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Livro Texto - Unidade I

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Prévia do material em texto

Autores: Profa. Ivy Judensnaider
 Prof. Marcos Paulo de Oliveira
 Prof. Maurício Felippe Manzalli
Técnicas de 
Pesquisa em Economia
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Professores conteudistas: Ivy Judensnaider / Marcos Paulo de Oliveira / 
Maurício Felippe Manzalli
Ivy Judensnaider é economista pela Fundação Armando Álvares Penteado e mestra em História da Ciência e da 
Tecnologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC‑SP. Atualmente é professora da Universidade 
Paulista – UNIP, onde coordena o curso de Ciências Econômicas no Campus Marquês (SP). Também atua no setor de 
publicações e é autora de inúmeros textos de divulgação científica publicados na web. Nos últimos dez anos, tem 
trabalhado na elaboração de textos e de livros para educação a distância.
Marcos Paulo de Oliveira é graduado em Ciências Econômicas pela UNIP, com mestrado em Economia Política 
pela PUC‑SP. Leciona na Universidade Paulista – UNIP desde o ano de 2002, nas disciplinas de Contabilidade Social, 
Elementos de Economia, Economia Brasileira, Economia e Gestão do Setor Público, Macroeconomia Fechada, 
Macroeconomia Aberta, Macroeconomia Aplicada, Desenvolvimento Econômico, dentre outras. Trabalhou, no setor 
privado, na área de importação e exportação, e, no setor público, com políticas públicas de geração de trabalho, 
emprego e renda. Nessa área, atuou no planejamento e na gestão pública como gerente de indicadores econômicos e 
sociais, e como gerente de acompanhamento das receitas e dos gastos públicos. Seu principal campo de pesquisa em 
Economia é a macroeconomia.
Maurício Felippe Manzalli é bacharel em economia pela UNIP e mestre em Economia Política pela PUC‑SP. 
Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e também é coordenador do curso 
de Ciências Econômicas na mesma universidade, tanto na modalidade presencial quanto na modalidade a distância. 
Tem experiência em administração e finanças, notadamente aquelas ligadas ao setor de transporte de passageiros, 
tendo atuado por mais de vinte anos no ramo. Atualmente, dedica‑se à educação.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J95t Judensnaider, Ivy
Técnicas de Pesquisa em Economia. / Ivy Judensnaider, Marcos Paulo 
de Oliveira, Maurício Felippe Manzalli. – São Paulo: Editora Sol, 2016.
148 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2‑123/16, ISSN 1517‑9230.
1. Técnicas de Pesquisa. 2. Economia. 3. Método Científico. I. 
Oliveira, Marcos Paulo de. II. Manzalli, Maurício Felippe. III. Título.
CDU 33
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Marcilia Brito
 Giovanna Oliveira
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Sumário
Técnicas de Pesquisa em Economia 
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 MÉTODO CIENTÍFICO E TÉCNICAS DE PESQUISA EM ECONOMIA: 
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA DA CIÊNCIA E O MÉTODO CIENTÍFICO ..........................................................9
2 METODOLOGIA DA ECONOMIA .................................................................................................................. 14
3 POSITIVISMO E FALSEACIONISMO ............................................................................................................ 35
3.1 O positivismo .......................................................................................................................................... 35
3.2 O falseacionismo .................................................................................................................................. 45
4 PARADIGMAS E PROGRAMAS DE PESQUISA ....................................................................................... 55
Unidade II
5 ESPECIFICIDADES DA PESQUISA CIENTÍFICA EM ECONOMIA ....................................................... 65
5.1 Campos da pesquisa econômica .................................................................................................... 65
5.2 Correntes e escolas do pensamento econômico ..................................................................... 71
6 FONTES ELETRÔNICAS DE PESQUISA ECONÔMICA ........................................................................... 86
6.1 Coleta de materiais .............................................................................................................................. 88
6.1.1 Pesquisa bibliográfica ............................................................................................................................ 88
6.1.2 Pesquisa em bases de dados em economia .................................................................................. 90
7 DO PROJETO E DO RELATÓRIO DE MONOGRAFIA: CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ......103
7.1 Quanto ao projeto ..............................................................................................................................107
7.1.1 Referencial teórico ............................................................................................................................... 115
7.1.2 Métodos de pesquisa ...........................................................................................................................116
7.2 O Relatório de TC na modalidade monografia .......................................................................119
8 A PESQUISA EM ECONOMIA: ALGUMAS QUESTÕES IMPORTANTES ........................................121
8.1 A organização e a pesquisa ............................................................................................................121
8.2 A questão do plágio ..........................................................................................................................126
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APRESENTAÇÃO
A disciplina de Técnicas de Pesquisa em Economia, cujo livro‑texto agora apresentamos, tem 
como objetivo introduzir elementos conceituais relacionados à atividade científica, especialmente no 
campo das Ciências Econômicas, bem como elementos práticos para a confecção de um projeto e um 
relatório de pesquisa segundo as exigências do curso de Ciências Econômicas, os quais serão retomados 
na ocasião da elaboração da monografia de graduação. Sendo assim, os conteúdos aqui tratados 
pretendem apresentar e discutir os cortes metodológicos fundamentais do pensamento econômico, 
enfocaras principais tarefas lógicas a serem executadas numa pesquisa científica, habilitando o aluno a 
elaborar um projeto de pesquisa e familiarizar o aluno com a pesquisa em fontes eletrônicas de pesquisa 
bibliográfica e em bases de dados.
Temos ainda como objetivos específicos:
• Enfatizar as especificidades, potencialidades e limitações do conhecimento científico.
• Destacar o papel da metodologia nas Ciências Sociais e, particularmente, na Ciência Econômica.
• Ressaltar as etapas de produção científica em Economia.
• Mostrar de forma concreta como esses vários elementos se articulam na elaboração de uma 
pesquisa econômica, através da formulação de um projeto de pesquisa a ser desenvolvido, 
posteriormente, na forma de monografia.
O material discutirá o método científico e as técnicas de pesquisa em Economia e ainda detalhará as 
especificidades da pesquisa científica em Economia, especialmente em relação ao projeto de monografia 
e ao Relatório de Monografia.
Bom estudo!
INTRODUÇÃO
Primeiramente, vamos identificar os limites entre a ciência e o conhecimento não científico, apontando 
algumas etapas importantes no tocante ao desenvolvimento da Filosofia da Ciência. Essas etapas foram 
responsáveis pela delimitação dos métodos científicos utilizados pelas Ciências Econômicas, assim como 
o fizeram em relação a outras áreas de saber. Em seguida, vamos realizar um breve panorama histórico 
dos desenvolvimentos relativos à metodologia do pensamento econômico, detalhando quais heranças 
foram deixadas em termos dos principais métodos atualmente utilizados para o fazer científico. 
Finalmente, trataremos das discussões referentes ao positivismo e ao falseacionismo, e identificaremos 
os principais paradigmas e programas de pesquisa existentes no campo da pesquisa acadêmica em 
Ciências Econômicas.
Em seguida, vamos discutir questões específicas da pesquisa em Ciências Econômicas. Em função 
disso, inicialmente, detalharemos os campos da pesquisa econômica, as correntes e as escolas do 
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pensamento econômico, as fontes eletrônicas para pesquisa e as formas de pesquisa bibliográfica e em 
bases de dados. Posteriormente, apresentaremos algumas considerações quanto aos manuais para a 
elaboração do Projeto de Trabalho de Conclusão (Projeto de TC) e do Relatório do Trabalho de Conclusão 
na modalidade monografia (Relatório de TC). Finalmente, vamos debater dois temas extremamente 
importantes para o aluno nesta etapa de seu desenvolvimento acadêmico: a organização necessária 
para a realização de pesquisa e do trabalho autoral e a questão do plágio.
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TÉCNICAS DE PESQUISA EM ECONOMIA
Unidade I
1 MÉTODO CIENTÍFICO E TÉCNICAS DE PESQUISA EM ECONOMIA: A CIÊNCIA, 
A FILOSOFIA DA CIÊNCIA E O MÉTODO CIENTÍFICO
A Filosofia, cujos desenvolvimentos nos legaram os conceitos básicos que utilizamos para delimitar o 
que é o que não é ciência, surgiu em torno de IV a.C., na Grécia, como resultado da tentativa de explicar 
racionalmente a origem do mundo.
Para que se possa entender como ela teve surgimento naquele local e período histórico, temos que 
considerar certas condições específicas, quais sejam, a transformação da sociedade grega numa sociedade 
citadina e urbana, os investimentos de comerciantes nas artes e a dedicação à vida contemplativa por 
parte da elite econômica e social (ficando reservadas aos escravos todas as tarefas pesadas e insalubres).
Figura 1 – A Filosofia surge, aproximadamente, no século IV a.C., na Grécia, local de intensa atividade econômica e comércio: nesse 
momento, as explicações religiosas cedem lugar ao racionalismo, com o abandono gradual do referencial religioso
Alguns historiadores da Filosofia consideram que o grande movimento de ruptura que o modelo 
grego representou diz respeito à passagem da visão teogônica (que narra o nascimento de todas as 
coisas por meio das relações sexuais entre os deuses) para a visão cosmogônica (por meio da qual se 
narra a geração da ordem do mundo pela ação entre forças vitais concretas e divinas), e desta para a 
visão cosmológica, que explica, ou procura explicar, a origem do mundo por meio da determinação 
de um princípio originário racional. Em suma, a contribuição maior do pensamento grego teria sido 
justamente a de marcar o desaparecimento gradual das figuras do adivinho, dos magos e das seitas de 
mistério, trazendo para o centro a racionalidade e os pensadores.
