Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Disciplina: Teoria do currículo Autora: M.e Kellin Cristina Melchior Inocêncio Revisão de Conteúdos: M.e Leandra Martins Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Alexandre Kramer Morgentem Ano: 2020 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Kellin Cristina Melchior Inocêncio Teoria do currículo 1ª Edição 2020 Curitiba, PR Faculdade UNINA 3 Faculdade UNINA Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Leandra Martins Designer Instrucional Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Alexandre Kramer Morgentem Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA INOCÊNCIO, Kellin Cristina Melchior. Teoria do currículo / Kellin Cristina Melchior Inocêncio. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2020. 94 p. ISBN: 978-65-990214-4-2 1. Dinamização. 2. Organização. 3. Planejamento. Material didático da disciplina de Teoria do currículo – Faculdade UNINA, 2020. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Prefácio.......................................................................................................... 07 Aula 1 – O currículo ....................................................................................... 08 Apresentação da Aula 1 ................................................................................ 08 1.1 - Concepções e histórico do currículo ............................................... 08 1.2 - Aspectos históricos e culturais que permeiam o currículo ............... 12 1.3 - As dimensões da reflexão, da estratégia e da ação no currículo .... 14 Conclusão da aula 1 ...................................................................................... 16 Aula 2 – Caracterização e fundamentos do currículo ..................................... 17 Apresentação da aula 2 ................................................................................. 17 2.1 - Caracterização e fundamentos do currículo .................................... 17 2.2 - Como pode ser visto, vivido e caracterizado um currículo? ............. 19 2.3 - Os fundamentos curriculares .......................................................... 22 2.4 - Analisando e refletindo sobre o currículo como proposta ................ 23 Conclusão da aula 2 ...................................................................................... 26 Aula 3 – Processo metodológico da organização curricular ........................... 27 Apresentação da aula 3 ................................................................................. 27 3.1 - Refletindo sobre a organização curricular ....................................... 27 3.2 - O currículo disciplinar linear ............................................................ 30 3.3 - O currículo integrado ...................................................................... 32 3.4 - Regime seriado e regime ciclado .................................................... 33 3.5 - O Projeto Político Pedagógico na organização curricular .............. 36 Conclusão da aula 3 ...................................................................................... 38 Aula 4 – A relação entre currículo e cultura escolar ....................................... 38 Apresentação da Aula 4 ................................................................................ 38 4.1 - A cultura e a cultura escolar ............................................................ 38 4.2 - As diversas influências sobre a cultura escolar ............................... 42 4.3 - Cultura escolar e o currículo ........................................................... 43 Conclusão da aula 4 ...................................................................................... 45 Aula 5 – O currículo e a organização do trabalho pedagógico ........................ 46 Apresentação da aula 5 ................................................................................. 46 5.1 - A gestão democrática e o currículo ................................................. 46 5.2 - A sala de aula, o professor e o currículo ......................................... 49 5.3 - O currículo tradicional ..................................................................... 51 5.4 - O currículo escolanovista ............................................................... 53 6 5.5 - O currículo tecnicista ...................................................................... 55 Conclusão da aula 5 ...................................................................................... 57 Aula 6 – O currículo, a escola e algumas políticas que o embasam ............... 58 Apresentação da aula 6 ................................................................................. 58 6.1 - A escola brasileira e a equidade ..................................................... 58 6.2 - A relevância das políticas curriculares ............................................ 61 6.3 - PCN – (Parâmetros Curriculares Nacionais) ................................... 63 6.4 - RCN – (Referencial Curricular Nacional) ........................................ 66 6.5 - Uma escola sem políticas curriculares: é possível? ........................ 68 Conclusão da aula 6 ...................................................................................... 70 Aula 7 – O currículo como construção do conhecimento ............................... 71 Apresentação da aula 7 ................................................................................. 71 7.1 - Concepções e perspectivas curriculares: as opções teóricas ......... 71 7.2 - Vamos falar sobre o processo de conhecimento? ........................... 74 7.3 - Quais as relações que existem entre a construção do conhecimento e o currículo?.......................................................................... 75 Conclusão da aula 7 ...................................................................................... 78 Aula 8 – As teorias curriculares ..................................................................... 79 Apresentação da aula 8 ................................................................................. 79 8.1 - O currículo e os processos formativos: nascem as teorias .............. 79 8.2 - Teoria tradicional ............................................................................ 81 8.3 - Teoria crítica ................................................................................... 83 8.4 - Teoria pós-crítica ............................................................................ 85 Conclusão da aula 8 ...................................................................................... 87 Índice Remissivo ........................................................................................... 89 Referências ................................................................................................... 92 7 Prefácio Olá estudante, está preparado para fazermos uma viagem histórica pela educação básica brasileira e pelos principais aspectos curriculares que marcaram diversas épocas? Assim, em nossa primeira aula conheceremos situações particulares que, certamente, lhe permitirá compreender a escola que temos hoje, bem como os modelos e concepções curriculares. É importante que você percebera, caro estudante, que o tempo e algumas situações políticas e econômicas estão diretamente relacionadas às mudanças curriculares que aconteceram ao longo do tempo. Conforme vamos viajando, muito conhecimento será construindo, e, para lhe auxiliar a sanar possíveis dúvidas, sugiro que sempre consulte e explore o ambiente virtual, que, certamente, com seus recursos disponíveis, contribuirá significativamente para fazermos uma viagem perfeita. Aproveite nossos momentos e acesse as indicações e mídias disponibilizadas ao longo de nossa aula, como os vídeos, sites e artigos, que lhe permitirá a construir sólidos apontamentos. Se prepare e vamos lá! 8 Aula 1 – O currículo Apresentação da aula 1 Caro estudante, nossa primeira aula nos permitirá conceituar o currículo, afinal, será que ele tem um conceito único e imutável? É exatamente esse e outros apontamentos que permearão o nosso ponto de partida. Veja que o currículo, desde o início das possibilidades de sua conceituação, gerou e segue gerando até a atualidade diferentes conceitos. Fonte: acervo do autor (2017). 1.1 Concepções e histórico do currículo Assim, pode-se nos ater ao currículo apenas como definição de conjunto de disciplinas ou conteúdos detalhados? Ou ainda, pode-se colocar o currículo escolar como único responsável por relacionar os conteúdos aos objetivos e atividades que permeiam o processo de ensino-aprendizagem? 