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Natalia Quintino Dias Pancreatite aguda O pâncreas é um órgão anexo ao tubo digestivo, compondo o aparelho digestivo. Ele é um órgão de funções endócrinas e exócrinas. A função endócrina é desempenhada por aglomerados de células, dispersas no tecido acinar pancreático, denominados Ilhotas de Langerhans, onde são produzidas insulina e glucagon, desempenhando papel determinante no controle glicêmico. Do ponto de vista exócrino, ele é o principal secretor de enzimas digestivas (amilase, protease, lipase e nucleases). A sinalização para a secreção de enzimas digestivas e sua ativação são complexas. Envolve estímulo pelo tubo digestivo para sua excreção, pela passagem do bolo alimentar, seguida de um segundo estímulo para sua ativação. Dessa forma, o efeito digestivo ocorre somente dentro do tubo digestivo (no duodeno), na presença do bolo alimentar, evitando uma “autodigestão pancreática”. Na pancreatite aguda há justamente uma quebra nesse complexo funcionamento, com autodigestão pancreática. O canal de Winsurg é um ducto excretório, o qual acompanha toda a extensão do pâncreas. Conecta- se ao duodeno através da ampola de Vater, onde se junta ao ducto biliar. O esfíncter de Oddi, juntamente com a ampola de Vater, regula a secreção pancreática no trato gastrointestinal. O suprimento sanguíneo arterial pancreático é proveniente principalmente das artérias esplênicas (cauda e corpo) e pancreático duodenais superior e inferior (cabeça). A drenagem venosa do pâncreas se dá na veia porta hepática. Assim, o fígado se torna exposto a altas concentrações dos hormônios pancreáticos, sendo o principal órgão- alvo dos seus efeitos fisiológicos. Natalia Quintino Dias Definição A pancreatite aguda é uma doença inflamatória do pâncreas, de potencial gravidade e manifestação clínica ampla. Manifesta-se como um abdome agudo (ainda que não cirúrgico). Tem como causa diversos agentes de potencial injúria pancreática, que levarão à ativação do tripsinogênio em tripsina e à autólise (“auto digestão”) pancreática. Como consequência, haverá repercussão inflamatória local e sistêmica em graus variados, determinando as manifestações clínicas do paciente. Fisiopatologia A fisiopatologia não é completamente entendida. Teorias explicam que a impactação de cálculo no ducto biliopancreático em paciente que foi a óbito por pancreatite aguda grave, ou seja, a obstrução do ducto levaria o refluxo biliar para dentro do ducto pancreático, ocasionando lesão das células acinosas por meio da ativação das enzimas pancreáticas e da liberação de fatores inflamatórios que geram a resposta inflamatória e a lesão pancreática. Essa obstrução poderia ser ocasionada não só por obstrução direta do cálculo, mas também pela passagem deste, causando edema na papila que levaria à obstrução da saída de bile. O álcool pode ocasionar pancreatite por 3 motivos: disfunção do esfíncter de Oddi, formação de “rolhas proteicas” e efeito tóxico direto do álcool. Portanto, o álcool induziria alterações neurológicas de abertura do esfíncter de Oddi, aumentando a pressão intrapancreática. Poderia, também, colaborar para a formação de “rolhas proteicas” responsáveis pela obstrução de microductos pancreáticos e, finalmente, levaria ao aumento da lesão por estresse oxidativo – lesão direta dos ácinos que acarretam ativação das enzimas pancreáticas e lesão. O trauma abdominal fechado com lesão do pâncreas é a principal causa de pancreatite aguda em crianças. A lesão causa liberação de suco pancreático, rico em enzimas digestivas, causando inflamação peritoneal local ou retroperitoneal. Quadro clínico O paciente apresenta dor abdominal importante, progressivamente intensa + náusea e vômitos + grande queda do estado geral. A dor abdominal é epigástrica, em faixa no andar superior do abdome, irradiando-se para o dorso. O paciente desenvolverá uma importante resposta inflamatória. Esta, a depender da sua intensidade e da Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS), será capaz de produzir repercussões clínicas de menor ou maior gravidade. A depender da gravidade da doença, haverá sinais de piora clínica decorrente da disfunção orgânica alcançada, como dispneia, instabilidade hemodinâmica, desidratação e oligúria, e rebaixamento do nível de consciência. Ao cursar com complicações locais de necrose/ hemorragia, a pancreatite pode levar a sinais de exame físico de sangramento