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Trabalho e Sociabilidade_Unidade 3 (O trabalho na sociedade capitalista)

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21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_TRASOC_20/unidade_3/ebook/index.html# 1/26
TRABALHO	E	SOCIABILIDADE
CAPI�TULO	3	-	O	TRABALHO	NA	SOCIEDADE
CAPITALISTA
Juliene	Tenório	e	Marina	Gondim
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_TRASOC_20/unidade_3/ebook/index.html# 2/26
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_TRASOC_20/unidade_3/ebook/index.html# 3/26
Introdução
Nesta	unidade,	vamos	abordar	o	trabalho	na	sociedade	capitalista,	a	partir	da	crı́tica	realizada	por	Karl	Marx.
Para	 entender	 os	 fundamentos	 metodológicos	 marxistas	 com	 relação	 ao	 tema,	 você	 precisa	 entender	 o
materialismo	 dialético	 e	 o	 materialismo	 histórico	 estudado	 e	 utilizado	 por	 Marx	 na	 sua	 pesquisa	 sobre	 a
sociedade	capitalista.	
O	materialismo	dialético	parte	do	princı́pio	que	nenhum	 fenômeno	da	natureza	pode	 ser	 compreendido,	 se
focalizado	 isoladamente,	 sem	 conexão	 com	 os	 fenômenos	 que	 o	 cercam,	 pois	 todo	 fenômeno,	 tomado	 de
qualquer	campo	da	natureza,	pode	se	converter	em	um	absurdo,	se	examinado	sem	conexão	com	as	condições
que	 o	 cercam,	 desligado	 delas;	 e	 pelo	 contrário,	 todo	 fenômeno	 pode	 ser	 compreendido	 e	 explicado,	 se
examinado	em	sua	conexão	indissolúvel	com	os	fenômenos	circundantes	e	condicionados	por	eles.	E,	nesse
sentido,	 �ica	 claro	 que	Marx	 defende	 e	 realiza	 o	 estudo	 da	 realidade	 a	 partir	 da	 análise	 das	 suas	múltiplas
determinações.				
A	partir	do	materialismo	histórico,	Marx	e	Engels,	no	 “Manifesto	Comunista”,	buscaram	estudar	 cada	 época
histórica	 e	 explicar	 cada	 modo	 de	 produção.	 Você	 deve	 ter	 percebido	 que	 ao	 analisar	 toda	 a	 história	 da
sociedade,	desde	a	dissolução	do	regime	primitivo	da	propriedade	coletiva,	todo	esse	caminho	percorrido	tem
demonstrado	 a	 história	 de	 lutas	 de	 classe,	 de	 lutas	 entre	 classes	 exploradoras	 e	 exploradas,	 dominantes	 e
dominadas,	segundo	as	diversas	fases	do	progresso	social.
A	 luta	de	classes	chegou,	na	história	da	sociedade	em	que	vivemos,	a	uma	fase	em	que	a	classe	explorada	e
oprimida	 (o	proletariado)	 já	 não	 	pode	 se	 emancipar	da	 classe	que	a	 explora	e	 a	oprime	 (a	burguesia)	 sem
emancipar,	 para	 sempre,	 a	 sociedade	 inteira	 da	 opressão,	 da	 exploração	 e	 da	 luta	 de	 classes.	 Essa,	 na
perspectiva	de	Marx	e	Engels,	é	um	dos	fundamentos	da	sociedade	capitalista	em	que	vivemos.	
	 Então,	 para	 entender	 a	 sociedade	 capitalista	 e	 a	 luta	 de	 classe,	 é	 necessário	 estudar	 sobre	 a	 natureza	 do
trabalho	 no	 modo	 de	 produção	 capitalista,	 que	 servirá	 como	 base	 para	 que	 você	 compreenda	 as
transformações	 contemporâneas	 no	 mundo	 do	 trabalho	 e	 analise	 sua	 inserção	 como	 integrante	 da	 classe
trabalhadora.
No	cotidiano	 é	 comum	o	debate	 sobre	o	 capitalismo.	Há	quem	se	posicione	sobre	a	defesa	e	outros	que	se
posicionam	contrários	ao	sistema	capitalista.	Na	maioria	das	vezes,	motivados	por	juı́zo	de	valor,	se	é	bom	ou
ruim.	 Pense	 sobre	 o	 que	 você	 já	 ouviu	 a	 respeito	 do	 capitalismo.	Quais	 são	 os	 argumentos	 utilizados	 para
defendê-lo?	Você	concorda	com	eles?	Por	quê?	Quais	os	argumentos	contrários?	O	que	você	já	leu	e	estudou	a
respeito?
Estudar	 sobre	 o	 modo	 de	 produção	 capitalista	 e	 o	 trabalho	 é	 compreender	 seus	 fundamentos,	 o	 que	 lhe
sustenta,	pois	esse	conhecimento	é	fundamental	para	que	você	tenha,	enquanto	estudante	de	Serviço	Social,	os
elementos	 teóricos	 necessários	 para	 analisar	 o	 cotidiano,	 as	 mudanças	 e	 os	 desa�ios	 do	 trabalho	 na
contemporaneidade.
Para	muito	além	de	classi�icar	em	bom	ou	ruim,	você	 terá	a	oportunidade	de	conhecer	as	caracterı́sticas	do
trabalho	na	sociedade	capitalista,	a	partir	dos	estudos	desenvolvidos	no	âmbito	da	teoria	marxista.
Bom	estudo!
3.1 Organização do trabalho na sociedade capitalista:
taylorismo, fordismo e toyotismo
A	erosão	do	feudalismo,	sob	in�luência	da	ação	dos	“burgueses”,	comerciantes	que	se	desenvolveram	a	partir
da	atividade	mercantil,	a	partir	do	século	XVI,	possibilitou	o	estabelecimento	de	um	novo	modo	de	produção
denominado	de	capitalismo.
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_TRASOC_20/unidade_3/ebook/index.html# 4/26
Esse	 modo	 de	 produção,	 que	 vamos	 estudar	 detalhadamente	 nesta	 unidade,	 se	 mantém	 contemporâneo,
prevalecendo	 em	 paı́ses	 mais	 e	 menos	 desenvolvidos,	 con�igurando-se,	 no	 século	 XXI,	 como	 um	 “sistema
planetário”	(NETTO;	BRAZ,	2011).
Neste	 item,	 você	 compreenderá	 as	 caracterı́sticas	 do	 modo	 de	 produção	 capitalista	 e	 a	 forma	 como	 esse
modelo	 econômico	organizou	o	 trabalho,	 a	 partir	 da	 criação	 e	 adoção	dos	modelos	de	produção	propostos
pelo	taylorismo,	fordismo	e	toyotismo,	que	provocaram	mudanças	na	sociabilidade	e	nas	relações	sociais.		
3.1.1 O trabalho no modo de produção capitalista
Com	o	�im	do	feudalismo,	um	novo	modo	de	produção	 foi	gestado	e	se	desenvolveu.	Vamos	entender	como
isso	aconteceu	e	que	mudanças	produziram	com	relação	ao	trabalho?
Com	a	expansão	marı́timo-comercial	na	Europa,	na	época	do	modo	de	produção	feudalista,	para	lugares	cada
vez	mais	distantes,	a	atividade	mercantil	de	comerciantes	e	mercadores	movidos	pelo	lucro	foi	impulsionada,
contribuindo,	a	partir	do	século	XVI,	para	o	surgimento	da	burguesia	que,	ao	se	desenvolver	enquanto	classe,
aliou-se	aos	reis	para	ampliar	suas	atividades	econômicas	e	se	fortalecer	diante	dos	senhores	feudais.	Assim,
iniciaram-se	 os	 Estados	 Nacionais	 Absolutistas,	 em	 que	 a	 centralização	 do	 poder	 foi	 fundamental	 para	 a
padronização	monetária,	a	formação	de	exércitos	nacionais,	a	criação	de	leis	que	favorecessem	a	burguesia	na
conquista	militar	 de	 outros	mercados	 para	 expansão	 do	 comércio	 e	 domı́nio	 das	 colônias.	 Para	 os	 reis,	 a
burguesia	contribuiu	para	o	�inanciamento	dos	exércitos	nacionais,	para	aumento	na	arrecadação	de	impostos
e	fortalecimento	de	seu	poder	(VIEIRA	et	al.,	2015).	
E� 	dessa	forma	que	na	Europa	Ocidental,	a	uni�icação	monárquica	de	Estados-nações	e	a	expansão	marı́timo-
comercial,	 nos	 séculos	 XV	 e	 XVI,	 contribuı́ram	 para	 o	 enfraquecimento	 do	 feudalismo,	 a	 ascensão	 da
burguesia	e	a	colonização	da	América.
De	 acordo	 com	 Vieira	 et	 al.	 (2015),	 o	 capitalismo	 concorrencial	 inaugurou	 o	 comércio	 em	 escala	 larga	 e
intercontinental,	integrando	América,	A� frica	e	A� sia	com	a	nova	ordem	econômica	europeia.	A	dominação	pelo
uso	da	 força	 transformava	em	mercadorias	as	 formas	de	produção	das	comunidades	nativas	ou	 faziam	com
que	os	produtos	das	mesmas	mercadorias	circulassem	na	economia	capitalista,	extraindo	o	excedente	para	a
produção	da	acumulação	primitiva	do	capital.
Figura	1	-	Expansão	marı́timo-comercial	na	Europa	e	o	fortalecimento	da	atividade	mercantil.