Segundo Chauí (2000), o “milagre grego”, assim compreendido não no sentido religioso, mas como 
resultado de especificidades históricas, resultou em heranças relacionadas às formas de organização 
social e política e à cristalização do que chamamos atualmente de “cultura”. Essa filosofia se baseava 
na racionalidade, no discurso como forma de buscar respostas, na organização do pensamento, na 
rejeição às explicações preestabelecidas e nas tentativas de generalização como objetivo maior. Nesse 
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Unidade I
contexto, eram fundamentais os conceitos de dóxa (espaço político da discussão e persuasão) e alétheia 
(pensamento verdadeiro para todos).
Sócrates é um marco significativo nesse processo de descoberta dos critérios da verdade e das 
formas de acesso ao conhecimento: por meio das ideias por ele discutidas, o centro da reflexão filosófica 
transferiu‑se da investigação da natureza e da cosmologia para a formação do cidadão, com a política, a 
ética e a teoria do conhecimento. A democracia ateniense e a valorização das artes e ofícios pediam essa 
reflexão: Atenas passara a ser o centro do mundo, com sua intensa atividade econômica; além disso, os 
sofistas ganhavam espaço, fazendo valer o poder da arte da retórica, da argumentação e da persuasão. 
A proposta de Sócrates era simples: ele queria que fosse percebida a distância entre a ideia de uma coisa 
e a imagem que dela se fazia, entre o conceito de algo e a nossa opinião sobre esse objeto. Sua lógica 
envolvia o raciocínio indutivo (que parte do particular para o geral) e a elaboração de conceitos, usando 
para isso a reunião de traços comuns entre os casos particulares (CHAUÍ, 1994).
Platão, seu discípulo e quem se encarregaria de transmitir as principais ideias do mestre, teria outras 
preocupações: Platão pretendeu entender a distinção do mundo sensível das aparências e o mundo 
inteligível das essências. Sua preocupação central estava na compreensão do bem como ser uno, como 
meta inatingível pelo ser humano. Seu trabalho político também merece atenção. Segundo Chauí (1994), 
para Platão, os males apenas poderiam cessar quando os filósofos chegassem ao poder, pois a violência 
e a justiça ocorriam especialmente por conta de dois instrumentos: a força física e a palavra. Nesse 
sentido, o combate se dava por meio do isolamento da mentira e das dissimilações que ocorriam com o 
uso da linguagem. Se a retórica era a arte do engano, sendo o sofista um perito em imitações, a dialética 
era o instrumento do filósofo para combater a falta de conhecimento e a inverdade. A pharmakon 
(linguagem) era usada como filtro, poção, remédio, enfeito, veneno e máscara; em contrapartida, com a 
dialética, não se usava a palavra para lutar e vencer aquele que tinha o maior poder de argumentação. 
Ao contrário, a discussão tinha como objetivo a produção de contradições para que, através delas, fosse 
possível reconhecer a própria ignorância.
Discípulo de Platão, Aristóteles, tornar‑se‑ia o pensador clássico mais discutido e comentado nos 
séculos seguintes. Segundo Alfonso‑Goldfarb (2001, p. 9):
[...] um número impressionante de leitores conhecidos (e até famosos), 
além de incontáveis anônimos, falaram sobre e em nome de Aristóteles, em 
variados períodos, lugares e línguas. Como resultado, ainda hoje (e talvez 
para sempre), quem quiserentender minimamente a história da filosofia ou 
da Ciência não poderá se furtar ao denso toque do Corpus Aristotelicum.
Como os primeiros filósofos, Aristóteles propôs discutir a existência ou não da possibilidade do 
conhecimento; para ele, só haveria conhecimento se soubéssemos as causas das mudanças dos seres. 
Por meio da anamnese (recordação), ele buscou elaborar um histórico do progresso e das mudanças 
da linha de pensamento em relação a algumas das questões mais relevantes do seu tempo e que, aliás, 
continuam a merecer discussão e atenção nos dias atuais. O que Aristóteles fez foi apresentar a sua 
aporia e a história das aporias.
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TÉCNICAS DE PESQUISA EM ECONOMIA
 Observação
A aporia é uma incerteza diante de uma questão filosófica. Ela representa 
dúvida e hesitação em relação a um questionamento de ordem filosófica. 
Para Aristóteles, todos os homens tinham, por natureza, o desejo de conhecer. A filosofia 
representava esse desejo de conhecer e o prazer alcançado com a busca do conhecimento. Esse espanto 
admirativo, a contemplação e o saber especulativo representavam o conhecimento almejado, não 
pela sua utilidade ou pela ação que inspirava, mas pelo prazer de aproximar‑se do saber relacionado 
aos princípios e às causas e naturezas dos seres. Para isso, Aristóteles buscou classificar e indagar 
como podiam ser adquiridos e ensinados os saberes, que ele dividiu em três grandes grupos: a Física 
– englobando a Biologia, a botânica, a zoologia, a Psicologia e a cosmologia – que estudava os seres 
que possuíam em si mesmos o princípio do movimento, do repouso, da geração e da corrupção; a 
Matemática, que estudava os seres imóveis; e a filosofia teológica, que estudava o ser imóvel, não 
sujeito a mudanças e ao devir. Aristóteles também distinguiu a práxis (prática, representada pelo 
estudo da Economia, da Ética e da política) da poiesis (arte ou técnica, englobando a agricultura, 
a pintura, a poesia e a retórica). Assim, o pensamento aristotélico era composto de um conjunto 
enciclopédico de saberes, sobre os mais diversos assuntos.
Para Aristóteles, o inteligível encontrava‑se no mundo sensível, sendo possível o conhecimento da 
realidade e das coisas. Se Platão procurava explicar o porquê do mundo sensível, Aristóteles foi procurar 
compreender por que esse mundo sensível era como era e como funcionava.
A filosofia aristotélica trabalhava com a organon (a lógica), que indicava a forma correta de se 
pensar. Tornada uma disciplina essencial para a formação intelectual, era ela quem forneceria as normas 
para a condução correta do pensamento na busca do conhecimento e que permitiria a verificação da 
falsidade ou da veracidade dos argumentos. Por meio dos silogismos – discursos em que, apresentados 
certos pressupostos, outras coisas derivam deles necessariamente – Aristóteles mostrou o caminho do 
raciocínio dedutivo, que parte de uma afirmação universal verdadeira para casos particulares que dela 
dependem. Em outras palavras, Aristóteles preocupava‑se com a demarcação da verdade. Para ele, a 
explicação racional, ou as proposições, deveriam submeter‑se aos fatos para validação. Sua estratégia era, 
portanto, a de submeter os dados à experiência, dotando a racionalidade de um necessário empirismo, 
quer dizer, unindo o uso da razão com o resultado da apreensão da realidade por meio das sensações e 
da experiência.
Segundo Barbieri e Feijó (2013, p. 52),
há que se dizer que o empirismo aristotélico se reveste de características 
próprias e que, mesmo avançado em relação às concepções essencialmente 
fantasiosas da época antiga, ele não pôde desvencilhar‑se de elementos místicos, 
especialmente no que diz respeito às influências de Platão, seu mestre.
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Como é possível perceber, os filósofos gregos estabeleceram uma marca revolucionária na forma de 
pensar o mundo. Não que eles tivessem alcançado a verdade absoluta, mas haviam mostrado que valia 
a pena ir além da explicação mítica que até então servira de base para a compreensão da realidade. E, 
dada a sua importância, a filosofia aristotélica seria retomada pela Escolástica, durante a Idade Média.
Vale aqui uma ressalva: longe da escuridão imaginada, a Idade Média criou as universidades, 
locais onde se estudavam Geometria Euclidiana, Lógica, Metafísica, Ética, Medicina, Física e Direito. 
A Escolástica, escola de pensamento filosófico desse período, recebeu influência determinante dos 
clássicos e foi marcada pela tentativa de conciliação entre fé e razão. Nos monastérios, monges 
trataram de recepcionar, traduzir e preservar obras gregas, romanas, árabes e judaicas. Claro que 
esses textos passaram por um curioso processo de “cristianização”: tratava‑se, afinal, de adequá‑los à 
teologia cristã. No entanto, distante do mundo escuro, árido e retrógrado que o imaginário ocidental 
construiu, a Idade Média foi o momento em que a nossa civilização passou a ser construída. E mais: 
foi o momento em que o debate sobre a verdade e as formas para seu acesso estiveram presentes em 
todas as obras e ideias discutidas.
Figura 2 – Copistas trabalhando em três línguas: grego, latim e árabe, Palermo, Itália
 Saiba mais
Sugerimos, sobre o assunto, o filme:
O NOME da rosa. Dir. Jean‑Jacques Annaud. Itália: Neue Constantin 
Film; Cristaldifilm; Les Films Ariane, 1986. 130 minutos.