peritoneal: Sinal de Cullen (equimose periumbilical) e de Grey Turner (equimose de flancos). Em casos graves e de exceção, pode haver sintomas de irritação peritoneal. Diagnóstico O diagnóstico da pancreatite se dá pela presença de 2 dos 3: ● dor abdominal; ● elevação de enzimas (amilase e lipase); ● tomografia de abdome com alterações de pancreatite. Enzimas São a amilase e a lipase. Elevam-se dentro de 6 horas do início da dor. Considera-se positiva uma elevação acima de 3 vezes o limite superior da normalidade (dica: acima de 300). → A lipase é a mais representativa ( sensibilidade e especificidade) e, por se manter elevada por até 7 dias. A amilase normaliza ao final do 3º dia. Não há nenhuma relação entre o grau de elevação das enzimas pancreáticas com a gravidade da doença. Tomografia Habitualmente, não é necessária a realização de tomografia, apenas em caso de dúvida diagnóstica. Achados: edema do pâncreas e borramento da gordura adjacente, com líquido livre associado. Natalia Quintino Dias Além disso, poderá mostrar achados de gravidade, como necrose do parênquima e coleções peripancreáticas. Etiologia Após diagnosticar a pancreatite → deve-se buscar a causa. As principais são: biliar; alcoólica; idiopática. Outras causas também possíveis: medicamentos*; autoimune; hipercalcemia; hipertrigliceridemia; trauma. *diuréticos (furosemida e tiazídicos), antibióticos (metronidazol, tetraciclina, sulfatrimetoprim), imunossupressores (azatioprina, aminossalicilatos), anticonvulsivantes (ácido valproico, carbamazepina) e estrógenos. Ou seja, muitos medicamentos podem causar, por isso, em caso de pancreatite aguda sem causa identificada, uma droga recém-introduzida na terapia do doente pode ser a causa. A litíase biliar é a causa mais frequente e mais importante, seguida do álcool. Investigar a causa 1º passo: procurar causa biliar No laboratório inicial já haverá pistas, com alterações em TGO, TGP, FA, GGT e bilirrubinas. O achado de colestase, ou uma elevação de 3 vezes da TGO, já aponta para a causa biliar. O diagnóstico será confirmado pela ultrassonografia abdominal, ao identificar cálculos na vesícula biliar (não é necessário observar cálculos no colédoco ou dilatação das vias biliares). O exame mais sensível, porém, para investigar a causa biliar é a ecoendoscopia (ultrassonografia por via endoscópica). Nesse caso, é interessante a realização de colangiorressonância para a pesquisa de coledocolitíase associada. 2º passo: caso não encontrar litíase biliar, investigar demais causas ● Álcool: procurar história de ingesta alcoólica “aguda”. A ausência de litíase biliar e a presença de evento recente de alta ingesta alcoólica firmam o diagnóstico. ● Idiopática: o diagnóstico ocorre após afastadas as demais causas. Hoje, com o advento da ecoendoscopia, estamos observa-se que muitas das pancreatites “idiopáticas” são, na realidade, causadas por microlitíase biliar. Antes de julgar como idiopática, se a ecoendoscopia estiver disponível, deve ser realizada. ● Medicamentos: deve-se buscar um medicamento novo, recém-introduzido, com cronologia compatível entre o início da medicação e o desenvolvimento da pancreatite. ● Autoimune: diagnóstico aqui difícil. É firmado por achados específicos de imagem,dosagem de anticorpos também específicos e pesquisa de IGG4. ● Hipercalcemia: dosar cálcio sérico e, estando elevado, deve ser o culpado. ● Hipertrigliceridemia: triglicérides aumentados no contexto de dislipidemia ou nutrição parenteral total, sobretudo quando acima de 500-1000, implicam sério risco de pancreatite aguda. Sua detecção, na ausência de outra causa mais provável, firma essa etiologia da pancreatite. Classificação A Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) refere-se a um estado inflamatório deletério descompensado, motivado por uma doença base, levando à vasodilatação, ao aumento da permeabilidade capilar e a disfunções orgânicas diretas. Dessa forma, o paciente em SIRS tende a ficar hipotenso (vasoplegia), hipovolêmico relativo (perda de volume para o terceiro espaço) e a apresentar disfunções orgânicas sequenciais: respiratória, renal, neurológica, dentre outras. Uma pancreatite pode ser classificada em leve, moderada ou grave. -- Leve: cursa com sintomas típicos sem disfunção orgânica ou complicações locais. Natalia Quintino Dias -- Moderadamente grave: cursa com apenas uma disfunção orgânica, com duração < 48h, e/ou com complicações locais (necrose, pseudocisto, coleções peripancreáticas, etc). -- Grave: disfunção orgânica que persiste por mais de 48h, ou múltiplas disfunções orgânicas. Critérios que avaliam a disfunção orgânica: hipotensão (PAS < 90), elevação de creatinina (>1,9), oligúria, dessaturação e insuficiência respiratória, necessidade de drogas vasoativas e intubação, rebaixamento do nível de consciência etc. Aparelhos/sistemas mais importantes a serem avaliados: *respiratório, renal e cardiovascular* Escores como de Ranson, Balthazar, Apache e Marshall foram criados para avaliar a presença de disfunção orgânica, porém, estão em desuso e são controversos. Sinais de que a pancreatite é leve Paciente em bom estado geral, com FC normal, sat de o2 normal, com dor abdominal leve/moderada e sem sinais de peritonite, diurese preservada e, ao laboratório, creatinina e hematócrito normais. Exames radiológicos normais. Sinais de que a pancreatite é moderada ou grave A presença de uma ou mais das alterações a seguir deve gerar alerta para disfunção orgânica e potencial pancreatite moderada/grave. Aspectos clínicos de regular/mau estado geral, taquicardia, dessaturação, dor abdominal intensa e/ou sinal de peritonite e oligúria, apontam para disfunções orgânicas. Também apontam para um curso desfavorável de piora e de intensificação progressiva da dor. Ao laboratório, pode-se observar leucocitose importante, hematócrito >44% ou crescendo, creatinina >1,8 e PCR >150. Em exames de imagem, pode-se encontrar: derrame pleural, infiltrado pulmonar, apontando para disfunção pneumológica, ou ainda, complicações locais, como: necrose de parênquima e/ou coleções peripancreáticas. Pacientes sujeitos a pior prognóstico: -- Idade > 55 anos; -- IMC > 30; -- Comorbidades graves; -- NC comprometido (não refere dor). Complicações A presença de uma complicação local da pancreatite ajuda na manutenção da inflamação e pode levar à piora e ao agravamento da doença. As complicações que podem acontecer são: ● Coleções peripancreáticas: extravasamento de suco pancreático precocemente, num pâncreas lesado, ocasionando coleção local. Pode ter autorresolução e ser reabsorvida, ou se organizar num pseudocisto. ● Necrose do pâncreas: injúria do pâncreas associada à deterioração clínica com má perfusão esplâncnica favorece necrose pancreática. ● Infecção da necrose do pâncreas: após translocação bacteriana, infecção do material necrótico. Após a pancreatite aguda, complicações císticas sequelares podem acontecer: -- Pseudocisto: consequência tardia de uma coleção, que se organiza numa estrutura cística, com paredes formadas pelo processo cicatricial da inflamação. -- Necrose de paredes espessadas: é a formação de uma estrutura cística contendo uma incompleta reabsorção da necrose. Manejo Abordagem inicial 1ª medida: estabilizar o paciente. - Jejum para repouso pancreático; - Hidratação venosa vigorosa (o + importante; na pancreatite, ocorre desidratação e perda de volume ao 3o espaço, intensas). A hidratação é o que evita que um pâncreas evolua para necrose ou, caso haja necrose, é o que preserva a “zona de penumbra”, evitando aumento do volume necrótico. A hidratação venosa deve ser guiada pelo débito urinário (alvo: > 0,5-1,0 mL/kg/h). - Controle sintomático: analgesia + antiemético. - O2 se necessário. - Medidas de suporte avançado de vida (intubação, ventilação mecânica, drogas vasoativas, monitorização do débito urinário, hemodiálise) se necessário. Definir a internação -- Casos leves: enfermaria; -- Casos moderadamente graves ou graves: ambiente intensivo. Natalia Quintino Dias Primeira semana Não existe tratamento específico. O tratamento inicial é sustentado enquanto se aguarda a autorresolução da doença. Com a melhora do paciente, as medidas implementadas vão sendo gradualmente retiradas. Espera-se que a grande maioria das pancreatites apresente sinais de melhora em 3 dias e se resolva em 7. A dieta para adequado suporte nutricional deve ser introduzida o mais precocemente possível, assim que o paciente apresentar controle adequado da dor com medicações simples. A via de escolha é a oral. Dieta enteral reserva-se a casos em que a via alimentar alta não é possível (rebaixamento, por exemplo). O objetivo da dieta é promover balanço proteico calórico positivo, numa situação de consumo, e evitar translocação bacteriana intestinal. Nutrição em pancreatite é a forma mais efetiva em se evitar infecções, ao se evitar translocação. Suspeita