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Marina Fogato Sobrinho Orçamentos e custos na administração pública A Série Universitária foi desenvolvida pelo Senac São Paulo com o intuito de preparar profissionais para o mercado de trabalho. Os títulos abrangem diversas áreas, abordando desde conhecimentos teóricos e práticos adequados às exigências profissionais até a formação ética e sólida. Orçamentos e custos na administração pública apresenta os fundamentos da gestão dos recursos públicos no Brasil aliada às práticas do planejamento orçamentário e financeiro. A obra aborda com profundidade os instrumentos de planejamento (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual) e sua execução, fundamentados na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), no Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) e nas Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC TSP). O livro trata, ainda, dos demonstrativos contábeis, bem como da apuração de custos aplicados ao setor público. O objetivo é proporcionar ao leitor uma visão geral sobre os aspectos essenciais da contabilidade e dos custos aplicados ao setor público do Brasil. SÉRIE UNIVERSITÁRIA OR ÇA M EN TO S E CU ST OS N A AD M IN IS TR AÇ ÃO P ÚB LI CA M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Simone M. P. Vieira - CBR 8a/4771) Sobrinho, Marina Fogato Orçamentos e custos na administração pública / Marina Fogato Sobrinho. – São Paulo : Editora Senac São Paulo, 2021. (Série Universitária) Bibliografia. e-ISBN 978-65-5536-787-4 (ePub/2021) e-ISBN 978-65-5536-788-1 (PDF/2021) 1. Gestão pública 2. Administração pública : Contabilidade I. Título lI. Série 21-1345t CDD-657.61 352.4 BISAC BUS051000 POL017000 Índice para catálogo sistemático 1. Administração pública : Contabilidade 657.61 2. Gestão pública : Administração financeira 352.4 ORÇAMENTOS E CUSTOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Marina Fogato Sobrinho M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Luiz Francisco de A. Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Editora Senac São Paulo Conselho Editorial Luiz Francisco de A. Salgado Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia Lucila Mara Sbrana Sciotti Luís Américo Tousi Botelho Gerente/Publisher Luís Américo Tousi Botelho (luis.tbotelho@sp.senac.br) Coordenação Editorial/Prospecção Dolores Crisci Manzano (dolores.cmanzano@sp.senac.br) Administrativo grupoedsadministrativo@sp.senac.br Comercial comercial@editorasenacsp.com.br Acompanhamento Pedagógico Otacília da Paz Pereira Designer Educacional Hágara Rosa da Cunha Araujo Revisão Técnica: Priscilla Silva Silvestrin Christiane Simioni Preparação e Revisão de Texto Daniele Lippert Projeto Gráfico Alexandre Lemes da Silva Emília Corrêa Abreu Capa Antonio Carlos De Angelis Editoração Eletrônica Cristiane Marinho de Souza Ilustrações Cristiane Marinho de Souza Imagens Adobe Stock Photos E-pub Ricardo Diana Proibida a reprodução sem autorização expressa. Todos os direitos desta edição reservados à Editora Senac São Paulo Rua 24 de Maio, 208 – 3o andar Centro – CEP 01041-000 – São Paulo – SP Caixa Postal 1120 – CEP 01032-970 – São Paulo – SP Tel. (11) 2187-4450 – Fax (11) 2187-4486 E-mail: editora@sp.senac.br Home page: http://www.livrariasenac.com.br © Editora Senac São Paulo, 2021 Sumário Capítulo 1 A administração pública, 7 1 A organização do Estado, 8 2 Administração pública – funções típicas de cada poder, 15 3 Princípios constitucionais da administração pública, 19 4 O administrador público, 21 Considerações finais, 26 Referências, 26 Capítulo 2 Contabilidade do setor público, 29 1 Contabilidade aplicada ao setor público (Casp), 30 2 Diferenças básicas entre a contabilidade aplicada ao setor público e a contabilidade privada, 41 3 Visão geral do complexo normativo que regulamenta a contabilidade do setor público, 44 Considerações finais, 50 Referências, 51 Capítulo 3 Sistemas públicos, 55 1 Os sistemas contábeis, 56 2 Sistemas de gestão pública, 62 3 Custos no setor público, 65 Considerações finais, 68 Referências, 69 Capítulo 4 Orçamento público, 71 1 Origem, conceito e divisões, 72 2 Princípios orçamentários, 77 3 Técnicas de elaboração orçamentária, 80 4 Regimes contábeis, 83 Considerações finais, 84 Referências, 85 Capítulo 5 Leis orçamentárias, 87 1 Ciclo orçamentário e princípios orçamentários, 88 2 Plano Plurianual (PPA), 100 3 Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), 102 4 Lei Orçamentária Anual (LOA), 104 Considerações finais, 108 Referências, 109 Capítulo 6 Programação e classificação das receitas e despesas públicas, 113 1 Receitas públicas, 114 2 Despesas públicas, 120 3 Suprimentos de fundos, 129 4 Restos a pagar, 131 5 Despesas de exercícios anteriores, 132 Considerações finais, 133 Referências, 134 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 6 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Capítulo 7 Relatórios contábeis de propósito geral aplicados ao setor público, 137 1 Demonstrativos contábeis públicos, 138 2 Consolidação das demonstrações contábeis, 149 Considerações finais, 151 Referências, 152 Capítulo 8 Escrituração e Plano de Contas do Setor Público (PCASP), 153 1 Conceitos, objetivos e alcance, 154 2 A estrutura das contas no PCASP, 157 3 Atributos da conta contábil, 159 4 Créditos empenhados a liquidar e empenhados em liquidação, 162 5 Regras de integridade do PCASP, 165 Considerações finais, 171 Referências, 172 Sobre a autora, 175 7 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 1 A administração pública Neste primeiro capítulo, serão apresentadas as noções básicas de Estado, seu conceito e organização. Na sequência, será abordado o tema da administração pública, sua estrutura e atividades, as funções do governo e as funções típicas de cada um dos poderes. Tais conceitos são importantes para se analisarem as justificativas da intervenção na economia, e de que forma o Estado e o planejamento governamental, por meio de seus instrumentos, como o orçamento pú- blico e sua execução,fazem com que as políticas públicas do Estado se efetivem na vida dos cidadãos. 8 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Em seguida, serão estudados os princípios constitucionais, os quais regram as atividades desenvolvidas pelo Estado, bem como as ações do administrador público, importante personagem tomador de decisões relacionadas ao orçamento público, sua execução e os custos que por fim se apresentam. Ao término deste capítulo, espera-se que o leitor seja capaz de ana- lisar a importância da existência e atuação do Estado, visto que tais conhecimentos poderão ajudá-lo a compreender as questões relaciona- das a orçamento e custos na administração pública. 1 A organização do Estado É constitucional a matéria no que concerne à divisão política do ter- ritório nacional e à estruturação dos poderes. O Estado é uma entidade político-social juridicamente organizada para executar os objetivos da soberania nacional, ou seja, é uma instituição que tem por objetivo or- ganizar a vontade do povo politicamente constituído, dentro de um ter- ritório definido, tendo como uma de suas características o exercício do poder coercitivo sobre os membros da sociedade. A seguir, no quadro 1, apresentam-se os elementos do Estado. Quadro 1 – Elementos do Estado ELEMENTOS DO ESTADO DESCRIÇÃO Poder político soberano Ordenamento jurídico impositivo, ou seja, o conjunto de normas e leis que regulamentam o convívio social. Povo Conjunto de cidadãos que se subordinam ao mesmo poder soberano e possuem direitos iguais perante a lei. Território Inclui espaço terrestre, aéreo e aquático, e é outro importante elemento do Estado. Mesmo o território desabitado – onde não há interações sociais – é parte do Estado, que sobre ele exerce poder soberano, controlando seus recursos. Ainda que haja sociedade ou até mesmo nação, quando não há território controlado pelo poder soberano, não há Estado. (cont.) 9A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. ELEMENTOS DO ESTADO DESCRIÇÃO Governo soberano Núcleo decisório do Estado, encarregado da gestão da coisa