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Orçamento Empresarial Elaboração dos Relatórios e Análise das Demonstrações Contábeis Desenvolvimento do material Henrique Martins Rocha 1ª Edição Copyright © 2022, Afya. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Afya. Sumário Elaboração dos Relatórios e Análise das Demonstrações Contábeis Para início de conversa… ................................................................................ 3 Objetivo ......................................................................................................... 3 1. Elaboração dos Relatórios e Análise das Demonstrações Contábeis ......................................................................................................... 4 Referências ........................................................................................................ 10 Para início de conversa… Como você viu em nossos estudos, o processo orçamentário trabalha com um grande volume de informações: são variáveis diversas que envolvem aspectos internos da organização, como infraestrutura, capacidade produtiva, política de estoques, etc., bem como aspectos externos, como demanda, custo dos insumos, taxa de juros, etc. Ainda que a organização tenha capacidade de interferir nos fatores internos, ela pouco pode fazer quanto aos externos, mas, ainda assim, ela deve se planejar para o futuro e, dessa forma, precisa fazer previsões e estabelecer planos de ação para garantir sua continuidade e um posicionamento seguro no mercado. Diante disso, o planejamento estratégico precisa ser robusto, de forma a guiar as ações futuras, devendo ser quantificado em valores monetários por meio do processo orçamentário. Elaborando previsões sobre as vendas, gastos, investimentos e financiamentos, bem como fluxo de caixa, é possível estabelecer as bases de gestão e o controle da organização, suportando, assim, os processos de tomada de decisão dos gestores. Mais que isso, é possível aprofundar as previsões, elaborando as projeções das demonstrações contábeis, analisando-as mediante o uso de indicadores de liquidez, endividamento, lucratividade, rentabilidade e de valor de mercado, tornando o processo gerencial mais efetivo. Objetivo Elaborar os relatórios e analisar as demonstrações contábeis. Orçamento Empresarial 3 1. Elaboração dos Relatórios e Análise das Demonstrações Contábeis O processo orçamentário permite que, a partir da elaboração das diversas peças orçamentárias, seja construído um potente instrumento de gestão que compile previsões diversas e sirva de guia às ações da empresa: o orçamento em si. Dessa forma, o orçamento, que contém informações, ações e metas estabelecidas a partir do plano estratégico da empresa, serve não somente como base de planejamento empresarial, mas, também, como instrumento de monitoramento e controle, bem como de simulações que suportam os processos de tomada de decisão por parte das diversas partes envolvidas, especialmente os gestores. Além disso, expandindo o rol de aplicações do orçamento, temos a elaboração das projeções das demonstrações contábeis. A partir delas, podemos utilizar tais demonstrações para uma aplicação ainda mais sofisticada: a projeção de indicadores (ou índices) de desempenho da organização. Normalmente, o uso de indicadores tem como finalidade permitir que os gestores extraiam tendências e comparem os indicadores com padrões preestabelecidos, extrapolando o passado para inferir o que pode acontecer no futuro. Mas, no nosso caso, não iremos trabalhar com o passado, e sim com as projeções das diversas peças orçamentárias para, a partir delas, poder identificar eventuais tendências e, principalmente, apurar se o futuro previsto por meio das projeções feitas é adequado aos anseios estratégicos da organização, sob a ótica de sua capacidade e qualidade em termos de liquidez, endividamento, lucratividade, rentabilidade, gestão de ativos e valor de mercado. Eleva-se, dessa forma, a capacidade de planejamento, análise, execução, monitoramento, controle, previsão e tomada de decisão pelos gestores, como mostrado na Figura 1, a seguir: Figura 1: Ciclo de gestão. Fonte: Elaborada pelo autor. Plano estratégico Peças orçamentárias Projeção das demonstrações contábeis Controle orçamentário Análise das decisões Análise das demonstraçõesOrçamento Execução Orçamento Empresarial 4 Vamos discutir, inicialmente, sobre a elaboração das projeções das demonstrações contábeis, em especial o Balanço Patrimonial (BP) e o Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE), os quais serão apresentados de forma simplificada no Quadro 1, a seguir: Ativo Passivo Ativo circulante (AC) Ativo Circulante Financeiro (ACF) Passivo circulante (PC) Passivo Circulante financeiro (PCF) Ativo Circulante Cíclico (ACC) Passivo circulante cíclico (PCC) Ativo Realizável a Longo Prazo (ARLP) Passivo exigível a longo prazo (PELP) Ativo Permanente (AP) Resultado de exercícios futuros(REF) Patrimônio Líquido (PL) Total dos Ativos Total dos passivos Quadro 1: Apresentação simplificada do Balanço Patrimonial. Fonte: Elaborado pelo autor. O Balanço Patrimonial consiste na relação, de forma ordenada, dos ativos, bens e direitos, passivos, obrigações, patrimônio líquido e da diferença entre os ativos e os passivos de uma empresa. No Balanço Patrimonial, encontramos: ▪ AC → O ativo circulante possui realização prevista ao longo do exercício seguinte, ou seja, no período de 12 meses, contemplando ativos cíclicos relacionados às operações da empresa, como estoques, duplicatas a receber, etc., e ativos financeiros, como aplicações financeiras e do caixa da empresa. ▪ ARLP → Apresenta realização após o término do exercício social seguinte, ou seja, em prazo superior a 12 meses. Exemplos: contas a receber a longo prazo, despesas antecipadas a longo prazo, empréstimos concedidos a receber a longo prazo, etc. ▪ AP → Bens corpóreos destinados à continuidade das atividades. Exemplos: terrenos, edifícios, máquinas e equipamentos, móveis e utensílios, instalações, obras em andamento destinados ao uso nas operações. ▪ PC → Vencimento no exercício social seguinte, isto é, no prazo de 12 meses, caracterizado como cíclico (diretamente relacionado às operações da empresa, como pagamento de funcionários, fornecedores, impostos, etc.) e financeiro (onerosos, isto é, sobre os quais pagam-se juros). ▪ PELP → Possui vencimento após o término do exercício social seguinte, ou seja, no prazo superior a 12 meses. Exemplos: fornecedores a longo prazo, empréstimos a longo prazo, etc. ▪ REF → Eventuais receitas já recebidas, que efetivamente serão reconhecidas em períodos futuros por estarem associadas a algum evento futuro. Orçamento Empresarial 5 ▪ PL → Recursos dos acionistas, ou seja, o Capital Social + reserva de lucros e/ou prejuízos acumulados. Receita bruta de vendas Deduções da receita bruta Receita líquida Custo dos produtos vendidos Lucro bruto Despesas de vendas Despesas administrativas e gerais Depreciação Lucro operacional Receitas e despesas financeiras Receitas e despesas não operacionais Lucro antes do IR IR Lucro líquido Quadro 2: DRE. Fonte: Elaborado pelo autor. ▪ A DRE é um resumo ordenado de receitas e despesas da empresa em determinado período, chegando-se ao lucro ou prejuízo. Na DRE, temos: ▪ Receita bruta (total recebido no exercício) e líquida (descontados impostos sobre vendas, devoluções, etc.). ▪ Custo dos produtos vendidos (ou custo de mercadorias vendidas, se atividade comercial, ou ainda custo dos serviços prestados, se somente serviços). ▪ Despesas operacionais e financeiras. ▪ Imposto de renda/CSLL. ▪ Lucro líquido. A projeção de tais relatórios pode ser feita a partir dos relatórios já gerados, isto é, os que refletem a situação do exercício já ocorrido,adicionando sobre eles as projeções das diversas peças orçamentárias. As Figuras 2 e 3, a seguir, mostram a relação das diversas peças com os lançamentos a serem projetados dos relatórios. Orçamento Empresarial 6 Figura 2: Principais fontes de informação para projeção do BP. Fonte: Elaborada pelo autor. Figura 3: Principais fontes de informação para projeção do DRE. Fonte: Elaborada pelo autor. É a partir de tais relatórios que podemos extrair os indicadores. Para facilitar a compreensão das aplicações, vamos discutir separadamente os tipos de indicadores existentes. Receita bruta de vendas Deduções da receita bruta Receita líquida Custo dos produtos vendidos Lucro bruto Despesas de vendas Despesas administrativas e gerais Depreciação Lucro operacional Receitas e despesas financeiras Receitas e despesas não operacionais Lucro antes do IR IR Lucro líquido Orçamento de vendas e receitas Orçamento de produção de consumo de matérias-primas, de custo da mão de obra e de custos indiretos Orçamento de despesas comerciais, administrativas e financeiras Orçamento de despesas comerciais, administrativas e financeiras Orçamento de investimentos e financiamentos Orçamento do fluxo de caixa Orçamento de custos fabris e de investimentos e financiamentos Ativo Passivo Ativo circulante (AC) Ativo Circulante Financeiro (ACF) Passivo circulante (PC) Passivo Circulante financeiro (PCF) Ativo Circulante Cíclico (ACC) Passivo circulante cíclico (PCC) Ativo Realizável a Longo Prazo (ARLP) Passivo exigível a longo prazo (PELP) Ativo Permanente (AP) Resultado de exercícios futuros(REF) Patrimônio Líquido (PL) Total dos Ativos Total dos passivos Orçamento de compra de matérias-primas e do fluxo de caixa Orçamento de compra de matérias-primas e do fluxo de caixa Orçamentos de produção e do fluxo de caixa Orçamento de compra de matérias-primas, de custo de mão de obra e do fluxo de caixa Orçamento de compra de matérias-primas, de custo de mão de obra e do fluxo