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Título da disciplina Empresa, Estabelecimento e Título de Crédito Direito Cambiário Ao final deste módulo, você será capaz de categorizar o conceito de títulos de crédito, os elementos nele contidos e suas aplicações nas relações creditícias. 1 Títulos de Crédito e Contratos Empresariais DIREITO CAMBIÁRIO 3 Chama-se de direito cambiário ou direito cambial o sub-ramo do direito empresarial que disciplina todo o regime jurídico aplicável aos títulos de crédito. Trata-se, de regime jurídico recheado de regras, princípios e características especiais, criados especialmente para que os títulos de crédito consigam desempenhar de forma eficiente e segura a sua principal função, que é a circulação de riqueza. (RAMOS, 2016) DIREITO CAMBIÁRIO - momentos históricos 4 ● Período italiano - até 1.650; ● Período francês - de 1.650 a 1.848 ● Período alemão - de 1.848 a 1.930 ● Período uniforme - 1.930 a 2.000 ● Período de transição - 2.000 em diante (RAMOS, 2016) PERÍODO ITALIANO 5 Possuem destaque as cidades marítimas italianas onde se realizavam as feiras medievais que atraíam os grandes mercadores da época. Outra característica importante desse período é o desenvolvimento das operações de câmbio, em razão da diversidade de moedas entre as várias cidades medievais. Surge o câmbio trajetício, pelo qual o transporte da moeda em um determinado trajeto ficava por conta e risco de um banqueiro. Esse câmbio trajetício se instrumentalizava por meio de dois documentos: a cautio, apontada como origem da nota promissória, por envolver uma promessa de pagamento (o banqueiro reconhecia a dívida e prometia pagá-la no prazo, lugar e moeda convencionados), e a littera cambii, apontada como origem da letra de câmbio, por se referir a uma ordem de pagamento (o banqueiro ordenava ao seu correspondente que pagasse a quantia nela fixada). (RAMOS, 2016) PERÍODO FRANCÊS 6 Merece destaque, nessa fase do direito cambiário, o surgimento da cláusula à ordem, na França, o que acarretou, consequentemente, a criação do instituto cambiário do endosso, que permitia ao beneficiário da letra de câmbio transferi-la independentemente de autorização do sacador. (RAMOS, 2016) PERÍODO ALEMÃO 7 Se inicia com a edição, em 1848, da Ordenação Geral do Direito Cambiário, uma codificação que continha normas especiais sobre letras de câmbio, diferentes das normas do direito comum. O período alemão é bastante destacado pelos doutrinadores por ter consolidado a letra de câmbio, especificamente – e os títulos de crédito, de uma forma geral – como instrumento de crédito viabilizador da circulação de direitos. (RAMOS, 2016) PERÍODO UNIFORME 8 Se iniciou em 1930, com a realização da Convenção de Genebra sobre títulos de crédito e a consequente aprovação, no mesmo ano, da Lei Uniforme das Cambiais, aplicável às letras de câmbio e às notas promissórias. No ano seguinte, foi aprovada a Lei Uniforme do Cheque. Cabe ressaltar que as leis uniformes genebrinas receberam forte influência da já mencionada Ordenação Geral Alemã de 1848. (RAMOS, 2016) PERÍODO DE TRANSIÇÃO 9 Atualmente, os títulos de crédito passam por um importante período de transição. Letras de câmbio já não são vistas no mercado, e mesmo títulos como o cheque e a nota promissória vão caindo em desuso e dando lugar às transações com os cartões de débito e crédito, os quais já admitem a assinatura eletrônica. Assim, como tem alertado a doutrina especializada, vivemos a era do comércio eletrônico. (RAMOS, 2016) 10 Comércio Eletrônico COMÉRCIO ELETRÔNICO 11 Caracteriza-se o comércio eletrônico sempre que a venda de produtos ou serviços é instrumentalizada por meio de transmissão eletrônica de dados, o que ocorre no ambiente virtual da rede mundial de computadores (internet). Perceba-se que não importa se o objeto do negócio é virtual (uma música ou um vídeo) ou físico (um relógio, uma geladeira ou uma roupa), mas se a manifestação de vontade é instrumentalizada em meio virtual ou físico. Neste caso, as partes costumam assinar de próprio punho os contratos (às vezes se exigindo o reconhecimento da assinatura por tabelião e até mesmo a assinatura conjunta de testemunhas). Naquele, as partes se utilizam de assinaturas digitais. (RAMOS, 2016) LEGISLAÇÃO Decreto 7.962/2013 12 A fim de assegurar informações claras a respeito do produto, do serviço e do fornecedor, o art. 2º determina que “os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados para oferta ou conclusão de contrato de consumo