Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CÓDIGO: 0471 – PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Aula 7: PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO – BASE PSÍQUICA II Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II Conteúdo desta aula PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO 1 AFETOS MANIFESTOS NA SALA DE AULA 2 CRÍTICAS À APLICAÇÃO DA PSICANÁLISE NO CONTEXTO EDUCACIONAL 3 PRÓXIMOS PASSOS Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II O bom relacionamento na sala de aula, talvez, seja mais importante do que as cortinas e paredes coloridas ou do que a variedade de métodos e recursos instrucionais utilizados. Podemos sentir que o relacionamento entre os alunos de uma classe é bom quando o vemos alegres, bem-humorados e seguros enquanto desenvolvem as atividades de aprendizagem. O professor, como líder, é um dos grandes responsáveis pelo bom relacionamento em sala de aula. A criação de um clima psicológico que favoreça ou desfavoreça a aprendizagem depende, em grande parte, dele. Sendo assim, a Psicanálise poderá contribuir para a educação, no sentido de colocar a nossa disposição um arcabouço teórico que permite compreender o comportamento humano, seja do aluno ou até mesmo do professor, a partir de um processo de autorreflexão. Psicanálise e Educação Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II Todas as nossas relações pessoais são permeadas por emanações de energias psíquicas desconhecidas, oriundas de um território obscuro e inatingível. Desse modo, grande parte de nossos desejos e motivos conscientes, que julgamos conhecer e dominar, não passa de simulacros daquilo que habita no nosso inconsciente. Simulacros são imagens feitas à semelhança de uma pessoa ou coisa, especialmente sagrada. Aquilo que a fantasia cria e que representa um objeto sem realidade; aparência sem realidade. A ideia, entretanto, não é fazer da sala de aula um consultório ou uma clínica e o professor não deve ser confundido com um terapeuta ou psicólogo capaz de resolver os problemas de ordem emocional de seus alunos. Aliás, nem Freud era um entusiasta quanto à aplicação da psicanálise no setor educacional uma vez que, dificilmente, a dinâmica do inconsciente poderia ser acessada de forma direta. Psicanálise e Educação Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II Na verdade, esta é uma pretensão da Psicanálise, porém, durante um processo terapêutico que poderá levar muitos anos, e cujas técnicas de intervenção/interpretação e de associação livre são empregadas com a finalidade de fazer com que o paciente elabore seus sentimentos, resgatando questões do passado que lhes trazem sofrimento. A associação livre é uma técnica utilizada na terapia de base psicanalítica em que o paciente fala livremente o que vem a cabeça sem censuras. Para o educador, quais os aspectos mais substantivos dessa teoria, capazes de fundamentar a prática pedagógica? Por que a psicologia educacional não pode deixar de incluir a psicanálise no elenco de seus conteúdos? Em primeiro lugar, não é possível estudar o indivíduo, seus processos de desenvolvimento e aprendizagem, somente a partir da construção da inteligência e da racionalidade. O comportamento humano é determinado, também, e, principalmente, por forças inconscientes, construídas ao longo das relações do indivíduo com outros indivíduos. Psicanálise e Educação Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II É importante ressaltar que a racionalidade e a irracionalidade, assim como o consciente e o inconsciente, não se opõem, mas constituem as bases dialéticas de um único processo: o da formação da personalidade. À primeira vista, a relação pedagógica resume-se na escolha de um bom método de ensino, um planejamento adequado do sequenciamento das matérias e um certo conhecimento das competências intelectuais dos aprendizes. Mas a educação escolar é assim apenas na aparência, mostra a Psicanálise, pois as questões objetivas: método, planejamento, conteúdos das matérias etc. são as quais menos importam no ato de educar. Os ensinamentos psicanalíticos dirigem nossa atenção para o vasto e complexo mundo subjetivo oculto no interior do professor e do aluno, cada qual sofrendo constantemente a pressão de seus respectivos desejos, muitos dos quais atingidos pela repressão. Psicanálise e Educação Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II O professor psicanaliticamente orientado deve observar as atitudes conscientes de seus alunos, como também as suas, procurando desvelar os desejos escondidos por trás delas. Entendemos que um bom conhecimento da psicanálise, oferecerá ao professor, instrumentais necessários para que possa dar as devidas orientações a seus alunos sobre: o espaço da sala de aula e a natureza e a especificidade do processo ensino/aprendizagem, bem como, orientá-lo a procurar um profissional específico sobre determinados comportamentos que não serão resolvidos em uma aula ou