pública. É o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização emanado do povo. O governo, que faz parte da composição do Estado, é a organização necessária ao exercício do poder político, sendo a soberania o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer, dentro de seu território, a uni- versalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência. O artigo 1º da Constituição Federal de 1988 dispõe que “o Brasil é uma república federativa, constituída pela união indissolúvel dos estados, do Distrito Federal e dos municípios” (BRASIL, 1988). No sistema presiden- cialista, a divisão dos poderes é uma forma de organização do Estado. Os artigos 1º, 18 e seguintes da referida Constituição disciplinam a organização do estado, que pode ser esquematizada conforme figura 1. Figura 1 – Organização do Estado Distrito Federal Estados União Municípios Administração pública Estado República Federativa do Brasil Poder Legislativo: elabora e aprova as leis e tem função normativa Poder Executivo: executa as leis, converte a lei em ato individual e concreto e tem função administrativa Poder Judiciário: fiscaliza o cumprimento das leis, faz a aplicação coativa da lei aos litigantes e tem função judicial ï ï ï Poder Legislativo Poder Executivo Poder Judiciário ï ï ï Poder Legislativo Poder Executivo ï ï Poder Legislativo Poder Executivo ï ï Fonte: adaptado de Brasil (1988). 10 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . IMPORTANTE É importante ressaltar que não há hierarquia entre os poderes e que nos municípios e no Distrito Federal existem apenas dois poderes: Execu- tivo e Legislativo. Os municípios e o DF não mantêm ou organizam o seu Poder Judiciário. Nos municípios, a atuação do Judiciário é sempre federal, quando o assunto é de interesse da União, ou estadual, quando o interesse é local ou regional; já no Distrito Federal, a atuação do Judi- ciário é sempre federal. Portanto, a principal finalidade do Estado é a promoção do bem-es- tar comum, uma tarefa executada por meio da administração pública. Nesse sentido, pode-se citar o art. 6º da Constituição Federal, que ga- rante certos direitos a serem cumpridos pelo Estado: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na for- ma desta Constituição. (BRASIL, 1988). Sendo assim, o Estado se obriga a realizar atividades que por sua natureza específica só podem ser realizadas por ele mesmo. O Estado tem poder uno e indivisível, mas, para que esse poder não seja exercido apenas por um indivíduo ou instituição, aplica-se a teoria da separação dos poderes, em que existe um sistema que conjuga um Poder Legislativo, um Executivo e um Judiciário, com funções diversas e inconfundíveis, cujas atividades são atingidas por meio da administra- ção pública, que executa as políticas públicas. A tripartição dos poderes, consagrada no art. 2º da Constituição Federal, prevê a independência e a harmonia entre os poderes. Com base nessa verdade, o legislador da constituinte atribui diversas fun- ções aos três poderes, mas que não têm exclusividade absoluta. Assim, cada poder tem uma função predominante, detentora da soberania 11A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. estatal, além de outras funções, ou seja, cada um dos poderes executa funções típicas e atípicas. No quadro 2, a seguir, observa-se que o Poder Legislativo tem a fun- ção típica, ou seja, predominante ou principal, de elaborar as leis e fis- calizar contas do Poder Executivo, além de outras funções atípicas de cunho administrativo, como efetuar diversas contratações, entre elas a do seu quadro de pessoal. O Poder Executivo tem como função típica administrar a coisa pública e como funções atípicas, legislar (medidas provisórias) e realizar o julgamento do contencioso administrativo. Por último, o Poder Judiciário tem como função típica a jurisdicional, ou seja, aplicar a lei a cada caso concreto resultante de conflitos de inte- resses. Suas funções atípicas são aquelas de natureza administrativa ou legislativa, por exemplo, a concessão de aposentarias aos membros do Poder Judiciário, elaboração de regimentos internos, entre outras. Quadro 2 – Funções típicas e atípicas desempenhadas pelos poderes PODER FUNÇÕES TÍPICAS FUNÇÕES ATÍPICAS Legislativo • Elaboração de normas jurídicas que regulam o país. • Fiscalização das contas do Poder Executivo (planejamento e execução do orçamento público). Nessa função, o Legislativo é auxiliadopelo Tribunal de Contas e o Controle Parlamentar. • Administração interna (concursos, contratações, pagamento dos servidores). • Julgamento: do presidente, de governadores e de prefeitos (ex.: o presidente da República é julgado no Senado Federal nos crimes de responsabilidade). Executivo • Administração geral das estruturas governamentais e execução das normas jurídicas feitas pelo Poder Legislativo para o alcance do bem comum, ou seja, é a função do ente estatal que dá vida aos atos realizados ou executa atos. • Legislar: o Poder Executivo legisla, entre outras formas, por meio de medidas provisórias, mediante relevância e urgência. • Julgamento: contencioso administrativo. Judiciário • Função jurisdicional: realização da justiça, que aplica as leis ao caso concreto. Também chamado de ato de soberania do Poder Judiciário. • Função administrativa: organização dos cartórios, concursos públicos, aposentadorias. • Função legislativa: elaboração dos regimentos internos dos tribunais. Fonte: adaptado de Brasil (1988). 12 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . As funções administrativas compreendem: • Poder de polícia: restringe direitos individuais em prol do inte- resse coletivo (limite de velocidade em via pública, limites para construção de casas, interdição de restaurantes). • Prestação de serviço público: é a disponibilidade de serviços pú- blicos aos cidadãos (água, energia). • Fomento: é uma forma de incentivo à iniciativa privada para o de- sempenho de atividades de interesse público (incentivos fiscais, financiamento com condições especiais). • Intervenção: subdivide-se em regulamentação da atividade eco- nômica (normas emitidas pelo Banco Central sobre sistema ban- cário) e atuação direta no domínio econômico (Petrobras, Banco do Brasil). A função administrativa compreende também as atividades-meio, desenvolvidas para viabilizar as subfunções mencionadas (polícia, serviço público) e as funções legislativa e judicial. Portanto, abrir um processo licitatório e realizar concursos públicos, por exemplo, são fun- ções administrativas. Assim, observa-se que a função administrativa é desempenhada pelos três poderes a todo o tempo. As atividades estatais não são autossustentáveis, daí uma das im- portantes funções do Estado: a de estabelecer tributos para o financia- mento das políticas públicas, visando ao bem comum. Nos termos do art. 145 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e do art. 5º do Código Tributário Nacional, os tributos são (BRASIL, 1988; BRASIL, 1966): • Imposto: é recolhido sem necessariamente ter um destino e utili- zado para a manutenção da máquina estatal – em grande parte, em gastos com saúde e educação, entre outras finalidades. Por exemplo: ICMS. 13A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. • Taxas: cobradas em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específi- cos e divisíveis prestados ao contribuinte ou postos à sua dispo- sição. Exemplo: taxa de água. Na prática, a diferença entre taxa e imposto é que, enquanto o imposto é recolhido para manter o Estado funcionando e deve ser recolhido de qualquer maneira, a taxa será devida somente quan- do utilizado o serviço ou dele se tenha beneficiado. • Contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas: reco- lhida para conserto de asfalto, iluminação pública ou outra obra. Por exemplo, quando uma obra é executada em um determinado bairro, pode acontecer de os cidadãos que foram beneficiados e tiveram seu imóvel valorizado por conta da obra terem de pagar esse tributo ao governo que a financiou. O Estado é a representação do poder. Este, porém, se subdivide em três poderes, conforme a teoria