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16/05/2022 10:56 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/17
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
AULA 2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16/05/2022 10:56 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/17
 
Prof. Paulo Nascimento Neto
CONVERSA INICIAL
FORMAÇÃO DA AGENDA PÚBLICA
Anteriormente, compreendemos o que é política pública, quais são seus tipos principais e como
podemos interpretá-la a partir do modelo heurístico do ciclo da política pública. Ao decompor o agir
público em etapas podemos diferenciar essencialmente quatro momentos, quais sejam: (i) formação
da agenda, (ii) elaboração da política pública, (iii) implementação e (iv) avaliação. Essa sequência de
etapas é representada, de forma gráfica, a partir de um círculo, justamente pela natureza cíclica do
modelo (figura 1).
Figura 1 – Ciclo da Política Pública
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Nesta aula aprofundaremos os estudos na primeira etapa, compreendendo as diferenças entre
uma condição e um problema público, como estes se estruturam, seus níveis constitutivos e como a
atenção pública se comporta em relação a eles. Além disso, veremos como podemos estruturar um
modelo racional de decomposição de fatores e consequências para delimitar um escopo de atuação.
Ao passar por esses tópicos, você entrará em contato não apenas com conceitos e técnicas ligados à
gestão pública, como também com aspectos importantes para uma análise crítica, seja como gestora
ou gestor, seja como cidadã ou cidadão. Desejamos a você um excelente estudo!
TEMA 1 – DE CONDIÇÃO A PROBLEMA PÚBLICO
A primeira etapa do ciclo de uma política pública é a formação da agenda, ou seja, a definição
de problemas socialmente relevantes, para os quais se convergem atenções, esforços e recursos para
a ação pública. Mas, afinal, ao tratarmos de problemas públicos, sobre o que estamos falando? A
resposta a essa pergunta passa inevitavelmente pela compreensão da diferença entre uma condição e
um problema público.
Você saberia diferenciá-los?
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Pense por um minuto sobre a situação enfrentada rotineiramente na gestão do município em
que você mora. Quais são as demandas que precisam de atenção pelo poder público? Caso você
fosse o prefeito, quais os temas principais que elegeria como plano de governo? As respostas podem
variar, e a percepção pode ser um pouco diferente caso você trabalhe no poder público ou caso você
observe o poder público como um cidadão, mas em ambos os casos é consensual que temos um
conjunto quase infinito de possíveis campos de ação que podem se tornar políticas públicas.
Ademais, cada indivíduo e grupo social possui sua própria pauta prioritária de temas, para a qual
julga ser fundamental uma ação do poder público.
A esse grande conjunto efervescente de demandas nós damos o nome de condições. Apenas
quando essas condições passam a se constituir em problemas socialmente relevantes, ou seja,
passam a coletivamente ser interpretados como tópicos que demandam uma resposta de uma
política pública, temos a formação de problemas públicos (Kingdon, 1995).
Diante dessa diferença, uma segunda questão se coloca: o que explicaria a promoção de apenas
algumas condições ao status de problema público? O que está envolvido nesse processo?
Se voltarmos à pergunta anterior e refletirmos sobre o contexto do município onde você mora,
como se organizam as políticas públicas locais de incentivo ao desenvolvimento econômico? Veja
que estamos falando de um tema amplo, que pode comportar diferentes frentes de atuação, como,
por exemplo, a redução de Impostos sobre Serviços (ISS) para determinadas atividades comerciais ou
a restrição de instalação de determinadas atividades industriais no território do município.
Tanto em um caso como no outro, o que leva o município a selecionar as atividades comerciais
que serão isentas de ISS ou quais atividades industriais possuem restrições para operação no
município? Apesar de termos aspectos gerais objetivamente delimitados, há o que chamamos de
“espaço discricionário”, ou seja, há um espaço para a decisão pelos governos a partir de suas
prioridades e seus entendimentos.
