Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS É o ajuste firmado entre a Administração Pública e um particular, ou entre dois entes públicos, regulado basicamente pelo direito público e supletivamente pelo direito privado, e tendo por objeto atividade que, de alguma forma, traduza interesse público. ● Sujeitos do Contrato: Os sujeitos do contrato administrativo de acordo com a lei incluem entes públicos da administração direta e indireta, tais como unidades federativas, autarquias e fundações públicas de natureza autárquica. Em essência, um dos principais sujeitos é a Administração Pública, visto que envolve o Estado desempenhando sua função administrativa. ● Relação Contratual: NATUREZA JURÍDICA: A natureza jurídica da relação contratual no contrato administrativo apresenta, como não poderia deixar de ser, alguns aspectos específicos em comparação aos contratos em geral. São eles: a) núcleo básico de direito público: indica que o direito privado incide subsidiariamente; b) bilateralidade: o contato sempre traduz obrigações para ambas as partes; c) formalismo: o ajuste é, em regra, formal e documental e requer a observância de requisitos externos e internos, havendo apenas poucas exceções em que se admite um certo informalismo; d) comutatividade: há equivalência entre as obrigações, que são previamente conhecidas e ajustadas; e) intuitu personae: presume-se que o contratado é o que melhores condições ofereceu à Administração, fator que decorre, inclusive, de ter vencido o procedimento prévio seletivo na licitação. Prerrogativas da Administração Prerrogativas da Administração (ou cláusulas exorbitantes, porque refogem à órbita do direito privado, ou cláusulas de privilégio) são as situações de vantagem que, traduzidas em normas legais, permitem à Administração, e somente a ela, a adoção de medidas específicas próprias do direito público, em decorrência de sua posição de preponderância relativamente ao particular contratado. São elas que, no dizer da doutrina, rendem ensejo a uma certa desigualdade entre as partes. Sua previsão, como já dito, encontra-se no art. 104 do Estatuto. A primeira delas reside na possibilidade de modificação (ou alteração) unilateral do contrato, com o objetivo de melhor adequá-lo às finalidades de interesse público pactuadas entre as partes (art. 104, I, Estatuto). A prerrogativa, contudo, não tem o condão de ofender direitos do contratado. Sua particularidade está no fato de ser conferido a um dos pactuantes o poder de, mediante sua só vontade, alterar aquilo que anteriormente fora ajustado. Em tópico próprio adiante, teceremos considerações adicionais sobre essa cláusula exorbitante. Em relação a essa prerrogativa, é mister fazer uma observação. O poder de alterabilidade unilateral não é ilimitado para a Administração. Ao contrário, cinge-se a cláusulas de execução do objeto contratual. As cláusulas econômico-financeiras e monetárias somente podem ser alteradas por consenso, ou seja, pela vontade de ambas as partes (art. 104, § 1º). A não ser assim, poderia a Administração alterar o próprio preço ajustado para a contratação. A alteração dessas cláusulas decorre do princípio da equação econômico-financeira do contrato, pelo qual a relação entre objeto e preço fixada no início do contrato deve perdurar durante toda a sua execução. Assim, só quando se rompe tal equação é que surge o fundamento para sua alteração, visando ao reequilíbrio contratual (art. 104, § 2º).14 Outra prerrogativa é a extinção unilateral do contrato pela Administração (art. 104, II). Como se verá, também em item próprio, nos contratos privados é vedado que a só vontade de um dos sujeitos tenha aptidão jurídica para dar fim à relação contratual, mesmo que não haja conduta indevida da outra parte. Isso, no entanto, é uma garantia da Administração quando a consecução do contrato for mais perniciosa do que sua extinção. O fundamento, desse modo, tem escora em razões de interesse público. A lei refere-se, ainda, à prerrogativa de fiscalização da execução do contrato (art. 104, III). Essa cláusula tem que ser interpretada cum grano salis. Na verdade, a parte pode fiscalizar o cumprimento de todo e qualquer contrato. No caso do contrato administrativo, porém, a ideia é a de que a fiscalização não corresponde apenas a um poder jurídico, como nos contratos privados, mas a um dever jurídico, insuscetível de descumprimento em face do interesse público a que se destina o contrato. A Administração tem, da mesma forma, a prerrogativa de aplicação de sanções pela inexecução do ajuste (art. 104, IV). Esse poder punitivo, inexistente no direito privado, tem como origem a posição de supremacia da Administração no contrato administrativo. O particular contratado, dada a natureza e os fins do ajuste, tem o dever de correta execução, já que eventual inexecução afeta indiretamente a própria coletividade. Finalmente, o Estatuto assegurou à Administração a prerrogativa de ocupação provisória de bens móveis e imóveis, bem como de utilização de pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato (art. 104, V). Não obstante, tal prerrogativa não pode ser imotivada e arbitrária, mas, ao revés, tem natureza cautelar, podendo ser desempenhada no caso de risco à prestação de serviços essenciais ou de necessidade de acautelar a investigação de faltas contratuais cometidas pelo contratado (art. 104, V, “a” e “b”). ● Modalidades Contratuais: OBJETO COMO PONTO DIFERENCIAL Estatuto administrativo, similar ao seu antecessor, não categoriza as diferentes modalidades de contrato administrativo, ao contrário do direito privado, que define contratos específicos, como doação, permuta, empréstimo, entre outros. O foco do legislador está mais na natureza do objeto contratual, destacando a importância do propósito acordado pelas partes ao celebrar o contrato. Ao fazê-lo, as partes estipulam direitos e deveres, com a