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PLANEJAMENTO URBANO AULA 6 Profª Daniela Tahira 2 CONVERSA INICIAL Dando continuidade ao tema de mobilidade, iniciaremos esta aula com a mobilidade urbana associada ao conceito cada vez mais importante de cidade sustentável. Seguiremos estudando a sua gestão e alguns de seus elementos, encerrando com a questão da inovação e tendências na mobilidade. Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de compreender a importância de se incutir o conceito de sustentabilidade de forma profunda em todos os aspectos do planejamento urbano, como nos planos referentes à mobilidade, por exemplo. TEMA 1 – MOBILIDADE E CIDADE SUSTENTÁVEL A sustentabilidade é um aspecto que vem ganhando cada vez mais relevância com o passar dos anos, tornando-se indispensável ao gestor público, bem como a todos os que decidam pensar e projetar o meio urbano. O conceito de sustentabilidade vai além da mera sustentabilidade ambiental, incluindo também a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade da qualidade de vida e a sustentabilidade de acessibilidade e inclusão. Ou seja, o planejador urbano deve buscar alcançar um equilíbrio entre a eficiência de serviços públicos e a utilização do uso do solo, com a possibilidade de manutenção econômica desses sistemas a longo prazo, ao mesmo tempo em que potencializa a qualidade de vida dos cidadãos, bem como a possibilidade de que todos tenham acesso a esses serviços e sistemas. Nesta aula, nosso foco é na junção da sustentabilidade e do planejamento da mobilidade urbana. Como já visto em aulas anteriores, a mobilidade urbana é um dos aspectos do planejamento urbano que geram um impacto mais visível e direto na qualidade de vida dos cidadãos. A sua importância é tão grande que o transporte público é o único serviço urbano expressamente citado no Estatuto da Cidade – Lei n. 10.257, de dez de julho de 2001 (Brasil, 2001). Para Fabio Duarte (2012), o usufruto da cidade depende do ir e vir, ou seja, de ações cotidianas: ir à escola ou ao trabalho; frequentar atividades especiais, como usar um posto de saúde ou consultar um médico; fazer o uso de equipamentos de lazer ou outras atividades sociais. O fato é que todas dependem de boas condições de locomoção nas cidades. 3 Entre as modalidades de mobilidade urbana, temos aquelas que não dependem de motorização (caminhar ou utilizar bicicletas) e aquelas dependentes de meios de transporte movidos a motor. Essa segunda categoria se subdivide ainda nos meios de transporte “individuais” (ou utilizados para poucas pessoas), como motos e carros particulares, e nos meios de transporte coletivos, com capacidade de transportar um grande número de pessoas. Cabe ao planejador urbano garantir que essas formas de mobilidade sejam utilizadas de forma racional, integrada e eficiente, a fim de que se garanta a sustentabilidade do sistema. Nesse sentido, Fabio Duarte (2012) destaca que o transporte coletivo motorizado de qualidade é um dos principais meios de garantir direitos básicos aos cidadãos, uma vez que permite o acesso a serviços públicos e equipamentos urbanos e ao mercado de trabalho. Porém, o número crescente de veículos privados em circulação (de um lado) e o aumento do número de viagens a pé (de outro) fazem com que seja cada vez mais necessário que a reflexão sobre transportes urbanos não se restrinja aos sistemas coletivos. Em vez disso, é preciso pensar sobre todos os meios de locomoção possíveis na cidade e, principalmente, pensar em articulações entre esses meios. Como já destacado ao longo de nossos estudos, torna-se cada vez mais importante uma mudança de foco, tirando a primazia exclusiva do foco na utilização de automóveis para abrir cada vez mais espaço e opções para adoção de formas de transporte mais saudáveis e menos poluentes, como a caminhada ou utilização de bicicletas, que além de mais sustentáveis do ponto de vista ambiental e econômico, permitem uma maior integração entre o cidadão e a cidade. Quem tem a oportunidade e costume de caminhar pela cidade sabe como é rica essa experiência, a qual possibilita um contato maior com outras pessoas e mobiliário urbano, permitindo que constantemente se descubram “tesouros escondidos” que passam despercebidos por quem somente utiliza carros ou transporte coletivo. TEMA 2 – GESTÃO DA MOBILIDADE URBANA A gestão da mobilidade urbana em um Município pode se dar por meio de diversos instrumentos, entre os quais podemos destacar o Plano Diretor e o Plano Municipal de Mobilidade Urbana. Muito se falou sobre o Plano Diretor nas aulas anteriores. Vimos que ele é fundamental para todas as diretrizes de planejamento em uma cidade. 