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Atuação do Psicólogo Escolar

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Atua??o do Psic?logo Escolar.doc
GISELE ROSSI
 PSICÓLOGO ESCOLAR: ATUAÇÃO NA OPINIÃO DE PROFESSORES E DIRETORES DE ESCOLAS PÚBLICAS
CAMPINAS - SP
1996
GISELE ROSSI
 PSICOLOGO ESCOLAR: ATUAÇÃO NA OPINIÃO DE PROFESORES E DIRETORES DE ESCOLAS PÚBLICAS
	 Dissertação apresentada ao
	 Departamento de Pós-Graduação
 	 em Psicologia Escolar do Instituto 
 de Psicologia da PUCCAMP, como requisito para obtenção do	 título de mestre em Psicologia	 
 Escolar.
																												Orientador: Prof. Dra. Solange Múglia Wechsler
Campinas
1996
Gisele Rossi
MEMBROS DA COMISSÃO
____________________________________
Profa. Dra. Yvonne Gonçalves Khouri
______________________________________
Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo
____________________________________
Profa. Dra. Solange Múglia Wechsler
		 Presidente
Campinas, 29 de fevereiro de 1996.
ÍNDICE
Índice de Tabelas ________________________________________________ iii
Índice de anexos _________________________________________________ Iv
Agradecimentos _________________________________________________ v
Resumo ________________________________________________________ vii
Abstract ________________________________________________________viii
Apresentação ____________________________________________________ x
CAPÍTULO I - A Psicologia e o Psicólogo Escolar	5
Uma Breve Abordagem Histórica Nacional e Internacional	12
Atribuições, Funções e Características Profissionais	24
Atuação Profissional: Propostas Nacionais e Internacionais	36
CAPÍTULO II - O Psicólogo como Consultor Escolar	46
Definições e Objetivos da Consultoria	48
Consultoria: Uma Breve Perspectiva Histórica	55
O Consultor Escolar e suas habilidades Específicas	63
Pesquisa em consultoria	67
Objetivos De Pesquisa	71
Hipóteses	72
CAPÍTULO III - Método	75
Sujeitos	76
Material	76
Procedimento	77
CAPITULO IV - Resultados, discussão e conclusões	79
Resultados e discussão	80
conmclusões	99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 	108
ANEXOS	125
iii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 01 - Descrição da Amostra - Professores _____________________________74
Tabela 02 - Descrição da Amostra - Diretores e Vice-Diretores _________________ 75
Tabela 03 - Necessidades encontradas no trabalho do professor_________________ 82
Tabela 04 - Dificuldades encontradas por professores em sala de aula_____ 83
Tabela 05 - Dificuldades encontradas por diretores em sua rotina de trabalho______ 84
Tabela 06 - Atitudes tomadas por professores e diretores frente as necessidades 
encontradas ____________________________________________________________ 85
Tabela 07 - Atitudes t omadas por professores e diretores diante das dificuldades
 encontradas ____________________________________________________________ 86
Tabela 08 - Recursos humanos, didáticos ou organizacionais utilizados no 
desempenho das atividades diárias __________________________________________ 87
Tabela 09 - População alvo do trabalho do psicólogo na escola __________________ 88
Tabela 10 - Expectativas em relação aos serviços do psicólogo__________________ 89
Tabela 11 - Funções do Psicólogo na escola__________________________________ 90
Tabela 12 - Profissionais com os quais professores e diretores estabeleceram contato 
de trabalho na escola _____________________________________________________ 92
Tabela 13 - Experiência de trabalho conjunto de professores e diretores com 
psicólogos ______________________________________________________________93
Tabela 14 - Classificação de professores e diretores, da a tuação de psicólogos na 
escola __________________________________________________________________93
Tabela 15 - Tipo de atuação do psicólogo na escola____________________________94
Tabela 16 - Profissionais mencionados como úteis ao trabalho de professores e 
 diretores na escola ______________________________________________________ 95
Tabela 17 - Expectativas sobre aspossibilidades de atuação do psicólogo na escola___ 96
Tabela 18 - Grupos para os quais poderiam se estender os serviços do psicólogo______97
 
iv
ÍNDICE DE ANEXOS 
ANEXO I - Questionário de professores ______________________________126
ANEXO II - Questionários de diretores _______________________________128
ANEXO III - Correlação entre juizes _________________________________130
 v
AGRADECIMENTOS
Foram muitas as pessoas que, de diferentes formas, colaboraram e possibilitaram a realização deste trabalho.
Algumas, presentes e envolvidas, sempre impulsionando e estimulando a cada momento; outras, de maneira mais discreta e distante, mas não menos importantes. Todos, amigos íntimos ou não, participaram de forma ímpar e decisiva neste meu processo de amadurecimento pessoal e profissional.
Aos amigos, que aqui não haveria espaço suficiente para nomea-los , agradeço o interesse e a paciência.
As professoras Ana Aragão e Silvia Pinto de Moura, o começo de tudo
A professora Maria Helena Melhado, pelo empurrãozinho final
A todos os professores do Departamento de pós-graduação, em especial á professora Raquel Guzzo, educadora, colaboradora e impulsionadora, pelo seu conhecimento e acolhida, e a Solange Wechsler, orientadora e mentora deste trabalho.
Aos professores Samuel Pfromm Netto, Ralf Carlson e Reinaldo Benassi, pelo conhecimento, pelo carinho e segurança.
Aos mais que amigos, Ricardo Primi, Marcelo Moreno e Marcos Benassi, consultores e companheiros compreensivos, de muitas jornadas.
Aos companheiros Ângela Soligo e Francisco Oliveira
Aos meus pais e familiares, por estarmos aqui
Aos colegas e funcionários do Departamento de Pós-Graduação de Psicologia da PUCCAMP, sempre presentes
E à agência financiadora deste trabalho, CNPq.
Sem outras palavras,
 Meu muito obrigado.
 RESUMOS
 vii
Rossi, G. (1996). Psicologo Escolar: atuação na opinião de profesores e diretores de escolas públicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, S. Paulo. (147 pgs).																																																																
RESUMO
Muito já se escreveu sobre a Psicologia e o Psicólogo Escolar. A identidade profissional tem sido tema constante em discussões e pesquisas que buscam compreender o papel, as características e as funções do psicólogo escolar. Mesmo tanto tempo após a regulamentação da psicologia enquanto profissão, este profissional ainda se sente confuso quanto a sua identidade e suas possibilidades de atuação. Como objetivos desta pesquisa, pode-se apontar a intenção de delinear formas de atuação do psicólogo escolar que pudessem atender as necessidades, dificuldades e expectativas de professores e diretores de escolas públicas como também verificar a possibilidade de adequação do modelo de consultoria ao sistema educacional brasileiro pelo psicólogo escolar como forma de suprir tais necessidades. Os resultados obtidos indicam que a psicologia e o psicólogo escolar tem um vasto caminho á percorrer no sentido de ser reconhecido e conquistar espaço na instituição escolar e para
tanto, deve utilizar-se de vários modelos de atuação, sendo um deles a consultoria escolar, remetendo-se a um trabalho multidisciplinar de cooperação e prevenção, atuando como profissional em saúde mental. A equipe escolar pouco tem se utilizado dos serviços deste profissional, embora reconheça a sua necessidade, o que abre espaço para a sua inserção desde que capacitado para entender as necessidades da escola.
						 vii
Rossi, G. (1996). School Psychologist: action in teachers and principals of public schools opinion . Master dissertation presented to the Institut of Psychology of Pontifícia Universidade Católica de Campinas, S. Paulo. (147 pgs).
ABSTRACT
A great quantity of material has been accumulated about psychology and school psychology. Professional identity ia an issue often discussed and investigated in order to understand the school psychologist’s roles, characteristics and functions. Although Psychology as profession was regulated as long time ago, there is still confusion about this professional’s identity and working possibilities. Therefore, the acceptable purpose of this research was to indicate models for school psychologists to provide best services to attend teachers and principal’s needs, difficulties and expectations. Another objective was to verify if the consultation model was aceitable to the Brasilian education system. The obtained results indicated that psychology and School Psychologisty need to be more recognized in the schools. Various working models have to be used where school consultation is included. Therefore, it is recommended to the school psychologisty the role of a mental health agent, working im a multidisciplinary tean in a collaborative and preventive model. The staff has seldom requested the school psychologist’s services although the importance of his/her function is understood. Concluding, if the school psychologist is well prepared there will be oppotunities for a valuable practice in our education.
APRESENTAÇÃO
x
APRESENTAÇÃO
	Sempre houve e sempre haverá uma necessidade muito grande em se vislumbrar novas possibilidades no que diz respeito ao trabalho do psicólogo escolar, até para que se possa redimensionar e ampliar as perspectivas de atuação profissional com constância proporcional ao desenvolvimento sócio-cultural do país e as premências decorrentes, junto a população atendida por este profissional.