da tripartição de poder de Montesquieu, para um melhor exercício das atividades estatais. Dando continuidade à esquematização da organização do Estado, a composição dos órgãos em cada poder é apresentada no quadro 3. Quadro 3 – Composição dos poderes do Estado PODER UNIÃO ESTADOS E DISTRITO FEDERAL* MUNICÍPIOS Legislativo Câmara dos Deputados e Senado Federal (formando o Congresso Nacional e o Tribunal de Contas da União) Assembleias legislativas e tribunais de contas do estado Câmara Legislativa Câmaras municipais Executivo Presidente, vice-presidente e ministérios Governadores, vice- governadores e secretarias Prefeitos, vice-prefeitos e secretarias (cont.) 14 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . PODER UNIÃO ESTADOS E DISTRITO FEDERAL* MUNICÍPIOS Judiciário Supremo Tribunal Federal (STF), Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Tribunal Superior do Trabalho (TST) e outros tribunais Tribunais Não há Fonte: adaptado de Brasil (1988). Nota-se que os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário são exer- cidos dentro de cada um dos entes federativos, exceto os municípios, que não têm função judiciária. Assim, o Poder Legislativo executa suas funções típicas e atípicas na União dentro da Câmara dos Deputados e no Senado Federal (que formam o Congresso Nacional e o Tribunal de Contas da União); nos estados, dentro das assembleias legislativas e dos tribunais de contas do estado; no Distrito Federal, dentro da Câmara Legislativa; já nos municípios, dentro das câmaras municipais. O Poder Executivo executa suas funções na União dentro da presidência e nos ministérios; nos estados e no Distrito Federal, nas secretarias e junto aos governadores; e nos municípios, junto aos prefeitos e secretarias. O Poder Judiciário, por sua vez, executa suas funções na União dentro do STF, do STJ, do CNJ, do TST e de outros tribunais; e nos estados, dentro dos tribunais. É importante frisar que: • O Poder Legislativo, tanto nos estados-membros quanto nos mu- nicípios e Distrito Federal, é unicameral, isto é, tem apenas uma casa legislativa. O único Legislativo bicameral é o Legislativo Federal, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. • Na esfera federal, existe o Tribunal de Contas da União (TCU). Na esfera estadual, os tribunais de contas dos estados. Já na esfera 15A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. municipal, a Constituição de 1988 vedou em seu artigo 31, §4º, a criação de tribunais de contas, conselhos ou órgãos de contas mu- nicipais, porém não houve ordem expressa de desfazer os tribunais de contas municipais já existentes. Assim, apenas duas cidades mantiveram seus tribunais de contas: São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto os outros municípios não puderam (e não podem) criá-los por ordem expressa constitucional. • O Ministério Público e a Defensoria Pública, com suas funções essenciais à justiça, não estão vinculados diretamente a nenhum dos poderes, pois necessitam de autonomia,e seus membros, de independência funcional, para o correto desempenho de sua missão constitucional. 2 Administração pública – funções típicas de cada poder Para Moraes, a administração pública é a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve para a consecução dos interesses coletivos e subjetivamente como o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado. (MORAES, 2007, p. 310). O Estado tem funções que devem ser desenvolvidas para atender às necessidades dos cidadãos, e estas só podem ser executadas através das atividades da administração pública, que tem suas regras previstas na Constituição. A Constituição Federal, em seu artigo 37, traz o título “Da Administração Pública”, que dispõe de forma taxativa sobre as regras da estrutura e de seu funcionamento. Dessa forma, apresenta-se, na figura 2, a organização administrativa dos entes federados. 16 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Figura 2 – Organização administrativa dos entes federados Administração direta Centralizada Administração indireta Descentralizada Órgãos: Federal: presidência, Câmara dos Deputados, Senado Federal, TCU, ministérios, tribunais, STF, STJ, CNJ, TST Estadual: governador, assembleias, TCE, secretarias e tribunais Distrito Federal: governador e secretarias Municipal: prefeito e secretarias Órgãos: Federal, estadual, Distrito Federal e municipal: empresas públicas, sociedades de economia mista, autarquias e fundações públicas Fonte: adaptado de Brasil (1988). 2.1 Administração direta A organização administrativa da Federação é complexa, pois abran- ge a União (administração federal), os estados (administração estadu- al), o Distrito Federal e os municípios (administração municipal). São poderes autônomos submetidos a um poder político próprio e único. Esses entes pertencem à administração direta e é possível estudá-los de forma individualizada. Na administração federal, o chefe maior do Poder Executivo é o pre- sidente da República, cujas atribuições, entre outras, são as de natureza administrativa, para cumprimento de seus fins governamentais. O art. 84, inciso II da Constituição expressa que compete privativamente ao presidente da República exercer, com o auxílio dos ministros de Estado, a direção superior da administração federal (BRASIL, 1988). Observe-se que os ministros fazem parte integrante da administração federal, par- ticipando, assim, da cúpula desta e dos conselhos, que são órgãos de assessoramento do presidente da República e dos ministérios. Diversos conselhos funcionam junto à superior administração federal, quais 17A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. sejam: conselho da República, conselhos de defesa nacional, conselho de administração social, conselho de comunicação, entre outros. Na administração estadual, o governador exerce o Poder Executivo Estadual, auxiliado pelos secretários de estado, que são responsáveis pela administração estadual da mesma forma como se citou anterior- mente em relação à administração federal. Por fim, a administração municipal é exercida pelo prefeito, em con- junto com a Câmara dos Vereadores. Os municípios menores, por terem estrutura mais simples, não necessitam de secretarias. O poder muni- cipal pode ser organizado em departamentos, coordenadorias, serviços e divisões, em vez de secretarias. As secretarias são estruturas mais complexas, estando presentes nos grandes municípios. O mesmo ocor- re no Distrito Federal. 2.2 Administração indireta A administração indireta baseia-se no instituto da descentralização, que é a distribuição de competências para outras pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. A administração indireta é criada legalmente na con- dição de pessoa jurídica de direito público ou privado, em que lhe será atribuída a titularidade e execução de um determinado serviço público. Segundo o inciso XIX, artigo 37: somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, de- finir as áreas de sua atuação. (BRASIL, 1988). Pertencem à administração indireta: • Autarquias: pessoa jurídica de direito público; só pode ser criada por lei, tem capacidade administrativa e capital exclusivamente 18 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . público, cujas atividades atribuídas são exclusivamente adminis- trativas. Exemplos: INSS, Detran, DER. • Empresas públicas: pessoa jurídica de direito privado, com patri- mônio público ou misto; é atribuída a elas a prestação de serviço público ou a exploração de atividades econômicas. Pode ser fe- deral, estadual ou municipal e, portanto, de propriedade única do Estado e administrada exclusivamente pelo poder público (a par- ticipação de empresa privada depende de autorização legislativa). Está sujeita ao regime privado das relações trabalhistas e tributá- rias. Exemplos: Correios e Caixa Econômica Federal. • Sociedade de economia mista: pessoa jurídica de direito privado, cujo capital é conjugado entre público e privado, com participa- ção do poder público em sua gestão e organização. É destinada a explorar atividades econômicas ou à prestação de serviço