelante para que seja designada audiência preliminar para eventual 
composição e transação, nos termos dos arts. 70 a 76 da Lei 9099). Se infrutíferas, que seja 
recebida a presente queixa crime em face do querelado com a consequente citação e designação 
de audiência de instrução, debates e julgamento, na forma dos arts. 77 a 81 da Lei 9099/95), com 
vistas ao Ministério Público para que o mesmo oficie como custus legis, até final sentença de 
condenação nas penas dos crimes de (inserir o tipo penal e os dispositivos legais pertinentes). 
Requer, ainda, a condenação do querelado nas custas, honorários advocatícios e a fixação de um 
valor mínimo a título de reparação pelos danos efetivamente causados, conforme expresso no art. 
387, IV, do CPP. 
 
 
Requer, ao final, sejam inquiridas as testemunhas ora arroladas nesta petição, e 
colhidas suas declarações, a fim de corroborar os fatos articulados pelo querelante em sua peça 
processual. 
 
Dá à causa o valor de R$ ... 
 
Nestes termos, pede deferimento. 
 
Brasília, 04 de dezembro de 2011. (antes do prazo decadencial, ficar atento!). 
 
 
 
Advogado 
 OAB 
 
 
IV - ROL DE TESTEMUNHAS 
 
1) , qualificado à fl. ; 
2) , qualificado à fl. ; 
3) , qualificado à fl; 
 
 
Obs: importante frisar que o número de testemunhas a serem arroladas em sede de juizado 
especial é 3, por analogia ao art. 34 da lei 9099. Isso é o que sustentam alguns 
 
 
 
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doutrinadores. Outra grande porte sustenta que são até 5 testemunhas8. No rito comum e 
na primeira fase do júri são 8. Na segunda fase do plenário, em sede do art. 422 do CPP, 
novamente podem ser arroladas até 5. No rito sumário, também temos como número 
máximo 5. 
 
Na queixa crime e na resposta à acusação SEMPRE se arrolam testemunhas, sob pena de 
preclusão temporal, visto que é o momento processual oportuno para se fazer isso. 
 
 
 
 
 
8 O Código de Processo Penal estabelece claramente o número máximo de testemunhas para os procedimentos ordinário 
e sumário. No artigo 401 regra o procedimento ordinário e deixa registrado que o número é de oito testemunhas. Por seu 
turno, no artigo 532 consigna que no procedimento sumário o número máximo de testemunhas é de cinco. Entretanto, 
a Lei 9099/95, que rege o chamado Procedimento Sumaríssimo, sempre foi lacunosa quanto ao número máximo de 
testemunhas a serem arroladas na seara criminal. À míngua de uma determinação legal expressa, a melhor doutrina 
havia se assentado no entendimento de que dever-se-ia fazer analogia ao regramento existente “intra lege” para os 
Juizados Especiais Cíveis, solucionando o caso com o artigo 34 da própria Lei 9099/95, que impõe o número máximo de 
três testemunhas. Essa solução parecia pouco discutível, embora não pacífica, tendo em vista não haver outras regras 
a ocasionarem alguma dúvida ou polêmica. 
Ocorre que com a reforma implementada pela Lei 11.719/08 perdeu o legislador a chance de tornar essa questão mais 
clara, estabelecendo expressamente um número máximo de testemunhas para o sumaríssimo e ainda ensejou um clima 
de maior dúvida com a criação de dois novos dispositivos. 
Em primeiro lugar passou a dispor o artigo 394, § 5º., CPP, que “aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos 
especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário” (grifo nosso). Esse dispositivo, aliado ao 
artigo 92 da Lei 9099/95, que manda aplicar subsidiariamente as disposições do Código de Processo Penal que não 
conflitarem com aquele diploma, leva a crer que o número máximo de testemunhas, a partir do momento que não é 
explicitado na lei de regência, passa a ser aquele do procedimento ordinário, que se aplica subsidiariamente, ou seja, 
oito testemunhas (artigo 401, CPP). 
Não obstante, estabelece o artigo 538, CPP, que naqueles casos de infrações de menor potencial que forem 
encaminhados ao Juízo Comum, nos termos dos artigos 66, Parágrafo Único e 77, § 2º., da Lei 9099/95, aplicar-se-ão 
as normas do procedimento sumário. Agora, à vista deste outro dispositivo do mesmo Código de Processo Penal e 
novamente sua conjunção com o artigo 92 da Lei dos Juizados Especiais Criminais, parece que o número de 
testemunhas pode ser de cinco e não de oito, de acordo com o disposto no artigo 532, CPP. Ora, se as infrações afetas 
normalmente ao procedimento sumaríssimo devem assumir as regras do sumário quando remetidas ao juízo comum, 
parece sustentável que no silêncio da Lei 9099/95 quanto ao número de testemunhas deva prevalecer o número previsto 
para o procedimento sumário, mais próximo do sumaríssimo, inclusive tendo em vista os princípios de celeridade, 
simplicidade e economia processual que regem os Juizados Especiais Criminais. 
Note-se que se antes o silêncio da Lei 9099/95 era acompanhado pela omissão do Código de Processo Penal, tornando 
pouco discutível a aplicação subsidiária “intra lege” do artigo 34 da própria Lei 9099/95, apontando o número de três 
testemunhas, atualmente as novas disposições do Código de Processo Penal passaram de um silêncio sepulcral para 
uma tagarelice babélica. Agora podem surgir ao menos três posições plenamente sustentáveis em bases legais quanto 
ao número de testemunhas no procedimento sumaríssimo: oito por aplicação subsidiária do procedimento ordinário; 
cinco por aplicação subsidiária do procedimento sumário ou a reiteração do antigo entendimento de que o número seria 
mesmo de três testemunhas, considerando o disposto na própria Lei 9099/95 para os Juizados Especiais Cíveis. 
Certamente o legislador deixou escapar duas chances de ouro: aquela de esclarecer uma questão um tanto quanto 
obscura anteriormente e outra de não obscurecer ainda mais a velhadúvida. 
Considerando os princípios peculiares a regerem os Juizados Especiais Criminais, principalmente a celeridade, 
simplicidade e economia processual seria desejável que o legislador houvesse expressamente assentado o número 
máximo de três testemunhas. Mas, como não o fez, parece ser o melhor entendimento, mesmo ante as normativas acima 
elencadas, a causarem certa confusão, aquele que aponta a antiga solução de aplicação subsidiária da regra 
expressamente prevista para os Juizados Especiais Cíveis, ou seja, o número máximo de três testemunhas nos termos 
do artigo 34 da Lei 9099/95. (Fonte: http://www.jurisite.com.br/doutrinas/Penal/douttpen103.html) 
 