A degradação do sistema feudal, a perda de poder de Roma e o surgimento de uma classe de mercadores 
ávidos pelo conhecimento e pelo poder provocariam mudanças profundas. Do ponto de vista filosófico e 
científico, paulatinamente, a Escolástica cedeu espaço para o espírito renascentista. Com o apoio da autoridade 
dos textos clássicos, os filósofos naturais renascentistas buscaram a matemática e os métodos de observação 
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TÉCNICAS DE PESQUISA EM ECONOMIA
como formas de obter maiores níveis de certeza nas abstrações sobre o homem e a natureza: o texto bíblico já 
não dava conta de responder a todas as perguntas feitas. Para isso, era necessário que a razão fosse utilizada 
como antídoto para as superstições, as paixões e a imaginação. Havia respeito e reverência ao conhecimento 
antigo e às antigas tradições, mas havia também a necessidade e a coragem de ir além.
Assim, o típico pensador da Renascença buscou conhecer o Homem e entender as relações entre o humano 
e o divino. Na medicina, mais do que em qualquer outra área do conhecimento, houve sofisticação dos 
métodos de investigação através da dissecação, vivisseção, estudos de anatomia e tentativas de observação 
acurada e detalhada, embora se buscasse preservar a antiguidade por meio dos textos e ensinamentos de 
Aristóteles e Galeno. Kepler saiu em busca da compreensão dos mecanismos da visão. Os céus e as estrelas, 
símbolos da crença medieval de perfeição e equilíbrio, passaram a ser observados por meio de instrumentos 
guiados por homens incrédulos. A Terra foi colocada, finalmente, em movimento e, posteriormente, deixou 
de ser o centro do Universo. Tycho Brahe descobriu uma nova estrela, e essa descoberta colidiu com a ideia de 
imutabilidade dos céus. Os renascentistas empurraram as fronteiras do saber, reverenciando os antigos, mas 
libertando‑se das amarras que formas ultrapassadas de pensar representavam.
A Revolução Industrial acrescentou combustível ao processo de cisão entre o saber e o poder 
eclesiástico. O surgimento de fábricas, a urbanização, o comércio internacional cada vez mais intenso 
e a tecnologia que mudava a vida de todos haviam provocado transformações significativas: naquele 
momento, o desenvolvimento científico era notável e surgiam sociedades destinadas ao culto e 
à transmissão do saber por toda a Europa. Já distante da Escolástica medieval, o contexto era o do 
Renascimento,que disseminou por toda a Europa os ventos do racionalismo cartesiano, da filosofia de 
Kant e de Spinoza, da dialética hegeliana e da pintura holandesa.
Embora durante muito tempo tenha prevalecido na história geral certa “leitura” que manteve a 
indústria e a universidade em esferas distintas, algumas evidências apontam para a existência de uma 
estreita relação entre elas, em especial na Inglaterra, “local de um entusiasmo peculiar pela ciência e 
engenharia” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 83). Lá surgiram, por exemplo, a Royal Society (presidida 
por Isaac Newton) e a Philosophical Society of Edinburgh, inaugurada em 1737 e que tinha, entre seus 
mantenedores e membros, vários grandes proprietários de terra. Assim, os industriais, empresários e donos 
de terra eram os grandes mecenas das ciências, apostando e investindo em pesquisas que pudessem 
dar origem a novas tecnologias e, portanto, mais lucro. Nesse contexto, nasceria a primeira obra tendo 
como objeto de estudo específico a questão da riqueza das nações e das atividades econômicas: A 
Riqueza das Nações, de Adam Smith (1723 – 1790). Adam Smith seria, assim, o legítimo representante 
de nossa ciência nascente dentro do espírito do Iluminismo.
Segundo Falcon (2009), temos como traço marcante dos setecentos essa associação entre a busca de 
governos mais populares e as ideias de uma série de pensadores e filósofos que defendiam uma postura 
intelectual madura, moderna e autônoma: Locke, Voltaire, Montesquieu e Rousseau surgiram como os arautos 
de um movimento filosófico que assumiu uma crítica implacável ao absolutismo. Afinal, naquele momento, o 
capitalismo se disseminava e o absolutismo político esbarrava nos anseios da burguesia em relação à liberdade 
de agir e à maturidade concreta; essa análise explica, inclusive, a herança que o “iluminismo” nos deixou em 
termos de uma proposta individualista da cidadania com base na liberdade e na propriedade privada, e de uma 
proposta filosófica racionalista e otimista quanto ao valor da ciência. Aliás, o próprio termo Iluminismo iria 
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Unidade I
disputar espaço com outro, a Ilustração, dependendo do lugar em que se disseminou. Na França, correspondeu 
ao sentido de uma filosofia de história e a um ato de fé, sentido esse resumido na palavra “luzes”. Na Alemanha, 
o Iluminismo significará esclarecimento, descobrimento, e estará fortemente vinculado ao despotismo 
esclarecido de Frederico II e José II. Na Escócia, o Iluminismo ganhará contornos mais definidos em termos de 
questões de natureza moral e econômica (e Adam Smith será o grande representante dessa vertente a partir 
das suas considerações sobre a natureza da riqueza das nações e da moral centrada no individualismo, no 
autointeresse e no egoísmo que, a partir de um movimento natural, acabariam gerando o bem‑estar de todos).
A metáfora das luzes reforçou as ideias de verdade, de conhecimento verdadeiro e de saída da escuridão. 
As luzes representavam o oposto da ignorância, dos erros, das superstições, o que impregnava o Iluminismo 
de um sentido místico (da iluminação interior) do qual, aparentemente, ele buscava se distanciar. Afinal, 
iluministas eram os filósofos morais ingleses e, também, os místicos espanhóis (FALCON, 2009).
A partir desse instante, as práticas capitalistas ocupariam cada vez mais espaço na Europa e no 
restante do mundo; ainda, esse seria o início da publicação de uma série de obras de pensadores que 
se preocupariam em entender as relações de troca entre os homens e o funcionamento dos mercados. 
Em suas obras, eles – embora não tratassem da questão de forma explícita – revelariam os caminhos 
escolhidos para a descoberta da verdade a respeito da realidade econômica.
2 METODOLOGIA DA ECONOMIA
Vejamos, então, como se dá o processo de conhecimento. Conhecer algo ou estudar algum fenômeno 
requer que usemos nossa capacidade intelectual, nossa razão. A razão é, portanto, o ponto de partida 
para a aquisição do conhecimento. Segundo Chauí (2000, p. 70‑1):
A consciência é a razão. Coração e razão, paixão e consciência intelectual 
ou moral são diferentes. Se alguém “perde a razão” é porque está sendo 
arrastado pelas “razões do coração”. Se alguém “recupera a razão” é porque o 
conhecimento intelectual e a consciência moral se tornaram mais fortes do 
que as paixões. A razão, enquanto consciência moral, é a vontade racional 
livre que não se deixa dominar pelos impulsos passionais, mas realiza as 
ações morais como atos de virtude e de dever, ditados pela inteligência ou 
pelo intelecto. [...] Nós a consideramos [a razão] a consciência moral que 
observa as paixões, orienta a vontade e oferece finalidades éticas para a 
ação. Nós a vemos como atividade intelectual de conhecimento da realidade 
natural, social, psicológica, histórica. Nós a concebemos segundo o ideal da 
clareza, da ordenação e do rigor e precisão dos pensamentos e das palavras.
Supõe‑se, assim, que a realidade seja dotada de uma racionalidade passível de ser percebida e 
apreendida pela nossa atividade intelectual. Por sua vez, a atividade racional, essa capacidade humana de 
apreender a realidade, pode ocorrer de duas formas: pela intuição (que está associada ao “ver” imediato, 
sem qualquer necessidade de prova ou demonstração, como se houvesse ocorrido um “estalo” ou uma 
“revelação”) ou pelo raciocínio. Para efeito da nossa disciplina, interessa‑nos especialmente esta segunda 
forma, que se configura como razão discursiva, e que ocorre sob as formas de dedução e indução.
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Segundo Chauí (2000, p. 82):
Dedução e indução são procedimentos racionais que nos levam do já 
conhecido ao ainda não conhecido, isto é, permitem que adquiramos 
conhecimentos novos graças a conhecimentos já adquiridos. Por isso se 
costuma dizer que, no raciocínio, o intelecto opera seguindo cadeias de 
razões ou os nexos e conexões internos e necessários entre as ideias ou 
entre os fatos.
Alguns exemplos clássicos podem nos ajudar a compreender melhor esses conceitos.
No caso da dedução: parte‑se de uma premissa inicial e, com base nela, explicam‑se os casos 
particulares.
Todos os homens são mortais.
Sócrates é homem.
Portanto, Sócrates é mortal.
No caso da indução: partimos de casos particulares para, em função deles, estabelecer uma regra geral.
João é homem e é mortal.
Pedro é homem e é mortal.
Paulo é homem e é mortal.
Portanto, todos os homens são mortais.
Em se tratando de raciocínios dedutivos ou indutivos, precisamos distinguir a validade do argumento 
e a verdade da conclusão do argumento. Por exemplo:
 
Todos os homens têm mais de 1,80 m de altura.
João é homem.
Logo, João tem mais de 1,80 m de altura.
Esse argumento é válido? Sua conclusão é falsa ou verdadeira? E em relação aos exemplos 
a seguir?
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Exemplo 1
Todos os homens têm mais de 50 metros de altura.
João é homem.
Logo, João tem mais de 50 metros de altura.
Exemplo 2
As janelas do apartamento 1 deste edifício são brancas.
As janelas do apartamento 2 deste edifício são brancas.
As janelas do apartamento 3 deste edifício são brancas.
As janelas do apartamento 4 deste edifício são brancas.
(Esse edifício tem apenas 4 apartamentos).
Logo, todas as janelas de apartamento deste edifício são brancas.