públi- co, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam majoritariamente ao poder público. Como se sujeita ao regime jurídico privado, responde por obrigações traba- lhistas e tributárias como o setor privado, não dispondo de privilé- gios fiscais que não sejam extensivos ao setor privado. Exemplos: Banco do Brasil, Sabesp. • Fundação pública: pessoa jurídica de direito privado ou público (quando estabelecido pelo governo), sem fins lucrativos, com patrimônio personalizado. Criada para executar atividades que não exijam execução por entidades de direito público. Exemplos: Fundação Memorial da América Latina, Fundação IBGE. 19A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 3 Princípios constitucionais da administração pública Para Nascimento (2010), “princípios são mandamentos que se irra- diam sobre as normas dando-lhes sentido, harmonia”. O artigo 37 da Constituição Federal reza que: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obe- decerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência […]. (BRASIL, 1988). Dessa forma, pode-se elencar como princípios constitucionais da administração pública: • Legalidade: subordinação à lei, ou seja, o administrador público só pode atuar quando a lei assim o permitir, portanto não há von- tade do agente. No particular, ao contrário, ele é livre para atuar,só não pode contrariar a lei (BRASIL, 1988). Somente a lei pode criar direitos e obrigações e inovar no mundo jurídico. Exceções: medida provisória (CF, art. 62) e normas do CNJ (CF, art.103-B). • Impessoalidade: tratar iguais igualmente e desiguais desigual- mente na medida de sua desigualdade. Aplicações do princípio: concurso público (CF, art. 37, II) e licitação (CF, art. 37, XXI). • Moralidade: ligada aos costumes, à honestidade, à não corrup- ção e à boa conduta. Norma constitucional que deflui desse prin- cípio: art. 37, §4° da Constituição Federal (BRASIL, 1988): Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previs- tas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. 20 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . • Publicidade: princípio ligado ao controle. Normas da Constituição que se ligam a esse princípio: art. 5°, XXXIII, XXXIV, “b”. O art. 37, § 1° da Constituição faz fusão entre os princípios da publicidade e moralidade: A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. (BRASIL, 1988). • Eficiência: é o resultado positivo e com qualidade do serviço pú- blico, usando o mínimo de recursos públicos possível. Esse prin- cípio foi introduzido pela Emenda Constitucional 19/98 (BRASIL, 1998) e traz a ideia de um estado gerencial com maior autono- mia dos órgãos e entidades públicas (BRASIL, 1988, art. 37, § 8º), em que predomina o controle de resultados sobre o controle de atividades-meio. PARA PENSAR Em janeiro de 2021, o prefeito de uma cidade brasileira “furou” a fila da vacinação contra a Covid-19, sendo o primeiro a ser imunizado no mu- nicípio, mesmo não fazendo parte do grupo prioritário de vacinação do plano nacional de imunização do Ministério da Saúde. Na sua opinião, essa ação feriu algum princípio constitucional? Em caso afirmativo, qual? Agora que você já conhece os princípios constitucionais da adminis- tração pública, reflita se onde você vive, você já teve a oportunidade de observar alguma prática ou conduta inadequada de agente público. 21A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 4 O administrador público Na ordem jurídica, aos agentes públicos é conferida a gestão de bens e interesses públicos, bem como algumas prerrogativas para que estes, em nome do Estado, possam concretizar os fins públicos (pode- res administrativos). Também são impostos ao administrador alguns deveres específicos, que lhes asseguram uma atuação efetiva, sempre em benefício do interesse público (deveres administrativos). Os principais poderes e deveres conferidos ao administrador público são: • Poder e dever de agir: como são irrenunciáveis, os poderes admi- nistrativos devem ser exercidos pelos titulares, e a omissão diante de situações que exigem atuação será caracterizada como abuso de poder, ensejando responsabilidade administrativa, civil e até cri- minal. No direito privado, o poder de agir é facultativo; já no direito administrativo, é uma imposição ao agente público. Um bom exemplo foi a Recomendação nº 0036 de 2020 da 137ª e da 138ª Promotorias de Justiça de Fortaleza, de 28 julho de 2020, que recomendou ao secretário da saúde do estado que, em um determinado prazo, estabelecesse por ato de sua competência um valor de multa e dosimetria de forma a exercer o poder-dever que lhe era conferido por determinação daquele estado, que tor- nava obrigatória a utilização de máscaras de proteção, sendo elas caseiras ou industriais, pela população local que transitasse em espaços públicos, tais como ruas, praças, transportes coletivos e congêneres, em decorrência das ações de enfrentamento ao novo coronavírus, enquanto perdurasse o estado de calamidade pública instalado no estado (MPCE, 2020). O governador em questão tinha competência e dever de agir, mas se omitiu, sendo compelido pelo Poder Judiciário a fazê-lo conforme determina o poder e dever de agir. 22 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . • Dever de eficiência: todo agente público deve realizar suas atribui- ções com presteza, perfeição e rendimento funcional. A eficiência funcional deve alcançar não somente produtividade, mas a perfei- ção e adequação técnica aos fins buscados pela administração. Só assim a eficiência atingirá os aspectos quantitativos e qualita- tivos do serviço público, tais como Corpo de Bombeiros e Samu. Na construção de um hospital, por exemplo, a eficiência poderá ser avaliada por meio dos custos empreendidos em contraponto com o resultado do hospital construído, podendo ainda ser esten- dida essa análise ao aumento do número de leitos disponibiliza- dos em contrapartida com os gastos realizados na construção. • Dever de probidade: “O dever de probidade é a atuação do agen- te público de forma proba, justa e honesta, sempre buscando o melhor para a administração” (BRASIL, 1992). Segundo a Lei nº 8.429/92, em seu art. 11, improbidade administrativa é caracte- rizada por “atos desonestos, imorais e ilegais, que importam en- riquecimento ilícito (art. 9º), que causem prejuízo ao erário (art. 10) e atentem contra os princípios da Administração Pública.” Ser probo é agir com lealdade no desempenho de suas atribuições, por exemplo, não conceder favores e privilégios a terceiros diante de uma situação de discricionariedade1. • Dever de prestar contas: decorre da própria formação democrá- tica do Estado brasileiro, da divisão dos poderes nos chamados freios e contrapesos, que dizem que os poderes, apesar de serem autônomos e independentes entre si, se fiscalizam naturalmente. Sua previsão encontra-se no art. 70 da Constituição Federal: […] A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e in- 1 Liberdade de ação administrativa, dentro dos limites ou margem permitidos pela legislação pertinente. 