Identificar quais as necessidades e expectativas e quais os modelos de atuação do psicólogo no contexto escolar atual, são os motivos que impulsionam o andamento deste projeto.
No capítulo inicial deste trabalho serão abordados os aspectos históricos do desenvolvimento da psicologia escolar nacional e internacionalmente e serão descritos os modelos teóricos que determinam as ações e funções como também as características do profissional na área, propostas de atuação ao profissional numa perspectiva nacional e também internacional, também serão descritas
Definições do psicólogo escolar, fatores que determinam dificuldades na prática cotidiana, a identidade e o despreparo profissional e algumas pesquisas que buscam clarificar e impulsionar a atuação profissional, serão aqui encontradas, no primeiro capítulo.
No capítulo seguinte, surge a consultoria como processo preventivo e como um caminho, uma via de entrada à atuação e aceitação do psicólogo no ambiente escolar; uma forma de sensibilizar a população envolvida, tendo como objetivo a resolução de problemas de maneira colaborativa, visando o restabelecimento e a manutenção da saúde mental da criança ainda em fase escolar.
xi
Os propósitos e conceitos encontrados na literatura nacional e internacional sobre consultoria escolar, quanto ao processo de consultoria e o consultor escolar , serão comentados no segundo capítulo .
Uma breve perspectiva histórica que remete ao desenvolvimento da consultoria enquanto processo e as pesquisas atuais na área, são assuntos abordados neste segundo capítulo, incluindo-se os objetivos de pesquisa, assim como as hipóteses desenvolvidas.
O capítulo 3 fará a descrição da metodologia de trabalho, dos sujeitos, material e procedimentos utilizados. Finalmente, no capítulo 4, apresenta-se o delineamento dos resultados obtidos, afim de traçar diretrizes para o desenvolvimento da psicologia escolar.
CAPÍTULO I
CAPÍTULO I 
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 
Ainda hoje, muito se discute a respeito do papel do psicólogo na área escolar, na busca de uma identidade profissional permeada por objetivos claros, que possam determinar uma atuação mais direcionada.
Pode-se dizer que uma nova trajetória vem sendo traçada na psicologia escolar brasileira; muitas mudanças estão ocorrendo, orientadas, talvez, pela própria prática profissional, direcionadas à descoberta de novos rumos na atuação.
Na concepção de Pfromm Netto (1985):
	“São antigas, íntimas e fecundas as relações entre psicologia e a escola” e acrescenta ainda, “que hoje em dia, acha-se mais ou menos conciliada a diferenciação entre psicologia educacional e psicologia escolar, muito embora essas especialidades tenham muita coisa em comum...” (pg 13-1 13-2).
O autor esclarece, ainda, no decorrer de seu texto, que os psicólogos educacionais são predominantemente propensos a trabalhar como docentes 
A Psicologia e o Psicólogo Escolar		 3 
pesquisadores em instituições de ensino e os psicólogos escolares dedicam-se mais ao diagnóstico, à intervenção e ao aconselhamento de crianças e adolescentes, podendo, inclusive, atuar como consultores a docentes, pais e diretores.
Mas há autores, como Almeida e Guzzo (1992), que consideram psicologia escolar e educacional como equivalentes:
	“A psicologia da educação, área mais geral e teórica, refere-se à investigação e à formação de professores e agentes educativos, enquanto que a psicologia escolar focaliza a intervenção e atuação dos profissionais psicólogos” (pg.118), 
e ressaltam, também, a necessidade de se considerarem as realidades distintas entre os diferentes países, no que diz respeito à conceituação e aos limites das atividades profissionais.
Del Prete (1993), traçando um paralelo entre psicologia educacional e educação, menciona que: 
“Com base em algumas considerações sobre a história das relações entre psicologia e educação, defende-se que a identidade do psicólogo, pelo menos no contexto educacional brasileiro, deveria estar vinculada à sua autodenominação enquanto psicólogo escolar/educacional... as relações entre psicologia escolar e educação têm sido abordadas geralmente em um sentido unidirecional de contribuições da primeira à segunda, 
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 4 
requeridas e/ou propostas antes mesmo do surgimento da psicologia como ciência”(pg126). 
Continua afirmando que a psicologia escolar surge “no bojo” da psicologia educacional, com o intuito de profissionalizar e atender, assim, a demanda educacional. 
A psicologia escolar é uma área desconhecida pelos profissionais de educação, sejam eles professores, diretores, “burocratas das delegacias de ensino” ou estudantes de psicologia que atuam sob um olhar ultrapassado e restrito no que se refere ao que pode ser desenvolvido pelos psicólogo escolar. A expectativa que se tem sobre os serviços que um psicólogo pode prestar, volta-se para a psicologia clinica, ou seja, restringe-se ao atendimento do aluno problema, na tentativa de diagnosticar e modificar comportamentos considerados inadequados.
 (Ribeiro e Guzzo, 1987) afirmam que: 
“O psicólogo escolar deve ter objetivos mais amplos do que remediar problemas individuais. Se o trabalho do psicólogo na escola
se restringir ao atendimento do aluno-problema, estará não só limitando sua atuação, a qual poderia, se de outra forma, atingir um número maior de estudantes, como também estará contribuindo diretamente para a manutenção do modelo educacional vigente e que é a origem e a causa de muitos dos problemas encontrados nas escolas( pg 88).
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 5 
Diante de tantos questionamentos não fica difícil imaginar quão conturbada e nebulosa se faz a atuação deste profissional que ainda procura respostas e modelos teórico-práticos que embasem seu trabalho. O que acontece, na maioria das vezes, é que o profissional não consegue desvincular-se das expectativas sobre seu desempenho. Além destes obstáculos, Novaes (1992) classifica, em quatro níveis, as dificuldades básicas de atuação profissional: 1. individuais - que se referem aos problemas pessoais; 2. profissionais - que abrangem postura, motivação, problemas de formação, pouco conhecimento do campo de trabalho e de seu espaço profissional; 3. sociais - onde aponta os próprios grupos com os quais se trabalha nas escolas e suas dificuldades como condições econômicos, a carência e o sistema de ensino e o institucional; 4. de resistência à aceitação do profissional, que, muitas vezes, é percebido como figura ameaçadora e persecutória e inclui a superposição de papéis, a falta de liberdade de ação dentro da escola entre outros tantos.
Eiserer (1971) também aponta fatores que limitam e influenciam a atuação do psicólogo na escola: 1. a comunidade - que tem refletido na escola suas limitações e defeitos, assim como seus valores e aspirações. São estes aspectos que determinam as expectativas sobre a contribuição que o psicólogo oferece ao cumprimento dos objetivos educacionais; 2. a escola - que pode ser considerada em si mesma como um sistema social com expectativas, reforços, castigos e níveis hierárquicos próprios que podem afetar, determinar e até modificar a atuação profissional e o trabalho do psicólogo escolar, “se um diretor de escola têm atitudes negativas pela psicologia ou, por algum motivo, pelo psicólogo, é pouco provável que se utilize destes serviços de forma ampla e beneficiosa” (pg 24); 3. programas de capacitação e formação - onde as universidades é que são responsáveis pela influência que exercem 
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 6
sobre a definição das funções do psicólogo e suas linhas de atuação. O autor aponta para o fato de que “não se pode exigir que os psicólogos cumpram tarefas para as quais não receberam instruções suficientes... tanto as universidades quanto as escolas tem a missão estratégica de modelar a nova profissão do psicólogo” (pg 26); 4. a imagem profissional de si mesmo - já que alguns profissionais reagem frente ao que os demais esperam dele e fazem o possível para satisfazer suas expectativas, anulam-se, acomodam-se... “a avaliação permanente de sua própria imagem profissional pode ser a melhor aliada para o seu aperfeiçoamento”( pg 30).
Refletindo em torno destas questões, podemos apontar alguns dos motivos que colaboram para as dificuldades profissionais encontradas pelos psicólogos, como a falta de identidade profissional, a formação acadêmica e a realidade educacional brasileira que conta com escolas, principalmente as de rede pública, que ainda não trabalham seguindo diretrizes comuns, padronizadas e integradas entre si.
Frente às duvidas e despreparos que o psicólogo enfrenta em sua atuação, este depara-se ainda com sua própria inadequação em determinados contextos. Santos (1989) atribui as deficiências deste profissional à influência que “valores, atitudes, preconceitos e estereótipos relacionados à psicologia, exercem sobre as representações que modelam suas expectativas e aspirações acadêmicas e profissionais” (pg 6). Acredita ainda que o psicólogo, em sua especialidade, se defronta com práticas pouco científicas e baseadas em conceitos de senso comum que acabam por “banalizar” a psicologia, vulgarizando e distorcendo as aplicações dos seus métodos e técnicas influenciando na imagem da profissão. Mello (apud Santos 1989), concorda ao dizer que:
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 7
 “a imagem adequada da profissão só pode ser mantida e criada através de atividades e de serviços que os profissionais prestam ao público. A demarcação das fronteiras entre a competência e as práticas não científicas só poderão consolidar-se à medida que o próprio psicólogo possua uma imagem adequada da função social da profissão e estenda os seus conhecimentos e técnicas a uma parcela considerável da população” (pg 7).