devem disponibilizar, em local de destaque e de fácil visualização, as seguintes informações: I – nome empresarial e número de inscrição do fornecedor; II – endereço físico e eletrônico; III – características essenciais do produto ou do serviço, incluídos os riscos à saúde e à segurança dos consumidores; IV – discriminação, no preço, de quaisquer despesas adicionais ou acessórias; V – condições integrais da oferta. (RAMOS, 2016) 13 Criptomoedas BITCOIN p1 14 O bitcoin é uma criptomoeda que utiliza uma tecnologia ponto a ponto (peer-to-peer) para criar um sistema de pagamentos on-line que não depende de intermediários e não se submete a nenhuma autoridade regulatória centralizadora. O código do bitcoin é aberto, seu design é público, não há proprietários ou controladores centrais e qualquer pessoa pode participar do seu sistema de gerenciamento coletivo. Enfim, o bitcoin é uma inovação revolucionária porque é o primeiro sistema de pagamentos totalmente descentralizado. (RAMOS, 2016) BITCOIN p2 15 O comércio eletrônico tradicional é sempre feito através de intermediários (uma operadora de cartão de crédito, uma instituição financeira ou uma empresa de pagamentos on-line, como o PayPal) e lastreado em uma moeda oficial (dólar, real, euro etc.). As transações com bitcoins, por sua vez, não dependem de intermediários e não são lastreadas em uma moeda oficial, mas no próprio bitcoin. Portanto, não se trata apenas de um novo sistema de pagamentos, mas de uma nova moeda. (RAMOS, 2016) TÍTULO DE CRÉDITO 16 O conceito de título de crédito unanimemente aceito pelos doutrinadores é o que foi dado por Cesare Vivante. O grande jurista italiano definiu título de crédito como o documento necessário ao exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. (RAMOS, 2016) O artigo 887 do Código Civil traz o conceito de título de crédito, nesses termos: O conceito de título de crédito e seus elementos “ Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” (C.C./2002) Atenção! Embora o atributo da cartularidade, originariamente, tenha sido concebido para o papel, o documento físico, ele se aplica a todos os títulos de crédito. Inclusive os escriturais, só que sua aplicação também se dará para o documento eletrônico. O conceito de título de crédito e seus elementos 19 Princípios do Título de Crédito PRINCÍPIOS DO TÍTULO DE CRÉDITO p1 20 Cartularidade: cártula significa papel na língua italiana. O título de crédito, este documento é a materialização do meu direito, e eu preciso dele para lhe cobrar. Exceção: Títulos virtuais como a duplicata virtual, não apresentam a cártula mas são válidos. (RAMOS, 2016) PRINCÍPIOS DO TÍTULO DE CRÉDITO p2 21 Literalidade: só é válido o que está escrito. O conteúdo, a forma, a extensão, a modalidade do meu direito está descrito na cártula. Exceção: Cheque pós-datado apresentado antes. O cheque é um título de pagamento à vista, mediante a apresentação do mesmo. Quando apresento antes, ignoro a data futura nele escrito, ignoro a literalidade, porque a essência do cheque é pagamento à vista. (RAMOS, 2016) PRINCÍPIOS DO TÍTULO DE CRÉDITO p3 22 Legalidade: Não haverá titulo de crédito sem uma lei anterior que o crie e defina as suas regras. Independência: O título bastaem si para alcançar a sua finalidade, eu não preciso de outro documento. Exceção: Cédula de crédito vinculada à orçamento. (RAMOS, 2016) PRINCÍPIOS DO TÍTULO DE CRÉDITO p4 23 Autonomia: quando o título é transferido, com endosso, o título chega livre, limpo, autônomo, nas mãos do portador de boa fé. André Bernardo Carlos Nota Promissória endossa Bernardo promete a André sala por R$ 20.000 e André concorda e dá uma nota promissória (RAMOS, 2016) PRINCÍPIOS DO TÍTULO DE CRÉDITO p5 24 Abstração: emito um cheque ou nota promissória e ele se abstrai do negócio jurídico (compra) que lhe deu origem. O título surge por qualquer motivo, independentemente da causa. Exceção: Duplicata, que é um título causal, surge apenas por 2 motivos: compra e venda e prestação de serviços. Cédula de Crédito (também é causal) (RAMOS, 2016) INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS p1 25 Problema entre André e Bernado não é problema para Carlos.O título chegou livre. Carlos cobra de André, devedor principal após o vencimento. O princípio da inoponibilidade diz que André não pode se opor ao pagamento alegando problemas pessoais com Bernardo (contrato não cumprido). André Bernardo Nota Promissória endossa Bernardo não pintou a sala Carlos (RAMOS, 2016) direito de se