23A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. direta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congres- so Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídi- ca, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou ad- ministre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. (BRASIL, 1988) É inerente à função doadministrador público o dever de prestar contas dos recursos geridos por ele durante seu mandato eletivo, ou seja, no período em que atuou como ordenador de despesas. Daí a importância de esse administrador poder contar com sis- temas seguros e profissionais contabilistas que lhe tragam de- monstrativos e relatórios fidedignos para importantes decisões na gestão dos recursos públicos sob sua responsabilidade. Os poderes e deveres da administração pública são instrumentos usados para o atendimento do interesse público. Quando os atos ex- cedem os limites das atribuições ou se desviam da finalidade, são con- siderados abuso de poder e, por consequência, prática de ato ilícito. A improbidade administrativa é caracterizada pela prática de conduta ad- ministrativa que viole os princípios e interesses da administração. Algumas infrações podem gerar punições ao administrador público no exercício de sua função. São elas: • Uso e abuso de poder: é o ato do agente público de exorbitar em suas atribuições, quer excedendo os limites do mandato que lhe foi conferido, quer ultrapassando os limites legais na prática de atos administrativos, ou ainda extrapolando o ordenamento jurídi- co na entrega das prestações jurisdicionais. Um bom exemplo é o do agente de agência reguladora que, no seu exercício do poder de polícia, impõe multa administrativa a uma empresa supostamente 24 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . faltosa. Ficando comprovado que a multa foi por motivo dissocia- do do interesse público, em razão de perseguição pessoal ao dono da empresa, ficará caracterizado abuso de poder. • Excesso de poder: é uma forma de abuso de poder em que a ação do agente público vai além dos limites de sua competên- cia, invadindo a competência de outros agentes ou praticando atos não permitidos por lei. Tal conduta abusiva é caracterizada tanto pelo descumprimento frontal da lei, quando a autoridade age além de sua competência, quanto pelo ato de contornar dis- simuladamente as limitações da lei, usando poderes não atri- buídos a ela legalmente. Exemplo: fiscal sanitário que chega a um estabelecimento e exige apresentação de documentos não ligados à norma sanitária. • Desvio de finalidade: ocorre quando o agente, apesar de estar nos limites de sua competência, não está exorbitando lei e, por- tanto, sua vontade não é de interesse público. Por exemplo, é des- vio de finalidade quando o administrador exonera servidor que cometeu infração, visto que foi desrespeitada a finalidade legal do ato, pois a exoneração é a perda do cargo do servidor sem finalidade punitiva, enquanto a demissão tem tal finalidade. • Omissão da administração: também chamada de “silêncio ad- ministrativo”, é identificada na situação em que a administração, quando provocada pelo administrado, ou para fins de controle de outro órgão, deveria se pronunciar e não o faz. NA PRÁTICA Um exemplo que caracterizou omissão administrativa foi a decisão judi- cial que determinou a realocação das famílias residentes em área verde de um determinado município. Na ação em questão, a promotoria, referindo-se ao município, relatou que a área verde foi ocupada mediante compra e doações dos terrenos, 25A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. mas que os compradores não puderam obter legalmente o fornecimen- to de água, energia e saneamento básico, visto que se tratava de área de preservação ambiental e, portanto, considerada pelo poder público como ocupação irregular. Dessa forma, idosos, gestantes, crianças e adolescentes moravam ali sem as mínimas condições de higiene, uti- lizando água imprópria para o consumo e expostos ao risco do uso de velas ou ligações de energia clandestinas (MPSC, 2014). Para o Ministério Público daquele estado, eram obrigações do município a preservação do meio ambiente e a implantação de políticas públicas que assegurassem o bem-estar social, e foi a omissão da administração municipal que resultou na situação daquelas pessoas. Diante disso, a promotoria interveio, requerendo ao juízo liminar para que o município promovesse a imediata retirada das famílias do local e a sua realocação em local adequado até a solução definitiva do problema. Com a liminar concedida, o município recorreu ao Tribunal de Justiça, mas seu recurso foi negado, prevalecendo que a omissão daquela ad- ministração deu causa àquela situação e que, portanto, ela tinha o dever de arcar com as consequências e resolver o problema (MPSC, 2014). Concluindo, no art. 37, parágrafo 6º da Constituição Federal, diz-se que: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado pres- tadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o di- reito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (BRASIL, 1988). Isso significa que as condutas dos agentes públicos ou adminis- tradores, sejam elas comissivas ou omissivas, que de alguma forma prejudiquem o usuário do serviço público ou causem prejuízos ao erá- rio público, quando identificadas, mensuráveis ou não, poderão ensejar responsabilidades e processos administrativos e/ou criminais, inclusive com possível ressarcimento aos cofres públicos. 26 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Considerações finais Considerando o estudo deste capítulo, e numa acepção mais am- pla, pode-se entender a administração pública como um conjunto de atividades instrumentais para o desempenho das funções próprias dos poderes do Estado. Em uma visão mais restrita, levando em considera- ção a divisão dos poderes, corresponde às funções cometidas ao Poder Executivo, como a prestação de serviços públicos (educação, seguran- ça, saúde, realização de obras públicas, exercício do poder de polícia administrativa, incentivo às atividades dos particulares que atendam ao interesse da sociedade, entre outros). A administração pública presta serviços públicos diretamente ou por meio de seus agentes delegados sob regimento jurídico público para o atingimento de necessidades coletivas. Foi visto, ainda, que a atuação do Estado é regulada por um conjunto de princípios e normas específicas decorrentes do regime jurídico de direito público, distinto do aplicável ao direito privado, de tal sorte que os servidores públicos no geral, inclusive os administradores públicos, devem respeitar essas regras e agir dentro de suas competências, sob pena de responsabilidade administrativa e penal. Por fim, percebe-se que é de grande importância que o administrador público tenha o domínio do conhecimento da máquina administrativa do Estado, não só nos limites de sua atuação e responsabilidade, mas também de como administrar os recursos públicos com a maior eficiên- cia possível, sempre focando o bem-estar da sociedade. Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 12 mar. 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 27A administração pública M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. BRASIL. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicá- veis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Brasília, DF: Senado Federal, 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8429.htm. Acesso em: 12 mar. 2021. BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília, DF: Senado Federal, 1966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em: 12 mar. 2021. SIGILO justo: Juiz pode autorizar que massa falida investigue em segredo bens no exterior. Revista Consultor Jurídico, 11 maio 2015. Disponível em: https:// www.conjur.com.br/2015-mai-11/juiz-autorizar-massa-falida-investigue-bens- -segredo. Acesso em: 12 mar. 2021. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. São Paulo: Atlas, 2007. MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ (MPCE). Recomendação nº 0036/2020/137ªPmJFOR. Classe do processo: procedimento administrativo. Nº 09.2020.00000442-6. Set. 2020. Disponível em: http://www.mpce.mp.br/ wp-content/uploads/2020/07/Recomenda%C3%A7%C3%A3o-N-0036.2020. pdf. Acesso em: 12 mar. 2021. MINISTÉRIO PÚBLICO DE SANTA CATARINA (MPSC). Mantida liminar para re- alocar famílias em área verde no Oeste. 29 out. 2014. Disponível em: https:// www.mpsc.mp.br/noticias/mantida-liminar-para-realocar-familias-em-area- -verde-no-oeste. Acesso em: 12 mar. 2021. NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Gestão pública. São Paulo: Saraiva, 2010. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8429.