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1 TEMAS E ANÁLISE DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS Fonte: www.shutterstock.com/ 255229027 Você sabe como estava o cenário pós Segunda Guerra Mundial? Estados Unidos e União Soviética foram considerados os países vencedores, com pensamento político-econômico totalmente diferentes: o capitalismo e o comunismo. Diante dessa diferença, houve tensões entre essas duas potências e assim houve uma guerra fria (ALMEIDA, 2006). Aproveitando-se do contexto pós-guerra, os Estados Unidos iniciaram com uma medida de relação internacional com a Europa. Sabemos bem que o interesse dos EUA estava além da reconstrução europeia, eles também visavam o revigoramento do capitalismo, não dando espaço para a Rússia (ALMEIDA, 2006). O elemento singular mais relevante para a mudança de padrões nas relações internacionais contemporâneas, nas duas últimas décadas do século XX, foi o fim do socialismo enquanto pólo articulador de um sistema sócio-econômico concorrente ao domínio tradicional ldo liberal capitalismo. Essa dissolução de um sistema — cujas estruturas de comando e dominação tinham sido até então consideradas como dotadas de uma certa rigidez — foi de certa forma inesperada, pois que ocorrida num momento no qual o socialismo de tipo soviético buscava, precisamente, reformar-se e adaptar-se às novas condições da revolução tecnológica em curso, caracterizada pela microeletrônica e suas aplicações às telecomunicações. A derrocada do socialismo que, para todos os efeitos práticos, confunde-se com o desaparecimento da própria União Soviética, foi fundamental para a superação substantiva do período conhecido como Guerra Fria e para a transição da bipolaridade para uma nova situação de equilíbrio e convivência entre grandes potências, cujos contornos não estão ainda bem definidos em termos de relações internacionais (ALMEIDA, 2006, p. 12). Essa medida financeira e de reconstrução financeira ficou conhecida como Plano Marshall. Com a reconstrução da Europa, EUA aumenta seus laços no comércio internacional e se destaca mundialmente. Nos EUA (pós crise de 1929) welfare state se destaca, visando questões mais humanistas e com maior defesa do intervencionismo estatal. E com isso, acaba surgindo modelos similares em todo mundo. Figura 1 - Estados Unidos Fonte: Freepik. Disponível em: https://br.freepik.com/vetores-gratis/estilo-grunge-fundo-da-bandeira- americana_893044.htm#page=1&query=estados%20unidos&position=1. Acesso em: 27 jul. 2021. O modelo de Bem-Estar Social também foi introduzido no Brasil na década de 1930. Nesse período a sociedade passava para uma fase mais industrial (ainda atrasado comparado a outros países). Vale destacar que, nas décadas de 1950 e 1960 vieram à tona do Brasil temas ligados ao desenvolvimento econômico por meio da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). Essas linhas de pensadores visavam criar um modelo de desenvolvimento industrial autônomo para os países da América Latina. https://br.freepik.com/vetores-gratis/estilo-grunge-fundo-da-bandeira-americana_893044.htm#page=1&query=estados%20unidos&position=1 https://br.freepik.com/vetores-gratis/estilo-grunge-fundo-da-bandeira-americana_893044.htm#page=1&query=estados%20unidos&position=1 Com a crise do Petróleo, houve um esgotamento do Estado de Bem-Estar Social, isso porque o nível de desemprego e a inflação não estavam sendo resolvidas. E assim, a capacidade financeira dos governos em conseguir atender as necessidades da população e realizar investimentos estava sendo questionada. Os países em desenvolvimento (Brasil se enquadra nesse modelo) foram os que mais sofreram nesse período. A crise de 1980 gerou altas taxas de desemprego e alta inflação (ALMEIDA, 2006). Em meados dos anos 90, as esperanças depositadas numa nova fase de crescimento rápido no bojo da globalização – na qual se destacaram as economias emergentes da Ásia oriental – se desfizeram nas grandes crises financeiras e cambiais da segunda metade da década, englobando sucessivamente vários países asiáticos, a Rússia e o próprio Brasil (ALMEIDA, 2006, p. 19). Os países em desenvolvimento pegavam empréstimos do exterior para investir em sua industrialização e na tentativa de investir para sair da crise econômica. Podemos analisar este ponto na tabela: crescimento da dívida externa da América Latina. O Brasil aumentou consideravelmente sua dívida externa do ano de 1977 para 1987. Tabela 1 - Crescimento da Dívida Externa da América Latina (Dívida Total em % do PIB) Países 1977 1982 1987 Argentina 10 31 62 Brasil 13 20 29 Chile 28 23 89 Guiana 100 158 353 Honduras 29 53 71 Jamaica 31 69 139 México 25 32 59 Venezuela 10 16 