4 Já o Plano Municipal de Mobilidade Urbana, nas palavras de Turbay e Cassilha (2021), visa auxiliar a integração de mobilidade nas grandes metrópoles: “nos locais em que os serviços têm caráter metropolitano, os Estados ou um consórcio de municípios devem planejar a integração dos modos de transporte e serviços”. Visando criar parâmetros para essa integração, a Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades lançou o Caderno de Referência para Elaboração de Plano de Mobilidade Urbana, no ano de 2015. Aos municípios que não desenvolverem seu PlanMob e que se enquadrem nas regras de exigência, serão negados recursos federais para implantação na mobilidade urbana. Dessa forma, cabe ao planejador urbano adequar o caderno de referências às necessidades específicas de seu Município, sendo igualmente importante, além do planejamento inicial, realizar o acompanhamento da implantação dos projetos e estabelecer critérios que busquem garantir o aperfeiçoamento contínuo. De acordo com Turbay e Cassilha (2021), a “metodologia sugerida apresenta duas frentes, a primeira dedicada à organização e efetivação da representação democrática, e a segunda aos documentos técnicos de planejamento”: • Frente 1 – Processo de construção participativa: a) Fase 1 – Mobilização e mapeamento dos atores; b) Fase 2 – Comunicação e participação; c) Fase 3 – Revisão e validação; • Frente 2 – Processo de elaboração técnica a) Fase 1 – Plano de trabalho; b) Fase 2 – Diagnóstico da mobilidade urbana; c) Fase 3 – Prognóstico: projeção da demanda e análise de alternativas; d) Fase 4 – Objetivos, metas e ações estratégicas; e) Fase 5 – Programa de investimentos, monitoramento e gestão do Plano de Mobilidade Urbana. Em suma, nas palavras de Turbay e Cassilha (2021), O planejamento da mobilidade de acordo com os Planos Municipais, Planos Diretores e Planos de Mobilidade Urbana é um grande avanço na fundamentação urbana. Entretanto, para que ocorra a efetivação prática, devem ser seguidos também os processos de desenvolvimento, implementação e, principalmente, gestão. Para que 5 seja possível o acompanhamento das mudanças que ocorrem cada vez em maior velocidade, é interessante a utilização de acompanhamento por sistemas com certa flexibilidade, que permitam rápidas intervenções” Para que se atinja a maior efetividade possível, é indispensável que o gestor público saiba trabalhar com as opções disponibilizadas pelo avanço tecnológico. Turbay e Cassilhas (2021) citam o exemplo da sincronização de semáforos para ilustrar uma das inúmeras possibilidades de utilização da tecnologia: Questões como alteração de sequência semafórica ou comunicação de qualquer eventualidade, que colaboram em tempo real com os deslocamentos urbanos, precisam ter auxílio da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), com sistemas integrados e inteligentes. Estes aspectos, para serem implementados, precisam estar previstos no Plano Diretor Municipal, possibilitando correta estruturação institucional de planejamento e gestão. Além do uso da tecnologia, é fundamental a integração entre os diversos órgãosda administração pública em diferentes níveis, tanto da administração pública direta como da administração pública indireta. Dessa forma, as diversas secretarias, autarquias e fundações de um Município devem buscar trabalhar de forma harmônica e integrada, a fim de que possam cumprir sua finalidade precípua, que é a de buscar o bem comum. Da mesma forma, órgãos municipais devem atuar em conjunto e de forma harmoniosa com órgãos estaduais e federais. Por mais óbvia que possa parecer a necessidade de atuação conjunta e harmônica dentro da administração pública, na prática, ainda é possível encontrar órgãos que não se comunicam, ou a criação de “feudos” que chegam a antagonizar