 
A influência de modelos internacionais também se faz significativa em relação às dificuldades de atuação e na imagem do papel profissional. Os parâmetros para atuação são comumente procurados dentro de um âmbito internacional a fim de propiciar um modelo mais amplo e adequado de intervenção que acaba na implantação destes modelos que, com freqüência, não se adaptam ao contexto e à realidade das escolas brasileiras, resultando na obtenção de resultados pouco eficientes, contribuindo para o descrédito e inadequabilidade profissional.
	Para que se possa entender melhor o caminho que traça e como se chega à imagem social que tem, hoje, a psicologia e seu profissional, se faz necessária uma retomada histórica. Então, de onde vem a psicologia escolar? Quem é o psicólogo escolar? Quais os modelos dos quais se utiliza? Como se dá sua formação profissional?
Uma Breve Abordagem Histórica Nacional e Internacional
	Abordagem Nacional
Na perspectiva de Oakland e Sternberg (1993), o desenvolvimento da psicologia em diversos países difere entre si, além de sofrer a influência de aspectos específicos da psicologia que se desenvolve nos países ocidentais.
Na realidade brasileira, a história da psicologia escolar caminha paralelamente ao próprio desenvolvimento histórico da psicologia enquanto ciência no mundo, desenvolvimento este que acompanha e se adequa às mudanças ocorridas nas áreas educacional e social de diferentes momentos históricos do país. 
Oakland e Cunnigham (1995), afirmam que “a preparação em psicologia, incluindo a psicologia escolar, é influenciada, em parte, e especialmente pela história, cultura e economia de cada país” e apontam como fundamentais, as diferenças internacionais na distribuição de serviços da área (pg 2).
Sempre norteada pelo desenvolvimento histórico da psicologia enquanto ciência, a psicologia escolar também está ligada ao desenvolvimento da educação no país. Utilizada como meio de difusão da psicologia, as escolas sediavam laboratórios de estudos marcados como produtores e disseminadores de conhecimento, principalmente através do ensino normal, destinado à formação de professores.
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 9 
É conhecido como marco inicial da chamada psicologia escolar, o trabalho de Wundt, que, após a criação do Laboratório Experimental de Psicologia, no ano de l879, deixa de ser apenas uma ramificação da filosofia para ser reconhecida como ciência. Nesta época, século XIX, enquanto contexto social, encontra-se a consolidação do capitalismo como forma de organização econômica nas sociedades ocidentais, regida pelo liberalismo, onde a sociedade feudal era substituída pela burguesia, o que possibilitava a superação do estado de servidão e a ascensão social obtida por méritos pessoais. Em paralelo, a atividade científica caminha em busca de conhecimento sobre as formas de adaptação dos variados organismos ao meio; à psicologia experimental delega-se a função de determinar os padrões de comportamento normais e anormais,
como um modelo. (Souza, 1992).
 A educação, neste momento, é vista pelo estado capitalista como uma saída à homogeneização dos indivíduos na tentativa de se providenciar mão de obra especializada para acompanhar o desenvolvimento do setor produtivo.
Ao final do século XIX, os ideais da sociedade burguesa não haviam sido alcançados, ou seja, a existência de uma sociedade livre e justa onde o homem ascenderia por seu mérito pessoal através da igualdade social. A educação era vista como provedora de recursos para o desenvolvimento deste homem. Mas o que aconteceu na verdade, é que a igualdade tão desejada não chega a ser alcançada pelas diferenças individuais que hoje reconhecemos em cada pessoa e que na época não foi considerada ( Souza, 1992).
		Ainda sob a perspectiva deste autor, a partir deste contexto, a psicologia passa a ter a função de verificar, explicar e 
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 10
mensurar as diferenças individuais no desenvolvimento da inteligência e personalidade. Nomes como Galton, Simon e Binet evidenciam-se, entre outros pelo desenvolvimento de instrumentos de mensuração, os primeiros da psicologia, para diagnosticar e avaliar problemas de aprendizagem em crianças.
Nasce então, a psicologia escolar, atrelada à psicometria desenvolvendo inicialmente atividades de avaliação, diagnóstico, encaminhamento de crianças com problemas escolares, nos mais diversos aspectos da aprendizagem.
 “A psicologia escolar no Brasil teve seu inicio marcado mais pela psicometria. ... Era uma atuação marcadamente remediativa com nuances do modelo médico dentro da situação escolar” (Guzzo e Wechsler 1993, pg 43).
Para Souza (1992) e Leite (1991), no Brasil, o caminho da psicologia escolar inspirou-se no modelo europeu existente, influenciado, nos princípios do século XX, pela criação do Gabinete de Psicologia Científica da Escola Normal Secundária de São Paulo - 1914, cuja produção teórica baseava-se na psicofísica e psicometria. Um outro marco nacional, foi a fundação da Clínica de Orientação infantil, junto ao Serviço de Inspeção Médico-Escolar do Instituto de Higiene de São Paulo, em 1938 por seu fundador, Durval Marcondes. Instaura-se, portanto, o que podemos chamar de modelo clínico de atuação, onde as atividades eram realizadas em consultórios particulares, longe do ambiente escolar. Achava-se, então, que o comportamento se determina por fatores externos ao indivíduo, onde o ambiente se torna secundário.
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 11
Na concepção de Pfromm Neto (1995a) , em artigos sobre os “Pioneiros da Psicologia Escolar” no Brasil podem representar-se por Manoel Bergstrom Lourenço Filho, que, formado em magistério no ano de 1917, tem sua carreira docente iniciada no ano de 1920, quando assume o cargo de professor substituto em pedagogia e educação cívica em São Paulo. De 1921 até 1924, Lourenço Filho foi professor de psicologia e pedagogia em Piracicaba e, neste intervalo de tempo, o governo Cearense o convida para trabalhar e reorganizar o ensino público do Estado - tarefa que desempenha por dois anos, 1922 e 1923.
Na Escola Normal de Piracicaba, ainda segundo Pfromm Netto, o tempo de serviço de Lourenço Filho era dedicado, também, a pesquisas nas áreas de psicologia e pedagogia onde criou um Laboratório de Psicologia e fundou a Revista de Educação, onde divulgou seus estudos e investigações que, na década de vinte, foram também divulgados em jornais paulistanos, abordando sempre a criança como tema. No período de 1925 a 1930 Lourenço Filho ministrou aulas como professor da Escola Normal de São Paulo onde contribui com publicações valiosas como a organização de uma coleção de obras especializadas intitulada “Biblioteca da Educação” com vários volumes publicados, assinados pelos mais expressivos nomes da Psicologia e Pedagogia com Simon e Binet, Claparéd, Dewey, Estevão Pinto, Sampaio Dória, Abner de Moura entre tantos outros. 
Em seus artigos sobre os pioneiros da psicologia escolar no Brasil, Pfromm Netto (1995 b, vl 7) cita também Norberto de Souza Pinto, formado pela Escola Normal de Campinas em 1917, ano em que fundou e passou a dirigir e lecionar na primeira Escola para a Infância Retardatária do Estado de São Paulo.
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 12
Mais tarde, como professor de psicologia do Instituto Educacional Carlos Gomes em Campinas, dedicou-se à educação de crianças excepcionais - crianças retardadas, alunos lentos, crianças que não conseguiam aprender, sempre pesquisando e publicando paralelamente, folhetos, artigos e livros na área. Pfromm Netto ressalta que em 1938 Souza Pinto foi um dos expositores do primeiro Congresso de Psicologia realizado no Estado de São Paulo onde tratou do tema “As crianças anormais através da psicopedagogia”, mencionando inclusive perspectivas internacionais ainda inéditas no país. 
Retomando Souza (1992), em sua retrospectiva histórica, na década de 30, a partir da expansão industrial brasileira, surgem as escolas técnicas e os cursos profissionalizantes ( SENAI, SESI, Instituto Universal Brasileiro) e a psicologia passa a contribuir com a criação de programas de orientação vocacional como forma de incentivar a formação técnica. 
Ao final da década de 60, sob o regime militar, ocorre uma reforma universitária, onde predominavam grupos de trabalhos formados por burocratas, sem a participação estudantil. Criaram-se mecanismos que impulsionavam a universidade a fornecer mão-de-obra e tecnologia que atendessem às necessidades do regime político vigente. Nesta mesma época, surgem movimentos estudantis que se apoiam sobre uma proposta de educação popular. Ocorre a ampliação da rede pública de ensino concomitantemente a uma progressiva democratização do sistema, em contraste com a falta de estrutura da escola para receber uma nova população de alunos, agora com uma nova consciência política, social e educacional.