 
http://www.jurisite.com.br/doutrinas/Penal/douttpen103.html
 
 
 
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CASO PARA RESOLUÇÃO 
 
 
Jorcileide Soraya, brasileira, casada, inscrita no CPF 005111888-09, 31 anos, 
manicure no salão “Silvana Cabelereiros”, reside na QI 10, conjunto 23, casa 102, no 
Guará-DF, com seus dois filhos e seu marido. 
 
No dia 28 de abril de 2018, Jorcileide encontrava-se em sua residência, quando 
bateram na porta e a manicure foi atender. Neste instante, Jorcileide recebeu, por uma 
vizinha, (Odete Simária) a notícia de que sua honra estava abalada na vizinhança, pois 
Maricreuza, Joelitana e Odileuzina estavam afirmando que Jorcileide era uma “prostituta 
que corria atrás dos maridos das outras e que de dia era manicure, mas que a noite era 
‘mulher da vida” e “que explorava os homens cobrando preços altos pelos programas”. 
 
Revoltada, Jorcileide foi se informar acerca da veracidade e autoria dos fatos, 
concluindo, com certeza, que quem falou a seu respeito foi Maricreuza Ozózino, 
brasileira, 42 anos, solteira, desempregada, vizinha de Jorcileide que residia na casa 104, 
não tendo Joelitana e nem Odileuzina nada a ver com esta história e que elas nem sabiam 
dos fatos levados ao conhecimento da ofendida. 
 
Tal informação foi descoberta no dia 19 de maio de 2018, oportunidade em que 
Jorcileide foi tirar satisfações com Macricreuza que lhe proferiu os seguintes dizeres: 
“Sua gorda estúpida! Você é uma vaca e não me arrependo de nada do que disse na rua e 
falo agora na sua cara!”. 
 
Por esta razão, Jorcileide lhe procurou em 10 de junho de 2018 para, na qualidade 
de advogado, apresentar a medida processual privativa cabível, bem como para as teses a 
serem utilizadas e último dia de prazo para propositura da medida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RELAXAMENTO DE PRISÃO 
 
Prisão em Flagrante: São hipóteses autorizadoras da prisão em flagrante por 
qualquer pessoa do povo (flagrante facultativo) ou pela polícia (flagrante obrigatório): 
 
a) Estar o agente cometendo a infração penal (art. 302, I, CPP, denominado 
flagrante próprio); 
b) Ter o agente acabado de cometer a infração penal (art. 302, II, do CPP, 
denominado também de flagrante próprio ou quase flagrante); 
c) Haver perseguição, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer 
pessoa, em situação que se faça presumir ser autor da infração penal (art. 302, 
III, CPP, denominado de flagrante impróprio); 
d) Ser o agente encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou 
papéis que façam presumir ser ele o autor da infração penal (art. 302, IV, CPP, 
denominado flagrante presumido). 
 
Realizada a prisão, o detido é encaminhado pelo condutor (aquele que lhe deu 
voz de prisão) à autoridade policial. Esta, por sua vez, entendendo válido o ato, lavra o 
auto de prisão em flagrante. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão 
comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do 
preso ou à pessoa por ele indicada. Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da 
prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o 
autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. 
No mesmo prazo (em 24 horas), será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, 
assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das 
testemunhas. 
 
Se tudo estiver formalmente em ordem, o juiz mantém o flagrante, mas pode 
colocar o indiciado em liberdade provisória, com ou sem fiança. Assim, agirá, se não 
vislumbrar presentes os requisitos da prisão preventiva (art. 312 do CPP). 
a) RELAXAMENTO DE PRISÃO 
 
Quando do recebimento do Auto de Flagrante, o juiz deve apreciar a peça 
flagrancial e checar a existência dos indícios de autoria e materialidade a fim de 
homologar o flagrante. Caso entenda existir alguma ilegalidade ou desatendimento à 
exigência legal, pode relaxar a prisão Ou seja, o relaxamento da prisão em flagrante 
ocorre quando há ilegalidade ou vício insanável, resumidamente falando. 
 