52 Fonte: Adaptado de Paul Kennedy, Preparing For the Twentieth-First Century, 1993, p. 205 Como vimos na tabela e na discussão do parágrafo acima o Brasil acabou tendo altas dívidas e tendo um capitalismo tardio em relação a outros países desenvolvidos. Com a falta de investimento em setores essenciais também tivemos impactos na educação, saúde, infraestrutura, inovação, etc. Analisando em contexto de comércio internacional, nos enquadramos em um modelo agroexportador, ou seja, importamos bens manufaturados e produtos de baixa, média e alta tecnologia e exportamos commodities. Somos dependentes dos países desenvolvidos. Um ponto em destaque falando de política externa é a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). E o que foi a ALCA? É uma definição histórica e estrutural das relações do Brasil com os Estados Unidos e da inserção brasileira no sistema internacional de Estados. A hipotética recusa brasileira à Alca equivaleria a uma profunda ruptura na parceria entre Brasil e Estados Unidos, que funcionou como alicerce da política externa brasileira ao longo do século XX. Além disso, provavelmente isolaria o Brasil, ou, no máximo, o Mercosul, no “Hemisfério Americano”. O principal benefício da Alca reside num acesso mais amplo ao enorme mercado consumidor dos Estados Unidos. Mas esse benefício tem significados diferenciados para as economias latino-americanas. As economias pouco industrializadas, cujas exportações se concentram em commodities minerais e agrícolas, usufruiriam de vantagens palpáveis e desvantagens marginais. Porém, economias industriais como a brasileira e a argentina seriam expostas diretamente à concorrência das poderosas corporações transnacionais dos Estados Unidos (MAGNOLI, 2013, p. 344). A ALCA foi relevante para a interação do Brasil com os países e para a influência do país nas tomadas de decisões com instituições financeiras e de segurança relevantes como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Organização dos Estados Americanos (OEA). Figura 2 - Acordos comerciais Fonte: Freepik. Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-premium/empresarios-apertando-as-maos- negociacoes-comerciais-conceitos-de-conexao- acordos_4160349.htm#page=1&query=acordos%20comerciais%20&position=5. Acesso em 27 de jul. 2021. Pode-se dizer então, que com o cenário do pós-guerra mundial e com o fim da guerra fria, houve uma quebra da bipolaridade Rússia e Estados Unidos. E EUA se instaurou como a força internacional com capacidade dominante (político, econômico, social ou cultural) até hoje, principalmente com o Brasil (MAGNOLI, 2013). https://br.freepik.com/fotos-premium/empresarios-apertando-as-maos-negociacoes-comerciais-conceitos-de-conexao-acordos_4160349.htm#page=1&query=acordos%20comerciais%20&position=5 https://br.freepik.com/fotos-premium/empresarios-apertando-as-maos-negociacoes-comerciais-conceitos-de-conexao-acordos_4160349.htm#page=1&query=acordos%20comerciais%20&position=5 https://br.freepik.com/fotos-premium/empresarios-apertando-as-maos-negociacoes-comerciais-conceitos-de-conexao-acordos_4160349.htm#page=1&query=acordos%20comerciais%20&position=52 INTEGRAÇÃO ECONÔMICA: ACORDOS MULTILATERAIS E ACORDOS REGIONAIS/PLURILATERAIS Fonte: www.shutterstock.com/ 1463230529 Caro acadêmico (a), para começar este tópico é importante falarmos sobre os conceitos de integração econômica, acordos multilaterais e acordos regionais/plurilaterais. Vamos aprender sobre cada um deles? A conceitualização da integração econômica na América Latina veio com a inspiração da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) no período da guerra fria. E no que refletia essa ideia? “Refletia uma reação limitada à hegemonia dos Estados Unidos e ao pan-americanismo, influenciada pela descolonização afro- asiática e pela iniciativa de unificação europeia” (MAGNOLI, 2013, p. 341). A Cepal conseguiu analisar que a América Latina tinha suas especificidades e particularidades e que não é porque uma medida política funcionou em um país que funcionaria aqui. Era preciso voltar um “olhar para dentro” e entender os problemas existentes nos países em desenvolvimento, ou seja, era preciso “formulação de estratégias de desenvolvimento para América Latina” (MAGNOLI, 2013, p. 341). Os acordos multilaterais são aqueles realizados a partir de três países. Existe o Sistema Comercial Multilateral, ou seja, “sistema de tratados e regras de comércio internacionais emanados do Gatt e da Organização Mundial do Comércio” (MAGNOLI, 2013, p. 238). Existem acordos bilaterais que são apenas dois países. Já os acordos plurilaterais são compostos de muitos países e as regras contratuais buscam atender a todos eles. Os acordos regionais