9 Com certeza o currículo é muito mais, do que apenas definir e selecionar uma sequência de anos e modalidades de ensino com os conteúdos específicos. O currículo é essencial e interfere em diversos segmentos e aspectos da educação como um todo. Caro estudante, observe a imagem abaixo para criarmos uma ideia da importância do currículo para a escola: A importância do currículo para a educação Fonte: elaborado pelo autor (2017). Agora que já começamos a compreender a importância do currículo, vamos seguir analisando sobre as concepções do termo currículo, vamos nos deparar com diversos significados, afinal, para conceitua-lo necessariamente estaremos atrelados a uma ou outra teoria, as quais diferem entre as possibilidades e funções. As discussões acerca do currículo apontam uma gradativa, porém, significativa relevância e, passaram a ocupar cada vez mais o espaço no campo das pesquisas em educação no Brasil. O autor Demerval Saviani é um grande estudioso das questões que envolve o currículo e a escola. Assim, leia o que ele disse sobre a dificuldade em conceituar o currículo que, seguramente, está relacionada a sua complexidade e delimitação: Currículo Pedagógico Aprendizagem Ensino Social Emocional Psicológico Afetivo 10 Demerval Saviani Fonte: acervo do autor (2017). Palavras e expressões como currículo, grade curricular, atividades curriculares, materiais de estudo ou matérias de ensino, disciplinas escolares, componentes curriculares, programas fazem parte da rotina de quem atua com educação escolar. Seu emprego em textos, documentos diversos e no discurso de educadores, nas mais diferentes situações, parece algo tão “natural” que raramente as pessoas se dão conta da carga histórica e conceitual que cada termo comporta. No entanto, são notórias as mudanças no conjunto das matérias que vêm compondo os currículos dos níveis, graus e modalidades de ensino, na sua distribuição pelas séries, na sua carga horária, nos conteúdos e métodos prescritos em seus programas. Mudam também as concepções, e isso nem sempre é tão perceptível (SAVIANI, 2005, p. 05). Acerca do currículo, pode-se referenciar aos primeiros registros sobre a concepção curricular da década de 1918, com a obra O Currículo, de Bobbitt (2004). Assim, ao escolhermos uma única conceituação ao termo currículo, necessariamente define-se suas especificidades e funções próprias, relacionadas ao conceito escolhido e, dessa maneira, acabamos recaindo nas palavras de Saviani (2005), no aspecto do currículo se relacionar a diversos contextos da escola com a cultura da época. 11 Seguindo nesse viés, surge Rué (1996), que faz uma relação simplificada entre a história do currículo, a história da escola e as questões histórico-sociais, conforme o material abaixo: Currículo e campo social O campo do currículo é um campo social enraizado em valores, propósitos, crenças e teorias sociais. Fundamenta-se nos conhecimentos acadêmicos e nas ciências da educação. Fundamenta-se, também, nas atuações pessoais dos docentes em uma diversidade de situações. Currículo e ação educativa A atuação educativa, compreendida em um sentido amplo, realiza-se por meio de experiências e atividades. Visam o desenvolvimento pessoal e coletivo dos sujeitos. Promovem desenvolver o sujeito também no âmbito da diferenciação e projeção social. Currículo e prática escolar No campo do currículo e na prática escolar, conjugam-se interesses e realidades diferentes. Esse processo se dá por meio da socialização, integração e de classificação e separação. Fonte: elaborado pelo autor (2017), embasada na obra de Eyng (2010), adaptado pelo DI (2019). Sendo assim, consideramos o currículo como um processo educativo relacionado ao projeto pedagógico, sendo proposto nesse conjunto da trajetória histórica, o âmbito social e a dinâmica da escola, além das questões relacionadas às disciplinas e conteúdo. Dessa maneira, o currículo se refere aos caminhos que percorre a formação integral dos alunos, sendo observado e tomado como parâmetro o contexto histórico e social, ou seja, aquele que se está inserido e, naturalmente, as práticas educativas do cotidiano escolar mediante as quais se expressa, considerando o projeto pensado e escrito, denominado currículo proposto e aquele, igualmente importante, denominado de prática, de projeto aplicado, avaliado e pensado, levando assim, o currículo a ser aquele que contempla o proposto e a prática, possuindo diferentes e específicos significados, desempenhando funções diversificadas, conforme o contexto e histórico social. 12 1.2 Aspectos históricos e culturais que permeiam o currículo Como já foi falado, o currículo temuma significância imensa na educação brasileira, sendo considerado uma diretriz fundamental para que ocorra o trabalho e a coleta de resultados pela busca por uma educação de qualidade, porém, o que é perceptível, é que esse currículo não chegou a contemporaneidade pronto e acabado, ele possui um caminho histórico percorrido e transformações culturais, sociais e políticas, que o permearam ao longo de décadas. Nesse pensamento, o currículo não pode ser visto pura e simplesmente como um apanhado de conteúdo a ser trabalhado nos tempos e espaços escolares, com normas e regras pré-estabelecidas tanto ao docente quanto à comunidade escolar, direcionando somente como será a escola e as questões conteudistas. O currículo e todo o seu processo histórico vai muito além desse cenário, ele é uma construção social, histórica e cultural. Saiba mais Afinal, o que pode-se entender por comunidade escolar? Comunidade escolar é o conjunto das pessoas envolvidas diretamente no processo educativo da escola e responsáveis pelo seu êxito; é o corpo social da escola composta por docentes, discentes, outros profissionais da escola e pais ou responsáveis pelos alunos, disponível no link: http://www.fundacaobunge.org.br/biblioteca-bunge/ glossario/ Isso significa que o currículo e toda a sua estrutura é um reflexo dos momentos vivenciados pela sociedade, englobando diversos aspectos. Suas transformações ao longo do tempo se deram exatamente nesse contexto, proporcionando ao docente um saber muito mais do que técnico, é preciso saber mais do que os conteúdos que são de cunho obrigatório, mas entrelaçar o currículo como um todo, em um viés que apresente significado com sua própria orientação curricular. Ao decorrer do processo histórico que cerca a educação, diferentes maneiras de pensar o currículo e fazer a escola foram surgindo, e, consequentemente, novas concepções e teorias pedagógicas. As concepções http://www.fundacaobunge.org.br/biblioteca-bunge/glossario/ http://www.fundacaobunge.org.br/biblioteca-bunge/glossario/ 13 pedagógicas determinaram por um período específico, toda a educação básica e suas particularidades, envolvendo a relação professor e aluno, a forma de ensinar e aprender, o processo avaliativo e outros. Dessa maneira, o currículo torna-se mutável e passível de transformações, não sendo fixo, ele é práxis e apresenta uma função social e cultural significativa para a educação e, sobretudo, ao educando e sua formação totalitária, não apenas ao processo de escolarização. Nesse viés, as questões que envolvem o processo histórico e cultural se dão pelas funções do currículo, por meio de projetos e socializações presentes nos próprios conteúdos, pelas concepções que o cercam e suas práticas educativas. A história presente nas próprias concepções curriculares engloba diversos momentos significativos e norteadores, que apresentaram como cunho principal a adequação da gestão curricular conforme as necessidades econômicas, sociais e culturais da época, bem como a compreensão de sua atuação e a proposta de uma escola igualitária. Pelos motivos acima descritos, pode-se compreender facilmente esse processo histórico que há no currículo que permeia a educação brasileira, desde o início do processo de escolarização, com os próprios Jesuítas, caminhando historicamente até a contemporaneidade. Reflita Acerca de currículos e concepções que anteriormente direcionaram a escola, é possível que retornem no processo histórico, social e político que vivenciamos nesse momento? Vamos nos recordar do currículo e suas contribuições quando a necessidade de mão de obra foi colocada em questão, ou ainda, no período em que apenas o professor era visto como o detentor do conhecimento e o aluno era apenas formado no âmbito da obediência e da reprodução. São apontamentos que percebemos o quanto foram significativos para a época, inclusive no cenário político e que determinaram muitas funções para a escola e todos aqueles que faziam a escola. 14 Seguindo essa vertente, o processo histórico curricular está também diretamente relacionado a questão formadoras, tanto dos educandos quanto dos docentes. Conforme as alterações históricas e sociais aconteciam, o professor também se modificava. Tais alterações eram realizadas desde a sua formação inicial até as suas atribuições e metodologias. O currículo e seus processos históricos, envolvendo as questões culturais, sociais, econômicas e políticas, ditaram e construíram a educação brasileira ao longo de décadas, deixando como herança a responsabilidade de trabalhar em prol de uma significativa educação, permeando as leis que direcionam todo o processo educacional brasileiro. 