 
 
 
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Ressalte-se que, caso o juiz homologue o flagrante e a defesa entenda pela 
existência de ilegalidade, após pedido fundamentado, o juiz pode rever a decisão 
homologatória e reconhecer a ilegalidade, relaxando a prisão E nesse caso não há a 
exigência de assinar Termo de Compromisso. Cabe ressaltar, entretanto, que o 
relaxamento de prisão é cabível sempre que a prisão for ilegal. Ex: A pessoa foi presa 
preventivamente mesmo diante das gritantes provas de que cometeu o fato abrangido por 
estado de necessidade. O art. 314 do Código de Processo Penal veda a prisão preventiva 
em tais casos. Assim, a pessoa está presa ilegalmente, cabendo, no caso, relaxamento de 
prisão. 
 
A prisão é imediatamente relaxada quando é constada sua ilegalidade, 
nos termos do Art. 5º, LXV da CF/88. As hipóteses são as seguintes: a) na falta de 
formalidade essencial na lavratura do auto. Ex.: falta de entrega da nota de culpa ou 
assinatura desta fora do prazo legal; b) quando não estiverem presentes os requisitos da 
prisão em flagrante presentes no Art. 304, 306 e parágrafos, bem como art. 307 do CPP; 
c) quando do fato atípico; d) quando os prazos não forem respeitados ou quando houver 
excesso no prazo da prisão, lembrando que o prazo para se findar o inquérito policial com 
réu preso é de 10 dias, improrrogáveis. Se for excedido tal prazo, o acusado DEVE ser 
posto em liberdade. É necessário que se observem estes requisitos para que a prisão não 
seja relaxada. 
 
No caso de crimes envolvendo a lei 11.343 (lei antidrogas), ficar atento ao 
art. 48, §2º, tendo em vista que a conduta prevista no art. 28 desta Lei, não comporta 
prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo 
competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se 
termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias 
necessários. Se houver prisão em flagrante, cabe relaxamento, porque a lei não admite a 
referida medida. 
Ainda, com base nesta mesma Lei, conforme o Art. 51, o inquérito policial 
será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) 
dias, quando solto. Em que pese o parágrafo único estabelecer que os prazos a que se 
refere este artigo poderem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante 
pedido justificado da autoridade de polícia judiciária, findo tal prorrogação o acusado 
DEVERÁ ser colocado em liberdade, sob penal de ilegalidade da prisão, comportando o 
caso, desta feita, o relaxamento da prisão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Esqueleto da petição: 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL 
DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE (LOCAL DO FATO). 
 
OBS: Observar se a competência é do Juiz da Vara do Tribunaldo Júri, ou do juizado 
especial de violência doméstica e familiar contra a mulher, visto a possibilidade de prisão 
em flagrante nestes casos. Se a prisão em flagrante for ilegal, cabe relaxamento). 
 
 
Fulano de Tal (sempre qualificar), vem à presença de Vossa Excelência, por 
intermédio de seu advogado infra constituído, conforme instrumento de procuração em 
anexo, com fulcro no art. 5º, LXV da CF/88, c/c art. 310, I (se for flagrante), do CPP, 
requerer: 
 
RELAXAMENTO DE PRISÃO 
 
com base nos fatos que a seguir expõe: 
 
I – BREVE SÍNTESE DA DEMANDA: 
 
Narrar como se deu o flagrante, ressaltando o vício que será atacado no tópico “do 
direito”. 
 
EX: Fulano foi preso em flagrante pelo crime de roubo cometido em tal dia, em tal lugar. 
 
Após ser regularmente recolhido ao cárcere, teve lavrado contra si lavrado auto de 
prisão em flagrante 4 dias após a prisão, assinando sua nota de culpa também no quarto 
dia, fato que torna sua prisão contrária à lei, conforme disporá a defesa nas linhas 
seguintes. 
 
II – DO DIREITO 
 
Informar, aqui, o que diz o Código de Processo penal sobre tal prazo, 
transcrevendo o artigo e contrapondo-o ao caso dos autos, logo em seguida. 
 
Ex: O art. 306 do Código de processo penal estabelece o prazo de 24 horas para assinatura 
da nota de culpa, (fazer uma explanação)... 
 
 
 
 
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Ocorre, Excelência, que tal prazo não foi respeitado. Observe-se que o indiciado 
somente assinou tal documento 4 dias após sua prisão, fato que torna sua prisão em 
flagrante ilegal. Não obstante tal fato, a lavratura do auto se deu também em prazo diverso 
ao determinado pelo citado artigo do já mencionado diploma legal, (fazer uma 
explanação)... 
 
Pode-se concluir pelo exposto que a prisão do indiciado fere garantias e 
dispositivos constitucionais basilares, tais como dignidade da pessoa humana (falar a 
respeito), devido processo legal (falar a respeito)... Com base nisso, a prisão deve ser 
imediatamente relaxada. 
 
III – DO PEDIDO: 
 
Requer o indicado o imediato relaxamento da prisão em flagrante ora combatida, 
com a respectiva expedição de alvará de soltura em nome do mesmo, conforme preconiza 
o artigo ... (ver a fundamentação). 
 