outros entes públicos, prejudicando a prestação do serviço público. Esse alerta é destacado por Turbay e Cassilha (2021): Com relação à estrutura organizacional para a gestão da mobilidade, as funções geralmente se distribuem em secretarias e outros órgãos, muitas vezes com competências sobrepostas, ocasionando resultados incoerentes e morosidade. As instâncias para gerenciamento do transporte urbano, por exemplo, têm bastante variação de arranjo. Outros serviços, como obras viárias e transporte público, geralmente se encontram em diferentes secretarias, dificultando a abordagem integrada. Um ponto de conflito ocorre quando a gestão das diferentes vias urbanas está sob a responsabilidade de distintos órgãos, estaduais e municipais; o mesmo ocorre com áreas conurbadas. Diversas conformações podem ser adotadas no gerenciamento, mas uma estrutura com integração conforme as demandas locais é premissa para o bom funcionamento. 6 Ainda com relação à necessidade de atuação integrada dos entes da administração pública, Turbay e Cassilha (2021) destacam que De acordo com o constante no Código Brasileiro de Trânsito – Lei n° 9.503 de 1997 – os municípios passam a ser responsáveis pelo seu trânsito local. As políticas públicas municipais, entretanto, devem estar coordenadas com outros órgãos como: Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN), Conselho Estadual de Trânsito (CETRAN), Departamento de Estrada de Rodagem (DER), e a âmbito federal Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Com relação às vias de circulação, cada qual com ligação direta de gestão por diferentes órgãos, a classificação por hierarquia distingue as diversas tipologias, conforme função e importância dentro da área onde se encontram. A hierarquia traz informações e possibilidades de locomoção pelas vias, organizando-as com distintas características, como os tipos de veículos suportados e suas velocidades de tráfego, definindo também a ocupação e uso do solo resultante destes fatores. TEMA 3 – ALGUNS ELEMENTOS DA MOBILIDADE URBANA Passaremos agora a estudar alguns elementos da mobilidade urbana. 3.1 Sistema viário A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define a rede viária como “o conjunto de vias classificadas de um sistema de rodovias, ferrovias e/ou de outras formas de transportes” (ABNT NBR 6973, 1980). Turbay a Cassilha (2021) destacam que Por sua importância para a mobilidade e serviços urbanos, é de extrema importância o planejamento, a execução e a manutenção adequada de todo o sistema de vias em um município, para que seja possível a garantia da qualidade de vida da população. Conforme a evolução de uma cidade, as vias podem ter sua hierarquia alterada, o que por vezes acarreta a desvalorização de certas áreas. Um exemplo disso é quando uma via exclusivamente residencial tem seu tráfego e velocidades aumentadas, causando grande desconforto de acesso assim como diminuição da qualidade de vida dentro das residências ali estabelecidas. O sistema viário se constitui na rede de veias e artérias que permite a oxigenação de todas as regiões de uma cidade. Tal analogia pode ser estendida para afirmar que falhas ou obstruções nessa rede de artérias pode ocasionar graves enfermidades a partes desse corpo urbano. Turbay e Cassilha (2021) apontam que a respeito da classificação das vias, a primeira abordagem legal seria segundo a determinação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seus artigos 60 e 61. Este importante instrumento divide as vias em 7 urbanas – locais, coletoras, arteriais e de trânsito rápido – e rurais – estradas e rodovias – trazendo as velocidades máximas permitidas em cada uma delas. Segundo o PlanMob: “é importante destacar a necessidade de aprofundar a discussão referente à classificação viária para a correta abordagem das vias destinadas aos pedestres e ciclistas, que, neste caso, podem ser calçadões, ciclofaixas ou ciclovias. Ainda de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, as vias se classificam da seguinte forma: 1. Vias urbanas • Vias locais: são caracterizadas por interseções em nível, não semaforizadas e destinadas ao acesso local ou a áreas de circulação restrita. Velocidade de 30 km/h; • Vias coletoras: são