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Prévia do material em texto

2018
Cooperativismo e 
assoCiativismo
Prof. Marcelo Borghezan
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Prof. Marcelo Borghezan
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
 B732c
 Borghezan, Marcelo
 Cooperativismo e associativismo. / Marcelo Borghezan. – Indaial: 
 UNIASSELVI, 2018.
 274 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0230-3
1.Cooperativismo e Associativismo Rural. – Brasil. II. Centro 
 Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 334
III
apresentação
Olá, acadêmico!
Seja bem-vindo à disciplina de Cooperativismo e Associativismo. 
Este é um tema de grande utilidade para muitas atividades do setor do 
agronegócio. O associativismo é uma forma de cooperação entre os membros 
da sociedade civil, atuando sem fins lucrativos, onde os indivíduos se 
organizam de forma democrática em defesa de interesses comuns. O 
cooperativismo é uma associação de pessoas que se unem em cooperação 
mútua, em busca de interesses e necessidades econômicas, sociais e culturais, 
com organização e administração de forma democrática e coletiva.
Com o objetivo de melhorar a compreensão e facilitar o aprendizado 
sobre o associativismo e o cooperativismo, os temas estão distribuídos em três 
unidades. Inicialmente, serão apresentados os aspectos que contextualizam o 
setor agropecuário no Brasil, fornecendo uma base teórica para compreender 
como o associativismo e o cooperativismo podem contribuir para o 
desenvolvimento do agronegócio. 
Na primeira unidade, serão analisados os temas relacionados com 
a formação e distribuição da propriedade agrária, a estrutura fundiária e o 
tamanho das propriedades rurais, além das características que originaram a 
desigualdade entre as regiões agrícolas brasileiras. Abordaremos a importância 
das políticas públicas para o setor do agronegócio, identificando as principais 
políticas públicas voltadas às atividades agropecuárias, destacando aquelas 
direcionadas para a atuação de associações e cooperativas rurais.
Na segunda unidade, estudaremos o associativismo de forma mais 
aprofundada, destacando a organização social rural, as formas de trabalho 
no campo, a importância do trabalho coletivo e da cooperação. Fazem parte 
desta unidade, os princípios e valores do trabalho coletivo, as vantagens 
e desvantagens de se estabelecer uma associação, a legislação sobre o 
associativismo e o cooperativismo, sua relação com o desenvolvimento 
sustentável e as condições e características que possibilitam a constituição e 
o funcionamento da associação rural.
A terceira unidade abordará o cooperativismo, discutindo os 
aspectos históricos, a simbologia adotada pelo movimento cooperativista 
no mundo, as formas de atuação e de representação. Vamos aprender sobre 
a estrutura de uma cooperativa, a importância do estatuto, os direitos e 
deveres dos cooperados. Esses conhecimentos ajudarão na compreensão dos 
procedimentos para a implementação e administração de uma cooperativa. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
 Esperamos que os conteúdos deste livro didático, os temas abordados, 
as sugestões e exemplos apresentados estimulem seu interesse pelo assunto. 
Desejamos que os conhecimentos contribuam com seu aprendizado e 
possibilitem melhorar a sua formação profissional.
Agradecemos e desejamos uma boa leitura. 
Bons estudos!
Prof. Marcelo Borghezan
NOTA
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO ................................................ 1
TÓPICO 1 – HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA ..................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 DESEMPENHO ECONÔMICO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO ..................................... 3
3 CONCEITUAÇÃO DE QUESTÃO AGRÁRIA .............................................................................. 8
4 ORIGEM E FORMAÇÃO DA PROPRIEDADE AGRÁRIA ....................................................... 13
5 QUESTÃO AGRÁRIA NA ATUALIDADE ..................................................................................... 19
5.1 O CAMPESINATO........................................................................................................................... 20
5.2 A EXPANSÃO DAS FRONTEIRAS AGROPECUÁRIAS ........................................................... 22
5.3 O PROCESSO MIGRATÓRIO ........................................................................................................ 22
5.4 A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA ............................................................................................... 23
5.5 O SETOR DO AGRONEGÓCIO .................................................................................................... 23
5.6 AS OCUPAÇÕES E AS FORMAÇÕES DE ASSENTAMENTOS RURAIS .............................. 23
5.7 A VIOLÊNCIA NO CAMPO .......................................................................................................... 24
6 O BRASIL AGRÁRIO .......................................................................................................................... 25
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 28
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 29
TÓPICO 2 – ESTRUTURA FUNDIÁRIA E DESEQUILÍBRIO REGIONAL ............................... 31
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................31
2 ESTRUTURA FUNDIÁRIA BRASILEIRA ...................................................................................... 31
3 TAMANHO DAS PROPRIEDADES RURAIS ................................................................................ 38
3.1 MÓDULO FISCAL ........................................................................................................................... 40
4 DESEQUILÍBRIO REGIONAL .......................................................................................................... 42
4.1 DENSIDADE POPULACIONAL E SUA RELAÇÃO COM A DESIGUALDADE 
REGIONAL ....................................................................................................................................... 43
4.2 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) E SUA RELAÇÃO COM A DESIGUALDADE 
REGIONAL ....................................................................................................................................... 46
5 CICLOS ECONÔMICOS BRASILEIROS ........................................................................................ 47
5.1 CICLO DO PAU-BRASIL ................................................................................................................ 48
5.2 CICLO DA CANA-DE-AÇÚCAR ................................................................................................. 49
5.3 CICLO DA PECUÁRIA ................................................................................................................... 50
5.4 CICLO DO OURO E DA MINERAÇÃO ...................................................................................... 52
5.5 CICLO DA BORRACHA ................................................................................................................ 53
5.6 CICLO DO CAFÉ ............................................................................................................................. 55
5.7 CICLO DA INDUSTRIALIZAÇÃO E DA DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ................. 57
6 CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DO BRASIL ATUAL .................................................................... 58
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 60
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 61
TÓPICO 3 – POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL ................................ 63
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63
2 CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO RURAL BRASILEIRO .............................................. 63
sumário
VIII
3 POLÍTICAS PÚBLICAS E SEUS ESTÁGIOS DE FORMAÇÃO ...............................................67
4 TIPOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................................69
4.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO ....................74
4.1.1 Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE .....................................................75
4.1.2 Programa de Aquisição de Alimentos – PAA ...................................................................76
4.1.3 Direitos relativos à propriedade industrial .......................................................................76
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................78
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................81
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................82
UNIDADE 2 – ORGANIZAÇÃO SOCIAL, COOPERAÇÃO E ASSOCIATIVISMO ..............85
TÓPICO 1 – TRABALHO RURAL E ORGANIZAÇÃO SOCIAL ................................................87
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................87
2 ORGANIZAÇÃO SOCIAL RURAL NO BRASIL ........................................................................87
3 O TRABALHO RURAL .....................................................................................................................90
3.1 FORMAS DE TRABALHO RURAL ............................................................................................93
4 RELAÇÕES DE ORGANIZAÇÃO E COOPERAÇÃO ................................................................96
4.1 ORGANIZAÇÃO COLETIVA E COOPERAÇÃO NA NATUREZA .....................................98
4.2 ORGANIZAÇÃO COLETIVA E COOPERAÇÃO NA HISTÓRIA HUMANA ....................100
4.3 ORGANIZAÇÃO COLETIVA E COOPERAÇÃO NA ATUALIDADE .................................106
4.3.1 Ponto de vista socialista .......................................................................................................106
4.3.2 Ponto de vista capitalista .....................................................................................................109
5 CAPITAL SOCIAL ..............................................................................................................................111
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................114
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................115
TÓPICO 2 – ASSOCIATIVISMO E COOPERAÇÃO .....................................................................117
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................117
2 A CULTURA DA COOPERAÇÃO ..................................................................................................117
2.1 PRINCÍPIOS E VALORES DA COOPERAÇÃO ........................................................................120
3 O ASSOCIATIVISMO .......................................................................................................................120
3.1 COMPORTAMENTOS QUE FAVORECEM E QUE DIFICULTAM 
 O ASSOCIATIVISMO ....................................................................................................................121
3.2 PRINCÍPIOS DO ASSOCIATIVISMO .........................................................................................123
3.3 TIPOS DE ASSOCIAÇÕES ...........................................................................................................124
4 ASSOCIAÇÕES RURAIS ..................................................................................................................126
4.1 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO ASSOCIATIVISMO RURAL ..........................................127
4.2 ASSOCIATIVISMO RURAL: CONDOMÍNIOS E CONSÓRCIOS AGRÍCOLAS .................129
5 LEGISLAÇÃO PARA O ASSOCIATIVISMO E PARA O COOPERATIVISMO 
 NO BRASIL ..........................................................................................................................................131
6 O ASSOCIATIVISMO E O COOPERATIVISMO NO CONTEXTO DO 
 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.......................................................................................133
6.1 O ASSOCIATIVISMO NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, 
 DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DE AÇÕES INTERINSTITUCIONAIS ................................135