de caixa Orçamento de investimentos e financiamentos e do fluxo de caixa Orçamento de investimentos e financiamentos e do fluxo de caixa Orçamento Empresarial 7 Indicadores de Liquidez: Também denominados indicadores de Solvência de Curto Prazo, medem a capacidade de pagamento das obrigações da empresa, isto é, quanto a empresa dispõe de bens e direitos, realizáveis em determinado período, em relação às obrigações exigíveis no mesmo período. Assim, obviamente, quanto maior for a liquidez, melhor será a situação financeira da empresa. Nesse grupo, temos os seguintes indicadores: ▪ Capital Circulante Líquido: CCL = AC – PC. ▪ Liquidez Corrente = AC/PC. ▪ Liquidez Geral = (AC+ARLP)/(PC+PELP). ▪ Liquidez Seca = (AC - Estoques)/PC. ▪ Caixa = Caixa/PC. Indicadores de Endividamento: Também denominados de indicadores de Solvência de Longo Prazo e de Medidas de Estrutura Patrimonial, avaliam a composição da estrutura de capital da empresa, isto é, a proporção entre capital próprio (PL) e de terceiros (passivos), revelando a política de obtenção de recursos. Esses índices analisam a segurança que a empresa oferece aos capitais de terceiros. Quanto maior for a participação de capitais de terceiros nos negócios de uma empresa, maior será a dependência da empresa em relação a esse capital de terceiros e maior será o risco a que os terceiros estarão expostos. Nesse grupo, temos: ▪ Endividamento Geral (IEG) = (Passivo-PL)/Passivo. ▪ Composição das Elegibilidades (CE) = PC/(PC+PELP). ▪ Passivo Oneroso sobre Ativo Total (POSA) = (PCF+PELP)/Ativo. ▪ Composição do Passivo Oneroso (CPO) = PCF/(PCF + PELP). ▪ Cobertura de Juros (CJ) = LAJIR/juros. ▪ Cobertura de Caixa = (LAJIR+depreciação)/juros. ▪ Relação entre as Fontes de Recursos (RFR) = (PC+PELP+REF)/PL. ▪ Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL) = AP/PL. Indicadores de Lucratividade: Medem o desempenho da empresa em termos de capacidade de gerar lucros. A lucratividade reflete o percentual da receita que “sobra” como resultado da empresa a cada período. Consequentemente, quanto maior, melhor. Nesse grupo, temos: ▪ Margem Bruta (MB) = lucro bruto/receita líquida. ▪ Margem (líquida) de Lucro (ML) = Lucro líquido/Vendas. Indicadores de Rentabilidade: Medem a capacidade da empresa de remunerar o capital aplicado, mensurando a eficiência da geração do lucro em comparação com o que foi investido. Dessa forma, quanto maior, melhor. Orçamento Empresarial 8 Nesse grupo, temos: ▪ Retorno do Ativo (ROA) = Lucro líquido/Ativo. ▪ Retorno do Capital Próprio (ROE) ou Rentabilidade do Patrimônio Líquido (RPL) = Lucro líquido/PL. ▪ Margem Operacional de Lucro (MOL) = Lucro operacional líquido/ receita operacional líquida. Indicadores de Gestão de Ativos: Também conhecidos como indicadores de giros, analisam a eficiência na utilização de ativos, ou seja, a empresa como um todo, bem como recursos financeiros e materiais. Nesse grupo, temos: ▪ Giro de Estoque = CMV/estoque. ▪ Prazo Médio de Estoque (PME) = Estoques x 365/CMV ou 365/Giro de estoque. ▪ Giro de Contas a Receber = Vendas/CAR. ▪ Prazo Médio de Recebimentos (PMR) = CAR x 365/Vendas ou 365/Giro de contas a receber. ▪ Giro de Contas a Pagar = CMV/Fornecedores. ▪ Prazo Médio de Compras (PMC) = Fornecedores x 365/CMV ou 365/ Giro de contas a pagar. ▪ Giro do Ativo Total ou Rotação do Ativo (RA) = Vendas/Ativo. Indicadores de Valor de Mercado: Voltados às análises de acionistas e potenciais investidores no mercado de ações. Nesse grupo, tempos: ▪ Lucro por Ação (LPA) = Lucro líquido/no ações. ▪ Índice Preço/Lucro (P/L) = Preço por ação/lucro por ação. ▪ Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP) = Valor de mercado das ações/ valor patrimonial das ações. De acordo com Cardozo e Szuster (1994), a análise das demonstrações contábeis usualmente utiliza a análise vertical (ou de estrutura) e a análise horizontal (ou de comportamento), aplicadas nos relatórios contábeis ou nos próprios indicadores (em valores absolutos ou quocientes). A análise vertical mostra a participação percentual de cada item das demonstrações financeiras em relação ao somatório de seu grupo, enquanto a análise horizontal toma por base dois ou mais exercícios para verificar a evolução ou involução de seus componentes. Observação: não discutiremos, aqui, a construção e avaliações feitas a partir das análises vertical e horizontal, por serem temas que fogem do escopo da disciplina. Para maiores informações, consulte os bons livros de Contabilidade. Orçamento Empresarial 9 Como você pode perceber, o orçamento é algo mais abrangente do que aquilo que usualmente é compreendido pela maioria das peças, por englobar análises diversas, inúmeras previsões e complexos mecanismos de inter-relação entre variáveis internas e externas à organização, o que o faz ser um instrumento valioso na gestão de qualquer empreendimento. Referências CARDOZO, R. L.; SZUSTER, F. R. Contabilidade geral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1994. LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1994. OLIVEIRA, U. R. Custos industriais: o instrumento de informações para a tomada de decisões dentro e fora da empresa. Resende: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2010. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010. SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2010. SZUSTER, N. et al. Contabilidade geral: introdução à contabilidade societária. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2011. Orçamento Empresarial 10 Orçamento Empresarial Controle Orçamentário Desenvolvimento do material Henrique Martins Rocha 1ª Edição Copyright © 2022, Afya. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Afya. Sumário Controle Orçamentário Para início de conversa…................................................................................ 3 Objetivo ......................................................................................................... 3 1. Enfoque ......................................................................................................... 4 2. Relacionamento entre Sistemas de Contabilidade e Orçamento ..................................................................................................... 14 3. Aplicações Práticas .................................................................................... 16 Referências ......................................................................................................... 19 Para início de conversa… O processo orçamentário é algo complexo e abrangente, lidando com grande quantidade de variáveis internas e externas para transformar as estratégias definidas pela empresa em metas quantificáveis, isto é, transformar as ideias e conceitos do Plano Estratégico em valores monetários, que envolvem investimentos e gastos previstos para alcançar resultados de receitas e lucro. Se o processo de elaboração das peças orçamentárias em si constitui um instrumento valoroso de gestão, por detalhar fatos e previsões diversos na forma de um plano de ações e metas, ele de pouco serviria sem um igual detalhista conjunto de ações de controle que monitora constantemente as ações e seus resultados, comparando-os continuamente com as projeções feitas, de forma que permite aos gestores se certificarem de que o empreendimento caminha na direção planejada e que eventuais desvios sejam imediatamente detectados, disparando, assim, as ações dos gestores para correção de rota. Para tanto, o controle orçamentário prevê não somente o monitoramento dos resultados finais, mas, também, de todos os elementos que os influenciam, mediante as inúmeras relações de causa e efeito existentes nas estruturas empresariais. Objetivo Realizar controle orçamentário. Orçamento Empresarial 3 1. Enfoque O ciclo de gestão prevê, além do planejamento, a execução e o controle, de modo que seja dado suporte às ações e às tomadas de decisão pertinentes. Nesse sentido, o controle é compreendido como o monitoramento da execução e a comparação de seus resultados com o que havia sido planejado. No processo orçamentário, isso não poderia ser diferente, pois, além do detalhado planejamento, com inúmeras previsões nas diversas peças orçamentárias, é necessário haver as atividades de controle, de forma que a empresa disponha de recursos informacionais que detectem quando algo do planejamento orçamentário está desviando do previsto, entender o motivo disso e direcionar os seus esforços para que o problema seja corrigido, como mostrado na Figura 1: Figura 1. Controle da gestão. Fonte: Adaptado de Lobato e Azevedo (1994). Controle de Gestão Formulação do orçamento do exercício Ações corretivas Execução das operações Controle concomitante ou análise das variações De acordo com os autores Lobato e Azevedo (1994), são pontos-chave do controle da gestão: ▪ a adoção de ações corretivas; ▪ a formulação do orçamento; ▪ a execução das operações contempladas pelo orçamento; ▪ o controle entre o orçado e o real, que deve ser efetuado periodicamente – por mês, por trimestre etc. Lembrando que o plano orçamentário é a expressão quantitativa e formal do plano estratégico de uma organização, é importante destacar que a ação de controle não pode ser superficial, comparando tão somente os “números finais”, visto que os mesmos são uma consequência de inúmeros outros fatores. Por exemplo, vamos supor a seguinte situação: A empresa XYZ desenvolve o seu orçamento de receitas, o qual é mostrado de forma resumida a seguir. Produto Preço de venda unitário Quantidade Receita bruta prevista A R$11,00 2500 R$27.500,00 B R$230,00 350 R$80.500,00 C R$58,00 1200 R$69.600,00 D R$6,30 5200 R$32.760,00 Orçamento Empresarial 4 E R$110,00 125 R$13.750,00 F R$74,00 500 R$37.000,00 G R$84,00 350 