Na década de 60, ocorre como marco, a regulamentação da psicologia enquanto profissão, o que torna legalmente definida então, a posição do psicólogo escolar.
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 13
Daí para frente, a partir da década de 70 e 80, a psicologia escolar passa a dar ênfase a outros segmentos da educação, sempre de acordo com as contingências sociais e políticas ampliando suas vias de atuação, Leite (1992).
Após 1977, o enfoque de ação da psicologia escolar desloca-se para os problemas surgidos nas séries iniciais do 1o grau ( marginalização, repetência, evasão escolar). Com a aprovação da lei no. 7348, de 24.07.85, que fornece incentivos aos municípios para a manutenção e o desenvolvimento do ensino, o psicólogo ganha novo campo, inserindo-se nas creches e pré-escolas, atendendo principalmente as classes populares, numa abordagem de atendimento clínico a casos individuais, caracterizados por psicodiagnósticos e organização de classes especiais, Souza, (1992). 
O enfoque de ação do psicólogo escolar se desloca para problemas surgidos nas séries iniciais do 10 grau como a marginalização, repetência e evasão escolar, atendimento as classes especiais e deficientes mentais, tratamento de distúrbios de comportamento e orientação para pais e professores.
Nos anos 90, ocorrem o 1o Congresso Brasileiro de Psicologia Escolar com a decorrente formalização da ABRAPEE ( Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, e a realização, em 1994, do XVII Congresso Internacional de Psicologia Escolar e II Congresso Nacional de Psicologia Escolar , sediados no Brasil, comprovando assim, o desenvolvimento e reconhecimento da psicologia escolar no país.
ABORDAGEM INTERNACIONAL 
A origem e evolução
da psicologia escolar vincula-se ao próprio desenvolvimento da psicologia na América do Norte e em países europeus de características culturais semelhantes.
Na perspectiva de Brown (1992), o desenvolvimento da psicologia escolar é um fenômeno recente que tem suas origens no desenvolvimento social e profissional do psicólogo e da educação.
Oakland e Sternberg (1993) afirmam que “O nascimento da psicologia ocorreu na Alemanha, quando Wundt estabeleceu um laboratório para estudar psicologia em 1879 ”. Houve, então, um deslanche rápido nas áreas da psicologia acadêmica-científica e da psicologia aplicada. Afirmam, ainda, que durante os cinqüenta anos subseqüentes ao seu nascimento, a psicologia desenvolveu-se apenas nos países da Europa e também América do Norte, através de William James que levou a psicologia da Europa para a América.
 Somente depois da Segunda Grande Guerra é que a ciência da psicologia alcança dimensões internacionais, chegando ao reconhecimento mundial, incluindo-se também a psicologia escolar. 
De acordo com Meyers, Parsons e Martin (1979), no final do século passado, havia uma expectativa por parte da sociedade de que a escola fosse um agente de socialização da cultura, o que isentava os pais da responsabilidade pela educação de seus filhos, originando um clima de pressão sobre a atuação da escola que deveria assumir esta responsabilidade, cujo foco centrava-se em problemas educacionais e de aprendizagem. 
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 15
A visão que se tinha então sobre a psicologia, restringia-se a uma ciência de leis mentais e portanto algo distante dos programas, métodos e esquemas definidos de instrução em sala de aula: ensinar era considerado uma arte e por isso incompatível com qualquer ciência (Meyers, Parsons e Martin, 1979). 
Para Fagan (1988), historicamente, “os serviços psicológicos emergiram das atividades de Lightner Witmer, na clínica psicológica ( a la nos EUA) que fundou na Universidade da Pensylvânia em 1896, tendo, por isso, sido considerado por muitos como o pai da psicologia clínica e escolar”.
Em síntese histórica, este autor considera ainda, que o desenvolvimento histórico da psicologia escolar pode ser dividido em dois momentos: os anos Híbridos ( de 1890 a 1969) e os anos Dourados ( de 1970 a 1988). O primeiro foi um período em que a psicologia escolar contava com uma mistura de diversas práticas educacionais cujas origens dos serviços em psicologia escolar, eram oriundas de uma época de reformas sociais, considerando-se que a América vivia um período de imigração intensa, educação compulsória e leis de trabalho infantil, originando assim a necessidade da criação de serviços especializados para um trabalho conjunto aos crescentes serviços de reforço e educação especial direcionados à nova demanda social. 
O segundo momento caracterizou-se pelo aumento do número de programas, práticas profissionais, associações de estado e pela expansão da literatura, pelas regulamentações e outros fatores mais que 
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 16
contribuíram para a estabilização “do ente profissional chamado de psicologia escolar”, Fagan (1988).
O interesse pela aplicação da psicologia a crianças e escolas foi levado adiante por estudiosos americanos e europeus como Gesel, Cattel, Terman entre outros. Outro grande nome foi G.Stanley Hall que fundou a Americam Psychological Association - APA, em 1892. Em contraste com os métodos clínicos de Witmer, Hall precursiona o movimento de estudo da criança, o que influenciou o estabelecimento e funcionamento do departamento de ciências pedagógicas da escola pública (Oakland e Wechsler, 1988).
Segundo Meyers, Parsons e Martin (1979), em 1896, durante a reunião da APA (American Psychological Association), 4 anos após a sua criação, foram apresentados relatos que expressavam o interesse por parte de Witmer em estabelecer relações entre o departamento de psicologia da Universidade da Pensylvânia e o sistema escolar público da Philadelphia. Nesta ocasião, ficou claro que a melhor forma de abordagem para o estabelecimento inicial deste vínculo se daria através do estudo e tratamento da criança excepcional e o caminho se estabelece então, rumo à efetivação de medidas preventivas numa orientação de saúde mental comunitária, através de técnicas, como a consultoria escolar oferecida a professores pelo psicólogo. Tais contribuições para a área escolar da psicologia, derivadas do desenvolvimento da teoria de saúde mental comunitária, foram trazidas pelo inglês Caplan aos Estados Unidos após a II a Guerra Mundial.
A Psicologia e o Psicólogo Escolar 17
Entre 1920 e 1940, um período considerado formativo, a psicologia carece de características profissionais como autonomia, controle de treinamento, credenciamento, prática profissional; o modelo clínico ainda predomina porém, surgem os primeiros jornais e revistas relacionando psicologia e educação.
Nas décadas seguintes, cresce o número de credenciamentos de profissionais, há um certo reconhecimento profissional e um aumento no volume de publicações que evidenciam inclusive, a confusão de papéis e problemas de identidade profissional, ou seja, uma lacuna nos conceitos de psicologia e psicologia escolar, ( Fagam 1990).
Neste mesmo período, com base em Arbués (1991), e tornando-se mais abrangentes as linhas de evolução histórica da psicologia escolar, não se pode deixar de considerar que o exercício profissional modifica-se, em sua história e desenvolvimento, de sociedade para sociedade.
Na Espanha, por exemplo, na visão de Arbués e Lois (1993), a psicologia é reconhecida como profissão há, relativamente, pouco tempo, mesmo considerando a contribuição de estudiosos de renome e propulsores da psicologia científica e aplicada. Seu desenvolvimento ocorre de forma descompassada como conseqüência das guerras civis que o pais vivencia ao longo de sua história. 
 Neste país, psicologia escolar e psicologia da educação ocupam campos diferenciados em sua ação: a primeira é mais presente na atuação prática, e a segunda, utilizada com mais freqüência no meio acadêmico. Os profissionais envolvidos em tarefas educacionais, por sua 
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vez, são chamados “psicólogos educativos”, ou simplesmente por psicólogos - sem outras denominações.
Em Portugal, a psicologia se desenvolve, no começo do século XX, através de estudos de personalidade, da psicanálise, a memória e a inteligência. Só em 1912-14 é que foi criado o 1o laboratório de Psicologia na Faculdade de Coimbra e então realizados trabalhos em psico pedagogia e psicologia experimental; os primeiros profissionais licenciados em psicologia surgem ao final da década de 70 ( Oliveira, 1992).
A psicologia enquanto ciência, teve seu desenvolvimento paralelo ao de outros países europeus, como assinalado por Almeida (1993):
“Datam do começo do século, os estudos em Portugal sobre a personalidade, psicanálise, memória e inteligência. Também, já em 1912-14 é criado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o primeiro Laboratório de Psicologia em Portugal e nele se efetuaram trabalhos em áreas como psicopedagogia e psicologia experimental”.
Este autor relata que a utilização prática destes conhecimentos deu-se na formação de professores primários e, mais tarde, para profissionais de outros níveis pelas disciplinas introdutórias e gerais de psicologia.. “As disciplinas de psicologia que integravam as licenciaturas em filosofia, possibilitaram o aparecimento dos primeiros serviços de “psicotecnia” para o exército, educação especial, centros de orientação escolar, saúde mental” (pg 131). Esses dados clarificam o fato de que a 
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Escolar 19 
prática da psicologia neste país era feita por licenciados em filosofia, medicina, teologia ou sociologia, do país ou do estrangeiro. Tal situação só se modificou no final da década de 70, início da de 80, quando se licenciaram os primeiros profissionais em psicologia pelas universidades públicas do país. Diz que o período de ditadura no país foi pouco fértil para as pesquisas e desenvolvimento da psicologia em nível da investigação, formação e prática. Mas o “arranque da psicologia” ocorre, efetivamente, com a criação da licenciatura em psicologia pela Universidade de Lisboa em 1976/77 (Almeida, 1993).
