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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO APRESENTAÇÃO Professor Especialista Daniel Marques de Freitas ● Graduado em História pela Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí - Fafipa ● Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Metropolitana de Santos - Unimes ● Especialista em Didática e Metodologia da Educação, pelo Centro universitário - UniFatecie ● Cursou Especialização Interdisciplinar em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR. ● Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino. Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Experiência como professor da educação básica desde 2008 e no Ensino Superior desde de 2015. Atuou na coordenação pedagógica do ensino médio. Já realizou pesquisas e produção de material didático em projetos como o da universidade sem fronteiras. Promoveu eventos acadêmicos para ampliação de conhecimentos e para a comunidade. Link do Currículo na Plataforma Lattes. - http://lattes.cnpq.br/1967685285200012 http://lattes.cnpq.br/1967685285200012 APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Saudações a todas e todos, alunas e alunos. Sejam todas e todos, muito bem-vindas e bem-vindos!!! Essa disciplina tem uma relevância muito grande para compreendermos o Brasil e suas estruturas sociais e políticas. Vamos estudar a formação política e social da nossa nação a partir da independência. E o que se constrói nesse período será determinante para o processo republicano e deixará marcas difíceis de serem apagadas em setores excluídos e marginalizados do nosso povo. Esse material está dividido em quatro unidades, em cada uma delas iremos analisar e compreender processos históricos importantes para a história brasileira. Na Unidade I vamos compreender como as relações entre Portugal, de D. João VI, e a Inglaterra comprometeram as relações políticas e econômicas brasileiras, ao mesmo tempo em que abriram o caminho para a nossa independência política em 1822. Já na unidade II vamos estudar os eventos imediatos e determinantes da nossa independência, assim como o primeiro período do Brasil independente, o Governo de D. Pedro I. Ainda teremos um espaço para conhecer as revoltas do Período Regencial, que nos ajudam a repensar o mito do povo brasileiro como pacifico e cordial. Na unidade III vamos debater o processo histórico que levou ao fim da escravidão no Brasil, em 1888, o ultimo país da américa a abolir a escravidão. Nesse debate vamos compreender como esse processo perpetuou as deisgualdades entre brancos e negros e o por que o dia 13 de maio não é uma data comemorativa para o movimento negro, mas sim uma data de protesto e reflexão. A última etapa dos nossos estudos, a unidade IV, vamos compreender os conflitos internos e externos contribuíram para o desgaste da monarquia brasileira, como esse processo ajudou no surgimento do Movimento Republicano e como os militares colocaram fim no Segundo Reinado e consequentemente, na monarquia. Esperamos que esses debates, estudos e reflexões possam contribuir com o seu conhecimento e desenvolvimento acadêmico e pessoal. Desejamos a você toda boa sorte em relação aos estudos e a sua profissão. Um forte e fraterno abraço a todas e todos Muito obrigado e bom estudo! Imagem da capa: ID da foto stock livre de direitos: 1262524771 UNIDADE I A CORTE JOANINA NO RIO DE JANEIRO Professor Especialista Daniel Marques de Freitas Plano de Estudo: ● A Família Real e a crise do sistema colonial; ● Dom João VI e o Império; ● A construção da monarquia no Brasil; ● Uma Portugal em território brasileiro: Da Arquitetura as Artes. Objetivos de Aprendizagem: • Contextualizar os processos externos e internos que contribuíram para a Independência do Brasil; • Compreender como os acordos internacionais comprometeram a nossa independência; • Estabelecer a importância da compreensão da história como processo. https://www.shutterstock.com/pt/photos INTRODUÇÃO A História do Brasil que iremos analisar nesta disciplina, está inserida em um contexto de