R$29.400,00 H R$5,22 2500 R$13.050,00 I R$13,75 800 R$11.000,00 J R$88,60 400 R$35.440,00 Total R$350.000,00 Ao final do exercício, apurada a situação real, os resultados foram: Produto Preço de venda unitário Quantidade Receita bruta prevista A R$9,55 2316 R$22.117,00 B R$196,18 258 R$50.614,00 C R$49,90 1535 R$76.596,50 D R$5,40 3784 R$20.433,60 E R$111,00 98 R$10.878,00 F R$71,00 798 R$56.658,00 G R$98,05 536 R$52.554,80 H R$8,45 1998 R$16.883,10 I R$11,75 645 R$7.578,75 J R$76,25 468 R$35.685,00 Total R$350.000,00 Podemos dizer que as previsões foram ótimas, extremamente precisas, visto que a receita foi exatamente a prevista? Observe as tabelas com atenção, compare-as e reflita. A resposta é não! Repare que nenhum valor previsto, seja em termos de preço de venda, seja em termos de receita, foi correto. Óbvio que não há a expectativa de “acertarmos” as previsões com total exatidão, em virtude da grande quantidade de fatores e variáveis envolvidas, mas o fato é que há muitas discrepâncias em termos de valor e quantidade, chegando, em alguns casos, a cerca de 60% (vide o preço do produto H e a quantidade do produto F). De uma forma simplória, poderíamos até pensar que isso não seria um problema, visto que, ao final, o total coincidiu com o previsto. Mas, isso não é verdade: por exemplo, diferenças no preço de venda praticado podem representar situações em que produtos se tornaram não rentáveis, isto é, “vendidos com prejuízo”. Da mesma forma, quantidades muito distintas das previstas podem indicar excesso de estoques gerados, com baixo giro de mercadorias ou, no outro extremo, esforços significativos para atender a demandas muito superiores ao previsto, com horas-extra, frete aéreo etc. Orçamento Empresarial 5 Isto é, os “detalhes” são mais importantes do que o total quando nos referimos ao controle orçamentário, afinal, é o orçamento que guia os gestores nas tomadas de decisão e prioridades, bem como se as metas definidas são compatíveis com a saúde financeira e operacional, o que é evidência da importância das atividades de controle. ‘‘ A comparação entre o orçado e o executado não é apenas para entender possíveis erros ou para encontrar culpados. Nenhum orçamento é exato. Ele é baseado em dados e estimativas realizadas antes de o período orçado ocorrer, e isso representa uma de suas limitações. Obviamente, na prática, inúmeras variáveis irão se comportar de maneira diferente daquela orçada e outras irão acontecer sem terem sido previstas. Pode ser uma mudança abrupta do dólar, uma greve da Receita Federal que fez as mercadorias ficarem presas na alfândega, a entrada de um novo concorrente ou qualquer outro fato que afete o resultado da empresa. Isso faz com que o orçamento também seja um processo de aprendizagem. Assim a empresa poderá mapear os riscos existentes em suas atividades. (COELHO; PONTES, 2018, p.83)’’ Assim, a comparação entre o que foi previsto no orçamento e o que foi, de fato, realizado, permite que o gestor se aprofunde e compreenda as causas dos desvios e, principalmente, crie medidas para a retomada de rumo, ou seja, para que a empresa volte ao caminho previamente estabelecido (lembre-se de que o ciclo de gestão prevê o planejamento, execução, controle e ações). De acordo com Lobato e Azevedo (1994), de tal comparação, resultam ações, que podem ser: ▪ Corretivas – Dentro do possível e em tempo hábil. ▪ Modificadoras dos objetivos – Caso se mostrem ambiciosos demais. ▪ Auxiliares – Isto é, voltadas para as programações seguintes. Tais aspectos encontram claro alinhamento com as práticas recomendadas de gerenciamento de riscos, que preveem a identificação dos riscos, a análise e avaliação dos mesmos e, a partir daí, o estabelecimento do tratamento a ser dado a eles. É importante destacar que o controle aponta as diferenças, mas não as causas delas e, por isso, deve serfeito o diagnóstico da causa do problema. Por exemplo, um desvio do custo variável pode ter como causa um atraso no processo de compras que exigiu pagamento de taxas adicionais, um problema no processo produtivo (ineficiência do maquinário) etc. Compreendendo a dinâmica envolvida e identificadas as causas, o gestor tem condições de atuar em tempo hábil. Além disso, o processo traz o benefício de que, com o aprendizado, os próximos orçamentos possam considerar tais variabilidades. Uma prática usual é a de dividir a organização em unidades de acordo com a natureza de atuação: são centros de custo, centros de responsabilidade ou denominações assemelhadas. Cada centro é controlado com base nas Orçamento Empresarial 6 previsões e resultados da execução do orçamento, o que pode ocorrer em bases mensais, diário, por turno, por pedido, dependendo de o centro ser uma área de produção/geração de receita ou de apoio (contendo somente gastos). Também nesse caso, devem-se apurar divergências, identificar as suas causas e implementar ações corretivas para garantir o alcance das metas. O gestor deve levar em consideração o contexto, as possíveis implicações e os recursos disponíveis para estabelecer o ponto ótimo de controle: como regra geral, um controle mais detalhado é mais complexo e mais caro para implantar e manter. Por outro lado, propicia maiores chances de detecção de problemas e uma gestão mais abrangente e assertiva. Trata-se, portanto, de uma análise de custo-benefício a ser discutida pela Alta Administração. Uma prática adotada por diversas empresas é a do gerenciamento matricial de despesas (GMD), um instrumento gerencial de planejamento e controle orçamentário da empresa. Nele, a empresa elege responsáveis para gerenciar os pacotes de gastos (grupos de despesas de uma mesma natureza e comuns a vários centros de custo) e, ao mesmo tempo, cada departamento terá um responsável pela prestação de gastos dessas despesas. Os dois gestores comparam os gastos com as metas projetadas e escolhem ações corretivas para os desvios, sendo que o responsável geral dos pacotes (também denominado subject matter expert) se torna ponto focal para consultas e orientações diversas, visto que, por lidar com temas específicos e de forma abrangente (envolvendo toda a empresa), torna-se um especialista, um consultor interno sobre os temas em que atua: ele identifica as oportunidades de redução de gastos fixos nos curto e médio prazos, examinando-os de maneira completa e detalhada. Cabe ao gerente de pacote: ▪ conhecer a natureza de cada classe de gastos sob a sua responsabilidade; ▪ definir os parâmetros e os índices de desempenho dos gastos; ▪ negociar os índices com os gerentes dos centros de custos e preparar junto com eles planos de ação; ▪ atuar como facilitador durante a elaboração dos orçamentos dos centros de custo; ▪ divulgar as melhores práticas internas entre os diversos centros de custo da empresa; ▪ preparar, junto ao gerente de cada centro de custo, um relatório das variações com as propostas de ações corretivas e ▪ supervisionar os gerentes dos centros de custo para o atingimento das metas. Orçamento Empresarial 7 A implantação da GMD é fundamentada nos seguintes princípios: ▪ Controle cruzado das despesas. ▪ Todas as despesas orçadas são acompanhadas, simultaneamente, pelo gestor da área e pelo gestor do pacote de despesas. ▪ Acompanhamento sistemático de um gestor de pacote de gastos e um gestor de centro de custos. ▪ Difusão das melhores práticas dentro da empresa. ▪ Dupla responsabilidade pelas metas. Para realizar a avaliação de desempenho, podemos utilizar o orçamento estático e flexível. O orçamento estático (também chamado de orçamento mestre) faz a comparação do orçado geral com o realizado, mantendo as projeções e premissas diversas (ex: volumes, preços etc.) e, dessa forma, as peças orçamentárias não são alteradas a partir de variações que ocorram. Ou seja, ele é o orçamento elaborado no início do exercício orçamentário. Isso leva a um distanciamento dos valores finais reais, quando comparados com as projeções, em função do acúmulo de variações ao longo das diversas peças orçamentárias. Vamos ver um exemplo de orçamento estático, apresentado por Lobato e Azevedo (1994), referente a uma empresa, que previu produzir 9.000 bolos no mês, prevendo, para isso, os seguintes gastos: Gasto Valor 9.000 kg de farinha R$34.200,00 2.250 kg de manteiga R$54.000,00 4.500 homens-hora de mão de obra direta R$45.000,00 Custos fixos R$70.000,00 Durante o mês, a empresa produziu 7.000 bolos e seus gastos reais foram: Gasto Valor 7.300 kg de farinha R$29.200,00 1.900 kg de manteiga R$47.000,00 3.300 homens-hora de mão de obra direta R$36.300,00 Custos fixos R$70.300,00 O relatório de desempenho poderia ter a seguinte configuração: Orçado Real Variação OBS Quantidade 9.000 7.000 2.000 Desfavorável Farinha R$34.200,00 R$29.200,00 R$5.000,00 Favorável Manteiga R$54.000,00 R$47.000,00 R$7.000,00 Favorável Orçamento Empresarial 8 MOD R$45.000,00 R$36.300,00 R$8.700,00 Favorável Custos Fixos R$70.000,00 R$70.300,00 R$300,00 Desfavorável Além da vantagem da simplicidade do método, o orçamento estático tem como benefício o fato de que a comparação é sempre feita a partir das projeções iniciais, as quais serviram de base para as tomadas de decisão de todo o planejamento estratégico da organização. E isso cria um desconforto constante pelo fato de que os afastamentos do previsto são sempre visíveis, servindo como um instrumento de pressão gerencial para a busca de soluções a fim de reverter situações desfavoráveis. Por exemplo, se na preparação das peças orçamentárias foi estabelecida uma premissa para a taxa de conversão do Dólar para o Real que não ocorreu, levando a perdas substanciais, o orçamento estático vai mostrar tais perdas e, por mais que elas sejam explicadas por uma mudança súbita e inesperada do câmbio, sobre