1.3 As dimensões da reflexão, da estratégia e da ação no currículo Ao pensarmos em currículo na amplitude de suas estratégias e de suas concepções, é relevante incluir três aspectos: reflexão, estratégia e ação. Segundo Torre (1993), tais conceitos estão divididos a fim de contemplar a organização e a dinamização curricular, incluindo a ideia de plano, processo e ação, subdividindo-os da seguinte maneira: Reflexão/Planejamento Estratégia/Processo Ação O conceito se orienta em uma dimensão reflexiva, enfatizando teorias, fontes, funções e conceitualização. Refere-se a elementos estratégicos e técnico- processuais, envolve os componentes curriculares, níveis, modalidades ou organização. Apresenta um caráter operativo, como a implementação, tipos de currículo, aspectos especiais e diferenciais e adaptações curriculares. Organização e dinamização curricular Fonte: elaborado pelo autor (2017), embasada na obra de Eyng (2010), adaptado pelo DI (2019). Dessa maneira, pode-se perceber que o currículo ocupa as três dimensões descritas acima, diferenciando suas concepções e sendo composto pelo planejamento, pelo processo e pela ação. Assim, pensando nessa estruturação do currículo, há pontos distintos a serem conhecidos: ➢ Conteúdos curriculares; ➢ Proposta pedagógica; 15 ➢ Modalidades curriculares; ➢ Modelos curriculares; ➢ Inovação curricular; ➢ Níveis de concretização. Importante Para Sacristán (2000, p. 15), “o currículo é uma prática na qual se estabelece diálogo, por assim dizer, entre agentes sociais, elementos técnicos, alunos que reagem frente a ele, professores que o modelam”. O próprio termo concepção curricular refere-se à maneira de entender ou conceber o currículo em si, ou seja, a análise referente aos fundamentos epistemológicos, ciência/conhecimento e aos fundamentos ideológicos, ideia humana e percepção de mundo. Nesse viés, o currículo se apoia em abordagens tecnológicas, psicológicas, antropológicas e sociológicas. Os conteúdos curriculares diretamente se relacionam aos conhecimentos, aos elementos da cultura que foram socialmente organizados, como foi determinado as competências, habilidades, atitudes e valores. A proposta curricular, também denominada por proposta pedagógica, é um plano que tem como objetivo descrever as ações didáticas que serão realizadas. Assim como demais planejamentos, ela é flexível sendo passível a alterações. É importante considerar alguns aspectos, tais como os conteúdos, métodos e avaliação, entre outros. As modalidades curriculares compõem outro aspecto fundamental do currículo. Esse termo é utilizado para indicar as possíveis diferenças em relação ao currículo de uma modalidade de ensino, diferenciando-as e inserindo as especificidades de cada uma. Nela abrangem os instrumentos pedagógicos ou estratégias reflexivo aplicativas destinadas a melhorar ou dar conta das atividades formativas que atendam a diversidade. Os modelos curriculares se diferenciam das modalidades curriculares, pois, quando remetemos ao modelo de um currículo, estamos pensando em linhas e paradigmas que são adotadospela escola. Uma escola pode escolher entre uma vertente tradicional de ensino, escolanovista, tecnicista, crítica ou pós- 16 crítica e, essa escolha, com certeza, interfere no modelo curricular de ensino, tanto no que tange sua proposta quanto sua aplicação. O termo denominado inovação curricular é fundamental para a construção do currículo, pois nele algumas alterações significativas podem acontecer. É nela que alterações de práticas de currículo acontecem, sempre com o intuito de melhoria da qualidade de ensino. Os níveis de concretização curricular envolvem aspectos relevantes que atuam em diferentes esferas administrativas. Pode-se considerar três níveis de concretização, sendo o primeiro, aquele que envolve a União, Município e Estado, ou seja, é o primeiro nível de concretização e regido pelas políticas curriculares, pelos parâmetros e diretrizes que são determinadas para cada modalidade de ensino. O segundo nível relaciona-se ao Projeto Político Pedagógico e sua construção, enquanto o terceiro e último nível de concretização corresponde à sala em que são desenvolvidos os planos e projetos de ensino-aprendizagem. Saiba mais Para uma melhor compreensão das concepções de currículo e políticas curriculares, acesse ao vídeo Política Educacional – O direito de aprender (Mário Sérgio Cortela), disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=P5APS WWOxfo Conclusão da aula 1 Bem estudante, estamos chegando ao final dessa nossa primeira aula e pode-se perceber que muitos termos são utilizados ao se remeter ao currículo, a fim de gerar a reflexão, a estratégia e a ação, sendo todos imprescindíveis a fim de, pelo conhecimento, gerar a melhoria da qualidade da educação. Essa aula nos permitiu conceituar o currículo, afinal, ele tem um conceito único e imutável. Foi visto o currículo, desde o início das possibilidades de sua conceituação, até os dias atuais, gerando diferentes conceitos. 17 Atividade de aprendizagem Prezado estudante, nesse momento é importante que você reflita sobre os principais pontos abordados em nossa aula e, para fixação, sugiro que confira em uma escola que você tenha acesso, como ocorre a relação teoria e prática entre o currículo e a escola. Depois transcreva os principais apontamentos relacionando-os com nossos aprendizados. Aula 2 – Caracterização e fundamentos do currículo Apresentação da aula 2 Olá aluno, nesta aula vamos refletir um pouco mais sobre o currículo escolar, suas características e fundamentos. Inicialmente é importante que você perceba que a escola, seguramente, passou por transformações significativas ao longo de seu processo histórico, político e social, e que está em constante modificação que, naturalmente, envolveram o currículo em um passado não tão distante e envolverão o currículo escolar em todas as suas etapas de alterações e melhorias da instituição escolar. 2.1 Caracterização e fundamentos do currículo Para uma melhor compreensão dessa realidade, vamos regressar na história e perceber que as funções e características escolares mudaram, e muito, de décadas atrás, até a contemporaneidade. Anteriormente não existia um conflito ou reflexão sobre o que deveria ser ensinado nas escolas, ou melhor, em determinados períodos, embasados em uma educação tradicional e bancária, não se refletia sobre o que seria “transmitido” aos alunos. 18 Paulo Freire Fonte: https://envolverde.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/paulo-freire-padago go-educador-escritor-pensador-educacao.jpg A escola então assumia um papel apenas de transmissora do conhecimento científico e não era voltada para alguns aspectos que envolviam muito mais do que o saber, como a formação integral do sujeito que, certamente, relacionariam os aspectos sociais, psicológicos, emocionais, afetivos e outros, além dos conteudistas. Com o passar do tempo, a sociedade se transformou e passou a exigir da escola muito mais do que uma formação de conteúdos e saberes dos livros didáticos, o que gerou, certamente, algumas transformações muito significativas na função escolar, que passou não somente a trabalhar conteúdos, mas também à formação do aluno como um todo, buscando formar um cidadão democrático, autônomo e crítico. Curiosidade Afinal, o que significa a educação bancária? Paulo Freire define como "bancário" a pedagogia burguesa, comparando os educandos a meros depositários de uma bagagem de conhecimentos que deve ser assimilada sem discussão. Essa modalidade de educação teria como objetivo não equalizar os conhecimentos entre educador e educando, mas sim "manter a divisão entre os que sabem e os que não sabem, entre os oprimidos e os opressores". Ilustrando esse conceito, pode-se compreender a educação bancária pela seguinte imagem: 19 Fonte: elaborado pelo autor (2017). Reflita Você conseguiu compreender e refletir acerca dessa transformação? Afinal, a escola assumiu um posicionamento que antes era considerado somente da família. Então pode-se perguntar: “e o currículo nesse cenário, quais são suas características e fundamentos”? Essa é uma ótima reflexão que, seguramente, faremos e esclareceremos ao longo de nossa viagem pela temática de nossa aula de hoje. Assim, pensando no cenário de agregar funções sociais e de formação integral para a escola, o currículo, suas pesquisas e discussões, estão relacionadas a um suporte essencial para a escola e para a comunidade escolar, como os docentes, coordenadores e diretores pedagógicos. Assim, tudo o que ocorre dentro e fora dos muros escolares passam a ser organizados para que sejam utilizadas e relacionadas as questões de formação integral do aluno e de maneira contínua e significativa a esse processo de ensino-aprendizagem. 