Fonte:	Kostyantyn	Ivanyshen,	Shutterstock,	2020.
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_TRASOC_20/unidade_3/ebook/index.html# 5/26
A	acumulação	primitiva	do	 capital	 consistiu	no	processo	histórico,	 realizado	 entre	o	 �inal	 do	 século	XV	ao
século	XVIII,	que	propiciou,	de	acordo	com	Netto	e	Braz	(2011),	o	surgimento	e	desenvolvimento	do	modo	de
produção	capitalista	a	partir	da	existência	e	do	confronto	entre	aqueles	que	possuem	recursos	para	comprar	a
força	 de	 trabalho	 de	 outras	 pessoas	 como	mercadoria	 e	 dos	 que	 dispõem	 apenas	 da	 sua	 força	 de	 trabalho
como	única	mercadoria	para	vender,	ou	seja,	a	existência	de	duas	classes	sociais.
Importante	entender	que	não	foi	apenas	o	acúmulo	do	capital	mercantil	que	contribuiu	com	a	formação	dos
burgueses.	Este	foi	um	ladodo	processo.	O	outro	lado	foi	a	expropriação	dos	camponeses	de	suas	terras	e	seu
deslocamento	 para	 as	 cidades,	 dispondo	 apenas	 de	 sua	 capacidade	 de	 trabalhar,	 assim	 como	 a	 expansão
ampliada	do	capital	a	partir	do	saqueamento,	extermı́nio,	escravização	dos	povos	e	das	riquezas	da	América,
A� frica	e	A� sia	(NETTO;	BRAZ,	2011).
Então,	observe	a	complexidade	do	processo	e	a	importância	de	compreender	que	a	constituição	da	burguesia,
enquanto	 classe	 social,	 foi	 resultado	 da	 expansão	 das	 atividades	 mercantis	 em	 larga	 escala	 e	 de	 forma
intercontinental,	 utilizando	 a	 dominação,	 a	 escravidão	 e	 o	 saqueamento	 das	 riquezas	 dos	 povos	 originais
daquelas	 terras,	 como	 aconteceu	 com	 o	 Brasil,	mas	 também	por	meio	 do	 empobrecimento	 e	 expulsão	 dos
camponeses	das	 terras,	 resultando	na	migração	para	as	 cidades	desses	 trabalhadores,	que	passaram	a	deter
apenas	a	capacidade	de	trabalhar,	da	criação	de	leis	de	apoio	à	burguesia,	dentre	outros	fatores.
Por	 isso,	Marx	 (1982)	 explica	 que	 dinheiro,	mercadoria,	meios	 de	 produção	 e	 de	 vida	 não	 são	 por	 si	 só	 o
inı́cio	 do	 capital,	 eles	 passam	 pela	 transformação	 em	 capital,	 e	 isso	 ocorre	 sob	 circunstâncias	 bem
determinadas	que	se	condensam	em	duas	classes	bem	diferentes,	quais	sejam:	
[...]	 possuidores	 de	mercadorias	 têm	 de	 se	 pôr	 frente	 a	 frente	 e	 entrar	 em	 contato,	 de	 um	 lado
proprietários	de	dinheiro,	de	meios	de	produção	e	de	vida,	aos	quais	o	que	interessa	é	valorizar	a
soma	de	valor	por	eles	possuı́da	por	meio	da	compra	de	 força	de	 trabalho	alheia;	do	outro	 lado
trabalhadores	livres,	vendedores	da	força	de	trabalho	própria	e	por	isso	vendedores	de	trabalho.
(MARX,	1982,	[s.	p.])
VOCÊ QUER LER?
Para	 aprofundar	 a	 compreensão	 do	 capitalismo	moderno	 e	 as	 transformações	 que	 o
atingiram,	 desde	 o	 fordismo	 e	 a	 crise	 da	 sociabilidade,	 passando	 pela	 globalização	 e
pela	 emergência	 da	 problemática	 ecológica,	 o	 livro	 “Da	 grande	 noite	 à	 alternativa:	 o
movimento	 operário	 europeu	 em	 crise”	 (1998),	 de	 Alain	 Bihr,	 é	 uma	 excelente
indicação.	
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
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E� 	essa	polarização	entre	quem	dispõe	dos	meios	de	produção	e	de	vida	dos	que	dispõem	da	força	de	trabalho
que	produz	as	condições	para	o	surgimento	e	desenvolvimento	do	modo	de	produção	capitalista,	que	para	se
fortalecer,	 amplia	 essa	 polarização.	 E� ,	 dessa	 forma,	 que	 a	 acumulação	 primitiva	 ou	 original	 do	 capital
consistiu	no	processo	historicamente	desenvolvido	de	separação	dos	 trabalhadores	dos	meios	de	produção
(MARX,	1982).
Vamos	entender	melhor	sobre	capital	e	a	relação	que	ele	estabelece	com	o	trabalho?	O	que	você	conhece	sobre
isso?	O	que	é	capital?	Será	que	é	apenas	sinônimo	de	dinheiro?
Apesar	de	muito	usado	no	dia	a	dia	como	sinônimo	de	dinheiro,	o	sentido	original	do	termo	“capital”	ainda
parece	desconhecido	para	muitas	pessoas.	Enquanto	uma	das	categorias	centrais	do	capitalismo,	capital	“[…]
é	 uma	 categoria	 peculiar,	 especı́�ica	 do	 sistema	 capitalista,	 e,	 portanto,	 o	 quali�ica,	 o	 de�ine,	 o	 determina”
(MONTAN� O;	DURIGUETTO,	2011,	p.	77),	e	deve	ser	entendido	com	base	em	duas	dimensões:	 	determinação
econômica-polı́tica	e	relação	social	determinada.
Com	relação	 à	 primeira	dimensão,	 a	determinação	econômico-política	do	 capital,	Montaño	 e	Duriguetto
(2011)	explicam	que	o	capital	não	se	resume	a	dinheiro,	maquinária,	salário,	bens,	dinheiro	guardado,	ele	se
constitui	a	partir	de	um	processo	de	valorização	do	dinheiro.	Que	processo	é	este?
E� 	essa	polarização	entre	quem	dispõe	dos	meios	de	produção	e	de	vida	dos	que	dispõem	da	força	de	trabalho
que	produz	as	condições	para	o	surgimento	e	desenvolvimento	do	modo	de	produção	capitalista,	que	para	se
fortalecer,	 amplia	 essa	 polarização.	 E� ,	 dessa	 forma,	 que	 a	 acumulação	 primitiva	 ou	 original	 do	 capital
consistiu	no	processo	historicamente	desenvolvido	de	separação	dos	 trabalhadores	dos	meios	de	produção
(MARX,	1982).
Vamos	entender	melhor	sobre	capital	e	a	relação	que	ele	estabelece	com	o	trabalho?	O	que	você	conhece	sobre
isso?	O	que	é	capital?	Será	que	é	apenas	sinônimo	de	dinheiro?
Apesar	de	muito	usado	no	dia	a	dia	como	sinônimo	de	dinheiro,	o	sentido	original	do	termo	“capital”	ainda
parece	desconhecido	para	muitas	pessoas.	Enquanto	uma	das	categorias	centrais	do	capitalismo,	capital	“[…]
é	 uma	 categoria	 peculiar,	 especı́�ica	 do	 sistema	 capitalista,	 e,	 portanto,	 o	 quali�ica,	 o	 de�ine,	 o	 determina”
(MONTAN� O;	DURIGUETTO,	2011,	p.	77),	e	deve	ser	entendido	com	base	em	duas	dimensões:	 	determinação
econômica-polı́tica	e	relação	social	determinada.
Com	relação	 à	 primeira	dimensão,	 a	determinação	econômico-política	do	 capital,	Montaño	 e	Duriguetto
(2011)	explicam	que	o	capital	não	se	resume	a	dinheiro,	maquinária,	salário,	bens,	dinheiro	guardado,	ele	se
constitui	a	partir	de	um	processo	de	valorização	do	dinheiro.	Que	processo	é	este?
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_TRASOC_20/unidade_3/ebook/index.html# 7/26
E� 	um	processo	de	produção	da	mais-valia	pelo	 trabalhador,	que	possibilita	 a	valorização	do	dinheiro	e	 sua
transformação	 em	 capital.	 Essa	 mais-valia,	 no	 entanto,	 é	 apropriada	 pelo	 capitalista,	 sujeito	 que	 possui	 o
dinheiro	e	os	meios	de	produção	(maquinário,	estrutura	etc.).	Mas	é	um	processo	que	só	existe	no	modo	de
produção	 capitalista,	 sendo	 sua	 principal	 caracterı́stica	 a	 separação	 do	 produtor	 direto,	 o	 trabalhador,	 dos
meios	de	produção,	sob	propriedade	do	capitalista.	O	que	faz	com	que	os	trabalhadores	tenham	como	única
alternativa	vender	sua	força	de	trabalho	ao	capitalista	(MONTAN� O;	DURIGUETTO,	2011).
A	segunda	dimensão	do	capital		corresponde	à	relação	social	que	existe	na	medida	em	que	tanto	o	capitalista
quanto	 o	 trabalhador	 precisam	 estabelecer	 uma	 relação,	 pois	 o	 capitalista	 só	 consegue	 acumular
incorporando	a	 força	de	 trabalho	de	outros	 e	 o	 trabalhador,	 por	 sua	 vez,	 só	 produz	 se	 estiver	 vinculado	 ao
capital,	 	 “[…]	 assim,	 capital	 e	 trabalho,	 capitalistas	 e	 trabalhadores,	 precisam	 estabelecer	 uma	 relação
(necessária	e	ineliminável	no	MPC)”	(MONTAN� O;	DURIGUETTO,	2011,	p.	78).