os gestores pesará a responsabilidade de encontrarem alternativas para melhorarem o resultado da empresa. Em suma, as vantagens e desvantagens de tal método serão mostradas a seguir, no Quadro 1: Orçamento estático Vantagens Desvantagens Facilidade para acompanhar as etapas do planejamento. Depois de elaborado, esse orçamento não permite modificações. Assim, é mais simples acompanhar as ações dos departamentos, uma vez que os recursos de cada setor não serão modificados. Inalterabilidade. Já que esse modelo impede modificações, ele pode afetar a organização caso surjam alterações nos fluxos de venda. Nesse caso, os setores seguiriam com os mesmos valores em seus orçamentos. Menor tempo de elaboração do orçamento. Depois que a empresa aprova a versão oficial do orçamento, este não será alterado. Isso diminui o período dedicado à manutenção orçamentária, que inclui revisões e transferências. Impossibilidade de alterar verbas disponíveis para marketing e vendas. Essas verbas poderiam ser flexibilizadas para aproveitar um bom momento e multiplicar bons resultados. Contudo, como o orçamento é estático, não permite esse tipo de alteração. Atenção redobrada dos gerentes responsáveis. Esse tipo de orçamento leva os profissionais responsáveis por ele a prestarem muita atenção na sua elaboração, focando nas áreas em que o orçamento não funcionou. Assim, é mais fácil identificar tendências e desvios de rota. Perda de valor de peças orçamentárias. Parcela considerável das peças orçamentárias pode perder valor para os processos de acompanhamento, controle e análise das variações. Elas também perdem relevância como base para projeções e simulações. Cultura organizacional com foco na melhoria contínua e na construção de uma base de conhecimentos valiosa. Esses itens contribuem para a criação dos orçamentos futuros, deixando- os mais exatos e detalhados. Quadro 1: Orçamento estático: vantagens e desvantagens. Fonte: Adaptado de Azevedo e Alves(2017). Orçamento Empresarial 9 O orçamento flexível compara o orçado ao nível da atividade com o realizado, pois ele considera as variações nas receitas e gastos que devem ocorrer em função das modificações no nível de atividade. Por exemplo, a redução dos custos variáveis não necessariamente será uma boa notícia, caso ela se deva exclusivamente à redução no volume produzido. Ao isolar as variações em virtude das mudanças de volumes, podemos fazer uma avaliação mais precisa do desempenho das atividades: seu objetivo é o de isolar efeitos pontuais nos resultados reais. No orçamento flexível, os desvios dos objetivos são separados por categorias: variação de volume, de comercialização, de desempenho, de preços de venda, de ociosidade e de valores de aquisição de recursos. Sua lógica é, portanto, a de permitir monitorar e analisar os dados unitários: os resultados finais são consequência deles e das quantidades realizadas. Vamos tomar como exemplo a mesma empresa produzindo bolos: para o relatório de desempenho, os gastos com farinha, manteiga e mão de obra direta devem ser comparados com os valores que ocorreriam caso o planejamento tivesse sido para 7.000 bolos. Desse modo, o primeiro passo é definir o comportamento dos custos para produzir bolos. O padrão de um bolo para os custos variáveis é dado por: Orçado Quantidade 9.000 Unitário Farinha R$34.200,00 R$3,80 Manteiga R$54.000,00 R$6,00 MOD R$45.000,00 R$5,00 Total R$14,80 Dessa forma, para o nível de produção efetivamente incorrido, temos: Quantidade 7.000 Farinha R$26.600,00 Manteiga R$42.000,00 MOD R$35.000,00 Total de CV R$103.600,00 Custos Fixos R$70.000,00 Total de custos R$173.600,00 Temos, assim, o relatório de desempenho, apresentado a seguir: Orçamento Empresarial 10 Real Ajustado ao nível de atividade Variação OBS Quantidade 7.000 7.000 0 Farinha R$29.200,00 R$26.600,00 R$2.600 Desfavorável Manteiga R$47.000,00 R$42.000,00 R$5.000 Desfavorável MOD R$36.300,00 R$35.000,00 R$1.300 Desfavorável Total de CV R$112.500,00 R$103.600,00 R$8.900 Desfavorável Custos Fixos R$70.300,00 R$70.000,00 R$300 Desfavorável Variação total R$9.200 Desfavorável O relatório é revelador! Como você pode observar, os gastos em termos de farinha e manteiga foram superiores ao previsto para a quantidade de 7.000 bolos. O mesmo aconteceu com a mão de obra direta e com os custos fixos, ou seja, há informações que apontam problemas diversos no processo produtivo, sobre os quais o gestor deve direcionar sua atenção e buscar formas de melhoria do desempenho. Uma análise mais detalhada do próprio orçamento flexível provê mais informações sobre as causas dos resultados desfavoráveis, visto que (LOBATO; AZEVEDO, 1994, p.80): ▪ O insumo pode ter sido adquirido por um preço diferente do projetado. ▪ A utilização do insumo pode ter demandado uma quantidade diferente da planejada ou orçada. Observe que o orçamento inicial previa o uso de 9.000 Kg de farinha, a um custo de R$ 34.200,00 para produzir 9.000 bolos. Isso significa que a previsão era a de utilizar 1 Kg de farinha por bolo, a um custo de R$ 3,80/Kg. Mas, o gasto real, para produzir 7.000 bolos foi de 7.300 Kg de farinha, a um custo de R$ 29.200,00. Dessa forma, chegamos à conclusão de que o gasto foi de 7.300/7.000 = 1,04286 Kg de farinha por bolo, a um custo de 29.200/7.300 = R$ 4,00 por Kg. Logo, o resultado, em termos de farinha, foi desfavorável, pois gastamos mais farinha do que o previsto e, também, pagamos mais por Kg do que o previsto, Dizemos, então, que tivemos, respectivamente, variações de eficiência e de preço. Podemos, então, fazer a análise das variações, tomando por base os seguintes conceitos. (LOBATO; AZEVEDO, 1994, p.81) Variação de eficiência → Também chamada variação operacional, é a quantidade de insumo projetada para a atividade real x custo unitário projetado do insumo – a quantidade real do insumo x custo unitário projetado do insumo = quantidade de insumo projetada para a atividade Orçamento Empresarial 11 real – quantidade real do insumo x custo unitário projetado do insumo. A variação de eficiência se baseia na diferença das quantidades projetadas e reais. Variação de preço → Denominada, também, como variação comercial, é a quantidade real do insumo x custo unitário projetado do insumo – quantidade real do insumo x custo unitário real do insumo = custo unitário projetado do insumo – custo unitário real do insumo x quantidade real do insumo. A variação de preço tem base no custo de aquisição, projetado e real. Dessa forma, efetuando os cálculos, temos: Variação de eficiência = (7.000 kg – 7.300 kg) x R$ 3,80/kg = R$1.140 (desfavorável); e Variação de preço = (R$ 3,80/kg – R$ 4,00/kg) x 7.300 kg= R$ 1.460 (desfavorável). De forma resumida, temos, então, que a variação desfavorável de R$ 2.600 na farinha é devida à farinha, como pode ser visto na Figura 2: Figura 2. Variações de eficiência e preço para a farinha. Fonte: Adaptado de Lobato e Azevedo (1994). Como você pode perceber, as informações geradas a partir do orçamento flexível permitem aos gestores terem uma visão mais clara dos resultados e das variações sobre o previsto (obviamente, no exemplo, poderiam ainda ser desdobradas as análises referentes à manteiga e à mão de obra direta). As vantagens e desvantagens do orçamento flexível são apresentadas a seguir. Farinha Custo real (R$ 29.200,00) Custo projetado ao nível real de atividade (R$ 26.600,00) Variação total (R$ 2.600,00) Custo real (R$ 4,00/kg) x Insumo real (7.300 kg) Custo projetado (R$ 3,80/kg) x Insumo real (7.300 kg) Custo projetado (R$ 3,80/kg) x Insumo real (7.000 kg) R$29.200 R$27.740 R$26.600 Variação de preço (R$ 1.460D) Variação de preço (R$ 1.140D) Orçamento Empresarial 12 Orçamento estático Vantagens Desvantagens Relevância mantida nas peças orçamentárias relativas a custos, despesas e investimentos. Aqui, ocorre o contrário do que acontece no orçamento estático, no qual é usual que as partes orçamentárias percam a relevância. No orçamento flexível, se o volume de vendas ou produção se alterar, as peças não deixam de fazer sentido. Necessidade maior de controle nas alterações no negócio. Esse tipo de orçamento exige um processo de monitoramento frequente dos níveis de atividades da organização. Peças orçamentárias mais pertinentes e consistentes com alterações no contexto em que a empresa está inserida. Isso ocorre, pois, o orçamento flexível acompanha as variações de vendas ou produção. Exigência de adaptação rápida às mudanças. Os envolvidos precisam estar aptos a se adequar com agilidade às alterações causadas por ajustes no orçamento. Figura 3. Orçamento flexível: vantagens e desvantagens. Fonte: Adaptado de Azevedo e Alves (2017, p.185). Como o orçamento flexível é desenvolvido com base no nível real de atividade, as eventuais diferenças do orçado e do real são explicadas exclusivamente por variações de precificação e controle de gastos, bem como a eficiência na utilização de recursos. Horngren et al. (2003, p.267) mostram um exemplo simples de um orçamento flexível, com base em diferentes cenários de quantidades. Unidades 7000 8000 9000 Vendas R$31,00 R$217.000 R$248.000 R$279.000 Custos variáveis de manufatura R$21,00 R$147.000 R$168.000 R$189.000 Despesas de embarque R$0,60 R$4.200 R$4.800 R$5.400 Administrativos R$0,20 R$1.400 R$1.600 R$1.800 Total custos/despesas variáveis R$21,80 R$152.600 R$174.400 R$196.200 Margem de contribuição R$9,20 R$64.400 R$73.600 R$82.800 Custos fixos de manufatura R$37.000 R$37.000 R$37.000 R$37.000 Custos fixos de venda e administrativos R$33.000 R$33.000 R$33.000 R$33.000 Total de custos fixos R$70.000 R$70.000 R$70.000 R$70.000 Lucro operacional -R$5.600 R$3.600 R$12.800 Orçamento Empresarial 13 2. Relacionamento entre Sistemas de Contabilidade e Orçamento Lobato