Na Inglaterra, em 1913, ocorre a 1a contratação oficial de um psicólogo para atuar em estabelecimentos de ensino; e na França, as pesquisas de Simon e Binet avançam no desenvolvimento de instrumentos para medidas de inteligência para o estudo de alunos incapazes de acompanhar o ensino elementar ( Oliveira, 1992).
A partir da década de 70, ocorre o aumento das práticas na área, e o surgimento de atividades de associações nacionais e estaduais como a NASP, que desenvolve e implementa um guia de atuação prática para o psicólogo escolar (Fagam, 1990).
Entre as décadas de 1970 e 1990, nota-se o crescimento da literatura especializada, o surgimento das especializações na área, uma ampliação das áreas de atuação e também o aumento do número de pesquisas, caracterizando este, como um período de preocupações com a pr;atica profissional, com a demanda social e com os aspectos preventivos.
 Atribuições, Funções e Características Profissionais
Mas, afinal, quem é o psicólogo escolar?
“Se perguntarmos a professores e pais o que o psicólogo escolar faz, são boas as chances de obtermos uma dentre as respostas: 1. eles não vão saber o que é um psicólogo escolar; 2. vão dizer que são profissionais que aplicam testes em crianças atípicas; ou 3. vão descrever funções comumente atribuídas aos psiquiatras ou psicólogos clínicos” Bardon (1982)
De acordo com Novaes (1972), “Não é tarefa fácil definir as funções do psicólogo escolar que possam ser aplicadas a todos os casos e situações escolares, pois variam de acordo com a natureza das estruturas escolares, das características da população escolar, da qualificação profissional dos técnicos dos serviços de psicologia e orientação” (pg 25).
Para Witter (1992): "A atuação do psicólogo educacional e escolar no Brasil, embora tenha crescido nas últimas décadas, especialmente nos anos oitenta, ainda está muito aquém do que se encontra em países onde esta área tem uma longa tradição em pesquisa e de atuação profissional “ (pg 23).
Em igual situação encontram-se alguns países sul americanos como o Paraguai que, de acordo com referências de Garcia (1993), “... uma das maiores dificuldades que enfrentam os psicólogos educacionais, é a insuficiente delimitação de suas atividades profissionais” ( pg107).
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Em Portugal, como características da prática atual do psicólogo escolar segundo Almeida (1993), encontra-se: a. o abandono do modelo médico de intervenção; b. não concentração de seu trabalho somente em alunos- problema “vem assumindo progressivamente a forma de consultoria e de formação dos vários agentes escolares, familiares e comunitários de educação e desenvolvimento”, trabalhando conjuntamente com equipes multidisciplinares, dentro de uma abordagem ecológica de intervenção.
Já em países latino americanos, como o Paraguai, o psicólogo educacional orienta sua atuação para as atividades de avaliação e mensuração psicológica, tanto em nível primário quanto secundário, tanto em avaliação de prontidão para leitura e escrita, diagnóstico e detecção de alunos- problema, quanto para distúrbios emocionais e de comportamento, para orientação vocacional através de trabalhos individuais ou grupais. Os casos de distúrbios mais graves são encaminhados geralmente aos profissionais denominados clínicos ou à psicólogos educacionais em trabalhos independentes, segundo Garcia (1993).
Em Cuba, Martinez e Léon (1993) apontam como funções fundamentais do psicólogo escolar: a. elaborar programas educacionais e contribuir para sua confecção de; b. participar da elaboração de programas instrucionais; c. participar das determinações político-educativas na instituição; d. auxiliar no desenvolvimento infantil; e. atuar como consultor; f. contribuir para o aperfeiçoamento da formação psicológica de docentes, tendo sempre em vista o desenvolvimento da personalidade dos educandos.
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No Brasil, a nova trajetória aponta para o perfil de um profissional envolvido em questões relacionadas ao sistema educacional, mas que, não obrigatoriamente, atua diretamente nas escolas, na visão de Wechsler e Guzzo (1992). 
A ABRAPEE ( 1991) - Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, fundada em 1991 considera as seguintes definições em seu estatuto : 
 “Entende por psicólogos escolares e educacionais aqueles profissionais que, devido a sua preparação universitária em psicologia e experiências subseqüentes nas áreas escolar e/ou educacional, trabalham para melhorar o processo de ensino aprendizagem em seu aspecto global (cognitivo, emocional e social), através de ações ou serviços oferecidos a indivíduos, grupos, famílias e organizações”. As áreas de atuação dos profissionais, que abrangem uma ampla gama de serviços, incluem “avaliação psicológica, orientação pedagógica e vocacional, intervenção, reabilitação, consultoria, treinamento, supervisão, encaminhamento, desenvolvimento organizacional, seleção de pessoal, implantação e acompanhamento de programas e atividades de prevenção” ( pg 2).
Nas definições encontradas no Dicionário das Profissões CIEE/MEC (1981): 
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“O psicólogo educacional ou escolar atua como um consultor que fornece esclarecimentos, estuda problemas, assessora na compreensão dos fatores que influenciam o comportamento do educando. Oferece informações e discute medidas a serem tomadas com o propósito de solucionar os problemas de ordem psicológica”. (pg 861).
Ysseldyke (1986) define como funções do psicólogo escolar: o trabalho com comunicação interpessoal e consultoria, com auto-estima, interação social, participação de pais, organização e estruturação da sala de aula, desenvolvimento pessoal, desenvolvimento e planejamento de sistemas, desenvolvimento e aprendizagem, as relações comunidade-escola, instrução, avaliação, pesquisa, questões éticas e legais, conceitos multiculturais e menciona: 
“Psicólogos escolares trazem ao sistema educacional uma base de conhecimento derivada da teoria e pesquisa em psicologia clínica, experimental, educacional e geral, que possam ser aplicados à solução de problemas educacionais” (pg 37).	
A psicologia escolar é ainda confundida com a psicologia clínica, em instituições e serviços que se destinam ao atendimento de crianças com problemas mentais e comportamentais: "dificuldades de aprendizagem, problemas emocionais e distúrbios que, em maior ou menor escala , interferem no ajustamento pessoal e social da criança, ... " Pfromm Netto (1990).
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Para Reger (1986): 
 “O psicólogo escolar atua em primeiro lugar, de acordo com um papel de educador. Seu objetivo básico é ajudar é ajudar a aumentar a qualidade e eficácia do processo educacional através dos conhecimentos psicológicos. Ele está na escola para ajudar a planejar programas educacionais para as crianças”( pg 9).
É claro que todo profissional que trabalha com atividades educacionais
deve priorizar o papel de educador; portanto o psicólogo escolar deve refletir sobre o que é a educação e assim “obterá bases para o desenvolvimento de um papel profissional que se apresenta confuso , nebuloso e indefinido, sem parâmetros, porque recente e pouco valorizado entre profissionais de psicologia, fato este decorrente da desvalorização da educação no país, ”Khouri (1984).
De acordo com as atribuições profissionais do Psicólogo no Brasil , redefinida em publicação recente pelo Conselho Federal de Psicologia (1985):
 “O psicólogo, dentro de suas especificidades profissionais, atua no âmbito da educação, saúde, trabalho, justiça e comunidade, em nível primário, secundário e terciário”. No que diz respeito a área educacional, tem a função de colaborar na compreensão e na mudança de comportamentos de educadores e educandos dentro do processo de ensino-aprendizagem, nas relações e nos processos intrapessoais intrínsecos ao 
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ambiente educacional. Descreve como atribuições deste profissional:
 a.colaborar na apropriação de conhecimentos ligados a psicologia por parte de outros profissionais, viabilizando a consecução crítica e reflexiva do seu papel; 
				b.desenvolver trabalhos com educadores e educandos com o objetivo de propiciar crescimento individual; 
c.desenvolver atividades que possam identificar e resolver problemas psicossociais, trabalhando com pais, alunos, diretores, técnicos e pessoal administrativo; 
d. favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento através do conhecimento das relações estabelecidas entre professor e aluno;
e. fundamentar a atuação profissional, tanto do psicólogo, de professores e demais usuários do sistema educacional se utilizando de pesquisas que possibilitem o conhecimento das características psicossociais de sua clientela; 
f. atuar em trabalhos de equipe de planejamento insurrecional, curricular e de políticas educacionais, com foco nos processos de desenvolvimento humano, da aprendizagem e das interrelações;
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g. desenvolver projetos de orientação profissional pensando no pleno aproveitamento e desenvolvimento humano; 
h. identificar as necessidades dos alunos atípicos, encaminhando aos serviços pertinentes caso não haja a possibilidade de solução dentro da própria escola.