são feitos de um estado, município com outros estados e municípios. “A integração crescente dos mercados, a aceleração dos fluxos de mercadorias e capital e a criação de blocos econômicos regionais acentuaram extraordinariamente a importância do mundo dos negócios na formulação da política externa'' (MAGNOLI, 2013, p. 9). Agora que conseguimos entender os conceitos vamos falar sobre as relações internacionais e como está a postura na atualidade no que tange sobre a integração econômica. A partir do século XXI as relações internacionais por parte dos governantes precisam estar conectadas na ideia de que a política externa precisa ser parte do seu desenvolvimento nacional. O processo de internacionalização não se remete apenas em um processo político, econômico, social ou cultural, remete-se a todos os campos e ao mesmo tempo esses campos são interconectados. Atualmente incorporou-se a dinâmica disciplinar de debate e tem-se uma pluralidade teórica e assim dentro das relações internacionais enquanto campo científico a promoção de conhecimento com múltiplas perspectivas. No Brasil o planejamento não foi com planejamento de longo prazo para acompanhar essa internacionalização e globalização, isso porque as empresas brasileiras não estavam conseguindo acompanhar em sintonia com as transformações internacionais. Na década de 90 houve uma política de liberalização econômica. Lembrando que nesse período o país enfrentava sérias dificuldades de retomada econômica, havia muito desemprego, inflação e dívida externa. Um acordo relevante deste período foi o Mercado Comum do Sul (Mercosul) feito pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. E do que se tratava o Mercosul? O tratado incorporava os instrumentos que vinham sendo firmados junto à Aladi, que concentravam seus dispositivos na liberalização comercial. Como primeiro resultado, em um período de apenas seis anos, o comércio intrabloco conheceu um crescimento de 300%. (MONTEOLIVA et al., 2014, p. 115). Além do Mercosul, em 1992 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. Esse acontecimento foi um marco no que tange assuntos desenvolvimentistas visando a preservação ambiental, ou seja, não só pensar no crescimento econômico, mas também em assuntos de desenvolvimento sustentável. Outra integração econômica considerada relevante é a Cúpula do Grupo dos 15 em 1990, essa integração focava nos 15 países em desenvolvimento (MONTEOLIVA et al., 2014). Segundo Monteoliva et al (2014, p. 113) Fernando Henrique Cardoso veio com a proposta de multilateralismo e com uma visão de uma nova ordem em contexto internacional “pautada nos princípios de democracia e da economia de mercado, para promover o equilíbrio financeiro do país e melhorar o padrão de inserção internacional” (MONTEOLIVA et al., 2014, p.113). O método, mais uma vez sem planejamento, era a eliminação de barreiras não tarifárias e a exposição de nossas empresas à concorrência internacional. Na prática, o país tinha dificuldade em se posicionar a favor da integração hemisférica com os Estados Unidos ou da ampliação dos laços bilaterais com Washington. Além disso, não era claro em que medida o Mercosul deveria se consolidar como bloco, por meio da tarifa externa comum (TEC), o que significaria um distanciamento dos interesses norte americanos (MONTEOLIVA et al., 2014, p. 119). Em 1995, se tem uma integração econômica importante, a Organização Mundial do Comércio (OMC) é criada “incluía negociações relativas a acordos sobre agricultura, investimentos relacionados ao comércio de serviços e direitos de propriedade intelectual” (MONTEOLIVA et al., 2014, p. 120). Em 1997 o Brasil associou-se ao Protocolo de Quioto, em 1998 ao Estatuto de Roma e, além disso, contribuiu com o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas que tinha projetos e planejamentos para as crises internacionais. Vale destacar, que no governo FHC buscou-se autonomia: A busca por autonomia manifestou-se por meio de negociações em diversos foros internacionais, em reuniões birregionais e nas relações com a vizinhança sul-americana. Exemplos dessas iniciativas foram a I Conferência Ministerial da OMC (1996), na qual o Brasil não aderiu de imediato ao Acordo sobre tecnologia da informação (1996); a VIII Cúpula ibero-americana (1998), na qual Fernando Henrique defendeu a criação de um imposto internacional de 0,5% a ser aplicado sobre capitais de curto prazo e cuja arrecadação deveria ser utilizada na estabilização de países com dificuldades financeiras e em programas de combate à pobreza (MONTEOLIVA et al., 2014, p. 122). No ano de 2000 houve a primeira reunião de presidentes da América do Sul e nessa reunião foram levadas para debates