e Azevedo (1994) destacam que ainda que o orçamento seja peça fundamentalde gestão nas empresas, o orçamento em si não pode ser confundido com a própria administração. O orçamento é um instrumento de gestão, ou seja, uma ferramenta de apoio à gestão, com forte viés nas etapas de planejamento e de controle. De acordo com Lobato e Azevedo (1994, p.33), as vantagens do processo orçamentário são: ▪ O fortalecimento do hábito de estudar todos os aspectos envolvidos antes de serem tomadas as decisões. ▪ O estímulo à participação de todos os responsáveis envolvidos no plano, bem como de todos os membros da administração na fixação de objetivos. ▪ O fornecimento de critérios para a alocação de recursos escassos, tendendo a melhorar a utilização dos recursos, bem como ajustá-los às atividades prioritárias. ▪ A coordenação e a correlação de todos os esforços. ▪ A revelação dos pontos de eficiência e de ineficiência no desempenho das unidades, propiciando a geração de eficácia em cada área e na empresa como um todo. ▪ A obrigatoriedade de avaliar os resultados reais em face dos resultados orçados de modo que importantes decisões financeiras possam ser tomadas com maior grau de acerto. ▪ O fato de facilitar a delegação de poderes. E, a exemplo de frases de impacto como “A estratégia é função de todos” e “A qualidade é responsabilidade de todos”, é razoável fazermos a mesma comparação com o orçamento, que deve ser função e responsabilidade de todos nas organizações. As empresas devem dedicar especial atenção ao processo orçamentário, visto que ele depende do apoio da alta administração, tanto na execução quanto no processo de controle. Também, os esforços da Alta Administração devem prever a disseminação, a sensibilização sobre a importância e as implicações do orçamento sobre a gestão da empresa: “Quanto mais arraigado estiver o processo orçamentário à cultura organizacional das empresas, melhor será o orçamento e maiores serão os benefícios advindos”. (LOBATO; AZEVEDO, 1994, p.33) Tal lógica perpassa por todos os níveis e ramificações da organização, seguindo um desdobramento lógico, como mostrado na Figura 3, que chega às demonstrações contábeis, ao controle e à tomada de decisão pelos gestores. Orçamento Empresarial 14 Orçamento de material direto balanço patrimonial planejado Orçamento de despesas administrativas Orçamento de P&D Orçamento de despesas com marketing Orçamento de investimentos Orçamento operacional Orçamento financeiro Orçamento de vendas Orçamento de produção Orçamento de compras Orçamento de MOD Orçamento de custos indiretos Fluxo de caixa projetado DRE projetada Figura 3: Comunicação contínua entre os diversos níveis da empresa. Fonte: Adaptado de Lobato e Azevedo (1994). Essa rede de interligações entre atividades, áreas, níveis e funções exige que as informações sejam geradas e fluam adequadamente entre as diferentes peças orçamentárias: falhas nesse processo comprometem a integridade de todo o sistema orçamentário e mesmo contábil e de gestão, o que reforça a importância do envolvimento de todos no processo orçamentário. Observe que o orçamento de produção, além de alimentar outras peças orçamentárias (ex: orçamento de material direto etc.), repercute diretamente na DRE projetada, o mesmo acontecendo com as demais peças orçamentárias mostradas na Figura 3. Além disso, o orçamento de investimentos, que também influencia a DRE projetada, serve de entrada para o fluxo de caixa projetado e para o BP projetado. Nesse sentido, a utilização de sistemas integrados de gestão se mostra um valioso aliado à gestão, permitindo que seja feita a integração dos diversos inputs orçamentários, que podem ser atualizados em tempo real, gerando relatórios críticos e análises simulatórias de gestão, permitindo automatizar a geração de demonstrações contábeis projetadas e, até mesmo, relatórios finais de exercício. Em cenários como esses, a utilização e análise do orçamento flexível se torna bastante simplificada e intuitiva. Crespo e Santos (2015) mostram um exemplo de arquitetura utilizado até mesmo por micro e pequenas empresas. Orçamento Empresarial 15 Figura 4: Arquitetura de sistema integrado de gestão. Fonte: Crespo e Santos (2015). 3. Aplicações Práticas Vamos fazer uma análise de orçamento flexível, baseado em material de Coelho e Pontes (2018), de um fabricante de camisas, cujo resultado projetado para o mês é mostrado a seguir. Clientes Marketplace Fornecedores Empresas parceiras Central de compras Virtual enterprises engine DSS SAA SAC SAG SAJ EDL EF OS Estados e outras entidades públicas CRM ERP Serviços partilhados (SOA) Ligações e entidades públicas Receitas R$ 40.000 Materiais R$ 162.000 MOD R$ 108.000 Total CV R$ 270.000 Margem de contribuição R$ 270.000 Custos fixos R$ 81.000 Lucro R$ 189.000 Tal projeção era baseada nas seguintes premissas e projeções: ▪ Vendas: 2.000 camisas. ▪ Preço de venda unitário: R$ 27,00. ▪ Material empregado: 2 metros de malha/camisa. ▪ Preço do material: R$ 4,05/metro. ▪ Mão de obra utilizada: 0,5 hora/camisa. ▪ Custo da mão de obra: R$ 10,80/hora. Os resultados reais são mostrados a seguir: Orçamento Empresarial 16 Receitas R$ 461.700 Materiais R$ 152.460 MOD R$ 87.480 Total CV R$ 239.940 Margem de contribuição R$ 221.760 Custos fixos R$ 81.000 Lucro R$ 140.760 O volume produzido e comercializado foi de 18.000 camisas; o consumo de materiais foi de 39.600 m de malha ao valor total de R$ 152.460,00; e a MOD empregada na produção registrou um consumo de 8.100 horas ao custo total de R$ 87.480,00. Calculando o resultado ajustado ao nível da atividade (ou seja, calculando os valores unitários a partir do orçamento previsto e multiplicando-os pela quantidade real (18.000 unidades), temos: Receitas R$ 486.000 Materiais R$ 145.800 MOD R$ 97,200 Total CV R$ 243.000 Margem de contribuição R$ 243.000 Custos fixos R$ 81.000 Lucro R$ 162.000 Colocando os resultados lado a lado e identificando as variações de eficiência e de preço, temos: Real Variação eficiência OBS Ajustado ao nível Variação preço OBS Previsto Quantidade 18.000 0 18.000 2.000 Desfavorável 20.000 Receitas R$ 461.700 R$ 24.300 Desfavorável R$ 486.000 R$ 54.000 Favorável R$ 540.000 Materiais R$ 152.460 R$ 6.660 Desfavorável R$ 145.800 R$ 16.200 Favorável R$ 162.000 MOD R$ 87.480 R$ 9.720 Favorável R$ 97.200 R$ 10.800 R$ 108.000 Total CV R$ 239.940 R$ 3.060 R$ 243.000 R$ 27.000 R$ 270.000 Margem de contribuição R$ 221.760 R$ 21.240 Desfavorável R$ 243.000 R$ 27.000 Desfavorável R$ 270.000 Custos fixos R$ 81.000 R$ 0 R$ 81.000 R$ 0 R$ 81.000 Lucro R$ 140.760 R$ 21.240 Desfavorável R$ 162.000 R$ 27.000 Desfavorável R$ 189.000 Analisando e discutindo as variações: Orçamento Empresarial 17 A variação de preço desfavorável de R$ 27.000,00 no lucro se deveu à venda a menor de 2.000 camisas. Como cada camisa tem uma margem de contribuição de R$ 13,50, essa margem multiplicada pela quantidade vendida a menor causou essa variação. Calculando as variações de preço e eficiência dos materiais: o padrão ajustado ao nível real de atividade foi dado por 18.000 u x 2 m/u = 36.000 m x R$ 4,05/m = 145.800,00, ao passo que o real foi de 39.600 m x R$ 3,85/m = 152.460,00 (observe que 152.460,00 / 39.600 = 3,85). Com o insumo real valorado ao custo padrão, temos: 39.600 m x R$ 4,05/m = 160.380,00, assim: ▪ variação de eficiência = 145.800,00 - 160.380,00 = R$ 14.580,00; ▪ variação de preço = 160.380,00 - 152.460,00 = 7.920,00; ▪ Variação total dos materiais: R$ 6.660,00. A variação favorável de preço ocorreu pela redução do custo unitário de materiais diretos de R$ 4,05/m para R$ 3,85/m. Essa variação (R$ 0,20), multiplicada pela quantidade real consumida (39.600 m), proporcionou um valor de R$ 7.920,00 favorável. A variação desfavorável de eficiência foi ocasionada pelo consumo além do orçado previamente. Orçaram-se 36.000 m (18.000 un x 2 m) para produzir 18.000 camisas, quando, na realidade, foramconsumidos 39.600 m (39.600 - 36.000 = 3.600 x 4,05 = 14.580,00). Calculando as variações de preço e eficiência da mão-de-obra direta: o padrão ajustado ao nível real de atividade foi dado por 18.000 u x 0,5h/u = 9.000h x R$10,80/h = 97.200,00 m ao passo que o real foi 8.100h x R$ 10,80/h = 87.480,00 (sendo que 87.480,00 / 8.100 = 10,80). Com o insumo real valorado ao custo padrão, temos 8.100 h x R$ 10,80/h = 87.480,00. Dessa forma: ▪ Variação de eficiência = 97.200,00 - 87.480,00 = R$ 9.720,00. ▪ Variação de preço = 87.480,00 - 87.480,00 = zero. ▪ Variação total da mão de obra = R$ 9.720,00. A variação favorável na eficiência da mão de obra ocorreu pela utilização de um número de horas inferior ao orçado previamente. Orçaram- se 9.000 horas para produzir 18.000 camisas, quando, na realidade, foram consumidas somente 8.100 horas: (9.000 - 8.100 = 900 x 10,80 = 9.720,00). O lucro previsto para o mês foi de R$ 189.000,00. Entretanto, o lucro real foi de, apenas, R$ 140.760,00. Analisando os resultados apresentados, podemos detalhar esse diferencial de lucros de R$ 48.240,00 (R$ 189.000,00 - R$140.760,00). Como você viu, o controle orçamentário é tão abrangente quanto o próprio processo de planejamento das peças orçamentárias. Nele, comparamos não somente os resultados finais, mas podemos, também, Orçamento Empresarial 18 desdobrar os resultados em níveis que identificam os fatores que os compõem. Com isso, além de compreender a dinâmica envolvida na geração de resultados, é possível identificar as variações e suas causas principais. Nesse sentido, a compreensão das relações de causa e efeito pode ser detalhada em variações em termos de quantidade (por exemplo, variação de demanda ou de consumo de determinado insumo) e/ou de preços (ex: custo dos insumos). A análise de tais fatores permite expandir de forma significativa a capacidade do orçamento ser utilizado como instrumento de gestão para qualquer empresa. Referências AZEVEDO, I. S. S.; ALVES, A. Orçamento, custos e finanças no setor público. Porto Alegre: SAGAH, 2017. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR ISO 31000: Gestão de riscos — Princípios e diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. CRESPO, P.; SANTOS, V. Construção de Sistemas Integrados de Gestão para Micro e Pequenas Empresas. RISTI, Porto, n.15, p.35-49, jun., 2015. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1646-98952015000200004&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 30 dez. 2019. COELHO, F. S.; PONTES, R. M. Orçamento e Controle. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2018. HORNGREN, C. T.; SUNDEM, G. L.; STRATTON, W. O. Contabilidade gerencial. 12. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1994. Orçamento Empresarial 19 http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-98952015000200004&lng=pt&nrm=iso http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-98952015000200004&lng=pt&nrm=iso Orçamento Empresarial Projeção das Demonstrações Contábeis Desenvolvimento do material Henrique Martins Rocha 1ª Edição Copyright © 2022, Afya. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Afya. Sumário Projeção das Demonstrações Contábeis Para início de conversa… ................................................................................ 3 Objetivo ......................................................................................................... 3 1. Balanço Patrimonial .................................................................................... 4 2. Demonstração do Resultado do Exercício .......................................... 6 3. Aplicação Prática ......................................................................................... 7 Referências ......................................................................................................... 13 Para início de conversa… O orçamento é um relevante instrumento de gestão, aplicável tanto ao aspecto de planejamento de toda a estrutura e norteamento das decisões das organizações, como significativo elemento de orientação e monitoramento do dia a dia, permitindo o controle e suportando todos os processos de decisão dos gestores. As previsões de volumes e mix de produtos e serviços a serem produzidos e comercializados, bem como os resultados subsequentes, em termos de operações e resultados financeiros, provê aos gestores um valioso painel de comando das atividades empresariais. E, nesse sentido, a geração de demonstrações contábeis faz parte das atividades de gestão, permitindo não somente o uso dos mesmos pelos tomadores internos de decisão, mas, também viabilizando a análise de acionistas, credores, instituições financeiras, fornecedores, etc. Ainda que a versão final de tais demonstrações só possa ser gerada após o período analisado concluído. Desta forma, após as projeções de vendas, receitas, gastos, investimentos e financiamentos, podemos desenvolver o orçamento de caixa e as projeções das demonstrações contábeis. Objetivo Elaborar a projeção das demonstrações contábeis. Orçamento Empresarial 3 1. Balanço Patrimonial Ainda que a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial e de Custos tenham finalidades distintas, elas, obviamente, compartilham conceitos, relatórios e indicadores. Nesse sentido, sendo o orçamento um instrumento de gestão, ele tem forte vinculação com a Contabilidade Gerencial. Mas sua utilização não se limita a tal dimensão, compartilhando técnicas e instrumentos da Contabilidade Financeira, em especial, as demonstrações contábeis: peças orçamentárias que propiciam a previsão de vendas, receitas, gastos, investimentos e financiamentos, bem como o fluxo de caixa, o orçamento permite prover informações suficientes para gerar previsões das demonstrações contábeis, visto que, como inferido por Norton e Kaplan (1997), os resultados financeiros são consequência de aspectos internos na operação da empresa (processos internos desenvolvidos e executados por pessoas qualificadas, motivadas e com condições adequadas de trabalho) e fatores externos, referentes ao mercado. Como parte do processo orçamentário, a elaboração das projeções das demonstrações contábeis é usualmente denominada “etapa financeira”, que prevê a tradução das decisões da fase operacional do processo em elementos monetários. Por exemplo, o plano de vendas se traduz em faturamento líquido e bruto, a necessidade de contratação de novos funcionários em gastos necessários para tal, etc. (FREZATTI, 2017). Também, de acordo com a lógica do PDCA, a gestão deve ocorrer em um ciclo que se inicia pelo planejamento, seguido da execução, controle e, a partir daí, a ação, na forma de tomada de decisão. Assim sendo, como cita Hoji (2017, p.448), “Antes de apurar os resultados econômico e financeiro com base em quadros orçamentários, é necessário analisar as movimentações financeiras das diversas contas patrimoniais e contas de resultados”. A elaboração das projeções das demonstrações contábeis tem como benefício a possibilidade de utilizar relatórios padrão, compreendidos pelas partes interessadas pelo fato de serem aderentes à legislação específica, bem como às práticas contábeis geralmente aceitas, ao contrário do que pode acontecer quando se faz uso de relatórios customizados da Contabilidade Gerencial, que são únicos para cada empresa. Por exemplo, a utilização de relatórios financeiros padronizados quando da solicitação de financiamento de capital de giro junto a uma instituição financeira é, como regra geral, obrigatório, ainda que, de acordo com Frezatti (2017), seja comum que o plano de contas das demonstrações contábeis projetadas seja mais sumarizado do que o utilizado para demonstraçõesdas informações históricas. Alguns conceitos e definições necessitam ser dimensionados no orçamento, bem como utilizados no dia a dia da organização: Orçamento Empresarial 4 ▪ demonstrativos contábeis projetados que proporcionam condições da consolidação das decisões; ▪ indicadores financeiros que permitem a análise de vários fatores dos resulta- dos projetados; ▪ conceitos de gastos, investimentos, custos, despesas e perdas para que os demonstrativos possam ser elaborados; ▪ tratamento dos custos em termos de sistemas de acumulação, sistema de custeio e métodos de custeio para que seja possível projetar e acompanhar os custos dos produtos; ▪ centros de responsabilidade. As demonstrações contábeis permitem uma análise mais abrangente do processo de planejamento, pelo fato de que nelas existe a possibilidade de informações comparativas para validação do plano estratégico, visto que as demonstrações financeiras projetadas indicam a adequação financeira de todas as decisões planejadas. ‘‘ Por meio de simulações, apuram-se o superávit ou déficit de caixa, o lucro do exercício, necessidade de capital de giro etc., e, com esses dados, é possível determinar a capacidade de expansão dos negócios e direcionar os recursos disponíveis para maximizar o resultado operacional (HOJI, 2017, p.448).’’ O ideal seria que tais relatórios já estivessem disponíveis quando da elaboração do plano estratégico. No entanto, como sua elaboração depende das demais peças orçamentárias, as quais, por sinal, dependem das definições estratégicas, isso não é possível. Assim sendo, os processos orçamentários mais sofisticados (geralmente empresas mais avançadas em suas práticas gerenciais e que dispõem de módulos específicos em seus sistemas de gestão integrados) utilizam planilhas de projeção em tempo real, em que as projeções são atualizadas a partir da alimentação de dados ao longo do processo. Desta forma, evita-se a situação em que tais demonstrações surjam muito tardiamente, após a elaboração do plano estratégico, já como último passo do processo orçamentário, o que é tardio e inadequado no gerenciamento de negócio como um todo. Ainda que tal lógica se aplique a todos os relatórios financeiros, nosso foco será o de estudar os relatórios mais relevantes, quais sejam, o Balanço Patrimonial (BP) e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Vamos iniciar nossos estudos pelo BP, que é o relatório que representa uma fotografia da situação financeira da empresa em determinado momento (usualmente no fechamento do exercício). O balanço patrimonial agrupa as principais contas, de acordo com sua natureza: o ativo representa as aplicações dos recursos, isto é, bens e direitos, como, por exemplo, caixa, estoques, máquina e equipamentos, etc., enquanto o passivo e o patrimônio líquido indica as origens dos recursos, próprios ou de terceiros. As contas do ativo e passivo, junto ao patrimônio líquido, são apresentadas em ordem decrescente de liquidez Orçamento Empresarial 5 para o ativo e de exigibilidade para o passivo e patrimônio líquido. O balanço patrimonial reflete as mudanças dos ativos e a exigibilidade, resultantes das atividades planejadas, enquanto o balanço patrimonial projetado é o último estágio da projeção dos resultados orçados da posição financeira da empresa no final do exercício, sendo “consequência natural de todos os orçamentos previamente estudados” (COELHO; PONTES, 2018, p.62). O balanço patrimonial projetado: ▪ ajuda a conferência da montagem das demais peças orçamentárias; ▪ possibilita uma análise econômico-financeira da empresa; ▪ fornece dados para análise da administração do capital de giro da empresa. 