Para Guzzo e Ribeiro (1987), a imagem que se tem sobre o serviço psicológico na escola é a de que este funciona com o intuito de detectar e solucionar problemas emocionais, de aprendizagem ou de comportamento de alunos, ou seja, um modelo voltado para a psicologia clínica. Afirmam que o trabalho deste profissional deveria ocorrer em nível preventivo, dentro de uma atuação profilática onde “o psicólogo escolar passaria a ser um especialista que colabora com outros especialistas, fazendo parte da equipe de profissionais que atua como uma entidade global, mesmo com funções distintas” ( pg 89), trabalhando com problemas diversos, como por exemplo nas reformas educacionais ou como pesquisador, na detecção e solução de problemas , como um “ intermediário entre as propostas do sistema e a clientela - os alunos
Ao longo da história, percebe-se que o psicólogo vem desenvolvendo diferenciados papéis e funções que têm se norteado pela própria atuação, pelo desenvolvimento político social e científico e pela própria demanda da clientela atendida, na intenção de solucionar problemas encontrados no ambiente escolar, mais recentemente também, com a intenção de barrá-los, numa postura mais preventiva.
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Na sua prática, os papéis acabam se mesclando e são desempenhados concomitantemente, utilizando-se de técnicas e métodos que têm como objetivo auxiliar no ajustamento psicológico da criança e do ambiente escolar, buscando encontrar as soluções mais adequadas para os problemas que possam surgir, não somente junto às crianças, mas também à direção, corpo docente, pais e funcionários, como cita Novaes (1972).
Prestar serviços na área escolar implica em objetividade e flexibilidade, já que o objetivo final é o atendimento das necessidades e dificuldades do ambiente escolar. Sua atuação atingirá alunos, pais de alunos, diretores e também a funcionários, através de avaliação, diagnóstico, encaminhamento e orientação psicológica, buscando sempre o desenvolvimento integral dos indivíduos atendidos.
Mas esta atuação deve sempre levar em conta a população atendida, suas condições sócio-econômicas e, enfim, todas as suas características básicas , para que se possa contextualizar o indivíduo foco. A prática da psicologia escolar é determinada, em parte, pelas expectativas que a equipe escolar e pais idealizam sobre o trabalho e comportamento do psicólogo e, em parte, por fatores sociais, políticos, econômicos e educacionais, na concepção de Ysseldyke (1986).
O psicólogo deve desempenhar múltiplas funções que buscam atender às necessidades da instituição que ele assiste, com sua atenção voltada ao indivíduo ou grupo que atende de forma direta ou indireta. O conhecimento sobre outras especialidades que possam auxiliá-lo no que se refere ao desenvolvimento da criança, também se faz necessário, pensando no desenvolvimento de um trabalho em equipe multidisciplinar 
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Ainda sob o ponto de vista de Novaes (1972), o psicólogo desempenha papel significativo no processo educativo, considerando seu potencial e capacitação em contribuir para o atendimento e desenvolvimento educacional dos indivíduos. Dentro da escola, tem a oportunidade de contribuir para o corpo docente e direção, na tentativa de estabelecer uma unidade de atendimento à criança, de instigar o crescimento e aperfeiçoamento de professores e favorecer o relacionamento da escola junto à família e comunidade entre outros.
 Pfromm Netto (1990) afirma que: 
“Nas últimas décadas, multiplicaram-se as aplicações da psicologia e o âmbito de atuação do psicólogo alargou-se de tal maneira que, hoje em dia, dificilmente existe algum setor da atividade humana que dispense a presença e a ação, em maior ou menor escala, desse novo profissional” (pg 1-1). 
Nas definições da APA - Americam Psychological Association’s (1982), em seu “Guidelines for the Delivery of Services by School Psychologists, 
 “Os serviços do psicólogo escolar têm por objetivo promover a saúde mental e a facilitação da aprendizagem, utilizando-se de recursos como a avaliação psicológica e psicoeducacional, intervenções para a facilitação dos serviços educacionais, consultoria, programas de desenvolvimento de serviços a indivíduos, 
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sistemas administrativos e à comunidade envolvida, e a supervisão de serviços psicológicos na escola”.
Entretanto, ao considerar-se a grande variedade e complexidade de suas atribuições profissionais, não se pode deixar de retomar o processo de formação acadêmica que precede uma atuação capacitada.
Segundo afirmam Guzzo e Wechsler (1993), os problemas relacionados às dificuldades de atuação do psicólogo escolar no Brasil vêm desde sua formação acadêmica.
Para Witter (1995a), “é possível que o profissional não venha tendo condições quer na graduação, quer mesmo na pós-graduação, para capacitar-se para uma atuação adequada na área”. Em seu ponto de vista, considera a possibilidade de que os profissionais sequer conheçam as possibilidades de ação em seu campo de trabalho, o que vem acarretando uma “subutilização” do profissional e de seus serviços pelo “setor de administração das agências educacionais” incluindo-se ministérios e secretarias até
unidades e departamentos escolares. 
Acredita que a forma de se lidar com as variáveis que atuam sobre este contexto, seja a efetivação de uma revisão curricular no que se refere ao “panorama de atuação que estão apresentando ao futuro profissional e como o estão preparando para este mercado de trabalho”(pg 02), revisão esta que deve fornecer base e habilitação ao psicólogo de forma 
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que se possibilite o uso de estratégias e tecnologias que o capacitem a atuar no setor.
A formação do psicólogo demanda, de acordo com Pfromm Netto (1990), um melhor domínio de conhecimentos e procedimentos de caráter psicológico, incluindo-se o estudo de diferentes áreas de conhecimento. Os cursos de formação devem exigir embasamento em teoria, prática e pesquisa em psicologia e o currículo deve acompanhar o desenvolvimento científico e tecnológico atual.
Na concepção de Francisco e Bastos (1992), detém-se esforços na analise das tendências mais dominantes dentro da profissão sempre se enfocando os problemas, dificuldades e limites na atuação e deixa-se de dar ênfase “... aos processos dinâmicos, responsáveis pelo contínuo processo de transformação nas práticas profissionais e na formação...”
Almeida (1992) menciona, em sua exposição, que não existe um consenso no que diz respeito à formação do psicólogo, tomando-se por base a diversidade de currículos e modelos teórico-práticos nos cursos de diferentes psicologias . Diz que:
“...As deficiências e inadequações da formação, por outro lado, têm sido apontadas como as principais causas do despreparo do profissional para enfrentar, na especificidade de seu trabalho, a realidade brasileira, tão bem representado no microcosmo escolar... “ pg 187.
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Araújo (1992) defende o “paradigma” de que as informações transmitidas na graduação são condição basicas para que a atuação profissional do futuro psicólogo atenda as necessidades da clientela ou “demanda social”, produzindo-se, desta forma, um grande “vácuo” entre o que o profissional aprendeu e os desafios com os quais se defronta em sua prática cotidiana, transformando-se em uma variável determinante também no que se refere à formação profissional.
Entende-se, portanto, que, se a formação do psicólogo escolar não supre as demandas e necessidades emergentes da sociedade e da clientela que o procura, ela pode ser sinal de que os modelos de formação ainda não se situam dentro da realidade social do país, muito bem representada pelo microcosmo escolar.
Pesquisa realizada por Guzzo e Wechsler (1992), numa avaliação das dificuldades encontradas por profissionais da área, indica que 70% dos entrevistados sentem falta de oportunidades para intercâmbio profissional, 90% afirmam que as dificuldades vêm das deficiências de formação prática e teórica e 13% apontam o desconhecimento do papel do psicólogo escolar como dificuldades e limitações profissionais.
Spioli ( apud Araújo, 1992) diz que a formação do psicólogo, nos moldes atuais, contribui para a “construção de uma representação de competência profissional polivalente e onipotente...” o que induz o profissional a aceitar quaisquer solicitações feitas, na tentativa de garantir seu papel, “sua representação”.
Em complemento, Wechsler (1989a) menciona que:
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“... a atuação do psicólogo escolar no Brasil tem sido bastante criticada por priorizar o indivíduo, esquecendo-se do aspecto grupal, e por utilizar modelos inadequados à realidade brasileira...” (pg 23).
