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PEÇA 2 RECURSO DE APELAÇÃO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NOVO HAMBURGO/RS
Processo nº: XXXXXXXXX.XXX.XX
Meritíssimo juiz.
CLEOMAR, já qualificado nos autos em epígrafe, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por meio de seu procurador infrafirmado, na forma do artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal, interpor tempestivamente o presente
RECURSO DE APELAÇÃO
Em razão da inconformidade com a decisão r. sentença, requerendo a reforma da sentença condenatória consoante fatos e fundamentos jurídicos que estão acostados em anexo.
Nestes termos, pede deferimento.
Novo Hamburgo, 13 de junho de 2022.
ADVOGADO
OAB/RS nº: XXXX
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Processo nº: XXXXXXXXX.XXX.XX
Recorrente: Cleomar
Recorrido: Ministério Público Estadual
COLENDA CÂMARA;
Eméritos Julgadores.
CLEOMAR, já qualificado nos autos em epígrafe, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por meio de seu procurador infrafirmado, na forma do artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal, interpor tempestivamente o presente RECURSO DE APELAÇÂO em razão da inconformidade com a decisão r. sentença, requerendo a reforma da sentença condenatória consoante fatos e fundamentos jurídicos que seguem:
I – DOS FATOS
O Ministério Público denunciou Cleomar pela prática de delito descrito nos artigos 302 da Lei nº 9.503/97, por duas vezes, e no artigo 303 do mesmo diploma legal, ambos em concurso material, por fato supostamente ocorrido em 08 de julho de 2019 onde o apelante, na direção do veículo automotor, com imprudência em razão do excesso de velocidade, colidiu com um veículo em que estavam Jair e Milton, este na época com 9 anos, causando lesões que resultaram a morte de ambos. 
Pode se observar ainda na inicial de que, em decorrência da mesma colisão, ficou lesionado Paulo, que passava pelo local com sua bicicleta e foi atingido pelo veículo em alta velocidade, este, que, após atendimento médico em hospital público, se retirou do local, sem ser notado, razão pela qual foi elaborado laudo indireto de corpo de delito com base no boletim de atendimento médico. Paulo nunca compareceu em sede policial para narrar o ocorrido e nem ao Instituto Médico Legal.	
No curso da instrução, foram ouvidas testemunhas presenciais, não sendo Paulo localizado. Durante o interrogatório o apelante negou estar em excesso de velocidade, esclarecendo que perdeu o controle do carro em razão de um buraco existente na pista. Foi acostado exame pericial realizado nos automóveis e no local, concluindo que, realmente, não houve excesso de velocidade por parte do apelante, e que havia o buraco mencionado na pista. O exame pericial, entretanto, apontou que possivelmente haveria imperícia do apelante na condução do automóvel, o que poderia ter contribuído para o resultado.
O juiz a quo julgou totalmente procedente a pretensão punitiva do Estado e, apesar de afastar o excesso de velocidade, afirmou ser necessário a condenação do apelante em razão da imperícia. No momento da dosimetria, fixou a pena base de cada um dos crimes no mínimo legal, e, com relação à vítima Milton, na segunda fase, reconheceu a agravante prevista no art. 61, inciso II, alínea h do CP, pelo fato de ser criança, aumentando a pena base em 3 meses. Ficando a pena acomodada em 04 anos e 9 meses de detenção. Não houve substituição de pena privativa de liberdade por restritivas de direitos em razão do quantum final, nos termos do art. 44, inciso I, do CP, sendo iniciado o regime inicial fechado de cumprimento de pena, com fundamento na gravidade em concreto da conduta. 
Irresignada, a defesa interpõe o recurso de Apelação, apresentando as respectivas razões.
É o relatório.	
	