Exemplo 3
As janelas do apartamento 1 deste edifício são brancas.
As janelas do apartamento 2 deste edifício são brancas.
As janelas do apartamento 3 deste edifício são brancas.
As janelas do apartamento 4 deste edifício são brancas.
(Esse edifício tem apenas 5 apartamentos)
Logo, todas as janelas de apartamento deste edifício são brancas.
Fonte: Indução ([s.d.]). Adaptado.
De forma resumida, o método dedutivo parte de um princípio geralpara explicar os casos particulares. 
Por exemplo: caso alguém queira traçar um perfil dos alunos que cursam Ciências Econômicas por meio 
da educação a distância, poderá levantar algumas hipóteses: são alunos que não têm tempo para assistir 
aulas presenciais; são alunos que moram distantes de demais universidades; são alunos que preferem 
estudar segundo um ritmo diferente daquele utilizado nos cursos presenciais. Essas são hipóteses: quem 
reflete sobre o tema, assume como prováveis essas características dos alunos de cursos a distância, 
sendo capaz de criar algumas regras explicativas.
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Em contrapartida, o método indutivo parte do particular para o geral. Usando o mesmo exemplo, 
conversar‑se‑ia com cada aluno do curso de Ciências Econômicas a distância, questionando‑o sobre os 
motivos para a escolha dessa modalidade. Após conversar com todos, poder‑se‑ia, então, formular uma 
explicação geral: o estudo dos casos particulares permitiria a construção de uma explicação geral.
Você já deve ter percebido o quão importante é a discussão a respeito das vias de acesso ao 
conhecimento. Portanto, o debate sobre as condições epistêmicas da geração do saber é fundamental, e 
não apenas uma discussão semântica sem qualquer utilidade. Apesar disso, o mainstream das Ciências 
Econômicas preferiu ignorar a fragilidade das nossas formas de acessar o conhecimento sobre fenômenos 
como consumo e poupança, pobreza e riqueza. Certos de terem conseguido alcançar um conhecimento 
seguro sobre a realidade, os economistas fecharam os olhos para a fragilidade de pressupostos como a 
racionalidade e a motivação humana no sentido de otimizar a utilidade, princípios basilares das escolas 
clássicas e neoclássicas de pensamento econômico.
 Observação
O mainstream caracteriza a corrente principal de uma área do 
saber. Essa corrente principal reúne as ideias que formam um conjunto 
consensual de opiniões a respeito de determinado objeto ou assunto. 
Assim, ele está associado à tendência majoritária e hegemônica existente 
numa comunidade de cientistas ou pensadores. 
Voltemos à questão da Filosofia da Ciência e, mais especificamente, da nossa ciência. Como vimos 
anteriormente, toda área do saber tem – e é isso que a diferencia das demais – um objeto específico de 
estudo e um método peculiar de investigação desse objeto. De fato, cada área do saber tem como base 
determinados pressupostos epistemológicos, quer dizer, princípios basilares nos quais repousam alguns 
critérios a partir dos quais será gerado o conhecimento a respeito do seu objeto específico; em outras 
palavras, deve explicitar como se dá o conhecimento no seu campo de saber e qual o processo de sua 
aquisição. Adicionalmente, deve esclarecer quais os métodos consagrados para a investigação e para o 
estudo dos fenômenos pertinentes à sua área.
Os pressupostos epistemológicos de uma ciência dizem respeito aos processos cognitivos (relacionados 
ao conhecimento). Esses princípios definem o quanto podemos conhecer da realidade, ou seja, quais 
são os limites que o nosso conhecimento sobre o objeto pode atingir. Além dos fatores biológicos que 
determinam nossa cognição (nossa capacidade de ver, de ouvir, de sentir, de compreender ideias e de 
estabelecer relações entre fatos e ideias), são fundamentais as influências sociais e culturais. De forma 
resumida, portanto, o conhecimento é um fenômeno social que possui uma história e que é resultado 
de determinados contextos históricos.
A questão do embate entre as sensações (a experiência) e a racionalização (a racionalidade a serviço 
da dedução) foi uma constante nos períodos posteriores: discutida ao tempo da Escolástica, foi alvo de 
calorosos embates durante a Renascença e o Iluminismo, e, ainda nos dias atuais, é frequentemente 
lembrada quando do estudo e da investigação epistemológica sobre determinada área do saber.
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Francis Bacon, no século XVII, questionou a verdade obtida por meio da experiência. Afinal, a 
experiência requeria uma extrema e excessiva confiança nos sentidos: e se os sentidos falhassem? E 
se os sentidos captassem algo que fosse mera distorção da realidade? E nossos hábitos mentais e de 
linguagem que nos faziam perceber a realidade de forma errônea? E o peso das opiniões das autoridades? 
Não seriam essas autoridades capazes de moldar a nossa própria experiência sensorial?
René Descartes, no mesmo período, resolveu o problema do acesso ao verdadeiro conhecimento de 
outra forma. Para ele:
[...] a certeza do conhecimento não pode ser alcançada fazendo‑se a 
natureza confessar, simplesmente porque ela não fala por si mesma. Onde 
então encontrar a âncora do conhecimento certo sem um pressuposto 
metafísico? [...] Usar bem a razão é seguir o único método seguro: a assim 
chamada “dúvida metódica”. Consiste em refutar como falso tudo o que é 
apenas provável (BARBIERI; FEIJÓ, 2013, p. 57).
Isaac Newton, na Física, trouxe os ventos da Revolução Científica. Ainda com uma visão de mundo 
impregnada de misticismo (sabe‑se que Newton era obcecado por alquimia e Cabala, por exemplo), 
Newton procurou construir seus principais fundamentos a partir da formulação de alguns princípios 
e da observação de alguns fatos da realidade. Para Newton, o fundamental era a elaboração de leis 
explicativas. Por isso, e pelo fato de ele ter revolucionado a Física, foi visto como exemplo a ser seguido.
 Lembrete
Isaac Newton se tornaria uma grande influência para Adam Smith: para 
este, a Riqueza das Nações (SMITH, 1996) tinha como objetivo alcançar o 
que a obra newtoniana havia feito pela Física: a explicação das leis naturais 
do funcionamento do sistema econômico. 
Figura 3 – Da mesma forma como fizera Newton, Smith considerava que os fatos mobilizam nossos sentimentos; estes últimos 
seriam, por sua vez, os responsáveis pela causa e pelo efeito das explicações científicas
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Ou por força da estatística, ou por meio do indutivismo (e da experiência) ou por meio do uso da 
racionalidade, os cientistas – e economistas, inclusive – buscaram sempre se aproximar da verdade, 
escolhendo um ou outro método em função do consenso da comunidade científica ao seu tempo ou 
em função dos problemas para os quais deveriam dar respostas.
[...] negar o indutivismo em ciência não implica “deixar de fora toda a 
esperança”, cair no inferno dantesco da subjetividade no qual tudo vale. 
Descartes e Newton de forma nenhuma abandonam o papel dos fatos 
empíricos na construção da teoria. No entanto, julgam eles que a mente 
do investigador joga papel mais ativo na elaboração de teorias, movida 
pelas faculdades da razão e da capacidade de descrever os princípios da 
explicação, respectivamente. O que estimula a ação dessas faculdades, 
entretanto, são eventos externos observados. Eles são a causa e o feito das 
explicações científicas (BARBIERI; FEIJÓ, 2013, p. 60).
Mas, afinal, como é que são realizadas as pesquisas nas Ciências Econômicas?
No caso da economia, os cientistas passaram a dar mais importância 
à construção teórica que considera o indivíduo otimizador racional na 
representação abstrata dos agentes. Assim, modelos com um agente 
estilizado proliferam nos trabalhos teóricos dos economistas, a ponto de 
constituírem um elemento central do paradigma da análise econômica 
(BARBIERI; FEIJÓ, 2013, p. 8).
Outra variável importante na análise econômica é aquela que considera que os agentes econômicos 
estabelecem suas relações em mercados perfeitos. No entanto, é importante salientar que ambas as 
variáveis (o agente otimizador e o mercado perfeito) são apenas simplificações que servem como ponto de 
partida para estudos relacionados à racionalidadelimitada, informação imperfeita, mercados imperfeitos.
Podemos afirmar que o campo de investigação e os métodos e as técnicas utilizadas nas pesquisas 
das Ciências Econômicas encontram‑se suficientemente aceitos dentre a comunidade científica. Assim:
[...] no cenário internacional, ao menos nos países ocidentais desenvolvidos, 
nenhum estudante será aceito como um verdadeiro economista se não 
tiver tido um bom contato com os cursos tradicionais de microeconomia, 
de macroeconomia, de econometria e de outras disciplinas que compõem o 
núcleo do paradigma da economia científica (BARBIERI; FEIJÓ, 2013, p. 12).
 Observação
Um paradigma descreve as convicções, na maioria das vezes implícitas, 
com base nas quais os investigadores elaboram as suas hipóteses, as suas 
teorias e mais geralmente definem os seus métodos. Apenas para dar um 
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exemplo: durante séculos, o paradigma predominante era o de que a Terra, 
imóvel, era o centro do universo. A mudança de paradigma ocorreu quando 
o geocentrismo foi substituído pelo heliocentrismo. 