Conforme vastamente analisado pela literatura, nesse processo não estão em jogo apenas as
características do assunto em questão, mas também, e principalmente, as dinâmicas sociopolíticas e
os processos de articulação de poder que ocorrem dentro do âmbito do debate público. Nesse
contexto, se destaca a capacidade de determinados atores de incluir (ou excluir) temas da discussão
social, bem como legitimar suas posições e seus entendimentos frente ao restante da sociedade
(Fuks, 2000; Parada, 2006), de tal forma que, na definição da agenda, os problemas públicos se
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formam e apenas continuam existindo pela ação de determinados indivíduos ou grupos (Subirats,
2006; Jann; Wegrich, 2007).
Assim, em nosso exemplo, caso a associação comercial no município XPTO tenha grande
representatividade e força política, poderá pressionar o governo local por medidas de estímulo ao
comércio local. Mas qual será a melhor medida? A renúncia fiscal é uma estratégia adequada? Como
a redução dos recursos arrecadados pelo município impacta também em sua capacidade fiscal, a
decisão levará em conta uma série de fatores, entre as quais um conjunto de valores e crenças dos
tomadores de decisão.
Vemos, assim, que a definição da agenda pública perpasse por questões complexas, que
precisam ser discutidas no contexto em que estão inseridas. Inserido nessa mesma discussão, antes
mesmo de pensar sobre possíveis caminhos, temos também a complexidade dos próprios problemas
públicos.
Tomemos como exemplo o problema habitacional brasileiro. Trata-se de uma questão
historicamente presente em nosso país e que envolve uma série de variáveis, como os assentamentos
urbanos informais, a ausência de infraestruturas básicas, a precariedade das unidades habitacionais e
as demandas por novas moradias.
Diante desse cenário, seria possível reduzirmos a política pública apenas à construção de novas
casas? Será que isso seria suficiente?
Certamente não, pois, ao construir novas moradias, aumenta-se o número de moradores em
determinado bairro, com consequência direta sobre as infraestruturas do bairro (saneamento, energia
elétrica etc.), a demanda dos equipamentos públicos (escolas, postos de saúde etc.) e linhas de
ônibus, dentre outros fatores. Destarte, além da moradia em si, são necessárias uma série de políticas
públicas correlatas, como, por exemplo, saneamento básico, mobilidade, saúde, educação e
desenvolvimento econômico.
Na figura a seguir, de forma exemplificativa, apresentamos um diagrama hipotético que ilustra
as relações de complexidade e subjetividade relacionadas aos problemas públicos. A partir dela
podemos compreender como os temas se inter-relacionam e, por mais abrangente que uma política
pública seja, não conseguirá abranger todo o espectro de temas com que se relaciona.
[1]
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Figura 2 – Interdependências de temas (exemplo hipotético)
Ora, nesse panorama, como podemos estabelecer um escopo adequado para uma política
pública? Essa questão é extremamente complexa, não sendo possível respondê-la em poucas linhas.
Trata-se de um tema amplo e que procurou ser trabalhado por uma série de pesquisadores ao longo
dos últimos 50 anos. Para podermos respondê-la devemos, inevitavelmente, compreender o processo
de estruturação dos problemas públicos e como podemos construir, de forma coletiva, uma leitura
articulada de causas e consequências relacionadas a um tema específico. Ainda que esses dois
aspectos – que trataremos nos próximos temas da nossa aula – não esgotem a resposta procurada,
são centrais para o seu começo. Os tópicosestudados ao longo das demais aulas da disciplina
também colaborarão nesse sentido.
TEMA 2 – A ESTRUTURAÇÃO DE PROBLEMAS PÚBLICOS
Antes de adentrarmos em uma esfera mais prática da gestão pública, se faz fundamental
compreendermos como se estruturam os problemas públicos. Para tanto, devemos ficar atentos para
não incorrermos no risco de olhar inocentemente para os problemas públicos como se esses fossem
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“fatos objetivos”, passíveis de serem identificados e delimitados de forma universal (Parada, 2006;
Dunn, 2012; Jann; Wegrich, 2007, Subirats, 2006).