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................139
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................140
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................141TÓPICO 3 – CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO DAS ASSOCIAÇÕES RURAIS .......143
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143
2 A CRIAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO ..........................................................................................144
IX
2.1 IDENTIFICAÇÃO DE INTERESSES E NECESSIDADES COMUNS .....................................144
2.2 O QUE FAZER PARA CRIAR UMA ASSOCIAÇÃO ...............................................................145
2.3 FASE 1: SENSIBILIZAÇÃO ..........................................................................................................146
2.3.1 O estatuto social da associação ...........................................................................................148
2.4 FASE 2: CONSTITUIÇÃO .............................................................................................................150
2.4.1 Registros da associação ........................................................................................................152
2.4.1.1 Registro no cartório civil ...................................................................................................152
2.4.1.2 Registro no órgão da Receita Federal .............................................................................154
2.4.1.3 Registro na Secretaria Estadual da Fazenda ..................................................................154
2.4.1.4 Registro no Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS ......................................154
2.4.1.5 Registro na Prefeitura Municipal ....................................................................................154
2.5 FASE 3: PRÉ-OPERACIONAL .....................................................................................................155
2.6 FASE 4: OPERACIONAL ..............................................................................................................155
3 A ADMINISTRAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO ........................................................................156
3.1 ASSEMBLEIAS ...............................................................................................................................156
3.1.1 Assembleia geral de fundação ou de constituição ...........................................................157
3.1.2 Assembleia Geral Ordinária (AGO) ...................................................................................157
3.1.3 Assembleia Geral Extraordinária (AGE) ...........................................................................158
3.2 ATRIBUIÇÕES DOS MEMBROS DA DIRETORIA E DO CONSELHO FISCAL .................158
3.2.1 Atribuições da diretoria .......................................................................................................159
3.2.1.1 Atribuições do presidente .................................................................................................160
3.2.1.2 Atribuições do vice-presidente ........................................................................................160
3.2.1.3 Atribuições do secretário ..................................................................................................160
3.2.1.4 Atribuições do tesoureiro ..................................................................................................161
3.2.2 Atribuições do conselho fiscal .............................................................................................161
3.3 CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES LEGAIS ..........................................................................162
3.4 PLANEJAMENTO E AÇÕES DO DIA A DIA DA ASSOCIAÇÃO ........................................163
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................165
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166
UNIDADE 3 – COOPERATIVISMO ..................................................................................................169
TÓPICO 1 – HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA DO COOPERATIVISMO ..................................171
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171
2 CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DO COOPERATIVISMO ...........................172
3 HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO MODERNO ..................................................................175
3.1 PRECURSORES DO COOPERATIVISMO .................................................................................175
3.2 A PRIMEIRA COOPERATIVA MODERNA: A SOCIEDADE DOS PROBOS 
 DE ROCHDALE .............................................................................................................................178
3.3 HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL .................................................................182
4 ECONOMIA SOLIDÁRIA E A RELAÇÃO COM O ASSOCIATIVISMO 
 E O COOPERATIVISMO ..................................................................................................................186
5 CLASSIFICAÇÃO E REPRESENTAÇÕES DO SISTEMA COOPERATIVO .........................188
5.1 REPRESENTAÇÕES DO SISTEMA COOPERATIVO ..............................................................190
5.1.1 Aliança Cooperativa Internacional (ACI) ..........................................................................190
5.1.2 Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) ............................................................191
5.1.3 Confederação Nacional das Cooperativas (CNCOOP) ...................................................193
5.1.4 Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP) ..........................194
5.1.5 Frente Parlamentar do Cooperativismo (FRENCOOP) ..................................................197
5.1.6 Departamento de Cooperativismo e Associativismo Rural (DENACOOP) ................197
5.1.7 Conselho Nacional de Cooperativismo (CNC) ................................................................197
X
5.1.8 União Nacional das Organizações Cooperativas Solidárias (Unicopas) ......................198
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................200
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................202
TÓPICO 2 – ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO COOPERATIVISMO ...............................203
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203
2 VALORES E PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO .................................................................204
2.1 VALORES DO COOPERATIVISMO ...........................................................................................205
2.2 PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO .......................................................................................205
3 SÍMBOLOS DO COOPERATIVISMO ...........................................................................................207
4 DATAS E COMEMORAÇÕES DO COOPERATIVISMO ..........................................................208
5 RAMOS DO COOPERATIVISMO .................................................................................................210
6 DADOS ESTATÍSTICOS DO COOPERATIVISMO NO MUNDO E NO BRASIL ..............213
6.1 DADOS DO COOPERATIVISMO NO MUNDO ......................................................................213
6.2 DADOS DO COOPERATIVISMO NO BRASIL.........................................................................215
7 CARACTERÍSTICAS E DIFERENÇAS ENTRE ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS........219
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................228
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................229
TÓPICO 3 – CONSTITUIÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DAS COOPERATIVAS ......................231
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................231
2 A CRIAÇÃO DE UMA COOPERATIVA ........................................................................................231
2.1 UMA COOPERATIVA OU UMA ASSOCIAÇÃO? ...................................................................233
2.2 O QUE FAZER PARA CRIAR UMA COOPERATIVA .............................................................234
2.2.1 Fase de sensibilização ...........................................................................................................235
2.2.2 Fase de constituição ..............................................................................................................237
2.2.3 Fase operacional ou de início das atividades ...................................................................238
3 COMO FUNCIONA UMA COOPERATIVA .................................................................................239
3.1 ASSEMBLEIA GERAL...................................................................................................................241
3.2 DIRETORIA OU CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ..........................................................243
3.2.1 Distribuição das sobras ou dos prejuízos ..........................................................................248
3.2.2 Impostos e tributos ...............................................................................................................250
3.3 CONSELHO FISCAL .....................................................................................................................252
3.4 AUDITORIA INTERNA E AUDITORIA EXTERNA INDEPENDENTE ...............................253
4 PARTICIPAÇÃO E FUNÇÕES DOS COOPERADOS ................................................................255
4.1 DIREITOS E DEVERES DOS COOPERADOS ...........................................................................256
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................257
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................261
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................262
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................263
1
UNIDADE 1
DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO 
BRASILEIRO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apresentar os conceitos relacionados à questão agrária, estrutura fundiária 
e desenvolvimento rural;
• compreender como ocorreu a formação da propriedade agrária no Brasil 
e como esse processo resultou na estrutura fundiária e na desigualdade 
regional na atualidade;
• identificar os principais aspectos relacionados às iniciativas de estímulo 
ao desenvolvimento rural e as principais políticas públicas direcionadas 
ao agronegócio e à agricultura familiar;
• possibilitar uma análise crítica do processo histórico de posse da terra, 
como base para a adoção de ações que visem minimizar os problemas 
relacionados à questão agrária e estimular o desenvolvimento rural de 
forma mais sustentável;
• identificar e conhecer as principais políticas públicas voltadas ao 
associativismo e ao cooperativismo, compreendendo a importância da 
cooperação e as suas oportunidades;
• identificar os benefícios do trabalho associativo para a viabilização 
da propriedade, para a cadeia de produção e para o desenvolvimento 
territorial.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
TÓPICO 2 – ESTRUTURA FUNDIÁRIA E DESEQUILÍBRIO REGIONAL
TÓPICO 3 – POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico serão abordados os temas relacionados à 
economia do setor de agronegócios, a questão agrária brasileira, apresentando 
explicações conceituais e um breve comentário histórico para a compreensão 
das características que estruturaram a distribuição das terras no Brasil. Esses 
conhecimentos têm o objetivo de promover a identificação das dificuldades e da 
realidade do agronegócio brasileiro na atualidade.
Espera-se que os temas apresentados proporcionem condições para 
uma compreensão das origens socioeconômicas e dos desafios relacionados 
ao meio rural e à estrutura fundiária, servindo de estímulo ao pensamento 
crítico e ao aproveitamento de novas oportunidades de desenvolvimento rural, 
principalmente através do associativismo e do cooperativismo.