muitas transformações, não somente no Brasil, mas em toda a América e Europa. Por isso é fundamental que você compreenda que a História não pode ser entendida como uma sucessão de fatos em uma sequência linear e evolutiva. Os eventos históricos fazem parte de um processo, de uma rede mais ou menos complexa de eventos que estão relacionados. Nesse sentido é importante compreender essa relação para que se possa ter uma maior noção de como determinados eventos aconteceram, e deixarmos de analisá-los isoladamente para compreendermos de uma forma mais completa. Isso fará com que a História deixe de ser uma rede de datas, eventos e nomes, para ser de fato uma ciência que pretende explicar a nós e a sociedade em que vivemos. Você que está se preparando para ser professor ou professora, é fundamental essa compreensão para que possa fazer com que seu aluno compreenda a História, não como um estudo do passado somente, mas como um estudo de nós mesmos. História, para os alunos, precisa ser significativa e isso só é possível através de uma análise dos processos históricos relacionados a nossa história. Nesse sentido, ao analisarmos o processo de formação do Estado brasileiro, desde o processo de Independência até a Proclamação da República, devemos compreender como, por exemplo, a Revolução Francesa e o Iluminismo contribuíram para as lutas emancipacionistas no Período Colonial. Ou ainda como os processos de Independência dos EUA, o Império Napoleônico e o liberalismo ajudaram nas lutas e na construção do Brasil no início da década de 1820. Não teremos tempo para analisar cada um desses eventos, você deve ter feito essa análise ou fará em outras disciplinas. Nessa disciplina vamos comentar e analisar alguns desses eventos que inseridos em um processo histórico, nos ajudarão a compreender o nosso processo de formação de Estado e país. Analisaremos os processos internos também. Não podemos deixar de lado e devemos priorizar a nossa História interna. É claro que o que acontece na Europa e no restante da América é fundamental para que possamos explicar alguns eventos internos da nossa história. Mas analisar as lutas internas pela nossa independência e, depois, pela construção de um projeto de nação e país, são fundamentais para compreendermos a formação do nosso Estado e mais ainda, para compreendermos por que algumas permanências institucionais e estruturais da nossa sociedade, que não permite avanços e mantém privilégios. 1 A FAMÍLIA REAL E A CRISE DO SISTEMA COLONIAL Imagem do Tópico 1: ID da foto stock livre de direitos: 276990182 Essa introdução foi necessária porque ao compreendermos como se forma o nosso Estado, precisamos recorrer a alguns eventos e processos que estão acontecendo na Europa concomitante com o que está acontecendo no Brasil. A História do Brasil como você sabe, está muito atrelada a História da Europa e de Portugal. Então, analisar alguns eventos da História europeia e portuguesa é fundamental para compreendermos algumas direções da nossa História. Sem nos esquecer, evidentemente, do que está acontecendo internamente no Brasil nesse período. Estamos analisando o final do século 18 e o século 19. Na Europa muitas coisas estão acontecendo, entre tantas um destaque especial para a Revolução Industrial, a Revolução Francesa e o Iluminismo serão determinantes para o processo de independência e formação do nosso Estado Brasileiro. A Revolução Industrial que se iniciou no século 18, na Inglaterra, mudou o modo como as coisas eram produzidas, consumidas e descartadas. Mudou a forma com que as pessoas se relacionam e as relações entre osEstados. Antes dessa revolução já existia uma “globalização”, que se iniciou, com as Grandes Navegações. Mas após a Revolução Industrial, essa globalização passa a ser mais intensa e ganha outras características. Mas o fato é que a Revolução Industrial fez da Inglaterra uma superpotência mundial. E para atender seus interesses ela foi além de suas fronteiras. Um desses limites se deu com Portugal e com o Brasil. O Brasil despertava os interesses ingleses, por ser um