Na realidade, os mesmos dados podem ser interpretados de diferentes formas por diferentes
grupos de interesse, a depender de suas crenças pessoais, concepções sobre o papel do governo e
sobre a própria estrutura do conhecimento. Assim, a agenda pública se formará não pela simples
identificação técnica de uma questão, mas sobretudo a partir de “um jogo de poder em que
legitimidades (e ilegitimidades) são constituídas, bem como a organização de valores específicos,
ainda que de maneira implícita” (Parada, 2006, p. 74, tradução nossa).
Dentro desse cenário, Dunn (2012) estabelece dois momentos distintos de formação da agenda
pública, a saber: a (i) estruturação dos problemas e a (ii) resolução dos problemas. No primeiro
momento trata-se de abordagem menos estruturada, na qual a atenção dirigida possui maior
subjetividade e abstração, ou seja, concentra-se em grandes reflexões. Nesse momento o que se
busca não é uma decomposição em fatores, mas uma compreensão ampla de determinada condição,
conformando um problema público.
Esse primeiro momento envolve etapas progressivas de desenvolvimento. Começamos pela
busca e pela delimitação do problema, pois, de início, para Dunn (2012) temos a nossa disposição,
enquanto gestor público, apenas interpretações diversas e dispersas sobre uma condição, que se
conformarão após esse processo como um problema público e, após sua clara definição e
delimitação, darão origem ao que o autor denomina de problema substantivo. Esse problema
substantivo passa por um processo de especificação de variáveis relacionadas, gerando o que se
denomina de problema formal.
Esse é um momento crucial para Dunn (2012) na formação da agenda pública. Somente após
essa definição mais clara do problema – chegando-se ao problema formal – passa-se à segunda
etapa – ligada à sua resolução –, no qual o escopo é mais específico e busca-se decompô-lo em um
modelo lógico de causas e consequências. Nesse momento, técnicas como a árvore dos problemas,
abordada no nosso próximo tema de estudo desta aula, se destacam.
A conclusão desses dois momentos resulta na clara delimitação de entendimento, escopo e
modelo lógico explicativo de causas e consequências que possibilitam avançar em direção à
formulação da política pública, tema abordado nas próximas aulas.
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TEMA 3 – A TÉCNICA DA ÁRVORE DOS PROBLEMAS
Na prática da gestão pública, uma técnica amplamente utilizada para operacionalizar a definição
do escopo de uma política pública é a construção de uma árvore dos problemas . A partir de um
modelo lógico hierárquico podemos enxergar de forma clara a leitura realizada de um problema
público e o modelo racional de articulação entre as suas principais causas e consequências, que
podem se desenvolver em múltiplos níveis (Souza, 2010; Cardoso Jr., 2015; Cassiolato; Gueresi, 2010).
Na figura 3 temos um exemplo hipotético, no qual foi criada uma árvore a partir de um
problema público enfrentado pelo município “XPTO”: a cidade não possui coleta seletiva de resíduos
domiciliares. Antes de olhar para o diagrama, você conseguiria pensar quais as possíveis causas e
consequências relacionadas? Anote a parte as relações que pensou, antes de passar para as páginas
seguintes, a fim de que possamos fazer uma discussão comparativa. Pense em uma articulação dos
motivos pelos quais a coleta seletiva ainda não foi implantada no município XPTO e quais as
consequências disso para a cidade.
Figura 3 – Árvore de problemas – exemplo hipotético de versão preliminar
[2]
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Após a leitura da árvore apresentada, houve semelhança com o esboço que você desenvolveu?