2 DESEMPENHO ECONÔMICO DO AGRONEGÓCIO 
BRASILEIRO
O Brasil apresenta um modelo de desenvolvimento econômico onde o 
setor agropecuário apresenta grande importância. Na análise da composição 
dos setores da economia, observa-se que o setor terciário (serviços e comércio) 
representa a maior parcela de participação no PIB, com 71% (Figura 1). O setor 
primário, que está relacionado apenas com a produção agropecuária, participou 
com 5,6% da economia brasileira. O setor industrial (secundário) representou 
pouco mais de 23% do somatório total de riquezas produzidas no Brasil em 2014.
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
4
FIGURA 1 – SETORES E PIB 2014
INDÚSTRIA
23,4%
AGROPECUÁRIA
5,6%
SERVIÇOS
71%
FONTE: Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/blogs/celso-ming/o-ajuste-
refugado/>. Acesso em: 17 jun. 2018.
Embora essa participação com valor pouco acima de 5% pareça baixa, 
veremos que as atividades agropecuárias apresentam maior impacto na economia 
e na composição do PIB. O setor econômico que está relacionado ao PIB do 
Agronegócio envolve de forma direta, não apenas o setor primário de produção 
agropecuário, mas outros segmentos (CEPEA, 2017), como:
• insumos: setor relacionado com o fornecimento de produtos e condições para 
a produção agropecuária, como a pesquisa, produção, industrialização e 
comercialização de itens utilizados na produção (fertilizantes, medicamentos, 
sementes, maquinários, equipamentos, embalagens etc.);
• produção primária: envolve de forma direta as atividades de produção agrícola 
e criação pecuária, ou seja, aquele setor relacionado às atividades realizadas 
pelos agricultores “dentro da propriedade”;
• indústria: participação dos segmentos de processamento, transformação, entre 
outras atividades industriais relacionadas às atividades agropecuárias. Podem 
ser citados os abatedouros (bovinos, aves, suínos, peixes etc.), as agroindústrias 
de transformação de produtos alimentícios (embutidos, laticínios, farinhas, 
óleos vegetais, conservas, doces, couro etc.), setor têxtil (couro, fibras naturais), 
biocombustíveis, processamento de madeira, papel e celulose, entre outros;
• serviços: correspondem às atividades envolvidas com a comercialização, entre 
outros agrosserviços.
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
5
Conforme esta metodologia de avaliação, o PIB do Agronegócio em 2017 
participou com 21,6% do PIB brasileiro (CEPEA, 2017). Embora a metodologia 
de cálculo do PIB utilizada pelo CEPEA (balanço dos preços reais entre os anos 
avaliados) difira daquela utilizada pelo IBGE (utiliza os preços constantes do 
primeiro ano para a comparação entre os anos avaliados), esses dados demonstram 
a grande importância do agronegócio para a economia nacional.
Utilizando dados do IBGE (período de 1995-2005), Ghilhoto et al. (2007, 
p. 23) apresentaram uma análise mais detalhada da importância da atividadepatronal e familiar na participação do PIB do Agronegócio (figura 2A). Esses 
autores também separaram as atividades relacionadas com a produção agrícola 
daquelas relativas ao segmento pecuário (figura 2B).
FIGURA 2 – AGRONEGÓCIO E SEGMENTO AGRÍCOLA
a)
b)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
69,9%
20,4%
9,7%
1995
71,2%
19,6%
9,3%
1996
71,1%
19,6%
9,3%
2002
69,4%
20,5%
10,1%
2003
70,1%
20,3%
9,6%
2004
72,1%
10,9%
9,0%
2005
72,9%
18,2%
8,8%
2001
73,1%
18,0%
9,0%
2000
71,9%
18,6%
9,4%
1999
72,2%
18,7%
9,1%
1998
72,4%
18,6%
9,0%
1997
Participação do 
PIB dos outros 
setores
Participação do 
PIB Agronegócio 
Patronal
Participação do 
PIB Agronegócio 
Familiar 
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1995 1996 2002 2003 2004 200520012000199919981997
Participação do 
PIB do Complexo 
Familiar Agrícola
Participação do 
PIB do Complexo 
Patronal Pecuário
Participação do 
PIB do Complexo 
Patronal Agrícola 
Participação do 
PIB do Complexo 
Familiar Pecuário
21% 21% 20% 21% 20% 19%20%20%21%21%22%
19%
49%
11%
18%
49%
11%
19%
49%
13%
18%
49%
12%
18%
50%
12%
18%
50%
13%
19%
48%
13%
19%
47%
13%
19%
48%
12%
18%
50%
12%
18%
50%
11%
FONTE: Ghilhoto et al. (2007, p. 23)
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
6
Observa-se que o PIB do agronegócio foi responsável por quase 30% do PIB 
nacional, participando no ano de 2005 com 27,9%. Em relação à participação dos 
segmentos agropecuários, o agronegócio patronal representou aproximadamente 
2/3 do PIB do agronegócio. Já as atividades econômicas da agricultura familiar 
representaram aproximadamente 1/3 do PIB do agronegócio e, aproximadamente, 
10% do PIB total brasileiro neste período (Figura 2A). Esses dados demonstram o 
desempenho expressivo da agropecuária na economia nacional, evidenciando a 
participação da propriedade familiar nas atividades agropecuárias e na geração 
de riqueza do país.
Levando em consideração apenas o PIB do agronegócio, observa-se, ao 
longo do período de 1995 a 2005, uma proporção com poucas variações entre os 
quatro complexos relacionados à atividade agropecuária. A produção agrícola 
representou a maior parte da riqueza gerada pelo agronegócio, com cerca de 
70% do PIB do agronegócio, enquanto as atividades pecuárias são responsáveis 
por aproximadamente 30%. O complexo patronal agrícola foi o que apresentou 
a maior importância na composição do agronegócio brasileiro, participando com 
cerca de 50%. O complexo familiar pecuário possui a menor fatia na soma de 
riquezas, variando entre 11% e 13% do PIB do agronegócio (Figura 2 B).
A participação das regiões do Brasil no PIB demonstra que o Sudeste 
concentra a maior parte da riqueza produzida no país, com quase 55%. As 
regiões menos expressivas na composição do PIB nacional são o Norte e o Centro-
Oeste, que participam com menos de 10% cada (Figura 3). Em relação ao PIB do 
agronegócio, o Sudeste permanece como a principal região (39,2%), seguido de 
uma participação mais importante da região Sul (29,8%).
Na análise do PIB das atividades realizadas pela agricultura familiar, 
evidencia-se que a região Sul possui uma grande importância, sendo que 43,7% 
da riqueza gerada pelo agronegócio da região têm origem nas propriedades 
familiares. As regiões com o menor predomínio da agricultura familiar em 
relação à agricultura patronal são as do Centro-Oeste e do Norte, que possuem 
participação menor que 10% cada (Figuras 3 e 4).
FIGURA 3 – PIB DO AGRONEGÓCIO POR REGIÃO
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
PIB Total PIB Agronegócio PIB Agronegócio Familiar
Sul Centro-OesteNorte Nordeste Sudeste
5,3% 5,9% 9,0%
14,1%
54,9%
18,2%
7,5%
13,7%
39,2%
29,8%
11,4%
16,1%
24,0%
43,7%
7,1%
FONTE: Ghilhoto et al. (2007, p. 38)
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
7
FIGURA 4 – PIB DO AGRONEGÓCIO POR ESTADOS
FONTE: Ghilhoto et al. (2007, p. 59)
A Figura 4 ilustra a expressão econômica do Estado de São Paulo, que 
alicerça o domínio da região Sudeste na composição do PIB do agronegócio. Os 
três estados do Sul do Brasil também apresentaram uma significativa importância, 
destacando-se o equilíbrio entre a participação patronal e familiar. Esse equilíbrio 
também ficou evidente nos estados da região Norte e da região Nordeste, com 
exceção da Bahia e de Pernambuco. Segundo os dados apresentados por Ghilhoto 
et al. (2007), o Rio Grande do Sul foi o único estado da federação em que o PIB da 
agricultura familiar predomina sobre o PIB da agricultura patronal. Nos estados 
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
8
da região Centro-Oeste, observa-se um quadro semelhante à região Sudeste, onde 
há um predomínio da participação patronal sobre a agropecuária familiar na 
composição do PIB do agronegócio. A maior parte dos estados das regiões Norte 
e Nordeste apresenta pequena expressão do PIB do agronegócio, demonstrando 
as desigualdades econômicas regionais na geração de riqueza.