O	que	é	essa	força	de	trabalho	ou	capacidade	de	trabalho?	Consiste	no	“[…]	complexo	das	capacidades	fı́sicas
e	mentais	que	existem	na	corporeidade,	na	personalidade	viva	de	um	homem	e	que	ele	põe	em	movimento
sempre	que	produz	valores	de	uso	de	qualquer	tipo”	(MARX,	2013,	p.	242).	Isto	é,	trata-se	da	nossa	capacidade
humana	de	pensar,	planejar,	elaborar,	construir	e	usar	o	corpo	e	a	mente	para	produzir,	criar	e	executar	uma
ação.
Essa	 força	de	 trabalho,	 no	modo	de	produção	 capitalista,	 se	 transformou	em	mercadoria,	 sendo	 colocada	 à
venda	pelo	seu	próprio	possuidor	para	quem	possui	os	meios	de	produção	e	o	dinheiro	para	comprar	a	força
de	 trabalho	de	outra	pessoa.	Nesse	 caso,	 ambos	 “[…]	 se	encontram	no	mercado	e	estabelecem	uma	relação
mútua	 como	 iguais	 possuidores	 de	mercadorias,	 com	 a	 única	 diferença	 de	 que	 um	 é	 comprador	 e	 o	 outro,
vendedor”	(MARX,	2013,	p.	242).
Vejamos	um	exemplo.	Você	já	conversou	com	alguém	que	é	agricultor?	Agricultores	conhecem	as	sementes,	a
melhor	terra,	o	perı́odo	do	plantio	e	da	colheita,	sabem	as	técnicas	de	manejo	do	solo,	têm	força	e	disposição
para	 o	 trabalho	na	 agricultura.	Mas	 agricultores	 que	não	 têm	 terra,	matéria-prima,	maquinários,	 ou	 seja,	 os
meios	 de	 produção,	 não	 têm	 como	 comercializar	 produtos.	 Nesse	 caso,	 eles	 precisam	 vender	 sua	 força	 de
trabalho,	como	mercadoria,	para	quem	detém	os	meios	de	produção,	em	troca	de	um	salário.Figura	2	-	Processo	de	valorização	do	dinheiro	constitui	a	determinação	econômico-polı́tica	do	capital.
Fonte:	Artem	Samokhvalov,	Shutterstock,	2020.
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_TRASOC_20/unidade_3/ebook/index.html# 8/26
Por	isso,	 é	 fundamental	que	você	entenda	que	a	existência,	no	modo	de	produção	capitalista,	da	separação	e
relação	entre	quem	possui	dinheiro	e	mercadorias,	de	um	lado,	e	quem	possui	apenas	sua	força	de	trabalho,
de	outro,	não	é	obra	da	natureza,	nem	mesmo	existiu	em	outros	perı́odos	históricos.	Ela	é	fundamentalmente
“[…]	 resultado	 de	 um	 desenvolvimento	 histórico	 anterior,	 o	 produto	 de	muitas	 revoluções	 econômicas,	 de
destruição	de	toda	uma	série	de	formas	anteriores	de	produção	social”	(MARX,	2013,	p.	244).
Mas	e	o	 trabalho?	O	trabalho	 consiste	em	um	processo	de	que	participam	 indivı́duos	e	natureza,	 sendo	os
indivı́duos	 aqueles	 que	 impulsionam,	 regulam	 e	 controlam	 essa	 relação,	 como	 também	 é	 uma	 atividade
essencialmente	humana,	 criadora	 teleologicamente	orientada	e	que	sua	natureza	se	altera	em	cada	modo	de
produção	(MARX,	2013).
Figura	3	-	Venda	da	força	de	trabalho	como	mercadoria.
Fonte:	Blaj	Gabriel,	Shutterstock,	2020.
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
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No	modo	de	produção	capitalista,	o	 trabalho	se	realiza	de	 forma	subordinada	ao	capital	e	seus	 interesses,	a
partir	da	venda	da	 força	de	 trabalho	do	 trabalhador	ao	capitalista,	 estabelecendo	uma	relação	de	emprego	e
salário.
O	 importante	 de	 entender,	 neste	 momento,	 é	 que	 no	 modo	 de	 produção	 capitalista	 o	 capital	 comanda,
subordina,	 sujeita	 o	 processo	 de	 trabalho	 na	 perspectiva	 de	 extrair	 o	 máximo	 de	 excedente	 possı́vel	 da
atividade	do	trabalhador.	Dessa	forma,	o	processo	de	trabalho	constitui	o	processo	de	criação	de	valor	e	um
processo	de	valorização	do	capital.	Assim	explicam	Netto	e	Braz	(2011,	p.	121):
No	processo	de	trabalho,	o	que	interessa	ao	capitalista	é	justamente	o	processo	de	valorização:	é
nele	 que	 se	 produz	 a	 mais-valia	 (o	 excedente).	 Compreende-se,	 portanto,	 que	 o	 controle	 do
processo	 de	 trabalho	 seja	 de	 fundamental	 importância	 para	 o	 capitalista,	 uma	 vez	 que	 é	 esse
controle	que	lhe	permite	incrementar	o	excedente.
O	 controle	 sobre	 o	 processo	 de	 trabalho,	 entretanto,	 não	 ocorreu	 de	 forma	 homogênea	 e	 em	 seguida	 à
construção	do	capitalismo	como	modo	de	produção.	Netto	e	Braz	 (2011)	explicam	que	 foi	preciso	mais	de
dois	séculos	(XVI	ao	XIX)	para	que	o	capital	conseguisse	instaurar	a	produção	capitalista,	tendo	realizado	os
seguintes	passos.
Capitalistas	 reuniram	 trabalhadores	 assalariados	 num	 mesmo	 espaço	 fı́sico	 sob	 sua	 supervisão.
Trabalhadores	 atuavam	 sob	 forma	 de	 cooperação,	 como	 controlavam	 as	 técnicas	 produtivas	 e	 detinham	o
conhecimento,	nesse	momento,	o	 controle	do	capitalista	 sobre	o	processo	de	 trabalho	era	apenas	 formal,	o
que	Marx	chamou	da	“[…]	subsunção	formal	do	trabalho	ao	capital”	(NETTO;	BRAZ,	2011,	p.	121).
Na	 segunda	 metade	 do	 século	 XVIII,	 o	 capital	 adota	 a	 manufatura	 no	 processo	 de	 trabalho,	 reunindo
trabalhadores	num	espaço	 fı́sico	e	especializando	suas	atividades,	destruindo	a	 importância	dos	saberes	de
ofı́cio	e	 transformando	trabalhadores	em	meros	executores	de	 tarefas.	Ao	 introduzir	a	divisão	capitalista	do
trabalho	no	interior	das	unidades	de	produção,	ocorrerá	uma	diferenciação	da	força	de	trabalho:	de	um	lado,
uma	pequena	parcela	de	trabalhadores	especializados	e,	do	outro,	a	desquali�icação	dos	demais	trabalhadores,
ao	multiplicar	atividades	simples	e	abrir	espaço	para	o	trabalho	feminino	e	infantil.
Figura	4	-	Trabalhadores	atuando	sob	forma	de	cooperação.
Fonte:	Jeffrey	B.	Banke,	Shutterstock,	2020.
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
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Com	 a	 Revolução	 Industrial,	 iniciada	 no	 �inal	 do	 século	 XVIII,	 o	 capital	 instaura	 a	 grande	 indústria,
subordinando	 por	 inteiro	 o	 trabalho	 pelo	 processo	 de	 trabalho,	 fazendo	 com	 que	 o	 trabalhador	 seja	 mero
apêndice	 das	máquinas,	 o	 que	 agrava	 sua	desquali�icação	 e	 se	 aprofunda	 a	 divisão	 do	 trabalho	 entre	 quem
pensa	e	administra	os	processos	produtivos	daqueles	que	executam.	
Figura	5	-	Divisão	capitalista	do	trabalho	a	partir	da	manufatura	marcou	o	perı́odo	da	segunda	metade	do
século	XVIII.
Fonte:	Pete	Niesen,	Shutterstock,	2020.
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A	 consolidação	 do	 capitalismo,	 impulsionada	 pela	 Revolução	 Industrial	 do	 século	 XVIII,	 que	 se	 iniciou	 na
Inglaterra	e	expandiu	para	outros	paı́ses,	resultou	em	transformações	importantes	nos	processos	de	trabalho
diante	 da	 industrialização	 e	 urbanização,	 assim	 como	 contribuiu	 para	 a	 passagem	 do	 capitalismo
concorrencial	 para	 o	 capitalismo	 monopolista,	 sustentada	 pela	 lógica	 imperialista	 do	 capitalismo,	 cujo
processo	de	acumulação	se	baseia	“[…]	na	proteção	da	propriedade	privada	e	no	aumento	do	poder	polı́tico,
sempre	 pensados	 em	 escala	 expansiva	 de	 forma	 a	 garantir	 hegemonia	 e	 valorização	 do	 capital”
(GUIRALDELLI,	2014,	p.	104).