mercado interessantíssimo para a produção de algodão, tabaco e, no século 19, a produção de café. Veja o que diz Caio Prado Júnior sobre esse tema: [...] se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes, depois, algodão, e em seguida café para o comércio europeu. Nada mais que isso (PRADO JÚNIOR, 2000, p. 31 - 32). https://www.shutterstock.com/pt/photos Além, é claro, de o Brasil ser um interessantíssimo mercado consumidor para os produtos ingleses. Isso fez com que a Inglaterra comprometesse a nossa economia e a nossa política aos seus interesses. Mais adiante vamos analisar alguns dos acordos assinados por D. João VI e mantidos por seu filho e neto, que atendiam muito mais aos interesses ingleses do que aos nossos interesses. Mas agora eu gostaria que você analisasse o tratado conhecido como "Tratado de Panos e Vinhos” ou o Tratado de Methuen de 1703, tratado esse que comprometeu a economia portuguesa e o ouro brasileiro e foi fundamental para financiar a Revolução Industrial. Essa hegemonia inglesa sobre Portugal teria feito que o ‘impulso dinâmico’ da economia colonial fosse canalizado para a Inglaterra. Sendo assim, embora no século XVIII a mineração no Brasil tenha produzido riqueza, esta não foi acumulada na Colônia em razão do regime de comércio imposto ao Brasil pela metrópole. No entanto, em razão da necessidade portuguesa de apoio político e militar, acordos comerciais firmados com a Inglaterra transferiram para os britânicos o ouro produzido na América. Dessa forma, o ouro produzido no Brasil teria se tornado o capital que possibilitou a Revolução Industrial inglesa. (MENEZES; COSTA, 2012). Os termos do Tratado de Methuen, assinado em 1703 com os ingleses e conhecido como ‘tratado dos panos e vinhos’, inviabilizaram o desenvolvimento industrial em território português, ao obrigar Portugal a importar produtos manufaturados da Inglaterra. Diante de suas dificuldades econômicas, o governo português utilizava boa parte das volumosas riquezas extraídas em sua Colônia na América para pagar as dívidas desse comércio. Na Inglaterra, as riquezas obtidas do Império português, impulsionaram o desenvolvimento econômico, ampliando o poderio dos banqueiros, comerciantes e industriais (VICENTINO; DORIGO, 2010, p. 355). Esse é um dos exemplos que mostram e explicam a nossa dependência em relação à Inglaterra nos próximos períodos, século 18 e 19. Ao longo dessa disciplina iremos conhecer outros exemplos de leis e acordos que reforçam essa dependência. Porém é importante ressaltar que esse processo ajudou a criar um sentimento anticolonialista no Brasil. Esse sentimento pode ser observado nas revoltas nativistas como a Guerra dos Mascates, Revolta de Beckman e de Felipe dos Santos, bem como nas revoltas emancipacionistas (Inconfidência Mineira e Conjuração Baiana) onde fica claro essa insatisfação com a metrópole portuguesa. 2 DOM JOÃO VI E O IMPÉRIO Imagem do Tópico 2: ID da foto stock livre de direitos: 187425326 https://www.shutterstock.com/pt/photos É sempre importante reforçar que a Independência do Brasil não pode ser encarada como um fato isolado, como um evento no dia 07 de setembro de 1822. A nossa independência, bem como todos os eventos históricos são parte de um processo. E o processo que explica a nossa independência é tem como referência importante e determinante, a vinda da família real portuguesa para a sua mais importante colônia. O Brasil, desde meados do século 18, e mesmo sendo colônia, conseguia produzir mais riqueza que a própria metrópole, consequentemente o Brasil era a principal fonte de riquezas de Portugal. Nesse sentido, já existia em Portugal a proposta de mudar a sede do império para o Brasil. Porém só em 1807 que essa ideia se consolida. É claro que essa transferência da corte e da sede do império para a sua colônia não aconteceu de forma planejada e muito menos organizada, foi às pressas e desesperada. A vinda da família real portuguesa, em 1807, para o Brasil tem relação com as guerras napoleônicas. Após sofrer com derrotas marítimas em conflitos com a Inglaterra, em 