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J U N H O D E 2 0 2 1 P R O F. J U A N D E M O L I N A R I INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: PARTE 2 (TRATAMENTO) Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) 2CARDIOLOGIA PROF. JUAN DEMOLINARI APRESENTAÇÃO: @profjuandemolinari @estrategiamed /estrategiamed Estratégia MED t.me/estrategiamed Oi, Estrategista, tudo bem? Preparado para este resumo de um dos temas mais importantes de cardiologia? A insuficiência cardíaca corresponde a 13% das questões de cardiologia, sendo que o subtema mais cobrado em provas é justamente o tratamento dessa doença! Então, fique ligado! Estamos diante de um resumo quente para as provas! Para mais detalhes sobre esse tema, consulte nosso livro digital extensivo. https://www.instagram.com/profjuandemolinari/ https://www.instagram.com/profbruno.souza/ https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw?app=desktop https://t.me/estrategiamed https://t.me/estrategiamed Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 3 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO 5 2.0 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO 6 3.0 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA IC DE FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA (ICFER) 7 4.0 DISPOSITIVOS CARDÍACOS IMPLANTÁVEIS NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA 12 4.1. TERAPIA DE RESSINCRONIZAÇÃO CARDÍACA (TRC) 12 4.2. CARDIODESFIBRILADOR IMPLANTÁVEL (CDI) 14 5.0. ALGORITMO DE TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA 16 6.0 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO PRESERVADA 17 7.0 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO INTERMEDIÁRIA (ICFEI) 18 8.0 DROGAS CONTRAINDICADAS NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA 19 9.0 LISTA DE QUESTÕES 20 10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21 11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 22 Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 4 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) CAPÍTULO 1.0 INTRODUÇÃO Antes de abordarmos diretamente o tratamento, vamos esclarecer alguns pontos. A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa causada por alterações estruturais e/ou funcionais cardíacas e caracteriza-se por sinais e sintomas característicos, que resultam da redução do débito cardíaco e/ou da elevação das pressões de enchimento cardíacas. Tal síndrome pode ser causada por anormalidade na função sistólica, produzindo redução do débito cardíaco (IC de fração de ejeção reduzida) ou por alterações na função diastólica, levando a dificuldade no enchimento ventricular (IC de fração de ejeção preservada). Podem, ainda, as duas alterações coexistirem no mesmo paciente. CAIXA DE DESTAQUE A melhor forma de classificar a IC do ponto de vista do planejamento terapêutico é através da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). Por meio dessa classificação, a IC pode ser dividida em 3 grupos: ICFER ICFEI ICFEP Fração de ejeção do VE < 40% 40-49% > 50% ICFER: insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida; ICFEI: insuficiência cardíaca de fração de ejeção limítrofe ou intermediária; ICFEP: insuficiência cardíaca de fração de ejeção preservada. Existem diferenças quanto ao tratamento desses diferentes grupos. Portanto, vamos dividir nosso estudo da abordagem farmacológica da IC de acordo com a classificação pela fração de ejeção, abordando de forma independente o tratamento em cada um dos grupos mencionados. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 5 CARDIOLOGIA Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) CAPÍTULO 2.0 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Esse não é um dos temas mais “queridinhos” das provas. Portanto, para que você não perca tempo, resumimos os principais componentes do tratamento não-farmacológico da IC, com maior grau de recomendação, na tabela abaixo: Medidas não farmacológicas recomendadas na IC Medida Recomendação Classe de indicação Programa multidisciplinar de cuidado Visa melhorar a adesão, o autocuidado e, dessa forma, reduzir morbidade, hospitalizações e mortalidade por IC. IA Reabilitação na ICFER Exercício aeróbico regular para ICFER NYHA II a III para melhorar qualidade de vida e capacidade funcional (aumenta o consumo pico de oxigênio (VO2). IA Vacinação Imunização para influenza anualmente e pneumococo a cada 5 anos para prevenção de fatores agravantes de IC. IB/IC Reabilitação na ICFEP Exercício aeróbico regular para ICFEP NYHA II a III para melhorar capacidade funcional e função diastólica. IIA Ácidos Graxos poli- insaturados n3 (ômega 3) Suplementação alimentar com ácidos graxos poli-insaturados n-3 para redução de mortalidade e internações. IIA Restrição salina Evitar ingesta de sal superior a 7 gramas/dia (equivalente a 2,8 gramas de sódio). IIA Dentre os pontos mais comumente abordados sobre terapia não farmacológica, um dos mais polêmicos é a restrição hídrica. Você observou que a tabela acima não contempla esse tema? O motivo é simples. Essa conduta, embora muito difundida na prática clínica, não encontra evidências robustas de benefício na literatura. Sendo assim, a mais recente Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca não recomenda a restrição hídrica como uma terapia para IC. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 6 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) 3.0 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA IC DE FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA (ICFER) CAPÍTULO Agora é hora de atenção total! Dê uma boa golada em um café forte e venha comigo estudar um dos temas mais quentes de toda a cardiologia! O tratamento farmacológico da ICFER é um assunto que está em constante atualização, com diversas drogas novas aprovadas nos últimos anos. Se você pudesse guardar apenas uma parte deste resumo, diria que a mais útil é: drogas que reduzem a mortalidade na ICFER. O tripé clássico da terapia que modifica mortalidade na insuficiência cardíaca (IC) de fração de ejeção reduzida é composto por: IECA/BRA, betabloqueadores e antagonistas de mineralocorticoide (espironolactona). Dentre os betabloqueadores, os que modificam a mortalidade comprovadamente são apenas: carvedilol, bisoprolol e succinato de metoprolol. Recentemente, outras drogas foram aprovadas como, também, sendo capazes de reduzir a mortalidade nessa doença. Dentre elas, o complexo sacubitril/valsartana, um inibidor da neprilisina, pode ser usado em substituição aos IECA/BRA em pacientes que continuem sintomáticos a despeito da terapia tripla. A dapagliflozina e a empagliflozina, inibidores da SGLT2, inicialmente lançadas como antidiabéticos orais, reduzem a mortalidade tanto em diabéticos quanto em não diabéticos. Já nos pacientes que estejam em uso de betabloqueadores em dose máxima e persistam com FC ≥ 70 bpm, há benefício de mortalidade com o uso de ivabradina (um inibidor do canal IF do nó sinusal). A associação entre hidralazina e nitrato também é capaz de reduzir a mortalidade em pacientes autodeclarados negros ou em substituição aos IECA/BRA em pacientes que não tolerem essas medicações. Paciente continua sintomático ? Antagonistas de mineralocorticoide Drogas que alteram mortalidade na ICFER IECA ou BRA Betabloqueadores Sacubitril - valsartana Dapagliflozina/ empagliflozina Hidralazina e nitrato Ivabradina Diuréticos para controle de sintomas apenas Figura 1. Drogas que reduzem a mortalidade ne ICFER. Para melhor controle de sintomas, sem alterar, no entanto, a mortalidade, você pode prescrever diuréticos na menor dose necessária e digitálicos (principalmente se a fração de ejeção for ≤ 45%). Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 7 CARDIOLOGIA InsuficiênciaCardíaca: Parte 2 (tratamento) Agora que já conhecemos as drogas, iremos detalhar alguns pontos importantes sobre cada uma dessas classes na tabela abaixo: Reduzem a mortalidade Não reduzem a mortalidade, apenas os sintomas Classe de Drogas Indicação Principais efeitos adverso IECA ICFER mesmo que assintomática para redução de mortalidade. Hipercalemia, piora de função renal, angioedema, tosse e hipotensão. BRA Para os pacientes que não toleram IECA para redução de mortalidade. Hipercalemia, piora de função renal e hipotensão. Betabloqueadores ICFER, mesmo que assintomática, para redução de mortalidade. BAVs, broncoespasmo, piora da doença arterial periférica, hipo- tensão, bradicardia, disfunção erétil. Espironolactona ICFER sintomática para redução de mortalidade. Ginecomastia, hipercalemia, piora de função renal e hipotensão. Sacubitril-valsartana ICFER sintomática, refratária à tera- pia tripla. Hipercalemia, piora de função renal, angioedema, tosse e hipotensão. Ivabradina ICFER sintomática, apesar do uso de terapia tripla otimizada, sinusal e com FC ≥ 70 bpm. ICFER com ritmo sinusal em pacientes que não tol- erem BB. Bradicardia. Inibidores da SGLT2 (dapagliflozi- na/empagliflozina) ICFER sintomática, apesar do uso de terapia tripla em diabéticos ou não diabéticos. Infecções geniturinárias, cetoaci- dose euglicêmica e hipovolemia. Nitrato + hidralazina ICFER sintomática, apesar do uso de terapia tripla, principalmente em afrodescendentes. Em substituição ao IECA/BRA em pacientes intoler- antes. Hipotensão, cefaleia (nitrato), lúpus medicamentoso (hidralazina). Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 8 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) Digoxina ICFER sintomática, apesar do uso de terapia tripla otimizada. Pacientes com ICFER e fibrilação atrial. Intoxicação digitálica (sintomas gastrointestinais, prostração, xan- topsia -visão amarelada, BAV, ex- trassístoles). Furosemida Para controle de sintomas de con- gestão. Desidratação, hipotensão, hipocale- mia, hipomagnesemia e ototoxici- dade. Tiazídicos Para controle de sintomas de con- gestão e hipertensão. Hipotensão, hiperuricemia (crise de gota) hiperglicemia e hiponatremia. Além dos conhecimentos apresentados até aqui, outros tópicos sobre algumas dessas drogas costumam aparecer em provas. Um deles refere-se às contraindicações ao uso de IECA/BRA, como apresentado na tabela abaixo: Contraindicações ao uso de IECA/BRA: Potássio sérico > 5,5 mEq/L Estenose de artéria renal bilateral ou estenose de artéria renal em rim único História de angioedema documentado com uso prévio de IECA (contraindicação a IECA) Hipotensão sintomática Considerar não usar em pacientes com Cr > 3 mg/dL Gestação É importante observarmos que as contraindicações acima são comuns a ambas as classes de medicações, porém os IECA apresentam ainda contraindicação em casos de tosse limitante e refratária e angioedema. Esses eventos adversos são relacionados ao aumento dos níveis séricos de bradicinina associado aos IECA, mas não aos BRA. A associação de IECA com BRA no tratamento da ICFER não é recomendada. Outro detalhe que já apareceu em provas é que nem todos os betabloqueadores reduzem a mortalidade. Os que apresentam maior comprovação são o bisoprolol, o carvedilol e o succinato de metoprolol. Atenção a uma “pegadinha” em provas: o tartarato de metoprolol não modifica a mortalidade na IC. Lembre-se do S, só o succinato de metoprolol modifica a mortalidade, o tartarato não. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 9 CARDIOLOGIA Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) A associação sacubitril-valsartana (INRA), uma das terapias mais novas aprovadas para o tratamento da IC, também tem aparecido muito em provas. Um detalhe acerca do uso do INRA é que essa associação provoca um aumento nos níveis séricos de BNP, uma vez que o sacubitril inibe a degradação dessa molécula. Você se lembra de que o BNP é usado para avaliar prognóstico e severidade da IC? Dessa forma, caso o paciente esteja em uso de sacubitril- valsartan, perderemos esse parâmetro. Como forma de avaliar esses pacientes, deve-se utilizar os níveis séricos de NT-pró-BNP (pró-hormônio inativo do BNP) na avaliação do prognóstico e na monitorização da resposta ao tratamento da ICFER, já que são menos afetados pelo uso da medicação. Uma das drogas que não altera mortalidade, mas