2. Demonstração do Resultado do Exercício Se o Balanço Patrimonial pode ser comparado com uma fotografia, isto é, um relato estático e instantâneo em determinado momento da empresa, a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), também chamada de Demonstrativo dos Resultados do Exercício, pode ser entendido como um filme que cobre determinado período de tempo (o exercício), apresentando, em linhas gerais, o que aconteceu com a organização no que diz respeito a ganhos e perdas. Ou seja, sendo colocado de uma forma simplória, a DRE indica se houve lucro ou prejuízo no exercício. ‘‘ A Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) é uma demonstração contábil que apresenta o fluxo de receitas e despesas, que resulta em aumento ou redução do patrimônio líquido entre duas datas. Ela deve ser apresentada de forma dedutiva, isto é, inicia-se com a Receita bruta operacional e dela deduzem- se custos e despesas, para apurar o lucro líquido (HOJI, 2017, p.260).’’ Desta forma, segundo o autor, a DRE é uma das peças mais importantes do Orçamento, visto que ela reflete o resultado final das operações, indicando o lucro líquido (ou prejuízo) do período das operações. Assim, a elaboração do demonstrativo de resultado do exercício projetado visa possibilitar a projeção do resultado econômico da empresa. Baseado nas peças orçamentárias anteriores, a DRE projetada possibilita estimar resultados futuros, considerando diferentes alternativas para custos e despesas. Para tanto, parte-se do DRE anterior e os resultados das diversas peças orçamentárias são considerados (inseridos), para atualizá-lo. De acordo com Frezatti (2017) recomenda-se a projeção da demonstração de resultados, do balanço patrimonial e do fluxo de caixa. As razões para que as entidades não se limitem à projeção da demonstração de resultados são as seguintes: ▪ separação e identificação do resultado econômico proporcionado pela demonstração de resultados do resultado financeiro proporcionado pelo fluxo de caixa. São visões complementares gerenciadas por áreas/ Orçamento Empresarial 6 pessoas diferentes na organização e devem receber o foco necessário. A posição de saldos proporcionada pelo balanço patrimonial permite analisar uma parte das ocorrências e seu sequenciamento; ▪ integridade de informações proporcionada pela projeção de um valor e ele não deixar de ser considerado. Caso uma receita seja projetada (Demonstração de Resultados) e não recebida, poderá ser encontrada no contas a receber (Balanço Patrimonial). Caso seja recebida no mesmo período, entrará no fluxo de caixa projetado. Idem ao que refere a juros que, sem a projeção do balanço, não podem ser calculados de forma apropriada. ▪ condições de gerenciamento, pois as consequências das ações podem ser apresentadas tanto como resultado quanto como investimento/ fonte de recursos e podem ser atribuídas a um gestor. Essa é a base do accountability esperado pelas organizações. 3. Aplicação Prática Vamos seguir o passo a passo de um processo orçamentário, o qual culminará na Projeção das Demonstrações Contábeis. Para tanto, vamos utilizar os dados disponibilizados por Coelho e Pontes (2018) para uma empresa fictícia comercial, para a qual foi desenvolvido o orçamento trimestral de sua única loja. Uma visão geral do processo é mostrado no fluxo da Figura 01. Figura 1. Fluxo orçamentário. Fonte: Adaptado de Coelho e Pontes (2018, p.106) Como política da empresa, o saldo de caixa deve ser de R$8.000,00, sendo que qualquer excesso de caixa deve ser investido em aplicações financeiras e qualquer falta de caixa (isto é, abaixo de R$8.000,00) deve ser captada por meio de empréstimo. Como as aplicações só podem ser resgatadas ao fim do trimestre, qualquer saldo que haja de empréstimos deve ser pago no final do trimestre pelo montante de aplicações financeiras. Fluxo econômico Fluxo financeiro Orçamento da receita Política de compra e estoque Orçamento das despesas operacionais Orçamento dos investimentos e financiamentos Previsão do CMV Política de recebimento Política de pagamento Demonstração do fluxo de caixa projetado Balanço patrimonial projetado Demonstração de resultado projetada Despesas e receitas financeiras Orçamento Empresarial7 Dados adicionais: ▪ Remuneração do investimento: 1% a.m. do saldo no início do mês (deve compor o lucro para cálculo do IR). ▪ Taxa de juros compostos do empréstimo: 2% a.m. do saldo do mês anterior (deverá ser paga no final do trimestre). ▪ O imposto de renda é de 20% do lucro. Os impostos do último trimestre deverão ser pagos no início do trimestre seguinte. O imposto sobre a receita bruta é de 10% e deverá ser pago no mês seguinte. ▪ Política de recebimento: 20% à vista, 60% em 30 dias e 20% em 60 dias. ▪ Desconsiderar devedores duvidosos. ▪ Os custos das mercadorias vendidas correspondem a 60% da receita. ▪ A política de pagamentos prevê 30 dias de prazo. ▪ A política de estoques determina que os estoques finais de julho, agosto e setembro serão respectivamente, R$90.000,00. R$150.000,00 e R$100.000,00. ▪ Projeção das despesas e seus pagamentos: ▪ despesas variáveis: ▪ comissão de vendas: 10% da venda – paga no mês seguinte; ▪ outras despesas operacionais: 4% da venda – pagas no mês em que ocorrem; ▪ despesas fixas: ▪ aluguel, salários etc.: R$20.000,00 por mês – pagos no início do mês; ▪ depreciação das instalações: R$2.000,00 por mês – não envolve saída de caixa. ▪ Deseja-se fazer uma campanha de marketing, em agosto, a um custo de R$10.000,00, com pagamento no próprio mês de agosto. Caso ocorra lucro, este será transferido para reserva de lucros. ▪ Também é previsto um investimento para aquisição de imobilizado em setembro, pago à vista (R$30.000,00). Projeção de vendas: Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov R$300.000 R$200.000 R$200.000 R$180.000 R$350.000 R$200.000 R$200.000 R$100.000 Balanço Patrimonial em 30/jun. Ativo Passivo Caixa R$8.000 Contas a pagar R$8.000 Aplicações R$200.000 Comissões R$200.000 Contas a Receber R$200.000 Impostos R$200.000 Estoques R$70.000 Empréstimos R$70.000 Orçamento Empresarial 8 Instalações fixas R$100.000 Capital próprio R$100.000 (-) Depreciação acumulada -R$25.000 Reserva de Lucro -R$25.000 Total R$553.000 Total R$553.000 Os R$200.000,00 de contas a receber do balanço de 30 de junho compreendem somente as contas das vendas a prazo de maio e junho, ou seja, 20% das vendas de maio (R$40.000,00) que serão recebidos em junho e 80% das vendas de junho (R$160.000,00) que serão recebidos em julho e agosto. Como a política de pagamentos prevê 30 dias de prazo – o valor de contas a pagar de julho refere-se aos 60% do valor das compras de junho de R$75.000,00. Os impostos a pagar, no valor de R$30.000,00, referem-se ao imposto de R$20.000,00 sobre a receita de junho, que será pago em julho, e ao imposto sobre o lucro de R$10.000,00, referente a 20% do lucro do trimestre anterior de R$50.000,00. Construindo o orçamento da receita e dos recebimentos. Mês Vendas Recebimentos Mai Jun Jul Ago Set Out Nov abr R$300.000 R$180.000 R$60.000 mai R$200.000 R$40.000 R$120.000 R$40.000 jun R$200.000 R$40.000 R$120.000 R$40.000 jul R$180.000 R$36.000 R$108.000 R$36.000 ago R$350.000 R$70.000 R$210.000 set R$200.000 R$40.000 R$70.000 vendas trimestre R$730.000 R$196.000 R$218.000 R$286.000 R$120.000 R$40.000 R$700.000 Totalização dos recebimentos no trimestre seguinte Cabe lembrar que, com relação à receita de julho, 20% serão recebidos em julho, 60% em agosto e 20% em setembro, e assim sucessivamente. Percebe-se que a receita do período foi de R$730.000,00, enquanto os recebimentos foram de R$700.000,00. O total a ser recebido após esse trimestre corresponde a 20% das vendas de agosto (que serão recebidos em outubro) e 80% das vendas de setembro (que serão recebidos em outubro e novembro), perfazendo R$230.000,00. Construindo o Orçamento dos impostos sobre receita Orçamento Empresarial 9 Valores pagos Jul Ago Set Total R$20.000 R$18.000 R$35.000 R$73.000 Os impostos pagos em julho (R$20.000,00) são referentes à 10% da receita de junho, e assim sucessivamente. Construindo o Orçamento dos custos das mercadorias vendidas, compras e pagamentos Cálculo Jun Jul Ago Set Total Estoque final R$70.000 R$90.000 R$150.000 R$100.000 + CMV (-) Estoque inicial = Compras R$108.000 R$210.000 R$120.000 R$438.000 R$70.000 R$90.000 R$150.000 R$128.000 R$270.000 R$70.000 Contas a pagar R$45.000 R$128.000 R$270.000 R$70.000 pagamento R$45.000 R$128.000 R$270.000 Cabe lembrar que os estoques finais dos meses foram definidos pelo departamento de compras, que o estoque final do mês anterior será o estoque inicial do mês subsequente, que as compras deverão ser pagas no mês seguinte e que o CMV foi definido como 60% da receita. Foi, então calculado quanto deverá ser comprado no período. Construindo o Orçamento das despesas e seus pagamentos, iniciando pelas despesas ocorridas no período, as quais serão utilizadas no DRE. Despesa Jul Ago Set Total Comissão (10%) R$18.000 R$35.000 R$20.000 R$73.000 Outras (4%) R$7.200 R$14.000 R$8.000 R$29.200 Campanha de marketing R$10.000 R$10.000 Aluguel, salários, etc. R$20.000 R$20.000 R$20.000 R$60.000 Depreciação R$2.000 R$2.000 R$2.000 R$6.000 Total R$47.200 R$81.000 R$50.000 R$178.200 E as despesas pagas que irão compor o fluxo de caixa, onde se constata a diferença devido à calendarização dos pagamentos, bem como pelo fato de a depreciação não influenciar diretamente o fluxo de caixa. Despesa Jul Ago Set Total Comissão (10%) R$20.000 R$18.000 R$35.000 R$73.000 Outras (4%) R$7.200 R$14.000 R$8.000 R$29.200 Campanha de marketing R$10.000 R$10.000 Orçamento Empresarial 10 Aluguel, salários, etc. R$20.000 R$20.000 R$20.000 R$60.000 Depreciação R$47.200 R$62.000 R$2.000 R$172.200 E, finalmente, o orçamento de caixa do trimestre da empresa: Lançamentos Jul Ago Set Total Caixa inicial R$8.000 R$8.000 R$8.000 + Entradas R$196.000 R$218.000 R$286.000 = Subtotal(A) R$204.000 R$226.000 R$294.000 Compras