Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ULTRASSOM EM OBSTETRÍCIA P R O F. N ATA L I A C A R VA L H O F E V E R E I R O D E 2 0 2 2 Estratégia MED Prof. Natália Carvalho | Ultrassom em Obstetrícia 2OBSTETRÍCIA PROF. NATÁLIA CARVALHO APRESENTAÇÃO: @estrategiamed /estrategiamedEstratégia MED t.me/estrategiamed @profnataliacarvalho Olá, Estrategista, Nesta aula, vamos aprender tudo que cai nas provas de Residência Médica e Revalida sobre Ultrassonografia em obstetrícia, o exame que revolucionou a prática obstétrica e originou a especialidade de medicina fetal. Hoje, não é impossível imaginar a obstetrícia sem a ultrassonografia, não é mesmo? Contudo, apesar de ser um assunto pouco cobrado diretamente nas provas de Residência Médica, conhecer e saber interpretar os exames de ultrassonografia é essencial para você conseguir responder questões sobre diversos temas em obstetrícia, como veremos ao longo deste material. Por isso, aprender sobre esse tema será um grande diferencial para você! Vamos começar? https://www.instagram.com/estrategiamed/?hl=pt https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://t.me/estrategiamed https://www.instagram.com/profnataliacarvalho/ Estratégia MED Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 3 OBSTETRÍCIA SUMÁRIO 1.0 CARACTERÍSTICAS GERAIS 4 1.1 VIAS DE REALIZAÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA NA GESTAÇÃO 5 1.2 INDICAÇÃO 6 2.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO PRIMEIRO TRIMESTRE 6 2.1 DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ 8 2.2 DETERMINAÇÃO DA IDADE GESTACIONAL 11 2.3 RASTREAMENTO DE ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS 13 2.4 TRANSLUCÊNCIA NUCAL 16 2.5 OUTROS MARCADORES ULTRASSONOGRÁFICOS DO PRIMEIRO TRIMESTRE 18 2.6 MARCADORES ULTRASSONOGRÁFICOS DO SEGUNDO TRIMESTRE 21 2.7 MARCADORES BIOQUÍMICOS 25 2.8 DNA FETAL LIVRE NO SANGUE MATERNO 26 2.9 INTERPRETAÇÃO E CONDUTA NO RASTREAMENTO DE CROMOSSOMOPATIAS 27 3.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO SEGUNDO TRIMESTRE 28 3.1 AVALIAÇÃO DA BIOMETRIA FETAL 29 3.2 AVALIAÇÃO DA PLACENTA 31 3.3 DETECÇÃO DE ANOMALIAS FETAIS 32 3.4 CONDUTA NOS CASOS DE ANOMALIAS FETAIS 32 4.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO TERCEIRO TRIMESTRE 34 5.0 PROCEDIMENTOS INVASIVOS FETAIS 34 5.1 BIÓPSIA DE VILOSIDADES CORIÔNICAS 35 5.2 AMNIOCENTESE 36 5.3 CORDOCENTESE 36 6.0 LISTA DE QUESTÕES 38 7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 40 Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 4 1.0 CARACTERÍSTICAS GERAIS CAPÍTULO O exame de ultrassom é um método de rastreamento e diagnóstico que avalia a anatomia, a fisiologia, o crescimento e o bem-estar fetal. Existem diversos tipos de ultrassonografias realizados na gestação, como veremos ao longo deste material. A ultrassonografia obstétrica básica pode ser realizada em todos os trimestres e, a depender da idade gestacional, é capaz de avaliar o número e a apresentação dos fetos, o líquido amniótico, a posição da placenta, a biometria fetal e sua anatomia. As ultrassonografias especializadas incluem o ultrassom morfológico do primeiro e do segundo trimestre, a Dopplervelocimetria obstétrica, o ecocardiograma fetal e o ultrassom tridimensional. A tabela a seguir resume os tipos de ultrassons que podem ser realizados na gestação. Aprenderemos com detalhes sobre cada um desses exames. Tipos de ultrassons Época ideal da realização Principais funções Ultrassonografia obstétrica inicial Entre 4,5 e 11 semanas Confirmar a gestação intrauterina, datação da gestação, avaliar o número de fetos, avaliar a corionicidade, avaliar anexos e útero Ultrassonografia morfológica do primeiro trimestre Entre 11 e 13 semanas e 6 dias Rastreamento de cromossomopatias, avaliar morfologia fetal. Ultrassonografia morfológica do segundo trimestre Entre 18 e 24 semanas Avaliar morfologia fetal, rastreamento de prematuridade pela medida do colo uterino. Dopplervelocimetria obstétrica A partir do segundo trimestre Avaliar vitalidade fetal, avaliar anemia fetal, rastreamento de pré-eclâmpsia. Ecocardiograma fetal A partir de 14 semanas, melhor idade entre 24 e 28 semanas Avaliar morfologia cardíaca fetal Ultrassonografia tridimensional A partir do segundo trimestre Auxilia na identificação de anomalias fetais. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 5 1.1 VIAS DE REALIZAÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA NA GESTAÇÃO A ultrassonografia obstétrica pode ser realizada por via abdominal, vaginal ou perineal e é segura em qualquer fase da gestação, não sendo observados efeitos adversos de seu uso para a gestante ou para o feto. Figura 1. Vias usualmente utilizadas para ultrassonografia obstétrica: via vaginal (esquerda) e via abdominal (direita). A via vaginal é a preferida no primeiro trimestre, principalmente antes de 10 semanas, pois é possível visualizar com mais detalhes o embrião/feto e seus anexos, datar a idade gestacional e determinar a corionicidade com mais precisão. Após o primeiro trimestre, a via vaginal é utilizada para avaliar o colo uterino e a inserção placentária. A via abdominal, por sua vez, é mais utilizada a partir de 10 semanas. Por meio dela, são feitos a biometria fetal, a avaliação do volume de líquido amniótico, os ultrassons morfológicos, o ecocardiograma fetal e a Dopplervelocimetria obstétrica. A posição fetal e placentária e o tecido celular subcutâneo materno podem atrapalhar a visualização das estruturas fetais pela via abdominal. Via vaginal Ultrassonografia inicial Datação da gestação Corionicidade Via abdominal Ultrassonografia obstétrica a partir de 10 semanas Avaliação do líquido amniótico Medida do colo uterino Avaliação da inserção placentária Biometria fetal Ultrassonografia morfológica Dopplervelocimetria obstétrica Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 6 1.2 INDICAÇÃO A necessidade de ultrassonografia de rotina durante o pré-natal não é embasada por evidência científica, pois os estudos não observaram redução da morbimortalidade materna ou fetal com essa prática. Sendo assim, cada país e instituição tem seu protocolo próprio de solicitação de ultrassonografia na gestação, que depende da disponibilidade do exame e do tipo de população atendida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta a realização de uma ultrassonografia obstétrica antes de 24 semanas para estimar a idade gestacional, identificar anomalias fetais e gestações múltiplas, reduzir a indução do parto em gestações pós-termo e melhorar a experiência gestacional da mulher. Por outro lado, a OMS não recomenda a realização de ultrassonografia acima de 24 semanas para gestantes que fizeram ultrassonografia precoce. No Brasil, o Ministério da Saúde não indica a obrigatoriedade de ultrassonografia de rotina durante a gestação de risco habitual, mas orienta a realização de uma ultrassonografia obstétrica no primeiro trimestre para confirmação da idade gestacional, quando houver dúvida da datação calculada pela data da última menstruação, na suspeita de gestação gemelar, de restrição de crescimento fetal ou quando houver alguma intercorrência obstétrica. OMS Uma ultrassonografia < 24 semanas Não realizar ultrassom > 24 semanas de rotina MS Não é obrigatória a realização de USG Orienta um ultrassom no primeiro trimestre 2.