2.2 Como pode ser visto, vivido e caracterizado um currículo? Refletindo sobre os aspectos de características do currículo, ele não pode ser entendido e nem conceituado como uma segregação de áreas e de conhecimentos específicos, envolvendo metodologias e conteúdo. Assim, Educação Bancária Transmissão de saber Falta de autonomia do educando Professor era o detentor do conhecimento Recepção de conteúdos transferidos 20 precisamos nos atentar a um currículo que englobe de maneira coletiva os saberes e todos os aspectos que envolvem a formação totalitária do educando. Dessa maneira, vamos sempre nos atentar a um currículo que aborde uma cultura embasada na realidade, que surge de uma série de processos e que não se limita e, tão pouco, que seja imutável, distante da realidade da comunidade escolar, sobretudo do educando e de suas experiências. Os aspectos que envolvem a exploração dessa segunda aula são a relação entre o currículo e a escola atual. Nessa perspectiva, a escola deverá promover situações, as quais permitam que esse currículo tão pensado e estruturado realmente aconteça na prática, promovendo um ambiente e uma educação de qualidade e prazerosa, levando a escola a ser vista não somente como um local de educação formal, mas também de relações sociais, estabelecendo vínculos afetivos sólidos e permitindo ao educando dialogar, compartilhar, retribuir e construir relações significativas que vão além dos conteúdos propostos em sala de aula, e, ao professor, a reflexão e alteração de suas práticas metodológicas sempre que necessário. Assim caro aluno, vamos refletir sobre a caracterização e função curricular, colocando-o como vimos em nossa primeira aula, como um instrumento essencial para a construção de saberes, de identidade dos alunos e da própria instituição escolar, bem como da formação que se deseja construir. Dessa maneira, pode-se afirmar que o currículo se torna a base de toda a escola e de todo oprocesso educacional, envolvendo as experiências de vida, as situações empíricas e as vivências pedagógicas, sociais e culturais. E assim, estudante, você deve refletir sobre a “neutralidade” curricular, afinal, se ele é envolto por experiências de vida pedagógica, levando em consideração situações que vão além dos muros escolares, poderá então ser caracterizado como neutro ou até mesmo passivo? Acredito que tenha respondido que “jamais”, pois o currículo representa força, autonomia, legitimidade, ideologias, sistemas sociais, políticos e econômicos que envolvem não somente o espaço da escola, mas da comunidade, do bairro e até do município que está inserida. Uma característica significativa do currículo e que se entrelaçará com a sua concepção, vista em nossa primeira aula, é acerca da relevância que ele apresenta frente ao trabalho docente. É um orientador de todo o caminho a ser 21 percorrido ao longo da formação do sujeito, bem como, do direcionamento do professor em suas atividades e práticas pedagógicas, porém, ele não deve assumir uma caracterização imutável, mas sim, ser visto como um recurso flexível que busque atender as demandas tanto da escola quanto do professor e também dos educandos. Agora, vamos conhecer, na temática da caracterização curricular, três modalidades fundamentais que se inter-relacionam com o currículo escolar. O primeiro dele é o currículo formal, seguido pelo currículo oculto e finalizando, o currículo nulo. Acompanhe as tabelas explicativas que abordam as principais características de cada modalidade: Currículo Formal Conjunto dos conteúdos culturais explicitamente declarados nas diretrizes curriculares, estabelecido pelos sistemas de ensino, expresso em diretrizes curriculares, objetivos e conteúdo das áreas ou disciplinas de estudos; encontrado nas leis, e nos parâmetros. Currículo Oculto Conjunto de situações escolares não publicamente declaradas, isto é, aquilo que os alunos aprendem no cotidiano escolar, mas que não é ensinado pela escola. Currículo Nulo Currículo que a escola não ensina. Trata-se da ausência da oportunidade de aprender. Modalidades curriculares Fonte: elaborado pelo autor (2017), adaptado pelo DI (2019). No processo de compreensão das particularidades de cada modalidade é importante ressaltar alguns pontos fundamentais. Veja, o currículo formal é exatamente aquele determinado pelas legislações educacionais brasileiras, ou seja, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a nossa LDBEN nº 9394/1996, por nossas Diretrizes Curriculares, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, pelos Referenciais Curriculares Nacionais e outras políticas e normativas curriculares de nossa educação. Em sua maioria, elas são determinações fixas que devem ser seguidas, já outros, apenas orientam e sugerem à escola o que podem contemplar no âmbito curricular para auxiliar na formação totalitária do educando. Com a modalidade do currículo formal, a 22 cultura é sempre levada em consideração, além de direcionar os principais e necessários assuntos e conteúdo a serem abordados, conforme a realidade e a atualidade, realizando, certamente, as decodificações e formalizações didáticas correspondentes. Já o currículo oculto, é exatamente aquele que está entrelaçado de maneira muito significativa com as experiências empíricas do aluno e que, certamente, contribuem para a sua formação enquanto cidadão ativo, crítico e reflexivo. Pode-se nos ater nessa modalidade curricular aos temas transversais, pois são situações que ocorrem em ambiente escolar, porém, não fazem parte exatamente de uma disciplina ou conteúdo explícito, porém, estão presentes na formação totalitária do aluno. As suposições em sala de aula não podem ser planejadas, pelo próprio fato de serem silenciosas e incidentais. Assim, para se tratar de algum tema específico e, seguramente, relevante, é preciso que alguma situação em especial aconteça, justamente para que o docente levante o ocorrido, o tema e as aprendizagens que se relacionam a ele. Finalizando as modalidades, vamos agora pensar no currículo nulo, que é exatamente a ausência de oportunidades para aprender determinadas situações que fazem parte da formação integral do cidadão. Claro, essa modalidade curricular não substitui um docente jamais, mas é como um auxílio em relação às regras e às necessidades da escola e da comunidade como um todo. O currículo nulo é relativo à todas as atividades relacionadas ao aprendizado do aluno, sejam elas científicas ou sociais. 2.3 Os fundamentos curriculares Seguindo nossa viagem pelos principais aportes que embasam o currículo e compreendendo algumas particularidades que envolvem os fundamentos curriculares. Você sabe exatamente o que esse termo significa? Veja, a palavra fundamento se relaciona exatamente a alicerce e, em nossos estudos, torna-se precisamente a base que sustenta um currículo. Então você deve estar se perguntando: “O que exatamente embasa um currículo”? Na verdade, um currículo é formado por um conjunto de ideias e aspectos, além das questões políticas e econômicas vigente. 23 Ao pensarmos em currículo no sentido dessa junção de aspectos e valores, ele assume, necessariamente, um âmbito articulado e com atividades que realmente são direcionadas, intencionadas e interdisciplinares, abordando, seguramente, questões como a visão do homem e de mundo, a sociedade, a cultura, trabalho e educação, atreladas às práticas pedagógicas que permitam construir e reconstruir as bases da formação integral do aluno. E, ressalto a você aluno que essa formação, essencialmente, deve permitir que, em fase adulta, o educando se coloque como capaz de contribuir social e economicamente para o desenvolvimento de sua sociedade. Seguindo esse pensamento, pode-se então nos permitir compreender o currículo, voltado para a educação básica brasileira e seus fundamentos, como um apanhado de valores e questões conteudistas que relacionam a teoria e a prática, a fim de auxiliar a escola e a comunidade escolar na promoção da formação global do educando, envolvendo aspectos sociais, culturais, físicos, emocionais, psicológicos, além, é claro, de seu próprio processo de escolarização e de ensino-aprendizagem. Assim, certamente, o currículo deverá ser embasado em questões que reafirmem a necessidade de uma implementação que permita intercruzar as áreas de conhecimento e, não somente, de conhecimentos fragmentados, afinal, como auxiliar a formação totalitária do sujeito com um currículo que valoriza um saber repartido? Isso nos parece contraditório e, até certo ponto, realmente o é. Ao contemplarmos um currículo embasado em fundamentos que nos permitam interagir e articular entre os diferentes saberes científicos, permitimos aos nossos alunos uma compreensão significativa da realidade que nos cerca e, naturalmente, a estabelecermos positivamente os processos que envolvem a construção dos saberes. 2.4 Analisando e refletindo sobre o currículo como proposta Seguindo, percebemos que o currículo envolve diversos aspectos para então definir sua conceituação e suas características e fundamentos. Para nos aprofundarmos em nossa temática, exploraremos o currículo como proposta, conteúdo, planificação e realidade interativa. Assim, é importante entendermos 24 que as concepções e características que apresentam o currículo como proposta, se refere diretamente ao processo de educação dos alunos. Para Rasco e Garcia (1994, p. 18), esse aspecto se diferencia por questões bastante singulares, pois o currículo como proposta é aquele que está diretamente ligado à educação dos educandos, que “adquire, inevitavelmente, um significado prescritivo. Currículo é, então, o que deve ser desenvolvido nas escolas”, ou seja, aqui os autores se referem ao planejamento que organizatodos os processos escolares de ensino-aprendizagem. Se tratando do currículo como proposta, deparamo-nos com três aspectos: ➢ O currículo como conteúdo; ➢ O currículo como planificação; ➢ O currículo como realidade interativa. O currículo como conteúdo, apesar das variações, fica então definido como aquele que se encontra como uma sequência de unidades de conteúdo e aquele capaz de promover um conjunto de resultados de aprendizagem, sempre apoiadas em atividades anteriores, como uma sequência de anos e aprendizagens. Nessa forma curricular, Rasco e Garcia afirmam que o currículo “é uma questão de definir a sequência de atividades apoiadas e pré-requisitos desenvolvidos nas atividades anteriores”. Importante Para Sacristán (2000), o currículo “é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explicita do projeto de socialização cultural nas escolas”. Essa concepção de currículo nos remete a uma prática extremamente antiga que relaciona a prática