que merece nossa atenção por ser alvo frequente nas provas, é o digitálico. Essa medicação pode ser usada para controle de sintomas e hospitalizações dos pacientes com fração de ejeção reduzida e para controle de frequência cardíaca na fibrilação atrial. O tópico mais “quente” sobre essas medicações é a intoxicação digitálica. Essa droga possui uma margem estreita para intoxicação, por isso devemos reconhecer os sinais e sintomas desse quadro. Os pacientes com intoxicações digitálicas apresentam alterações neurológicas, como confusão mental, prostração, alterações de paladar e xantopsia (visão amarelada), alterações cardíacas, como taquicardias e bradicardias, e comprometimento gastrointestinal, como náuseas, vômitos e anorexia. Alterações ECG. Prostração Náuseas e vômitos. Xantopsia - visão amarelada. Intoxicação digitálica. Figura . Intoxicação digitálica. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 10 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) Alterações eletrocardiográficas da intoxicação digitálica Extrassístoles ventriculares (mais frequente) Prolongamento do intervalo PR Aumento da amplitude da onda U Bigeminismo ventricular Bradicardias, ritmo juncional e bloqueio AV Taquicardia atrial com condução AV variável (muito sugestivo) TV/FV É possível fazer a dosagem do nível sérico de digitálicos, porém apenas esse nível aumentado não fecha o diagnóstico de intoxicação, é necessário que haja sintomas clínicos e alterações eletrocardiográficas. O tratamento dessa intoxicação, quando grave, será feito com um anticorpo específico (F-ab fragments) que é pouco disponível no Brasil. Os pacientes devem receber suporte clínico com correção de distúrbios hidroeletrolíticos (nas intoxicações agudas, o mais comum é a hipercalemia, nas crônicas, a hipocalemia – principalmente porque, nas intoxicações crônicas, há associação com o uso prolongado de diuréticos, que causam depleção de potássio). Infelizmente, os digitálicos não são retirados na diálise. Outro ponto importante é que, nas taquiarritmias causadas pela intoxicação digitálica, devemos evitar fazer cardioversão elétrica. Esse procedimento pode desencadear taquiarritmias malignas. Sendo assim, é reservado para casos de instabilidade hemodinâmica e deve ser usada uma carga baixa. Para tratamento dessas arritmias, pode-se usar amiodarona, lidocaína e fenitoína. Outro conceito importante em relação ao uso dos digitálicos é o de impregnação digitálica. Trata-se de uma alteração eletrocardiográfica característica associada ao uso prolongado do digital, sem significado patológico, sendo apenas um marcador eletrocardiográfico do uso da medicação. Não tem, portanto, relação direta com a intoxicação digitálica. A alteração eletrocardiográfica típica da impregnação digitálica é o infradesnivelamento difuso do segmento ST e inversão de onda T (com aspecto em “colher de pedreiro” ou “bigode do Salvador Dalí”). Vamos ver abaixo um exemplo de ECG com sinais de impregnação digitálica: Figura 4. Infradesnivelamento do segmento ST em formato de "colher de pedreiro". Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 11 CARDIOLOGIA Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) 4.0 DISPOSITIVOS CARDÍACOS IMPLANTÁVEIS NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA CAPÍTULO Agoravamos estudar uma parte interessantíssima sobre o tratamento da ICFER. Além dos avanços no tratamento medicamentoso, que já mencionamos aqui, nos últimos anos, houve o desenvolvimento de alguns dispositivos cardíacos implantáveis que também mostraram benefício na redução de eventos cardiovasculares maiores (inclusive morte) em grandes ensaios clínicos. Tais dispositivos são a terapia de ressincronização cardíaca e o cardiodesfibrilador implantável. 