Ao	�inal	do	século	XIX,	as	atividades	produtivas	se	complexi�icam	cada	vez	mais	provocando	a	necessidade	de
sistematização,	 administração	 e	 gerenciamento	dos	 processos	 de	 trabalho	no	 interior	 das	 indústrias,	 tendo
destaque	para	 a	 organização	 do	 trabalho	nos	modelos	 do	 taylorismo,	 fordismo	 e	 toyotismo,	 com	 impactos
importantes	na	forma	de	sociabilidade	e	nas	relações	sociais,	como	veremos	a	seguir.
Destacamos,	 entretanto,	 que	 a	 divisão	 em	 subtópicos	 do	 taylorismo,	 fordismo	 e	 toyotismo	 foi	 feita	 para
facilitar	seu	entendimento	a	respeito	desses	três	modelos	de	organização	do	trabalho	na	sociedade	capitalista.
Não	 signi�ica	que	eles	 se	desenvolveram	e	 foram	 implementados	em	uma	sequência,	 em	etapas	e	de	 forma
estática,	pelo	contrário,	os	três	modelos	se	relacionam	e	têm	re�lexos	ainda	nos	dias	de	hoje.
3.1.2 Organização do trabalho na sociedade capitalista: taylorismo
Você	 já	 trabalhou	 ou	 observou	 um	 local	 de	 trabalho	 onde	 existem	diferenciação	 de	 valor	 e	 importância	 do
trabalho,	a	partir	da	divisão	entre	gerentes	e	demais	funcionários?	Um	trabalho	em	que	os	gerentes	decidem	e
aos	demais	 trabalhadores	 cabem	apenas	 a	 execução,	 sem	participar	das	decisões	 a	 respeito	das	metas	 e	da
rotina	de	trabalho?	Você	sabia	que	é	uma	divisão	criada	pelo	taylorismo?
Figura	6	-	Aprofundamento	da	divisão	capitalista	do	trabalho	com	a	grande	indústria.
Fonte:	Minerva	Studio,	Shutterstock,	2020.
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Enquanto	 modelo	 de	 organização	 do	 trabalho	 da	 Escola	 da	 Administração	 Cientı́�ica,	 o	 taylorismo	 foi
desenvolvido	nos	Estados	Unidos,	a	partir	dos	trabalhos	do	engenheiro	mecânico	Frederick	Winslow	Taylor
(1856-1915)	buscando	responder	ao	desa�io	de	aumentar	a	produtividade	das	empresas	por	meio	do	aumento
da	 e�iciência	 dos	 operários,	 voltando	 a	 atenção	 para	 os	 métodos	 de	 trabalho,	 os	 movimentos	 que	 eram
necessários	para	executar	determinada	tarefa,	o	tempo	determinado	para	sua	execução,	criando	a	organização
racional	do	trabalho	(ORT),	conforme	explica	Chiavenato	(2008).
No	 que	 consiste	 essa	 organização	 racional	 do	 trabalho?	 Ao	 estudar,	 observar,	 analisar	 o	 trabalho	 e	 seu
cotidiano	nas	fábricas,	Taylor	(1990)	identi�icouque	os	operários	aprendiam	suas	tarefas	a	partir	do	repasse
de	 informações	 e	 observação	da	dinâmica	de	 trabalho	de	 seus	 companheiros	de	 trabalho,	 resultando	numa
diversidade	 de	 métodos	 de	 execução	 das	 atividades	 e	 processos	 de	 trabalho.	 Para	 ele,	 isso	 atrapalhava	 a
produção,	pois	as	atividades	eram	executadas	de	diferentes	formas,	ritmos	e	tempos.	
Por	isso,	Taylor	buscou	organizar	de	forma	racional	e	cientı́�ica	o	trabalho,	fundamentando-se	nos	seguintes
aspectos:	
1)Análise	 do	 trabalho	 e	 do	 estudo	 dos	 tempos	 e	movimentos;	 2)	 Estudo	 da	 fadiga	 humana;	 3)
Divisão	 do	 trabalho	 e	 especialização	do	operário;	 4)	Desenho	de	 cargas	 e	 tarefas;	 5)	 Incentivos
salariais	e	prêmios	de	produção;	6)	Conceito	de	homos	economicus;	7)	Condições	ambientais	de
trabalho;	8)	Padronização	de	métodos	e	máquinas;	9)	Supervisão	funcional.	(CHIAVENATO,	2008,
p.	6,	grifos	do	autor)
Figura	7	-	A	organização	racional	do	trabalho	na	indústria	propunha	estabelecer	o	trabalho	de	forma	racional
e	cientı́�ica.
Fonte:	VoodooDot,	Shutterstock,	2020.
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Você	percebeu	qual	foi	o	caminho	de	Taylor?	Ele	fez	uma	análise	e	observação	sobre	o	trabalho,	identi�icando
a	realidade,	as	di�iculdades	e	construindo	uma	proposta	que	resolvesse	o	desa�io	que	as	indústrias	tinham	na
época,	de	aumento	da	produtividade,	ou	seja,	da	produção	da	mais-valia.
Ao	analisar	esses	aspectos,	Taylor	desenvolveu	então	a	ORT	com	quatro	alicerces.	Vamos	ver	quais	foram?	O
primeiro	 diz	 respeito	 ao	 comando	 e	 controle,	 cuja	 inspiração	 foi	 no	 modelo	 militar,	 para	 de�inir	 que	 a
gerência	funciona	como	uma	ditadura	ao	pensar	e	mandar,	cabendo	ao	trabalhador	apenas	executar.	O	segundo
alicerce	consiste	em	de�inir	uma	única	maneira	certa,	 sendo	de�inida	pelo	gerente,	devendo	os	operários
executar	sem	qualquer	objeção.	O	 terceiro	alicerce	se	voltou	para	a	defesa	de	que	a	 indústria	 tem	mão	de
obra,	não	recursos	humanos,	por	isso	não	lhe	deve	nada,	embora	exija	lealdade	dos	trabalhadores	à	empresa.
Por	 último,	 a	 defesa	da	segurança	 e	 a	 sensação	 de	 estabilidade	dominando	 seus	mercados	 (CHIAVENATO,
2008).
Os	alicerces	do	taylorismo	focam,	dessa	forma,	na	diferenciação	e	hierarquização	entre	o	trabalho	intelectual
e	 o	 trabalho	manual,	 ou	 seja,	 entre	 quem	 pensa	 e	 quem	 executa	 a	 atividade	 de	 trabalho.	 Fizeram	 parte	 da
organização	 racional	 taylorista	 do	 trabalho:	 de�inição	 de	 tarefas	 fragmentadas,	 movimentos	 repetitivos,
controle	do	tempo,	rotinização	na	relação	dos	trabalhadores	com	as	máquinas,	sendo	enfatizada	a	disciplina
no	ambiente	de	trabalho	e	o	adestramento	aos	princı́pios	institucionais	da	indústria	(GUILDARELLI,	2014).
Conforme	temos	aprendido,	desde	o	inı́cio	desta	disciplina,	o	trabalho	é	central	para	a	sociabilidade	humana,
para	a	 forma	como	nos	organizamos	e	nos	relacionamos	em	sociedade.	O	que	essas	mudanças	na	 forma	de
gerir	 o	 processo	 de	 trabalho,	 conforme	 o	 taylorismo,	 impactam	 para	 os	 trabalhadores?	 Destacamos	 duas
questões,	acompanhe.
A	primeira	consiste	na	diminuição	do	poder	de	negociação	dos	trabalhadores.	Antunes	(2017)	chama	atenção
de	 que	 o	 objetivo	 fundamental	 do	 taylorismo,	 ao	 estudar	 os	 processos	 de	 trabalho	 restritos	 à	 classe	 dos
proprietários	dos	meios	de	produção,	alienando	o	trabalhador	desse	processo.
Fazendo	 isso,	 o	 taylorismo	 minimiza	 a	 importância	 dos	 saberes-fazeres	 elaborados	 historicamente	 pela
classe	 trabalhadora,	 reformulando-os	 e	 impondo-os	 como	 normas	 aos	 trabalhadores,	 de	 forma	 abstrata	 e
alienada,	quando	limitou	a	atividade	produtiva	dos	trabalhadores	à	execução	de	tarefas	rotineiras	e	con�igurou
VOCÊ QUER VER?
O	�ilme	“Daens:	Um	Grito	de	Justiça”,	de	1993,	com	direção	de	Stjin	Coninx,	se	passa	no
�inal	do	século	XIX,	em	Aalst,	na	Bélgica,	e	permite	entender	muitos	aspectos	da	teoria
marxista,	 e	 faz	 referência	 a	 temáticas	 como:	 desigualdades	 da	 sociedade	 capitalista,
exploração	 do	 proletariado	 pela	 burguesia,	 exploração	 das	 mulheres	 e	 crianças	 nas
fábricas,	entre	outras.
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uma	“[…]	educação	puramente	parcelar,	hierarquizada	e	perpetuadora	da	nefasta	divisão	social	entre	trabalho
intelectual	e	trabalho	manual”	(ANTUNES,	2017,	p.	3).
Você	se	lembra	das	capacidades	humanas	com	relação	ao	trabalho:	teleologia,	re�lexiva,	comunicação,	escolha
entre	 alternativas	 concretas,	 universalização,	 socialização?	 Imagine	 ter	 que	 trabalhar	 sem	 poder	 utilizar	 e
desenvolver	essas	capacidades,	 limitando-se	a	atividades	rotineiras,	o	quão	nefasto	pode	ser	na	vida	de	um
ser	humano	essa	divisão	entre	o	trabalho	intelectual	e	o	trabalho	manual,	estabelecida	pelo	taylorismo.