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm https://www.conjur.com.br/2015-mai-11/juiz-autorizar-massa-falida-investigue-bens-segredo https://www.conjur.com.br/2015-mai-11/juiz-autorizar-massa-falida-investigue-bens-segredo https://www.conjur.com.br/2015-mai-11/juiz-autorizar-massa-falida-investigue-bens-segredo http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2020/07/Recomenda%C3%A7%C3%A3o-N-0036.2020.pdf http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2020/07/Recomenda%C3%A7%C3%A3o-N-0036.2020.pdf http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2020/07/Recomenda%C3%A7%C3%A3o-N-0036.2020.pdf https://www.mpsc.mp.br/noticias/mantida-liminar-para-realocar-familias-em-area-verde-no-oeste https://www.mpsc.mp.br/noticias/mantida-liminar-para-realocar-familias-em-area-verde-no-oeste https://www.mpsc.mp.br/noticias/mantida-liminar-para-realocar-familias-em-area-verde-no-oeste 29 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 2 Contabilidade do setor público Neste capítulo, será estudado o objetivo da contabilidade aplicada ao setor público (Casp), bem como o seu objeto, que é o patrimônio público, entendendo a organização e a classificação jurídica e contábil dos bens públicos. Serão levantadas, ainda, questões relacionadas ao registro, regime, escrituração e demonstrativos da Casp. Mais à frente, será detalhado o complexo normativo que regulamenta a contabilidade do setor público, abordando os artigos da Constituição Federal, as leis complementares e ordinárias, as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) vigentes, os manuais, bem como as Normas Internacionais de Contabilidade do Setor Público (Ipsas – International Public Sector Accounting Standards). 30 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Dessa forma, será possível ter uma visão geral dos conceitos ineren- tes e iniciais, bem como dos regulamentos que os regram e as diferen- ças básicas entre a contabilidade aplicada ao setor público e a aplicada ao setor privado. 1 Contabilidade aplicada ao setor público (Casp) A Casp é uma das muitas ramificações da ciência contábil. Na vi- são de Piscitelli e Timbó (2014, p. 7), a contabilidade pública […] constitui uma das subdivisões da Contabilidade Aplicada a dife- rentes tipos de atividades, de entidades. Seu campo de atuação é, assim, o das pessoas jurídicas de Direito Público interno – União, Estados, Distrito Federal e Municípios e suas autarquias –, bem como o de algumas de suas entidades vinculadas – fundações públicas e empresas públicas, estas pelo menos quando utilizam recursos à conta do Orçamento Público. A Casp registra e evidencia, por meio de seu sistema de escrituração (lançamentos a débito e lançamentos a crédito), os fenômenos orça- mentários e patrimoniais (atos e fatos) dos entes públicos. No caso dos registros orçamentários (enfoque orçamentário), são escriturados os atos e fatos (fases das receitas e despesas públi- cas) das leis orçamentárias, quais sejam, Plano Plurianual (PPA) e Lei Orçamentária Anual (LOA), aprovados para cada um dos entes federa- dos (União, estados, municípios e Distrito Federal). Já os registros patrimoniais (enfoque patrimonial) referem-se aos fatos patrimoniais, por exemplo, o registro do ativo e do passivo, das receitas e despesas no âmbito patrimonial, quais sejam, as variações patrimoniais aumentativas (VPA) e as variações patrimoniais diminu- tivas (VPD). 31Contabilidade do setor público M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. A Lei nº 4.320/1964, em seus artigos 89 e 105, § 5º, normatiza sobre esse assunto: Art. 89. A contabilidade evidenciará os fatos ligados à administra- ção orçamentária, financeira patrimonial e industrial. […] Art. 105. O Balanço Patrimonial demonstrará: […] § 5º Nas contas de compensação serão registrados os bens, va- lores, obrigações e situações não compreendidas nos parágrafos anteriores e que, imediata ou indiretamente, possam vir a afetar o patrimônio. (BRASIL, 1964, grifos nossos). Dessa forma, a contabilidade aplicada ao setor público tem como objeto o patrimônio público, que registra os fatos, bem como os atos, sejam eles administrativos ou contábeis. Portanto, tais situações de- vem ser estudadas, controladas, orientadas e registradas pela Casp. Antes de se aprofundar o tema, é preciso compreender a diferença entre atos e fatos. Atos são situações que não alteram o patrimônio no primeiro momento, mas que podem afetar futuramente. São regis- trados no sistema de controle. Por exemplo: contratos, planejamento orçamentário, previsão da receita, fixação da despesa. Já os fatos são situações que alteram o patrimônio e são classifi- cados em: • Permutativos ou compensativos: permutam elementos do ativo e/ou do passivo, mas não alteram o valor do patrimônio líquido (PL). Exemplo: permuta ou compensação entre elementos do ati- vo, do ativo e do passivo ou do lado passivo: (+A, -A) (+A, +P) (-A, -P) (+P, -P) (+PL, -PL). • Modificativos: alteram o valor do PL para mais (receita) ou para me- nos (despesa).Quando a alteração é para mais, é fato modificativo 32 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . aumentativo, e quando é para menos, é fato modificativo diminuti- vo. Exemplo: (-A, -PL) (+A, +PL) (-P, +PL) (+P, -PL). • Mistos ou compostos: união de fato permutativo com fato mo- dificativo aumentativo ou diminutivo. Quando é fato permutativo junto com fato modificativo aumentativo, resulta em um fato mis- to aumentativo. Quando é fato permutativo junto com fato modi- ficativo diminutivo, resulta em fato misto diminutivo. Obrigatoriamente, a Casp registra e controla atos e fatos administra- tivos, enquanto na contabilidade privada a obrigatoriedade é de se con- trolarem apenas os fatos, ou seja, nela, o controle dos atos administra- tivos é opcional; pode-se, por exemplo, registrá-los para fins de gestão. Sobre os objetivos da Casp, a Lei nº 4.320/1964, em seu art. 85, diz que ela deve ser uma ferramenta para prestação de contas: A contabilidade evidenciará perante a Fazenda Pública a situação de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens a ela pertencentes ou confiados. (BRASIL, 1964). Nesse sentido, pode-se também concluir que qualquer pessoa que guarde, arrecade, gerencie, administre ou utilize bens, dinheiros ou va- lores públicos é considerada gestora de recursos públicos e, portanto, deve prestar contas deles, ou seja, responde pelo patrimônio público sob sua guarda. A mesma lei dispõe que outro objetivo da Casp é a realização da superintendência das tomadas de contas: Ressalvada a competência do Tribunal de Contas ou órgão equiva- lente, a tomada de contas dos agentes responsáveis por bens ou dinheiros públicos será realizada ou superintendida pelos serviços de contabilidade. (BRASIL, 1964). 33Contabilidade do setor público M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Ainda de acordo com o artigo 85 da referida lei, Os serviços de contabilidade pública devem ser organizados de for- ma a permitirem o acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição do patrimônio público, a determina- ção dos custos dos serviços industriais, o levantamento dos balan- ços gerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos e financeiros. (BRASIL, 1964). Outro objetivo da Casp é gerar informações (demonstrações e ba- lanços contábeis) que vão ajudar no processo decisório atendendo aos Relatórios Contábeis de Propósitos Gerais (RCPG), bem como na prestação de contas e responsabilização. Os objetivos da elaboração e divulgação da informação contábil são determinados com base nos usuários dos RCPG e suas necessidades de informações. Por fim, note-se que a contabilidade aplicada ao setor público era muito diferente da contabilidade do setor privado, e isso mudou com o início do processo de convergência das normas. O foco e um dos obje- tos da contabilidade pública era o orçamento público, o que a distancia- va e muito da contabilidade privada. Com o processo de convergência, a contabilidade pública, agora chamada de contabilidade aplicada ao setor público (ou Casp), se aproximou da contabilidade privada, e hoje o que as diferencia são apenas as especificidades. As diferenças serão estudadas mais adiante. 1.1 Patrimônio público O objetivo principal das entidades do setor público é a prestação de serviços públicos à sociedade. Tendo em vista que o objeto de estudo da Casp é o patrimônio público, pode-se concluir que o titular desse pa- trimônio é o povo. Sendo assim, é necessário haver um controle desse patrimônio também pela sociedade. 