4.1. TERAPIA DE RESSINCRONIZAÇÃO CARDÍACA (TRC) Um dos mecanismos de perda de efetividade na contração cardíaca é a dissincronia ventricular. A insuficiência cardíaca está associada à ocorrência de remodelamento miocárdico, o que pode desencadear distúrbios da condução intraventricular que promovem uma contração assincrônica entre os ventrículos esquerdo e direito e entre as paredes do ventrículo esquerdo. Baseado nesse conhecimento, foi desenvolvida uma técnica capaz de recuperar o sincronismo ventricular, baseada na estimulação artificial de ambos os ventrículos de forma programada. Isso se dá através da colocação de um marcapasso com eletrodos de estimulação nos ventrículos direito e esquerdo (esse último geralmente posicionado no seio coronariano). Com a recuperação da contração ventricular sincrônica, espera-se uma melhora da função ventricular e, consequentemente, dos sintomas de IC. A essa técnica de estimulação se dá o nome de terapia de ressincronização cardíaca (TRC). Figura 5. Observe como na primeira imagem a contração ventricular esquerda é assincrônica. Já na segunda imagem, a colocação do ressincronizador restaura uma contração efetiva. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 12 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) Sobre esse tema, o que é mais cobrado em provas é a indicação da TRC, baseada nos pacientes que têm maior benefício de sua utilização. Dessa forma, a TRC está formalmente indicada para os pacientes portadores de ICFER com FEVE ≤ 35%, que permanecem sintomáticos apesar do tratamento clínico otimizado, apresentando ECG com ritmo sinusal, portadores de BRE completo e com duração do complexo QRS ≥ 150ms. Esses pacientes foram os que mais se beneficiaram da TRC nos ensaios clínicos. Refratarie dade ao tto clínico BRE Largo Ritmo Sinusal EV Refratarie dade ao tto clínico BRE Largo Ritmo Sinusal FEVE ≤ 35% TRC Figura 6. Critérios de boa resposta à terapia de ressincronização cardíaca (TRC). Se o BRE tiver duração entre 130-150 ms ou se a morfologia do QRS for de BRD com duração ≥ 160 ms, também pode ser indicada a TRC, porém com menos evidência de benefício. Outra indicação para TRC ocorre naqueles pacientes que necessitam de implante de marcapasso comum, mas que também sejam portadores de ICFER. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 13 CARDIOLOGIA Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) 4.2. CARDIODESFIBRILADOR IMPLANTÁVEL (CDI) A morte súbita é responsável por 30 a 50% dos óbitos dos portadores de IC, sendo que cerca de 80% desses episódios são decorrentes de arritmias ventriculares como taquicardia ventricular (TV) ou fibrilação ventricular (FV). Baseado nesses dados, foi desenvolvido um tipo de marcapasso com capacidade de reconhecer e, prontamente, tratar, através de um choque elétrico (desfibrilação ou cardioversão), arritmias ventriculares potencialmente graves, que poderiam causar morte súbita nos pacientes com ICFER. Tal dispositivo é o cardiodesfibrilador implantável (CDI). Essa terapia mostrou redução da mortalidade por arritmia ventricular em vários subgrupos de pacientes com ICFER, sendo superior às drogas antiarrítmicas. Figura 7. Radiografia de tórax de um cardiodesfibrilador implantável. Ao identificar um ritmo chocável, o gerador do CDI envia uma onda de choque que percorre de um "coil" a outro, abortando uma possível morte súbita. Fonte: Shutterstock. A indicação do CDI pode ocorrer em dois contextos clínicos distintos: para prevenção secundária (quando já houve algum evento de morte súbita ou arritmia ventricular grave instável documentado) e na prevenção primária de morte súbita (quando nunca houve um evento arrítmico prévio documentado). Nas provas, geralmente são cobrados os critérios para indicação do CDI na prevenção primária. Nesse cenário, o implante de CDI ocorrerá na seguinte situação: pacientes com ICFER sintomática, com FE ≤ 35%, em uso de terapia medicamentosa otimizada, em classe funcional NYHA II e III e que tenham boa expectativa de vida em 1 ano. Se o paciente for portador de cardiopatia isquêmica, deve-se avaliar a FEVE pelo menos 40 dias após o episódio de infarto agudo do miocárdio e 90 dias após a cirurgia de revascularização miocárdica (recomenda-se aguardar esse período para avaliar a possível recuperação da função ventricular). Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 14 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) Refratarie dade ao tto clínico BRE Largo Ritmo Sinusal EV Morte súbita abortada em TV/FV Síncope por TV/FV IC FEVE ≤35% e síntomas IC + TV CDI Figura 8. Resumo das indicações de implante de CDI (cardiodesfibrilador implantável). TV: taquicardia ventricular; FV: fibrilação ventricular; IC: insuficiência cardíaca; FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 15 CARDIOLOGIA Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) 5.0. ALGORITMO DE TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA Figura . Algoritmo de tratamento da ICFER. CAPÍTULO Como já dissemos anteriormente, o tratamento da ICFER é um dos tópicos mais “queridinhos” das provas de Residência. Sendo assim, deixamos aqui um algoritmo com as informações resumidas. Gaste um tempo neste resumo, porque ele garantirá a você diversas questões sobre o tema! Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 16 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) CAPÍTULO 6.0 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO PRESERVADA A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) é um subtipo de IC que vem sendo objeto de muitos ensaios clínicos recentes. Isso acontece pois tem sido notado um aumento na incidência dessa doença na população, estando associada a certas comorbidades de alta prevalência, tais como hipertensão arterial, obesidade, doença coronariana e fibrilação atrial. Em comum, todas essas doenças provocam uma diminuição do relaxamento ventricular, o que ocasiona disfunção diastólica, com aumento progressivo das pressões de enchimento ventricular, alteração fisiopatológica fundamental no desenvolvimento da ICFEP. É obrigatório para o diagnóstico que a fração de ejeção do ventrículo esquerdo seja ≥ 50%. A apresentação clínica e os critérios diagnósticos da ICFEP foram abordados no primeiro módulo de insuficiência cardíaca, que não é objeto deste resumo. Diferentemente do que acontece na ICFER, na ICFEP a maioria dos ensaios falhou em mostrar benefício de qualquer droga em redução de mortalidade, evidenciando, no máximo, benefício na melhora dos sintomas e redução das taxas de hospitalização. Acredita-se que essa dificuldade de replicar os resultados da ICFER esteja relacionada a uma maior heterogeneidade da população portadora de ICFEP, o que implica em uma maior dificuldade de uniformizar o tratamento. Na ICFEP não existem drogas capazes de reduzir mortalidade, apenas sintomas e hospitalizações. Portanto, recomenda-se tratar as comorbidades. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 17 CARDIOLOGIA Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) CAPÍTULO 7.0 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO INTERMEDIÁRIA (ICFEI) A insuficiência cardíaca com fração de ejeção intermediária (ICFEI)ou levemente reduzida (ICFELR) é uma classificação nova, definida pela presença de sinais e sintomas típicos de IC associados à presença de alterações estruturais do VE e fração de ejeção (FEVE) entre 40 e 49%. O tratamento da ICFEI deve ser focado no controle adequado das comorbidades associadas e no tratamento específico da etiologia, sendo fundamental a pesquisa de doença coronariana, devido à alta prevalência dessa condição. Em relação ao tratamento medicamentoso da ICFEI, não existem ensaios clínicos randomizados desenhados especificamente para esse modelo de paciente, sendo assim, as recomendações são baseadas nos resultados de estudos feitos em pacientes com ICFEP e ICFER. De forma geral, se o paciente tinha uma ICFER que melhorou para ICFEI, devemos manter as medicações que ele usou. Nos demais pacientes, em geral, usa-se, pelo menos, betabloqueadores, IECA ou BRA e espironolactona. Esse tema, especificamente, é pouco cobrado nas provas de Residência. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 18 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) CAPÍTULO 8.0 DROGAS CONTRAINDICADAS NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Para finalizarmos nosso estudo sobre o tratamento da IC, é importante comentarmos sobre as medicações que devemos evitar nessa doença. Atenção! Esse tema é comum em provas! Em quadros de insuficiência cardíaca, três tipos principais tipos de drogas são contraindicados: as que causam retenção hidrossalina, as cardiodepressoras e as que aumentam a incidência de taquiarritmias malignas. O primeiro grupo é representado, principalmente, pelos AINES (ibuprofeno, diclofenaco, cetoprofeno, etc.), pelos corticoides e pelas glitazonas (pioglitazona, rosiglitazona). Já no segundo grupo, temos os BCC não diidropiridínicos (verapamil e diltiazem), a propafenona, antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imipramina, nortriptilina, etc.) e quimioterápicos cardiotóxicos (trastuzumabe, ciclofosfamida, antracíclicos etc.). Por último, alguns antiarrítmicos podem causar arritmias malignas (TV/FV) em pacientes com alterações estruturais cardíacas, como acontece na ICFER. São eles: o sotalol, a propafenona e a quinidina. Além desses três grandes grupos, o Cilostazol, que é um inibidor da fosfodiesterase 3 que causa vasodilatação e tem ação antiplaquetária, muito usado em insuficiências arteriais periféricas, apesar de nunca ter sido estudado na insuficiência cardíaca, é uma droga contraindicada, já que pertence à mesma classe do Milrinone oral, que, quando testado, aumentou arritmias e morte na insuficiência cardíaca. Drogas contraindicadas na IC AINES Corticoides Glitazonas BCC não diidropiridínicos Propafenona Antidepressivos tricíclicos Quimioterápicos cardiotóxicos Cilostazol Sotalol Quinidina Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 19 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app https://bit.ly/3s3CROr Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 20 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) CAPÍTULO 10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Comitê Coordenador da Diretriz de Insuficiência Cardíaca. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539. 2. ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. EHJ. 2016; 37 (27): 2129-2200 3. 2017 ACC/AHA/ HFSA Focused Update of the 2013 ACCF/AHA Guideline for the Management of Heart Failure. JACC. 2017 August; 70 (6): 776-803 4. 2013 ACCF / AHA Guideline for the Management of Heart Failure. JACC. 2013 October 15; 62 (16): 147-239 5. Jameson JL. Doenças do sistema cardiovascular; In: Kasper DL. Medicina Interna de Harrison – Parte 10 – Seção 4– Doenças do coração; Capítulo 280 – Insuficiência Cardíaca: Manejo. 19ª Edição. Porto Alegre: AMGH Editora; 2017: 6281-6307. Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 21 CARDIOLOGIA Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) CAPÍTULO 11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS PARABÉNS, ESTRATEGISTA! Você acaba de concluir nosso resumo de um dos temas mais quentes da cardiologia! Caso tenha ficado com alguma dúvida, consulte o livro digital extensivo ou entre em contato pelo fórum de dúvidas ou pelo meu Instagram (@profjuandemolinari), terei o maior prazer em respondê-lo! Estratégia MED Prof. Juan Demolinari | Resumo estratégico | Junho 2021 CARDIOLOGIA 22 Insuficiência Cardíaca: Parte 2 (tratamento) https://med.estrategiaeducacional.com.br/ 1.0 INTRODUÇÃO 2.0 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO 3.0 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA IC DE FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA (ICFER) 4.0 DISPOSITIVOS CARDÍACOS IMPLANTÁVEIS NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA 4.1. TERAPIA DE RESSINCRONIZAÇÃO CARDÍACA (TRC) 4.2. CARDIODESFIBRILADOR IMPLANTÁVEL (CDI) 5.0. ALGORITMO DE TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA 6.0 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO PRESERVADA 7.0 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO INTERMEDIÁRIA (ICFEI) 8.0 DROGAS CONTRAINDICADAS NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA 9.0 LISTA DE QUESTÕES 10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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