A	 segunda	 questão	 diz	 respeito	 ao	 controle	 sobre	 a	 vida	 dos	 trabalhadores	 e	 suas	 famı́lias.	 A	 regulação,	 o
controle	e	a	dominação	dos	 industriais	não	se	detinham	ao	espaço	de	trabalho,	se	ampliava	para	o	controle
sobre	 a	 vida	 privada	 dos	 trabalhadores.	 Guildarelli	 (2014)	 a�irma	 que	 uma	 das	 estratégias	 para	 isso	 foi	 a
criação	 das	 vilas	 operárias	 que	 possibilitavam	 a	 coerção,	 o	 consenso	 e	 a	 persuasão	 dos	 trabalhadores	 e
familiares	do	controle	sobre	suas	vidas.
Os	 trabalhadores,	 ao	 receberem	a	chave	da	casa	e	a	possibilidade	de	morar	nela	 com	sua	 famı́lia,	 enquanto
trabalhavam	na	fábrica,	eram	submetidos	a	um	processo	de	disciplinamento	de	suas	vidas,	rotinas,	dinâmicas
e	valores	em	função	do	aumento	de	sua	capacidade	de	produção.
Por	 exemplo,	 ao	 analisar	 as	 vilas	 operárias	 no	 Brasil	 na	 Primeira	 República	 (1908-1909),	 Coutinho	 e
Scheinvar	(2015),	a	partir	da	rotina	de	um	grupo	de	operários	cariocas	do	setor	têxtil	que	moravam	em	vilas
operárias,	 evidenciaram	uma	 lógica	 patronal	 e	 governamental	 de	 repressão	 e	 controle	 sobre	 o	 trabalho	 e	 a
vida	privada	dos	trabalhadores.	Esse	controle	se	materializava	a	partir	do	controle	sobre	o	tempo	e	o	caminho
feito	 pelo	 trabalhador	 para	 chegar	 ao	 local	 de	 trabalho,	 o	 controle	 sobre	 que	 animais	 podiam	ou	 não	 criar,
assim	como	a	proibição	da	comercialização	de	produtos	nas	vilas	enquanto	estratégia	dos	trabalhadores	no
aumento	 da	 renda	 familiar.	 As	 autoras	 concluem	 que	 os	 trabalhadores	 não	 recebiam	 apenas	 a	 moradia,
recebiam	 também	 “[…]	 todo	 um	 ‘way	 of	 life’	 baseado	 em	 padrões	 burgueses	 de	 ser	 e	 estar	 no	 mundo,
considerados	mais	so�isticados	e	adequados	para	aqueles	que	cumprem	a	função	de	produzir	a	mercadoria”
(COUTINHO;	SCHEINVAR,	2015,	p.	12,	grifos	dos	autores).	Isto	é,	um	controle	que	se	ampliava	para	além	do
corpo	fı́sico,	ao	trabalho,	atingindo	subjetividades,	relações	sociais,	processos	educativos.
Figura	8	-	Vilas	operárias	foi	uma	das	formas	de	controle	sobre	a	vida	dos	trabalhadores.
Fonte:	Alexander	Raths,	Shutterstock,	2020.
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O	desenvolvimento	do	taylorismo,	com	suas	estratégias	de	organização	racional	do	trabalho,	para	aumento	da
produção	 industrial,	 foi	 fortalecido	 a	 partir	 da	 associação	 a	 outra	 proposta	 de	 organização	 do	 processo	 de
trabalho,	denominada	fordismo,	no	inı́cio	do	século	XX,	como	veremos	a	seguir.
3.1.3 Fordismo
Você	 já	parou	para	pensar	sobre	a	quantidade	de	coisas	que	são	produzidas,	 comercializadas	e	 consumidas
todos	os	dias?	 Já	observou	como	essas	mercadorias	 se	 tornam	obsoletas	de	 forma	rápida?	Por	exemplo,	 ao
comprar	 o	 último	 lançamento	 de	 uma	 TV,	 parcelada	 em	 12	 vezes	 no	 cartão	 decrédito,	 antes	 mesmo	 de
concluir	o	pagamento	das	parcelas,	ela	já	foi	substituı́da	por	outro	modelo	de	TV	muito	mais	inovadora?	Você
sabia	que	isso	consiste	na	proposta	de	produção	e	consumo	em	massa	e	apresenta	relação	com	o	fordismo?
Vamos	explicar.
Como	 falamos	 anteriormente,	 a	 padronização	 e	 organização	 das	 formas	 e	 processos	 de	 trabalho	 pelo
taylorismo	foram	incorporadas	ao	fordismo,	no	inı́cio	do	século	XX.	Idealizado	por	Henry	Ford	(1863-1947),
o	fordismo	foi	elaborado	como	um	modelo	de	produção	em	massa,	com	padronização	dos	produtos,	redução
do	tempo	e	custos	gastos	na	produção,	bem	como	na	disponibilização	deles	para	consumo	em	massa.
Antunes	(2017)	explica	que	o	fordismo	possui	quatro	pontos	centrais,	quais	sejam:			�ixação	dos	trabalhadores
nos	 postos,	 racionalizando	 processos	 e	 reduzindo	 desperdı́cios;	 	 con�iguração	 da	 linha	 de	 montagem,
integrando	 as	 atividades	 de	 cada	 trabalhador,	 conforme	 a	 de�inição	 da	 gerência	 da	 empresa;	 	 descrição	 das
tarefas	 com	 tempo	 e	 modo	 de	 execução,	 com	 exercı́cios	 repetitivos	 e	 padronizado;	 especialização	 das
atividades	com	diferenciação	entre	trabalho	intelectual	de	trabalho	manual.
A	 divisão	 do	 trabalho,	 no	modelo	 fordista/taylorista,	 foi	 estabelecida	 da	 seguinte	 forma:	 em	 cada	 parte	 da
produção,	um	grupo	de	operários	executava	determinada	tarefa,	sendo	a	interligação	entre	as	partes	da	tarefa
realizada	por	meio	da	esteira	e	o	ritmo	de	trabalho	de�inido	pela	gerência.	Dessa	forma,	a	divisão	parcelar	do
trabalho	proposta	pelo	fordismo	se	combinava	ao	ritmo	de	trabalho	cronometrado	de�inido	pelo	taylorismo,
Figura	9	-
Produção	em	massa	era	a	proposta	do	fordismo.
Fonte:	Rainer	Plendl,	Shutterstock,	2020.
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com	separação	entre	a	dimensão	intelectual,	responsável	pela	elaboração,	e	dimensão	manual	do	trabalho,	a
quem	cabia	a	execução	(CUNHA,	2016).	Assim	como	da	manutenção	da	divisão	sexual	do	trabalho,	ou	seja,	a
desigualdade	 entre	 homens	 e	 mulheres	 no	 ambiente	 de	 trabalho,	 sendo	 o	 trabalho	 feminino	 mais
desvalorizado,	precarizado	e	inferiormente	remunerado	(GUILDARELLI,	2014).
O	padrão	de	produção	fordista/taylorista	encontrou	ressonância	e	 foi	amplamente	difundido	nas	economias
capitalistas	centrais,	após	a	Segunda	Guerra	Mundial,	agregando-se	ao	 liberalismo	de	 John	Maynard	Keynes,
que	 �icou	 conhecido	 como	 keynesianismo,	 enquanto	 expressão	 intelectual	 para	 a	 saı́da	 da	 crise	 dos	 anos
1929-1932,	com	a	criação	da	proposta	do	Estado	de	bem-estar	social,	fundado	nos	pilares	do	pleno	emprego	e
igualdade	 social,	 por	meio	 da	 ação	 do	 Estado	 em	 duas	 vias:	 geração	 de	 emprego	 dos	 fatores	 de	 produção,
através	 dos	 serviços	 públicos	 e	 privados;	 aumento	 da	 renda	 e	 promoção	 de	 igualdade,	 a	 partir	 do
investimento	em	polı́ticas	sociais	(BEHRING;	BOSCHETTI,	2011).
Mas	 como	 essa	 relação	 acontece	 entre	 o	 fordismo/taylorismo	 com	 o	 Estado	 de	 bem-estar	 social	 e	 as
estratégias	do	capital	para	enfrentamento	e	saı́da	da	crise,	após	a	Segunda	Guerra	Mundial?
Behring	e	Boschetti	 (2011)	explicam	que	a	combinação	entre	produção	em	massa	e	consumo	de	massa	não
exigia	 apenas	 um	 novo	 sistema	 de	 reprodução	 da	 força	 de	 trabalho,	mas	 também	 a	 produção	 de	 um	 novo
indivı́duo,	cujo	modo	de	vida	e	consumo	precisava	ser	articulado	à	nova	proposta	da	sociedade	capitalista.
Signi�ica	que	produzir	em	larga	escala	necessitava	de	que	os	produtos	fossem	comercializados	e	consumidos
também	em	 larga	escala.	Para	 isso,	um	novo	modo	de	vida	e	 consumo	na	 sociedade	precisava	 ser	 criado	e
estimulado.	No	que	a	educação,	a	ética,	a	disseminação	de	valores,	legislação,	organização	e	relações	sociais
passam	a	ser	utilizadas	como	estratégias	para	esse	�im.