Nestes Termos 
Pede Deferimento. 
 
Local, data. 
 
Advogado. 
OAB. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CASO PARA RESOLUÇÃO 
 
Elenilde Maridélia, brasileira, casada, policial civil, residente e domiciliada na SQS 315, 
Bloco W, Apartamento 1001, Asa Sul, estava em sua casa em 15 de maio de 2017, 
quando, avistando uma sombra passando pela sala, dirigiu-se sorrateiramente até o 
cômodo, momento em que presenciou um meliante arrombando a maçaneta da porta com 
um maçarico e portando na cintura uma pistola semiautomática. 
 
Apavorada, Elenilde foi até o quarto e pegou seu revólver calibre 38, se dirigindo até o 
citado elemento para afastá-lo de sua residência. Neste instante, o indivíduo já adentrava 
a sala de Elenilde e lhe apontava a arma, quando, para evitar a injusta agressão que seria 
perpetrada contra sua vida, Elenilde desferiu um único tiro no indivíduo, atingindo-lhe o 
peito, fato que levou o meliante a óbito. 
 
Após colocar o corpo no automóvel e dirigir-se à Delegacia de Polícia mais próxima, 
Elenilde entregou, perante a autoridade policial, o cadáver e a arma, narrando os fatos da 
forma como se deram. O delegado, não convencido da versão apresentada por Elenilde, 
decretou sua prisão em flagrante, lavrando o respectivo auto. 
 
Em 18 de maio de 2017, Elenilde recebeu sua nota de culpa, tendo informado que não 
possuía defensor constituído e que desejava comunicar sua prisão ao seu marido. A 
autoridade policial, munida do auto de prisão em flagrante, enviou uma cópia do auto, 
exclusivamente ao ministério público, entendo que este por ser o dominus litis, era o 
maior interessado na causa, comunicando, em seguida, a prisão de Elenilde ao seu esposo. 
 
Diante dos fatos, como advogado de Elenide, apresente a medida processual privativa, se 
atentando para as teses possíveis a serem alegadas em favor de Elenice. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONSIDERAÇÕES PERTINENTES A CONCESSÃO DE 
LIBERDADE PROVISÓRIA: 
 
 
É concedida a liberdade provisória quando houver prisão em flagrante 
válida, mas o indiciado/acusado não necessita ficar detido enquanto transcorre o 
processo. Tal fato se dará quando os requisitos para a decretação da prisão preventiva não 
estiverem presentes (art. 312 do CPP) e isto for observado em sede de PRISÃO EM 
FLAGRANTE. A prisão em flagrante é a “MÃE” da liberdade provisória. 
 
A liberdade provisória com ou sem arbitramento de fiança, conforme art. 321, 
do CPP, é cabível sempre que os requisitos da preventiva não estiverem presentes, 
podendo o juiz, caso se mostrem adequadas ou suficientes outras medidas cautelares que 
não a prisão, aplicá-las ao agente. (Medidas cautelares – art. 319 do CPP - Prisão 
domiciliar – art. 317/318; comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições 
fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; proibição de acesso ou frequência 
em determinados lugares; proibição de manter contato com pessoa determinada; 
proibição de ausentar-se da Comarca; recolhimento domiciliar noturno e nos dias de 
folga; suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica 
ou financeira quando houver justo receio de que delas poderá advir prática criminosa; 
fiança, quando admitido; internação provisória do acusado em caso de crimes praticados 
com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem que o agente é inimputável 
ou semi-imputável e houver risco de reiteração). 
 
Pode ser a liberdade provisória pleiteada para qualquer delito. Exemplo: Se 
alguém for preso em flagrante por roubo, pode o magistrado determinar a sua soltura, 
mediante liberdade provisória sem fiança. DICA: Sempre que o problema falar em crime 
apenado com reclusão, sempre caberá liberdade provisória sem fiança. Não precisa 
adentrar o mérito do instituto, basta citar na petição: LIBERDADE PROVISÓRIA 
COMPROMISSADA. 
 
O art. 310, III, parágrafo único, do CPP, trata da liberdade provisória nos 
casos de legitima defesa, estado de necessidade e estrito cumprimento do dever legal ou 
exercício regular do direito (conhecidas como excludentes de ilicitude). Se o Juiz, pelo 
auto de prisão em flagrante, observar que o agente praticou a infração abrangido por 
qualquer destas situações, poderá, de forma fundamentada, conceder ao acusado 
liberdade provisória compromissada. 
 
A liberdade provisória, com arbitramento de fiança, destina-se aos delitos 
considerados afiançáveis. Conforme o art. 322 do CPP, a autoridade policial somente 
poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima 
 
 
 
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não seja superior a 04 anos. Em outros casos afiançáveis, a fiança será requerida ao Juiz, 
que decidirá em 48 horas. 
 
a) São inafiançáveis: 
 
Art. 323 do CPP – Racismo, Tortura, Tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
afins, terrorismo, crimes definidos como hediondos, crimes cometidos pos grupos 
armados – civis ou militares – contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; 
Art. 324 – Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança 
anteriormente concedida ou infringido, sem justo motivo, qualquer das obrigações a que 
se referem os arts. 327 e 328 do CPP – comparecimento quando intimado e mudança de 
endereço ou ausência do domicílio por mais de 8 dias sem comunicar a autoridade). 
 