34 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Embora já se tenha definido patrimônio público, o conceito pode ser reforçado pelas palavras do autor Bezerra Filho (2008, p. 152), que define patrimônio público como o que “constitui o conjunto de bens, valores, cré- ditos e obrigações de conteúdo econômico e avaliáveis em moeda que a Fazenda Pública possui e utiliza na consecução dos seus objetivos”. Na contabilidade privada, o objeto é o patrimônio, mas na contabili- dade pública esse patrimônio é o público, isto é, o patrimônio do ente federativo, o conjunto de bens e direitos do poder público. Esses bens podem ser corpóreos ou incorpóreos. Fazem parte do patrimônio público bens públicos que, segundo o Código Civil, são classificados juridicamente como: Art. 99. São bens públicos: I – os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II – os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; III – os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas ju- rídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades; Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram- -se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado. (BRASIL, 2002). A par disso, a classificação dos bens públicos se apresenta em: • bens de uso comum; • bens de uso especial; e • bens dominicais. 35Contabilidade do setor público M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Os bens públicos de uso comum são aqueles destinados ao uso co- letivo, ou seja, são bens de uso geral, que podem ser aproveitados por todos os indivíduos. São exemplos as calçadas, praças, rios, praias e ruas. Normalmente, esses bens são indisponíveis por natureza, pois são bens não patrimoniais e que não podem ser alienados. Já os bens públicos de uso especial são os lugares usados pela ad- ministração pública para atingir seus objetivos (repartições públicas), ou seja, são bens de uso específico nos quais são prestados serviços públicos. São exemplos os hospitais e escolas públicas. Observe-se que são bens patrimoniais indisponíveis e não podem ser alienados. Os bens públicos dominicais, que também são patrimônio do Estado, são bens disponíveis e sem destinação pública definida, portanto, po- dem ser aplicados para se obter renda, podendo ser alienados, obede- cidas as determinações legais. São exemplos as terras devolutas e pré- dios públicos desativados e sem destinação pública específica; e uma viatura que não será mais utilizada e poderá ir a leilão. Outra classificação é a dos bens corpóreos e incorpóreos: • Bens corpóreos: são aqueles que têm existência física, são con- cretos e visíveis, por exemplo, as propriedades de bens móveis e imóveis, máquinas, equipamentos, automóveis e dinheiro em caixa. • Bens incorpóreos: são bens abstratos, que não têm presença fí- sica, por exemplo, as marcas e patentes, direitos autorais, partici- pações em outras empresas e créditos em haver. Quanto à contabilização dos bens públicos, a regraantiga estabele- cia que deveriam ser contabilizados somente os bens que atendiam às características de uso restrito, específico e não generalizado, ou seja, os bens de uso especial e dominicais. A nova regra do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) estabeleceu, desde a Resolução nº 1.137/2008 sobre a NBC T 16.10, que: 36 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Os bens de uso comum que absorveram ou absorvem recursos pú- blicos, ou aqueles eventualmente recebidos em doação, devem ser incluídos no ativo não circulante da entidade responsável pela sua administração ou controle, estejam ou não afetos à sua atividade operacional. (CFC, 2008). NA PRÁTICA Nesse passo, devem ser contabilizados todos os bens de uso especial e dominicais, bem como os bens de uso comum, que absorveram ou ab- sorvem recursos públicos. Exemplo: uma praça construída com recur- sos públicos, nesse caso, é contabilizada como um bem público de uso comum artificial no ativo não circulante da entidade pública. Por outro lado, uma praia é um bem de uso comum natural, ou seja, não é possível contabilizá-la. Sua manutenção será uma despesa para a entidade, mas não será contabilizada no patrimônio público. Em suma, os bens de uso especial e dominicais sempre foram e con- tinuam sendo contabilizados, porém, com a NBC T 16.10 (CFC, 2008), os bens de uso comum passaram a ser contabilizados também, tanto os que absorveram quanto os que absorverão recursos públicos. Existe outra situação em que os bens de uso comum também devem ser contabilizados: os recebidos por doação. Por exemplo, se um cida- dão ou uma empresa que tenha um terreno quiser construir uma quadra esportiva para doar ao seu município, após a doação, o município deverá realizar o registro do bem em seu patrimônio. Por fim, como o ativo é dividido em circulante e não circulante, os bens públicos são registrados no ativo não circulante da entidade pública. Um aspecto muito importante do patrimônio público é apresentado na norma da Preservação do Patrimônio Público, que está prevista no art. 44 da Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei nº 101/2000, que determi- na que: 37Contabilidade do setor público M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. É vedada a aplicação da receita de capital derivada da alienação de bens e direitos que integram o patrimônio público para o finan- ciamento de despesa corrente, salvo se destinada por lei aos regi- mes de previdência social, geral e próprio dos servidores públicos. (BRASIL, 2000). Note-se que o artigo tem uma regra e uma exceção. Primeiro, ele pro- íbe o uso da receita de capital1 advinda da venda de bens e direitos para financiar despesas de custeio, destinadas, por exemplo, para pagar sa- lários dos funcionários, prestação de serviços contratados, compra de materiais de consumo e aluguéis. Em uma situação hipotética da venda de uma empresa estatal cuja receita seria de capital, não seria possível, a princípio, usar essa receita para pagar despesas correntes2. É importante observar que não é proibido vender o patrimônio público, porém, essa venda e o seu produto devem ser controlados, bem como o uso futuro desse recurso. Portanto, a regra é que o recurso oriundo da venda de bens poderá ser utilizado para a compra ou financiamento de outros bens de capital. A exceção da proibição da venda do patrimônio público é que o pro- duto dessa alienação poderá ser utilizado para, além de comprar outros bens de capital, cobrir o déficit do sistema previdenciário geral (âmbito da União) ou dos serviços públicos, regime próprio em qualquer dos entes federativos. Portanto, pode-se subtrair da norma que a receita de capital pode perfeitamente ser utilizada para um gasto com despesa de capital, ou seja, trocar receita de capital por despesa de capital é totalmente legal. 1 Receitas de capital “são as receitas provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em despesas de capital”. (SÃO PAULO, [s. d.], p. 5) 2 Despesas correntes são “despesas de custeio de manutenção das atividades dos órgãos da administração pública, como por exemplo: despesas com pessoal, juros da dívida, aquisição de bens de consumo, serviços de terceiros, manutenção de equipamentos, despesas com água, energia, telefone etc.” (BRASIL, [s. d.]). 