Muito provavelmente, podemos identificar algumas semelhanças e algumas diferenças, certo? Isso
ocorre porque não se trata de uma leitura única, mas de um processo dialógico de construção
coletiva dos limites do problema público. Esse é apenas um exemplo hipotético e, da mesma forma,
ao realizar a árvore dos problemas para o mesmo tema em seu município pode-se chegar a
articulações diferentes, particulares do seu contexto.
Voltando à figura 3, veja que, tanto nos níveis de causas quanto de consequências, o problema
público apresenta uma série de derivações, ou seja, o problema de baixo percentual de reciclagem de
resíduos sólidos leva a problemas de saúde pública, ambientais e fiscais no município, estando
também relacionado, enquanto causa, à ausência de recursos disponíveis, à falta de instrumentos de
planejamento e a problemas na contratação de serviço terceirizado. Em um processo de debate
sobre um problema público, essa técnica é extremamente útil na pactuação coletiva do tema,
facilitando, inclusive, a identificação de relações dessa política pública com as demais implementadas
pelo município, bem como pelo governo estadual e federal.
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Lembre-se: isso não significa que existe uma única leitura correta, ou seja, não estamos falando
na “descoberta” da árvore do problema ideal. Os problemas públicos têm como uma de suas
características o alto nível de complexidade e subjetividade. Assim, a importância desse método está
em garantir que a definição do objeto central de atenção (ponto focal) se dê de forma clara e, mais
que isso, que possa ser elaborado de forma transparente e democrática.
Ao final, o processo de construção e reconstrução da árvore, realizado por meio de uma
pactuação contínua entre os atores envolvidos, permitirá explicitar o escopo (sobre o que vamos
atuar nesta política pública) e o recorte factível de ação (onde e até que ponto vamos atuar nesta
política pública).
TEMA 4 – O CICLO DE ATENÇÃO
Conforme tratamos anteriormente, a formação de problemas públicos e a sua inserção na
agenda pública não se dá por meio de um fenômeno simples e espontâneo. Como bem colocado por
Fuks (2000), não se trata apenas de colocar um problema em destaque, mas de continuamente
renovar os recursos simbólicos que o mantém nessa posição.
Nesse contexto é de fundamental importância a compreensão do ciclo de atenção e volatilidade
da atenção pública. Sobre esse tema, uma das formulações de maior destaque é o Ciclo de Atenção a
Questões (Issue-attention cycle), proposto pelo economista americano Anthony Downs (1972).
Nesse modelo, a concentração de atenção pública sobre um tema tem um ciclo de operação que
pode ser dividido em cinco etapas, quais sejam: (i) pré-problema, (ii) entusiasmo eufórico, (iii)
percepção dos custos envolvidos, (iv) declínio gradual do interesse público e (v) pós-problema. Para
facilitar a sua compreensão, a figura 4 apresenta um esquema gráfico de organização dessas etapas.
Propositadamente, a ilustração conforma um ciclo, tendo em vista que ocorrem seguidos ciclos de
atenção, que podem tratar da mesma temática ou se direcionar a temáticas diferentes.
Figura 4 – Ciclo da atenção a questões
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Na primeira fase (pré-problema), temos apenas as condições, que ainda não capturaram atenção
pública significativa para serem elevadas à categoria de problema público. Nas palavras do autor,
“usualmente, condições objetivas relacionadas ao problema são muito pioresdurante a etapa de pré-
problema do que quando estas ocupam espaço no interesse público” (Downs, 1972, p. 89, tradução
nossa).
Essa atração de interesse público ocorrerá na segunda fase – chamada pelo autor de
“entusiasmo eufórico” –, na qual, motivada por eventos de estímulo ou traumáticos de diferentes
naturezas, ocorreu uma concentração da atenção pública sobre os problemas envolvidos com
determinado tema, levando, por consequência, a um otimismo disseminado a partir do qual se
acredita que é possível resolver um problema ou, ao menos, atuar sobre suas causas sem a
necessidade de reordenação estrutural da sociedade. Em outras palavras, tem-se um relativo
consenso que se trata de um problema relevante e para o qual podemos atuar de forma efetiva.