lei sendo a fonte indireta, enquanto a vontade das partes é a fonte direta. Portanto, as obrigações configuram o objeto imediato do contrato. Assim, quando nos referimos a um contrato específico, estamos, na verdade, focalizando o conteúdo acordado pelas partes, o que se traduz em um evento jurídico. Por exemplo, mencionar um contrato de obras implica que a Administração contratou uma empresa para realizar uma obra, independentemente do nome atribuído ao acordo. O Estatuto, de acordo com seu art. 2º, é aplicável a: I) alienação e concessão de direito real de uso de bens; II) compra, incluindo a encomenda; III) locação; IV) concessão e permissão de uso de bens públicos; V) prestação de serviços, com a inclusão de serviços técnico-profissionais especializados; VI) obras e serviços de arquitetura e engenharia; VII) contratos de tecnologia da informação e de comunicação. CONTRATAÇÃO DE COMPRAS (FORNECIMENTO) De acordo com a definição legal, compra é a “aquisição remunerada de bens para fornecimento de uma só vez ou parceladamente, considerada imediata aquela com prazo de entrega de até 30 (trinta) dias da data prevista para apresentação da proposta” (art. 6º, X, Estatuto). Vários estudiosos costumam denominar tais ajustes de contratos de fornecimento, tendo em vista que por meio deles a Administração busca fornecedores de bens para o desempenho de sua atividade administrativa. Considerando a variadíssima dimensão dessa atividade, pode-se mesmo imaginar que o Estado é talvez um dos maiores compradores de bens, senão o maior, para suprimento de seu ofício.17 O regime de compras está sujeito a alguns parâmetros, e nem poderia ser diferente em virtude dos gastos que acarretam para o erário. Primeiramente, é necessário elaborar um planejamento em que se calcule o consumo anual e se definam, entre outras, as condições de aquisição e pagamento (art. 40). Deve o administrador obedecer aos princípios que regem as compras. O primeiro é o princípio da padronização, para ajustar as especificidades estéticas, técnicas ou de desempenho. Sua aplicação,porém, não é aleatória, impondo-se que o administrador apresente clara motivação para sua implantação, sob pena de ofensa ao princípio da competitividade. O princípio do parcelamento pode ser aplicado quando houver vantagens econômicas e técnicas. Por fim, o princípio da responsabilidade fiscal, pelo qual o administrador deve confrontar a despesa estimada com a prevista no orçamento (art. 40, V, “a” a “c”). Outro aspecto a observar é o da qualidade dos bens a serem adquiridos, e isso porque inúmeros casos demonstraram que a Administração obteve produtos sem nenhuma qualidade, revelando-se gastos inúteis. A similaridade do produto demanda a prova de sua qualidade, seja pela comprovação de que está conforme as normas técnicas fixadas pelos órgãos competentes, seja pela declaração firmada por outro órgão público, seja ainda pela certificação de instituição oficial (art. 42, I a III). A lei prevê situações de exceção no regime de compras (art. 41). Uma delas é possibilidade de indicar marca ou modelo, desde que haja a necessária justificativa, inclusive a padronização. Outra é a exigência de amostra ou prova de conceito do bem em algumas fases do procedimento licitatório ou durante a vigência do contrato. Pode, ainda, a Administração vedar a contratação de marca ou produto quando anteriormente não tiverem sido satisfatórios para o cumprimento do contrato, tudo, é claro, devidamente formalizado e fundamentado em processo administrativo. Não custa destacar a recomendação do Estatuto no sentido de que as unidades da federação instituam centrais de compras, para a realização de compras em grande escala, com o propósito de dar suporte aos diversos órgãos sob sua competência (art. 181). A finalidade aqui é a de economicidade e a medida requer apenas organização e coordenação administrativas. No caso de Municípios menores, com até 10.000 habitantes, a preferência, para o mesmo fim, é pela instituição de consórcios públicos, regulados pela Lei no 1.107/2005 (art. 181, parágrafo único, Estatuto). A norma é convincente, mas utópica, pois está mais que comprovado que, com raras exceções, os entes federativos não gostam de firmar consórcios públicos, o que é uma pena. CONTRATAÇÃO DE OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA Em consonância com o Estatuto, obra é toda atividade que a lei tenha considerado como privativa das profissões de arquiteto e engenheiro, na qual ocorra intervenção no meio ambiente por um conjunto de ações, formando um resultado que inova o espaço físico da natureza ou ocasiona alteração substancial da fisionomia primitiva de um imóvel (art. 6º, XII). Já o serviço de engenharia é toda atividade destinada a obter certa utilidade, intelectual ou material, em prol da Administração, não caracterizada como obra, mas que a lei considera privativa de engenheiro, de arquiteto ou de técnicos especializados (art. 6º, XXI), podendo qualificar-se como serviço comum ou serviço especial de engenharia. Teoricamente, as noções são compreensíveis, mas, em termos práticos, tem havido algumas dissidências em sua aplicação. À guisa de exemplo, já houve entendimento no sentido de que o conceito de obra se estenderia a providências preliminares, mas prevaleceu a inteligência de que se trata de ações que refogem ao conceito.18 O mesmo se passa com os serviços: nem sempre se distinguem com clareza os serviços em geral e os serviços de engenharia. Até mesmo a distinção entre obra e serviço pode ser complexa;19 para alguns é o resultado do contrato.20 Por conseguinte, algumas situações terão que ser analisadas caso a caso. A execução de obras e serviços de engenharia deve considerar alguns aspectos de grande alcance social, como o impacto ambiental, o impacto de vizinhança, o emprego de produtos e equipamentos com redutores de consumo de energia e recursos