de complicação Se não houver melhora após 3 dias com tratamento adequado -> suspeitar de coleção peripancreáticas, mantendo o estado inflamatório → indicada tomografia. Observada a coleção, o tratamento deve ser conservador inicialmente, com vigilância ativa para infecção dessa coleção. Se piora do paciente após o 7º dia de tratamento, suspeitar de necrose do pâncreas como causa da SIRS reativada → indicada tomografia. Conduta conservadora inicialmente, atentar-se para infecção do material necrótico. Achados da TC: presença de gás/bolhas em meio ao material necrótico. Se necessário e disponível, realizar cultura do material colhido numa punção por agulha fina (e iniciar ATB até resultado). A infecção na pancreatite aguda complicada é um evento tardio. O tratamento da necrose pancreática infectada é feito pelo conceito de Step Up Approach (ou seja, abordagem escalonada, em degraus, começando pelo mais simples). 1. Tratamento conservador com ATB (meropenem – carbapenêmicos). 2. Drenagem percutânea ou drenagem endoscópica transgástrica: indicada na falha da terapia conservadora inicial, após 48 horas. 3. Debridamento cirúrgico minimamente invasivo: indicada na falha da drenagem percutânea ou endoscópica. 4. Necrosectomia pancreática cirúrgica aberta: cirurgia de alta morbimortalidade. É o último degrau dos steps, e está indicada na ausência de resposta às terapias anteriores. Não fazer uso precoce de ATB: O uso profilático de antibiótico, aumenta o risco de sepse fúngica, sem trazer benefício real de prevenção infecciosa. Para se prevenir infecção, a estratégia é hidratação adequada do paciente (evitando a necrose) e introdução precoce de dieta (para evitar translocação). Indicações de tomografia (1) na admissão do paciente quando há dúvida diagnóstica; (2) na ausência de melhora clínica após 72 horas de tratamento, para pesquisar coleções; (3) na piora clínica, após o 7º dia de tratamento, para pesquisar necrose; e (4) na piora clínica tardia, apóso 10º-14º dia, para pesquisar infecção da necrose. Procedimentos e intervenções cirúrgicas Se houver colangite CPRE: A Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica será indicada quando houver colangite associada à pancreatite aguda biliar, manifestada por agravamento do paciente, com icterícia ascendente clinicamente associada à piora colestática laboratorial (FA, GGT, TGO, TGP e bilirrubina direta). Se houver complicação infecciosa local Infecção de coleções, pseudocistos e da necrose pancreática Punção por agulha fina: É útil para a pesquisa de infecção numa coleção ou material necrótico, quando houver dúvida diagnóstica da infecção. A cultura do material aspirado é o método padrão- ouro para o diagnóstico. Natalia Quintino Dias Drenagem percutânea: A alternativa minimamente invasiva à intervenção cirúrgica é pertinente como primeira abordagem numa infecção de coleção ou necrose pancreática. Embora menos eficaz que a cirurgia, tem baixo risco associado, o que torna o procedimento interessante. Está indicada nas complicações infecciosas locais que não responderam ao tratamento conservador. Drenagem endoscópica: É realizada por via transgástrica. A escolha entre essa técnica e a anterior depende da disponibilidade de infraestrutura local, assim como da localização anatômica da lesão (que determina uma via de acesso mais favorável). Drenagem cirúrgica minimamente invasiva: Pode ser feita por videolaparoscopia ou VARD (videoassisted retroperitoneal debridement). É uma via de drenagem mais efetiva que as anteriores e mais invasiva. Necrosectomia cirúrgica: Procedimento indicado nas necroses infectadas que não respondem ao meropenem e tampouco à drenagem radiointervencionista. As intervenções cirúrgicas nas pancreatites agudas devem ser evitadas ao máximo devido à alta taxa de complicações. Quando indicadas, devem ser realizadas o mais tardiamente possível (aguardar no mínimo 6 semanas). As complicações cirúrgicas e a sua morbimortalidade são tão mais frequentes quanto mais precoce a abordagem, notadamente as fístulas pancreáticas. Complicações tardias Pseudocisto pancreático É frequente, e fruto do extravasamento líquido do suco pancreático, ficando encistado num bloqueio inflamatório adjacente (carapaça inflamatória). A princípio, é uma complicação benigna de baixo potencial de complicação subsequente e tem comportamento oligossintomático. A conduta é expectante na maioria dos casos, pois tendem a ter