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1 CURSO: SOC UC: HC Ficheiro de Apoio ao Estudo Tema: A Crise das Democracias Liberais Em jeito de introdução: A crise das democracias liberais* https://www.youtube.com/watch?v=bAkQRLlfQbo Filme A Crise de 1929 – A Grande Depressão* https://www.youtube.com/watch?v=msxfuH56wXE *Observação: em nome do rigor, os vídeos que abundam na net devem ser analisados com espírito crítico, conferindo/comparando o seu conteúdo com a informação transmitida pela literatura científica de referência. “A crise do liberalismo, que é a característica fundamental do entreguerras, está relacionada ao desenvolvimento de uma economia fortemente monopolizada, enquanto as estruturas políticas e a organização social do trabalho permaneciam ainda as do capitalismo liberal. A guerra também gerou a crise da democracia liberal. Já durante o conflito processou-se certa centralização das decisões políticas no aparelho estatal. Além disso, a desilusão, o ceticismo e a incerteza em relação ao futuro, que marcaram o pós-guerra (fim da belle époque anterior a 1914), a crise socioeconômica e o temor das elites, a pressão dos grupos financeiros e industriais pelos seus interesses e a crescente organização operária conduziram ao descrédito das instituições liberais e à ascensão do autoritarismo e do fascismo, que pregavam a violência, o nacionalismo expansionista e a ditadura e que passaram a utilizar amplamente os novos métodos de propaganda e comunicação de massa”. VISENTINI, Paulo Fagundes e PEREIRA, Analúcia Danilevicz — Manual do Candidato. História Mundial Contemporânea (1776-1991). Da Independência dos Estados Unidos ao Colapso da União Soviética, 3.ª edição revista e atualizada, Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão, 2012, pp.147-148. https://www.youtube.com/watch?v=bAkQRLlfQbo https://www.youtube.com/watch?v=msxfuH56wXE 2 “Democracias frágeis Os governos dos países da Europa Central e Oriental adoptaram as suas Constituições entre 1919 e 1923. Qualquer que tenha sido a forma de regime, republicano (Áustria, Checoslováquia, Polónia, Finlândia, Países Bálticos) ou monárquico (Roménia, Jugoslávia, Bulgária), estas Constituições ofereciam grandes semelhanças porque todos esses Estados se queriam democráticos ou parlamentares. Os poderes foram repartidos por uma ou duas Assembleias eleitas por sufrágio universal directo, e um chefe de Estado em geral poderoso (excepto no caso dos Países Bálticos); formaram-se partidos políticos de acordo com o modelo ocidental. Assim constituídas, estas democracias permaneceram bem frágeis. A Europa Central e Oriental não tinha tradições democráticas. Os novos regimes deviam resolver o problema étnico: na Roménia, mas sobretudo na Jugoslávia, onde os sérvios e os croatas se defrontavam, os croatas chegaram ao ponto de fundar um parlamento separatista em Zagreb, em Agosto de 1928. Os governos foram, por outro lado, confrontados com graves dificuldades económicas e sociais (desorganização das trocas e queda da produção, inflação, desemprego, desigualdades, etc.), e também financeiras (desequilíbrios orçamentais). A democracia nem sequer teve tempo para se instalar na Hungria: em Março de 1919, o comunista Bela Kun conseguiu impor-se; pouco depois desapareceu e o almirante Horthy instaurou um regime monárquico com tendência ditatorial”. CAROL, Anne e outros — “Europa Central e Oriental (1920-1939)”, in Resumo de História do Século XX, Lisboa, Plátano Edições Técnicas, 1999, p. 155. “O contágio autoritário não se limita à Europa oriental. Convém juntar a esta lista de países, que tinham em comum o facto de serem os vencidos de ontem ou novos Estados, o caso dos países mediterrânicos. A Itália, desde a marcha sobre Roma, com a ditadura fascista. Em Espanha, com o acordo do soberano, o rei Afonso XIII, o marechal Primo de Rivera torna-se, em 1923, um primeiro- ministro autoritário, e esta ditadura militar e real prolonga-se até 1930-1931. A seguir às eleições municipais de Abril de 1931, que dão a maioria aos candidatos republicanos, o rei abdica e a república substitui a monarquia. Pode juntar-se a Espanha à família dos países onde a democracia se adapta mal. Os anos de 1931-1936 foram anos de agitação que