destinadas a coletar e distribuir o tráfego proveniente das vias arteriais e de trânsito rápido, destinadas à circulação dentro de regiões. Velocidade de 40 km/h; • Vias arteriais: são caracterizadas por interseções e travessia de pedestres em nível, normalmente semaforizadas, com acesso aos lotes lindeiros, assim como às vias coletoras e locais, destinadas à circulação entre regiões. Velocidade de 60 km/h; • Vias de trânsito rápido: são caracterizadas pelo trânsito livre, sem interseções, acesso a lotes lindeiros ou travessia de pedestres em nível. Velocidade de 80 km/h. 2. Vias rurais • Estradas: a principal característica deste tipo de via é a manutenção do leito natural, ou seja, ausência de pavimentação. Velocidade de 60 km/h; • Rodovias: este tipo de via se diferencia das demais vias rurais por possuir pavimentação, normalmente asfáltica. Velocidades: automóveis e camionetas – 110 km/h; ônibus e micro-ônibus – 90 km/h; demais veículos – 80 km/h. Por fim, como apontam Turbay e Cassilhas (2021), além da classificação legal citada, as vias podem ser hierarquizadas conforme a intervenção administrativa dos diversos níveis governamentais. De maneira geral, as vias urbanas são de responsabilidade da prefeitura e as rurais ficam a cargo dos governos estaduais, federais e da união. Entretanto, em regiões metropolitanas onde ocorre grande fluxo de veículos e pedestres, se faz necessária a intervenção coordenada dos diversos poderes, sempre respeitando a autonomia do município. 8 3.2 Estudo de impacto Como já destacado, o planejador urbano deve buscar o auxílio do máximo de ferramentas e conhecimentos multidisciplinares para auxiliá-lo no desenho da cidade. Entre essas ferramentas está o Estudo de Impacto da Vizinhança (EIV), fundamental para avaliar os impactos causados pela implementação de determinado projeto, e que está previsto nos art. 36 e 37 do Estatuto da Cidade. Turbay e Cassilha (2021) destacam que No desenvolvimento do Estudo de Impacto de Vizinhança, a primeira decisão a ser tomada diz respeito à delimitação de áreas de influência (direta e indireta) do empreendimento. Outro procedimento inicial é relativo à realidade local, como: principais fluxos existentes (veículos e pessoas) e seus horários de pico, capacidades do sistema viário principal, assim como as principais linhas de transporte público e seus terminais e pontos de embarque e desembarque. Delimitado o panorama existente, procede-se à análise do incremento na demanda, determinado pela implantação do empreendimento, tanto em relação ao período das obras quanto às atividades permanentes de operação. Na previsão das obras de implantação, os fluxos de veículos de carga devem ser precisos conforme projetos de arquitetura e engenharia. Já para fase de operação, normalmente é realizada previsão de incremento de fluxo pelo instrumentode microssimulação. O EIV prevê dois tipos de medidas a serem compensadas: – Medidas mitigadoras: para impactos passíveis de serem reduzidos, por exemplo, prever atividades de carga e descarga em horários alternativos aos picos de tráfego, ou ainda acesso ao empreendimento por estruturas de desaceleração com canaletas de acumulação de veículos; – Medidas compensatórias: para impactos que não podem ser reduzidos, fica o compromisso do empreendedor em realizar algum benefício à localidade. 3.3 Intermodalidade de transporte De acordo com Robson (2000), “a intermodalidade é caracterizada pela combinação de diferentes tecnologias em um processo de transporte integrado”. Como já destacado diversas vezes ao longo deste curso, a integração entre os diversos modais de mobilidade, bem como a mudança do foco do carro para o transporte coletivo e os meios não motorizados são essenciais para que se alcance um sistema de mobilidade sustentável e eficiente. Turbay e Cassilha (2021) destacam que Segundo Zipori (2015), observa-se que “por preocupações decorrentes tanto das mudanças climáticas quanto da saúde pública, nos últimos anos muitas cidades em todo o mundo começaram a examinar sua relação com o automóvel privado e, em alguns casos notáveis, implementar políticas de transporte e uso da terra destinadas a permitir ainda modos de mobilidade não motorizados”. A intermobilidade deve