autorresolução. Pacientes com tendência a necessitar de intervenções: - Pacientes jovens; - Pseudocistos grandes > 6 cm; - Pseudocistos que comunicam com o ducto pancreático principal (Wirsung); - Sintomáticos. Pode se manifestar clínica de infecção; reativação da pancreatite; efeito de massa (digestivo); sangramento digestivo alto (hemossulcus pancreaticus: uma forma peculiar de hemorragia digestiva alta, na qual o pseudocisto erode a parede da artéria esplênica e o sangue atinge os ductos pancreáticos, e, por conseguinte, o duodeno). O pseudocisto infectado, agudamente, pode ser tratado de forma conservadora com antibióticos ou pode ter seu tratamento por drenagem percutânea/ endoscópica (a depender de sua localização e dos recursos locais). Aqueles que se infectam de forma repetida são candidatos a um tratamento definitivo. O sangramento digestivo deve ser tratado de forma endovascular, por radiologia intervencionista, e após resolver o quadro agudo, pensar em tratamento definitivo. Indica-se também, tratamento definitivo nos casos de reativações recorrentes da pancreatite e sintomas digestivos compressivos. O tratamento definitivo pode ser por meio de: -- Derivação cistogástrica endoscópica: o mais praticado. Tem boa resolutividade e baixa morbidez. A principal complicação é a infecção do pseudocisto, se a drenagem não for eficaz. -- Derivação cistojejunal em Y de Roux: o mais eficaz. Tem altíssima resolutividade e baixa taxa de infecção. Por ser cirúrgica, porém, tem-se o trauma cirúrgico a considerar. -- Outras derivações cirúrgicas: Existem derivações cistoduodenal e cistogástrica cirúrgicas. São consideradas em contextos individuais. Por não serem em Y de Roux, podem infectar-se por estar em contato com o trânsito: o evento é minimizado ao se fazerem derivações amplas, garantindo boa drenagem. Necrose de paredes espessadas É uma complicação peculiar, pois quando ocorre a necrose, ela tende a se liquefazer e se circunscrever numa cápsula inflamatória -> a necrose de paredes espessadas. A maioria dos casos é pouco sintomática, e quando sintomática, manifesta-se por: infecções locais recorrentes e sintomas inflamatórios persistentes Natalia Quintino Dias de baixo grau (astenia, inapetência, náuseas, vômitos, perda ponderal, queda de cabelo). As infecções são tratadas de forma conservadora, na maioria dos casos agudos, mas podem necessitar de drenagem percutânea, e indicam, eletivamente, o tratamento definitivo. Quando indicado o tratamento definitivo, se dá por: -- Derivação gástrica endoscópica: também frequentemente realizada. Porém, a eficácia cai muito, dado que a necrose liquefeita é espessa e de difícil drenagem. Não raro o tratamento cirúrgico é necessário. -- Derivação gástrica cirúrgica: o factível e eficaz. -- Outras derivações cirúrgicas: derivações para o duodeno e jejuno, aqui, são de exceção. -- Necrosectomia cirúrgica minimamente invasiva ou aberta: de exceção, também como “último step”. Colecistectomia na pancreatite aguda biliar Em pancreatite leve: realizar na mesma internação, após melhora do paciente (quando já se alimenta e não tem mais dor importante). Pancreatite moderada/grave: em 6-12 semanas (eletiva). Métodos de intervenção/cirurgia ● Punção pancreática: punção guiada por ultrassonografia ou por tomografia do material de uma necrose ou pseudocistos pancreáticos. É feita por agulha fina e não coloca dreno. Utilizada para pesquisa de infecção local. ● Drenagem percutânea: colocação de um dreno percutâneo, por via radiointervencionista, guiada por ultrassonografia ou tomografia. Utilizada para drenagem externa de um pseudocisto ou de necrose infectados. ● Cistogastroanastomose endoscópica: criação, por via endoscópica, de um pertuito entre o pseudocisto e o estômago, através da perfuração gástrica e da passagem de uma prótese. É o método menos mórbido de derivação do pseudocisto, mas o seu controle infeccioso é inferior aos demais métodos. ● Cistogastroanastomose cirúrgica: criação, por via cirúrgica, de uma anastomose entre o pseudocisto e o estômago. ● Cistojejunoanastomose cirúrgica: criação, por via cirúrgica, de uma anastomose entre o pseudocisto e uma alça jejunal, em Y de Roux. É o método mais eficaz em drenagem e controle infeccioso, mas tem morbidade cirúrgica. ● Colecistectomia: a colecistectomia na pancreatite aguda é uma colecistectomia habitual, realizada por videolaparoscopia.
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