É possível resumir o paradigma das Ciências Econômicas da seguinte forma: considerando mainstream 
a escola representada pela economia matemático‑estatística do equilíbrio maximizador, as influências 
e as contribuições são oriundas:
• da escola da economia heterodoxa da organização industrial;
• da escola heterodoxa da econometria (incluída, aí, a estatística bayesiana);
• do historicismo econômico;
• da escola austríaca de economia;
• da escola da nova economia institucional;
• da escola marxista;
• da escola keynesiana;
• de outras escolas paradigmáticas.
De maneira geral e sistemática, grande parte dos economistas acomodou‑se com o uso de dois 
métodos: o hipotético‑dedutivo e o histórico‑dedutivo. De Smith aos dias atuais, esses têm sido os 
instrumentos preferenciais dos economistas no estudo dos atos e fenômenos econômicos.
O problema teórico central enfrentado pela economia e pelas outras 
ciências sociais é a escolha do método ou abordagem preferidos de 
investigação. Economistas clássicos como Smith, Malthus e Marx usaram 
essencialmente o método histórico‑dedutivo: tentaram generalizar a 
partir da observação da realidade econômica que os cercava. Ricardo 
desenvolveu modelos altamente dedutivos, mas os fatos básicos em 
que baseou seu raciocínio, como as maiores rendas recebidas pelos 
proprietários das terras mais produtivas, vieram de sua observação da 
realidade econômica. [...] A redução da teoria econômica a modelos 
matemáticos possibilitada pela abordagem hipotético‑dedutiva 
aconteceria nos anos 1930, quando um grande número de engenheiros e 
físicos se juntaram à profissão (Mirowski, 1991). Keynes representou uma 
reação à primazia do método hipotético‑dedutivo na teoria econômica 
e a sua consequência, a tendência à “matematização” do pensamento 
econômico (BRESSER‑PEREIRA, 2009, p. 163‑164).
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O método dedutivo (histórico ou hipotético) consagrou‑se como instrumento preferencial nos estudos 
econômicos. Se houve alguma aproximação com o método indutivo (quer dizer, com o estudo de casos 
particulares para a formulação de regras gerais), isso ocorreu por meio de abordagens mais empíricas, 
especialmente as relacionadas às análises históricas e estatísticas: melhor dizendo, as relacionadas às 
análises de dados históricos submetidos ao rigor matemático.
 Observação
É importante ressaltar que estamos falando de aproximação, e não 
do uso do método indutivo como prática usual no campo das Ciências 
Econômicas. Esse método está ainda restrito aos estudos que têm como 
áreas de fronteira a Psicologia Econômica e a Sociologia. 
Na verdade, tanto as críticas passíveis de serem feitas ao método dedutivo quanto as relacionadas 
ao método indutivo foram – e ainda são, em grande parte – ignoradas pelos economistas. A despeito 
da segurança dos cientistas econômicos, o fato é que há problemas imensos com a qualidade de 
conhecimento que acessamos. Com a dedução, temos que lidar com as limitações provenientes dos 
sistemas lógicos de pensamento. Se a dedução parte da razão e da formulação de princípios gerais que 
explicam casos particulares, podemos ter que lidar com falhas lógicas (paradoxos e contradições, por 
exemplo) ou com erros na própria formulação dos princípios gerais.
Supostamente, esses problemas poderiam ser controlados a partir do rigor com que os silogismos 
fossem formulados e a partir da consistência dos argumentos utilizados; no entanto, esse controle é 
relativo. Nossa capacidade de abstração e a nossa linguagem inserem vieses que, por sua vez, ocultam 
partes da realidade. E mesmo que utilizemos a História como base para nossas reflexões dedutivas, 
não podemos esquecer o fato de que eventos novos, fora do comum, podem ocorrer. Imagine alguém 
fazendo uma análise histórica antes da Revolução Industrial ou da Revolução Francesa. Teria sido 
possível prever esses eventos? E, no entanto, eles ocorreram e passaram a ser admitidos em todas as 
análises históricas posteriores.
Em relação à indução, temos que lidar com a possibilidade de erros na coleta de dados estatísticos, 
erros esses que podem inviabilizar os modelos que abstraímos dos dados. Além disso, temos que 
conviver com o número limitado de observações e de casos particulares, e não há como ultrapassar essa 
dificuldade. Podemos identificar cem casos iguais e, na centésima primeira vez, termos que lidar com 
alguma anomalia. Em outras palavras, sempre será possível surgir um evento que seja completamente 
diferente dos anteriores. Assim, os métodos indutivos costumam chegar a resultados que estão associados 
a graus de probabilidade. Finalmente, é importante salientar que a nossa capacidade de apreender a 
realidade por meio dos sentidos, das sensações e da experiência é limitada.
Levando em consideração essas possíveis e diferentes abordagens, é possível dizer que a metodologia 
da Economia resulta não apenas das técnicas do trabalho acadêmico, mas também da investigação 
filosófica do fazer ciência. Em outras palavras, a questão metodológica não se encerra nas receitas 
simplificadas de como realizar uma pesquisa científica, mas deve conter, também, a reflexão sobre o 
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processo de construção das teorias científicas e a posterior confrontação desses constructos teóricos 
com a realidade e com as evidências empíricas.
É claro que o processo de descarte de teorias não é simples; ao contrário, ele costuma ser acompanhado 
de verdadeiras revoluções no modo de se pensar e de se fazer ciência. E, mais importante ainda: a História 
das Ciências e das ideias, bem como a História do Pensamento Econômico, estão repletas de exemplos 
nos quais o descarte de velhas teorias e a formulação de novas explicações ocorreram justamente em 
função de novas regras que foram criadas, ou do desrespeito à velhas regras já consagradas.
Então, a própria denominação de metodologia do pensamento econômico 
traz consigo o pressuposto de que a tarefa do economista como cientista 
é dirigida por um ou mais métodos. Mas devemos estar abertos inclusive 
para práticas sem método no interior da economia científica. Então, 
definitivamente, metodologia, nesse contexto, não se limita apenas ao 
estudo do método ou dos métodos, mas de toda forma de atuação do 
cientista econômico (BARBIERI; FEIJÓ, 2013, p. 25).
Assim, é importante salientarmos: o consenso será encontrado dentro de cada escola e os 
pressupostos metodológicos aceitos pelos membros de cada escola; em contrapartida, encontraremos 
conflitos quando compararmos esses pressupostos entre membros de diferentes escolas.
Um fator torna esse contexto mais claro: estamos nos referindo ao fato de asCiências Humanas 
pertencerem ao campo das ciências sociais aplicadas. Além de todas as dificuldades que qualquer ciência 
percorre no seu desenvolvimento – e, em particular, em relação aos seus pressupostos epistemológicos – 
as Ciências Econômicas ainda devem lidar com os problemas comuns às outras Ciências Sociais. Assim, 
em comparação com as Ciências Exatas e da Natureza, nas Ciências Econômicas:
• É mais difícil identificar os paradigmas vigentes.
• Não é possível realizar experimentos controlados.
• O objeto do conhecimento muda ao longo do tempo (por exemplo, o surgimento do capitalismo 
mudou a forma a partir da qual o comportamento econômico passou a ser investigado; a crise 
de 1929 também mudou o cenário sobre o qual se debruçaram os economistas àquele tempo; 
a questão ambiental e de sustentabilidade da espécie humana também provocou mudanças na 
forma como o objeto das Ciências Econômicas é percebido pelos economistas).
• Os agentes não se comportam de forma determinista, sendo impossível realizar qualquer previsão.
• Os cientistas que estudam seus fenômenos são, por sua vez, agentes econômicos que possuem 
crenças, valores e normas em referência ao objeto de estudo (o que pode contribuir para o difícil 
acesso à objetividade por parte de quem estuda os fenômenos econômicos).
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Figura 4 – Há diferenças significativas entre os modos de acessar o conhecimento das Ciências 
Naturais e das ciências sociais aplicadas. Por exemplo, nestas últimas, não é possível realizar 
experimentos controlados, procedimentos que são comuns na Física e na Biologia
Segundo Barbieri e Feijó (2013, p. 39), outros obstáculos se somam aos já citados.
No campo da economia, há um número muito grande de condições iniciais, 
nem todas elas passíveis de serem especificadas. As leis econômicas não são 
bem estabelecidas e, na maioria das vezes, elas indicam mais uma tendência 
do que propriamente uma lei geral. Não existem leis universais bem testadas 
na economia e as leis gerais que existem são leis estatísticas às quais faltam 
constantes universais, como na física. Certas condições assumidas pela 
teoria econômica, tais como gostos, expectativas e grau de informação, não 
são facilmente avaliadas. Qualquer hipótese em economia está sujeita a 
outras coisas que são mantidas constantes (ceteris paribus) e tais coisas são 
numerosas e nem sempre bem especificadas. [...] Os dados empregados em 
qualquer teste empírico correspondem de forma superficial às concepções 
existentes na teoria sob teste.
Outra variável precisa ser acrescentada a essa análise, e ela trará mais complexidade ao debate sobre 
os métodos a serem utilizados em Economia: nossa área de saber, como outras ciências, possui um 
objeto que vem se transformando ao longo do tempo. Assim, a investigação sobre os atos econômicos do 
século XXI pode requerer instrumentos diferentes daqueles que foram utilizados no século XVIII; afinal, 
do ponto de vista histórico, novas perguntas e novos fenômenos surgiram desde a publicação do texto 
fundador de Adam Smith, e esses desenvolvimentos criaram tensões que obrigaram os economistas – ou 
deveriam ter obrigado – a refletir sobre os modos de aquisição do conhecimento e os métodos utilizados 
para alcançá‑lo.