Apresentadas algumas características relacionadas ao desempenho 
econômico do agronegócio brasileiro, veremos agora como este tema se relaciona 
a outro de grande importância no setor agropecuário do Brasil, a questão agrária. 
A Questão Agrária e suas implicações, relacionadas com a concentração de 
terras, com o exercício do direito jurídico no campo e com as dificuldades de 
manutenção e crescimento da população rural, favorecem as desigualdades nas 
relações econômicas e de produção, o aparecimento de movimentos sociais de 
luta pela terra, o surgimento de outras formas de promoção do desenvolvimento 
territorial e a formação de organizações sociais na busca por melhores condições 
de vida (MIRALHA, 2006). Assim, estudaremos um pouco mais sobre o que é a 
questão agrária, qual a sua origem e como essa discussão se insere na formação 
da agropecuária brasileira.
3 CONCEITUAÇÃO DE QUESTÃO AGRÁRIA 
A questão agrária não apresenta uma conceituação simples e direta. Sua 
conceituação pode ser explicada de diferentes formas, de acordo com a ênfase 
direcionada ao estudo. Stédile (2012) trata a questão agrária como o conjunto 
de interpretações e análises da realidade agrária, que busca explicar como se 
organizou e como ocorre a posse, a propriedade e a utilização das terras na 
sociedade brasileira. Este autor também sugere que o conceito de questão agrária 
pode ser interpretado segundo os diferentes campos de conhecimento:
• literatura política: compreende o estudo dos problemas que a concentração 
da propriedade de terra ocasiona sobre o desenvolvimento das possibilidades 
produtivas de uma sociedade em particular e como exerce influência no poder 
político;
• sociologia: retrata as formas como se desenvolvem as relações sociais, na 
organização da produção agropecuária de uma sociedade;
• geografia: se relaciona com a forma como a sociedade, ou seja, as pessoas se 
apropriam da utilização do recurso natural terra, resultando na ocupação 
humana do território;
• história: contribui para explicar a evolução da luta política e de classes para o 
controle e domínio dos territórios, além da posse da terra. 
Outros autores descrevem a questão agrária como a relação entre o 
problema da concentração fundiária, que ocasiona as injustiças no campo e a 
miséria da população rural, e a reforma dessa desigualdade (MIRALHA, 2006). 
Neto (2006) descreve que a questão agrária, conceituada do ponto de vista 
econômico, refere-se às transformações nas relações de produção. Do ponto de 
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
9
vista jurídico, a questão agrária se aplica ao direito de propriedade imobiliária 
rural (NETO, 2006). Em uma análise mais voltada ao campo socioeconômico, 
a questão agrária é entendida como “o conjunto dos problemas inerentes ao 
desenvolvimento do capitalismo no campo” (GIRARDI, 2017).
Já Delgado e Pereira (2017, p. 15) sugerem que para o entendimento da 
questão agrária, o conceito chave refere-se à Estrutura Agrária, ou seja, os direitosde propriedade, posse e uso da terra, compreendendo todos os recursos naturais 
associados a ela. Nessa visão, “a questão agrária refere-se a uma inadequação 
da estrutura agrária vigente”, baseada em dois aspectos: 1 – às condições de 
vida e de trabalho das populações rurais; e 2 – à presumida incapacidade dessa 
estrutura agrária em prover os excedentes produtivos necessários para atender 
à urbanização da sociedade e a industrialização da economia (DELGADO; 
PEREIRA, 2017). Para esse autor, a questão agrária e a reforma agrária estão 
diretamente ligadas, sendo interdependentes, pois ambas são geradas a partir da 
estrutura agrária configurada durante um longo período histórico.
IMPORTANT
E
Conforme o Artigo 1°, §1°, da Lei Federal n° 4.504, de 30 de novembro de 
1964, que dispõe sobre o Estatuto da Terra, “a Reforma Agrária é o conjunto de medidas 
que visam promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime 
de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de 
produtividade”.
O INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária é uma autarquia federal 
responsável pelas ações relacionadas à reforma agrária no Brasil. A reforma agrária busca 
a implantação de um modelo de assentamento rural baseado na viabilidade econômica, 
na sustentabilidade ambiental e no desenvolvimento territorial.
Segundo o INCRA, do ponto de vista prático, a reforma agrária deveria proporcionar: 
desconcentração e democratização da estrutura fundiária; produção de alimentos 
básicos; geração de ocupação e renda; combate à miséria e à fome; interiorização dos 
serviços públicos básicos; redução da migração campo-cidade (êxodo rural); promoção 
da cidadania e da justiça social; diversificação do comércio e dos serviços no meio rural; 
e democratização das estruturas de poder. Para obter mais informações, acesse: <http://
www.incra.gov.br/reformaagraria>.
Como verificamos, todos os autores discutem este tema considerando 
o domínio temporário de uma área física de terra, destinada à produção 
agropecuária. Outro aspecto comum entre eles, ao tratar da questão agrária, é a 
divisão entre duas categorias distintas, que consistem em:
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
10
• agricultura patronal (GHILHOTO et al., 2007), capitalista ou empresarial 
(STÉDILE, 2012; GIRARDI, 2017), dos grandes proprietários (MIRALHA, 
2006), de latifúndios ou da classe latifundiária (NETO, 2006; GIRARDI, 2017) 
ou do agronegócio (GIRARDI, 2017);
• agricultura familiar (STÉDILE, 2012; DELGADO; PEREIRA, 2017), de pequenas 
propriedades ou pequenos produtores (NETO, 2006; MIRALHA, 2006; 
STÉDILE, 2012), do lavrador através do trabalho familiar (NETO, 2006), da 
agricultura camponesa (STÉDILE, 2012), do agronegócio familiar (GHILHOTO 
et al., 2007) ou do campesinato (GIRARDI, 2017).
Vamos analisar o quadro comparativo entre as principais características 
das atividades agropecuárias do agronegócio e do campesinato (Quadro 1). 
Essa separação pressupõe que o território do agronegócio e o do latifúndio 
compreendem os proprietários de grandes áreas, grandes empresas capitalistas 
e grileiros de terra. Como implicações, evidenciam-se a exploração do trabalho, 
crimes ambientais, mecanização, agropecuária intensa, superprodução, 
especulação imobiliária, violência e concentração de poder econômico e político. 
No lado oposto, o território do campesinato, relacionado aos pequenos 
produtores ou produtores familiares, compreende um quadro de luta pela terra 
(ocupações e assentamentos rurais), com estímulo à organização socioeconômica 
(associações, cooperativas, sindicatos, entre outras organizações coletivas), 
menor impacto ambiental, menor acesso a políticas públicas (crédito agrícola 
e assistência técnica) e baseado na diversificação das formas de produção e de 
produtos (GIRARDI, 2017). Esses dois extremos não representam a totalidade 
dos produtores rurais brasileiros, mas oferecem uma análise comparativa das 
diferenças entre a agricultura de grande escala e a produção agropecuária familiar.
NOTA
Grileiro de terras é um termo que se refere àqueles que realizam a usurpação 
de terras, a partir da falsificação de documentos de propriedade, com o objetivo de tomar 
posse de propriedades de terceiros ou de terras públicas.
QUADRO 1 – COMPARAÇÃO AGRONEGÓCIO E CAMPESINATO
AGRONEGÓCIO* (Patronal) CAMPESINATO** (Familiar)
Centralização Descentralização
• controle centralizado da produção, 
processamento e mercado;
• produção concentrada, estabelecimentos 
agrícolas maiores e em menor número, o que 
acarreta um menor número de agricultores e 
de comunidades rurais.
• maior ênfase na produção, processamento e 
mercado locais/regionais;
• produção pulverizada (maior número de 
estabelecimentos e agricultores), controle da 
terra, recursos e capital.
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
11
Dependência Independência
• abordagem científica e tecnológica para 
produção;
• dependência de experts;
• dependência de fontes externas de energia, 
insumos e crédito;
• dependência de mercados muito distantes.
• unidades de produção menores, menor 
dependência de insumos, fontes externas de 
conhecimento, energia e crédito;
• maior autossuficiência individual e da 
comunidade;
• ênfase prioritária em valores, conhecimentos 
e habilidades pessoais.
Competitivo Comunitário
• competitividade e interesse próprio;
• agricultura é considerada um negócio;
• ênfase na eficiência, flexibilidade, quantidade 
e crescimento da margem de lucro.
• maior cooperação;
• agricultura é considerada um modo de vida 
e um negócio;
• ênfase em uma abordagem holística da 
produção, otimizando todas as partes do 
agroecossistema.