preludiam a guerra civil de 1936-1939, que dilacerará a Espanha, preocupará o resto da Europa e preparará a instauração da ditadura franquista. Em Portugal, em 1926, após uma quinzena de anos, o regime republicano, dilacerado, combatido pelas várias facções, é derrubado pelo exército, que instala no poder o general Carmona, à sombra de quem Salazar governará: ditadura 3 técnica, discreta. O Estado Novo durará aproximadamente meio século, até ao seu derrube pelos militares, em Abril de 1974. Assim, por toda a Europa, entre 1920 e 1930, a democracia clássica, caracterizada pela ligação aos princípios liberais, cede o lugar a regimes autoritários: a liberdade recua diante da autoridade. Pode falar-se de uma epidemia de ditaduras. Para se ter uma visão completa do fenómeno seria necessário juntar-se-lhes a União Soviética e a ditadura estalinista e, fora da Europa, os regimes autoritários aparentados na América Latina, no Brasil com Vargas, ou no Japão com a casta militar. Assim, em numerosos países, a democracia não consegue lançar raízes duradouras. Aparece como um regime precário, inadaptado às condições, possibilidades e necessidades destes jovens Estados […]. Ao mesmo tempo – ou um pouco mais tarde –, as instituições da democracia liberal conhecem também dificuldades nos países que eram o seu berço e o seu feudo privilegiado. Os países situados no Norte e no Oeste da Europa: monarquias escandinavas, Holanda, Bélgica, Inglaterra, França, estes países escaparão ao contágio das ditaduras, mas não estão completamente imunizados contra os germes. A tentação invade-os […]”. Se mesmo nestes países, onde a democracia pode reclamar-se de uma longa prática, ela está exposta às críticas e aos ataques, é porque parece funcionar mal. Nos jovens Estados, a democracia parecia prematura; nos velhos afigura-se ultrapassada. No século XIX, a opinião democrática via nela a fórmula do futuro; agora era considerada inadequada, desajustada” RÉMOND, René — Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias, 4.ª ed., Lisboa, Gradiva, 2011, pp. 322-323. “Quais os principais reflexos da crise de 1929? Foram múltiplos e de índole diversa. Analisemos, pois, alguns dos mais notórios: Políticos. Com o abalar das estruturas do capitalismo liberal, sucede-se, em muitos países, uma intervenção estatal mais forte. Assim aconteceu, quer nos Estados Unidos, com o presidente Franklin D. Roosevelt (democrata) e o seu «New Deal», quer em diversos países europeus, com medidas do seguinte tipo: - programas de assistência; - criação de postos de trabalho; - ajuda à agricultura. Na Alemanha, Hitler (1889-1945), como líder do Partido Nacional-Socialista [Partido Nazi], sobe ao poder em 1933, com as consequências sobejamente conhecidas, a mais dramática das quais foi, como se sabe, a própria II Guerra Mundial. Também Mussolini (1883-1945), em Itália, viu a sua posição consolidada, na sequência dos efeitos da crise. Deste modo, como salienta 4 Jacques Néré, «o grande beneficiário político da crise foi em primeiro lugar o fascismo». Mesmo na Península Ibérica, os efeitos da crise de 1929 ter-se-ão feito sentir na instauração/consolidação dos regimes autoritários que então aí se instalavam e que vieram a estar em vigor até aos anos de 1970. Económicos. Quer do ponto de vista prático – da governação, quer do ponto de vista da teoria – teoria económica e economia política –, a crise levou os especialistas a reflectirem e a interrogarem-se sobre pontos de vista até aí aceites praticamente sem discussão. A eficáciadas leis do mercado – no seu estado puro, de liberdade total – entrou em descrédito […]. Sociais. O sindicalismo operário sofreu reveses, face às taxas de desemprego e a uma certa estagnação da economia […]”. MENDES, J. M. Amado — História Económica e Social dos Séculos XV a XX, 2.