Apenas para dar um exemplo: no século XIX, sequer se discutia a questão da finitude de um recurso 
importante como a água. Atualmente, o debate sobre as condições de sustentabilidade de nosso ritmo 
de produção e consumo está no centro de qualquer discussão sobre modelos econômicos. Parece claro, 
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portanto, que as formas de acessar o conhecimento modificam‑se simultaneamente à transformação 
do nosso próprio objeto de estudo.
Figura 5 – As Ciências Econômicas e seu objeto de estudo em transformação: a questão da sustentabilidade econômica, 
dada a escassez de recursos, é recente e vem exigindo novas posturas para a solução dos problemas ambientais
Até o século XIX, no entanto, as grandes escolas de pensamento das Ciências Econômicas foram 
se desenvolvendo sem se preocupar demasiadamente a respeito dos pressupostos epistemológicos 
adotados; ou melhor, sem refletir sobre as diferenças entre o processo de conhecimento do saber em 
geral e o processo específico de aquisição do conhecimento dos fenômenos econômicos.
Entre os séculos XVIII e XIX, quer dizer, entre o período que cobre a publicação dos textos fundadores 
das Ciências Econômicas e o momento em que a Ciência surge tal como a conhecemos nos dias atuais, 
o que era bom para as outras Filosofias Políticas e Morais (áreas das quais as Ciências Econômicas 
derivaram), também era bom para o estudo dos fenômenos econômicos. Até o final do século XIX 
quando, inclusive, a Epistemologia – a ciência que estuda os processos do conhecimento – passou a 
se desenvolver de forma significativa, a grande preocupação dos pensadores que refletiam a respeito 
dos atos econômicos não estava relacionada às formas de aquisição do conhecimento, mas ao objeto 
desse conhecimento. Para eles, o requisito necessário para fundar e fortalecer uma nova categoria do 
saber era diferenciá‑la em termos do objeto de estudo, deixando a preocupação com as formas do 
conhecimento para outro momento.
Portanto, um dos fatos mais marcantes da história da Epistemologia da Economia está no fato de 
esses processos de aquisição do saber terem sido pouco discutidos. A evidência clara dessa situação pode 
ser demonstrada da seguinte forma: os temas centrais da pesquisa econômica modificaram‑se ao longo 
do tempo. Na década de 1970, por exemplo, surgiram questões referentes ao processo inflacionário 
que atingia grande parte das economias desenvolvidas e em desenvolvimento; nas décadas de 1980 e 
1990, intensificaram‑se o debate sobre o papel do Estado na promoção do desenvolvimento e o debate 
sobre as diferenças entre o Welfare State (o Estado que se preocupa com a promoção do bem‑estar 
social) e o Estado Mínimo (o Estado que intervém pouco na economia). No entanto, o corpus das teorias 
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econômicas ficou à salvo de qualquer dúvida ou questionamento em termos dos métodos utilizados para 
desenvolvê‑lo. Claro que isso não ocorria sem exceções, mas o mainstream do pensamento econômico 
era pródigo em afirmar que nada de novo havia sob o sol: os métodos dedutivos e históricos eram mais 
do que suficientes para dar conta do recado. Se houvesse algum espaço vazio, ele seria certamente 
ocupado pela Matemática, Estatística e Econometria.
Esse status quo fortaleceu‑se ao longo da primeira metade do século XX: o pluralismo metodológico 
e sua consequente disponibilidade para o debate de ideias ou correntes de pensamento diversas das 
já estabelecidas, ao menos no plano metodológico, não ocuparam qualquer espaço significativo nos 
debates sobre os métodos utilizados para a investigação dos atos e fenômenos econômicos. Em outras 
palavras: era mais importante estudar a realidade do que discutir as formas a partir das quais essa 
realidade deveria ser estudada, como se uma coisa não estivesse irremediavelmente associada à outra. 
Ao invés de refletir sobre as limitações das formas utilizadas para alcançar o conhecimento econômico, 
os economistas preferiram continuar olhando os fenômenos com as mesmas lentes utilizadas pelos 
economistas clássicos do século XVIII.
Mas, afinal, qual a importância de discutir os caminhos utilizados para se chegar ao conhecimento? 
A pergunta não é descabida, muito pelo contrário. Sugerimos que você reflita a respeito: a realidade é o 
que conseguimos dela compreender? Todas as pessoas percebem a realidade da mesma forma? Todas as 
áreas de conhecimento – ou melhor, todos os aspectosda realidade – exigem que utilizemos as mesmas 
vias de acesso? Pois bem: propomos que você pense nos seguintes termos: a realidade “é” (ela tem uma 
existência concreta), mas o que apreendemos dela depende das formas como a vemos e a interpretamos. 
A realidade “é”, mas o nosso conhecimento apenas pode dela se aproximar, jamais alcançando‑a na sua 
totalidade. Aliás, é necessário enfatizar: enxergamos aquilo que podemos compreender e aquilo que 
conseguimos acomodar no conjunto de coisas que supomos saber.
Os quadros mentais sobre os quais repousam nossas crenças, bem como nossas características 
biológicas, possibilitam‑nos ou nos impossibilitam de perceber a realidade. De fato, aquilo que vemos 
(ou imaginamos ver) é fruto de construções mentais elaboradas em função do que aprendemos, das 
experiências que já tivemos, daquilo que acreditamos ser possível.
Na belíssima série Cosmos (1980), temos um exemplo interessante a respeito das limitações da nossa 
capacidade de enxergar a realidade. Enxergamos aquilo que entendemos, aquilo que nossa cognição nos 
indica ser possível ou provável.
Há quase duzentos anos, no golfo do Alaska, [...] duas culturas que não 
se conheciam tiveram um primeiro encontro. O povo Tlingit vivia mais 
ou menos como seus ancestrais viviam há milhares de anos. Eles eram 
nômades, viajando sempre de canoa entre inúmeros locais de acampamento, 
onde pegavam peixes abundantes e ostras do mar e os trocavam com as 
tribos vizinhas. O criador que eles veneravam era o Deus Corvo, a quem 
representavam como uma enorme ave preta de asas brancas. E em um dia 
de julho de 1786, o Deus Corvo apareceu. Os Tlingit ficaram apavorados. 
Eles sabiam que quem olhasse diretamente para o Deus viraria pedra. Do 
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outro lado do planeta, uma expedição liderada pelo explorador francês La 
Pérouse foi, na verdade, a viagem científica mais planejada do século XVIII 
que foi enviada para circundar o mundo e para reunir conhecimentos sobre 
geografia, história natural e povos de terras distantes. Mas, para os Tlingit, 
cujo mundo estava confinado às ilhas do sul do Alaska, esse grande navio 
só poderia ter vindo dos deuses. Houve um entre eles que ousou olhar mais 
profundamente. Era um velho guerreiro e estava quase cego. Disse que sua 
vida estava quase no fim. Para o bem comum, ele se aproximaria do Corvo 
para ver se o Deus iria realmente transformar seu corpo em pedra. Ele partiu 
para a sua própria viagem de descoberta para confrontar o fim do mundo. 
O velho olhou fixamente para o Corvo e viu que ele não era um grande 
pássaro do céu, mas trabalho de homens, como ele mesmo (COSMOS, 1980, 
episódio 13).
 Saiba mais
Sugerimos que você assista ao 13º episódio de Cosmos:
COSMOS. Produção de Carl Sagan; Ann Druyan. EUA; Reino Unido: 
KCET; Carl Sagan Productions, 1980, 60 min. (13 episódios).
Há, inclusive, algumas restrições biológicas que determinam as nossas formas de perceber a realidade. 
Por exemplo: os daltônicos reconhecem matizes de cores de formas diferentes dos não daltônicos. 
Imagine, portanto, as leituras distintas que um daltônico e um não daltônico poderiam fazer de um 
quadro de Mondrian.
Figura 6 – Quadro do pintor holandês Piet Mondrian. Conforme pode ser observado, 
o uso das cores é fundamental na construção da obra de Mondrian
Mesmo que tomemos como base indivíduos com capacidades similares de visão ou de outras 
competências físicas, também perceberemos diferenças significativas nas formas como cada um é capaz 
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de enxergar a realidade. São clássicas as figuras que nos revelam várias e diferentes visões, de acordo 
com a perspectiva que adotamos.
 Saiba mais
Sobre a ilusão de ótica, veja:
ILUSÕES de ótica: é verdade ou são apenas meus olhos? Em 
diálogo, 2014. Disponível em: <http://www.emdialogo.uff.br/content/
ilusoes‑de‑otica‑e‑verdade‑ou‑sao‑apenas‑meus‑olhos>. Acesso em: 8 
ago. 2016.
Será interessante também assistir ao filme O Enigma de Kaspar Hauser, 
que conta a história de um jovem preso num cativeiro durante toda a 
vida, e que é posteriormente exposto ao mundo real, cujas reações podem 
nos conduzir a interessantes reflexões a respeito da nossa capacidade de 
compreensão do mundo.
O ENIGMA de Kaspar Hauser. dir. Werner Herzog. Alemanha: Filmverlag 
der Autoren; Werner Herzog Filmproduktion; Zweites Deutsches Fernsehen 
(ZDF), 1974. 110 min.
Caso você queira ler mais sobre o tema, sugerimos:
SABOYA, M. C. L. O enigma de Kaspar Hauser (1812?‑1833): uma 
abordagem psicossocial. Psicologia USP, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 105‑117, 
2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext
&pid=S0103‑65642001000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso 
em: 8 ago. 2016.