Os valores da fiança estão dispostosno art. 325 do CPP. Entretanto, conforme 
entendimento uníssono da doutrina, não há mais sentido para se arbitrar fiança para 
crimes menos graves, quando delitos mais graves admitem a liberdade provisória sem 
fiança. 
 
Com base em tal fato, Guilherme Nucci (in Prática Forense Penal, 2009, pág. 
169/170), informa que “os magistrados têm optado por conceder, sempre, liberdade 
provisória sem fiança (a única exceção tem ficado por conta dos crimes contra a economia 
popular, sonegação fiscal, crimes de violência doméstica e crimes por direção de veículo 
automotor, estando o motorista alcoolizado. Nestes dois últimos casos, a pena é de 
detenção e comporta fiança). Entretanto, com a mudança na lei, em que a fiança se tornou 
uma medida cautelar, o instituto voltou a ter força na concessão da liberdade provisória 
condicionada ao seu pagamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA 
CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE (LOCAL DO FATO). 
 
OBS: Observar se a competência é do Juiz da Vara do Tribunal do Júri. 
 
Distribuição por dependência ao auto de prisão em flagrante n. 
 
 Fulano de tal, nacionalidade, profissão, residente e domiciliado na ... , portador do 
RG e do CPF ..., (temos que qualificar por ser uma peça que vai apartada aos autos 
principais) vem à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado que esta 
subscreve, conforme procuração acostada, com fulcro no art. 310, III, e art. 321, ambos 
do Código de Processo Penal (Temos que observar aqui se é o caso de excludente de 
ilicitude ou ausência de requisitos que autorizam a prisão preventiva do acusado. Sendo 
o caso é de ausência de requisitos do art. 312 do CPP, a fundamentação passa a ser art. 
310, III e 321, do CPP. Se for excludente de ilicitude teremos o art. 310, § 1º, do código 
de processo penal), combinado com o artigo art. 5º, inciso LXVI, da Carta Constitucional, 
requerer 
 
LIBERDADE PROVISÓRIA 
 
pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor: 
 
I – BREVE SÍNTESE DA DEMANDA: 
 
Informar aqui, de forma sucinta, o caso que ensejou a prisão em flagrante. 
 
EX: O requerente foi preso em flagrante delito no dia tal, pela prática do crime de furto, 
tendo em vista que o mesmo está sendo indiciado pelo fato de ter subtraído duas barras 
de chocolate da loja “doce mais”, localizada em tal local. 
 
A prisão em flagrante se fundamentou no fato de que o requerente já havia sido 
processado anteriormente, mas deve-se lembrar que até o momento não há sentença 
transitada em julgado, condenando-o. 
 
II – DO DIREITO 
 
Explicar aqui que, conforme o auto de prisão em flagrante, a autoridade policial presumiu 
que o indiciado tinha personalidade voltada para o crime. Neste momento, devemos falar 
dos requisitos do art. 312 do CPP e debater todos aqueles que podem ter ensejado a prisão, 
mostrando ao juízo que não há necessidade de o indiciado ficar preso. Falar, neste 
momento, da liberdade como regra e dissertar acerca dos requisitos do 312 do CPP 
confrontando-os com os argumentos da defesa, a fim de tornar a prisão desnecessária. 
Pode-se, inclusive, falar de outras medidas cautelares mais benéficas ao requerente, que 
não a prisão. 
 
EX: A prisão em flagrante faz presumir que o indiciado tem a personalidade voltada para 
o crime, devido o fato de já ter sido processado. Ora, Excelência, a personalidade de uma 
pessoa deve ser atestada como “perigosa” somente quando há uma sentença penal 
transitada em julgado afirmando tal situação. Não se pode manter o acusado em cárcere 
 
 
 
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com suposições de que, se solto, poderá cometer novos delitos, desestabilizando a ordem 
pública. (Falar de cada um dos requisitos). 
 
III – DO PEDIDO 
 
 Aqui, fazemos o pedido de concessão da liberdade, mediante compromisso de 
comparecer a todos os atos do processo, com a consequente expedição de alvará de soltura 
em favor do requerente. 
 
 Subsidiariamente, se for do entendimento do juízo, que seja concedida a liberdade 
provisória pleiteada condicionada à imposição de uma das medidas cautelares elencadas 
no art. 319 do Código de Processo Penal, observadas as disposições expressas no art. 282 
do mesmo diploma legal. 
 
Nestes Termos 
Pede Deferimento 
 
Local, data. 
 
ADVOGADO. 
OAB 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CASO PARA RESOLUÇÃO 
 
Marcolino Jorgito, técnico em enfermagem do hospital Anchieta, em Taguatinga-DF, 
profissional regular da instituição há 13 anos, reside na SQS 100, Bloco H, apartamento 
701 (há 6 anos, sendo proprietário do referido imóvel) com sua esposa e seus três filhos 
pequenos, sendo um de 3 anos e dois de 6 anos, cada. 
 