R$45.000 R$128.000 R$270.000 Imposto sobre vendas R$20.000 R$18.000 R$35.000 R$73.000 Imposto sobre lucro R$10.000 Despesas R$47.200 R$62.000 R$63.000 Subtotal pagamentos(B) R$122.200 R$208.000 R$368.000 Saldo caixa operacional(A-B) R$81.800 R$18.000 -R$74.000 Aquisição imobilizado -R$30.000 Aplicações finaceiras R$73.800 R$10.000 Subtotal decisão de investimento R$73.800 R$10.000 -R$30.000 decisão de financiamento R$112.000 Saldo final R$8.000 R$8.000 R$8.000 A decisão de investir R$73.800,00 de deveu a ser o valor necessário para manter R$8.000,00 em caixa (idem R$10.000,00). Por conseguinte, a decisão de financiar R$112.000,00 teve a mesma finalidade. No entanto, no final do trimestre, o valor do empréstimo contraído (R$112.000,00) foi integralmente pago pelas aplicações financeiras disponíveis, não gerando, portanto, incidência de juros. Por outro lado, como a empresa possuía recursos aplicados, houve rendimentos das aplicações, como mostrado a seguir. Lançamentos Jul Ago Set Total Inicial R$200.000 R$275.800 R$288.558 + Aplicações R$73.800 R$10.000 + Juros(1%) R$2.000 R$2.758 R$2.886 R$7.644 - Pagamentos R$112.000 Orçamento Empresarial 11 = Total R$275.800 R$288.558 R$179.444 Podemos, assim, elaborar a DRE projetada, a qual é mostrada a seguir. Receita R$ 730.000 (-)Impostos sobre vendas(10%) R$ 73.000 = Receita Líquida R$ 657.000 (-) CMV R$ 438.000 = Lucro Bruto R$ 219.000 (-) Despesas operacionais R$ 178.000 + Receitas financeiras R$ 7.644 (-)Despesas financeiras R$ 0 = Lucro operacional R$ 48.444 (-) Impostos sobre Lucros(20%) R$ 9.689 = Lucro Líquido R$ 38.755 Em seguida, elaboramos o Balanço Patrimonial projetado. Ativo Passivo Caixa R$8.000 Contas a pagar R$70.000 Aplicações R$179.444 Comissões R$20.000 Contas a receber R$230.000 Impostos R$29.689 Estoques R$100.000 Empréstimos R$0 Instalações fixas R$130.000 Capital próprio R$458.000 (-) Depreciação acumulada -R$31.000 Reserva de lucro R$38.755 Total R$616.444 Total R$616.444 Completamos, assim, a dinâmica das projeções do orçamento de uma empresa comercial, chegando às projeções das demonstraçõescontábeis. Como você percebeu, a geração das projeções das demonstrações contábeis não é um exercício de adivinhação, nem uma simples lista de desejos, mas sim uma atividade com razoável grau de complexidade, pautada em análises dos aspectos estratégicos, táticos e operacionais da empresa. A estrutura lógica do processo orçamentário prevê que sejam geradas previsões de demanda, de receitas, de gastos, de investimentos e financiamentos e de fluxo de caixa e cada uma das peças orçamentárias se comunica com as demais, por meio de relações de causa e efeito, Orçamento Empresarial 12 isto é, com as informações de uma peça alimentando dados para outra e assim sucessivamente, até que as estratégias da organização sejam transformadas em elementos quantitativos, monetários. A partir de tais peças, é possível, também, como último passo de tal percurso lógico, projetar os resultados finais da organização, na forma de seus demonstrativos contábeis. Desta forma, tem-se com o processo orçamentário, a possibilidade de elaborar um sofisticado instrumento de gestão, que perpassa pelas atividades de planejamento e controle empresarial. Referências COELHO, F. S.; PONTES, R. M. Orçamento e Controle. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2018. FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2017. HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2017. LOBATO, D. M.; AZEVEDO, H. M. Orçamento Empresarial. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1994. NORTON, D.; KAPLAN, R. Estratégia em Ação: Balanced Scorecard, Rio de Janeiro: Campus, 1997. Orçamento Empresarial 13 Orçamento Empresarial Orçamento Empresarial 4 Desenvolvimento do material Henrique Martins Rocha 1ª Edição Copyright © 2022, Afya. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Afya. Sumário Orçamento Empresarial 4 Para início de conversa… ................................................................................ 3 Objetivo ......................................................................................................... 3 1. Orçamento do Fluxo de Caixa .................................................................. 4 2. Orçamento de Capital: Investimento e Financiamento ................. 8 Referências ......................................................................................................... 12 Para início de conversa… Ainda que os lançamentos contábeis sejam de vital importância na gestão de qualquer organização, o que, de fato, mantém a saúde financeira dos empreendimentos é uma boa gestão do fluxo de caixa, isto é, garantir que sempre haja recursos necessários e suficientes para a manutenção das atividades do dia a dia e a capacidade de honrar compromissos diversos (pagamento de fornecedores, salários, tributos, etc.). Por exemplo, uma empresa lucrativa pode se tornar insolvente caso não disponha de recursos para garantir tais pagamentos. Assim sendo, o processo orçamentário precisa obrigatoriamente prever as entradas e saídas ao longo do exercício, de forma a estabelecer as necessidades (como a necessidade de capital de giro), bem como disponibilidades e, dessa forma, estabelecer as bases para gerenciamento do fluxo de caixa e suportar as tomadas de decisão dos gestores. Decisões sobre investimento e financiamento dependem de tais previsões. Nesse sentido, outra importante peça orçamentária é o orçamento de capital, o qual, quando alinhado com o plano estratégico da organização, identifica os investimentos a serem feitos (por exemplo, expansões, aquisições, desenvolvimento de novos produtos e serviços, etc.), bem como a origem dos recursos necessários. Objetivo Elaborar orçamentos: fluxo de caixa e capital. Orçamento Empresarial 3 1. Orçamento do Fluxo de Caixa Ainda que a geração e manutenção do lucro sejam elementos essenciais para atender os interesses de acionistas e investidores, sem os quais a continuidade de atuação das empresas e comprometida, dificuldades no fluxo de caixa (os quais podem até ser gerados pela ausência continuada de lucros, mas usualmente têm, também, outras causas) são o grande vilão nos pedidos de falência. A explicação para tal aspecto se deve ao fato de que o lucro é uma “sobra” da receita menos os custos e despesas, mas tanto a receita quanto custos e despesas não necessariamente implicam movimentação de caixa, mas, sim, entradas e saídas de ativos. Dessa forma, ‘‘ Se a empresa obtém lucro, mas está destruindo caixa, sinaliza que o lucro está impactando outras contas do ativo ou passivo. Por exemplo, se as contas a receber (ativo) aumentarem consideravelmente, significa que o caixa deixou de receber tal valor (provavelmente por existir um prazo de recebimento alto). Já a conta fornecedores (passivo) diminuir substancialmente, significa que está ocorrendo saída de caixa (provavelmente por existir um prazo de pagamento baixo). (COELHO; PONTES, 2018, p.77)’’ Por isso, o orçamento de caixa, peça orçamentária que se baseia em valores orçados nas demais peças, ganha importância como instrumento de gestão em qualquer organização. O orçamento de caixa – ou fluxo de caixa projetado consiste em uma estimativa dos recebimentos e dos pagamentos de caixa, provenientes dos níveis de atividades planejados e do uso dos recursos que foram considerados nos vários orçamentos examinados. O orçamento de caixa é um completo estudo das implicações financeiras do planejamento das saídas de natureza corrente e de capital durante o ano. (LOBATO; AZEVEDO, 1994, p.63) Lobato e Azevedo (1994), como também Coelho e Pontes (2018), listam os objetivos do orçamento de caixa: ▪ Avaliar a capacidade de gerar fluxos de caixa positivos, suficientes para honrar compromissos e financiar investimentos. ▪ Determinar a previsão dos recebimentos e desembolsos de cada período. ▪ Prever o saldo de caixa ao término de cada período considerado. ▪ Medir a taxa de conversão do lucro em caixa. ▪ Mensurar o grau de confiabilidade dos valores estimados nos orçamentos diversos do processo orçamentário (visto que o orçamento de caixa se baseia neles). ▪ Analisar o grau de dependência das dívidas de curto prazo, isto é, se o saldo de caixa estaria comprometido com o pagamento de dívidas de curto prazo, prejudicando a capacidade de pagamento de gastos operacionais e investimentos. Orçamento Empresarial 4 ▪ Servir de demonstrativo para concessão de crédito. ▪ Suportar o processo de tomada de decisão dos gestores (ex.: conceder ou não descontos). O orçamento de caixa lida com três vetores: o fluxo de caixa operacional; das decisões de investimento; e das decisões de financiamento. Neste momento, vamos discutir o primeiro e, para tanto, vamos analisar o fluxo apresentado na Figura 1. Figura 1. Capital de giro no ativo circulante. Fonte: Adaptado de Hoji (2017). 1 2 3 4 CAIXA ESTOQUE DE MATÉRIAS-PRIMAS DUPLICATAS A RECEBER ESTOQUE DE PRODUTOS ACABADOS Lucro Despesas Outros custos Como você pode observar, o caixa é utilizado para aquisição de matérias- primas, as quais são utilizadas no processo produtivo, gerando produtos e serviços. Para tanto, devem haver os gastos com mão de obra direta, bem como outros gastos fabris. Após um período de estocagem (sobre os quais incorrem gastos de movimentação e de armazenagem), há a venda dos produtos, gerando receita. No entanto, tal receita não necessariamente significa entrada imediata de caixa, o que, de fato, só ocorrerá mediante o pagamento das duplicatas/faturas. E esse é um ponto importante, pois, sendo um ciclo, os eventos não ocorrem simultaneamente; há uma defasagem entre as entradas e saídas de caixa. Tais defasagens podem ser
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