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO PRIMEIRO TRIMESTRE Estrategista, tem sido cada vez mais exigido nas provas de Residência Médica que o aluno saiba avaliar uma ultrassonografia do primeiro trimestre, então, aqui, você aprenderá tudo que precisa saber sobre esse tema! CAPÍTULO Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 7 As ultrassonografias do primeiro trimestre são aquelas feitas até 14 semanas. Nessa fase da gestação, os exames podem ser realizados por via abdominalou vaginal. Como vimos anteriormente, temos basicamente dois tipos de exames ultrassonográficos realizados na prática obstétrica no primeiro trimestre: o ultrassom obstétrico inicial e a ultrassonografia morfológica do primeiro trimestre. As principais indicações para a realização da ultrassonografia do primeiro trimestre estão listadas na tabela a seguir: INDICAÇÕES PARA ULTRASSONOGRAFIA DO PRIMEIRO TRIMESTRE Confirmar a presença de gestação intrauterina e afastar gestação ectópica Avaliar sangramento vaginal Avaliar dor pélvica Estimar a idade gestacional Diagnosticar e avaliar gestações múltiplas Confirmar atividade cardíaca fetal Avaliar anomalias fetais detectadas no primeiro trimestre Avaliar alterações anexiais e uterinas maternas Rastreamento fetal de aneuploidias Rastreamento de pré-eclâmpsia. Avaliar suspeita de doença trofoblástica gestacional A seguir, vamos aprender como é feito o diagnóstico de gravidez e a datação da gestação pela ultrassonografia obstétrica inicial e também o rastreamento de cromossomopatias pela ultrassonografia morfológica do primeiro trimestre. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 8 2.1 DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ O diagnóstico de gravidez intrauterina pode ser feito pela ultrassonografia obstétrica inicial a partir de 4,5 a 5 semanas de gestação, com a visualização do saco gestacional (SG). A medida do saco gestacional é realizada pela média dos três diâmetros, calculando-se o diâmetro médio do saco gestacional (DMSG). Pela medida do DMSG, é possível estimar a idade gestacional antes de 6 semanas, quando ainda não é possível medir adequadamente o embrião. Figura 2. Imagem de gestação de 5 semanas mostrando saco gestacional com vesícula vitelínica em seu interior. (Fonte: arquivo pessoal) Quando o DMSG é ≥ 8 mm, geralmente, já é possível visualizar a vesícula vitelínica. Se essa estrutura não é observada, podemos estar diante de uma gestação não evolutiva, mas a confirmação de gestação inviável só pode ser feita com o acompanhamento ultrassonográfico seriado ou quando não se visualiza vesícula vitelínica e embrião com DMSG ≥ 25 mm. Figura 3. Imagem de gestação inviável. Saco gestacional com diâmetro médio ≥ 25 mm sem embrião ou vesícula vitelínica. (Fonte: arquivo pessoal) Saco gestacional A vesícula vitelínica (VV) torna-se visível ao redor de 5 semanas de gestação e, normalmente, degrada-se entre 10 e 12 semanas. Essa é a primeira estrutura a aparecer dentro do saco gestacional, ajudando a confirmar uma gestação intrauterina, pois diferencia um saco gestacional verdadeiro de um pseudossaco gestacional que pode ocorrer na gestação ectópica. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 9 O embrião pode ser visualizado a partir de 5,5 a 6 semanas e sua medida é feita pela avaliação do comprimento cabeça-nádegas (CCN) após 6 semanas de gestação. Essa medida é o parâmetro mais importante para calcular-se a idade gestacional pela ultrassonografia, como veremos mais adiante. Figura 4. Imagem ultrassonográfica de gestação tópica mostrando embrião com CCN compatível com 6 semanas. (Fonte: arquivo pessoal) A atividade cardíaca do embrião é visualizada no ultrassom entre 5,5 e 6 semanas. Quando não se observam batimentos cardíacos em embrião com 7 mm ou mais, estamos diante de uma gestação inviável. Figura 5. Imagem de ultrassonografia mostrando os batimentos cardíacos do embrião de 8 semanas. (Fonte: arquivo pessoal) A tabela a seguir resume as principais estruturas visualizadas na ultrassonografia obstétrica inicial e que ajudam no diagnóstico de gestação. Estruturas Inicio da visualização na ultrassonografia transvaginal Saco gestacional 4,5 a 5 semanas Vesícula vitelínica 5 semanas Atividade cardíaca embrionária 5,5 a 6 semanas Medida do CCN 6 semanas Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 10 Para avaliar a evolução de uma gestação inicial, é importante também comparar os níveis séricos maternos de B-hCG com a ultrassonografia transvaginal. Quando os níveis séricos de B-hCG estão entre 1.000 e 2.000 mUI/mL, na maioria das vezes, é possível observar saco gestacional intraútero. Níveis séricos acima de 3.500 mUI/mL e ausência de gestação intrauterina indicam gestação ectópica ou não evolutiva. Os parâmetros para o diagnóstico e suspeita de uma gestação não evolutiva estão listados na tabela a seguir. DIAGNÓSTICO DE CERTEZA DE GESTAÇÃO NÃO EVOLUTIVA SINAIS DE SUSPEITA DE GESTAÇÃO NÃO EVOLUTIVA DMSG ≥ 25 mm sem VV ou embrião CCN< 7 mm sem batimento cardíaco fetal CCN ≥ 7 mm sem atividade cardíaca DMSG entre 16 e 24 mm sem embrião SG sem VV e sem embrião com batimento cardíaco em dois exames com intervalo de 2 semanas SG sem VV e sem embrião com batimento cardíaco em dois exames com intervalo de 7-14 dias SG com VV e sem embrião com batimento cardíaco em dois exames com intervalo de 11 dias SG com VV e sem embrião com batimento cardíaco em dois exames com intervalo de 7-10 dias B-hCG sérico ≥ 3500 mUI/ml sem saco gestacional intrauterino Ausência de embrião ≥ 6 semanas após o último período menstrual Cavidade amniótica sem embrião Vesicula vitelínica > 7 mm SG pequeno em relação ao tamanho do embrião (< 5 mm de diferença entre o DMSG e o CCN) B-hCG sérico entre 1000-2000mUI/ml sem saco gestacional intrauterino Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 11 2.2 DETERMINAÇÃO DA IDADE GESTACIONAL Para a determinação da idade gestacional (IG), podemos utilizar a data da última menstruação (DUM) ou a ultrassonografia obstétrica. A estimativa da IG pelo ultrassom é essencial nos casos em que não se tem certeza da data da última menstruação (DUM), em que o ciclo menstrual é irregular ou quando a mulher faz uso de contracepção hormonal. Quanto mais precoce é a realização da ultrassonografia, mais fidedigna é a determinação da idade gestacional. A ultrassonografia realizada no primeiro trimestre é superior à data da última menstruação para determinar a IG, apresentando um erro de até 5 dias quando realizada antes de 9 semanas e de até 7 dias entre 9 e 14 semanas. Quando a diferença entre a DUM e o ultrassom forem maiores do que o erro do ultrassom, considera-se a idade gestacional calculada pelo ultrassom. Então, antes de 9 semanas, se a diferença da IG entre a DUM e a ultrassonografia for menor do que 5 dias, pode-se considerar a IG calculada pela DUM, mas, se a diferença for maior do que 5 dias, considera-se a IG calculada pela ultrassonografia inicial. O erro de aferição da idade gestacional no segundo trimestre varia de 7 a 14 dias, sendo em torno de 7 a 10 dias entre 14 e 21 6/7 semanas e 14 dias entre 22 e 27 6/7 semanas. Quando a datação da gestação é realizada por ultrassonografia a partir de 22 semanas, considera-se que a idade gestacional é incerta. A partir de 28 semanas, o erro do cálculo da idade gestacional pelo ultrassom é de 21 dias, por isso ultrassonografia realizada nessa idade gestacional deve ser utilizada para estimar a idade gestacional somente quando a gestante não sabe a data da última menstruação e não realizou ultrassom no primeiro e no segundo trimestre. Idade gestacional pelo ultrassom Erro do cálculo da idade gestacional < 9 semanas 5 dias 9-14 semanas 7 dias 14-22 semanas 7-10 dias 22-28 semanas 14 dias ≥ 28 semanas 21 dias A estimativa da IG pode ser feita por meio da medida do diâmetro médio do saco gestacional, pelo tamanho do embrião (comprimento cabeça-nádega) ou pelo tamanho de partes fetais (biometria fetal-crânio, ossos longos e abdome), como veremos a seguir. A medida do comprimento cabeça-nádega, realizada antes de 14 semanas, é o método mais preciso para avaliar a idade gestacionalcom um erro de 5 dias, quando medido antes de 9 semanas, e de 7 dias, entre 9 e 14 semanas. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 12 Figura 6. Imagem ultrassonográfica de gestação tópica mostrando medida do CCN compatível para 10 semanas. (Fonte: arquivo pessoal) A estimativa da IG pelo diâmetro médio do saco gestacional tem um erro de até duas semanas, por isso seu uso para calcular a idade gestacional é recomendado apenas até ser possível visualizar o embrião e medir o CCN, o que se dá por volta de 6-7 semanas. A vesícula vitelínica não é utilizada para estimar a idade gestacional. Após 14 semanas, se a paciente não realizou ultrassonografia no primeiro trimestre, utiliza-se as medidas biométricas para estimar a idade gestacional, pois não é mais possível medir o CCN. A partir do segundo trimestre, a utilização de múltiplos parâmetros biométricos é o método mais fiel para estimar a idade gestacional ultrassonográfica, com erro de 7-21 dias, a depender da IG. A acurácia de todas as medidas biométricas para estimar a IG diminui com a evolução da gestação, por isso, como dito anteriormente, entre 14 e 22 semanas, o erro é de 7 a 10 dias; entre 22 e 28 semanas, o erro é de 14 dias; e, após 28 semanas, o erro passa a ser de 21 dias. As principais medidas biométricas são: diâmetro biparietal, circunferência cefálica, circunferência abdominal e fêmur. Figura 7. Medidas biométricas fetais. A: circunferência abdominal e diâmetro biparietal, B: circunferência abdominal, C: fêmur. (Fonte: arquivo pessoal) Entre os parâmetros biométricos, o mais fidedigno para indicar a idade gestacional isoladamente até 28 semanas é o diâmetro biparietal; após 28 semanas, o comprimento do fêmur passa a ser o parâmetro isolado mais fidedigno para datar a gestação. A circunferência abdominal, em contrapartida, é o parâmetro menos fidedigno para calcular-se a idade gestacional, mas é o melhor parâmetro para estimar o peso fetal. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 13 Lembre-se de que o CCN é superior aos parâmetros biométricos para estimar idade gestacional. Por isso, uma vez estabelecida a idade gestacional pelo CCN no primeiro trimestre, ela não deve ser alterada pelas medidas biométricas aferidas posteriormente. Os exames posteriores servem para avaliar o crescimento fetal, mas não mais a idade gestacional. 2.3 RASTREAMENTO DE ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS Determinação da idade gestacional pelo USG <6 semanas 6-14 semanas >14 semanas DMSG erro 14 dias CCN erro 5-7 dias erro 7-21 dias Biometria fetal Estrategista, o rastreamento das anomalias cromossômicas é um tema que tem sido cobrado em provas cada vez com mais frequência, pois esse é um dos exames que mais evoluíram nos últimos anos. Então, fique muito atento! As anomalias cromossômicas, também chamadas de aneuploidias, são responsáveis por 50% dos abortamentos no primeiro trimestre e por 5-7% dos óbitos fetais e neonatais. As principais aneuploidias encontradas na gestação são as trissomias dos cromossomos 21 (síndrome de Down), 18 (síndrome de Edwards) e 13 (síndrome de Patau), a monossomia do cromossomo X (síndrome de Turner), as trissomias sexuais e as triploidias. As outras anomalias cromossômicas são dificilmente encontradas na gestação, pois geralmente causam abortamentos muito precoces. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 14 Uma das funções mais importantes da ultrassonografia realizada no primeiro trimestre é o rastreamento dessas cromossomopatias. Quando fazemos esse rastreamento e avaliamos a morfologia fetal, chamamos esse exame de ultrassonografia morfológica do primeiro trimestre. Identificar os fetos com cromossomopatias durante a gestação permite que a família consiga preparar-se melhor para a chegada do bebê, possibilitando uma programação mais adequada do parto e das intervenções necessárias após o nascimento. Nos países em que a interrupção da gestação é permitida, o rastreamento precoce das cromossomopatias permite a resolução antecipada da gestação caso esse seja o desejo dos pais. O principal objetivo do rastreamento das aneuploidias na gestação é identificar os fetos com trissomia do cromossomo 21, visto que essa é a cromossomopatia mais prevalente e de maior viabilidade pós-natal, com a maioria dos casos chegando à vida adulta, o que difere das outras aneuploidias que apresentam letalidade elevada ainda no período perinatal. Primeiramente, é importante saber diferenciar um teste de rastreamento de um teste diagnóstico. Os testes diagnósticos são aqueles que dão a certeza de uma patologia. Nos casos das cromossomopatias, os testes diagnósticos são aqueles que conseguem identificar o cromossomo alterado. Os principais testes diagnósticos para identificar aneuploidias na gestação são a biópsia de vilosidades coriônicas, a amniocentese e a cordocentese. Esses exames colhem material placentário ou fetal que é submetido à avaliação genética, como o cariótipo em banda G para identificar o cromossomo alterado. Aprenderemos sobre os testes diagnósticos mais adiante. Os testes de rastreamento, por sua vez, identificam as gestantes que apresentam risco aumentado de cromossomopatias fetais e que devem ser submetidas aos testes diagnósticos. Como os testes diagnósticos são invasivos, eles devem ser realizados somente em gestantes com risco aumentado para aneuploidias. Quanto melhor o teste de rastreamento, menor a quantidade de gestantes que serão submetidas aos testes diagnósticos sem necessidade. A tabela a seguir mostra os testes de rastreamento e diagnóstico de aneuploidias na gestação. Testes de rastreamento Testes diagnósticos Biofísicos (ultrassom): Translucência nucal, osso nasal, ducto venoso, regurgitação da valva tricúspide e ângulo facial frontomaxilar. Biópsia de vilosidades coriônicas Bioquímicos: B-hCG, PAPP-A, AFP, estradiol não conjugado e inibina A Amniocentese DNA livre no sangue materno Cordocentese Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 15 Os testes de rastreamento para cromossomopatias podem ser utilizados de maneira isolada ou combinados entre si e serem realizados no primeiro ou no segundo trimestre. Os testes combinados apresentam maior sensibilidade e especificidade do que os testes isolados, como veremos mais adiante. O rastreamento de cromossomopatias no primeiro trimestre é preferível em relação ao rastreamento do segundo trimestre, pois tem a vantagem de identificar mais precocemente os fetos com alterações cromossômicas. Entre 11 e 13 semanas e 6 dias, é possível calcular o risco de cromossomopatias associando a idade materna e a idade gestacional aos marcadores ultrassonográficos e bioquímicos. A princípio, todas as gestantes apresentam risco de ter um feto com anomalia cromossômica, e chamamos isso de risco basal. O risco basal de cada gestante depende da idade materna e da idade gestacional. Sabe-se que quanto maior a idade materna, maior o risco de anomalias cromossômicas, como as trissomias do cromossomo 21, 13 e 18, em decorrência da maior chance de não disjunção meiótica. Já a monossomia do cromossomo X (síndrome de Turner) e a triploidia não estão relacionadas com a idade materna. Fique atento: a maioria dos casos de trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down) ocorre em mulheres com menos de 35 anos, pois a maioria das gestações ocorrem abaixo dessa idade gestacional. Porém, proporcionalmente, as gestantes com mais de 35 anos apresentam maior risco de ter um feto com síndrome de Down. Por outro lado, observa-se que o risco de anomalias cromossômicas diminui com o evoluir da idade gestacional, pois a letalidade dessas aneuploidiasé maior conforme a gestação avança, sendo identificados menos fetos com aneuploidias em idade gestacional mais avançada. Sendo assim, o risco final específico para cada gestação e cada feto depende do risco basal (idade materna e idade gestacional) associado aos marcadores utilizados nos testes de rastreamentos feitos ao longo da gestação. Os principais marcadores ultrassonográficos de cromossomopatias no primeiro trimestre são: translucência nucal, osso nasal, ducto venoso, regurgitação da valva tricúspide e ângulo facial frontomaxilar. Já os marcadores bioquímicos de cromossomopatias utilizados no primeiro trimestre são a fração livre do B-hCG e a proteína plasmática A associada à gravidez (PAPP-A). Observa-se que a associação da idade materna com os marcadores ultrassonográficos e bioquímicos no primeiro trimestre consegue identificar mais de 95% dos fetos com trissomia do 21. No segundo trimestre, os marcadores de cromossomopatias são a alfafetoproteína (AFP), o estriol não conjugado, a inibina A e a fração livre de B-hCG. O rastreamento de cromossomopatias no segundo trimestre por meio da idade materna, em associação a esses marcadores bioquímicos, é capaz de identificar 50 a 75% dos fetos com trissomia do cromossomo 21, com 5% de falso-positivo. Sendo assim, podemos perceber que o rastreamento de cromossomopatias no primeiro trimestre apresenta taxa de detecção superior ao rastreamento no segundo trimestre, por isso é na ultrassonografia do primeiro trimestre que usualmente se calcula o risco de cromossomopatias. A seguir, falaremos de cada um dos marcadores utilizados para rastreamento das cromossomopatias na gestação. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 16 Risco de cromossomopatias no primeiro trimestre ( 11-13 6/7 semanas) Risco basal Marcadoresultrassonográficos Marcadores bioquímicos Idade materna Fração livre de B-hCG PAPP-AIdade gestacional Translucência nucal Osso nasal Ducto venoso 2.4 TRANSLUCÊNCIA NUCAL A translucência nucal (TN) é a medida do maior espaço entre a pele e os tecidos moles que recobrem a coluna vertebral do feto na região posterior do pescoço, como pode ser visto na figura a seguir. Figura 8. Translucência nucal. (Fonte: arquivo pessoal) Essa medida é visualizada no feto entre 11 e 13 semanas e 6 dias e é o principal marcador ultrassonográfico de risco de anomalias cromossômicas no primeiro trimestre. No segundo trimestre, a TN tende a desaparecer, mas, em alguns casos, pode evoluir para edema nucal ou higroma cístico. Para uma determinada idade gestacional, quanto maior for a TN, maior será o risco de cromossomopatias. A TN aumentada está associada à trissomia do cromossomo 21, à síndrome de Turner e a outras anomalias cromossômicas. O rastreamento de cromossomopatias por meio da TN pode identificar mais de 75% dos fetos com trissomia do cromossomo 21, com uma taxa de falso- positivo de 5%. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 17 Além disso, a TN aumentada também está relacionada às síndromes gênicas, às malformações cardíacas fetais e a algumas infecções congênitas, como pelo parvovírus B19. É importante ter em mente que o aumento da TN não é uma anormalidade fetal em si, mas um marcador que representa risco aumentado para anomalias fetais. Os possíveis mecanismos envolvidos no aumento da translucência nucal estão listados na tabela a seguir: Fisiopatologia do aumento da TN Disfunção cardíaca Congestão venosa na cabeça e na região cervical Composição alterada da matriz extracelular Drenagem linfática deficiente Anemia fetal hipoproteinemia Infecção fetal Considera-se que a medida da TN está alterada quando ela se encontra acima do percentil 95 para a idade gestacional, indicando que a gestante apresenta alto risco para cromossomopatias. A figura a seguir mostra uma imagem ultrassonográfica de translucência nucal normal e outra imagem de translucência nucal alterada. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 18 Figura 9. Imagem ultrassonográfica de translucência nucal. À esquerda, feto com translucência nucal normal e, à direita, feto com translucência nucal alterada. (Fonte: arquivo pessoal) Quando a medida da TN está abaixo do percentil 95 para a idade gestacional, as chances de o recém-nascido não apresentar malformações graves são de 97%. Se a TN está entre o percentil 95 e 99, as chances caem para 93%, portanto teremos 7% dos recém- nascidos com malformações graves. Se a TN está acima do percentil 99, o risco de malformações graves aumenta exponencialmente, chegando a 20% quando a TN é de 4 mm e a 65% quando é de 6,5 mm. O valor da TN no percentil 99 varia muito pouco conforme a idade gestacional, medindo por volta de 3,5 mm. Lembre-se: a maioria dos fetos com TN acima do percentil 95 são cromossômica e morfologicamente normais. 2.5 OUTROS MARCADORES ULTRASSONOGRÁFICOS DO PRIMEIRO TRIMESTRE Outros marcadores ultrassonográficos de cromossomopatias, importantes no primeiro trimestre, são o osso nasal e o ducto venoso. A ausência de osso nasal e a alteração da velocidade de fluxo do ducto venoso são observadas com mais frequência em fetos com trissomia do cromossomo 21. O osso nasal não é visível em 60 a 70% dos fetos com trissomia do cromossomo 21, em cerca de 50% dos fetos com trissomia do cromossomo 18 e em 30% dos fetos com trissomia do cromossomo 13. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 19 Figura 10. Imagem ultrassonográfica do osso nasal. À esquerda, feto com osso nasal presente e, à direita, feto com osso nasal ausente. (Fonte: arquivo pessoal) O ducto venoso alterado está relacionado a cromossomopatias, malformações cardíacas e desfechos fetais desfavoráveis. O fluxo anormal no ducto venoso é observado em 5% dos fetos cromossomicamente normais e em cerca de 80% dos acometidos pela trissomia do cromossomo 21, principalmente quando a onda A é negativa. Figura 11. Imagem ultrassonográfica do ducto venoso. À esquerda, feto com ducto venoso normal e, à direita, feto com ducto venoso alterado. (Fonte: arquivo pessoal) Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 20 Além disso, a presença de ângulo facial frontomaxilar ampliado e a regurgitação da valva tricúspide também são achados ultrassonográficos do primeiro trimestre associados a um risco aumentado de cromossomopatias. As figuras abaixo mostram imagens ultrassonográficas desses marcadores normais e alterados. Figura 12. Imagem ultrassonográfica do fluxo da valva tricúspide. À esquerda, feto com fluxo da valva tricúspide normal e, à direita, feto com fluxo da valva tricúspide alterado. (Fonte: arquivo pessoal) Figura 13. Imagem ultrassonográfica do ângulo facial frontomaxilar. À esquerda, feto com ângulo facial frontomaxilar normal e, à direita, feto com ângulo facial frontomaxilar alterado. (Fonte: arquivo pessoal) Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 21 A frequência cardíaca fetal (FCF) entre 11 e 13 semanas e 6 dias também é um marcador de cromossomopatias. Quando há taquicardia, há mais risco de trissomia do cromossomo 13 e monossomia do cromossomo X. Já na trissomia do cromossomo 18 e na triploidia, há bradicardia fetal. Na trissomia do cromossomo 21, a FCF não está alterada. Vale lembrar que todos esses marcadores ultrassonográficos não fazem diagnóstico de cromossomopatias, mas, sim, ajudam no cálculo mais preciso do risco dessas alterações genéticas. Como dito anteriormente, o diagnóstico das cromossomopatias é feito apenas com a avaliação do cariótipo fetal coletado por meio da biópsia de vilosidadescoriônicas ou da amniocentese, realizado nas gestações que apresentam um risco aumentado para essas anomalias. 2.6 MARCADORES ULTRASSONOGRÁFICOS DO SEGUNDO TRIMESTRE Trissomia 18 Triploidia Trissomia 13 Monossomia X Br ad ic ar di a fe ta l Taquicardia fetal Diversos achados ultrassonográficos no segundo trimestre foram correlacionados a cromossomopatias. Esses marcadores são divididos em marcadores maiores e menores. Os marcadores maiores são aqueles que têm associação forte com cromossomopatias. São exemplos de marcadores maiores: alterações cardíacas, atresia de duodeno, higroma cístico, mielomeningocele. Os marcadores menores apresentam relação fraca com aneuploidias, e os principais são: cisto de plexo coroide, dilatação pielocalicial, fêmur curto, foco ecogênico intracardíaco, intestino hiperecogênico, prega nucal aumentada e artéria umbilical única. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 22 MARCADORES MAIORES MARCADORES MENORES Alterações cardíacas Cisto de plexo coróide Atresia de duodeno Dilatação pielocalicial Higroma cístico Fêmur curto Mielomeningocele Foco ecogênico intracardíaco Intestino hiperecogênico Prega nucal aumentada Artéria umbilical única Quando se observa, na ultrassonografia do segundo trimestre, a presença de um marcador maior ou de dois marcadores menores, indica-se a investigação diagnóstica de cromossomopatias. Esses achados ultrassonográficos também servem para indicar um aumento ou uma diminuição do risco encontrado no rastreamento de aneuploidias do primeiro trimestre. Cada uma das cromossomopatias pode apresentar alterações especificas, que, em conjunto, indicam um risco aumentado para essas patologias. A seguir, falaremos de cada uma delas. Na trissomia do cromossomo 21, podemos encontrar, na ultrassonografia, as seguintes alterações: hipoplasia nasal, aumento da prega nucal, malformações cardíacas, foco hiperecogênico intracardíaco (golf ball), atresia de duodeno, intestino hiperecogênico, hidronefrose leve, fêmur curto, afastamento do hálux, clinodactilia e hipoplasia da falange média do quinto quirodáctilo. A figura a seguir ilustra alguns dos marcadores de trissomia do cromossomo 21 no segundo trimestre. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 23 Figura 14. Algumas alterações ultrassonográficas encontradas em fetos com trissomia do cromossomo 21. Na trissomia do 18, as principais alterações ultrassonográficas encontradas são: cabeça em forma de morango, cisto de plexo coroide, ausência de corpo caloso, cisterna magna aumentada, micrognatia, edema nucal, malformações cardíacas, hérnia diafragmática, atresia de esôfago, onfalocele, artéria umbilical única, defeitos renais, intestino hiperecogênico, mielomeningocele, restrição de crescimento fetal, membros curtos, aplasia radial, sobreposição de dedos e pé torto congênito. As principais alterações estão ilustradas na figura abaixo. Figura 15. Algumas alterações ultrassonográficas encontradas em fetos com trissomia do cromossomo 18. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 24 A trissomia do cromossomo 13 pode levar à holoprosencefalia, microcefalia, anomalias faciais (probóscide, fenda labiopalatina), malformações cardíacas, rins hiperecogênicos, onfalocele e polidactilia. A figura a seguir ilustra algumas dessas alterações. Figura 16. Algumas alterações ultrassonográficas encontradas em fetos com trissomia do cromossomo 13. Na síndrome de Turner, é mais frequente encontrar higroma cístico, edema generalizado, derrame pleural discreto, ascite, malformações cardíacas e rim em ferradura. A figura abaixo ilustra essas alterações. Figura 17. Algumas alterações ultrassonográficas encontradas em fetos com monossomia do cromossomo X. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 25 2.7 MARCADORES BIOQUÍMICOS Como vimos anteriormente, os marcadores bioquímicos utilizados no rastreamento de cromossomopatias são: B-hCG, PAPP-A, AFP, estriol não conjugado e inibina A. No primeiro trimestre, os marcadores bioquímicos utilizados são a fração livre de B-hCG e a proteína plasmática A associada à gestação (PAPP-A). Esses marcadores, em combinação com a idade materna, identificam 60% dos fetos com trissomia do cromossomo 21. A fração livre do B-hCG normalmente diminui com a idade gestacional, mas, em fetos com trissomia do 21, esse nível aumenta. Por outro lado, o PAPP-A aumenta ao longo da gestação normal, mas, em gestação com trissomia do 21, os valores diminuem. Por isso, quanto maior o nível do B-hCG e menor o de PAPP-A, maior o risco de trissomia do cromossomo 21. Já nas trissomias dos cromossomos 18 e 13, as concentrações maternas de PAPP-A e a fração livre de B-hCG estão diminuídas. B-hCG ge st aç ão n or m al gestação norm al PAPP-A B-hCG trissom ia 21 tr iss om ia 2 1 PAPP-A B-hCG tr iss om ia 1 3 e 18 PAPP-A trissom ia 13 e 18 O B-hCG, a alfafetoproteína sérica (AFP), o estriol não conjugado e a inibina A são marcadores bioquímicos utilizados no rastreamento de cromossomopatias no segundo trimestre, conhecido como teste quádruplo ou “quad test”. As gestações com trissomia do cromossomo 21 apresentam níveis de estriol e AFP mais baixos do que gestações normais, além de níveis de inibina A e B-hCG mais elevados no segundo trimestre. B-hCG inibina A Estriol AFP tr iss om ia 2 1 trissom ia 21 Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 26 Por fim, os marcadores bioquímicos do primeiro trimestre podem ser combinados com os do segundo trimestre para avaliar o risco de aneuploidias. Essa avaliação de risco é conhecida como triagem integrada sérica. 2.8 DNA FETAL LIVRE NO SANGUE MATERNO O exame de DNA fetal livre no sangue materno também é conhecido como teste não invasivo para trissomias fetais, ou NIPT, do inglês, noninvasive prenatal testing, e é capaz de rastrear as trissomias dos cromossomos 21, 18, 13 e monossomia do cromossomo X a partir de 10 semanas de gestação, com taxa de detecção de 98%. Esse é o método de rastreamento de cromossomopatias com maior acurácia nos dias de hoje, uma vez que apresenta menor taxa de falso-positivo, resultando em menor número de indicação desnecessária de procedimentos invasivos para o teste diagnóstico, porém é um exame com custo elevado e ainda pouco utilizado no Brasil. Mesmo tendo um índice de detecção próximo a 100%, esse exame ainda é considerado um exame de rastreamento e, diante de um teste positivo, é necessária a realização de teste diagnóstico para confirmação da aneuploidia. Esse exame é feito por meio da avaliação do DNA fetal presente na circulação materna, advindo da apoptose de células placentárias. Sabe-se que quanto maior a porcentagem de DNA fetal no sangue materno, chamada de fração fetal, maior a acurácia desse exame. As principais indicações para a realização do DNA fetal livre no sangue materno estão listadas na tabela a seguir: Indicações para o DNA fetal livre Idade materna > 35 anos Alterações ultrassonográficas associadas a trissomias Filho anterior com alguma trissomia Pais com translocação robertsoniana balanceada, com risco aumentado de trissomia 21 ou 13 Gestante com risco intermediário para cromossomopatias Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 27 2.9 INTERPRETAÇÃO E CONDUTA NO RASTREAMENTO DE CROMOSSOMOPATIAS Como o rastreamento de cromossomopatias pelo DNA fetal livre ainda não é uma realidade, a combinação da idade materna com os marcadores ultrassonográficos e bioquímicos é o melhor método de rastreamento de cromossomopatias no primeirotrimestre, sendo capaz de identificar mais de 95% dos casos de fetos com síndrome de Down. Por meio do cálculo de risco utilizando esses marcadores, classifica-se as gestantes em alto risco, risco intermediário e baixo risco. Gestantes de alto risco para cromossomopatias são aquelas em que o cálculo de risco é entre 1:2 e 1:100. A essas gestantes está indicada a avaliação do cariótipo fetal (teste diagnóstico) por meio de procedimento invasivo, como biópsia de vilosidades coriônicas e amniocentese. Além disso, devem ser feitos a avaliação da morfologia fetal no primeiro e no segundo trimestre e o ecocardiograma fetal. Quando o resultado do cálculo de risco é menor do que 1:1000, a gestante é considerada de baixo risco e não é necessário realizar outros testes de rastreamento ou procedimentos invasivos. Por fim, as gestantes que apresentam risco intermediário, isto é, quando o cálculo de risco é entre 1:101 e 1:1000, podem realizar um segundo teste de rastreamento – como o DNA fetal livre no sangue materno –, fazer a avaliação morfológica do segundo trimestre ou serem encaminhadas para o teste de diagnóstico, a depender do desejo da gestante e do aconselhamento genético. Como veremos mais adiante, a biópsia de vilosidades coriônicas pode ser realizada entre 11 e 14 semanas, e a amniocentese, após 15 semanas. O risco de perda fetal nesses dois procedimentos invasivos gira em torno de 1%. Quando o cariótipo se apresenta normal, apesar de a translucência nucal estar alterada, deve-se investigar malformações cardíacas, infecções congênitas e outras doenças genéticas. O fluxograma a seguir resume a conduta no rastreamento das cromossomopatias: Rastreamento de cromossomopatias primeiro trimestre 1:2 a 1:100 1:101 a 1:1000 < 1:1000 Alto risco Baixo risco Não há necessidade de exames diagnósticos Alto risco Risco intermediário Aconselhamento genético DNA fetal livre ou teste diagnóstico Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 28 3.