E continua com uma crítica ao uso excessivo de testes psicológicos na escola, caracterizando assim uma abordagem predominantemente clinica e portanto pouco educacional, que “não acrescenta muito a possíveis estratégias de ação dentro do contexto escolar”(pg 23)
Várias pesquisas brasileiras vêm sendo realizadas no sentido de clarificar e impulsionar a atuação profissional. Guzzo e Wechsler (1992), falando sobre “A nova trajetória da psicologia escolar”, com o propósito de traçar o perfil do psicólogo escolar que vem emergindo, através de dados colhidos no I Congresso Nacional de Psicologia Escolar, obtiveram, como resultados em sua pesquisa, que: 1. a orientação teórica dos profissionais é bastante diversificada, variando entre a linha cognitivista que predomina entre 29% dos entrevistados, a psicanalítica com 27%, a humanista com 23% e a comportamental com 18%; 2. quanto ao local de trabalho, o de maior freqüência é o 1o grau com 45% dentre os entrevistados, e em seguida a universidade onde estão 40% dos profissionais; 3. quanto às atividades exercidas, 78% relatam trabalhar com orientação ao professor. 70%, com atendimento aos pais; 60%, com observação de sala de aula. 50%, com encaminhamento de alunos; 45% com treinamento e workshops; 40% estão no ensino; 38% trabalhando com prevenção; 37%, em supervisão; 36%, em pesquisa e psicodiagnóstico; 35%, em avaliação de currículos e 32% em consultoria, entre outros. 
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Já Brandão e Courel (1992) investigaram a “correlação entre as possibilidades teóricas e a realidade prática da psicologia escolar”. Concluíram que: 1. é de consenso geral a efetiva dificuldade de inserção do psicólogo no mercado de trabalho o que aponta para uma não valorização do serviço prestado e dificuldades de atuação por fatores como salário, carga horária reduzida, demanda etc.; 2. que há uma falta de clareza definição de uma identidade própria, e uma caracterização profissional pelas atividades e tarefa, bastante diversificadas, configurando um quadro sem um sentido “filosófico profissional do fazer”, o que acaba redundando na reprodução de um modelo tradicional de atuação.
Witter, Witter; Yukmitsu, e Gonçalves, (1992), tiveram por objetivo investigar a contribuição textual publicada à atuação e formação do psicólogo escolar e levantar quais as áreas de atuação do profissional , quais as suas funções e a quem atendem. Após, investigaram anais, periódicos, universidades e bancos de dissertações e teses e concluíram que: 1. 68% dos profissionais da área atuam na escola; 9,3%, em universidades; 3,0% trabalham em várias instituições simultaneamente; 2. 21% fazem atendimento psicológico; 12,2% trabalham com prevenção; 10,8%, em serviços de consultoria; 10,4%, com orientação de professores; 9%, com psicodiagnóstico; 3. 33,5%, trabalha com alunos; 12,2%, com professores; 17,5%, com equipe escolar; 6,1%, com pais e 4,9%, com alunos com necessidades especiais. 
Em levantamento recente realizado por Witter (1995), que investiga as matérias publicadas no Boletim de Psicologia nos últimos 20 anos (de 1975 a 1995) e as compara com um levantamento paralelo também concluído por Witter (1975), no mesmo Boletim, porém investigando o período de 1949 a 1974, obtêm-se informações diversas quanto aos tipos de 
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trabalhos publicados nas diversas áreas da psicologia. Num total de 17 volumes e 156 artigos investigados na pesquisa de 1995, conclui-se que há um predomínio de publicações de artigos teóricos, 60% deles. Entre os assuntos abordados com maior freqüência estão a psicologia escolar, contando com 13,4% do total de artigos publicados, em seguida a psicologia clínica e teórica com 8,76%, desenvolvimento infantil com 7,73% e sobre formação e atuação profissional encontram-se 4,64 % de publicações. Ao comparar estes resultados com a pesquisa de 1975, pode-se notar que houve um aumento de interesse pelas áreas da psicologia educacional e escolar, na época contando com 7% do total das publicações e também nas áreas de desenvolvimento
infantil, da psicologia clínica e da formação e atuação do psicólogo que, simplesmente, não apresentavam publicações neste período. 
Atuação Profissional: Propostas Nacionais e Internacionais
Para o desempenho de suas atividades, é importante que o psicólogo apresente determinadas características pessoais e aptidões claramente desenvolvidas e também traços de personalidade correspondentes às características do trabalho que a profissão dele exige. O interesse pelos problemas humanos, o equilíbrio emocional, sociabilidade e flexibilidade são fundamentais a este profissional no desempenho de seus papéis profissionais.
Em seu trabalho, Witter (1977) cita alguns dos modelos de atuação do psicólogo escolar que serão mencionados a seguir, mesclados as pontuações de outros autores: 
 a. Psicólogo Escolar Clínico - Este tipo de atuação surge em decorrência do desenvolvimento da própria história da psicologia, sendo ainda calcada no enfoque médico, e foi o primeiro a ser adotado pelo psicólogo escolar. Sua área de atuação resumia-se ao ambiente seguro do consultório, onde o psicólogo trabalhava com crianças encaminhadas geralmente com distúrbios comportamentais, ou realizando um diagnóstico e aplicando posteriormente “técnicas psicoterápicas”. Trabalhando desta forma, o profissional basicamente se distanciava do ambiente de desenvolvimento da criança ou do ambiente causador dos problemas e não se envolvia em seu processo de ensino aprendizagem;
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desconhecendo métodos, materiais, relações estabelecidas pela criança, sem contar com o reduzido número de alunos que podiam ser atendidos.
Pode-se afirmar que este modelo toma uma abordagem tipicamente remediativa, na qual o psicólogo se resume a testar, diagnosticar e abafar as causas das dificuldades, tratando exclusivamente dos sintomas identificáveis de crianças com problemas, restringindo, desta maneira, o impacto da ação deste serviço a todas as crianças e aos que com elas trabalham.
 Há evidências de que o psicólogo escolar acaba por adaptar sua atuação, baseando-se no trabalho clínico onde a atuação do psicólogo, de acordo com o Dicionário de Psicologia (1981),
 “caracteriza-se pelo fato de preocupar-se, principalmente com o indivíduo que o procura, como cliente. É a busca de solução de suas dificuldades, problemas e queixas que orienta toda a relação que se estabelece entre o psicólogo e cliente”, levando sua atividade ao descrédito pela pouca eficiência alcançada por esta atitude adaptativa ( pg 860)
 Ainda segundo Witter(1977), outro fato que levava a descrédito esta atuação do psicólogo, era o fato de que este precisava, dentro de sua abordagem clínica, desvendar as causas profundas dos problemas trabalhados na tentativa de localizar problemas severos de desajuste, despendendo para tanto de um tempo muito longo e que ultrapassava o ano letivo da criança, não podendo intervir, portanto, em suas dificuldades escolares emergentes. 
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Um outro fator que contribuiu para a ligação do papel do psicólogo ao clínico é sua relação com os programas de educação da criança excepcional. Sempre houve um apoio governamental considerável à educação do excepcional, a nível financeiro, determinando, assim, como e onde o psicólogo se dedicará profissionalmente. Trabalhando desta forma, o profissional e seu trabalho passam a ser questionados e criticados, e novos modelos vão surgindo concomitantemente. 
Outros modelos citados por Witter (1977) são:
b. Psicólogo como Psicometrista - É um papel freqüentemente desempenhado em apoio a outros papéis. Como psicometrista, o psicólogo escolar envolvia-se com a aplicação de testes, principalmente a nível intelectual, encaminhando crianças para classes especiais ou mesmo auxiliando na organização e composição das classes; na orientação vocacional, e triagem para encaminhamento psicoterápico dentro ou fora da escola. Assim como no modelo anterior, nas definições de Witter, a psicometria também recebeu críticas a sua aplicação na escola e como decorrência, houve o declínio no uso de testes. A baixa confiabilidade dos testes em conseqüência de seu uso inicialmente pouco científico, a inadequação nas interpretações dos resultados obtidos, a própria popularização de testes, o alto custo e o tempo gastos e a própria desatualização dos testes no que se relaciona às mudanças sócio- culturais e educacionais ocorridas durante os anos após a construção dos testes.
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d. Psicólogo como Avaliador - Inclui-se aqui, ainda de acordo com as atribuições de Witter, a função de fornecer à equipe escolar, dados de apoio para planejamento e formulação de planos de ação, tanto na área educacional quanto administrativa, avaliar a importância e eficiência da atuação dos diversos profissionais da escola, incluindo-se o próprio psicólogo, viabilizando a possibilidade de auto-avaliação frente aos dados obtidos e analisados, induzindo a uma provável reformulação e auto avaliação. “A pesquisa de avaliação é uma das melhores fontes para a obtenção de dados para o planejamento de toda a atividade escolar” (Witter pg 46).
 e. Psicólogo como Pesquisador - Atuação que pode conjuminar-se a todos os outros modelos. É através da pesquisa que se levantam dados sobre a realidade em que se atua e sobre os indivíduos que nela se inserem de forma a se contribuir para o desenvolvimento do conhecimento na área na intenção de revertê-lo à própria atuação profissional. “O relevante é que procure usar todos os recursos com os cuidados que a ciência requer, e que vá acumulando dados e apresentando relatórios de modo a fornecer para seu trabalho e para o de seus colegas, a base empírica que se faz necessária” (Witter, pg 197).
 f. Psicólogo como Especialista Educacional - Um papel muito valorizado, na concepção de Witter, é o do psicólogo especialista educacional, que trabalha com questões mais ligadas aos problemas e dificuldades de ensino e aprendizagem e às interações pessoais. Aqui, ele assume, por vezes, o papel de diagnosticador, dentro do sistema escolar, como parte inicial de suas atividades, em seguida vêm o delineamento de 
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estratégias, acompanhamento e avaliação destas estratégias. Atua também na organização manutenção e desenvolvimento de pesquisas instrucionais. 