naturais, a proteção ao patrimônio histórico, cultural, arqueológico e imaterial, bem como a acessibilidade para deficientes com mobilidade reduzida (art. 45, I a VI). Em outra vertente, esse tipo de contratação admite regimes diferenciados (art. 46). De um lado, temos a (a) empreitada por preço unitário, com preço certo de unidades determinadas; (b) a empreitada por preço global, com previsão de preço certo e global; (c) a empreitada integral, em que o empreendimento é contratado em sua integralidade, abrangendo todas as etapas de obras, serviços e instalações (art. 6º, XXVIII, XXIX e XXX). Esta última, na verdade, constitui espécie de empreitada por preço global, mas se caracteriza pela abrangência do objeto contratual, assinando ao contratado a obrigação de executar um empreendimento, o que, obviamente, é sempre de maior complexidade.21 Além desses, o Estatuto prevê ainda os regimes da (d) contratação por tarefa, para pequenos trabalhos por preço certo; (e) contratação integrada, em que cabe ao contratado elaborar e desenvolver os projetos básico e executivo; (f) contratação semi-integrada, em que o contratado elabora o projeto executivo; e (g) fornecimento e prestação de serviço associado, pelo qual o contratado além de fornecer o objeto, assume a responsabilidade de operação ou manutenção, ou ambas, por tempo determinado (art. 6º, XXXI a XXXIV). Alguns desses regimes exigem que a Administração providencie os projetos básicos, que contêm o planejamento geral, e executivo, que contempla a operacionalização do contrato. Outros impõem apenas o projeto executivo, dispensando-se o projeto básico: é o caso da contratação integrada (art. 46, § 2º). É importante que o administrador público acompanhe as etapas da execução do contrato, observados o pagamento e a medição conforme o cronograma físico-financeiro vinculado ao cumprimento de metas de resultado (art. 46, § 9º). CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS Serviço, como o define o Estatuto, é a “atividade ou conjunto de atividades destinadas a obter determinada utilidade, intelectual ou material, de interesse da Administração” (art. 6º, XI). O conceito apresenta certa fluidez e provoca dúvidas. Afinal, o que é utilidade? Por que é uma atividade ou um conjunto de atividades? Haverá situações em que não se saberá bem se se trata de serviço comum ou serviço de engenharia. Enfim, são conceitos nem sempre muito fáceis de identificar na prática. Os serviços comportam várias categorias. Serviços contínuos são aqueles contratados para necessidades permanentes ou prolongadas da Administração. Serviços não contínuos são aqueles ajustados para fim determinado em período certo. Os serviços contínuos, observado o período de um ano, podem ter seu preço revisto, conforme o que o edital fixar. A revisão poderá ocorrer: (a) por reajustamento em sentido estrito, com base em índices específicos ou setoriais (sem regime de dedicação exclusiva ou predominante de mão de obra); (b) repactuação, mediante indicação analítica da variação de custos (com regime de dedicação exclusiva ou predominante de mão de obra) (art. 25, § 8º, I e II). Além desses, há ainda os serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva de mão de obra, em que os empregados do contratado desempenham suas funções nas próprias dependências do órgão administrativo. Finalmente, há os serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual, aí incluídos (a) estudos técnicos e projetos, (b) pareceres e perícias, (c) assessorias e consultorias, (d) fiscalização e supervisão, (e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas, (f) treinamento, (g) restauração de obras de arte e (h) controles de qualidade, bem como, naturalmente, os similares (art. 6º, XV a XVIII). A terceirização dos serviços é admitida quando se trata de atividades materiais acessórias, instrumentais ou complementares à matéria que se situe na competência do órgão ou entidade (art. 48). Mas há inúmeras vedações para que ocorra. Veda-se, entre outras, a indicação de pessoas nominadas, a fixação de salário inferior ao fixado na legislação, a existência de vínculo de subordinação com empregadodo terceirizado e qualquer tipo de interferência indevida da Administração na gestão do terceirizado. Da mesma forma, o terceirizado não pode contratar cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, até o terceiro grau, de dirigente do órgão ou da entidade (art. 48, parágrafo único). No que tange às contratações de serviços com regime de dedicação exclusiva de mão de obra, a empresa contratada deve apresentar a prova de que está em situação regular com as obrigações trabalhistas e com o FGTS, fornecendo os documentos pertinentes a tal comprovação (art. 50). OUTRAS CONTRATAÇÕES Outras contratações estão sujeitas às normas do Estatuto. A lei fala em alienação e concessão de direito real de uso de bens. Alienação não é bem o contrato, mas sim o fato jurídico de transferência do domínio, sendo que esta constitui seu objeto. A matéria será examinada em capítulo próprio, adiante. A concessão de direito real de uso é o que traduz a sua denominação, vale dizer, é a transferência apenas do uso, sendo regulada pelo Decreto-lei nº 271/1967, e também será analisada no referido capítulo.22 A locação, por sua vez, corresponde a um tipo específico de contrato nominado, sendo rotineiro e numeroso no campo das relações privadas. No caso, a contratação envolve a utilização de imóvel privado pela Administração para a instalação de órgão ou entidade. A fisionomia da locação, porém, é a mesma: o proprietário cede temporariamente o uso de seu imóvel ao locatário mediante pagamento de aluguel. Como regra, tal contrato deve ser precedido de licitação e avaliação prévia, do exame de sua conservação, dos custos para adaptações e do prazo de amortização dos investimentos (art. 51). Em casos especiais, pode haver contratação