Nosso processo de aquisição do conhecimento ocorre por vias extremamente particulares. Na 
maior parte das vezes, e ao longo das nossas vidas, enxergamos aquilo que queremos enxergar ou 
que estamos preparados para enxergar. Isso não acontece apenas quando estamos diante de um 
conhecimento novo, ou fora do padrão: ocorre no nosso dia a dia. Às vezes, convivemos com uma 
pessoa durante anos e não percebemos qualidades que, para outros, são extremamente óbvias. Em 
outras ocasiões, estabelecemos metas profissionais que, décadas depois, nos parecem absurdas e 
infantis. Vemos o que queremos ver, e vemos no momento em que estamos preparados para lidar 
com o que vemos: o nosso olhar indaga à realidade, mas não é sempre que ele tem condições de 
lidar com as respostas que o mundo nos oferece. Acreditamos nas explicações que desenvolvemos 
para compreender o mundo enquanto essas explicações derem conta de resolver os problemas que 
enfrentamos e aos quais devemos oferecer respostas.
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Assim, outra questão fundamental diz respeito à perenidade das certezas que desenvolvemos a 
respeito das condições seguras para a aquisição do conhecimento. Dessa forma, para os estudiosos 
da Epistemologia, é fundamental o estudo das condições que possibilitam as revoluções científicas, as 
mudanças de paradigmas que nos sustentam e nos auxiliam na construção da realidade.
As grandes transformações científicas ocorreram quando antigas crenças e antigos quadros mentais 
foram substituídos por novas maneiras de pensar o mundo. Tal fenômeno não é muito diferente nos 
casos que envolvem o conhecimento novo que se coloca diante de nós diariamente, porque nosso apego 
ao que já sabemos (ou ao que pensamos saber) cria uma série de bloqueios difíceis de serem transpostos. 
Em geral, são esses bloqueios que nos impedem de aprender o novo ou de perceber o mundo de uma 
forma diferente.
Bachelard (1996) chamou esses bloqueios de obstáculos epistemológicos, verdadeiras armadilhas 
que tornam o processo de aquisição de conhecimento mais lento (às vezes, tendendo à regressão) e que 
causam até espanto quando, finalmente, deparamos com o real.
O real nunca é “o que se poderia achar” mas é sempre o que se deveria ter 
pensado. O pensamento empírico torna‑se claro depois, quando o conjunto 
de argumentos fica estabelecido. Ao retomar um passado cheio de erros, 
encontra‑se a verdade num autêntico arrependimento intelectual. No fundo, 
o ato de conhecer dá‑se contra um conhecimento anterior, destruindo 
conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é 
obstáculo à espiritualização (BACHELARD, 1996, p. 17).
Os obstáculos ao novo conhecimento podem muitas vezes surgir sob a forma de hábitos 
intelectuais (que um dia até foram saudáveis) ou de antigos valores. “Chega o momento em que o 
espírito prefere o que confirma seu saber àquilo que o contradiz, em que gosta mais de respostas do 
que de perguntas. O instinto conservativo passa então a dominar,e cessa o crescimento espiritual” 
(BACHELARD, 1996, p. 19).
Segundo Bachelard (1996), até mesmo a experiência primeira costuma funcionar como barreira 
à aquisição do conhecimento. Aquilo que aprendemos sobre um objeto pela primeira vez, para nós, 
permanece como indicativo de um porto seguro, de onde devem desembarcar todos os nossos navios 
em direção ao mar e onde devem atracar todos os navios que para nós chegam carregados de novas 
mercadorias e novas ideias.
Retornemos ao exemplo sobre Galileu: há muito, os cientistas discutem o papel da experimentação 
e da observação na concepção de Galileu sobre o movimento da Terra. Nossa posição, aqui, é que 
independentemente da importância da experiência, Galileu jamais teria concluído pelo movimento da 
Terra se a isso não estivesse “mentalmente” aberto. Ele poderia ter visto a Lua por meio do seu telescópio 
e, mesmo assim, não ter enxergado as montanhas lunares. O fato de ele ter apontado o telescópio para 
a Lua já demonstrava a existência de uma concepção interior a respeito do que poderia ser visto. Entre 
a percepção que imaginamos exata e a abstração construída pela nossa razão, há um caminho imenso 
que se coloca entre nós e um novo conhecimento.
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Koyre (2006, p. 9) afirma que:
Não podemos esquecer, ademais, de que a “influência” não é uma relação 
simples; pelo contrário, é bilateral e muito complexa. Não somos influenciados 
por tudo aquilo que lemos ou aprendemos. Em certo sentido, talvez o mais 
profundo, somos nós que determinamos as influências a que nos submetemos; 
nossos ancestrais intelectuais não são de modo algum dados a nós; nós é que 
os escolhemos livremente. Pelo menos, em grande parte.
Exemplo de aplicação
Reflita sobre o seguinte: se estamos sempre em busca de reforço para aquelas ideias com as quais 
concordamos, de que maneira podemos entrar em contato com posições diferentes das nossas?
Nas Ciências Econômicas, é clássico o exemplo de mudança de paradigma em relação à capacidade 
de a oferta criar a sua própria demanda. Assim, durante alguns séculos, acreditou‑se ser suficiente 
oferecer, ou seja, produzir e colocar à disposição do consumidor, bens e serviços: os consumidores 
surgiriam naturalmente. Essa concepção – chamada de Lei de Say – sofreu um abalo definitivo quando, 
embora houvessem produtos em excesso no mercado, não havia consumidores dispostos a comprá‑los.
O que permitiu que a Lei de Say perdurasse por tanto tempo? Não podemos imaginar que os 
economistas fossem todos equivocados e incapazes de reconhecer a realidade. A resposta mais adequada 
para isso é que construções mentais satisfatórias – e que nos chegam sob a forma da Ciência ou do 
senso comum – resistem às mudanças. Isso evidencia, mais uma vez, que as condições dadas para o 
acesso ao conhecimento devem ser investigadas, especialmente quando nos propomos à especialização 
dentro de uma área de saber.
Figura 7 – A Lei de Say propõe que a oferta cria a sua própria demanda. Atualmente, os economistas consideram que essa proposição 
não tem validade, já que ela não explicaria as situações em que há oferta de bens e serviços sem que haja procura correspondente
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Após ultrapassar os obstáculos que o debate sobre as condições do conhecimento instaurou no 
século XIX – aqui é fundamental o papel desempenhado por John Stuart Mill –, as Ciências Econômicas 
se acomodaram em relação aos seus pressupostos epistemológicos: tal como havia sido até então, 
pareciam soberanos os métodos da reflexão dedutiva e da abordagem histórica como formas seguras 
de se atingir o conhecimento sobre o mundo econômico. O confronto com a realidade aconteceria por 
meio da validação estatístico‑matemática dos dados coletados, e esse procedimento garantia a validade 
dos modelos teóricos.
Especialmente a partir do final do século XIX e do início do século XX, um manto de suave conforto 
cobriu os trabalhos dos pensadores econômicos: o consenso sobre as bases epistemológicas da Economia 
já estava estabelecido, acima de qualquer discussão. Estavam dadas as condições necessárias para a 
matematização da teoria econômica, e o crescente uso da matemática para a investigação das relações 
econômicas coroou essa certeza: alguns economistas chegavam a dizer que, dentre as Ciências Sociais, 
a Economia era a ciência “mais exata” e, portanto, “mais próxima” da certeza. Não apenas as formas 
que utilizávamos para acessar o conhecimento eram excelentes, como o resultado que obtínhamos era 
extremamente eficaz.
Mas, afinal, quais eram as vias de acesso por meio das quais os economistas julgavam ser possível 
conhecer os atos e fenômenos econômicos, ou seja, como os economistas pretendiam investigar as 
formas adotadas pela sociedade para a solução do problema da produção e do consumo de bens e 
serviços, dadas duas condições: a escassez de recursos e as necessidades ilimitadas?
Figura 8 – As Ciências Econômicas estudam como os seres humanos resolvem os problemas da produção e consumo de bens e 
serviços, dadas a escassez de recursos e as necessidades ilimitadas
Toda essa discussão ganhou, no máximo, um espaço diminuto nas notas de rodapé dos estudos 
econômicos. Para efeito da nossa disciplina, entretanto, precisamos nos aprofundar um pouco mais a 
respeito dessa questão. Tomemos Adam Smith: o método usado por Smith (e por outros tantos depois 
dele) foi o histórico‑dedutivo. A partir do conhecimento histórico, e em função de esse material permitir 
a criação de categorias generalizadoras, Smith acabou formulando alguns conceitos fundamentais sobre 
o ser humano enquanto agente econômico. Refletindo sobre a História, Smith foi capaz de deduzir 
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algumas regras gerais que poderiam perfeitamente dar conta de explicar a natureza humana e suas 
manifestações quando da troca, compra e venda de bens e serviços.
Numa sociedade civilizada, o homem a todo momento necessita da ajuda 
e cooperação de grandes multidões, e sua vida inteira mal seria suficiente 
para conquistar a amizade de algumas pessoas. No caso de quase todas 
as outras raças de animais, cada indivíduo, ao atingir a maturidade, é 
totalmente independente e, em seu estado natural, não tem necessidade 
da ajuda de nenhuma outra criatura vivente. O homem, entretanto, 
tem necessidade quase constante da ajuda dos semelhantes, e é inútil 
esperar esta ajuda simplesmente da benevolência alheia. Ele terá maior 
probabilidade de obter o que quer, se conseguir interessar a seu favor a 
autoestima dos outros, mostrando‑lhes que é vantajoso para eles fazer‑lhe 
ou dar‑lhe aquilo de que ele precisa. É isto o que faz toda pessoa que 
propõe um negócio a outra (SMITH, 1996, p. 74).