Importante	 registrar	 que	 tais	 mudanças	 não	 foram	 aceitas	 sem	 questionamentos,	 greves	 e	 protestos
protagonizados	 pelo	movimento	 operário,	 contribuindo	 também	 para	 alterações	 nas	 relações	 sociais	 entre
burguesia	e	trabalhadores.
No	 caso	 da	 burguesia,	 as	 altas	 taxas	 de	 lucro,	 como	 resultado	 da	 superexploração	 dos	 trabalhadores,
pressionaram	por	concessões	e	acordos.	Os	trabalhadores,	por	sua	vez,	organizados	no	movimento	operário,
ainda	que	tendo	atitudes	mais	corporativistas,	contentando-se	com	acordos	coletivos,	ganhos	relacionados	ao
aumento	da	produtividade	e	da	expansão	das	polı́ticas	sociais	(BEHRING;	BOSCHETTI,	2011).
VOCÊ SABIA?
Existem	 registros	 que,	 em	 1916,	 Henry	 Ford	 contratou	 assistentes	 sociais	 para
atuar	 no	 controle	 sobre	 o	modo	 de	 vida	 e	 consumo	 dos	 trabalhadores	 inseridos
em	 sua	 fábrica,	 com	 objetivo	 de	 promover	 padrões	 de	 consumo	 entre	 os
trabalhadores	 de	 acordo	 com	 os	 interesses	 da	 empresa	 (BEHRING;	 BOSCHETTI,
2011).
21/10/2023, 19:40 Trabalho e Sociabilidade
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Nesse	contexto,	o	Estado	tem	papel	fundamental	para	manutenção	da	produtividade	e	taxas	de	lucro,	segundo
padrões	fordistas,	assumindo	uma	série	de	obrigações,	como	controle	dos	ciclos	econômicos	e	combinação
de	 polı́ticas	 �iscais	 e	 monetárias,	 dirigidas	 para	 áreas	 de	 investimento	 público,	 como	 transporte	 e
equipamentos	públicos,	como	também	complementação	aos	salários	dos	trabalhadores	com	gastos	referentes
à	 assistência	médica,	 habitação,	 educação,	 dentre	 outros,	 e	 participação	 nos	 acordos	 salariais	 e	 direitos	 na
produção	dos	trabalhadores	(HARVEY,	2008).
Por	volta	dos	anos	1970,	uma	nova	crise	capitalista	coloca	em	xeque	a	proposta	keynesiana	do	Estado	de	bem-
estar	social	e	dos	modelos	de	produção	fordista/taylorista,	abrindo	para	a	criação	de	outras	formas	de	gestão
e	 organização	 do	 trabalho,	 a	 partir	 da	 experiência	 do	modelo	 produtivo	 toyotista,	 que	 vamos	 apresentar	 a
seguir.													
3.1.4 Toyotismo
Você	já	ouviu	falar	sobre	a	exigência	de	um	trabalhador	polivalente,	multifuncional?	Já	leu	reportagens	sobre
vagas	 de	 emprego	 que	 apresentam	 como	 uma	 das	 exigências	 o	 candidato	 ser	 um	 trabalhador	 polivalente?
Sabia	que	essa	exigência	apresenta	relação	com	a	proposta	do	toyotismo?	Vamos	à	explicação.
Por	 volta	 dos	 anos	 1960,	 uma	 série	 de	 acontecimentos	 contribuem	 para	 apresentar	 problemas	 sérios	 no
fordismo.	 De	 acordo	 com	Harvey	 (2008),	 alguns	 dos	 acontecimentos	 foram	 a	 recuperação	 no	 pós	 Segunda
Guerra	Mundial	e	a	necessidade	de	expandir	os	mercados	de	exportação	da	Europa	Ocidental	e	Japão;	a	queda
da	produtividade	e	lucratividade	nos	Estados	Unidos	a	partir	de	1966;	a	formação	do	mercado	euro-dólar;	as
polı́ticas	de	substituição	de	importação	nos	paı́ses	chamados,	na	época,	do	Terceiro	Mundo,	especialmente	na
América	 Latina;	 o	 desa�io	 à	 hegemonia	 dos	 Estados	 Unidos	 pelos	 paı́ses	 recém-industrializados,	 dentre
outros,	tornaram	explı́cita	a	incapacidade	do	fordismo/taylorismo	de	conter	contradições	que	são	próprias	do
capitalismo,	contribuindo	com	a	profunda	recessão	de	1973,	fortalecida	pelo	choque	do	petróleo.
Novas	experiências	referentes	à	organização	do	trabalho	e	da	vida	foram	gestadas,	na	perspectiva	de	recuperar
os	 padrões	 de	 acumulação	 capitalista.	 Harvey	 (2008)	 denomina	 essa	 experiência	 de	acumulação	 �lexível,
sendo	marcada	 pelo	 confronto	 com	 a	 rigidez	 apresentada	 pelo	 fordismo,	 apoiando-se	 na	 �lexibilidade	 dos
processos	e	mercados	de	trabalho,	dos	produtos	e	padrões	de	consumo	da	sociedade,	bem	como	investindo
na	criação	de	novos	setores	produtivos	e	inovação	comercial,	tecnológica	e	organizacional.
De	acordo	com	Guildarelli	(2014),	o	toyotismo	apresenta	a	proposta	de	organização	do	trabalho,	baseadana
�iloso�ia	 de	uma	empresa	 enxuta	 e	 �lexı́vel,	 conforme	 foi	 adotado	na	 Itália	 e	 no	 Japão.	Nesse	modelo,	 estão
presentes	 os	 cı́rculos	 de	 controle	 de	 qualidade	 (CCQs),	 que	 agrupam	 trabalhadores	 para	 discussão	 sobre	 a
qualidade	 do	 trabalho	 e	 gerar	 sentimento	 de	 pertencimento	 à	 empresa	 a	 qual	 estão	 vinculados;	 o	 desenho
assistido	por	computador	(CAD)	e	a	manufatura	assistida	por	computador	(CAM),	contribuindo	para	que	parte
da	produção	seja	externa	à	fábrica;	o	sindicalismo	por	empresa,	fragilizando	o	movimento	operário	de	forma
geral;	a	redução	dos	postos	de	trabalho;	a	terceirização;	a	dispersão	da	produção	pelo	mundo,	dentre	outros.
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Sem	 romper	 com	 a	 base	 taylorista/fordista,	 o	 toyotismo	 buscou	 responder	 às	 demandas	 de	 acumulação,
reprodução	 e	 valorização	 do	 capital	 de�lagradas	 por	 perı́odo	 de	 crise	 de	 superprodução,	 provocada	 pelas
metas	do	fordismo	(HARVEY,	2008).	Você	se	lembra	que	a	proposta	do	fordismo	foi	de	produção	e	consumo
em	massa?	Pois	bem,	a	partir	da	crise	de�lagrada	entre	os	anos	1960	e	1970,	os	trabalhadores	vivenciam	altas
taxas	de	desemprego	e	o	consequente	enfraquecimento	do	poder	dos	sindicatos,	o	aumento	da	competição	por
uma	vaga	de	trabalho,	enquanto	os	patrões	obtêm	a	redução	das	margens	de	lucro.
Diante	 dessa	 conjuntura,	 a	 partir	 da	 acumulação	 �lexı́vel,	 explica	 Harvey	 (2008),	 o	 capital	 investe	 na
reestruturação	do	mercado	de	trabalho	impondo	contratos	�lexı́veis,	trabalho	em	tempo	parcial,	temporário	e
subcontratado,	 podendo	 o	 trabalhador	 ser	 demitido	 sem	 ou	 com	 poucos	 custos	 quando	 consideram
necessário,	como	também	fortaleceu	a	vulnerabilidade	dos	grupos	desprivilegiados	pelas	questões	de	gênero
e	raciais,	como	mulheres	e	população	negra.
A	 transformação	 da	 estrutura	 de	 mercado	 do	 trabalho	 ocasionou	 outras	 mudanças,	 como	 a	 formação	 de
pequenos	negócios,	reavive-se	o	trabalho	doméstico,	familiar,	paternalista,	crescem	as	economias	informais,
aproveitamento	 da	 força	 de	 trabalho	 pouco	 remunerada	 dos	 paı́ses	 mais	 pobres,	 dentre	 outros	 (HARVEY,
2008).
Ocorre,	nesse	perı́odo	e	se	prolongando	na	atualidade,	a	substituição	do	trabalho	contratado	e	regulamentado
da	 era	 taylorista	 e	 fordista,	 resultado	 da	 luta	 histórica	 dos	 trabalhadores	 por	 direitos	 sociais,	 pelo
empreendedorismo,	 trabalho	 intermitente,	 trabalho	 voluntário,	 capital	 humano,	 salários	 �lexı́veis,	 trabalho
polivalente,	 trabalho	 digital	 etc.	 Tais	 formas	 de	 trabalho	 materializam	 a	 superexploração	 do	 trabalho,
con�igurando	 “[…]	 a	 tendência	 crescente	 a	 precarização	 estrutural	 da	 força	 de	 trabalho	 em	 escala	 global”
(ANTUNES,	2017,	p.	5),	impulsionados	por	metas	e	competências.
Figura	10	-	Cı́rculos	de	controle	de	qualidade	levam	trabalhadores	a	discutir	melhorias	e	gerar	sentimento	de
pertencimento	às	empresas.
Fonte:	Fizkes,	Shutterstock,	2020.