No dia 15 de abril de 2018, Marcolino foi desrespeitado por um paciente dentro do 
hospital em que labora. Altamente alterado, Viníciusley Romério pegou um bisturi e 
tentou agredir o referido técnico em enfermagem que lhe prestava atendimento, momento 
em que Marcolino teve que quebrar o braço do agressor visivelmente transtornado para 
desarmá-lo, causando-lhe as lesões que foram descritas no laudo de exame de corpo de 
delito lavrado no mesmo dia, sendo que em tal documento constava que o agredido iria 
ficar afastado de suas ocupações habituais por no mínimo 45 dias. 
 
Uma enfermeira que estava no momento do ocorrido e uma secretária que estava 
presenciando o fato, prestaram declarações na DP, informando que se o técnico não agisse 
da forma que agiu, o paciente poderia ter lhe ferido letalmente, pois demonstrou 
inequívoca intenção de atentar contra a vida do Sr. Marcolino, tendo em vista este ter 
pedido que o paciente aguardasse mais alguns minutos para ser atendido. 
 
Diante de tal situação, Marcolino foi preso em flagrante delito pelo crime de lesão 
corporal grave, Lavrado o auto de prisão em flagrante em 24 horas, a autoridade policial 
o encaminhou à autoridade judicial, ao Ministério Público e ao Defensor Público para 
verificação. Os autos estavam aguardando conclusão ao juiz para designação de audiência 
de custódia. 
 
Diante da situação de Marcolino e dos fundamentos legais que possam interessar para sua 
defesa, redija a peça processual privativa de advogado, que seja cabível na situação 
exposta, se atentando para as formalidades atinentes ao caso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PRISÃO PREVENTIVA / REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA 
 
 
É a principal modalidade de prisão cautelar, de cuja base nascem as demais. 
Portanto, para se sustentar uma prisão preventiva, torna-se imperioso checar se os 
requisitos desta prisão estão presentes. Do contrário, o correto é permitir ao indiciado ou 
réu aguardar o julgamento em liberdade, com ou sem arbitramento de fiança. 
 
Para a sua decretação são exigidos, ao menos, três requisitos: 
 
a) materialidade do crime; 
b) indícios suficientes de autoria; 
 
Estes acima narrados são básicos. Os abaixo elencados, basta a presença de 
ao menos um deles, quais sejam (art. 312 do CPP): 
 
a) Fundamentos 
 
Provada a existência do crime e havendo indícios suficientes de autoria – 
fumus comissi delicti e periculum libertatis, elementos que fundamentam a medida 
cautelar (art. 312 CPP), a prisão preventiva poderá ser decretada : 
 
• como garantia da ordem pública – evitar que o delinquente pratique novos crimes 
contra a vítima e seus familiares; 
• como garantia da ordem econômica – Lei nº 8.884/84, 8.137/90 (crimes contra a 
economia popular e sonegação fiscal); 
• por conveniência da instruçãocriminal – para assegurar a prova processual, de modo 
a impedir a ação do criminoso no sentido de fazer desaparecer as provas do crime, 
apagar vestígios, subornar, aliciar testemunhas ou ameaçá-las, etc; 
• para assegurar a aplicação da lei penal - impede-se o desaparecimento do autor da 
infração que pretenda se subtrair aos efeitos penais da eventual condenação. 
• Descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas 
cautelares (art. 282, parágrafo 4º, do CPP). 
 
Cabimento da prisão preventiva – art. 313 do CPP: Nos casos de crimes 
dolosos punidos com reclusão, cuja pena máxima seja superior a 4 anos; condenação por 
outro crime doloso, com sentença transitada em julgado (reincidência); violência 
doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com 
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; ou no caso de 
dúvida acerca da identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos 
suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade 
após identificação, exceto se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. 
 
O despacho do juiz que decretar a preventiva deverá ser sempre 
fundamentado. Deixando de subsistir o motivo pelo qual a preventiva foi decretada, o 
Juiz poderá revogá-la, bem como poderá decretá-la novamente se o motivo de sua 
decretação voltar a perdurar. 
 
 
 
 
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A garantia da ordem pública abrange enorme aspecto de subjetividade do 
magistrado. Configura-se, em regra, levando-se em conta os seguintes pontos: 
 
- gravidade da infração penal + periculosidade do réu + repercussão causada 
pelo crime. 
 
A garantia da ordem econômica, leva em consideração a magnitude da lesão 
concreta causada pela lesão à ordem econômico-financeira 
 
A conveniência da instrução criminal concentra-se na produção de provas. 
 
Assegurar a aplicação da lei penal – se finda a instrução, a lei deve ter 
condições de ser devidamente aplicada. Visa evitar a potencial fuga do acusado. 
 
Quando o juiz decretar a prisão preventiva, se, porventura, cessar a razão que 
a determinou, deve o magistrado revogá-la, simplesmente, tornando o indiciado/acusado 
à situação de liberdade anterior. O art. 316 do Código de Processo Penal é o que dá fulcro 
ao pedido de revogação da prisão preventiva. 
 
b) Decretação 
 
A prisão preventiva pode ser decretada em qualquer fase do inquérito policial 
(não sendo o caso de prisão em flagrante) ou da instrução criminal, tanto nos casos de 
ação penal pública ou privada, desde que presentes os pressupostos, fundamentos e 
condições de admissibilidade previstos em lei (art. 311 CPP). 
 