curso. Da mesma forma, o professor terá as condições necessárias para refletir sobre o seu discurso e sua prática e o que eles revelam ou ocultam e, assim, tomar providências sobre sua própria condição. Todo afeto, positivo ou negativo, decorre de vivências passadas que se encontram reprimidas no inconsciente. A psicanálise permite ao educador um modo de ver e de entender sua prática educativa, desvelando a desconhecida rede de relações. O mestre poderá elaborar hipóteses a respeito de si mesmo e de seus educandos. Psicanálise e Educação Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II É pela escuta cuidadosa dos sintomas e pela leitura cuidadosa dos fenômenos, que há possibilidades de algumas fronteiras entre psicanálise e educação. Uma escuta que coloca entre parênteses o plano reflexivo, ou seja, a reflexão sobre o fato. A escuta das vozes e dos silêncios é, na verdade, um diálogo que travamos conosco mesmo, tendo em vista as muitas vozes que nos constituíram e nos constituem. Nesse sentido, é preciso estar aberto ao outro para o diálogo acontecer, para rever pontos de vista, para se posicionar, para permitir que o outro se posicione, imprima sua marca. Esta abertura nas instituições de ensino depende muito do professor que poderá ser um mediador das relações na sala de aula, passar ou não a palavra ao aluno, permitindo ou negando a manifestação dos educandos e as discussões entre o grupo, explicitando ou não vozes autoritárias que poderão obstaculizar o afloramento das diferentes opiniões. Sendo assim, surge o seguinte questionamento: até que ponto o professor, em sua prática, respeita e faz respeitar as diferenças, emergindo, a partir daí, o sujeito pensante e não um escravo do discurso do mestre? Psicanálise e Educação Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II O que se deseja não é medicalizar a educação. Trata-se de olhar até que ponto a própria educação é omissa para os operadores que utiliza. Uma omissão que vai desde o professor não saber o que faz em sala de aula, até os processos de bloqueios mais complexos vivenciados pelos agentes envolvidos no processo educativo: alunos, professores, direção e etc. É possível que a psicanálise não tenha uma resposta pronta para os problemas da educação. É esta mesma que tem de encontrá-la, repensando sua prática e o cotidiano escolar. A psicanálise pode contribuir com a educação, instigando no surgimento de novos operadores/dispositivos que possam auxiliar a educação: seja no olhar, na escuta e no lugar que cada um ocupa no processo educativo. É provável que o professor necessite de parceiros para ajudar a pensar os problemas do cotidiano da escola, no que se repetem episódios de sexualidade, agressividade, relacionamento, timidez, desmotivação etc. Um desses parceiros talvez seja o psicanalista. É possível que este possa oferecer instrumentos para que o professor venha a encontrar o caminho para lidarcom as faltas, angústias, dificuldades, medos, conflitos etc. Ao relacionar-se com o aluno, o professor fica exposto a sua própria infância, seus dilemas deixados pra trás, esquecidos no tempo, reprimidos. É neste nível de questionamento, comparação, mal-estar, que se pode pensar no fenômeno transferência que significa deslocar algo (sentido/sentimento/carga afetiva) de um lugar para outro. Psicanálise e Educação Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II A psicanálise pode contribuir na escola para ajudar o professor a descobrir novas formas de escutar o aluno como sujeito. Por mais que o aluno seja produto de uma história cultural, familiar e institucional, ele é sujeito, alguém que sente, que ri, que chora, que ama e odeia, que deseja, que sofre e se alegra, que se emociona, que... que...que... É sua subjetividade que fala. Esse mundo que habita diferentemente em cada um de nós, estará sendo preservado cada vez que um professor renunciar ao controle, aos efeitos de seu poder sobre seus alunos. A fala e a escuta de professores em sala de aula vai além da transmissão de conteúdos, mas se revestem de subjetividades em que afetos, emoções, crenças, valores, contradições e representações permeiam seu discurso. Este (o professor) também é possuidor da sua cultura e da sua história, desenvolve relação consigo mesmo, com o outro e com o mundo, e essas dimensões estão entrelaçadas na sala de aula. Psicanálise e Educação Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II • “Muitos a gente consegue comandar”. • “Você aí (apontando para uma aluna), como é o nome dela? Esta aí que está conversando. Você aí que está perto dela, fale pra ela prestar atenção”. • “Venham até mim, estarei pronto para atender a todos. Cadê minha aluna”? • Você é turista, hein! O que está acontecendo com você? Me aguarda, tá!” • “Bom dia! Quero lembrar aos alunos que não estavam na última aula que ficamos no assunto DNA e RNA.” • “Vamos ao laboratório, lá encontraremos o site da Grécia Antiga. Sugiro que vocês copiem algo do interesse de cada