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO SEGUNDO TRIMESTRE CAPÍTULO Estrategista, este tópico tem sido cobrado nas provas de Residência Médica, então preste bastante atenção, pois será um grande diferencial para você! As ultrassonografias do segundo trimestre são aquelas realizadas entre 14 e 28 semanas. Na maioria das vezes, utilizamos a via abdominal para a realização desses exames, mas a via vaginal pode ser utilizada de forma complementar. Nessa fase da gestação, os ultrassons mais realizados são o ultrassom obstétrico simples, a ultrassonografia morfológica do segundo trimestre e o ecocardiograma fetal. A tabela a seguir resume as principais funções da ultrassonografia realizada no segundo trimestre. INDICAÇÕES PARA ULTRASSONOGRAFIAS DO SEGUNDO TRIMESTRE Avaliar peso e biometria fetal Avaliar placenta e líquido amniótico Avaliar morfologia fetal Identificar malformações fetais Avaliar morfologia e função cardíaca fetal Rastreamento de prematuridade A ultrassonografia obstétrica simples é utilizada para avaliar a biometria e o peso fetal estimado, o líquido amniótico, a placenta e o sexo dos fetos. Falaremos mais adiante sobre a biometria fetal, e a avaliação do líquido amniótico será abordada no livro “Alterações de volume de líquido amniótico”. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 29 O principal exame realizado nessa fase da gestação é a ultrassonografia morfológica do segundo trimestre. Esse ultrassom é feito entre 18 e 24 semanas e identifica a presença de malformações fetais, pela avaliação detalhada e sistemática da morfologia fetal. Além disso, nesse exame, é feito o rastreamento de prematuridade pela medida do colo uterino via vaginal, tópico que será estudado com mais detalhe no livro “Prematuridade e Trabalho de Parto Prematuro”. O ecocardiograma fetal, por sua vez, é o exame que avalia com detalhes a anatomia e a função cardíaca fetal. Esse exame é um método preciso no diagnóstico das malformações cardíacas, com sensibilidade de 98% e uma especificidade de 99,9%, apresentando grande impacto na conduta obstétrica. Sua realização pode ser feita, de preferência, no segundo trimestre ou no início do terceiro trimestre, quando há indicação. A melhor data para a realização desse exame é por volta de 28 semanas, e as principais indicações para realização de ecocardiograma fetal são: • Suspeita de anomalias cardíacas fetais. • Presença de malformações fetais ou anomalias cromossômicas. • Arritmias fetais. • Suspeita de infecções congênitas. • Gestação gemelar monocoriônica. • Presença de anticorpos maternos anti-Ro ou anti-La. • Fertilização in vitro. • Diabetes na gestação, principalmente quando hemoglobina glicada no primeiro trimestre é ≥ 7%. Agora, vamos aprender sobre a avaliação da biometria fetal e da placenta e sobre a detecção de malformações fetais. Vamos lá? 3.1 AVALIAÇÃO DA BIOMETRIA FETAL Os parâmetros biométricos fetais mais utilizados são: diâmetro biparietal, circunferência craniana, circunferência abdominal e comprimento do fêmur. Essas medidas fornecem, em conjunto, uma estimativa do peso fetal, além de serem utilizadas para avaliar a idade gestacional quando não há ultrassonografia prévia do primeiro trimestre e quando a data da última menstruação for duvidosa, como vimos anteriormente. Figura 18. Parâmetros biométricos para estimativa de peso fetal. A. Diâmetro biparietal e circunferência fetal. B. Circunferência abdominal. C. Comprimento do fêmur. (Fonte: arquivo pessoal) Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 30 Como dito anteriormente, a circunferência abdominal é o indicador biométrico mais sensível para estimar o peso fetal, pois a depleção de gordura e glicogênio leva à redução do tecido abdominal e do tamanho hepático, respectivamente, fazendo com que a circunferência abdominal fique com tamanho menor do que o esperado para a idade gestacional em fetos com restrição de crescimento. E, por outro lado, o acúmulo de glicogênio e gordura aumenta o tecido abdominal e o tamanho hepático, aumentando a circunferência abdominal e, consequentemente, o peso fetal em fetos de mulheres com diabetes gestacional. A estimativa do peso fetal é feita por meio de uma fórmula matemática que utiliza as medidas biométricas, sendo a fórmula mais utilizada a de Hadlock. O peso estimado fetal é importante após o segundo trimestre, principalmente no terceiro trimestre, pois é possível identificar, por meio dessa medida, se um feto está se desenvolvendo de maneira adequada ou não. Existem diversas curvas de crescimento fetal, e a OMS indica que cada região use sua própria curva. De maneira geral, quando um feto está abaixo do percentil 10 da curva de peso, ele é considerado pequeno para a idade gestacional e, quando está acima do percentil 90, ele é considerado grande para idade gestacional. A principal patologia envolvida em um feto pequeno para a idade gestacional é a restrição de crescimento fetal, e a relacionada a um feto grande para a idade gestacional é o diabetes materno. Falaremos mais sobre essas patologias nos livros “Restrição de crescimento fetal” e “Diabetes na gestação”, respectivamente. Peso estimado fetal abaixo do percentil 10 acima do percentil 90 Pequeno para a idade gestacional Grande para a idade gestacional Restrição de crescimento fetal Diabetes materno Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 31 3.2 AVALIAÇÃO DA PLACENTA A placenta pode ser identificada adequadamente pela ultrassonografia a partir de 10 semanas. É importante avaliar a espessura, a ecogenicidade e a posição da placenta a partir do segundo trimestre. Figura 19. Ultrassonografia da placenta. (Fonte: arquivo pessoal) A posição da placenta deve ser avaliadaa partir de 20 semanas por meio da ultrassonografia transvaginal e confirmada no terceiro trimestre. Quando a placenta atinge o orifício interno do colo uterino, recobrindo-o parcial ou totalmente, estamos diante de uma placenta prévia, como pode ser observado na figura ao lado. Figura 20. Ultrassonografia transvaginal evidenciando placenta recobrindo o orifício interno no colo uterino (placenta prévia). Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 32 A deposição de calcificação placentária é fisiológica e inicia em torno de 23 semanas de gestação. Os estudos não demonstraram correlação entre o grau de calcificação placentária e maturidade pulmonar, sofrimento fetal, restrição do crescimento fetal ou outras complicações perinatais, por isso o grau placentário não tem qualquer significado clínico ou patológico comprovado até o momento. A espessura placentária aumenta com o evoluir da gestação. Placentas espessadas (placentomegalia) podem ser encontradas em infecções congênitas, anemia fetal e hidropisia. 