Na sequência, no momento seguinte, passa-se a um melhor entendimento dos reais custos
(econômicos e sociais) envolvidos na resolução de um problema (geralmente elevados). Esse
processo desvela, via de regra, que determinados problemas também estão relacionados a
determinados benefícios usufruídos por uma parcela da população, ou seja, a atuação sobre o
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problema não implica apenas benefícios, mas também redução ou intervenção sobre os benefícios
que determinados grupos sociais usufruem no contexto atual.
  Como decorrência desse processo, à medida que as pessoas percebem os custos e as
dificuldades impostas, vemos um declínio gradual do interesse público sobre o tema, que passa a
concorrer com outros temas que estão emergindo na arena pública. Obviamente isso não significa
que toda a atenção pública se comportará de forma homogênea, mas que os grandes movimentos
de direcionamento de atenção podem se alterar. Nesse aspecto, em uma perspectiva mais recente,
vem se destacando o papel das redes sociais na animação ou na retratação da atenção pública sobre
determinados temas, seja pelo comportamento individual dos usuários, seja por empresas que
operam estratégias de direcionamento de conteúdo.
Ao final, na fase do pós-problema, o tema sai do núcleo de atenção social. Ao longo dessas
etapas, novas políticas e programas provavelmente surgiram, alterando a relação do tema com a
opinião púbica. Com isso, há a tendência de se continuar gerando impactos positivos sobre o
problema público em questão, mesmo que este já não atraia tanta atenção pública.
Como bem observado por Downs (1972, p. 41, tradução nossa):
Qualquer problema de maior monta que, em alguma vez, foi elevado a destaque nacional pode,
esporadicamente, recapturar o interesse público; ou importantes aspectos dele podem se conectar
a outros problemas que, de forma subsequente, dominam a opinião pública. Dessa forma,
problemas que já passaram pelo ciclo de atenção, via de regra, recebem maiores níveis médios de
atenção, esforço público e preocupação geral que aqueles que ainda estão em um estágio de pré-
problema.
A partir desse ciclo analítico podemos, em última análise, identificar as “táticas políticas” (Dye,
2009) utilizadas por diferentes atores e grupos de interesse para captar a atenção para um tema e
pressionar o governo para fazer algo sobre ele. Não podemos nos esquecer que não há neutralidade
de conhecimentos técnicos e que estes operam em ambientes políticos complexos, conflituosos e,
portanto, estão sujeitos a certo grau de discricionariedade.
Assim, as articulações e as dinâmicas que aglomeram (ou direcionam conscientemente) a
opinião pública têm influência direta na pressão exercida sobre os governos, que então se veem
diante de “situações de escolha forçada” (Jann; Wegrich, 2007), nas quais se sentem pressionados a
priorizar determinado tema na agenda a fim de manter sua legitimidade ou credibilidade.
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TEMA 5 – NÍVEIS CONSTITUTIVOS DA AGENDA PÚBLICA
Ao longo dos temas anteriores nos concentramos em tópicos de estudo que estão relacionados
aos processos de definição da agenda pública que possui uma entrada pública (mesmo que
cooptada por grupos de interesse). Contudo, ao final desta aula, também é importante
compreendermos um segundo nível, formado por temas muito técnicos (que, portanto, não atraem
atenção dos cidadãos) ou que se originam de demandas particulares de grupos de interesse que
possuem acesso direto ao governo, com elevada capacidade de pautar temas sem o conhecimento
ou apoio do público em geral.
Ao se debruçar sobre esse tema, Cobb e Elder (1971; 1972) identificaram dois níveis constitutivos
da agenda pública. Para os autores, temos a (i) agenda sistêmica e a (ii) agenda institucional. Na
primeira estão englobados todos os problemas públicos em discussão pela comunidade política, que
atraem a atenção da opinião pública e podem ser de corte local, estadual ou nacional.