1806 Napoleão decretou o Bloqueio Continental. Essas restrições ao comércio continental com a Inglaterra tinham o objetivo de enfraquecer a economia inglesa e fortalecer a economia francesa. Figura 1 - Mapa do Bloqueio Continental ID do vetor stock livre de direitos: 1715300458 O ponto chave para a nossa história está nas relações e acordos que Portugal tinha com os ingleses, fazendo com que D. João, príncipe regente de Portugal, não se comprometesse com o Bloqueio Continental. Essa posição de Dom João fez com que Napoleão resolvesse invadir Portugal assim como fez com outros reinos que resistiram às suas exigências, por exemplo a Espanha. Dom João ficou sem opção, restava a ele buscar apoio dos ingleses para fugir da situação de uma possível invasão francesa em Portugal. Os ingleses deram como opção para Dom João a mudança da sede do Reino de Portugal para o Brasil. Na urgência Dom João reuniu sua família, suas posses, seus objetos valiosos e embarcou em navios inglês junto com a corte portuguesa, mais ou menos 15 mil indivíduos, em novembro de 1807. Em janeiro de 1808 a família real chega ao Brasil. O primeiro ponto de parada de Dom João foi em Salvador. O nordeste foi palco de várias revoltas já citadas aqui e que provavelmente você já estudou em outras disciplinas. Por isso, dom João se preocupou em passar pelo Nordeste para mostrar a população nordestina que existia uma preocupação da coroa com aquela região e para amenizar os conflitos que existiam lá. E foi em Salvador, no dia 28 de janeiro de 1808, logo na chegada à cidade que Dom João assinou a lei de “abertura dos portos às nações amigas”. Podemos compreender que na verdade, essa lei, deve ser entendida como a abertura dos portos aos ingleses, na medida em que atendia os interesses desse país, para ter relações econômicas diretas com a colônia. Foi também uma forma de “agradecer” aos ingleses, que haviam contribuído para a sobrevivência do Império protegendo a vinda da família real para o Brasil e garantindo que Dom João não perdesse seu trono para Napoleão. Essa lei, abertura dos portos às nações amigas, simbolizou o fim do pacto colonial, uma medida importante para os sentimentos e para o processo de Independência do Brasil. Era um passo para o liberalismo econômico brasileiro e para o fim das relações monopolistas entre a metrópole e a colônia. Como havíamos dito anteriormente, o Brasil já era mais rico que Portugal e isso interessava os ingleses na medida em que eles poderiam vender os produtos manufaturados aos brasileiros, ao mesmo tempo que poderiam consumir a matéria prima para sua manufatura e para a sua indústria mais barata, sem ter que passar pelo intermediário português. Para os brasileiros significava não depender mais da metrópole para fazer negócios com as nações estrangeiras. Foi um grande salto para a Independência do Brasil. Em 1810, dom João assinou o acordo conhecido como Tratado de Navegação e Comércio. este acordo fixouuma taxação de 15% para os produtos importados vindos da Inglaterra. em contrapartida há uma determinação criada por dom João ainda em 1808, que taxava os produtos vindos de outras nações há 24% e os produtos portugueses a 16%. Esse acordo mostra mais uma vez a força que os ingleses tinham em relação ao nosso mercado e a nossa política. quando eu falo nossa me refiro a nossa história, a história do Brasil. estes acordos, bem como outros tantos que veremos na sequência, confirmam a tese de que o Brasil mesmo independente de Portugal, ainda era muito dependente dos ingleses. essa dependência não era política, mas sim econômica. Mas essa dependência econômica fez com que os ingleses interferissem inclusive em nossas políticas internas. Um desses exemplos de interferência inglesa nas políticas internas portuguesas e brasileiras, está relacionada ao fim do tráfico de escravos que tanto desejava o Império britânico. na Inglaterra desde o final do século XIX já existe uma luta abolicionista e anti- tráfico de escravos. Esse processo interno inglês contra o tráfico de escravos, fez com que dom João