direta, fundando-se em hipótese de inexigibilidade de licitação (art. 74, V). A concessão e a permissão de uso de bens públicos, por fim, incluem-se também entre os contratos administrativos e retratam o uso de bens públicos por particulares mediante consentimento contratual da Administração, sempre sob determinadas condições. Tendo em vista sua natureza jurídica, serão estudadas no tópico relativo à gestão de bens públicos, no mesmo capítulo já antes referido. CONTRATOS DE PUBLICIDADE A Lei no 12.232, de 29.4.2010, que dispõe sobre normas gerais para licitação e contratação pela Administração Pública de serviços de publicidade prestados por meio de agências de propaganda, introduziu alguns aspectos especiais que marcam o caráter singular desse tipo de contratação, sem dúvida alvo de inúmeros desvios no passado. Por essa razão, veremos sucintamente o que de mais relevante consta da lei no que tange aos contratos. Não é qualquer atividade que se enquadra como serviço de publicidade. Este traduz o conjunto de atividades que alvitrem o estudo, o planejamento, a conceituação, a concepção, a criação, a execução interna, a supervisão da execução externa, bem como a distribuição de publicidade aos meios de divulgação. O objetivo do serviço de publicidade consiste na promoção da venda de bens ou serviços de qualquer natureza, na difusão de ideias ou na informação ao público em geral. Uma das características da lei é a de que os contratos só podem ser celebrados por intermédio de agências de propaganda que, além de terem sua atividade regulada pela Lei no 4.680/1965, sejam portadoras de certificado de qualificação técnica de funcionamento. O acesso a tais certificados, todavia, tem que ser o mais amplo possível, porquanto, se não o for, ficarão alijadas as entidades para as quais a obtenção seja inacessível, com grave agressão ao princípio da competitividade. O contrato pode ter objeto plúrimo: ao lado do serviço principal, podem ser incluídas atividades complementares, desde que conexas àquele. São vedadas outras atividades, como as de assessoria de imprensa, comunicação e relações públicas e, ainda, as que tenham por fim realizar eventos festivos. Em outra vertente, a lei admite a adjudicação do serviço a mais de uma agência de propaganda, sem separação em itens ou contas publicitárias; tal faculdade, porém, deverá ser justificada. Paira certa dúvida sobre se os serviços de publicidade se configuram como serviços contínuos, cujos contratos, como sabido, são suscetíveis de prorrogação por dez anos, observadas determinadas condições (art. 107, Lei nº 14.133/2021). Inexiste na lei qualquer vedação excludente dessa classificação. Por outro lado, certas atividades publicitárias não justificariam prorrogação contratual. Em nosso entender, portanto, será preciso analisar caso a caso de forma pontual, só se considerando serviço comum, para fins de prorrogação contratual, aquela publicidade rotineira, normalmente de cunho institucional da Administração, para cuja contratação inicial, aliás, sempre se exigirá licitação.23 Há previsão na lei de que pertencem à Administração vantagens conquistadas em negociação de compra de mídia, diretamente ou por meio de agências, inclusive descontos e bonificações concedidos pelo veículo de divulgação (art. 15, parágrafo único). Não obstante, constituem receita própria da agência os frutos oriundos da concessão, pelo veículo de divulgação, de planos de incentivo, tendo havido concordância por parte da agência. ● Formalização Ao exame do tema relativo à formalização, nunca se poderá perder de vista, logo de plano, que, em se tratando de negócio jurídico firmado por ente público, as contratações recebem o influxo de princípios de direito público, e entre eles está o princípio do formalismo. Obviamente haverá exceções, mas é preciso reconhecer que, mesmo diante de todos os aspectos negativos que se possam levantar, ainda é o formalismo que confere maior segurança às relações jurídicas tanto para a Administração quanto para os administrados. O contrato tem por base o termo de referência, documento que contém todos os elementos para a contratação, como definição do objeto, motivação, requisitos, modelo de execução e de gestão, formas e critérios de seleção de fornecedor, estimativa do valor do contrato e adequação orçamentária (art. 6º, XXIII). Todos esses elementos são coletados na fase de preparação da licitação e servem de parâmetro para a contratação. O instrumento básico de formalização é denominado de termo de contrato (art. 90, Estatuto), mas nada impede seja dada outra denominação, desde que presentes os elementos de uma contratação. Nele devem figurar todos os dados do contrato e a referência ao processo administrativo gerador, seja de licitação, seja de contratação direta. Havendo necessidade de acréscimo, poderão ser firmados termos aditivos ou aditamentos, que devem também ser juntados ao respectivo processo. Se o contrato for relativo a direitos reais sobre imóveis, necessária será a formalização por escritura pública lavrada pelo ofício de notas (art. 91, § 2º). Há hipóteses que dispensam o instrumento formal de contrato: é o caso de dispensa de licitação e de compras com entrega imediata e integral dos bens adquiridos, em que não há obrigações futuras. Nesses casos, pode haver a substituição por outros instrumentos, como carta-contrato, nota de empenho de despesa, autorização de compra ou ordem de execução de serviço (art. 95). Por outro lado, os contratos devem ter forma escrita (art. 91), admitindo-se o contrato verbal no caso de pequenas compras ou prestação de serviços de pronto pagamento, assim considerados os que tiverem valor inferior a R$ 10.000,00 (art. 95, § 2º). É viável, ainda, a forma eletrônica para contratos e termos aditivos. Finda a licitação, a Administração convoca o vencedor para assinar o termo do contrato. Caso não o faça, serão