pedagógica ao cumprimento de conteúdos obrigatórios, levando o professor a uma preocupação excessiva de cumprir com a transferência dos conteúdos, como foi visto acerca da educação bancária, 25 levando o próprio currículo à conceituação que se refere ao conjunto de conteúdos organizados em uma sequência gradativa de aprendizagem. Sobretudo, o currículo abordado como conjunto de conteúdo, também possui a vertente de ressaltar o papel da escola, quando atribuímos a ela a função de educação formal, atingindo os objetivos referente aos conteúdos propostos em currículo. O currículo como planificação é muito próximo ao currículo como conteúdo. O termo planificação significa planejar, assim, pode-se entender o currículo como planificação, aquele que indica e define os marcos das ações educativas de uma escola. Dessa forma, ele apresenta não somente conteúdos, o que precisa ser aprendido e ensinado, mas também os materiais e métodos de ensino. Nessa forma de currículo é preciso ficar atento para não os deixar apenas no planejamento, seguindo os marcos definidos, porém, apenas na intenção de colocá-lo em prática, é preciso ir além, se faz necessário que o currículo apresente intenções justificadas que sirvam de referenciais no detalhamento dos planos que os professores desenvolverão e que devem, por sua vez, caminhar conforme a realidade educacional que será desenvolvido. O currículo como realidade interativa aproxima-se da concepção prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, lei nº 9394/96 da elaboração participativa do projeto pedagógico curricular da escola, ou seja, nesta perspectiva de currículo é uma construção realizada na interação entre professores, alunos e de todos os que participam, direta ou indiretamente da vida da escola. Nesse viés, Rasco e Garcia apontam que o currículo com a proposta de realidade interativa, assemelha-se, fundamentalmente, na relação dinâmica entre o planejamento da escola, da aula e as considerações das divergências ou convergências existentes entre o currículo pensado e aquele realmente colocado em prática. Dessa maneira, o professor assume um papel principal, ele é visto como um agente curricular, é ele que, com sua formação, compreende, planeja e adequa a gestão ao currículo. É válido ressaltar que os autores Rasco e Garcia (1996, p. 27), dentro das concepções, caracterização e fundamentos curriculares descritas acima, apresentam como o termo “representação” aquilo que “representamos o mundo, compreendê-lo e interpretá-lo.” Já a ação, refere-se à “atuação que temos sobre 26 o próprio currículo, para muda-lo e transforma-lo.” Mediante a explanação das concepções curriculares, é importante percebermos que voltamos ao que Saviani nos aponta, de que não há um currículo certo ou uma definição engessada. Precisamos observar o contexto e qual a melhor representação e ação educativa deverá ser validada. Saiba mais Saviani é um grande estudioso sobre o currículo e suas particularidades voltadas para a educação formal. Para que se compreenda sobre o cenário e pensamentos do autor, bem como as concepções de currículo e políticas curriculares, acesse ao vídeo de Saviani, que trata da temática das políticas educacionais brasileiras, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=uhomL5IUoFk Conclusão da aula 2 Nessa perspectiva caro estudante, em nossa segunda parte dessa incrível viagem, nos aprofundamos significativamente nas particularidades que envolvem o currículo, conhecendo termos específicos e necessários para a compreensão de diversos aspectos que envolvem nossa disciplina. Conhecer um pouco mais da história do currículo, bem como sua caracterização e seus fundamentos contribuíram para avançarmos ainda mais em nossa temática e na construção de nosso conhecimento, levando a compreender a relevância da relação estabelecida entre a teoria e a prática, entre os saberes diversos e o processo de ensino-aprendizagem, bem como entre as metodologias pedagógicas e os recursos didático-pedagógicos e, certamente, no trinômio sólido que é composto pela escola, comunidade escolar e o currículo, a fim de contemplar uma educação básica de qualidade e integral. Atividade de aprendizagem Gostaria que você, caro estudante, após assistir ao vídeo de Saviani, escreva uma resenha apontando os principais conhecimentos solidificados por meio do vídeo. Vale a pena conferir e agregar mais saberes ao nosso conhecimento acerca da aula de hoje! Posteriormente, sugiro que retorne no início de nossa aula para refazer a leitura, de fato, essa ação lhe auxiliará ainda mais nas compreensões acerca do currículo e seu processo histórico. 27 Aula 3 – Processo metodológico da organização curricular Apresentação da aula 3 Olá aluno, vamos refletir acerca da organização curricular? Perceba, para iniciarmos vamos pensar na própria expressão: “organização curricular”, o que lhe vem à mente? Possivelmente uma organização de conteúdo, correto? Mas será que organizar um currículo é somente pensar e separar o que será ensinado e em qual ano ou série determinados conteúdos devem aparecer, sendo de cunho obrigatório? A prática, o planejamento, as atividades pedagógicas e o direcionamento do professor, fazem parte da organização curricular? Com certeza, afirmamos que organizar um currículo vai muito além desse pensamento e dessa ação. Organiza-lo é pensar na escola e na educação como um todo, ampliando os horizontes e adentrando os muros escolares, porém, não nos prendendo apenas em questões que envolvem a sala de aula, é preciso ir além, pensar no aluno, na educação com qualidade e direitos, na escola, na comunidade escolar e seus entornos. 3.1 Refletindo sobre a organização curricular Nessa perspectiva, ao referirmos a organização curricular, precisa-se, inicialmente, recorrer à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) que apresenta alguns apontamentos acerca da organização curricular. Ressalto que o currículo é o centro da escola e da educação, tornando-se um ponto relevante para a sua organização, devendo ser refletido e planejado, pensando na realidade da escola e de sua comunidade escolar, a fim de, juntamente com a legislação e esferas de governo, garantir uma educação de qualidade, considerando que a educação é um direito inalienável de todos os cidadãos, sendo essa condição nata para o exercício dos direitos humanos, sociais, políticos e econômicos. O currículo escolar e sua organização permeiam o ambiente escolar e interferem em significativos processos e procedimentos que envolvem o dia a dia da escola e da comunidade escolar. A organização curricular deve estar voltada ao sistema de ensino, a concepção adotadapela escola o que, 28 naturalmente, já envolve aspectos específicos, como o perfil socioeconômico, a localização, a cultura regional entre outros, que contemplem toda a dimensão da construção das competências e habilidades que envolvem o processo de ensino- aprendizagem compreendido na educação básica. Assim, voltamos ao estudioso Saviani, que apresenta a organização curricular, também conhecida como grade curricular, ficando definida da seguinte maneira: Organização curricular O conjunto de atividades desenvolvidas pela escola, na distribuição das disciplinas/áreas de estudo (as matérias ou componentes curriculares), por série, grau, nível, modalidade de ensino e respectiva carga horária, aquilo que se convencionou chamar de “grade curricular. Compreende também os programas, que dispõem os conteúdos básicos de cada componente e as indicações metodológicas para seu desenvolvimento. A organização curricular supõe a organização do trabalho pedagógico. Isso quer dizer que o saber escolar, organizado e disposto especificamente para fins de ensino aprendizagem, compreende não só aspectos ligados à seleção dos conteúdos, mas também os referentes a métodos, procedimentos, técnicas, recursos empregados na educação escolar. Consubstancia-se, pois, tanto no currículo quanto na didática. Organização Curricular segundo Saviani Fonte: elaborado pelo autor (2017), adaptado pelo DI (2019). Nesse viés, é perceptível a importância da organização curricular, ela está diretamente ligada a qualidade de ensino, assim, as diretrizes curriculares apontam para um planejamento e desenvolvimento do currículo que supere a fragmentação de disciplinas, enaltecendo a articulação dos conhecimentos. O currículo e sua organização, além de contemplar os aspectos descritos acima, precisam inserir o educando na sociedade da qual faz parte, tornando-o um cidadão crítico e conhecedor de seus direitos e deveres e, para atingir esse fim, a escola que possui sua consciência social, deve inserir na organização curricular aspectos que gerem a base nacional comum e os temas transversais, comprometendo-se com a cidadania e a formação integral do sujeito. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) apresentam alguns aspectos 29 também norteadores que auxiliam na organização curricular. Vamos ver esses parâmetros na tabela abaixo: OS PCNS E ASPECTOS TAMBÉM NORTEADORES NA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR Respeito aos direitos humanos e exclusão de qualquer tipo de discriminação, nas relações interpessoais, públicas e privadas de igualdade de direitos, de forma a garantir a equidade em todos os níveis Participação como elemento fundamental à democracia Corresponsabilidade pela vida social como compromisso individual e coletivo A inclusão de temas socioculturais no currículo transcende o âmbito das diversas disciplinas e corresponde aos Temas Transversais, preconizados pelos PCNs para o Ensino fundamental e que se caracterizam por: Urgência social Abrangência nacional Possibilidade de ensino- aprendizagem Favorecimento na compreensão da realidade social Na forma de: Ética, diversidade cultural, meio- ambiente, saúde e orientação sexual Trabalho e consumo Aspectos norteadores para a organização curricular Fonte: elaborado pelo autor (2017), adaptado pelo DI (2019). Embasados na LDB 9394/96 e nos PCNS, é perceptível a relevância da conscientização ao construir a organização curricular de uma escola. A escola vai além de questões conteudistas, ela envolve aspectos da formação do educando que devem, obrigatoriamente, contemplar o processo de ensino- aprendizagem, juntamente com a dialogicidade e com os saberes interdisciplinares. Vocabulário Dialogicidade: característica do que é dialógico, dialogal, daquilo que se efetua por meio do diálogo, de uma interação comunicativa, da conversa. Qualidade do que propõe acordo ou se efetiva por meio de um acordo: a dialogicidade entre nações conflitantes. 30 3.2 O currículo disciplinar linear Seguindo em nossa viagem pelos estudos acerca do currículo e de suas particularidades, vamos adentrar em uma temática extremamente significativa em todo esse processo. Conforme acompanhamos em aula anterior, a discussão acerca do currículo e seus modelos não é algo recente, sendo muitas vezes, o centro de intensas discussões, tanto no âmbito social e educacional, quanto no cenário político. Dessa maneira, ao refletir sobre a organização curricular, deve- se ter em mente os aspectos que permeiam o currículo linear, também denominado como disciplinar. Reflita Mas, afinal, do que se trata essa forma de currículo? Quais suas finalidades e especificidades? Veja, o currículo disciplinar é aquele que atende à demanda das escolas na contemporaneidade e, a princípio, esse permanecerá em nossa educação brasileira por tempo indeterminado. Pensando em uma mudança significativa, envolvendo a alteração da espécie de currículo adotada, traria, sem dúvidas, intensas modificações, inclusive na prática pedagógica do professor. Importante O currículo está diretamente relacionado à concepção teórica que o fundamenta, assim, conforme a teoria, um estilo específico de currículo. O currículo disciplinar relaciona-se com as teorias reprodutoras, ou seja, as conservadoras e tradicionais. Pensando no próprio nome do currículo: “disciplinar”, pode-se buscar seu significado no latim, que indica à palavra disciplina, como doutrina e instrução a um pessoal, englobando os aspectos morais, artísticos e acadêmicos/escolares. Seguindo pela busca da etimologia da palavra, a disciplina escolar também pode ser vista como uma mera obrigação imposta aos educadores no âmbito conteudista, ou seja, o conteúdo que o professor precisa transferir ao seu aluno e esse, por sua vez, precisa absorve-lo e memoriza-lo. 31 Como uma de suas principais características, pode-se relacionar esse currículo a uma linha de montagem, como um sistema de produção, sendo bastante objetivo e direcionado, não há o que pode-se classificar como aprofundamento, levando as disciplinas que contemplam cada ano escolar, a seguir uma ordem e uma sequência, o que, em grande maioria, nos leva a nos deparamos com disciplinas fragmentadas, como se fossem criadas bifurcações de uma mesma matéria. Essa fragmentação também ocorre no momento que pensamos em teoria e prática, separando e classificando as disciplinas e conteúdo. Esse pensamento pode nos remeter a alguns equívocos que permeiam a própria disciplina, como a distinção clara que há entre os assuntos abordados na parte teórica, não os relacionando com a prática, bem como no aspecto de distanciar a aprendizagem da realidade do educando, não atribuindo significado ao que ele aprende na educação formal, com a sua vivência, sua prática e sua vida. Nessa perspectiva, o currículo disciplinar acredita que o aluno já possua um acúmulo de conhecimentos e que o próprio conhecimento é como um produto que deve apenas ser consumido, não havendo modificações, ele já está pronto, já é acabado, feito e concluído, precisando apenas ser transferido. Nesse aspecto, alguns termos e ações são comumente utilizados ao se tratar da teoria curricular tradicional e, naturalmente, no modelo linear disciplinar de um currículo, como: aprendizagem, avaliação, metodologia, organização, planejamento e os objetivos. Termos e aplicabilidade tal que levam o currículo disciplinar a relacionar-se diretamente ao mercado de trabalho e pela escola tradicional, nova e tecnicista, visando a memorização do conteúdo que já está acabado. Esse modelo curricular cabe exatamente ao que Freire denominou como prática de uma educação bancária. Nela, o aluno não possui voz ativa, não produz, apenas reproduz, não aponta, não instiga, não registra, não reflete e, tão pouco, desenvolve a criatividadee a criticidade. Assim, o educando, é comparado a uma espécie de folha em branco, que apenas recebe os conteúdos repassados pelo professor, a fim de memoriza-los e não de construí-los. 32 3.3 O currículo integrado Agora caro aluno, vamos conhecer sobre o currículo integrado. Vamos juntos explorando essa forma curricular? Veja, ao ir de encontro ao modelo do currículo linear tradicional, nos depararemos com o surgimento do currículo que se refere à modalidade interdisciplinar ou também, aquele que é conhecido como currículo integrado. O termo interdisciplinar, etimologicamente, se refere a junção, a estabelecer relações entre duas ou mais disciplinas ou ramos do conhecimento, trabalhando o que há de comum entre elas, ou seja, unir os objetos e formar os conhecimentos. Quando remetemos a alguns pontos específicos do currículo, sobressai, como uma de suas especificidades, a desfragmentação da educação, envolvendo questões conteudistas, bem como os aspectos da construção do conhecimento que, nessa visão, não é um saber já pronto e sem alterações, podendo ser visto como a construção de conhecimento de maneira integrada. Dessa maneira caro estudante, o currículo interdisciplinar aborda essa integração de saberes, rompendo com a ideia da divisão da educação e as áreas de conhecimento, tão aplicadas e utilizadas até a contemporaneidade. Nessa perspectiva, algumas características básicas são atribuídas a essa concepção curricular, destacando a inter-relação entre a teoria e a prática no processo formativo, ou seja, as disciplinas em si se complementam e se integram. A favor do pensamento Freireano da educação, a modalidade integrada ressalta o conhecimento construído pelo educando, nele o aluno não é mais uma folha em branco, ele possui suas experiências e vivências além, é claro, da capacidade de reflexão, de pensamento, de ação, de sistematização e de comunicação. Nesse contexto, o currículo interdisciplinar relaciona-se com a teoria crítica e construtivista, que serão aprofundadas em aulas seguintes, pois são capazes de interferir de maneira direta e significativa na formação integral do sujeito, tornando-o um cidadão crítico, autônomo e reflexivo, capaz de dialogar e se posicionar na sociedade que faz parte. Outra característica significativa nessa modalidade curricular e que merece destaque é a relação dos diferentes componentes curriculares englobados na própria rotina escolar, ou seja, para que os conhecimentos construídos pelo educando tenham significado é preciso ficar atento a alguns 33 pontos como as temáticas abordadas e a realidade socioeconômica da escola e da sua clientela. Com esses apontamentos, percebemos que nessa formação curricular o conhecimento é o objetivo e o resultado de um processo que foi pensado, refletido, analisado e construído, não está pronto ou acabado e, todo esse processo é mediado pela própria percepção do aluno frente aos objetos de estudo, bem como pela metodologia utilizada, ocorrendo assim uma relação relevante entre o aluno, o objeto, o pensamento e a interação, promovendo a construção de um conhecimento significativo. Quando pensamos na atualidade e, sobretudo em alguns aspectos que envolvem a educação brasileira, como as políticas educacionais, fica claro a necessidade de implementação totalitária de um currículo integrado, que contemple o educando e seus pensamentos, bem como promova a interdisciplinaridade entre os conteúdos. Para tal fato, é preciso uma remodelagem dos próprios profissionais da educação, além dos recursos e objetivos educacionais afinal, o currículo integrado vai além da junção de conteúdos e disciplinas, ele visa a formação integral do sujeito, abrangendo aspectos sociais, políticos e econômicos, permitindo ao educando transformar- se em um cidadão crítico, reflexivo e atuante na sociedade, com seus pensamentos e reflexões, utilizando-se de sua própria fala e comunicação e, não apenas, um mero transmissor de saberes. 3.4 Regime seriado e regime ciclado A escola tradicional esteve presente por muitas décadas na educação brasileira, contemplando assim o regime seriado, que abrangeu o final do século XIX até meados da década de 1980. Sabe-se que a educação tradicional, em diversos aspectos, não contemplava o aluno e a sua própria construção do conhecimento, sendo conhecida como aquela pedagogia que se centrava na transmissão do saber, daqueles conhecimentos até então considerados essenciais para a formação do educando, sobretudo no aspecto social e ao mercado de trabalho. 