opor à execução em caso de cessão de crédito STJ p1 26 O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já decidiu que o princípio de invocação de cláusula de exceção pessoal em execução de título endossado não se aplica em casos de cessão de crédito, como as operações de factoring (venda de ativos financeiros para empresa terceira que recebe futuramente). A inoponibilidade é o termo utilizado para dizer que o devedor não pode se opor ao interesse de terceiros, no caso a pretensão de um terceiro executar título financeiro endossado. O conceito está previsto na Lei Uniforme de Genebra, ratificada pelo governo brasileiro por meio do Decreto 57663/66. A legislação disciplina letras de câmbio e notas promissórias. (STJ, 2023) direito de se opor à execução em caso de cessão de crédito STJ p2 27 Para o STJ, tal dispositivo é inaplicável quando a operação, mesmo que com o uso de cheque, configure uma cessão de crédito. No caso do factoring, o entendimento é de que a relação jurídica estabelecida é regida pelo Código Civil, possibilitando a contestação dos títulos com base em exceção pessoal. Factoring é uma operação financeira pela qual uma empresa vende seus direitos creditórios - que seriam pagos a prazo - através de títulos a um terceiro, que compra estes à vista, mas com um desconto. (STJ, 2023) 28 Elementos e características do Título de Crédito Aquele que assinar (manual ou eletronicamente) um título sem ter poderes para tal, ou extrapolando os poderes que recebeu, fica obrigado perante o portador; Ao transmitir o crédito, se o credor insere a expressão “sem garantia”, significa que ele não responde pelo pagamento. Isso adverte aos futuros portadores que ele não se torna devedor solidário; Caso o devedor aceite o título, mas lance “aceite parcial” ou reduza o valor ao dar seu aceite, essa limitação é válida e pode ser oposta ao portador atual do título e portadores anteriores. Portanto, o direito do credor que emerge do título, direito cartular, é literal e não ampliado. Implicações de ter título de crédito Elementos • Legitimação do portador • Apresentação ao devedor • Independência • Abstração • Inoponibilidade de exceções pessoais CARACTERÍSTICAS DO TÍT DE CRÉDITO 31 Executoriedade: O título de crédito é um título executivo extrajudicial que apresenta certeza e liquidez, 784 CPC. Negociabilidade: Eu faço negócio com esse papel (pago dívida, compro). Circulabilidade: O título de crédito nasceu para circular de mão em mão. Bens móveis: a posse de boa-fé vale como propriedade - 82 a 84 CC Documentos formais (RAMOS, 2016) • Denominam-se “atos cambiários” aqueles que são praticados nos títulos de crédito pelas pessoas envolvidas na relação cambiária, com finalidades distintas: • Emissão • Reconhecimento do débito • Transmissão • Garantia ao cumprimento de obrigação • O objetivo é apresentar as noções mais importantes sobre cada um desses atos, diferenciando-os entre si. Atos cambiários Atos cambiários Aceite Endosso Aval • Quanto à forma de transferência ou circulação • Quanto ao modelo • Quanto à estrutura • Quanto às hipóteses de emissão Classificação dos títulos de crédito (RAMOS, 2016) 35 Classificação quanto à forma de transferência ou circulação Quanto à circulação Segundo esse critério, os títulos podem ser: a) ao portador; b) nominal à ordem; c) nominal não à ordem; e d) nominativos. (RAMOS, 2016) Título ao portador Título ao portador é aquele que circula pela mera tradição (art. 904 do Código Civil), uma vez que neles a identificação do credor não é feita de forma expressa. Sendo assim, qualquer pessoa que esteja com a simples posse do título é considerada titular do crédito nele mencionado. A simples transferência do documento (cártula), portanto, opera a transferência da titularidade do crédito. (RAMOS, 2016) Título nominal Título nominal, por sua vez, é aquele que identifica expressamente o seu titular, ou seja, o credor. A transferência da titularidade do crédito, pois, não depende apenas da mera entrega do documento (cártula) a outra pessoa: é preciso, além disso, praticar um ato formal que opere a transferência da titularidade do crédito. (RAMOS, 2016) Título nominal “à ordem” Nos títulos nominais com cláusula “à ordem”, esse ato formal é o endosso, típico do regime jurídico cambial (art. 910 do Código Civil). Já nos títulos nominais com cláusula “não à ordem” esse ato formal é a cessão civil de crédito, a qual, como o próprio nome já indica, submete-se ao regime jurídico civil. (RAMOS, 2016) Títulos nominativos