Entretanto, a despeito da importância dessa arena, nem todos esses problemas públicos se
tornarão políticas públicas. Há, de fato, uma barreira entre essas duas fases, e sua transposição pode-
se dar tanto por meio da pressão da opinião pública como por atalhos adotados por determinados
grupos, com acesso privilegiado aos tomadores de decisão. Há determinados grupos de atores que
possuem a capacidade de exercer lobby com os atores políticos, pressionando para inclusão de temas
na agenda institucional apesar de não estarem presentes na agenda sistêmica.
Independentemente do fator que leva à transposição, é apenas no segundo nível – relativo à
agenda institucional (ou governamental) – que se concentram os temas que efetivamente serão
considerados explicitamente pelos decisores e poderão se converter em políticas públicas. Essa
divisão, ainda que conceitual, nos auxilia na compreensão de como os governos (e não Estados,
lembre-se da diferença entre eles) recebem as demandas, oriundas de problemas públicos ou não, e
as processam até que sejam produzidas políticas públicas.
NA PRÁTICA
Nesta seção trataremos de um caso recente de política pública, analisando-o a partir do ciclo da
atenção da opinião pública, nosso quarto tema de estudo. Vamos realizar uma análise específica, mas
você, dentro do seu contexto de vivência local, poderá fazer o exercício complementar de pensar em
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outros casos correlatos, que lhe auxiliarão na compreensão dos conceitos e dos instrumentos
abordados na aula. Como veremos, trata-se de um instrumental poderoso para compreender as
transformações das políticas ao longo do tempo.
Passando ao nosso caso de estudo, caso olhemos para a última década, observaremos um
movimento de discussão de problemas de mobilidade urbana na maior parte das metrópoles
brasileiras. Em partes motivado pelos impactos dos congestionamentos na vida cotidiana, em partes
pela insuficiência dos sistemas de transporte público em operação, esse tema alçou o patamar de
problema público, estimulando, inclusive, manifestações em diferentes cidades no ano de 2013
(movimento que ficou conhecido como Jornadas de Junho) .
No meio técnico, há décadas vemos um relativo consenso sobre a incapacidade de medidas
voltadas ao aumento da infraestrutura (pavimentação, alargamento viário etc.), de forma que elas,
por si só, não serão suficientes para atuar frente ao problema posto. Destarte, vemos uma defesa,
entre técnicos especializados e alguns grupos sociais, de medidas voltadas ao incentivo ao transporte
coletivo, à ciclomobilidade e ao deslocamento a pé, entendidas como fundamentais. Sem dúvidas, da
articulação dessas dinâmicas na arena social formou-se aqui uma agenda sistêmica que pressionou
os governos locais a agir, incorporando essas pautas na sua agenda governamental .
Um exemplo emblemático desse contexto está no município de São Paulo (SP), maior metrópole
brasileira e segunda maior da América Latina, na qual, apenas da cidade paulista (sem considerar a
região metropolitana), circulam mais de 6 milhões de carrospor dia. Com a tomada de medidas
voltadas ao incentivo à mobilidade por modais alternativos e ao desincentivo de mobilidade por
veículos automotores individuais, naturalmente houve a redução de parte de vias convencionalmente
utilizadas pelos veículos individuais.
Ora, se até então havia consenso sobre a importância de melhoria da mobilidade urbana na
cidade, tão logo as medidas foram implementadas, houve um reconhecimento mais claro dos
“custos” envolvidos . Em outras palavras, em um esforço de sintetização do panorama (que, óbvio,
levará a certas generalizações), apesar de todos concordarem sobre a importância de redução do
número de carros nas ruas, quantos estão dispostos a deixaram seus próprios carros na garagem?
Essa é uma pergunta intrigante.