38 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Outra norma importante é a conhecida “regra de ouro”, que é a essência do patrimônio público e também uma norma de proteção desse patrimônio, uma vez que procura evitar endividamento excessi- vo. Essa regra começa a ser mencionada no artigo 167, inciso III, da Constituição Federal, in verbis: São vedados: […] III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta […]. Nesse caso, a lei tem o objetivo de evitar que o ente federativo faça empréstimos (operações de crédito) e não consiga pagar, o que po- deria prejudicar o patrimônio público. O referido ente poderá até rever operações de crédito, pedindo empréstimos a bancos, instituições fi- nanceiras ou em outros entes federativos, mas será sempre limitado ao montante da despesa de capital projetado em seu orçamento pú- blico. Anteriormente, era normal o pedido de empréstimos, inclusive internacionais, para pagar despesas de salários em atraso. Essa regra de proteção e preservação do patrimônio público tam- bém é reforçada no art. 12, §2º da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei 101/2000), que diz: Art. 12. As previsões de receita observarão as normas técnicas e le- gais, considerarão os efeitos das alterações na legislação, da varia- ção do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de demonstrativo de sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois se- guintes àquele a que se referirem, e da metodologia de cálculo e premissas utilizadas. […] 39Contabilidade do setor público M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. § 2º O montante previsto para as receitas de operações de crédito não poderá ser superior ao das despesas de capital constantes do projeto de lei orçamentária. Excepcionalmente, caso o ente demonstre necessidade efetiva do referido empréstimo e que exceda o montante em referência, depen- derá de autorização legislativa com especificamente maioria de votos. Pode-se notar, assim, um grande esforço por parte dos legisladores, ao imprimir em diversos artigos de diferentes normas a preocupação com a manutenção e preservaçãodo patrimônio público, na tentativa de se evitar sua dilapidação ou perda total por conta de uma má gestão por parte dos governantes. PARA SABER MAIS Para controle da sociedade, o governo federal disponibiliza na internet um painel de acompanhamento do cumprimento da regra de ouro pela União. Pesquise por “painel da regra de ouro da União” e consulte os dados lá disponibilizados. Pelo enfoque contábil, o patrimônio público é estruturado em três grandes grupos, conforme apresentado na figura 1. Figura 1 – Organização do patrimônio público sob o enfoque contábil Situação patrimonial líquida Passivo Patrimônio público Não circulanteCirculante Ativo Não circulanteCirculante 40 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Pelo organograma apresentado na figura 1, o patrimônio público apresenta uma estrutura composta pelo ativo, passivo e situação patri- monial líquida, também chamada de patrimônio líquido. Anteriormente, dizia-se que ativos eram bens e direitos, os passivos eram obrigações e o patrimônio líquido era a diferença entre ativo e pas- sivo. A NBC TSP Estrutura Conceitual (CFC, 2016) trouxe novas defini- ções em relação a esses elementos patrimoniais. Com as mudanças, o processo de convergência e as novas nomenclaturas, existe uma nova conceituação desses elementos componentes da estrutura patrimonial dentro da Casp. • Ativo: refere-se ao recurso controlado no presente pela entidade como resultado de evento passado. Com base no atributo de con- versibilidade, o ativo é classificado em: ◦ Ativo circulante: recursos que estejam disponíveis para realiza- ção imediata ou com expectativa de realização até o término do exercício seguinte. ◦ Ativo não circulante: demais recursos que não atendam aos critérios de ativo circulante, quais sejam: Realizável a Longo Prazo, Investimentos, Imobilizado e Intangível • Passivo: são as obrigações do presente derivadas de eventos passados, cuja extinção resulte na saída de recursos da entidade. Com base no atributo de conversibilidade, o passivo é classifica- do em: ◦ Passivo circulante: obrigações que respondem à ordem de valores que são passíveis de exigência até o final do exercí- cio seguinte e situações em que o Estado é depositário fiel de valores de terceiros ou de retenções em nome deles, indepen- dentemente do prazo de exigibilidade. ◦ Passivo não circulante: demais obrigações que não se enqua- drem nos critérios anteriores, ou seja, obrigações trabalhistas, 41Contabilidade do setor público M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. previdenciárias e assistenciais a pagar a longo prazo; emprés- timos e financiamentos a longo prazo; fornecedores e contas a pagar a longo prazo; obrigações fiscais a longo prazo; provi- sões a longo prazo; demais obrigações a longo prazo e resul- tado diferido. • Situação patrimonial líquida: diferença entre os ativos e os pas- sivos após a inclusão de outros recursos e a dedução de outras obrigações, reconhecida na demonstração que evidencia a situa- ção patrimonial como patrimônio líquido. Pode ser um montante residual positivo ou negativo. 2 Diferenças básicas entre a contabilidade aplicada ao setor público e a contabilidade privada No quadro 1, apresentam-se as principais diferenças entre a conta- bilidade aplicada ao setor público e a contabilidade aplicada ao setor privado. Quadro 1 – Diferenças básicas entre a contabilidade aplicada ao setor público e a contabilidade privada ASPECTOS SETOR PÚBLICO SETOR PRIVADO Legislação • Constituição Federal de 1988 • Lei nº 4.320/64 • LC nº 101/00 • NBC do setor público • Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) • Manual de Informações de Custos (MIC) • Lei nº 6.404/76 e suas alterações • NBC do setor privado Princípios Princípios fundamentais da contabilidade e princípios orçamentários Princípios fundamentais da contabilidade Objeto Patrimônio público Patrimônio privado (cont.) 42 Orçamentos e custos na administração pública Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . ASPECTOS SETOR PÚBLICO SETOR PRIVADO Registro Atos e fatos administrativos e contábeis Fatos contábeis (podendo controlar atos) Regime de escrituração • Enfoque orçamentário: regime misto, sendo regime de caixa para receitas e regime de competência para as despesas • Enfoque patrimonial: regime de competência Regime de competência Sistema de escrituração São quatro sistemas independentes: orçamentário, patrimonial, compensação (natureza de controle) e custos Um só sistema, onde são registradas as contas patrimoniais e de resultado Resultado Superávit ou déficit Lucros ou prejuízos Demonstrações • Balanços: orçamentário, financeiro e patrimonial (BO, BF e BP) • Demonstrações das variações patrimoniais (DVP) • Demonstração dos fluxos de caixa (DFC) • Demonstrações das mutações do patrimônio líquido (DMPL): obrigatória para as empresas estatais dependentes, constituídas sob a forma de S. A., e facultativa para os demais órgãos e entidades públicas • Balanço patrimonial (BP) • Demonstração do resultado do exercício (DRE) • Demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados • Demonstração do fluxo de caixa (DFC) • Demonstração do valor adicionado (DVA) Nessa vereda, o quadro anterior mostra que existem algumas dife- renças entre a contabilidade aplicada ao setor público e a aplicada ao setor privado. A primeira diferença, claro, está relacionada à normas aplicáveis, que são diversas e cujos detalhes serão analisados no próximo capítulo. Saliente-se que as NBC T 16.1 a 16.5 foram revogadas. Por outro lado, foi elaborada a NBC TSP Estrutura Conceitual (CFC, 2016), que trata de alguns temas que eram abordados nessas normas que não estão mais em vigência. 43Contabilidade do setor público M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. A segunda diferença refere-se aos princípios, pois, além dos princí- pios fundamentais da contabilidade, a Casp também aplica os princí- pios orçamentários, visto que se utiliza obrigatoriamente do orçamento público, o que não é o caso da iniciativa privada. Ressalte-se que, embo- ra a Resolução CFC nº 750/93 (CFC, 1993), que tratava dos princípios fundamentais da contabilidade, tenha sido revogada, tais princípios são intrínsecos à disciplina e continuam sendo fundamentais, não sendo mais necessária sua normatização. A terceira diferença refere-se ao objeto da Casp. Considerando que o objeto de toda contabilidade é o patrimônio, é óbvio que para o setor público o objeto é o patrimônio público, enquanto para o setor privado é o patrimônio privado. Lembrando que, anteriormente, o orçamento pú- blico era o foco da contabilidade pública; somente após o processo de convergência foi resgatado esse conceito contábil do objeto. O orça- mento público, porém, continua sendo peça fundamental para a Casp. A quarta diferença
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