convocados os licitantes remanescentes na ordem de classificação para a contratação nas mesmas condições do vencedor. Se nenhum aceitar, caberá o processo de negociação para obter-se o melhor preço, mesmo que superior ao do vencedor (art. 90). Indispensável é que, no conteúdo do contrato, estejam incluídas as cláusulasnecessárias (art. 92). A enumeração dessas cláusulas é longa, mas algumas se destacam, como as que impõem a menção ao regime de execução, ao objeto com suas características, aos prazos, ao crédito de sustentação para a despesa, às garantias e à matriz de risco. Enfim, a falta de qualquer delas implica vício na forma contratual e pode contaminar todo o contrato. Somente em situações excepcionais será possível sanar a ausência e evitar a anulação do ajuste. Inovação constante do Estatuto é a obrigação de divulgar o contrato no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP), fato necessário para conferir eficácia ao ajuste e que deve ser cumprido em 20 dias úteis, no caso de licitações, e 10 dias úteis, quando se tratar de contratação direta. Os contratos celebrados em regime de urgência, no entanto, terão eficácia a partir de sua assinatura, sendo publicados posteriormente (art. 94 e § 1º). ● Garantias Embora não seja obrigatório, a Administração pode incluir no edital a imposição de que o contratado ofereça garantia para a correta execução do contrato (art. 96). Em cada caso, a Administração deverá verificar as condições que cercam o contrato bem como eventuais riscos para o seu cumprimento. A garantia a resguarda contra inexecução contratual e elide ou mitiga os prejuízos decorrentes. Mas há dois lados: de um lado, assegura a Administração e, de outro, onera as propostas e, de algum modo, restringe a disputa. 25 Há três ferramentas de garantias. A primeira é a caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, com emissão devidamente registrada no sistema de liquidação e de custódia autorizada pelo Banco Central. Outro mecanismo é o seguro-garantia, em que o contratado ajusta com seguradora para a cobertura por eventual descumprimento do contrato, incluindo multas, prejuízos e indenizações (art. 97). Em se tratando de obras e serviços de engenharia, pode ser prevista a obrigação de a seguradora assumir a execução e concluir o objeto do contrato (art. 102). Além dessas duas, tem-se ainda a fiança bancária, pela qual banco ou instituição financeira autorizada pelo Banco Central a operar no Brasil assume os riscos pela inexecução contratual. Nas contratações de obras, serviços e fornecimentos, o máximo da garantia é de 5% do valor inicial do contrato, podendo ser majorado o percentual para até 10%, exigindo-se, contudo, a justificativa de complexidade e riscos quanto à execução (art. 98). O valor-base em contratos de serviços e fornecimentos contínuos com prazo superior a um ano é o valor anual do contrato. A liberação ou restituição da garantia ocorrerá após a fiel execução do contrato ou a sua extinção no caso de culpa exclusiva da Administração, sendo atualizada se for em dinheiro (art. 100). ● Alocação de Riscos Em termos de gestão, matriz de riscos constitui uma ferramenta de gerenciamento cujo objetivo é o de identificar e calcular o tamanho de um risco e viabilizar providências para impedimento ou controle. É também denominada de matriz de probabilidade e impacto. Importa observar, todavia, que os riscos se referem a fatos normalmente imprevisíveis, como desastres naturais, chuvas excessivas etc., mas não devem alcançar situações de culpa da Administração, como ocorre com o fato do príncipe (ato governamental) e o fato da Administração (fato culposo), cujos efeitos não podem ser atribuídos ao contratado.26 A lei permite que a contratação tenha a previsão dessa matriz de riscos, alocando-os entre as partes pactuantes, com a indicação daqueles que vão ser assumidos pelo setor público ou pelo setor privado, ou mesmo compartilhados (art. 103). A alocação deverá levar em conta a natureza do risco, o beneficiário das prestações e a maior capacidade de gerenciamento, avaliando-se as obrigações e os encargos das partes. Se houver cobertura por seguradora, a preferência é que os riscos sejam transferidos ao contratado. A alocação dos riscos é sujeita, naturalmente, a custos, de modo que estes devem ser quantificados para verificar seus reflexos no preço (art. 103, § 3º). A matriz de alocação de riscos fixará os parâmetros do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato considerando eventos supervenientes e serve para auxiliar o estudo de eventuais pleitos das partes. Atendidas as condições da matriz, tem-se como mantido o equilíbrio econômico-financeiro, renunciando as partes a pedidos de reequilíbrio financeiro, exceto quando se tratar de alterações unilaterais impostas pela Administração ou, no caso de legislação superveniente, de aumento ou redução de tributos pagos diretamente pelo contratado (art. 103, § 5º). ● Duração e Prorrogação dos Contratos No que se refere à duração do contrato, a fonte sempre será o edital, não podendo ser dispensadas a verificação da disponibilidade de créditos orçamentários e a previsão no plano plurianual, quando o prazo for superior a 1 ano. Tal verificação deverá ocorrer no momento ● Execução do Contrato Tal qual ocorre em todo e qualquer contrato, é de se esperar que as partes o executem fielmente, em consonância com as cláusulas que nele se contêm e sempre em observância às normas legais que regem a relação contratual. É o velho princípio do pacta sunt servanda, já configurado como dogma desde o direito romano. Havendo inexecução, cada parte responde pelas respectivas consequências. A execução do contrato precisa ser acompanhada e fiscalizada por um ou mais fiscais do contrato, representantes especialmente designados pela Administração, sendo viável, no entanto, que terceiros sejam contratados para dar-lhes