II – DO DIREITO
1. PRELIMINAR DE DECADÊNCIA DA LESÃO CORPORAL CULPOSA
Primeiramente, é essencial observarmos o art. 291, §1º da Lei n.º 9.503/97, do Código de trânsito Brasileiro, c/c o art. 88 da Lei n.º 9.099/95, onde prevê que o crime praticado na direção de veículo automotor, se faz necessário a representação do ofendido na ação penal, no que tange aos crimes de lesão corporal leve e lesão culposa. 
Diante disso, ao analisarmos o caso em tela, veremos que a vítima Paulo, que teria sido envolvido no acidente, posterior ao ocorrido, fora atendido no hospital público, de onde se retirou, sem ser notado, razão pela qual foi elaborado laudo indireto de corpo de delito com base no boletim de atendimento médico. Importante frisar, que Paulo em nenhum momento compareceu na Delegacia para apresentar queixa, tampouco em juízo, ficando evidente que não havia interesse da vítima em responsabilizar o autor do fato. 
 Ademais, considerando o art. 38 do Código de Processo Penal, prevê o prazo legal de 06 meses após a identificação da autoria, salvo disposição em contrário, para que o ofendido ou seu representante legal proponha a queixa. 	Desta forma, já passados mais de 06 meses para a devida representação por parte da vítima, conforme o artigo supracitado, houve a decadência, portanto, requer de maneira preliminar que seja extinta a punibilidade, com fulcro no art. 107, inciso IV do Código Penal. 
	
2 – NO MÉRITO ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA
No caso em tela, de acordo com a denúncia proferida pelo MP, no dia 08 de julho de 2019, o réu foi acusado por dirigir o veiculo em alta velocidade e que tal imprudência resultou no desfecho do acidente, causando a morte de Jair e Milton e as lesões de Paulo.
Entretanto, em análise ao que foi acostado em exame pericial realizado nos automóveis e no local, verificou-se que não houve excesso de velocidade por parte do Cleomar e que havia um buraco na pista, conforme mencionado outrora pelo réu, motivo que o teria feito perder o controle do veículo. No exame pericial, todavia, apontou que possivelmente haveria imperícia de Cleomar na condução do automóvel, o que poderia ter contribuído para o resultado. Já o juiz julgou totalmente procedente a pretensão punitiva do Estado, porém, reconheceu que não houve imprudência por excesso de velocidade por parte do Cleomar.
Pelos fatos narrados, o magistrado deve absolver o réu por inexistência de prova, pois considerando que o Ministério Público ao proferir na denúncia que houve imprudência por excesso de velocidade, todavia, comprovado por meio de perito que não ocorreu, no que concerne a conduta de imperícia, essa nunca foi mencionada nos autos do processo, e o MP poderia ter incluído na denúncia antes da sentença, mas não o fez. 
Portanto, o juiz não pode condenar o réu com o fundamento de imperícia, sendo que a conduta em questão não foi objeto na denúncia, isso viola o princípio da correlação, a qual representa uma garantia relevante do direito de defesa, sendo assim, se requer a absolvição por inexistência de prova para a condenação, com base no art. 386, inciso VII do CPP.
3 – CONCURSO FORMAL
Cabe ressaltar, caso mantida a pena da sentença, deve ser destacado que o réu praticou apenas uma conduta que gerou múltiplos resultados, que infelizmente acabou vitimando Jair e Milton, bem como gerando supostamente a lesão corporal de Paulo.
Desse modo, a ação gerada no caso concreto, configura-se concurso formal, conforme fulcro no art. 70, do CP, não havendo o que se falar em concurso material, nos termos do art. 69 do CP, pois nesse caso, é necessário que o agente tenha cometido mais de uma ação ou omissão resultando em dois ou mais crimes. 
Diante disso, requer-se o afastamento do concurso material e o reconhecimento do concurso formal, devendo correr a exasperação da pena mais grave e não a soma das penas aplicáveis. 
 