[3]
[4]
[5]
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Ao longo dos últimos anos, ao se depararem com os constrangimentos impostos à velocidade e
circulação de carros, muitos passaram a rejeitar a proposta em curso (Leite; Cruz; Rosin, 2018). Isso
impactou no percentual de aprovação do governo local e levou, inclusive, a propostas
diametralmente opostas de seus concorrentes no pleito eleitoral subsequente. Ao longo dos anos em
que esse processo se desenvolveu, houve a proposição e implementação de políticas públicas e
programas que, em parte, permanecem até hoje , ainda que o entendimento atual de parte
significativa da opinião pública divirja. Esse exemplo, como pode ser observado ao longo das notas
de rodapé indicadas, revela a grande pertinência do modelo do Ciclo de Atenção na análise de
políticas públicas.
FINALIZANDO
Nesta aula trabalhamos com tópicos de estudo e técnicas relacionadas à formação da agenda
pública, o que nos impôs, inevitavelmente, a compreensão do que é um problema público, como ele
se estrutura e é estruturado. Não apenas a partir de modelagens lógicas de leitura de questões, como
a árvore dos problemas, mas também, e principalmente, a partir da compreensão que a definição da
agenda pública é muito mais um processo social e de discussão política do que propriamente uma
sequência estanque, ordenada e racional de hierarquização de elementos.
Para nós, enquanto gestoras e gestores públicos, é fundamental compreender essa natureza
cindida do tema, que nos impõe, ao mesmo tempo, o domínio de técnicas e a observância de
procedimentos claros e lógicos para trabalho, bem como habilidade política no reconhecimento da
natureza dialógica do processo e capacidade de gerenciá-lo, a fim de poder intervir de forma positiva
sobre ele e contribuir com a produção de políticas públicas.
REFERÊNCIAS
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2040. IPEA: Rio de Janeiro, 2015.
CASSIOLATO, M.; GUERESI, S. Como elaborar modelo lógico: roteiro para formular programas e
organizar avaliação. Brasília: IPEA, 2010.
[6]
[7]
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https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/17
COBB, R. W.; ELDER, C. D. Participation in American Politics: The Dynamics of Agenda Building.
Boston: Allyn and Bancon, 1972.
_____. The Politics of Agenda-Building: An Alternative Perspective for Modern Democratic Theory.
Journal of Politics, v. 33, n. 4, 1971.
DOWNS, A. Up and Down with Ecology: The Issue-Attention cycle. The Public Interest, n. 28, p.
38-50, 1972.
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em Ciências Sociais, n. 49, p. 79-94, 2000.
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Paulo: resistências, apoios e o papel da mídia. Revista de Administração Pública, v. 52, n. 2, p. 244-
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SOUZA, B. Gestão da mudança e da inovação: árvore de problemas como ferramenta para
avaliação do impacto da mudança. Revista de Ciências Gerenciais, v. 14, n. 19, p. 1-18, 2010.
SUBIRATS, J. Definición del problema. In: SARAIVA, E.; FERRAREZI, E. (Ed.). Políticas públicas.
Brasília: ENAP, 2006. v. 2.
16/05/2022 10:56 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/17
 Sobre este aspecto, ver também o tema 4 desta aula, que trata do ciclo de atenção e
volatilidade da opinião pública.
 É importante destacarmos que essa técnica é relacionada à prática da gestão pública e,
portanto, mais paradigmática. Na literatura do campo de políticas públicas há uma série de debates
sobre a real capacidade de se apreender de forma clara todo o problema público.
Independentemente dessa questão, devemos ter o domínio de técnicas como essas, que nos
permitem operacionalizar atividades essenciais para a construção coletiva de políticas públicas.
 Etapa 1 do modelo de Ciclo de Atenção: pré-problema.
 Etapa 2 do Ciclo de Atenção: entusiasmo eufórico.
 Etapa 3 do Ciclo de Atenção: percepção dos custos envolvidos.
 Etapa 4 do Ciclo de Atenção: declínio gradual do interesse público.
 Etapa 5 do Ciclo de Atenção: pós-problema.
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