Domínio da natureza Harmonia com a natureza
• o ser humano é separado e superior à 
natureza;
• a natureza consiste principalmente em 
recursos a serem utilizados para o crescimento 
econômico;
• imposição das estruturas e sistemas do tempo 
humano aos ciclos naturais;
• produtividade maximizada através de 
insumos industrializados e modificações 
científicas;
• apropriação de processos naturais por 
meios científicos e substituição de produtos 
naturais pelos industriais.
• o ser humano é parte e dependente da 
natureza;
• a natureza provê recursos e também é 
valorizada para o próprio bem;
• trabalha com uma abordagem ecológica/
de ambiente fechado – desenvolvendo um 
sistema diferenciado e balanceado;
• incorpora mais produtos e processos naturais;
• usa métodos culturais para cuidar do solo.
Especialização Diversidade
• base genética limitada utilizada na produção;
• predominância da monocultura;
• separação entre agricultura e pecuária;
• sistemas de produção padronizados;
• predominância de uma abordagem científica 
especializada.
• ampla base genética; incorporação da 
policultura; rotações complexas;
• integração entre agricultura e pecuária;
• heterogeneidade de sistemas agrícolas;
• interdisciplinaridade (ciências naturais e 
sociais), sistema participativo (inclusão de 
agricultores).
Exploração Abdicação
• ênfase nos resultados de curto prazo em 
detrimento a consequências ambiental e 
social de longo prazo;
• dependência de recursos não renováveis;
• consumismo impulsiona o crescimento 
econômico;
• hegemonia do conhecimento científico e da 
abordagem industrial sobre conhecimento e 
cultura indígenas, tradicionais e/ou locais.
• custo total contabilizado;
• resultados de curto e longo prazo igualmente 
importantes;
• amplo uso de recursos renováveis e 
conservação de recursos não renováveis;
• consumo sustentável, estilo de vida mais 
simples;
• acesso equitativo a necessidades básicas;
• reconhecimento e incorporação de outros 
conhecimentos e práticas, permitindo uma 
base de conhecimento mais homogênea.
* No original “Paradigma Agrícola Convencional/Dominante”.
** No original “Paradigma Agrícola Alternativo”.
FONTE: Adaptado de Girardi (2017). Disponível em: <http://www.atlasbrasilagrario.com.br/con_
subcat/a-questao-agraria>.Acesso em: 18 jun. 2018.
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
12
As diferenças ideológicas e de interesses econômicos geram os 
enfrentamentos nas áreas rurais, verificadas atualmente. O confronto entre ideias 
e ações a respeito da posse da terra e dos meios de produção são problemas 
recorrentes na política agrária brasileira e que não são facilmente resolvidos. O 
impasse sobre a questão agrária resulta da oposição entre o regime fundiário 
constitucional e aquele da autonomia do mercado (DELGADO; PEREIRA, 2017). 
Esse quadro se reflete em uma crescente instabilidade social, aumento do número 
de conflitos entre trabalhadores e latifundiários, além da insustentabilidade 
ambiental, apresentando repercussões gerais para toda a sociedade brasileira.
Agora veremos como ocorreu este processo de formação agrária no 
Brasil, analisando, a partir dos aspectos históricos, os fatores que conduziram ao 
atual panorama de distribuição das propriedades e ao surgimento das diversas 
organizações sociais, identificadas com a luta pela terra e pela implementação da 
reforma agrária.
NOTA
A agricultura familiar é responsável por uma grande parte da alimentação 
nacional. A FAO chamou a atenção para este aspecto ao identificar o ano de 2014 como o 
Ano Internacional da Agricultura Familiar. Verifique alguns aspectos sobre a agricultura familiar 
na imagem a seguir. Disponível em: <http://aspta.org.br/wp-content/uploads/2014/03/04_
infografico_ANO-DA-AGRICULTURA-FAMILIAR.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2018.
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
13
4 ORIGEM E FORMAÇÃO DA PROPRIEDADE AGRÁRIA 
A partir da chegada dos portugueses e a ocupação do espaço territorial 
brasileiro em 1500, foi originada a formação histórica da propriedade agrária que 
verificamos na atualidade (NETO, 2006). Porém, antes da chegada dos europeus ao 
continente americano, diversas etnias indígenas ocupavam o território e, instigadas 
por diferentes interesses e necessidades, alteravam sua distribuição na área 
geográfica. Até 1500, as populações indígenas nativas viviam em agrupamentos 
sociais, desde níveis mais simples (famílias e tribos) até sociedades formadas por 
complexas estruturas sociais. Possuíam hábitos de vida que variavam do nômade, 
dedicando-se à caça, pesca e extrativismo de produtos da natureza, até a produção 
agrícola diversificada e o domínio de técnicas que possibilitaram a domesticação 
de diversas espécies de plantas. Recentemente diversos pesquisadores têm se 
dedicado ao estudo das populações nativas americanas, na distribuição e ocupação 
do espaço geográfico ao longo do tempo e sua importância na contribuição para a 
agricultura e a alimentação mundial (CLEMENT et al., 2015).
Como o propósito deste texto é apresentar os aspectos que resultaram no 
quadro atual da propriedade agrária brasileira, serão abordados alguns eventos 
que estão relacionados à posse da terra a partir do contato com os europeus.
Para facilitar a interpretação e as características relacionadas com a 
formação da propriedade agrária no Brasil, Neto (2006) identificou o processo 
histórico de posse da terra, separando nas seguintes fases:
Período pré-sesmarial, de 1501 a 1530:
Na primeira fase, a Coroa portuguesa adotou um sistema de concessão 
de propriedades a particulares portugueses, já a partir de 1501, com a finalidade 
de exploração extrativista da “nova terra” e como forma de estabelecer o 
domínio do território. Neste período, a ocupação do território continuava sendo 
pelos indígenas, sem a presença física de forma importante dos colonizadores 
portugueses. Entretanto, a atividade extrativa de forma desorganizada e as 
frequentes incursões francesas, espanholas e holandesas fizeram com que a 
Coroa portuguesa, entre 1530-1532, implementasse uma nova forma de domínio 
e distribuição das terras: a sesmaria (NETO, 2006). 
Período sesmarial, de 1530 a 1822:
Com a implementação da política de sesmarias, a manutenção da 
concessão a proprietários privados buscava promover a colonização, a exploração 
econômica de outras atividades e a vigilância do litoral brasileiro contra invasores. 
As terras eram concedidas aos membros da nobreza e mercadores pertencentes 
à classe emergente, desde que tivessem disponibilidade de capital e firmassem o 
compromisso de produzir, na colônia, mercadorias a serem exportadas à Europa 
(STÉDILE, 2012). Segundo Neto (2006), o processo mercantilista português do 
século XVI buscava acumular riquezas nas mãos do rei, que posteriormente 
redistribuía às classes mais beneficiadas.
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
14
O regime de sesmarias era uma medida adotada para o aproveitamento 
das terras improdutivas ou, no caso do Brasil, ainda inexploradas. No regime de 
sesmarias, o titular da propriedade possuía um prazo para iniciar a produção 
agrícola, que se não fosse cumprido, seu direito de posse era cassado. Como 
legado, a implementação dos latifúndios, inicialmente de exploração da cana-de-
açúcar, produziu uma economia baseada na monocultura destinada à exportação, 
estabelecida a partir do trabalho escravo, principalmente no Nordeste brasileiro. 
O avanço da importância da criação de gado contribuiu para a expansão dos 
domínios em direção ao interior do país, principalmente no Norte e Nordeste 
(NETO, 2006). Miralha (2006) destaca que a forma familiar de produção de itens 
de subsistência e para atender pequenos mercados locais esteve presente desde 
o início do período colonial, porém sempre de forma subordinada à grande 
propriedade. Entre o final de 1600 e início de 1700, as ordens reais que buscavam 
maior produtividade tornavam mais complexas a demarcação e a concessão de 
terras, ficando estabelecido em 1785 que o cultivo da terra era a condição essencial 
à posse da propriedade.
