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O homem como meio 1

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O homem como meio (?)
Patentes e Genoma Humano: análise a partir da dignidade da pessoa é um artigo escrito por Ana Paula Myszczuk, professora na UNIFAE e FAMEC, Mestre e Doutoranda em Direito Econômico e Socioambiental pela PUCPR e Advogada, em coautoria com Jussara Maria Leal de Meirelles, professora titular de Direito Civil no curso de Graduação e no Programa de Pós-Graduação em Direito na PUCPR e Procuradora Federal. Neste artigo, as autoras tratam da possibilidade jurídica do patenteamento do genoma de matéria viva, analisando os principais marcos jurídicos da área como o Plant Act, o caso Chakrabarty e o Moore, em que analisam a possibilidade de patenteamento do genoma humano, à luz do principio da proteção da dignidade da pessoa humana.
O artigo é dividido em três tópicos; o primeiro trata da revisão histórica da concessão das primeiras patentes de matéria viva, citam o caso Diamond X Chakrabarty, este sendo a primeira concessão de patente a um microrganismo engenheirado – uma bactéria é modificada geneticamente para consumir petróleo em algas marinhas, surgindo, assim, uma discussão judicial acerca de haver ou não invenção humana ou de haver apenas alteração de processos metabólicos dos seres vivos. A Corte Americana entendeu que a bactéria tratava de uma composição material fabricada pela inventividade humana, sendo concedida a patente tendo em vista que se trata de obra humana. O segundo tópico trata de patentes e material genético humano, nesse tópico é relatado o caso Moore, em que se discutiu nos EUA pela primeira vez a possibilidade de apropriação privada de material genético humano. Por fim, no terceiro tópico são abordados os limites jurídicos ao patenteamento, a discussão centra-se na questão de ser o material genético uma descoberta ou uma invenção.
A partir da análise de todo o artigo, é possível concluir que, segundo as autoras, o ser humano está sendo ponderado por seus genes, pelas informações contidas neles, não mais por seu valor essencial como humano, nem por sua dignidade. Não se podendo olvidar que o princípio da dignidade da pessoa humana é o limite da autonomia da vontade do pesquisador, estabelecendo como requisito para obtenção de patentes a obrigatoriedade do respeito à pessoa.
Cabe o questionamento ao final da leitura do artigo: Se o limite da pesquisa da concessão de patentes seria o princípio da dignidade da pessoa humana, onde começa a dignidade estabelecida por ele? Seria o homem um meio para um fim favorável ao homem? “Salvar” a humanidade ou proteger a dignidade humana?
Imannuel Kant afirma que o homem existe como fim em si mesmo, não como meio, tanto que no que tange seu próprio bem, como o que tange outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como fim. (KANT, 2007. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. P. 67/68). Assim, o homem não deve ser visto apenas como um “meio” para “consertar” outro homem, nem mesmo para o enriquecimento daqueles que visam lucrar com pesquisas, seja financeiramente ou politicamente. Mas também, não se pode parar o avanço científico, pois também é direito fundamental a criação e produção científica. Dessa forma, deve-se haver uma ponderação de princípios, e conforme a autoras colocam, a partir do momento que o avanço científico colidir com direitos fundamentais, resolve-se a ponderação de forma que se não houver colisão de direitos, a pesquisa deve ser garantida, porém se houver a colisão a dignidade humana deve prevalecer. Contudo, ao se manter o direito a pesquisa o profissional pesquisador terá a responsabilidade de agir com ética, cuidado, cautela, honestidade intelectual, integridade, informando ao paciente os possíveis riscos e as consequências de seu tratamento ou experimentação, bem como o de assumir todos os riscos.
Assim, cabe ao Biodireito, mais especificamente aos juristas da área, impor limites entre o que é possível de se fazer cientificamente e o que é moralmente desejável fazer, encontrando respostas que se adequam aos casos concretos atuais. Haja vista que ao nascer com vida, o ser humano adquire todos os direitos inerentes a sua personalidade, e, antes mesmo de nascer com vida, seus direitos fundamentais já estão garantidos de alguma forma. Então, segundo Maria Helena Diniz, em O Estado Atual do Biodireito, 2009, p. 538, o direito de patentes não pode considerar o ser humano como propriedade, ou algo a ser apropriado (conforme decidiu a Suprema Corte Americana no Caso Moore), mas sim respeitar a tutela da dignidade da pessoa humana.
Por fim, as autoras defendem que os limites e a legitimação da obtenção de uma patente biológica deve estar ligada proporcionalmente ao fato de que esta só pode servir para bem estar da pessoa, garantindo uma existência digna, com melhor qualidade de vida. Então, diante do exposto e seguindo a ideia das autoras, pode-se concluir que, o artigo leva a reflexão e ponderação de princípios, fazendo com que se chegue à conclusão de que se pode “salvar” a humanidade, desde que se garanta a dignidade da pessoa humana, conforme a Constituição Federal Brasileira, sendo necessário encontrar o meio mais eficaz para se garantir tais direitos, segundo Norberto Bobbio (A era dos Direitos, 1992, p 25), para impedir que, apesar das solenes declarações (Declaração Universal dos Direitos Humanos e Declaração Universal do Genoma Humano), eles sejam continuamente violados.

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