atentar para as melhores práticas em cada situação-problema apresentada. Um dos grandes desafios observados nas cidades é a 9 chamada última milha ou último trecho, onde o atendimento pelos sistemas convencionais é de qualidade ruim. 3.4 Mobilidade urbana inteligente Para Turbay e Cassilha (2021), o conceito de mobilidade urbana inteligente exige a coordenação em rede de empresas ligadas ao transporte, com coleta e análise de informações dos serviços que operam em um território, além da correta apropriação, por cada uma das empresas, das informações resultantes para otimizar seus desempenhos. As características determinantes da inteligência em mobilidade dependem do engajamento político e das comunidades, além de suporte financeiro público e privado. A participação de empresas privadas é um recurso de extrema importância, sobretudo em um país com recursos limitados como o Brasil. Da mesma forma, a contribuição da academia e outros setores da sociedade civil podem trazer grandes benefícios para o planejador urbano. Cabe ao gestor público incentivar, regular e filtrar a atuação desses diversos agentes. Turbay e Cassilhas (2021) destacam que Com relação às estratégias para a efetiva transformação em direção à mobilidade urbana inteligente, é fundamental utilizar os meios físicos e digitais disponíveis. Segundo Yigitcanlar (2013), vivemos um momento histórico que “demanda crescente geração, circulação e uso do conhecimento”. Cada um dos atores entes públicos e privados, meios acadêmicos e a sociedade, precisam exercer de fato seu papel para atingir os resultados almejados. As contribuições do poder público concentram-se em determinações jurídico-legais passíveis de fundamentar a implantação da infraestrutura necessária. A iniciativa privada entra em campo com capital de investimento, com participação na exploração comercial operacional dos serviços. A academia tem sua contribuição em pesquisas voltadas à geração de inovação a ser implementada na área dos transportes e mobilidade nas cidades. 3.5 Mobilidade ativa De acordo com Turbay e Cassilhas (2021), o conceito de mobilidade ativa conforme citado por Gerike et al. (2016): é de forma simples, “a caminhada (walking) e o ciclismo (cycling) como transporte”; é comum que a MA seja definida também pela mobilidade baseada na propulsão humana, sem o uso de motores. Como visto no capítulo anterior, o plano de Londres para o futuro da mobilidade determina que o ciclismo e viagens ativas devem permanecer como as melhores opções para viagens urbanas curtas. Como já visto anteriormente, o foco está nas formas de mobilidade que privilegiem e incentivem que os cidadãos adotem formas mais saudáveis e sustentáveis de mobilidade. 10 Segundo Koszowski (2019), a mobilidade ativa contribui para a saúde pública, pois minimiza a emissão de poluentes e promove a atividade física, auxiliando para a redução: dos elevados índices de doenças decorrentes da poluição atmosférica e emissão de gases de efeito-estufa; do sedentarismo entre crianças e adultos que apresentam déficit para os padrões mínimos de atividade física em relação às orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Turbay e Cassilha (2021) citam os casos de Curitiba e Bogotá, relatando a importância da disponibilidade de infraestrutura que promova a mobilidade ativa, inclusive com incentivo à prática da intermodalidade de transporte. A RM de Curitiba apresentou como resultado de pesquisas que 27% das viagens do território são realizadas a pé e 2% de bicicleta, resultando em aproximadamente 30% de deslocamentos ativos, sendo importante que as prefeituras estimulem o aumento desses indicadores com a correta implantação de infraestrutura. 