assinasse junto com o Tratado de Navegação e Comércio, o Tratado de Aliança e Amizade. Um os pontos deste tratado comprometem dom João a limitar o tráfico de escravos e aos poucos acabando permanentemente com o tráfico de escravos. Figura 2 - Ilustração do Navio negreiro Brookes, a partir da planta do século XVIII ID da ilustração stock livre de direitos: 242295046 ID da ilustração stock livre de direitos: 237236926 Em 1815 com o fim das guerras napoleônicas, no Congresso de Viena, dom João se compromete mais uma vez acabar com o tráfico de escravos, nesse caso com tráfico https://www.shutterstock.com/pt/search/illustrations https://www.shutterstock.com/pt/search/illustrations de escravos ao norte da linha do Equador. obviamente nenhum desses acordos acabou com o tráfico de escravos, na medida em que a dependência do trabalho escravo na colônia principalmente brasileira, era essencial para a manutenção das estruturas econômicas e sociais dessa sociedade. Isso significa dizer, que para as elites brasileiras, era impossível naquele momento, pensar uma sociedade sem escravidão. 3 A CONSTRUÇÃO DA MONARQUIA NO BRASIL Imagem do Tópico 3: ID da foto stock livre de direitos: 1701047926 Uma das coisas que marcaram a história da família real portuguesa no Brasil e dom João como regente, foram as guerras que o príncipe regente se envolveu durante o tempo em que esteve no Brasil. Um desses conflitos tem relação com a invasão francesa em Portugal. Dom João para se vingar de Napoleão, com apoio dos ingleses, invadiu a Guiana Francesa. No Congresso de Viena, em 1815, dom João devolveu a Guiana Francesa aos franceses como parte do acordo para o fim das guerras napoleônicas e do Império napoleônico. Porém o conflito mais importante que dom João se envolveu, foi com as terras espanholas da Banda Oriental. Em 1816 dom João conseguiu vencer as batalhas anexar o que ficou conhecido como Província Cisplatina, e que hoje é o território independente do Uruguai. Esse episódio mostra a supremacia brasileira na região sul-americana. Um episódio importante a se destacar nesse período da presença da família real no Brasil e do governo de dom João, foi o conflito que aconteceu no Nordeste em 1817, mais especificamente em Recife, Pernambuco. Historicamente sempre foi palco de diversos conflitos, batalhas e revoltas. em 1817 aconteceu uma das revoltas mais importantes e mais famosas da história do nordeste e de Pernambuco, conhecida como Revolução Pernambucana de 1817. As causas dessa revolta estão diretamente relacionadas ao descaso que a coroa tinha em relação à região nordestina. Além de um descaso político, o governo português cobrava pesados impostos sobre as províncias do nordeste e dava pouco em troca desses impostos. As elites nordestinas desejavam mais autonomia em relação para as suas províncias, em contrapartida o governo exigia cada vez mais centralidade em relação às províncias dando pouco ou quase nada de repasse para as melhorias econômicas e estruturais dessas regiões. Para as elites nordestinas para o povo do nordeste a transferência da família real de Lisboa para o Rio de Janeiro significou muito pouco, as desigualdades regionais continuaram a cobrança de impostos sem nenhum retorno efetivo desagradava e as intervenções políticas na região ficaram insustentáveis. Vale lembrar dos processos de https://www.shutterstock.com/pt/photos revoltas e conflitos anteriores que sinalizam o descontentamento já antigo dessa região em relação à metrópole. A revolta iniciou em março de 1817 em Recife espalhando para outras regiões do nordeste, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. A revolta ficou conhecida também como a “revolução dos padres” devido à ampla participação de padres nessa disputa. É importante ressaltar também a participação da população nesses conflitos, mesmo que os maiores interesses dessa pauta revolucionária estavam relacionados às elites locais. A população mais pobre associada a esse processo há uma luta de Independência e de liberdade, para as elites locais significava uma tentativa de controle da colônia ou mais autonomia às regiões das províncias nordestinas. O conflito foi duramente reprimido por dom João e deixou profundas marcas na região nordestina que se perpetuam e vão caracterizar e fundamentar as revoltas de volta que acontecerão posteriormente no período regencial, ou ainda antes, no governo de Dom Pedro I, em uma das revoltas mais importantes deste período conhecida como Confederação do Equador, que e falaremos mais adiante na próxima unidade. 