Não há recurso, somente o pedido de habeas corpus com fundamento em 
constrangimento ilegal, decorrente da inadmissibilidade da medida amparada em falta de 
fundamentação adequada, na inexistência de pressupostos, etc. 
 
c) Fundamentação 
 
O despacho que decretar ou denegar a prisão preventiva será sempre 
fundamentado (art. 315 CPP). É indispensável que se fundamente em fatos concretos que 
lhe proporcionem fomento. A fundamentação do pedido da revogação da prisão 
preventiva é o art. 316 do CPP c/c art. 5°, LXVI da CF/88. 
 
No caso da Lei Maria da Penha a possibilidade de decretação de preventiva 
está no art. 20 da citada Lei e a sua revogação está inserida no parágrafo único do mesmo 
artigo. 
 
Dentre todos os tipos de violência contra a mulher, existentes no mundo, 
aquela praticada no ambiente familiar é uma das mais cruéis e perversas. O lar, 
identificado como o local acolhedor e de conforto passa a ser, nesses casos, um ambiente 
de perigo contínuo que resulta num estado de medo e ansiedade permanentes. Envolta no 
emaranhado de emoções e relações afetivas, a violência doméstica contra a mulher se 
mantém, até hoje, como uma sombra em nossa sociedade. 
 
 
 
 
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A violência praticada contra mulheres é conhecida como violência de gênero 
porque se relaciona à condição de subordinação da mulher na sociedade, que constitui na 
razão implícita do número estarrecedor de casos de agressões físicas, sexuais, 
psicológicas, morais e econômicas (patrimoniais), perpetrados em desfavor de mulheres, 
revelando a incontestável desigualdade de poder entre homens e mulheres, sobretudo nas 
relações domésticas. 
 
O efeito da violência doméstica e familiar contra a mulher, decorrentes de 
maus tratos, humilhações, agressões físicas, sexuais, morais, patrimoniais e psicológicas, 
é, sem dúvida, devastador para sua auto-estima, sem falar no medo vivenciado 
cotidianamente, temor aterrorizante causador de insegurança e instabilidade, agravados 
pelo fato das vítimas nunca saberem a razão capaz de desencadear nova fúria dos 
agressores e na vergonha que passam diante de familiares, vizinhos, amigos e conhecidos. 
Essa situação provoca ansiedade, depressão, dores crônicas, dentre outras moléstias. 
Estando tal quadro instalado, necessária se faz a intervenção do Estado, por meio de 
efetivação de políticas públicas adequadas, com mecanismos de discriminação positiva 
ou de ações afirmativas, capazes de reduzir a tragédia da violência de gênero, fim a que 
se destina a Lei 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha. 
 
No dia 22 de setembro de 2006 entrou em vigor a Lei 11.340, de 07 de agosto 
de 2006, que cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar 
contra a mulher, dispondo sobre a criação dos Juizados de violência doméstica e familiar 
contra a mulher (são os competentes para julgar casos de violência doméstica contra a 
mulher!) e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de 
violência doméstica e familiar. Esse diploma legal, tão aguardado especialmente pelas 
instituições e organizações que militam na tutela dos direitos de gênero e de 
enfrentamento da violência doméstica, evidencia a preocupação de minudenciamento e 
pormenorização de direitos e garantias da mulher. 
 
É uma lei inovadora, porque nela o legislador incluiu a instituição de medidas 
protetivas de urgência, com possibilidade inclusive de concessão de alimentos provisórios 
ou provisionais, em favor da mulher, bem como aumento da pena do crime de lesão 
corporal praticado com violência doméstica, dando elasticidade considerável ao conceito 
para nele embutir toda e qualquer forma de violência, seja ela física, psicológica, moral 
ou sexual, elevando-a, inclusive, ao patamar de violação de direitos humanos. 
 
Dentre as inovações da Lei, destaca-se: 
• tipifica e define a violência doméstica e familiar contra a mulher; 
• estabelece as formas da violência doméstica contra a mulher como física, 
psicológica, sexual, patrimonial e moral; 
• determina que a mulher somente poderá se retratar de sua representação perante o 
juiz e ministério público, com audiência específica para tanto; 
• determina que a violência doméstica contra a mulher independa de sua orientação 
sexual; 
• ficam proibidas as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas); 
• é vedada a entrega da intimação pela mulher ao agressor; 
• a mulher vítima de violência doméstica será notificada dos atos processuais, em 
especial quando do ingresso e saída da prisão do agressor; 
 
 
 