4 – DOSIMETRIA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
No tocante a dosimetria, é importante frisar que o juiz fixou a pena base de cada um dos crimes no mínimo legal e, com relação a vítima Milton, na segunda fase, reconheceu a agravante prevista no art. 61, inciso II, alínea h do CP, pelo fato de ser criança, aumentando a pena base em 3 meses.
Conforme veremos em jurisprudência:
Ementa: APELAÇÃO CRIME. HOMICÍDIONA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. ARTIGO 302, CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. PRELIMINAR DE NULIDADE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO DECISUM. REJEIÇÃO. NÃO SE HÁ CONFUNDIR O ACOLHIMENTO DE TESE DIVERSA DAQUELA SUSTENTADA PELA DEFESA COM VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA, EIS QUE O JULGADOR DETÉM O PODER DE ACOLHER, DENTRE AS TESES AVENTADAS NOS AUTOS, A QUE LHE PAREÇA MAIS AJUSTADA AO CONJUNTO PROBATÓRIO. MÉRITO. COMPROVADAS MATERIALIDADE, AUTORIA E A CULPA DO RÉU. IMPRUDÊNCIA. VELOCIDADE EXCESSIVA QUE SE EXTRAI DA PROVA TESTEMUNHAL, ALIADA À PROJEÇÃO DO CORPO DA VÍTIMA PARA CIMA E CONTRA O PÁRA-BRISA DO VEÍCULO, E AOS FERIMENTOS NELA PRODUZIDOS, EIS QUE SOFREU HEMORRAGIA INTERNA. CONDENAÇÃO IMPOSITIVA. OMISSÃO DE SOCORRO IGUALMENTE COMPROVADA, O QUE QUALIFICA O DELITO. INAPLICABILIDADE DAS AGRAVANTES DO INCISO II DO ART. 61 DO CÓDIGO PENAL AOS CRIMES CULPOSOS. APELO DEFENSIVO PROVIDO EM PARTE. (Apelação Crime, Nº 70039841358, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Newton Brasil de Leão, Julgado em 04-05-2011). (Grifo meu).
Nesse mesmo sentido, vejamos a doutrina:
“Quando se configurar a majorante, isto é, a causa de aumento, não incidirá a agravante genérica do art. 61, II, h, do CP (crime contra criança ou maior de sessenta anos). Ademais, é indispensável que a idade da vítima seja abrangida pelo dolo, ou seja, é fundamental que o sujeito ativo tenha consciência da sua menoridade ou de sua condição de maior de sessenta anos, caso contrário a agravante é inaplicável. (Bitencourt, Cezar R. TRATADO DE DIREITO PENAL 1 - PARTE GERAL. Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2021)”. (Grifo meu).
Ante ao exposto, tanto da doutrina, quanto da jurisprudência, requer-se o afastamento da agravante, considerando-se que não houve crime doloso, sendo assim, não é cabível incidir agravante pelo fato de a vitima ser criança, pois trata-se de um crime culposo.
 
5 – SUBSTITUIÇÃO POR PENA RESTRITIVA DE DIREITOS
No que tange na sentença proferida pelo juiz, não houve substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos em razão do quantum final, nos termos do art. 44, inciso I, do CP, sendo fixado o regime inicial fechado de cumprimento de pena, com fundamento na gravidade em concreto da conduta. Cabe citar o dispositivo legal supracitado:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;(Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998).
Portanto, com fundamento no artigo acima mencionado, no caso em tela foi proferido condenação de crimes culposos, nesse sentido, deve-se aplicar a conversão da pena privativa de liberdade pela restritiva de direito. 
6 – DO REGIME INICIAL
Por fim, destacamos que o presente caso, deve ser aplicado o regime aberto ou semiaberto, considerando que o réu fora condenado em 04 anos e 09 meses de detenção.
Conforme segue as respectivas sansões penais nos artigos do (CTB):
 Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Ante o exposto, com fulcro no art. 33 do CP, os crimes cuja pena prevista é de detenção, deverá ser cumprido no regime aberto ou semiaberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado, que não é o caso em questão. Em razão disso, requer-se a reforma da decisão do juízo a quo. 
III – DOS PEDIDOS
Por estas razões, requer o conhecimento e provimento do presente Recurso de Apelação ora interposto, a fim de que:
a) Primeiramente, quer que seja reconhecida e declarada extinta a punibilidade do réu em razão da decadência da lesão corporal culposa, conforme o art. 107, inciso IV, do CP;
b) Seja reconhecida e declarada a absolvição probatória no tocante a denúncia de IMPRUDÊNCIA, com fulcro no art. 386, inciso VII do CPP;
c) Subsidiariamente, em caso de eventual manutenção da sentença, seja reconhecido e declarado o afastamento do concurso material e reconhecido o concurso formal, com base no art. 70 do CP;
d) Subsidiariamente, seja reconhecido e declarado o afastamento da agravante pela vítima ser criança, com base na jurisprudência e na doutrina supracitada;
e) Subsidiariamente, seja reconhecida e declarada a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, conforme o art. 44, inciso I do CP;
f) Por fim, seja reconhecido e declarado o afastamento de regime mais severo e concedido a aplicação do regime aberto ou semiaberto, com fulcro no art. 33 do CP. 
Nestes termos, pede deferimento.
Novo Hamburgo, 13 de junho de 2022.
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ADVOGADO
OAB/RS nº: XXXX

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