3.3 DETECÇÃO DE ANOMALIAS FETAIS 3.4 CONDUTA NOS CASOS DE ANOMALIAS FETAIS Diante da identificação ultrassonográfica de fetos com malformações fetais, a gestante deve ser encaminhada ao pré-natal de alto risco e acompanhada por equipe multiprofissional. O parto deve ser realizado em um centro especializado (hospital de nível secundário ou terciário) na presença de equipe de neonatologia e cirurgia pediátrica, quando necessário. A gestante com suspeita de anomalia fetal deve passar por aconselhamento genético, para que o casal seja orientado quanto ao prognóstico e à hereditariedade das malformações fetais. Muitas anomalias estão associadas a cromossomopatias, então, na maioria das vezes, deve ser solicitado o cariótipo fetal. As malformações fetais estão presentes em 2 a 3% da população, sendo responsáveis por 20 a 30% dos óbitos perinatais. Por isso, a identificação das anomalias fetais no período pré- natal é de extrema importância, uma vez que seu diagnóstico precoce permite o acompanhamento apropriado da gestante, aconselhamento genético do casal, tratamento intraútero ou neonatal especializado, quando existente, e interrupção judicial da gestação, quando indicado. A causa das malformações fetais é, na maioria das vezes, multifatorial e poligênica. Muitas anomalias fetais graves estão relacionadas a cromossomopatias, como vimos anteriormente, por isso, diante de malformação fetal maior, é indicada a investigação do cariótipo fetal e o aconselhamento genético. A ultrassonografia é o principal método diagnóstico para identificar malformações fetais durante a gestação, com sensibilidade variando entre 60 e 85%. A taxa de detecção das malformações fetais depende do equipamento utilizado, do treinamento do operador, da duração do exame, da idade gestacional, do biotipo materno, do tipo de malformação, da posição fetal e da via de realização do exame. O melhor momento da gestação para avaliar a anatomia fetal é no segundo trimestre, entre 18 e 24 semanas, pois, nessa fase, é possível examinar os órgãos fetais com mais clareza, sendo mais fácil detectar malformações. No primeiro trimestre da gestação, é possível detectar anomalias fetais graves e de aparecimento precoce, como anencefalia, encefalocele, onfalocele, gastrósquise, entre outras. A ultrassonografia no terceiro trimestre apresenta dificuldades técnicas para a identificação de anomalias fetais, pois a calcificação das estruturas ósseas e a posição fetal, muitas vezes, impedem a visualização adequada da anatomia do feto. Quando se identifica ou se suspeita de uma anormalidade durante o exame convencional, a ultrassonografia morfológica do segundo trimestre deve ser solicitada. Nesse exame, avaliam-se, de forma sistemática, todas as estruturas fetais identificáveis pela ultrassonografia a fim de confirmar a malformação fetal e identificar outras alterações associadas. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 33 Os fetos devem ser acompanhados por ultrassonografia seriada para avaliar a evolução ao longo da gestação. Além disso, algumas malformações, como as do sistema nervoso central, beneficiam-se de complementação com ressonância magnética fetal. Algumas anomalias fetais podem ser tratadas ainda durante a gestação, como as arritmias cardíacas fetais (tratadas com antiarrítmicos), a mielomeningocele e a hérnia diafragmática (tratada com procedimento intraútero por fetoscopia ou cirurgia aberta). Além disso, algumas malformações do sistema cerebral, pulmonar e geniturinário beneficiam-se de drenagem ou punção intraútero. O parto é, na maioria das vezes, por indicação obstétrica, não sendo necessária a realização de cesariana somente pela malformação fetal. Muitas vezes, a cesárea é agendada para facilitar a presença de toda a equipe necessária para atender o concepto após o parto. Conduta na malformação fetal Pré-natal de alto risco Hospital especializado para o parto Aconselhamento genético Parto Equipe multiprofissional Cariótipo fetal Via obstétrica Tratamento intraútero Transfusão sanguínea antiarrítmicos Equipe multiprofissional Ultrassonografia seriada Investigação diagnóstica Tratamento pós-natal Cariótipo do casal Outros exames genéticos Cirurgia fetal Fetoscopia Derivações e punções Cesárea agendada para facilitar o tratamento imediato pós-natal Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 34 4.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO TERCEIRO TRIMESTRE CAPÍTULO As ultrassonografias do terceiro trimestre são aquelas realizadas a partir de 28 semanas até o fim da gestação. Os objetivos principais da realização de ultrassonografia no terceiro trimestre são a avaliação do crescimento fetal, da placenta, do líquido amniótico e do fluxo san- guíneo uterino, fetal e placentário. Pode ser realizada ultrassonografia obstétrica simples ou ultrassonografia obstétrica com Dopplervelocimetria. Como visto anteriormente, na ultrassonografia obstétrica simples é avaliada a posição fetal, a biometria fetal, a posição da placenta e o volume de líquido amniótico. A ultrassonografia obstétrica com Doppler é utilizada quando há indicação, como no caso de suspeita de restrição de crescimento fetal e de síndromes hipertensivas da gestação. Falaremos sobre a Dopplervelocimetria obstétrica no livro “Vitalidade fetal”. INDICAÇÕES PARA ULTRASSONOGRAFIAS DO TERCEIRO TRIMESTRE Avaliar peso e biometria fetal Avaliar placenta e líquido amniótico Avaliar fluxo sanguíneo fetal, placentário e uterino Avaliar vitalidade fetal CAPÍTULO 5.0 PROCEDIMENTOS INVASIVOS FETAIS Como vimos anteriormente, quando há risco fetal aumentado para aneuploidias ou quando se identifica malformações fetais durante a ultrassonografia, é fundamental que seja feita a investigação do material genético do feto, a fim de uma melhor elucidação diagnóstica. Para a coleta do material genético fetal, é necessária a realização de procedimentos invasivos intrauterinos, que são: biópsia de vilosidades coriônicas, amniocentese e cordocentese. Alguns procedimentos intrauterinos são utilizados atualmente como medidas terapêuticas de doenças fetais. Esses procedimentos incluem a transfusão sanguínea intraútero, a amniodrenagem, as derivações e as punções fetais, a fetoscopia e, por fim, a cirurgia fetal aberta. Veremos cada um desses procedimentos a seguir. Vamos lá? Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 35 5.1 BIÓPSIA DE VILOSIDADES CORIÔNICAS Contraindicações: - Interposição de alças intestinais - Leiomiomas grandes - Sangramento vaginal - Impossibilidade de se atingir a placenta sem invadir o saco gestacional - Infecção por HIV, HepatiteB ou hepatite C Fazer imunoglobulina anti-D se gestante Rh negativo com Coombs indireto negativo Risco de perda fetal de 1% Entre 11 a 13 semanas BIÓPSIA DE VILOSIDADES CORIÔNICAS Coleta de amostra de corion frondoso Via abdominal ou cervical A biópsia de vilosidades coriônicas é feita por meio da coleta de amostra do córion frondoso, que contém material genético fetal e placentário. A principal indicação desse procedimento é coleta de cariótipo e material genético fetal nos casos de rastreamento positivo para cromossomopatias ou presença de malformações fetais na ultrassonografia do primeiro trimestre. Esse procedimento pode ser realizado entre 11 e 13 semanas. Não se indica sua realização antes de 11 semanas, pelo risco de redução de membros fetais, nem após 13 semanas, pois o índice mitótico encontra-se reduzido, sendo mais difícil a obtenção do material genético adequado. A biópsia de vilosidades coriônicas pode ser realizada por via abdominal ou cervical, sendo a transabdominal a mais utilizada. Esse procedimento é feito sempre guiado por ultrassonografia, após a identificação da vitalidade fetal, da idade gestacional e da localização do trofoblasto. As contraindicações são: interposição de alças intestinais, leiomiomas grandes, sangramento vaginal ou impossibilidade de atingir a placenta sem invadir o saco gestacional. Além disso, contraindica-se a biópsia de vilosidades coriônicas quando a gestante apresenta infecção por HIV, hepatite B ou hepatite C. O procedimento transcervical está contraindicado nos casos de infecções genitais. O risco de perda fetal pela realização de biópsia de vilosidades coriônicas gira em torno de 1%. A ocorrência de rotura das membranas fetais e de infecção é extremamente rara. Por fim, não se deve esquecer que a gestante com risco de aloimunização Rh deve receber imunoglobulina anti-D em até 72 horas do procedimento. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 36 5.2 AMNIOCENTESE A amniocentese consiste na retirada de uma amostra de líquido amniótico da cavidade uterina pela via abdominal. Esse é o procedimento invasivo fetal mais utilizado na prática obstétrica pela facilidade da técnica e da obtenção dos resultados laboratoriais. Esse procedimento está indicado para coleta de cariótipo fetal, material genético fetal ou pesquisa de infecções congênitas. Pode também ser utilizado para investigação de maturidade pulmonar fetal. A amniocentese pode ser realizada preferencialmente entre 15 e 18 semanas. Sua realização a partir de 24 semanas aumenta o risco de rotura prematura das membranas e parto prematuro, por isso não é recomendada. As principais complicações envolvem a rotura prematura de membranas, a corioamnionite e a perda fetal. O risco de perda fetal é semelhante ao da biópsia de vilosidade coriônica, correspondendo a 1%. Por fim, não se deve esquecer que a gestante com risco de aloimunização Rh deve receber imunoglobulina anti-D em até 72 horas do procedimento. Contraindicações: - Infecção por HIV, Hepatite B ou hepatite C Fazer imunoglobulina anti-D se gestante Rh negativo com Coombs indireto negativo Risco de Rotura prematura de membrana e corioamnionite Risco de perda fetal de 1% Entre 15-18 semanas AMNIOCENTESE Retirada de liquido aminiótico da cavidade uterina Via abdominal 5.3 CORDOCENTESE A cordocentese é o procedimento pelo qual se obtém sangue fetal pela punção transabdominal do cordão umbilical. A punção deve ser feita na veia umbilical a partir de 20 semanas. A cordocentese pode ser utilizada para a investigação de doenças fetais, assim como para o tratamento intraútero de diversas patologias fetais. A principal doença investigada pela cordocentese é a anemia fetal, pois, atualmente, é possível diagnosticar infecções fetais e doenças genéticas por meio da análise do líquido amniótico, não sendo necessária a coleta de sangue fetal. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 37 As principais doenças que podem ser tratadas pelo uso da cordocentese são: anemia, trombocitopenia e arritmia fetal. A transfusão fetal intrauterina por cordocentese é utilizada nos casos de anemia e trombocitopenia fetal. Esse tratamento está indicado quando há sinais de anemia fetal grave, como em casos de hidropisia ou de alteração do pico de velocidade sistólico da artéria cerebral média. A cordocentese apresenta um risco maior de complicações fetais do que a biópsia de vilosidades coriônicas e a amniocentese, chegando a um risco de perda fetal em torno de 2%. Pode ocorrer bradicardia fetal, hematoma de cordão, sangramento no local da punção, trombose dos vasos umbilicais e morte fetal. Do mesmo modo que os procedimentos citados anteriormente, a gestante com risco de aloimunização Rh deve receber imunoglobulina anti-D em até 72 horas da intervenção. Chegamos ao fim deste resumo. Agora, você já sabe tudo sobre ultrassom em obstetrícia e está pronto para responder a qualquer questão sobre esse tema! Parabéns pela determinação! Para você treinar seus conhecimentos, preparei uma lista de questões sobre esse tema para você! Contraindicações: - Infecção por HIV, Hepatite B ou hepatite C Fazer imunoglobulina anti-D se gestante Rh negativo com Coombs indireto negativo Complicações: - Bradicardia fetal - Hematoma de cordão - Sangramento no local da punção - Trombose dos vasos umbilicais - Morte fetal * Risco de perda fetal de 1-2% A partir de 20 semanas CORDOCENTESE Coleta de sangue fetal pela punção de veia umbilical Via abdominal Indicações: - Investigação de anemia fetal - Tratamento-transfusão sanguínea, aplicação de medicação Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 38 Estratégia MED OBSTETRÍCIA Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app https://estr.at/6mkp 6.0 LISTA DE QUESTÕES https://estr.at/6mkp Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 39 7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPÍTULO 1. ZUGAIB, M. Zugaib obstetrícia. 4 ed. Manole, 2020. 2. CUNNINGHAM, F. Gary. Obstetrícia de Williams. 24 ed. AMGH editora, 2016. 3. HADLOCK, F.P.; DETER, L.R.; HARRIST, R.B. et al. Estimating fetal age: com-puter-assisted analysis of multiple fetal growth parameters. Radiology 1984; 152: 497. 4. OTT, W.J. Accurate gestational dating: revisited. Am J Perinatol 1994; 11: 404-8 5. TAKEUTCHI, H. Transvaginal ultrasound in the first trimester of pregnancy. Early Hum Dev 1992: 29: 381. 6. AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS. ACOG Practice Bulletin. Ultrasonography in Pregnancy. Obstet Gynecol 2009; 113: 451-61 7. PETTKER, C.M.; GOLDBERG, I.D.; EL-SAYED, Y.Y.; COPEL, J.A.. Committee on Obstetric Practice, the American Institute of Ultrasound in Med- icine, and the Society for Maternal-Fetal Medicine. Committee Opinion n. 700: Methods for Estimating the Due Date. Obstet Gynecol 2017; 129(5): e150-e154. 8. CICERO, S.; SACCHINIM C.; REMBOUSKOS, G.; NICOLAIDES, K.H. Sonographic markers of fetal aneuploidy: a review. Placenta 2003; 24: S88-S98. 9. NICOLAIDES, K.H.; AZAR, G.; BYRNE, D.; MANSUR, C.; MARKS, K. Fetal nuchal translucency: ultrasound screening for chromosomal defects in first trimester of pregnancy. BMJ 1992; 304(6831):867-9. 10. NICOLAIDES, K.H. First trimester screening for chromosomal abnormalities. Sem Perinatol 2005; 29: 190-4. 11. CUCKLE, H.; BENN, P.; WRIGHT, D. Down syndrome screening in the first and/or second trimester: model predicted performance using meta-analysis parameters. Semin Perinatol 2005; 29: 252-7. 12. CUCKLE, H.S.; VAN LITH, J.M. Appropriate biochemical parameters in first trimester screening for Down syndrome. Prenat Diagn 1999; 19: 505-12. 13. SOUKA, A.P.; KRAMPL, E.; BAKALIS, S.; HEATH, V.; NICOLAIDES, K.H. Outcome of pregnancy in chromosomally normal fetuses with increa- sed nuchal translucency in the first trimester. Ultrasound Obs-tet Gynecol 2001; 18(1): 9-17. 14. BENECERRAF, B.R.; BARSS, B.A.; LABODA, L.A. A sonographic sign for the detection in the second trimester of the fetus with Down’s syn- drome. Am J Obstet Gynecol 1985; 151: 1078-9 15. EVANS, M.I.; SONEK, J.D.; HALLAHAN, T.W.; KRANTZ, D.A. Cell-free fetal DNA screening in the USA: a cost analysis of screening strategies. Ultrasound Obstet Gynecol 2015; 45: 74-83. Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 40 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO Lembre-se de que aqui, no Estratégia MED, temos o Fórum de dúvidas! Se você tiver qualquer dúvida ou dificuldade, tanto com a teoria como com a resolução das questões, você pode se comunicar comigo sempre que achar necessário e eu estarei a postos para ajudá-lo. Pensamos em tudo para que você consiga entrar nas melhores Residências Médicas do país! Estudando nosso material com muita dedicação e disciplina, tenho certeza de que você será aprovado e de que cada esforço terá valido a pena! Além disso, recomendo que siga o perfil do Estratégia MED nas redes sociais! Lá, você ficará atualizado de todas as notícias sobre as provas de Residência Médica do país. Você também pode seguir meu perfil no Instagram, local em que compartilho com alunos e pacientes temas sobre obstetrícia e medicina fetal. Conte comigo nessa jornada! Natália Carvalho Estratégia MED OBSTETRÍCIA Ultrassom em Obstetrícia Prof. Natália Carvalho | Resumo Estratégico| Fevereiro 2022 41 https://med.estrategiaeducacional.com.br/ https://med.estrategiaeducacional.com.br/ 1.0 CARACTERÍSTICAS GERAIS 1.1 Vias de realização da ultrassonografia na gestação 1.2 Indicação 2.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO PRIMEIRO TRIMESTRE 2.1 Diagnóstico de gravidez 2.2 Determinação da idade gestacional 2.3 Rastreamento de anomalias cromossômicas 2.4 Translucência nucal 2.5 Outros marcadores ultrassonográficos do primeiro trimestre 2.6 Marcadores ultrassonográficos do segundo trimestre 2.7 Marcadores bioquímicos 2.8 DNA fetal livre no sangue materno 2.9 Interpretação e conduta no rastreamento de cromossomopatias 3.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO SEGUNDO TRIMESTRE 3.1 Avaliação da biometria fetal 3.2 Avaliação da placenta 3.3 Detecção de anomalias fetais 3.4 Conduta nos casos de anomalias fetais 4.0 ULTRASSONOGRAFIAS DO TERCEIRO TRIMESTRE 5.0 PROCEDIMENTOS INVASIVOS FETAIS 5.1 Biópsia de vilosidades coriônicas 5.2 Amniocentese 5.3 Cordocentese 6.0 LISTA DE QUESTÕES 7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compartilhar