p1 Por fim, os títulos nominativos, segundo o art. 921 do Código Civil, são aqueles emitidos em favor de pessoa determinada, cujo nome consta de registro específico mantido pelo emitente do título. Nesse caso, portanto, a transferência só se opera validamente por meio de termo no referido registro, o qual deve ser assinado pelo emitente e pelo adquirente do título (art. 922 do Código Civil). (RAMOS, 2016) Títulos nominativos p2 Em regra, os títulos de crédito típicos, nominados ou próprios – letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata – são títulos nominais à ordem, ou seja, devem ser emitidos com indicação expressa do beneficiário do crédito e podem circular via endosso. O único caso de título ao portador, quanto a estes títulos próprios, é o do cheque até o limite de R$ 100,00 (cem reais). (RAMOS, 2016) 42 Classificação quanto ao modelo Quanto ao modelo Segundo esse critério classificatório, os títulos de crédito podem ser: ● títulos de modelo livre ou ● títulos de modelo vinculado. (RAMOS, 2016) Títulos de modelo livre Título de modelo livre é aquele para o qual a lei não estabelece uma padronização obrigatória, ou seja, a sua emissão não se sujeita a uma forma específica preestabelecida. É o que ocorre, por exemplo, com a letra de câmbio e com a nota promissória, títulos de crédito que podem ser criados em uma simples folha de papel, bastando para tanto que nela constem os requisitos essenciais desses títulos. (RAMOS, 2016) Títulos de modelo vinculado Já o título de modelo vinculado, ao contrário, se submete a uma rígida padronização fixada pela legislação cambiária específica, só produzindo feitos legais quando preenchidas as formalidades legais exigidas. É o que ocorre com o cheque e com a duplicata. Esta, por exemplo, em obediência ao disposto no art. 27 da Lei das Duplicatas (Lei 5.474/1968), deve ser emitida segundo as normas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional. (RAMOS, 2016) 46 Classificação quanto à estrutura Quanto à estrutura Segundo esse critério classificatório, os títulos de crédito podemser: ● uma ordem de pagamento ou ● uma promessa de pagamento. (RAMOS, 2016) Como ordem de pagamento p1 Os títulos que se estruturam como ordem de pagamento – letra de câmbio, cheque e duplicata – se caracterizam por estabelecerem três situações jurídicas distintas a partir da sua emissão: em primeiro lugar, tem-se a figura do sacador, que emite o título, ou seja, ordena o pagamento; em segundo lugar, tem- se a situação do sacado, contra quem o título é emitido, ou seja, trata-se da pessoa que recebe a ordem de pagamento; por fim, tem-se a figura do tomador (ou beneficiário), em favor de quem o título é emitido, isto é, pessoa a quem o sacado deve pagar, em obediência à ordem que lhe foi endereçada pelo sacador. (RAMOS, 2016) Como ordem de pagamento p2 No cheque, por exemplo, que se estrutura como uma ordem de pagamento, como dito acima, podem-se ser facilmente identificadas as figuras do sacador (correntista que emite o cheque), do sacado (instituição financeira que cumprirá a ordem de pagamento que lhe foi dada) e o tomador (terceiro que recebe o cheque como forma de pagamento e que irá descontá-lo). (RAMOS, 2016) Como promessa de pagamento Por outro lado, nos títulos que se estruturam como promessa de pagamento – nota promissória – existem apenas duas situações jurídicas distintas: de um lado tem-se a figura do sacador ou promitente, que promete pagar determinada quantia; de outro, tem-se a situação do tomador, beneficiário da promessa que receberá o valor prometido. (RAMOS, 2016) 51 Classificação quanto à hipóteses de emissão Quanto às hipóteses de emissão Por fim, os títulos de crédito, segundo esse derradeiro critério classificatório, podem ser: ● títulos causais ou ● títulos abstratos. (RAMOS, 2016) Título Causal Título causal é aquele que somente pode ser emitido nas restritas hipóteses em que a lei autoriza a sua emissão. É o caso, por exemplo, da duplicata, que só pode ser emitida, para documentar a realização de uma compra e venda mercantil (duplicata mercantil) ou um contrato de prestação de serviços (duplicata de serviços). (RAMOS, 2016) Título Abstrato Título abstrato, por sua vez, é aquele cuja emissão não está condicionada a nenhuma causa preestabelecida em lei. Em síntese: podem ser emitidos em qualquer hipótese. É o caso, por exemplo, do cheque, que pode ser emitido para documentar qualquer relação negocial. (RAMOS, 2016)
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