as relações políticas, comerciais e sobre a integração física da região, ou seja, a integração sul-americana, e assim, surgiu a Iniciativa da Infraestrutura Sul-Americana (IIRSA), “com objetivo de fomentar projetos de integração nas áreas de energia, transporte e telecomunicações, tendo como diretriz “12 eixos de integração e desenvolvimento” (MONTEOLIVA et al., 2014, p. 123). Em 2003, com Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, o país manteve alguns pontos da política monetária do Fernando Henrique, como o plano real que trouxe certo equilíbrio para a inflação e no contexto internacional passou a agir com um maior ativismo. Vale colocar aqui que nesse período tinha “uma conjuntura internacional favorável ao crescimento econômico e ao protagonismo de países ditos emergentes” (MONTEOLIVA, 2014, p. 113). No que tange à integração internacional e política de comércio exterior Lula buscava: (...) aumento das exportações, os investimentos produtivos e a assimilação de tecnologia, e as diretrizes da nossa diplomacia seriam as negociações de acordos comerciais com vantagens concretas para o país, o combate a práticas protecionistas e a ampliação dos mercados consumidores de bens primários ou semielaborados, que continuavam a ter papel importante na pauta exportadora. Assim, na alca, nas negociações Mercosul-União Européia e na Organização Mundial do Comércio (...). (MONTEOLIVA et al., 2014, p. 125). Percebemos aqui a relação com a visão cepalina, ou seja, nesse governo agente consegue perceber que o objetivo era o desenvolvimento econômico da América do Sul. Nos anos posteriores tivemos nesse governo várias integrações da Sul-Americana. Segundo (MONTEOLIVA et al., 2014 p. 126) algumas dessas importantes integrações são: i) Acordo de complementação econômica entre Mercosul, Colômbia, Equador e a Venezuela em 2003; ii) Acordo de livre comércio Mercosul-Comunidade Andina em 2004; iii) Criação da Comunidade Sul-americana de Nações; iv) I Reunião de chefes da comunidade Sul-Americana de Nações em 2005; v) I Reunião energética da América do Sul em 2008, entre outras importantes integrações. Algumas participações no âmbito mundial foram importantes no que tange diplomacia e acordos internacionais no Brasil. O Brasil participou de reuniões com o G4 e debates relevantes sobre segurança com a Organização das Nações Unidas. Além disso, na Organização Mundial do Comércio (OMC) o Brasil estava à frente na formação de um grupo de países em desenvolvimento (G20 econômico). Houve também o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). E o que fazia o BRIC? (...) formalizado em 2007, tinha vocação essencialmente política, sem descuidar de temas comerciais e econômicos. O BRIC, que promove a comunicação e a concertação de posições entre suas chancelarias, tem visto seu poder aumentar diante do rápido crescimento de suas econômicas e da crise que atingiu os países ricos a partir de 2008. Em 2010, foi realizada a cúpula do Bric-Ibas, em Brasília, na qual, diante da crise econômica internacional, foi reafirmado o compromisso com o desenvolvimento (MONTEOLIVA et al., 2014, p. 127). Em sequência ao governo Lula, Dilma tem relações internacionais com uma certa linha de continuidade ao governo anterior. Ela teve uma postura favorável ao Mercosul e fortaleceu laços com a Cúpula América do Sul-Países Árabes, BRICS e G20. Com uma certa incerteza e instabilidades políticas do Brasil no primeiro governo de Dilma, o empresariado não teve um processo de internacionalização tão rápido como no governo Lula, havia muita resistência. Temer assume após o impeachment com uma postura mais ortodoxa, processos de privatizações e corte de gastos. "resgata política externa na força transformadora do liberalismo econômico” (MONTEOLIVA, 2014, p. 16). A China foi o acordo brasileiro que permaneceu intacto tanto em Lula, quanto em Dilma e Temer “A China representou a principal linha de continuidade entre a política externa dos governos Lula, Dilma e Temer, em nenhum momento sua relevância foi questionada” (MONTEOLIVA, 2014, p. 135). Por fim, temos o atual governo que nos mostra certa postura de ideologização e pragmatismo. E assim, aparenta-se que “indica uma mudança de orientação da política externa brasileira, resultante da motivação ideológica conservadora” (MONTEOLIVA, 2014, p. 145). Isso afeta de certa forma nossas relações internacionais, nossa credibilidade internacional, acaba tendo um certo “desconforto” em setores econômicos relevantes, como agroexportação e entre diferentes setores da opinião pública, impactando o processo decisório da política externa brasileira (MONTEOLIVA, 2014, p. 145).
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