um. Os alunos que faltaram à avaliação sobre o Egito devem fazê-la na próxima semana.” Afetos manifestos na sala de aula Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II Texto para reflexão: Sê Humano – C. Freinet Tu, como todos os outros educadores, procedes um pouco como aqueles pais que, quanto mais foram crianças endiabradas, mais ferozmente severos são para com os filhos; ou como o adulto que caminha um pouco apressadamente, sem reparar que a criança que acompanha tem de dar três passos, enquanto ele dá um. Reages com a tua natureza de homem, as tuas possibilidades e conhecimentos de adulto, como se as crianças que te estão confiadas fossem adultas, com possibilidades semelhantes. Põe-te no lugar dessa criança que acabas de humilhar, com uma nota má ou uma posição inferior na classificação. Lembra-te do teu próprio orgulho quando estavas entre os primeiros, e de todos os maus sentimentos que te agitavam quando outros te passavam à frente... Então compreenderás e hás de suprimir a classificação. Uma criança roubou cerejas ao vir para a escola, ou partiu um tinteiro na aula, ou mentiu para tentar salvar uma situação delicada. Nunca roubaste cerejas, quando eras novo? Não eras tu o primeiro a sentires pena, quando partias um tinteiro? Não te lembras do drama que se passava em ti quando tinhas mentido por necessidade, porque, nos únicos caminhos que se ofereciam para saíres de uma situação delicada, a mentira, tímida, desajeitada, na origem, te pareceu ser a única tábua de salvação? Reflexão Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II Se não voltares a ser como uma criança... não entrarás no reino encantado da pedagogia... Longe de procurares esquecer a infância, habitua-te a revivê-la, revive-a com os alunos, procurando compreender as possíveis diferenças originadas pelas diversidades de meios e pelo trágico dos acontecimentos que influenciam tão cruelmente a infância contemporânea. Compreende que essas crianças são, aproximadamente, o que eras há uma geração, que não eras melhor do que elas, que não são piores do que tu e que, portanto, se o meio escolar e social lhes fosse mais favorável, poderiam fazer melhor do que tu, o que seria um êxito pedagógico e uma garantia de progresso. Para isso, nenhuma técnica há de preparar-te melhor do que a que incita as crianças a exprimirem- se, pela palavra, pela escrita, pelo desenho e pela gravura. O jornal escolar contribuirá para a harmonização do meio e continua a ser um fator decisivo da educação. O trabalho desejado, ao qual nos entregamos totalmente e que proporciona as alegrias mais exaltantes, fará o resto. E o sol brilhará... Reflexão Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II Considerando que o inconsciente é um território inatingível, desconhecido, impossível de ser visualizado objetivamente, os críticos da transposição da Psicanálise para o contexto educacional sugerem que adotar os ensinamentos de Freud nas instituições de ensino significa abrir caminho para a irracionalidade, para práticas não científicas, para o abandono dos conteúdos escolares. O educador pode se tornar uma pessoa menos obcecada pela imposição de seus pontos de vista, suas verdades, seus valores morais, seu desejo de ordem e disciplina. Críticas à aplicação da Psicanálise no contexto educacional Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II • Ao professor, cabe mandar e ao aluno obedecer. • A obediência cega leva à passividade e à dependência. • Na verdade, enquanto ensina, o professor também aprende. • De tanto proibirem suas iniciativas, o aluno acaba se habituando a não tomar iniciativa alguma. • Professores e alunos podem crescer a partir da relação que se estabelece entre eles. • O tipo de comportamento do professor não tem muita importância para a aprendizagem. Frases para reflexão – interpretação à luz da Psicanálise Psicologia da Personalidade AULA 7: PSICANÁLISE - BASE PSÍQUICA II • Se o professor espera que um aluno seja preguiçoso ou desatento, ele acabará sendo. • Se um professor espera que um aluno seja estudioso, ele acabará sendo. • Através do preconceito podemos conhecer as pessoas como elas realmente são. • A liderança autoritária é a mais indicada para o trabalho educativo. • A liderança autoritária produz nos alunos reações de apatia e agressividade. • A liderança democrática favorece o trabalho independente por parte dos alunos. • A liderança permissiva é uma forma de comprometer-se com a formação do aluno. • O professor deve sempre procurar estimular, ao invés de punir, orientar, ao invés de forçar, compreender ao invés de condenar. Frases para reflexão – interpretação à luz da Psicanálise Assuntos da próxima aula: 1. Carl Rogers (1902-1987); 2. Teoria Não Diretiva/Humanista X Psicanálise; 3. Teoria Não Diretiva/Humanista X Comportamental/Behaviorista; 4. Princípios norteadores da Teoria Não Diretiva/Humanista; 5. Conceitos de empatia, consideração positiva (apreço) e aceitação incondicional.
Compartilhar