3.6 Micromobilidade De acordo com Turbay e Cassilhas (2021), a micromobilidade é definida por alguns critérios como: veículo com menos de 500kg, tração humana ou elétrica, limite reduzido de velocidade, capacidade limitada de passageiros ou carga. Se refere a um transporte que soluciona curtos trechos de deslocamento, com pequena emissão de poluentes, eficiência de tempo e permite a integração entre modais de transporte, reduzindo a dependência de automóveis particulares. No entanto, os autores alertam que apesar dos efeitos positivos, este tipo de mobilidade inovadora apresenta desafios com relação à sua regulamentação. As legislações locais precisam ser adaptadas para viabilizar o correto funcionamento e proteção de todos os envolvidos. Cobrança de impostos, deveres dos prestadores de serviço e dos usuários, boas práticas de segurança e convivência entre demais veículos estão entre as regras a serem estabelecidas. TEMA 4 – DESENHO URBANO E MOBILIDADE Como pudemos perceber ao longo deste curso, a mobilidade urbana tem relação direta com os elementos que compõem a cidade, influenciando e sendo influenciada pelos contornos e características de cada região, devendo sempre alcançar a sustentabilidade, inclusão, acessibilidade e eficiência. De acordo com Turbay e Cassilhas (2021), uma referência brasileira que orienta o desenho urbano dando prioridade às pessoas relaciona aspectos como maior eficiência e segurança no transporte, mobilidade ativa e redução da emissão de 11 poluentes, é o projeto ‘Ruas Completas’ da WRI Cidades Sustentáveis, em parceria com a Frente Nacional dos Prefeitos1. Outro exemplo brasileiro é o município de Curitiba, onde o desenho urbano determinado por eixos estruturais proporciona a densidade de ocupação nestes locais, porém com inserção de vias marginais de tráfego lento e galerias de comércio no pavimento térreo, incentivando a circulação de pessoas e o convívio social. TEMA 5 – TENDÊNCIAS E INOVAÇÕES NA MOBILIDADE URBANA De acordo com Turbay e Cassilhas (2021), a tendência da mobilidade urbana deveria estar centrada na inserção de novas tecnologias visando à sustentabilidade. Antonio Filosa, presidente da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) na América Latina diz que “no futuro, as pessoas usarão aplicativos para comprar quilômetros, em vez de carros. Assim, elas poderão utilizar um veículo só quando preciso, gastando e repondo seu saldo de quilômetros conforme a necessidade”. A prática de compartilhamento de veículos, geralmente por meio de acesso digital, é definida por Mobilidade como Serviço (Mobility as a Service – MAAS), que segundo Jittrapirom (2017), surge do “número crescente da oferta de serviços de transporte nas cidades e dos avanços em tecnologia e tecnologia da informação e comunicação(TIC’s) aplicados em inovações na mobilidade urbana”. São definidos pelo autor nove itens componentes deste serviço: i) integração entre modais; ii) opção tarifária; iii) plataforma (digital) única; iv) multiplicidade de atores; v) uso de tecnologias; vi) operação por demanda; vii) necessidade de registro; viii) personalização e ix) customização. Uma grande questão se coloca sobre os transportes públicos, principalmente os que atendem curtas distâncias (menores que 5,0km), pois são os que apresentam direta concorrência com a mobilidade ativa, micromobilidade e serviços por aplicativo. Nestes casos, o transporte público se mostra ineficiente para as populações mais pobres e desinteressante aos demais que possuem possibilidade de escolha. NA PRÁTICA Figura 1 – Canaleta exclusiva para o ônibus expresso em Curitiba Crédito: Natureza Brasileira/Zig Koch. 1 Afinal, o que são Ruas Completas. WRI Cidades, 2017. 12 FINALIZANDO Ao final desta aula, pudemos perceber como é dinâmico o objeto de trabalho do planejamento urbano: a cidade. Destacamos que o planejamento urbano e a mobilidade devem ser trabalhados pelo gestor público de forma integrada e intersetorial. Vimos que as cidades têm conflitos, desafios e soluções. É de forma otimista que finalizamos esta aula, incentivando nossos gestores a buscarem sempre realizar seus ofícios de maneira a permitir acessibilidade, eficiência e sustentabilidade da cidade para seus cidadãos. 13 REFERÊNCIAS DUARTE, F. Planejamento Urbano. Curitiba: Intersaberes, 2012. HAYAKAWA, I.; ROCHA, D. Traços de Curitiba: 50 anos de planejamento urbano. Curitiba: Edição do autor, 2020. MACEDO, R. Espaço Urbano. Revista do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba. n. 13, p. 13, dez. 2020. REINERT, R. Urbanismo e Planejamento Urbano. Ciclo de Capacitação em Planejamento Urbano. Curitiba, ago. 2008. TURBAY, A.; CASSILHA, S. Planejamento Urbano. Curitiba: Intersaberes, 2021.
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