assistência e fornecer-lhes subsídios necessários ao controle da execução. Podem também ser auxiliados por órgãos de assessoramento jurídico e de controle interno. Por outro lado, o contratado deve designar preposto para permanecer no local da obra ou do serviço, devendo antes submetê-lo à concordância da Administração (art. 118). A responsabilidade pelos danos causados à Administração ou a terceiros por força da execução do contrato é do contratado. Ainda que a Administração fiscalize a execução, não haverá exclusão ou mitigação da responsabilidade. O contratado é o único responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais relativos ao contrato (art. 121). Sua inadimplência não transfere o pagamento de tais encargos à Administração. Há uma ressalva quanto aos contratos de serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva de mão de obra: aqui a Administração responde solidariamente pelos encargos e subsidiariamente pelos encargos trabalhistas em caso de falha na fiscalização. Para garantir o cumprimento de obrigações trabalhistas pelo contratado, a Administração pode adotar várias medidas, como a exigência de caução, seguro-garantia ou fiança bancária e o pagamento condicionado à comprovação da quitação dessas obrigações. A subcontratação pode ser processada pelo contratado até o limite autorizado pela Administração, mas subsistem suas responsabilidades contratuais e legais (art. 122). Entretanto, cabe-lhe comprovar junto à Administração a capacidade técnica do subcontratado. É vedada a subcontratação com pessoa que tenha vínculo de caráter técnico, comercial, econômico, financeiro, trabalhista ou civil com agentes do órgão contratante, ou que tenha parentesco com estes (art. 122, § 3º). Inexecução do Contrato INEXECUÇÃO − Quando há descumprimento do ajuste, ocorre a inexecução do contrato. Considerando o conteúdo pactuado, a inexecução pode ser total ou parcial. No primeiro caso, o descumprimento abrange o contrato integralmente ou em sua parte nuclear; no segundo, apenas uma parte ou algumas cláusulas são descumpridas. Na verdade, o efeito é o mesmo, mas é possível que na inexecução parcial haja mais facilidade de readequação pelas partes. INEXECUÇÃO CULPOSA E SEM CULPA − Em outro ângulo, a inexecução pode ser culposa ou sem culpa. A inexecução culposa deve ser entendida em sentido lato, para abranger qualquerinfração de um dever legal ou contratual.28 Por outro lado, diversamente do que ocorre no Direito Penal, a culpa no âmbito cível deve ser interpretada como abrangente de culpa em sentido estrito e dolo. Significa, pois, que tanto faz que o contratado descumpra o contrato por culpa, agindo com negligência, por exemplo, como que o faça de forma deliberada, ou seja, dolosamente. Em qualquer caso, tratar-se-á de inexecução culposa, gerando para a outra parte o direito à rescisão do contrato. A inexecução sem culpa resulta de descumprimento do contrato sem que nenhuma das partes tenha contribuído para tanto. A causa consiste na ocorrência de fatos supervenientes ao contrato, que impedem ou agravam a execução regular do ajuste. Como regra, tais fatos são extraordinários e imprevisíveis ao momento da celebração do contrato, mas, quando aparecem, provocam inevitáveis efeitos no regime de cumprimento contratual. FATO DA ADMINISTRAÇÃO − Quando sobrevém situação imputável culposamente ao ente público, a doutrina a denomina de fato da Administração e atribui a esta a responsabilidade pela rescisão do contrato e a obrigação de reparar danos, se houver.29 É importante distinguir as hipóteses. Enquanto muitas situações de rompimento contratual decorrem de fatores imprevisíveis e extraordinários, fora do alcance do pactuante, no fato da Administração é esta que, mediante culpa, provoca o descumprimento do ajuste. Portanto, trata-se de situação de inexecução com culpa por parte da Administração. TEORIA DA IMPREVISÃO − Tais fatos ensejam a aplicação da teoria da imprevisão, pela qual acontecimentos imprevisíveis, ocorridos depois de celebrado o ajuste, rompem a equação econômico-financeira do contrato, impondo-se, por consequência, o reequilíbrio de posição entre os pactuantes.30 O fundamento dessa teoria reside no postulado da cláusula rebus sic stantibus, segundo o qual o contrato deve ser cumprido desde que presentes as mesmas condições existentes no cenário dentro do qual foi o pacto ajustado. Alteradas tais condições, rompe-se o equilíbrio contratual, não se podendo admitir que apenas uma das partes sofra os efeitos gravosos da imprevisibilidade. Incide, pois, uma álea econômica como característica da teoria da imprevisão.31 O Código Civil deu bem a dimensão dessa ocorrência ao prever, no art. 478, que o devedor pode pedir a resolução do contrato quando, nos contratos de execução continuada ou diferida, a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, propiciando extrema vantagem para a outra, em face de fatos extraordinários e imprevisíveis. Foi o que o Código denominou de resolução por onerosidade excessiva. Se o fato superveniente impedir a execução totalmente, haverá o direito à rescisão sem culpa; se a tornar mais gravosa, o pactuante tem o direito ao reequilíbrio contratual. FATO DO PRÍNCIPE − Os estudiosos fazem referência, ainda, ao fato do príncipe como situação ensejadora da extinção ou revisão do contrato. Trata-se da ocorrência de ato lícito praticado pela Administração supervenientemente à celebração do contrato que modifica suas condições e provoca prejuízo ao contratado. Aqui o que predomina é a álea administrativa, isso porque o ato é praticado pelo Estado no desempenho de suas funções legais.32 Esse fato deve ser extraordinário, extracontratual e imprevisível. Já afirmamos, em trabalho sobre o tema, que a Administração não se preordena diretamente ao contratado quando pratica o ato de interferência, tendo este caráter de generalidade, como, por