 Observação
Essas ideias de Smith permearam o pensamento clássico e deram 
origem à caracterização do Homo economicus como egoísta e movido pelo 
autointeresse, como veremos adiante. 
O que permitiu a Smith a elaboração desses conceitos foi o seu profundo conhecimento histórico e 
a observação da realidade. Esse material, objeto de reflexão racional e crítica, possibilitou a construção 
dos conceitos explanados em sua principal obra. Smith elaborou sua teoria a partir da dedução e com 
base no do conhecimento histórico.
Mais um exemplo do uso primoroso do método dedutivo vem de David Ricardo (1772‑1823), outro 
economista clássico. Por exemplo, ao discutir a questão do valor comparado entre dois bens, Ricardo 
(1996, p. 30) afirma:
Se uma peça de lã valer hoje duas peças de linho, e se, dentro de dez anos, 
o valor de uma peça de lã alcançar quatro peças de linho, poderemos 
com certeza concluir que será necessário mais trabalho para fabricar o 
pano, ou menos para fabricar as peças delinho, ou ainda que ambas as 
causas influíram.
Ricardo supõe, ou seja, ele reflete sobre a realidade que se apresenta aos seus olhos e deduz, de 
forma similar ao método realizado por Smith a partir do material histórico. O método utilizado por 
Ricardo e Smith se repete na maioria dos trabalhos sobre sistemas econômicos.
Bresser‑Pereira (2009) resume o contexto metodológico no qual estão inseridos a maioria 
das investigações dos atos e fenômenos econômicos: alguns economistas preferem o método 
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hipotético‑dedutivo; a partir da adoção de uma premissa lógica, chega‑se a uma teoria suficientemente 
robusta. Se completada com alguma demonstração matemática, melhor ainda. Outros economistas, 
no entanto, preferem o método histórico‑dedutivo: por meio do estudo da história e da observação 
da realidade, formulam‑se pressupostos gerais que apresentam bastante segurança na sua utilização. 
“Ambos são dedutivos, mas enquanto um é hipotético – partindo de um pressuposto – o outro é histórico – 
partindo de sequências observadas de fatos e mantendo‑se próximo a eles durante o processo dedutivo” 
(BRESSER‑PEREIRA, 2009, p. 165).
Ainda para Bresser‑Pereira (2009, p. 167).
[...] dado que a economia [...], cujo objeto é aberto e complexo – os sistemas 
econômicos –, argumento que a economia deve usar principalmente o 
método histórico‑dedutivo. Ela só deve recorrer secundariamente ao 
método hipotético‑dedutivo, aqui entendido como o processo de raciocínio 
que parte do pressuposto da racionalidade econômica e deriva a teoria 
desse pressuposto básico. O uso do método hipotético‑dedutivo é legítimo, 
porque se presume que todas as ciências desenvolvam seus próprios 
conceitos e modelos heurísticos. Além disso, se entendermos que o objetivo 
da economia é explicar os sistemas econômicos e desenvolver ferramentas 
para entender os mercados, ela terá de usar o método hipotético‑dedutivo 
para desempenhar esse segundo papel. Mas o método histórico‑dedutivo 
deve ter precedência, porque a complexidade e o caráter de mudança dos 
sistemas econômicos tornam impossível derivar modelos relevantes apenas 
de algumas hipóteses.
Vejamos agora um exemplo de aproximação com a modalidade empírica. O economista neozelandês 
William Phillips (1914‑1975) analisou alguns dados econômicos do Reino Unido referentes ao período 
de 1861 e 1957. A partir dos dados da realidade e da submissão desses dados ao tratamento matemático, 
Phillips identificou uma correlação negativa entre inflação e desemprego: quanto menor o desemprego, 
maior a inflação; em contrapartida, quanto maior o desemprego, menor seria a inflação. A hipótese 
explicativa para tal relação é a seguinte: quanto menor o desemprego, mais pessoas com recursos 
financeiros sairiam ao mercado em busca de bens e serviços. Caso a oferta desses bens e serviços não 
aumentasse, era provável que os preços aos consumidores aumentassem: haveria mais procura do que 
oferta de produtos, e a taxa de inflação aumentaria também. Em contrapartida, com uma maior taxa 
de desemprego, menos pressão haveria para aumento dos preços, já que menos pessoas estariam em 
condições de adquirir bens e serviços.
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TÉCNICAS DE PESQUISA EM ECONOMIA
Taxa de 
inflação
Taxa de 
desemprego
Figura 9 – A Curva de Phillips resulta da representação matemática da correlação negativa entre inflação e desemprego
 Observação
Essa relação também foi demonstrada, posteriormente, por economistas 
americanos; sua aplicabilidade, entretanto, foi questionada quando da 
ocorrência, em várias economias, de altas taxas de inflação combinadas 
com elevadas taxas de desemprego. 
O que Phillips fez foi coletar dados secundários (estatísticos) e, por meio da matemática, deduzir 
uma lei geral explicativa da relação entre inflação e desemprego. Como podemos caracterizar este 
método, qual seja, o de usar o material histórico para a coleta de dados secundários a serem submetidos 
ao tratamento matemático e, posteriormente, à análise dedutiva? Para Bresser‑Pereira (2009), aqui está 
configurado um método empírico‑dedutivo, similar ao histórico‑dedutivo. Assim, ele afirma que:
[...] o método histórico‑dedutivo é “histórico” porque parte da observação da 
realidade empírica e procura generalizar a partir dela; [...] e, finalmente, é indutivo 
porque testa as hipóteses sempre que possível, com ferramentas econométricas 
que são intrinsecamente indutivas (BRESSER‑PEREIRA, 2009, p. 171).
Na concepção de Bresser‑Pereira (2009), o empirismo estaria relacionado à observação da realidade, 
ou seja, a dados da realidade sob a forma estatística. O fato de as conclusões terem como base dados 
reais, portanto, configuraria essa forma de conhecimento como próxima a outros métodos indutivos. Na 
nossa percepção, e isso poderá ser visto adiante, a utilização do método indutivo difere do que é aqui 
proposto por Bresser‑Pereira; de qualquer forma, é inegável que existe uma tentativa de os economistas 
se aproximarem da realidade e do estudo de casos particulares, mesmo que apenas para efeito de 
validação matemática.
É importante salientar que essa hegemonia em relação à discussão epistemológica referente às 
Ciências Econômicas encontrou algumas exceções, sendo John Stuart Mill (1806‑1873) a mais notável. 
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Inglês dos oitocentos, Stuart Mill, como típico homem de seu tempo, viveu o apogeu da Revolução 
Industrial e as grandes transformações científicas que marcaram a História, não ficando imune às ideias 
então disseminadas. A burguesia, a grande vitoriosa da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, 
pretendia conhecer o mundo que a cercava. Os ideais iluministas – justamente os que pregavam o 
uso da razão – influenciaram uma geração inteira de pensadores, todos eles dedicados ao estudo do 
conhecimento e dos critérios de cientificidade de suas respectivas áreas. Discutia‑se, acima de qualquer 
coisa, qual seria o melhor modelo de ciência, e a influência de Newton e Darwin era notável.
As pesquisas à época buscavam descobrir a “mecânica” dos fenômenos para, por meio da 
formulação de leis explicativas, dar sentido aos fatos da natureza e da própria sociedade (SANTOS; 
JUDENSNAIDER, 2015).
O raciocínio lógico‑matemático pretendia conhecer a realidade e interpretá‑la, 
utilizando um método científico infalível e livre de visões parciais. O pano 
de fundo de tal pensamento alinhava‑se com os desenvolvimentos técnicos 
que melhoravam as condições de vida dos homens, não havendo espaço, 
portanto, para sistemas metafísicos ou crenças supersticiosas – afinal 
de contas, a razão deveria ser enfatizada por meio da experiência e do 
empirismo (SANTOS; JUDENSNAIDER, 2015, p. 63).
Acima de tudo, preconizava‑se que as verdadeiras ciências deveriam ter como base metodológica a 
observação e a experiência. Os métodos aplicados nas ciências físicas, químicas e biológicas poderiam 
e deveriam ser utilizados também nas Ciências Sociais. Assim, foi notável a influência do empirismo 
nos desenvolvimentos teóricos das Ciências Econômicas. Locke, Berkeley e Hume – conhecidos como 
empiristas ingleses – rejeitaram a razão como fonte última do conhecimento. “Ideias, como formas e 
cores, são conceitos oriundos da observação e são compostos na mente para formar, por exemplo, a ideia 
de um cubo verde“ (BARBIERI; FEIJÓ, 2013, p. 66). Essa vertente encontraria seu aluno mais dedicado em 
John Stuart Mill. Aliás, o grande dilema de Mill foi exatamente esse: o de conciliar a tradição dedutiva 
do que até então havia se caracterizado como pensamento econômico com aquilo que ele considerava 
o verdadeiro método para alcançar o conhecimento (o empirismo) e, acima de tudo, com o que pudesse 
obedecer aos parâmetros de ciência ao seu tempo,

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