ª ed., Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, pp. 130-131. “O que quebrou a frágil paz foi o crash do mercado de acções nos Estados Unidos em Outubro de 1929. Os empréstimos americanos, que tinham restaurado a prosperidade europeia, e em particular a alemã, foram suspendidos ou exigido o seu pagamento, fazendo com que a liquidez secasse e provocando a queda de produção e dos preços e a falência de muitas empresas. O desemprego subiu em flecha, causando inquietação social. Os países tentaram proteger as suas indústrias através da criação de taxas sobre as importações estrangeiras, mas isto apenas incitou à retaliação. A Alemanha foi particularmente atingida. Entre 1929-32 as exportações e importações caíram 60% e o desemprego subiu de dois para seis milhões. O resultado foi uma desilusão generalizado com o sistema parlamentar liberal- democrático que se provava incapaz de lidar com a crise, e cada vez mais as pessoas viravam-se para os extremos da direita e da esquerda”. ALCOCK, Antony — História Concisa da Europa, Mem Martins, Publicações Europa- América, 2005, p. 260. “A crise das democracias encontra a sua razão de ser na conjunção dos ataques que lhe são dirigidos do exterior pelo fascismo e pelo comunismo e das imperfeições de ordem interna. É precisamente esta conjunção que provoca a sua gravidade”. RÉMOND, René — Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias, 4.ª ed., Lisboa, Gradiva, 2011, p. 319. 5 Leituras sugeridas: Acerca do tema “a crise das democracias liberais”, e de modo a potenciar o aproveitamento dos recursos bibliográficos já usufruídos pela larga maioria da turma, recomenda-se a consulta das obras que se seguem: a) RÉMOND, René — Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias, 4.ª ed., Lisboa, Gradiva, 2011. Ver “Quarta Parte O Século XX – de 1914 aos Nossos Dias”, capítulo “4. A crise das democracias liberais”, pp. 318-330*. O capítulo 4 é composto pelos seguintes pontos e subpontos: A crise das democracias liberais 4.1. Uma antecipação mal adaptada para os jovens Estados 4.2. Uma sobrevivência anacrónica nas velhas democracias? A crise das instituições representativas As novas forças políticas 4.3. A crise de 1929 e a grande depressão Em que consiste o acontecimento de 1929? Os efeitos * Nota: as páginas indicadas podem variar nas edições em formato digital. b) VISENTINI, Paulo Fagundes e PEREIRA, Analúcia Danilevicz — Manual do Candidato. História Mundial Contemporânea (1776-1991). Da Independência dos Estados Unidos ao Colapso da União Soviética, 3.ª edição revista e atualizada, Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão, 2012 (disponível no moodle). Ver “Do precário equilíbrio dos anos 1920 à crise de 1929. A crise do liberalismo no núcleo do sistema mundial”, pp. 144-149; Da crise de 1929 à Grande Depressão, pp. 152-153; “A Grande Depressão e a ascensão do fascismo. Crise socioeconômica e radicalização política”, pp. 154-155. 6 c) Para os alunos que só tiveram aulas de História até ao 9.º ano, aconselho, antes de começarem a ler a bibliografia atrás exposta, a consulta de textos mais simples, como os artigos da Infopédia. Dicionários Porto Editora ou do Mundo Educação, mas, como é óbvio, apenas como leitura de iniciação. Aqui ficam dois exemplos: Respostas à Crise na Europa: Fascismos e Tentativas de "Frente Popular" (1922- 1939) https://www.infopedia.pt/$respostas-a-crise-na-europa-fascismos-e Crise de 1929 (inclui, na parte final, “videoaula”) https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/crise-1929.htm Objetivos: Com vista a orientar o estudo em torno da crise das democracias liberais, eis uma pequena lista de objetivos que o discente deve, necessariamente, alcançar: Identificar as fragilidades da Europa do pós Primeira Guerra Mundial. Tomar consciência do processo de regressão das democracias liberais nos anos 20 e 30. Compreender que em muitos (novos) Estados não estavam reunidas as condições elementares indispensáveis à implantação duradoura da democracia (parece prematura). Explicar, por sua vez, que nas velhas democracias a questão radicava especialmente no peso da idade da democracia, já que emergia aos olhos de alguns como uma experiência ultrapassada, isto é, caída em desuso e até anarquista. Expor as características e o significado da crise de 1929 (ver “Grande Depressão”). Reconhecer, como realça Jacques Néré, que “o grande beneficiário político da crise foi em primeiro lugar o fascismo”. Descrever as medidas de resposta à crise de 1929. Votos de bom estudo! https://www.infopedia.pt/$respostas-a-crise-na-europa-fascismos-e https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/crise-1929.htm