exemplo, a proibição de importar certo produto necessário à execução de determinado contrato. Mesmo assim, contudo, não pode prejudicar o contratado, que nenhuma participação tem quanto à ocorrência do fato.33 Sobre o fato do príncipe, há uma divergência que merece citação. Alguns autores entendem que o ato caracterizador do fato do príncipe deve emanar da mesma entidade pública que celebrou o contrato.34 Com a devida vênia, entendemos diferentemente. A Administração representa o próprio Estado e pouco importa que o contrato tenha sido celebrado pelo Município e o fato do príncipe se tenha originado da União. No caso é o Estado atuando e rompendo o equilíbrio contratual, com gravame para o contratado.35 O efeito do fato do príncipe é idêntico ao que se origina das situações sujeitas à aplicação da teoria da imprevisão. Caso inteiramente inviável a execução do contrato pelo contratado, tem este direito à indenização pelos danos causados. Se for possível prosseguir na relação contratual, deve ser revista a equação econômico-financeira inicial do ajuste para que contratado não fique sujeito à situação de desvantagem perante a Administração. CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR − A inexecução sem culpa pode ser oriunda também de caso fortuito ou força maior, situações de fato que redundam na impossibilidade de serem cumpridas as obrigações contratuais. Sempre houve muita polêmica em torno da distinção entre tais situações, mas grande parte dos estudiosos sustenta que o caso fortuito retrataria fenômenos da natureza, como terremotos e outras catástrofes naturais, enquanto a força maior decorreria de ação humana, como, por exemplo, a greve. O Código Civil, porém, não realçou a distinção, limitando-se a enunciar que “O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir” (art. 393, parágrafo único). Como não há culpa por tais eventos, acrescenta o Código que o devedor não responde pelos prejuízos deles decorrentes, salvo se expressamente se houver responsabilizado por eles (art. 393, caput). O certo é que, sobrevindo hipótese de caso fortuito ou de força maior, rompe-se o equilíbrio contratual, agravando a situação de uma das partes, sem que tenha esta conspirado para o acontecimento. Para evitar o enriquecimento sem causa da parte não afetada, urge restabelecer a equação contratual, evitando que ela se locuplete da ruína da outra. Tais situações, entretanto, devem caracterizar-se pela imprevisibilidade, inevitabilidade e impossibilidade do cumprimento das obrigações.36 Fora daí, os fatos se situarão dentro da álea normal dos contratos. Caso sobrevenha hipótese de caso fortuito, força maior ou fato do príncipe, o Estatuto prevê dois tipos de efeito. Havendo impossibilidade de executar o contrato rigorosamente conforme o pactuado, cabe a alteração consensual do contrato para o reequilíbrio da relação jurídica nos termos do que fora ajustado primitivamente (art. 124, II, “d”)37. Se as situações supervenientes de exceção provocarem o impedimento à execução do contrato, não haverá alternativa senão a de extinção do contrato (art. 137, caput, V).38 Alteração do Contrato ALTERAÇÃO CONTRATUAL − Em princípio, o contrato, uma vez celebrado, deve ser cumprido em consonância com as cláusulas que o compõem, sem que se processem alterações para evitar mudanças no que toca às condições mediante as quais foram emitidas as manifestações de vontade. Evidentemente, nada impede que os pactuantes admitam alterações, desde que em situação de consenso entre ambos. Nos contratos administrativos, entretanto, incide basicamente o regime de direito público, provocando, como já adiantamos, a admissibilidade de prerrogativas (ou cláusulas exorbitantes), que oferecem à Administração algumas situações de vantagem em relação ao particular. Por tal motivo, nesse regime deverá considerar-se a existência de duas categorias de alteração contratual: a alteração bilateral (ou consensual) e a alteração unilateral. ALTERAÇÃO UNILATERAL – A alteração unilateral, embora constitua prerrogativa da Administração, não pode ser imposta imotivada ou arbitrariamente, mas, presentes razões de conveniência e de oportunidade, a decisão administrativa tem natureza discricionária.39 O que caracteriza essa cláusula exorbitante é o fato de que se configura como direito da Administração, de onde decorre a circunstância de que o exercíciodesse direito reflete uma obrigação para o contratado. Em outras palavras, o contratado não pode opor-se à decisão administrativa se respeitados os requisitos legais para tanto. E, como é óbvio, também não pode impor alterações unilaterais. São duas as hipóteses que admitem a alteração unilateral do contrato (art. 124, I, “a” e “b”, Estatuto). A primeira (alteração qualitativa) decorre de modificação do projeto ou das especificações, resultante da necessidade de melhor ajustamento técnico aos objetivos contratuais, sendo vedada, todavia, a desnaturação do projeto. A segunda (alteração quantitativa) ocorre quando se revelar necessário modificar o valor contratual por haver acréscimo ou redução quantitativa do objeto contratual, dentro de alguns limites fixados em lei. Em ambas as situações será imprescindível não haver rompimento do equilíbrio econômico-financeiro do contrato; a linha dessa equação não pode deixar de subsistir. LIMITES − Nas contratações de obras, serviços ou compras, o contratado é obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, as alterações unilaterais que representem acréscimos ou supressões de até 25% do valor inicial atualizado do contrato. Em se tratando de reforma de edifício ou de equipamento, o limite para acréscimos é de 50% sobre a mesma base; para supressões, a contrario sensu, prevalece o percentual geral de 25 % (art. 125 do ELC).40 No caso de a Administração impor supressão além do percentual acima, o contratado terá direito à rescisão sem que se lhe seja