34 A escola tradicional Fonte: https://aviagemdosargonautasdotcom.files.wordpress.com/2012/11/248508_361 451710603541_546128288_n.jpg Nesse viés, contemplando a pedagogia tradicional, a forma de organização curricular seriada ocorria por meio da segregação dos componentes curriculares para cada campo do conhecimento e, posteriormente, para a divisão de séries. Nessa forma de organização curricular fica determinado aspectos temporais, sendo então, pela própria legislação escolar, estabelecido períodos específicos para ensinar e para aprender, bem como o que deve ser transmitido e o que deve ser memorizado e absorvido em cada ano ou série escolar, não havendo distinção para esse tempo assim, não se leva em consideração questões peculiares como as dificuldades de aprendizagem ou necessidades especiais. Outra forma de organização curricular frequente na educação brasileira, embasada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, é o regime ciclado. Existem algumas diferenças significativas ao compara-lo ao regime seriado, sobretudo no que se refere ao tempo, ao processo de ensino- aprendizagem e ao educando. Na organização curricular por ciclos, a idade dos alunos é determinante para o agrupamento e organização do ensino fundamental, almejando a formação totalitária do sujeito, abordando valores fundamentais e que são essenciais para além dos muros escolares. Esse processo se dá então por diversas metodologias e atividades que contemplam as experiências do 35 educando, sua participação social, o contexto do qual faz parte, a diversidade da turma e demais aspectos que interferem no processo de ensino-aprendizagem. Uma das características essenciais do modelo curricular em ciclo e que se diferencia significativamente da organização curricular seriada, é a aprendizagem que, mesmo abordando questões conteudistas essenciais para cada ciclo, apresenta o conhecimento como inacabado e passível de construção pelo próprio educando, deixando de ser uma mera transmissão de saberes e memorizações, sendo o aluno capaz de se apropriar de seu próprio saber, denominado assim por um processo sociointeracionista. Dessa maneira, nos deparamos com uma organização curricular que valoriza o educando e suas construções individuais e coletivas, abordando não somente um campo do conhecimento, uma área ou uma disciplina, mas contemplando e sistematizando os saberes. Assim caro estudante, pensando inclusive no próprio conceito etimológico do termo ciclo, o qual nos deparamos com um significado de série de fenômenos que se repetem em uma determinada ordem, é relevante apontarmos que, juntamente com a organização curricular, o ensino em ciclo compreende a busca pela oportunidade de maior tempo e contato do educando com os saberes, ou seja, que ele tenha maior disponibilidade para compreender os assuntos propostos pelo currículo e que, por meio das interferências da escola, construa o seu aprendizado e o seu conhecimento. Nesse contexto, o tempo deverá ser o suficiente para que cada educando usufrua da escola como um todo até a finalização dos processos, ou seja, da conclusão dos ciclos. Nesse viés, é perceptível a relação entre o binômio organização curricular e o Projeto Político Pedagógico, em que a instituição deensino possui a sua autonomia na escolha de sua organização individual curricular. Ambas maneiras de organização curricular podem coexistir ainda na educação nacional, não há determinado aquela que é classificada como correta e incorreta, porém, há diversos estudos que permeiam essas formas mais comuns da educação básica brasileira. Essa abertura para a organização curricular está presente em nossa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a lei 9394/96 em seu artigo 23: A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse 36 do processo de aprendizagem assim o recomendar. (LDBEN, 9394/96). A escola deverá ter em mente exatamente seus objetivos frente à formação do sujeito, para então, definir a forma de sua organização curricular. Embasada nesses objetivos de formação totalitária do educando, é possível reconhecer a organização que melhor se enquadra e que visa intermediar a obtenção dos resultados desejados. 3.5 O Projeto Político Pedagógico na organização curricular Vamos partir para uma exploração ainda mais significativa, nos remetendo ao binômio: Projeto Político Pedagógico e a organização curricular. Importante É importante que você reflita acerca dessa relação e de sua influência exata na prática educacional. Veja, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96, permitiu um significativo avanço quando pensamos em organização curricular e o Projeto Político Pedagógico, determinando que cada instituição de ensino, juntamente com seu corpo docente e comunidade escolar, construa o seu próprio PPP, respeitando as especificidades de cada região, inclusive os aspectos socioeconômicos e políticos que permeiam a escola. Seguindo nessa vertente de um currículo e PPP construído coletivamente, de maneira natural haverá uma saudável discussão acerca de pontos essenciais que permeiam o currículo, como concepções de homem, de mundo, de sociedade, de conhecimento e de avaliação, por exemplo, aspectos os quais contemplam o currículo e sua organização. Dessa maneira, o currículo escolar e sua organização, englobando o Projeto Político Pedagógico, se relaciona diretamente com os objetivos individuais de cada instituição de ensino, contemplando além das metas estabelecidas nacionalmente pela busca da educação igualitária e de qualidade, às metas da própria escola, seus próprios objetivos e desejos a serem atingidos, dividindo assim suas dimensões em três tipos de organização relevantes e significativas para a organização curricular, sendo: 37 PROJETO – PLANEJAMENTO Junção de propostas, reflexões e ações a serem executadas em determinado período. POLÍTICO Aborda aspectos da formação dos educandos, tornando-os conscientes e críticos, sendo capazes de atuar e modificar o cenário social. PEDAGÓGICO Planejamento acerca das questões conteudistas, englobando todos os aspectos que envolvem o processo de ensino-aprendizagem. Organização curricular Fonte: elaborado pelo autor (2017), adaptado pelo DI (2019). Nesse contexto, o Projeto Político Pedagógico se torna um norteador para todos os contextos que envolve a escola, indo além do próprio corpo docente, dos educandos e das suas interações e aprendizagens, mas também, englobando a comunidade escolar como um todo e a formação totalitária que permeia um ser humano. O Projeto Político Pedagógico de uma escola deve abordar temas relevantes como a missão da escola, a clientela que a frequenta, seus aspectos socioeconômicos, os recursos didáticos pedagógicos, os planos de ação, as diretrizes pedagógicas e os aspectos relativos ao processo de ensino-aprendizagem , que direciona e organiza o currículo de maneira intensa, abordando questões do processo de avaliação, da forma curricular adotada pela escola e das questões conteudistas e metodológicas. O Projeto Político Pedagógico está intimamente relacionado à organização curricular. Ele engloba a escola em todos os seus aspectos, contemplando não somente as questões relacionadas ao conteúdo. Assim, ao nos remetermos ao projeto político e pedagógico de uma escola, é indissociável a reflexão acerca da organização curricular do tempo e espaço em que serão desenvolvidos aspectos como os valores e a formação do educando, além do processo escolar. Saiba mais Para ampliar os conhecimentos acerca das modalidades de organização curricular, ressaltamos a leitura do artigo: A organização do ensino fundamental em ciclos: algumas questões, disponível no link: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a04.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a04.pdf 38 Conclusão da aula 3 Caro aluno, finalizando a nossa terceira aula da disciplina de Teoria do currículo. Você está a cada dia construindo e aprimorando seus conhecimentos por meio das temáticas propostas em nossas aulas. Pudemos conhecer um pouco mais sobre alguns tipos de currículo e suas particularidades, além do ensino ciclado, do seriado e de todos os aspectos que permeiam a organização curricular, como o Projeto Político Pedagógico e alguns apontamentos oriundos da legislação curricular brasileira. Atividade de aprendizagem Vamos refletir um pouco mais acerca de alguns aspectos abordados em nossa aula? Para tanto, é preciso que você solidifique alguns conceitos e, sobretudo, absorva ainda mais as particularidades que envolve a organização curricular do ensino fundamental, diferenciando o ensino ciclado do seriado. Dessa maneira, assista ao vídeo Ciclo X Seriação, disponível no link: https://www.youtube.com/watch ?v=c81s-0WenC8 Aula 4 – A relação entre currículo e cultura escolar Apresentação da aula 4 Olá aluno, vamos iniciar nossas reflexões e explorações da aula 4 pensando sobre a cultura. O que será que consideramos como cultura? Afinal, os conceitos de cultura e de cultura escolar possuem os mesmos significados? Á palavra cultura sofreu transformações conforme o passar do tempo e pelas necessidades sociais. 