Regime de Posses, de 1822-1850:
No sistema de sesmaria, as terras eram concedidas pelo rei de Portugal, que 
exercia o domínio do território brasileiro. A partir do final do século XVIII, parte 
da população brasileira passou a apoderar-se fisicamente de áreas mais distantes 
e ainda não ocupadas. Em diversas partes do Brasil colonial, os lavradores 
brasileiros passaram a ocupar pequenas áreas, suficientes para possibilitar o 
cultivo utilizando a mão de obra da família. A chegada de imigrantes europeus 
no Sul e no Sudeste também contribuiu para intensificar a posse de pequenas 
propriedades. A partir de uma Resolução Imperial em 17 de julho de 1822, a 
concessão de sesmarias ficou suspensa e o pequeno produtor, que jamais havia 
tido acesso à terra, obteve o direito a partir do poder público. No período entre a 
suspensão do regime de sesmarias (1822) e a edição da Lei nº 601 (1850), o acesso 
à terra era feito através da posse, reconhecendo o costume de produção como 
procedimento de consolidação do direito à terra. Neto (2006) destaca que a posse, 
diferentemente das sesmarias latifundiárias, originou a pequena propriedade 
familiar no Brasil.
Regime da Lei das Terras de 1850:
Em meados do século XIX, o Império brasileiro era pressionado por outros 
países, que pretendiam expandir seus mercados, a acabar com a escravidão. 
Porém, os grandes fazendeiros de café, principal atividade econômica da época, 
dependiam do trabalho escravo. Como estratégia para minimizar os efeitos dos 
movimentos abolicionistas, a elite cafeeira pressionou o Império na adoção de 
medidas que dificultassem o acesso à terra (MIRALHA, 2006). A Lei de Terras nº 
601, de 18 de setembro de 1850, que dispõe sobre as terras devolutas do Império, 
instituiu, no artigo 1º, como único meio de acesso à terra, a compra, que na época 
só podia ser realizada em dinheiro, proibindo a posse de terras. Na mesma 
legislação, ficavam guardadas a autorização para que o governo realizasse a 
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
15
venda de terras públicas da forma que julgasse mais conveniente (art. 14º). Essa 
lei autorizava a vinda, às custas do Tesouro, de imigrantes agricultores para o 
trabalho nos estabelecimentosagrícolas predeterminados ou para a formação de 
colônias nos locais de interesse do Império (art. 18º). Também ficou estabelecida 
a Repartição Geral das Terras Públicas, que seria encarregada das medições, 
divisão, fiscalização da venda e da distribuição das terras, bem como promover a 
colonização (ou seja, a distribuição dos escravos livres e dos imigrantes) (art. 21º) 
(BRASIL, 1850).
Com essa medida, o governo imperial conseguiu agradar os grandes 
cafeicultores, criando condições para que o excedente populacional de escravos 
libertos ou de imigrantes europeus que estavam chegando não tivesse um acesso 
livre à propriedade, garantindo o monopólio da terra (NETO, 2006). Ao dificultar, 
ou mesmo impedir, o acesso à propriedade rural, a Lei de Terras tinha a finalidade 
de manter inalterada uma estrutura fundiária baseada em grandes propriedades, 
originando assim a questão agrária (MIRALHA, 2006; STÉDILE, 2012).
Sistema jurídico do Código Civil de 1916:
Passada a abolição da escravatura (1888) e a proclamação da República 
(1889), a estrutura fundiária brasileira foi mantida, baseada no monopólio dos 
latifúndios onde os “coronéis” e os “barões do café” controlavam o poder político 
e a situação social e econômica do Estado brasileiro. A partir do Código Civil de 
1916, o direito sucessório (ou seja, a transferência de direitos e de titularidade) 
partilhava o imóvel rural em tantas partes quanto fosse o número de herdeiros. 
Juntamente com a questão jurídica relacionada à divisão dos bens entre os 
herdeiros, as subdivisões das grandes propriedades cafeeiras ocorreram também 
em função da decadência do mercado internacional do café. Foi apenas durante 
o século XX que a propriedade latifundiária perdeu sua hegemonia, havendo 
grande expansão de pequenas propriedades, principalmente no Sul e Centro-Sul 
do Brasil. Outros fatores que também contribuíram para essa alteração fundiária 
foram o processo de industrialização e a divisão de propriedades agrícolas 
comerciais, resultando em pequenas propriedades familiares, que produziam 
basicamente gêneros para subsistência (NETO, 2006).
A reorganização da economia brasileira a partir de 1930, o desenvolvimento 
de novos centros de produção agrícola e a industrialização, principalmente 
no Sudeste e no Sul, promoveram diversos movimentos migratórios, tanto 
entre regiões rurais quanto no sentido rural-urbano (MIRALHA, 2006). Esses 
movimentos migratórios reduziram significativamente a população do sertão 
do Nordeste em direção ao Estado de São Paulo, principalmente. Este autor 
também descreve que em meados do século XX, a agricultura brasileira iniciou 
um processo de “modernização”, incentivada por políticas de financiamento para 
a adoção de inovações tecnológicas (tratores e máquinas agrícolas, fertilizantes, 
agroquímicos etc.).
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
16
A Constituição Federal de 1946 apresentou, de forma inovadora, a 
possibilidade de desapropriação por interesse social (art. 141º, §16), abordando 
questões relacionadas à melhoria na estrutura fundiária e a reforma agrária, a 
partir de uma maior distribuição da propriedade (art. 147º). Esse tema ganhou 
mais força em nível nacional, a partir da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos publicada em 1948, afirmando que “todo homem tem direito a um 
padrão de vida capaz de assegurar, a si e à sua família, saúde e bem-estar, 
inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços 
sociais indispensáveis...” (art. XXV) (ONU, 2009, p. 13). Neste contexto histórico, 
começam a ser organizadas muitas associações de produtores, cooperativas 
agropecuárias e sindicatos de trabalhadores rurais (MIRALHA, 2006). A partir 
da década de 1950, diversos movimentos sociais ligados à luta pela terra, que 
contestavam a desigualdade social e a concentração fundiária no Brasil, são 
estruturados e passam a ter representatividade nacional.
NOTA
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um documento marco, 
proclamado pela ONU em Paris, em 10 de dezembro de 1948, que estabeleceu as condições 
mínimas a serem alcançadas por todos os povos e nações. Este tratado internacional foi 
traduzido para mais de 500 idiomas e serviu de inspiração para muitas constituições. 
Se você deseja conhecer o conteúdo completo, acesse: <https://nacoesunidas.org/
direitoshumanos/declaracao/>.
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
17
Desde o início do século XX, surgem diversas formas de organização 
de produtores rurais e cooperativas de produção agropecuária no Brasil. Um destes 
exemplos é a fundação da Cooperativa Vinícola Aurora, em Bento Gonçalves/RS, 
iniciando as atividades em 14 de fevereiro de 1931. Inicialmente formada por 16 famílias 
de descendentes e de imigrantes italianos, é atualmente a maior cooperativa vinícola do 
Brasil. O trabalho e a união de pequenos produtores familiares, que cultivavam a uva na 
Serra Gaúcha, possibilitaram o crescimento e uma posição de destaque em nível nacional 
e reconhecimento internacional. Atualmente, esta cooperativa possui mais de 1.100 
famílias associadas, contribuindo com a geração de renda, oportunidades diversificadas 
de negócios e o desenvolvimento econômico regional. Hoje, a Serra Gaúcha/RS é 
considerada um dos principais roteiros turísticos do Brasil e uma das regiões com os 
maiores índices de qualidade de vida.
ATENCAO
Sistema legal do Estatuto da Terra de 1964:
A Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, também conhecida como Estatuto 
da Terra, foi decretada no início do período da ditadura militar. O Estatuto da Terra 
modificou de forma muito importante os aspectos relacionados ao acesso à terra 
e à função social da propriedade. Segundo esta legislação, foram consideradas as 
medidas para promover a melhor distribuição da terra, a partir da reforma agrária 
e da promoção da política agrícola (art. 1º), e no seu artigo 2º, “fica assegurada 
a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua 
função social” (BRASIL, 1964). O Estatuto da Terra trazia inovações não apenas de 
estímulo à produção agrícola, mas também referentes às relações sociais no campo, 
no acesso à terra, nas medidas para assegurar a conservação dos recursos naturais e 
na promoção de políticas agrícolas de incentivo à economia, à geração de emprego 
e renda, e na harmonização com o processo de industrialização.
Embora a redistribuição da terra e uma reorganização da estrutura 
fundiária pudessem ter sido realizadas a partir do Estatuto da Terra, a aplicação 
dos critérios técnicos para promover uma reforma agrária e o desenvolvimento 
rural não se mostrou satisfatória (NETO, 2006; MIRALHA, 2006; STÉDILE, 2012). 