imputada qualquer culpa (art. 137, § 2º, I, Estatuto).41 Correta, pois, a advertência de que o contratado deve conhecer bem a disciplina regente dos contratos administrativos.42 Sob a égide da legislação anterior, havia controvérsia quanto à incidência desses limites. Para alguns estudiosos, os referidos limites só incidiriam sobre as alterações quantitativas, sendo incompatíveis com a natureza das qualitativas.43 Para outros, contudo, incidiriam sobre ambas as categorias, e isso porque a lei não fazia qualquer distinção quanto ao limite da incidência (art. 65, § 1º).44 O vigente Estatuto parece ter espancado a dúvida e optado por este último entendimento. De fato, o art. 125 refere-se às alterações unilaterais mencionadas no art. 124, I, que contempla as duas hipóteses nas alíneas “a” e “b”, de onde se infere que os citados limites incidem tanto nas alterações quantitativas quanto nas qualitativas. ALTERAÇÃO BILATERAL − A alteração bilateral (ou consensual) decorre de acordo entre os pactuantes (art. 124, II) e pode ter por motivo a conveniência de substituição da garantia de execução, ou, ainda, a necessidade de alteração do regime de execução da obra ou serviço ou do modo de fornecimento, por inaplicáveis os termos contratuais primitivos. Outra causa é a necessidade de modificação da forma de pagamento por fatos supervenientes, sendo vedada, contudo, a antecipação de pagamento. EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO − O motivo, contudo, que rende ensejo a maiores elucubrações é a alteração prevista no art. 124, II, “d”, do Estatuto. A alteração tem por base o propósito de restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato nas hipóteses de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, ou, ainda, como consequência de fatos imprevisíveis ou previsíveis de consequências incalculáveis, que impeçam a normal execução do ajuste nas condições avençadas. Trata-se da incógnita sobre o futuro e sobre fatos que não puderam ser previstos, os quais usualmente prejudicam uma das partes do contrato. Aqui é de grande alçada o estudo da teoria da imprevisão, tema já analisado acima. O reequilíbrio será exigido quando insumos tiverem elevação extraordinária do preço, afetando a equação contratual. Será também necessário nas contratações de obras e serviços de engenharia, quando a Administração retardar providências a seu cargo, como desapropriações, licenciamentos etc. No caso de falhas de projeto, apurar-se-á a devida responsabilidade técnica e eventual indenização à Administração (art. 124, § 1º). O aumento ou redução dos encargos do contratado redunda em alteração do preço para restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, a qual será formalizada por termo aditivo (art. 130). Obviamente, o fato gerador da alteração precisará ser detalhadamente comprovado no processo administrativo da contratação. A Administração, a seu turno, não pode suprimir obras, serviços ou bens a seu exclusivo critério. Se o fizer, e o contratado houver adquirido materiais, colocando-os no local dos trabalhos, a Administração deverá indenizá-lo pelos danos causados (art. 129). A extinção do contrato não impede o restabelecimento da equação contratual, mas o pedido do interessado deve ser formulado durante a vigência do contrato e antes de alguma prorrogação (art. 131). Apesar do que diz a lei, não se pode deixar de reconhecer que danos causados pela Administração podem ser objeto de reparação ainda que postulados depois do contrato. A não ser assim, haveria locupletamento sem causa pelo ente público contratante. A revisão do preço decorre da necessidade de equacionar os direitos e obrigações contratuais. Nos contratos de serviços contínuos, a lei contempla duas modalidades de revisão. A primeira é o reajustamento em sentido estrito, conforme índices específicos ou setoriais, e incide quando não houver regime de dedicação exclusiva de mão de obra ou predominância de mão de obra. A segunda é a repactuação, nos casos de regime de dedicação exclusiva de mão de obra ou predominância desta, sendo que a base será a demonstração analítica da variação dos custos (art. 92, § 4º, I e II). Extinção do Contrato CUMPRIMENTO DO OBJETO O cumprimento do objeto contratual se concretiza quando “as partes conseguiram o que pactuaram e voltam, sem a menor dificuldade, às respectivas situações anteriores”.45 Essa é uma forma de extinção natural do contrato, tendo em vista que o objetivo dos pactuantes foi alcançado sem que houvesse qualquer tipo de intercorrência no curso na relação contratual. Quando, por exemplo, a Administração contrata a execução de uma obra e esta é concluída sem atropelos, com o devido pagamento do preço pelo contratante, dar-se-á a extinção natural pelo cumprimento do objeto. ADVENTO DO TERMO FINAL Há contratos que se extinguem pelo advento do termo final e isso ocorre quando preveem que as obrigações deles derivadas perdurem por determinado lapso de tempo, fixando-se, em consequência, um termo final (termo ad quem). Advindo esse termo final, o contrato se sujeita à extinção natural. Difere da categoria anterior pelo fato de que nesta não se considera o fator tempo, e sim o objeto do contrato, ao passo que na presente categoria o fator tempo é fundamental para a subsistência da relação contratual. A Administração celebra inúmeros contratos dessa natureza quando visa à prestação de serviços contínuos, como serviços gerais, de copa e cozinha, assistência técnica etc. O Estatuto trata especificamente dos contratos de serviços contínuos, estabelecendo, entre outras normas, que o interregno mínimo é de um ano (art. 92, § 4º). HIPÓTESES DE EXTINÇÃO Todas as hipóteses de extinção do contrato são necessariamente amparadas em motivos, e estes devem ser expressamente mencionados no processo respectivo, nunca sendo desprezado o contraditório e a ampla defesa (art. 137).
Compartilhar