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Qual	o	 resultado	disso	para	a	 classe	 trabalhadora?	De	acordo	com	Antunes	 (2015,	p.	6),	 “[…]	 terceirização,
informalidade,	 �lexibilidade,	 desemprego,	 desemprego	 por	 desalento	 (que	 não	 entra	 nas	 estatı́sticas)	 e
pauperização	 ampli�icada”,	 assim	 como	 a	 demanda	 por	 uma	 série	 de	 quali�icações	 comportamentais,
educacionais	e	pro�issionais.	No	entanto,	essas	consequências	são	 legitimadas	e	 justi�icadas	sob	o	discurso
da	culpabilização	dos	trabalhadores.
No	plano	da	subjetividade	dos	trabalhadores,	as	consequências	vão	desde	a	transformação	em	sujeito-objeto,
que	funciona	para	a	autoa�irmação	e	a	reprodução	de	uma	força	estranha,	a	autoalienação	quando	vende	sua
força	de	trabalho	sob	condições	que	lhe	são	impostas	pela	lei	de	mercado	(ANTUNES,	2015).
Você	percebeu	que	a	exploração	faz	parte	do	trabalho	da	classe	trabalhadora	no	modo	de	produção	capitalista,
seja	nos	modelos	de	produção	do	taylorismo,	fordismo	ou	toyotismo?	Entendeu	a	con�iguração	do	trabalho	no
modo	 de	 produção	 capitalista?	 Então,	 vamos	 ao	 próximo	 item,	 tratar	 do	 que	 signi�ica	 a	 exploração	 e
compreender	a	alienação	como	causa	e	resultado	desse	processo.			
Figura	11	-	Trabalho	digital,	uma	das	tendências	da	precarização	estrutural	da	força	de	trabalho.
Fonte:	Scyter5,	iStock,	2020.
3.2 Trabalho na sociedade capitalista: exploração e
alienação
Como	 você	 pôde	 observar,	 no	 modo	 de	 produção	 capitalista,	 o	 trabalho	 sofre	 e	 promove	 alterações	 com
relação	a	sua	organização	e	execução,	as	relações	sociais,	as	condições	de	vida	das	pessoas,	a	sociabilidade.
Nesse	modo	de	produção,	o	trabalho	é	subordinado	ao	capital	para	extração	do	excedente,	criação	de	valor	e
valorização	 do	 capital,	 conforme	 explicamos	 anteriormente,	 o	 que	 caracteriza	 a	 exploração	 do	 trabalho.
Vejamos	como	isso	acontece.
O	 capitalista,	 ao	 contratar	 o	 trabalhador	 para	 uma	 determinada	 jornada	 de	 trabalho,	 paga	 um	 salário	 que
corresponde	ao	valor	da	força	de	trabalho.	Durante	essa	jornada,	a	força	de	trabalho	produz	mais	valor	que	o
valor	que	se	necessita	para	a	reprodução,	sendo	esse	valor	excedente,	denominado	por	Marx	(2013)	de	mais-
valia,	que	o	capitalista	se	apropria	sem	qualquer	despesa	ou	custo	adicional	(NETTO;	BRAZ,	2011).
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Dessa	forma,	na	jornada	de	trabalho,	o	tempo	de	trabalho	dos	trabalhadores	se	desdobra	em	duas	partes.	Na
primeira	 parte,	 há	 o	 tempo	 de	 trabalho	 necessário,	 em	 que	 os	 trabalhadores	 produzem	 o	 valor	 que
corresponde	 aos	 seus	 salários,	 cobrindo	 sua	 reprodução.	 Esse	 tempo	 de	 trabalho	 é	 necessário	 tanto	 para	
trabalhadores	 quanto	 para	 	 capitalistas,	 visto	 que	 “[…]	 ele	 é	 necessário	 ao	 trabalhador,	 porquanto	 é
independente	da	forma	social	de	seu	trabalho,	e	é	necessário	ao	capital	e	seu	mundo,	porquanto	a	existência
contı́nua	do	trabalhador	forma	sua	base”	(MARX,	2013,	p.	293).
Na	segunda	parte,	há	o	tempo	de	trabalho	excedente,	que	signi�ica	a	produção	pelos	trabalhadores	do	valor
excedente	 (mais-valia),	 ou	 seja,	 “[…]	o	 trabalhador	 trabalha	além	dos	 limites	do	 trabalho	necessário,	 custa-
lhe,	de	certo,	trabalho,	dispêndio	da	força	de	trabalho,	porém	não	cria	valor	algum	para	o	próprio	trabalhador”
(MARX,	2013,	p.	293),	visto	que	lhe	é	extraı́do	pelo	capitalista.
Isso	ocorre	porque	a	força	de	trabalho	possui	um	traço	que	a	torna	única	e	diferente	de	outras	mercadorias:
“[…]	ela	cria	valor	ao	ser	utilizada,	ela	produz	mais	valor	que	o	necessário	para	reproduzi-la,	ela	gera	um	valor
superior	 ao	 que	 custa”	 (NETTO;	 BRAZ,	 2011,	 p.	 110).	 Dessa	 forma,	 a	 marca	 da	 produção	 capitalista	 é	 a
seguinte:	“[…]	o	capitalista	paga	ao	trabalhador	o	equivalente	ao	valor	de	troca	de	sua	força	de	trabalho	e	não	o
valor	criado	por	ela	na	sua	utilização	(uso)	—	e	este	último	é	maior	que	o	primeiro”	(NETTO;	BRAZ,	2011,	p.
110).
Vamos	assistir	à	uma	videoaula	para	entendermos	melhor	sobre	a	mais-valia?
Vejamos	um	exemplo.	 Imagine	um	padeiro	 contratado	para	uma	 jornada	de	 trabalho	de	8	horas	diárias	que
devem	 ser	 executadas	 de	 segunda	 a	 sábado.	 Mensalmente,	 esse	 trabalhador	 totaliza,	 em	média,	 192	 horas
trabalhadas	 na	 produção	 de	 pães,	 bolachas,	 bolos	 etc.	 Conforme	 explicamos	 acima,	 parte	 dessa	 jornada
consiste	 em	 tempo	 de	 trabalho	 necessário,	 cuja	 venda	 dos	 produtos	 produzidos	 subsidia	 o	 salário	 desse
trabalhador	e	os	custos	da	produção;	e	o	restante	da	jornada	produz	o	valor	excedente	que	�ica	para	odono	da
padaria.	Entendeu?
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E� 	essa	relação	entre	trabalho	necessário	e	trabalho	excedente	que	resulta,	segundo	Netto	e	Braz	(2011),	na	taxa
de	mais-valia	e,	consequentemente,	na	taxa	de	exploração	do	trabalho	pelo	capital.	A	relação	capital/trabalho,
personalizada	 na	 relação	 capitalista/proletário,	 que	 tratamos	 anteriormente,	 consiste	 basicamente	 “[…]	 na
expropriação	 (ou	 extração,	 ou	 extorsão)	 do	 excedente	 devido	 ao	 produtor	 direto	 (o	 trabalhador)”	 (NETTO;
BRAZ,	2011,	p.	111),	sendo	essa	relação	de	exploração	o	fundamento	do	modo	de	produção	capitalista.
Ou	seja,	a	extração	da	mais-valia	é	a	forma	especı́�ica	que	assume	a	exploração	no	capitalismo,	como	a�irma
Bottomore	 (1988),	 em	 que	 o	 excedente	 assume	 a	 forma	 de	 lucro	 e	 a	 exploração	 se	materializa	 quando	 os
trabalhadores	produzem	mercadorias	que	são	vendidas	por	valores	maiores	que	seus	salários.
Figura	12	-	Na	jornada	de	trabalho,	há	o	tempo	de	trabalho	necessário	e	o	tempo	de	trabalho	excedente.
Fonte:	Kheng	Guan	Toh,	Shutterstock,	2020.
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Essa	extração	da	mais-valia	apresenta	duas	formas:	absoluta	e	relativa.	Para	produção	da	mais-valia	absoluta
existem	as	estratégias	da	ampliação	da	jornada	de	trabalho	sem	alteração	do	salário	e/ou	da	intensi�icação	do
ritmo	de	trabalho.	Ao	ampliar	para	10,	12	ou	mesmo	14	horas	a	jornada	de	trabalho	ou	mesmo	intensi�icar	o
ritmo	 da	 produção	 de	 mercadorias,	 preserva-se	 o	 tempo	 de	 trabalho	 necessário	 e	 se	 amplia	 o	 tempo	 de
trabalho	excedente,	o	que	resulta	em	crescimento	da	produção	do	excedente,	ou	seja,	da	mais-valia.	Já	a	mais-
valia	 relativa	 é	 obtida	 através	 da	 introdução	 de	 inovações	 tecnológicas	 e	 conquistas	 cientı́�icas,
potencializando	a	produtividade	sem	alterar	a	jornada	de	trabalho	(NETTO;	BRAZ,	2011).
Dedicar	parte	signi�icativa	de	seu	dia	à	jornada	de	trabalho	implica	que	o	trabalhador	tenha	comprometido	a
maior	parte	do	tempo	do	seu	cotidiano	com	o	tempo	de	trabalho,	restando	pouquı́ssimo	tempo	para	o	ócio,	o
tempo	livre,	o	tempo	de	produção	da	arte,	do	belo,	do	afeto,	do	sono,	do	descanso.	No	caso	das	mulheres,	por
exemplo,	 que	 vivenciam	 o	 acúmulo	 do	 trabalho	 externo	 com	 o	 trabalho	 doméstico,	 se	 agrava	 mais	 ainda
provocando	adoecimento,	estresse,	ansiedade,	dentre	tantos	outros.	