Já de acordo com o Dicionário das Profissões (1981), o psicólogo tem por função: cooperar em atividades desenvolvidas pela direção, técnicos e professores, objetivando facilitar a atuação desses profissionais junto aos alunos; capacitar o professor em estratégias para modificação de comportamento, observar salas de aulas para poder oferecer ao professor auxílio na solução de problemas; atuar diretamente nos processos de ensino-aprendizagem através de técnicas psicológicas, buscando integração e aproveitamento dos recursos envolvidos disponíveis; colabora “com outros profissionais envolvidos em educação, podendo desenvolver pesquisas e projetos na criação ou reformulação de currículos e métodos aplicáveis aos diversos campos educacionais”; realizar diagnósticos através da aplicação de testes, entrevistas com alunos, pais e professores, acompanhando os casos, estabelecendo um plano de atendimento ao aluno ou encaminhando-o a um psicólogo clínico ou outros profissionais, além de desenvolver orientação profissional. Ressalta que a atuação deste profissional pode se dar através de instituições que prestem serviços de assessoria educacional. 
g. Psicólogo como Ergonomista - Faz parte deste papel, ainda em definições de Witter, o desenvolvimento
de estudos e analises das influências que o ambiente físico e os materiais utilizados tem sobre o processo de ensino-aprendizagem, colhendo dados úteis a professores e administradores, enfocando especificamente as relações homem-ambiente e os resultados desta interação tanto nos alunos quanto nos que fazem parte do ambiente escolar. Problemas como temperatura, umidade, 
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a organização física das salas de aula, período de aulas, horário de intervalo, interferência sonora, iluminação, o próprio mobiliário escolar e tantos outros, influenciam no trabalho e no rendimento; “A pesquisa nesta área poderá trazer profundos benefícios à educação, permitindo uma aplicação mais adequada da tecnologia, de modo a garantir uma melhor qualidade de vida dentro do âmbito da escola... tornando ainda mais premente a obtenção de dados capazes de fazer das escolas lugares mais adaptados às suas clientelas” (Witter, pg 120.). 
 h. Psicólogo como Ecólogo - Caracteriza-se pelo desenvolvimento de programas que auxiliem na melhora da qualidade de vida e cuidados imprescindíveis às atividades escolares. 
I. Psicólogo como Supervisor - Atua coordenando e orientando trabalhos individuais ou de equipes tanto de profissionais quanto de profissionais já formados ou em aperfeiçoamento.
Outros modelos encontrados na literatura nacional mencionam: 
k. Psicólogo como Psicopedagogo - De origem recente, “a psicopedagogia surge no Brasil como uma das respostas ao grande problema do fracasso escolar, preocupando-se com a criança que não aprende, que mal aprende, que não quer aprender, que não gosta de estudar... enfim multirepetentes com dificuldades de aprender” (Teixeira, 1992, pg 110). 
A prática psicopedagógica surge da interação entre psicologia e pedagogia na intenção de trabalhar com dificuldades de aprendizagem, tendo em vista a interação inadequada de vários aspectos - 
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cognitivo, afetivo e social reconhecidos como sintomas das ditas dificuldades de aprendizagem. Define-se psicopedagogia como “a aplicação da Psicologia experimental à Pedagogia” (Ferreira, 1993, pg 141); ou como “pedagogia baseada cientificamente na psicologia da criança” por Pieron ( 1981), em seu dicionário de psicologia.
 A psicopedagogia, como define (Macedo, 1992), “implica na possibilidade de se empregar, na pedagogia, resultados de pesquisas que se fazem “na psicologia”, o que implica na possibilidade de se recorrer aos dados levantados pela psicologia nos processos de ensino aprendizagem. Os profissionais que se dizem psicopedagogos, ainda de acordo com Macedo, dedicam-se a quatro estratégias básicas que envolveriam 1. orientação de estudos; 2. trabalho sobre conteúdos escolares; 3. desenvolvimento de raciocínio; 4. atendimento de crianças deficientes ou comprometidas; ou ainda se utilizando de trabalhos corporais e artísticos, derivados de linhas de atendimento como a psicanálise e o psicodrama, entre outros. 
O psicólogo escolar, atuando como psicopedagogo, de acordo com Teixeira (1992), desenvolve seu trabalho atendendo a profissionais da escola e atendendo crianças que apresentem problemas de aprendizagem, podendo optar por um trabalho individual ou grupal que são muito propícios às trocas de experiências e a reelaboração dos modelos de aprendizagem. Pode-se dizer que a visão psicopedagógica permite ampliar a atuação do psicólogo na área escolar e é necessária sempre que se puder ou se precisar considerar as características psicológicas do sujeito que aprende. 
Macedo (1992) menciona ainda que ela só se faz necessária à medida que a escola passa a não cumprir seu papel de ensinador e não 
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consegue transmitir o saber e acaba gerando o encaminhamento de crianças a profissionais diversos como tentativa de sanar esta sua dificuldade, transferindo sua responsabilidade à criança. Quando se trata de crianças de baixo nível sócio-econômico, com notas baixas, desatentas, sem um aproveitamento adequado, temos um encaminhamento a classes especiais, repetência, exclusão ou evasão; já para as classes média e alta, são encaminhadas ao psicólogo ou psicopedagogo; 
 j. Psicólogo como Consultor - Frente às críticas ao psicólogo escolar clínico e a outros modelos, passa-se a valorizar uma atuação mais preventiva e diferenciada do psicólogo, na busca de modelos mais adequados aos papéis desempenhados. Já em l977, Witter cita o consultor como um dos papéis mais valorizados entre os desempenhados pelo psicólogo escolar, pela sua abordagem diferenciada, alternativo aos modelos empregados; uma atividade que vem se destacando de forma acentuada e que vem sendo incorporada ao repertório de atividades do psicólogo.
Considerando uma abordagem internacional, encontram-se não modelos, mas práticas profissionais indicadas ao psicólogo escolar.
Segundo Talley (1990), uma prática ao psicólogo escolar seria a administração e supervisão escolar, que envolve assistência ao grupo de trabalho - professores, diretores e também estudantes, o que faz essencial o trabalho com o contexto organizacional.
Já Hightower, Johnson e Haffey (1990), apontam a implantação de programas básicos de prevenção escolar. Segundo os autores, a prevenção implica na busca de recursos que remetam à redução 
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da ocorrência de problemas e na diminuição da incidência de novos casos, através de intervenções antecipadas, ou seja, antes da ocorrência de desordens no ambiente escolar. Neste caso, a função do psicólogo seria a de identificar a necessidade de se adotar ou não um programa de prevenção, inicialmente identificando necessidades, implementando e mantendo o programa e sua qualidade
Miles (1990), cita práticas em assistência a crianças com problemas de aprendizagem onde o psicólogo escolar pode atuar na identificação de potencial dos estudantes, planejando programas acadêmicos, auxiliando-os na procura de colégios adequados, ajudando-os a preparar-se para entrar na escola, ou mesmo diagnosticando, aconselhando e oferecendo serviços de suporte acadêmico a todo estudante com problemas para aprendizagem.
Kratochwill, Elliot e Rotto (1990) abordam a consultoria comportamental, um estágio para a resolução de problemas que inclui o uso aplicado da análise de comportamento para a identificação, análise, intervenção e avaliação do processo.
“As principais características da consultoria comportamental incluem serviços indiretos, solução de problemas e trabalho com o relacionamento”. Este tipo de consultoria tem como objetivos principais, “produzir mudanças no comportamento da criança indiretamente, através da resolução colaborativa de problemas entre um consultor(psicólogo escolar) e um consultante ( professor, pais), e produzir conhecimento e habilidades que facilitem a eficácia de pais e professores na resolução de problemas similares no futuro” (pg164).
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Segundo Zins e Ponti (1990), são três os enfoques dados à consultoria: o comportamental, o de saúde mental e o organizacional, todos com características comuns como “a resolução de problemas, a colaboração e a participação voluntária num processo de promoção de serviços psicológicos e educacionais preventivos, visando o bem estar e um bom desempenho pelo estudante” (pg 674).
 Entre os serviços que se incluem entre as funções do psicólogo escolar, estão o trabalho com a comunidade escolar através do estabelecimento de comunicação com membros da comunidade, pais, e educadores, visando suporte e assistência à criança pelo psicólogo escolar,

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