4.1 A cultura e a cultura escolar Ainda por volta do século XV, o termo cultura se relacionava apenas ao ato de cultivar, como por exemplo, cultivar animais e plantios, o que pode-se 39 claramente observar com os sufixos das palavras agricultura ou suinocultura. Um século depois, a cultura foi associada à mente humana, como se fosse considerada o cultivo da mente e, esse conceito, conseguiu segregar as sociedades e suas classes econômicas, pois, somente algumas, poucas por sinal, eram consideradas sociedades de cultura e civilização. Avançando cronologicamente, já adentrando ao século XVIII, a cultura tornou-se relativo à Europa e suas sociedades, pois se destacavam e passaram a ser consideradas cultas. E, é exatamente nessa linha de raciocínio, que o sinônimo de cultura de hoje traz como herança, relacionando-a a artes diversas, como música, literatura, obras de arte, filosofia, entre tantas outras. Além dessa concepção, já no século XX, foi mesclado a esse conceito a questão da cultura popular que, em nossa atualidade, certamente, fazem alusão aos meios de comunicação, segregando a cultura em primeiro e terceiro mundo, bem como em cultura culta e cultura popular, regionais, religiosas, de gênero e outras. Agora que você já sabe o que é considerado como cultura, vamos associa-la à cultura escolar. Veja, a cultura escolar será aqui definida como um conjunto que engloba as práticas educativas e as metodologias utilizadas pelo corpo docente, além das relações sociais e das normativas implementadas no ambiente de educação formal, a escola. Aqui, conseguimos transpor as relações entre o conceito de cultura e o de cultura escolar,afinal, ambos estão direcionados às relações sociais e aos conhecimentos empíricos ou acadêmicos. Seguindo essa concepção, partiremos agora, prezado estudante, a explorar em nossa viagem acerca da disciplina da Teoria do Currículo, sobre a escola e essa cultura escolar, propriamente dita. Dessa maneira, posteriormente em nossa aula, faremos significativas relações entre a cultura escolar e o currículo. Nesse pensamento precisamos compreender que a escola é um ambiente riquíssimo de cultura e que, necessariamente, a comunidade escolar contribui para a aquisição e transformações culturais, relacionando assim a comunidade, a comunicação entre ela e a instituição, a escola e o sistema educativo, bem como as práticas escolares. 40 Importante A cultura escolar envolve diversos e significativos aspectos que vão muito além de questões burocráticas e de conteúdo para a formação da criança. A escola é composta pelos programas curriculares e educacionais que determinam e orientam as questões que envolvem o processo de ensino-aprendizagem, assim, naturalmente, a formação global do educando e, também a cultura que envolve diretamente os resultados atingidos por ações realizadas pela instituição escolar, colocando assim a cultura escolar como indispensável ao homem moderno e que vive em uma sociedade democrática e ativa. Nessa perspectiva, a escola seguramente se relaciona com uma cultura social e, até mesmo, com um cunho maternal e assistencial. Mas isso não significa que ela deixe de ser escola, de ser uma instituição de educação formal, para então, tornar-se uma organização social. Por isso, é relevante que tenhamos sempre em mente que a cultura está diretamente relacionada as ações que acontecem diariamente no chão da escola, contemplando as estratégias e desenvolvimento dentro e fora da sala de aula, independentemente de estarem relacionadas a um ou outro aspecto escolar, ou seja, a gestão, a sala de aula, ao currículo e assim sucessivamente, uma vez que contemple as estratégias Nessa vertente, a cultura escolar se distancia de uma função meramente de englobar os distintos valores, mas sim englobar as ideias e as diferentes maneiras de planejar, fazer, recriar e refazer a escola como um todo, envolvendo toda a comunidade escolar, além dos aspectos sociais, afetivos, emocionais e dos conteudistas. Da mesma maneira, a comunicação, não somente oral, mas as diversas maneiras de se comunicar no ambiente escolar, estão inclusas nesse processo cultural da educação, abrangendo os discursos e, até mesmo, os pensamentos e as ações. Dessa forma caro aluno, esse comunicar, pensar, planejar, agir e reconstruir estão interligados com a educação formal e com todo o processo de ensino, alterando as relações e construções sociais. 41 Saiba mais Vamos aprofundar os conhecimentos adquiridos até o momento lendo o livro Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar de Jean-Claude Forquin. Outro ponto significativo, é observarmos que alguns autores se diferem quanto a concepção de cultura escolar, porém, há pontos que, seguramente se entrelaçam. Vamos acompanhar na tabela abaixo a visão de dois relevantes autores e estudiosos dessa temática: Cultura escolar segundo Viñao Frago (1998, p. 169) Ideias, pautas e práticas relativamente consolidadas, como modo de hábitos. Os aspectos organizativos e institucionais contribuem [...] a conformar uns ou outros modos de pensar e atuar e, por sua vez, estes modos conformam as instituições num outro sentido. Cultura escolar segundo Forquin (1993, p. 168) Conjunto de características do cotidiano. A cultura escolar é o mundo humanamente construído, mundo das instituições e dos signos no qual, desde a origem, se banha o indivíduo humano, tão somente por ser humano, e que constitui como que sua segunda matriz. As diferentes visões de cultura escolar Fonte: elaborado pelo autor (2017), adaptado pelo DI (2019). Dessa maneira, é possível perceber que tudo aquilo que permeia o ambiente escolar, que gera comunicação, que se relaciona com as atividades dos partícipes da educação e que, naturalmente, interfere na construção e reconstrução das relações estabelecidas na instituição escolar e também nos processos de ensino-aprendizagem, se entrelaçam a cultura e, certamente, as questões curriculares que permeiam a educação básica. Saiba mais A cultura escolar organiza didaticamente a base que trabalham professores e alunos? Isso mesmo! Esse pensamento também é embasado nos aportes teóricos de Forquin (1993), e, envolvem, seguramente, a cultura humana, 42 científica e de massas. E a escola nesse envolvimento coletivo se transforma por meio de seus processos pedagógicos, determinado como mundo social da escola. O mundo social da escola, por sua vez, é o conjunto de “características de vida próprias, seus ritmos e ritos, sua linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação e de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de símbolos” (FORQUIN, 1993, p. 167). 4.2 As diversas influências sobre a cultura escolar Seguindo acerca do currículo e a cultura escolar, embasados em um conceito de cultura escolar que se entrelaça com as questões históricas e também com as normativas curriculares, bem como com a relação entre teoria e prática e as relações sociais que permeiam a escola, pode-se, seguramente, perceber que há influências significativas que interferem na cultura do ambiente escolar, afinal, ela é um conjunto, a soma de vários fatores que se entrelaçam e permitem a troca e a construção de saberes acadêmicos, experiências empíricas e os envolvimentos comportamentais. A tabela abaixo explanará alguns aspectos que exercem influência sobre a cultura escolar, conforme transcritas acima: CULTURA CRÍTICA Alta cultura ou cultura intelectual, o conjunto de significados e produções que, nos diferentes âmbitos do saber e do fazer, os grupos humanos foram acumulando ao longo da história. CULTURA SOCIAL Conjunto de significados e comportamentos hegemônicos no contexto social, composto por valores, normas, ideias, instituições e comportamentos que dominam os intercâmbios humanos em sociedades formalmente democráticas, regidas pelas leis do livre mercado e percorridas e estruturadas pela onipresença dos poderosos meios de comunicação de massa. CULTURA INSTITUCIONAL As tradições, os costumes, as rotinas, os rituais e as inércias que a escola estimula e se esforça em conservar e reproduzir condicionam claramente o tipo de vida que nela se desenvolve e reforçam vigência de valores. CULTURA EXPERIENCIAL Configuração de significados e comportamentos que os alunos e alunas elaboram de forma particular, induzido por seu contexto, em sua vida prévia e paralela à escola, mediante os intercâmbios “espontâneos” com os meios familiares e sociais que rodeiam a sua existência. CULTURA ACADÊMICA Desde o currículo como transmissão de conteúdos disciplinares selecionados externamente à escola, desgarrados das disciplinas científicas e culturais, 43 organizados em pacotes didáticos e oferecidos explicitamente de maneira prioritária e quase exclusiva pelos livros-didáticos, ao currículo como construção e elaboração compartilhada no trabalho escolar por docentes e estudantes. A influências sobre a cultura escolar Fonte: elaborado pelo autor (2017), embasado na obra de Pérez-Gomez (2001), adaptado pelo DI (2019). Com embasamento nos conceitos propostos por Pérez-Gomez (2001), é possível perceber que diferentes aspectos culturais interferem de maneira ativa e significativa na cultura escolar, alguns com maior influência e outros com menor, porém, todos, a sua maneira, interferem e, naturalmente caro aluno, alteram questões comportamentais e curriculares que envolvem o espaço
Compartilhar