Compreendendo	que	a	exploração	do	trabalho	está	presente	no	modo	de	produção	capitalista,	com	as	devidas
particularidades,	 Marx	 (2013)	 chama	 atenção	 para	 o	 fato	 de	 que	 a	 diferença	 entre	 o	 trabalho	 no	modo	 de
produção	escravista	e	o	trabalho	assalariado	do	capitalismo	está	na	forma	como	a	mais-valia	é	extraı́da.	Para
os	escravos,	a	compreensão	da	exploração	era	imediata	e	baseada	na	violência,	visto	que	tudo	que	produziam
e,	até	mesmo	a	sua	vida,	era	subtraı́da,	roubada,	expropriada.
CASO
Em	 reportagem	 do	 Fantástico	 (2014),	 intitulada	 “Funcionários	 do	 setor	 de
telemarketing	relatam	uma	série	de	abusos”	�ica	evidente	a	relação	de	exploração	no
trabalho,	por	meio	do	relato	de	assédio	moral,	de	humilhações	por	não	cumprir	metas
(inalcançáveis),	a	de�inição	de	escala	para	as	funcionárias	engravidarem.
A	 pro�issão	 de	 operador	 de	 telemarketing	 está	 entre	 as	 mais	 insalubres	 na
atualidade.	A	 reportagem	demonstra	que	o	 trabalhador	de	 call	center	 está	 sujeito	 a
vários	 problemas	 de	 saúde,	 como	 laringite,	 perda	 de	 audição,	 tendinites	 e	 danos
psicológicos	causados	por	uma	atividade	estressante.	O	grande	estresse,	a	pressão	de
atingir	metas	e	intervalo	para	comer	só	de	15	minutos	leva	a	muitos	casos	de	gastrite.
Esse	 processo	 de	 adoecimento	 se	 amplia	 no	 contexto	 de	 acumulação	 �lexıv́el,	 em
virtude	 do	 alto	 ıńdice	 de	 desemprego,	 das	 exigências	 e	 metas	 inalcançáveis,	 do
enfraquecimento	dos	sindicatos,	das	perdas	dos	direitos	 trabalhistas,	materializando
a	superexploração	do	trabalho	(ANTUNES,	2017).		
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No	caso	do	trabalhador	assalariado	e	denominado	de	 livre,	no	entanto,	a	compreensão	sobre	a	exploração	 é
menos	 perceptı́vel,	 visto	 que	 no	 cotidiano	 há	 essa	 divisão	 entre	 tempo	 de	 trabalho	 necessário	 e	 tempo	 de
trabalho	 excedente	 e	 a	 ideia	 de	 que	 o	 salário	 remunera	 todo	 o	 seu	 trabalho	 reforçada	 pela	 continuidade	 da
jornada	de	trabalho,	do	fato	de	que	os	meios	de	produção	e	o	espaço	fı́sico	pertencem	ao	capitalista.	Por	isso,
os	trabalhadores	de	forma	geral,	sentem	a	exploração,	mas	nem	sempre	alcançam	a	sua	compreensão	(NETTO;
BRAZ,	2011).
Relacionada	 à	 exploração,	 reside	 outra	 questão	 importante	 a	 respeito	 do	 trabalho	 no	 modo	 de	 produção
capitalista:	a	alienação,	sendo	esta	uma	ação	na	qual	indivı́duos,	grupos,	instituições	ou	sociedade	se	tornam
estranhos,	 alheios,	 alienados	 ao	 produto	 ou	 resultado	 de	 sua	 atividade,	 ou	 à	 natureza	 na	 qual	 vivem,	 ou	 a
outros	seres	humanos	(BOTTOMORE,	1988).	
Figura	13	-	Exploração	e	alienação	fundamentam	o	modo	de	produção	capitalista,	inclusive	a	exploração	do
trabalho	infantil.
Fonte:	Paul	Prescott,	Dreamstime,	2020.
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Em	“Manuscritos	Econômicos-Filosó�icos”,	Marx	(2017)	explica	a	relação	que	existe	da	alienação	com	o	modo
de	produção	capitalista,	partindo	sua	análise	da	realidade	econômica	concreta,	identi�icando	que	a	alienação
do	trabalhador	se	manifesta	da	seguinte	forma:
quanto	mais	o	trabalhador	produz,	tanto	menos	ele	tem	para	consumir;	quanto	mais	valor	ele	cria,
tanto	mais	ele	se	torna	sem	valor	e	indigno;	quanto	mais	seus	produto	é	elaborado,	tanto	mais	ele
deforma-se;	 quanto	 mais	 seu	 produto	 é	 civilizado,	 tanto	 mais	 bárbaro	 torna-se	 o	 trabalhador;
quanto	mais	poderoso	o	trabalho,	tanto	menor	poder	tem	o	trabalhador;	quanto	mais	engenhoso	o
trabalho,	mais	pobre	de	espı́rito	e	servo	da	natureza	torna-se	o	trabalhador.	(MARX,	2017,	p.	194-
195)
E	 como	 ocorre	 essa	 alienação?	Marx	 (2017)	 explica	 que	 o	 capitalismo	 oculta	 o	 fato	 de	 que	 a	 alienação	 se
encontra	 na	 essência	 do	 trabalho	 quando	 não	 considera	 que	 existe	 uma	 relação	 imediata	 entre	 trabalhador,
trabalho	e	produção.	Ele	a�irma	que	ao	produzir	obras	maravilhosas	para	os	ricos,	o	trabalho	produz	privação
para	o	trabalhador,	ao	produzir	palácios	para	os	ricos,	produz	cavernas	para	os	trabalhadores,	produz	beleza,
por	um	lado,	e	mutilação,	por	outro,	ao	inserir	as	máquinas,	coloca	trabalhadores	na	barbaridade.
Para	 facilitar	 o	 entendimento,	 você	 conhece	 a	música	 “Cidadão”,	 cantada	 por	 Zé	 Ramalho?	 	 Na	música,	 um
trabalhador	relata	que	participou	da	construção	de	um	edifı́cio,	todo	o	sofrimento	da	locomoção,	da	rotina	de
trabalho	e	que,	após	construı́do,	nem	tem	o	direito	de	�icar	parado	na	frente	do	edifı́cio	olhando,	porque,	logo,
alguém	pergunta	se	ele	quer	roubar.	Também	menciona	que	trabalhou	na	construção	de	uma	escola,	na	qual	a
�ilha	 nem	 pode	 estudar.	 Essa	 música	 se	 relaciona	 diretamente	 com	 a	 alienação	 no	 modo	 de	 produção
capitalista.		
O	fato	de	não	possuir	os	produtos	de	seu	trabalho	e	nem	autonomia	com	relação	à	atividade	produtiva	é	o	que
gera	a	alienação,	ou	seja,	o	que	o	trabalhador	produz,	a	forma	como	produz,	os	instrumentos	e	máquinas	com
os	quais	produz	não	lhe	pertencem,	lhe	são	estranhos,	pois	pertencem	ao	capitalista.	E� 	nessa	perspectiva	que
VOCÊ O CONHECE?
O�ilósofo	alemão	Georg	Wilhelm	Friedrich	Hegel,	 �iloso�icamente,	tratou	pela	primeira
vez	 o	 conceito	 de	 alienação.	Os	 hegelianos	 de	 esquerda,	 chamados	 jovens	 hegelianos,
interpretaram	 Hegel	 em	 um	 sentido	 revolucionário,	 o	 que	 os	 levou	 a	 se	 aterem	 ao
ateıśmo	 na	 religião	 e	 ao	 socialismo	 na	 polıt́ica.	 Entre	 os	 hegelianos	 de	 esquerda,
encontram-se	 Ludwig	 Feuerbach,	 David	 Friedrich	 Strauss,	 Max	 Stirner	 e,	 o	 mais
famoso,	Karl	Marx.
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Marx	 (2017)	 trata	 sobre	 alienação	 e	 justi�ica	 que	 a	 propriedade	 privada	 só	 existe	 por	 ser	 produto	 e
consequência	 desse	 trabalho	 estranhado,	 alienado,	 sendo	 a	 alienação	 causa	 e	 resultado	 do	 processo	 de
exploração	que	o	trabalho	sofre	no	modo	de	produção	capitalista.
Conclusão
Chegamos	ao	�inal	desta	unidade,	que	abordou	o	tema	do	trabalho	na	sociedade	capitalista,	oportunizando	que
você	 aprendesse	 a	 natureza	 do	 trabalho	 no	 modo	 de	 produção	 capitalista,	 diante	 das	 transformações
contemporâneas.	
Nesta	unidade,	você	teve	a	oportunidade	de:
compreender as características do modo de produção capitalista
e a forma como organizou o trabalho, a partir da criação e adoção
dos modelos de produção: taylorismo, fordismo, toyotismo, que
provocaram mudanças na sociabilidade e nas relações sociais;  
entender o que é e como se dá a exploração do trabalhador da
sociedade capitalista através da expropriação do excedente de seu
trabalho;
identificar a alienação na ação na qual indivíduos, grupos,
instituições ou sociedade se tornam estranhos, alheios, alienados
ao produto ou resultado de sua atividade, ou à natureza na qual
vivem.
•
•
•
Bibliografia
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