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• a mulher deverá estar acompanhada de seu advogado(a) ou defensor(a) em todos 
os atos processuais; 
• retira dos juizados especiais criminais a competência para julgar os crimes de 
violência doméstica contra a mulher; 
• altera a Lei de Execuções Penais para permitir que o juiz determine o 
comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e 
reeducação; 
• determina a criação de juizados especiaisde violência doméstica e familiar contra 
a mulher com competência cível e criminal para abranger as questões de família 
decorrentes da violência; 
• altera o Código de Processo Penal para possibilitar ao juiz a decretação da prisão 
preventiva quando houver riscos à integridade física ou psicológica da mulher; 
• caso a violência doméstica seja cometida contra mulher com deficiência, a pena 
será aumentada em 1/3. 
• O juiz poderá conceder, no prazo de 48 horas, medidas protetivas de urgência 
(suspensão do porte de armas do agressor, afastamento do agressor do lar, 
distanciamento da vítima, dentre outras), dependendo da situação, a requerimento 
do Ministério Público ou da ofendida. 
• Modifica a ação penal no crime de lesão corporal leve, que passa a ser pública 
incondicionada. 
• Aumenta a pena de lesão corporal no caso dela ser praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha 
convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de 
coabitação ou hospitalidade. 
• Permite a autoridade policial prender o agressor em flagrante sempre que houver 
qualquer das formas de violência contra a mulher 
• Proíbe a aplicação da lei dos juizados especiais criminais (Lei 9.099/1995) aos 
crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Uma vez feita a ocorrência na delegacia de polícia, o Ministério Público 
apresentará a denúncia ao juiz e poderá propor penas de 3 meses a 3 anos de detenção. 
d) Tipos de violência 
 
Conforme o artigo 5º da Lei Maria da Penha, a violência doméstica e familiar 
contra a mulher é entendida como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe 
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. 
 
A violência pode se dar no espaço de convívio permanente de pessoas, com 
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas (âmbito da unidade 
doméstica), ou na comunidade formada por indivíduos que são ou que se consideram 
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa (âmbito da 
família) ou ainda em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha 
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Vale ressaltar ainda que 
essas relações pessoais mencionadas acima independem de orientação sexual. 
 
Formas de violência doméstica e familiar contra a mulher: 
1. Violência Física – entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou 
a saúde corporal da mulher. A infração penal que configura essa forma de 
 
 
 
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violência é a lesão corporal e as vias de fato. A ação penal é pública 
incondicionada. 
2. Violência Psicológica – entendida como qualquer conduta que lhe cause dano 
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno 
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, 
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, 
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, 
chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou 
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação. Infrações penais: Perturbação da tranquilidade, Injúria, 
Constrangimento ilegal, Cárcere Privado, Ameaça, Vias de fato e Abandono 
material. A Ação Penal é pública incondicionada. 
Obs: o crime de ameaça (Art. 147, CP) é condicionado a representação. 
3 Violência Sexual – entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante 
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a 
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer 
método contraceptivo ou que a force a matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à 
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite 
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. Infrações penais: 
estupro. A ação penal é pública condicionada à representação. Se resultar 
violência lesão corporal grave ou a morte, a ação penal é pública incondicionada. 
4 Violência Patrimonial – entendida como qualquer conduta que configure retenção, 
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, 
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo 
os destinados a satisfazer suas necessidades. Infrações Penais: Roubo, Furto, 
Extorsão, Estelionato etc. Quanto à Ação Penal, se for cônjuge separado(a), deverá 
haver a representação criminal por parte da ofendida para iniciar o procedimento 
policial (Art. 182, I, CP). Se houver violência ou grave ameaça, a ação será pública 
incondicionada. 
5 Violência Moral – entendida como qualquer conduta que configure calúnia, 
difamação ou injúria. As infrações penais são injúria, calúnia e difamação. A ação 
penal é privada. 
e) Medidas Protetivas 
 
A ofendida poderá pedir à Justiça as providências necessárias para a sua 
proteção por meio da Autoridade Policial. No prazo de 48 horas deverá ser encaminhado 
pelo Delegado de Polícia, o expediente referente ao pedido, juntamente com os 
documentos necessários à prova, para que este seja conhecido e decido pelo juiz. 
 
De acordo com a Lei 11.340, em seus artigos 22, 23 e 24, as MEDIDAS 
PROTETIVAS DE URGÊNCIA podem ser: 
 
 
 
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I. Suspensão da posse ou restrição do porte de armas do agressor, com 
comunicação ao órgão competente nos termos da Lei 10.826 de 22 de dezembro 
de 2003; 
II. Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência do agressor com a 
ofendida; 
III. Proibição de determinadas condutas do agressor, entre as quais: 
1. aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando 
o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; 
2. contato com a ofendida, seus familiares e das testemunhas por qualquer 
meio de comunicação; 
3. frequentar determinados lugares a fim de preservar a integridade física e 
psicológica da ofendida 
IV. Restrição ou suspensão de visitas do agressor aos dependentes menores, 
ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; 
V. Prestação de alimentos provisionais ou provisórios; 
VI. Encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário 
de proteção ou de atendimento; 
VII. Determinar a recondução da ofendida e de seus dependentes ao respectivo 
domicílio, após afastamento do agressor; 
VIII. Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos 
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; 
IX. Determinar a separação de corpos; 
X. Restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; 
XI. Proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra e venda 
e locação da propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; 
XII. Suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; 
XIII. Prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e 
danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a 
ofendida. 
É Importante que a Ofendida Saiba que: 
 
Caso queira desistir da ação penal contra o agressor, se for ação penal pública 
condicionada à representação, “só será admitida a renúncia à representação perante o 
juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento 
da denúncia e ouvido o Ministério Público” (Art. 16). Portanto, a ofendida deverá 
solicitar ao juiz a designação dessa audiência. 
 
 
 
 
MATERIAL COMPLEMENTAR – MANUAL DE PRÁTICA PENAL I 
 
2011 
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2019 
O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica

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