Foi a partir da década de 1960 que se intensificaram os processos de modernização 
tecnológica da agricultura brasileira, a expansão das aplicações práticas da 
Revolução Verde e a organização do complexo agroindustrial, formado pelas 
indústrias produtoras de insumos agrícolas e as agroindústrias de transformação 
dos produtos. Ao mesmo tempo, entre as décadas de 1960 e 1970, intensificou-se 
o êxodo rural e observou-se a inversão da distribuição da população brasileira, 
que passou a se concentrar nos centros urbanos.
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
18
NOTA
A Revolução Verde teve sua origem com as pesquisas do americano Norman 
Borlaug na década de 1930. Passou a ter aplicação prática após a Segunda Guerra 
Mundial (1939-1945), com o propósito ideológico de aumentar a produção agrícola, 
na busca de resolver o problema da fome no mundo, principalmente nos países mais 
pobres. A expressão “revolução verde” foi conhecida em 1966, pronunciada por William 
S. Gaud, então administrador da Agência para o Desenvolvimento Internacional/EUA. 
Este programa teve início em 1946, financiado pela fundação americana Rockfeller em 
parceria com o governo do México, a partir da obtenção de cultivares melhoradas de 
milho e trigo. Sabe-se hoje que, entre os objetivos, estavam a destinaçãodos insumos 
gerados pelas indústrias químicas, a partir de uma aplicação agrícola, além do incentivo 
à produção industrial, à recuperação da economia e a expansão comercial americana no 
período pós-guerra.
Durante as décadas de 1960 e 1970, verificou-se a implementação em vários países 
deste “pacote tecnológico”, baseado na intensa atividade de mecanização, utilização de 
sementes melhoradas, de fertilizantes industrializados e na aplicação de agroquímicos 
para controle fitossanitário. A produtividade por área e a produção total de alimentos 
aumentaram, razão que justificou o Prêmio Nobel da Paz de 1970 a Norman Borlaug. 
Entretanto, diversos problemas sociais (ampliação das desigualdades no campo, não 
resultou em redução da fome etc.), econômicos (êxodo rural, concentração fundiária, 
desigualdade regional etc.), de saúde (contaminação, mortalidade humana, alteração 
nos hábitos alimentares etc.) e de ordem ambiental (degradação, poluição, uso intensivo 
dos recursos naturais, perda de biodiversidade etc.) foram algumas das consequências 
negativas. Um dos primeiros relatos sobre esses efeitos e que apresentou impacto em 
nível mundial foi a partir do livro “Primavera Silenciosa” (1962), da bióloga e autora Rachel 
Louise Carson. A partir deste relato, movimentos e políticas ambientalistas ganharam 
importância, sendo que os debates entre defensores e críticos da Revolução Verde 
continuam até os dias atuais.
Regime fundiário a partir da Constituição Federal de 1988
A partir do processo de redemocratização e o fim do período militar, a 
nova Constituição Federal, editada em 5 de outubro de 1988, atualizou as ações 
relativas à política agrícola e fundiária e aquelas relacionadas à reforma agrária 
(art. 184º a 191º). Especificamente, no art. 186 (BRASIL, 1988), a Constituição 
Federal descreve que a “função social é cumprida quando a propriedade rural 
atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos 
em lei, aos seguintes requisitos”:
I - aproveitamento racional e adequado da propriedade;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio 
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
19
Atualmente, a legislação que trata da reforma agrária está descrita na Lei 
Federal nº 8.692, de 25 de fevereiro de 1993 (Lei Agrária), sendo complementada 
pela Lei Federal nº 13.465, de 11 de julho de 2017, que dispõe sobre a regularização 
fundiária rural e urbana, no âmbito da Amazônia Legal. Esses instrumentos 
legais conceituam, classificam e normatizam as propriedades rurais no Brasil, 
disciplinando o funcionamento das políticas fundiárias brasileiras. 
Também a reforma agrária teve dois planos de ação governamental, como 
o I (1985) e o II Plano Nacional de Reforma Agrária (2003), ambos com resultados 
pouco expressivos em relação à importância e necessidade (DELGADO; PEREIRA, 
2017). Segundo Neto (2006), dentre as condições que paralisam o andamento da 
reforma agrária, estão as ações do órgão executor (no caso, o INCRA), que necessita 
compatibilizar os programas de trabalho e as necessidades orçamentárias, além 
de buscar atuações integradas entre vários ministérios. Nesta barganha de poder, 
os embates políticos acabam por não privilegiar a classe dos não proprietários 
interessados na implementação da reforma agrária (NETO, 2006).
Concluída uma breve análise do processo histórico de formação da 
propriedade rural brasileira, vamos compreender agora como as discussões e 
ações sobre a questão agrária têm sido enfrentadas na atualidade.
5 QUESTÃO AGRÁRIA NA ATUALIDADE
Ao estudar como surgiu a questão agrária, fica mais fácil entender as 
razões que moldam as particularidades de desenvolvimento entre as regiões 
brasileiras. Estas informações ajudam a compreender como está caracterizada e 
quais os motivos que configuram a realidade agrícola no Brasil atual. Em relação 
à estrutura agrária atual, Delgado e Pereira (2017) destacam duas mudanças 
significativas e contrastantes, desde a Constituição de 1988:
1 a mudança conceitual do direito à propriedade rural, pelos critérios expressos na 
função social e ambiental (art. 5 e art. 186), acrescidos dos direitos territoriais aos 
povos indígenas (art. 231) e das comunidades quilombolas (art. 68). Essas mudanças 
na política institucional dependem de normas regulamentares e práticas de 
governo, sendo assim, dependentes de vontade política. De modo geral, avanços 
no reconhecimento de áreas de proteção ambiental e de comunidades tradicionais 
têm ocorrido, porém muitas situações de conflitos ainda se apresentam;
2 reestruturação da economia do agronegócio, baseada na captura da renda 
e na ampliação da riqueza fundiária nacional, expressando uma completa 
“mercadorização” dos espaços territoriais. Neste caso, segundo Delgado 
e Pereira (2017), as ações públicas e de interesse privado estão combinadas. 
Essas ações integradas, além de propiciar forte valorização da renda fundiária, 
ganham força na não adoção de restrições do direito público ao território, 
relacionadas à demarcação e implantação de áreas com função social ou 
ambiental. Na prática, a importância do mercado ainda se mantém como 
fundamento da política agrária brasileira.
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
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As mudanças descritas favoreceram, a partir dos anos 2000, um processo de 
intensa valorização dos preços das terras agrícolas do Brasil, em parte favorecida 
pelo mercado de commodities, e em parte ocasionada por fatores internos, como a 
reestruturação do sistema de crédito e o direcionamento do sistema de regulação 
fundiária (DELGADO; PEREIRA, 2017). Estes autores descrevem ainda que o 
projeto de modernização conservadora se reestrutura, articulado por ações que 
priorizam o comércio exterior, associadas à pressão do mercado e das cadeias 
agroindustriais, das decisões políticas e com apoio dos meios de comunicação.
Vamos agora analisar um mapa, elaborado por Girardi (2017), que 
apresenta uma proposição bem organizada sobre a configuração da questão 
agrária brasileira (Figura 5). Para facilitar sua compreensão, este mapa foi 
dividido em diferentes estruturas elementares: (1) o campesinato, (2) a expansão 
da fronteira agropecuária, (3) o processo migratório, (4) a produção agropecuária, 
(5) o setor do agronegócio, (6) as ocupações e as formações de assentamentos 
rurais e, finalmente (7), a violência no campo (GIRARDI, 2017).
5.1 O CAMPESINATO
Como primeira estrutura, vamos identificar o campesinato ou agricultura 
familiar que apresenta importância demográfica e econômica em três regiões: Sul, 
Nordeste e Norte. Na região Sul, a formação e colonização a partir de imigrantes 
europeus caracterizou uma agropecuária dinâmica e diversificada, com elevada 
produtividade e com grande importância econômica, gerando indicadores de 
qualidade de vida e renda acima da média nacional. A luta pela terra também 
tem grande representatividade, sendo uma das origens de organizações de 
luta pela terra, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), 
com diversos eventos de ocupações e assentamentos estabelecidos (GIRARDI, 
2017). Nesta parte do Brasil, a agricultura familiar apresenta-se organizada em 
várias associações e cooperativas de produção atuantes em diversas áreas, além 
de sistemas de integração entre produtores e agroindústrias que possibilitam a 
produção agropecuária. Nesta região, também se observa um setor pecuário bem 
estabelecido, com produção leiteira, de bovinos e ovinos, apresentando destaque na 
estruturação dos setores de avicultura e de suinocultura (GUILHOTO et al., 2007). 
Um outro aspecto que se destaca na região Sul é que a base produtiva diversificada 
foi adotada tanto por agricultores patronais quanto pela agricultura familiar. E 
em relação aos agricultores familiares, encontram-se diversascategorias sociais, 
formadas por agricultores capitalizados, em transição e aqueles sem condições 
de acompanhar o ritmo de mudanças nos sistemas produtivos implementados 
(MATTEI, 2016). Esse autor ainda identifica quatro grupos de agricultores 
familiares na região Sul do Brasil: o primeiro com produção exclusiva para o 
autoconsumo; o segundo grupo com produção voltada tanto ao autoconsumo 
como para o mercado; um terceiro, formado por produtores integrados a grandes 
agroindústrias; e o quarto grupo de agricultores que se dedicam à produção de 
commodities destinadas ao mercado nacional e à exportação.
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
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No Nordeste, a agropecuária familiar é caracterizada por perdas em 
decorrência de fatores climáticos (seca), baixa produtividade e uso de meios 
de produção precários, gerando baixos níveis de desenvolvimento. A principal 
causa das dificuldades de desenvolvimento rural nesta região se relaciona 
com a disponibilidade de água, tanto para o cultivo quanto para o consumo 
humano. Em relação à luta pela terra, destacam-se os movimentos das Ligas 
Camponesas, reunindo na região grande parte das ocupações de terras do país 
(GIRARDI, 2017). Na região Nordeste, a atividade agrícola apresenta grandes 
níveis de desigualdade. De um lado, atividades agropecuárias familiares de 
subsistência do agricultor sertanejo, com limitações produtivas ocasionadas pela 
restrita disponibilidade de água, apresentando produção pecuária baseada na 
caprinocultura e ovinocultura. Em outro extremo, há diversos polos de produção 
agrícola bem desenvolvidos, direcionados a atender os mercados nacionais do 
Centro-Sul do Brasil e o comércio internacional, com destaque para a fruticultura 
irrigada (GUILHOTO et al., 2007).
FIGURA 5 – CONFIGURAÇÃO AGRÁRIA ATUAL
FONTE: Adaptado de Girardi (2017). Disponível em: <http://www.atlasbrasilagrario.com.br/con_
subcat/configuracao-da-questao-agraria>. Acesso em: 19 jun. 2018.
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
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Na região Amazônica, o campesinato é formado por populações ribeirinhas 
e por massas migratórias nordestinas e do Sul. As atividades extrativistas e a 
produção agropecuária em pequena escala, direcionadas ao abastecimento 
regional, são características marcantes, resultando em baixos índices produtivos e 
de desenvolvimento socioeconômico. Atualmente a região Amazônica concentra 
grande parte dos projetos de colonização e de assentamentos rurais e pequenas 
posses vêm sofrendo violência do avanço do latifúndio em busca de expansão 
econômica (GIRARDI, 2017). A região Norte é caracterizada pela atual área de 
expansão das fronteiras agrícolas do agronegócio e da pecuária extensiva, pelo 
extrativismo de recursos florestais e pela pesca. Nesta região, se concentram 
muitos conflitos agrários associados à posse da terra e à demarcação de áreas 
indígenas (que também ocorrem em outras regiões do país, porém em menores 
níveis de violência). Identifica-se também uma produção familiar baseada na 
agricultura de subsistência, ligada a uma particular estrutura social e demográfica 
(GUILHOTO et al., 2007).
5.2 A EXPANSÃO DAS FRONTEIRAS AGROPECUÁRIAS
A expansão das fronteiras agropecuárias caracteriza a segunda estrutura 
elementar da questão agrária no Brasil, baseada em políticas públicas, ocupando 
regiões do Cerrado e da Amazônia, a partir do final da década de 1960 e início dos 
anos 1970. Embora expressivo crescimento econômico esteja sendo verificado, o 
governo mantém incentivo à ocupação da região, mesmo identificando graves 
problemas de devastação da floresta, violência contra ocupantes e trabalhadores 
rurais e crimes de grilagem de terras públicas. Esse quadro resulta em crescimento 
demográfico desordenado, desflorestamento e expansão de atividades extrativas 
e pouco sustentáveis de utilização da terra (GIRARDI, 2017).
5.3 O PROCESSO MIGRATÓRIO
O processo migratório, que está ligado à expansão agropecuária, é apontado 
por Girardi (2017) como uma consequência da modernização da agricultura e 
do êxodo rural. São apontadas duas frentes migratórias majoritárias, uma que 
vem do Sudeste e, principalmente, do Sul na busca de novas oportunidades 
econômicas e como estratégia para minimizar os efeitos do extremo parcelamento 
das propriedades familiares. Essas correntes migrantes, que se encontram em 
menor intensidade atualmente, se estabeleceram principalmente em Rondônia, 
Mato Grosso e Bahia. A segunda corrente de migrantes tem origem do Nordeste, 
ocupando a região central da Amazônia, parte do Estado do Maranhão e o 
Sudeste do Pará, sendo atraídos pela posse de terras e na busca por trabalho, como 
exemplo, nas áreas de seringais. Atualmente, essa segunda frente apresenta-se 
mais ativa, e muitas vezes, se encontra com os produtores que partem agora do 
Centro-Oeste em direção ao Norte.
TÓPICO 1 | HISTÓRICO DA QUESTÃO AGRÁRIA
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5.4 A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
Em relação à produção agropecuária, os estados do Sul e partes das regiões 
Sudeste e Centro-Oeste apresentam uma atividade agropecuária diversificada, 
composta por intensa mecanização e uso de novas tecnologias, possibilitando uma 
atividade produtiva expressiva. Nessas áreas de intensa atividade agropecuária, 
predominam relações de produção familiar (principalmente na região Sul) e 
trabalho assalariado, formando a principal região agropecuária do país (Figura 
5). Ainda na parte norte da região Sudeste e Centro-Oeste, as áreas ainda ociosas 
e subutilizadas têm sido ocupadas pelo avanço de lavouras do agronegócio (cana, 
soja etc.) (GIRARDI, 2017). Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, verifica-se uma 
atividade intensiva do agronegócio, estruturada na produção de commodities 
agrícolas, com expressiva atividade pecuária de produção leiteira e de carne 
bovina. As atividades agropecuárias diversificadas e com elevado nível de 
tecnologia fazem, destas regiões, importantes produtoras de alimentos e de 
produtos destinados à exportação. Em relação às organizações associativas, as 
entidades apresentam expressiva importância, principalmente para o setor 
agrícola empresarial (GUILHOTO et al., 2007).
5.5 O SETOR DO AGRONEGÓCIO
A expansão do agronegócio, baseada na produção intensiva de grãos, 
principalmente nas áreas de Cerrado, localizadas na região Centro-Oeste, 
e mais recentemente no oeste da Bahia, no sul do Maranhão e Piauí, também 
constitui um fator de influência sobre a questão agrária. A ocupação do território, 
associada à derrubada da floresta nas áreas da Amazônia, amplia a desigualdade 
na realidade fundiária brasileira. As características do agronegócio voltado à 
exportação de grãos e sob a demanda do mercado internacional de commodities 
é que constituem as forças dessa desigualdade na região e no restante do país 
(GIRARDI, 2017).
5.6 AS OCUPAÇÕES E AS FORMAÇÕES DE ASSENTAMENTOS 
RURAIS
Os movimentos sociais de luta pela terra, requerendo o estabelecimento 
de assentamentos rurais, têm como forma de ação a ocupação de territórios para 
denunciar os problemas relacionados à desigualdade na distribuição fundiária 
no Brasil e a possibilidade de reivindicar soluções. Os locais de maior atividade 
de luta pela terra ocorrem em áreas de ocupação consolidada, localizadas desde 
o Centro-Sul até parte do litoral do Nordeste (Figura 5). Estas áreas são mais 
demandadas, segundo Girardi (2017), pois as atividades produtivas em pequena 
escala apresentam maiores chances de sucesso, devido à proximidade com o 
mercado consumidor, melhor infraestrutura e acesso mais facilitado aos serviços 
básicos. Atualmente, a partir das ações de ocupação e formação de assentamentos 
UNIDADE 1 | DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO BRASILEIRO
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rurais, os movimentos sociais de luta pela terra têm promovido a forma mais 
eficiente de pressão política, que tem resultado no avanço, embora lento, da 
reforma agrária. Porém, o estabelecimento de muitos assentamentos rurais 
nas áreas de fronteiras agrícolas é uma das dificuldades para a resolução dos

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