4 UMA PORTUGAL EM TERRITÓRIO BRASILEIRO: DA ARQUITETURA AS ARTES Imagem de abertura do Tópico 4: ID da foto stock livre de direitos: 221782612 Quando a família real portuguesa chegou ao Brasil, a colônia não tinha um mínimo de estrutura para abrigar a sede do Império, não tinha estrutura nem para abrigar a família real e a corte portuguesa que desembarca no Rio de Janeiro em 1808. Foi preciso então organizar o espaço do Rio de Janeiro para abrigar a sede do Império, a família real e a corte portuguesa, mais ou menos 15 mil pessoas. A corte portuguesa compunha não só uma massa de parasitas que sobrevive aos privilégios da condição da classe da qual estavam inseridos, mas também ocupava uns cargos administrativos, políticos e nas forças militares e de segurança da corte e dos territórios portugueses. Nesse sentido, era preciso toda a estrutura administrativa com prédios públicos e espaços físicos para que essas funções fossem desempenhadas na colônia para que estivesse ativamente uma sede Império. Neste contexto, dom João vai dispensar uma grande energia para organizar o espaço físico do Rio de Janeiro parque abrigasse as estruturas necessárias para administração do Império além de um ambiente apropriado para abrigar as pessoas que estavam chegando de Portugal fugindo das invasões napoleónicas. O Rio de Janeiro em 1808 não passava de uma vila, mesmo sendo a capital da colônia, nem de longe parecia uma cidade como as que existiam na Europa. Não existia na colônia brasileira uma dinâmica cultural e de entretenimento como existia nas cidades europeias. Diante dessa situação, Dom João importou da França um grupo de artistas, atores, músicos e poetas para dar uma vida cultural à cidade do Rio de Janeiro e um entretenimento para a corte portuguesa que lá estava ocupada. Neste contexto, dom João fundou a Biblioteca Nacional, o Horto Florestal e o Banco do Brasil. https://www.shutterstock.com/pt/photos A revolução Liberal Como como vimos dizendo desde o começo desta disciplina, não podemos pensar a Independênciado Brasil, e nenhum outro fato histórico, sem levar em conta o processo que justifica e que fundamenta os eventos analisados e estudados. também dissemos que não é possível compreender a Independência do Brasil somente com fatos e eventos internos é preciso relacionar a nossa independente com eventos que aconteceram na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina. A Independência do Brasil acontece no mesmo contexto dos processos de Independência dos países da América Latina, principalmente da América espanhola e todos esses são antecedidos pela Independência dos Estados Unidos em 1776. Estes eventos de muitas maneiras influenciaram e contribuíram para o processo de construção do Estado brasileiro. Mas ainda em relação aos eventos externos é preciso destacar os eventos que estavam acontecendo na Europa neste mesmo período e que tem relação profunda com o nosso processo de Independência. O Congresso de Viena de muitas maneiras contribuiu para o processo de Independência dos países da América. O Congresso aconteceu em 1815 e foi uma tentativa dos países da Europa de restaurar o absolutismo que foi de muitas maneiras perturbado ou desestabilizado pela Revolução Francesa e pelas guerras napoleónicas. Essa tentativa de restaurar a ordem na Europa vai interferir diretamente nas relações econômicas e políticas das colônias tanto de Portugal quanto da Espanha no continente americano. Portugal e Espanha tentaram retomar as relações coloniais e as explorações econômicas que existiam antes da dominação de Napoleão sobre esses reinos. evidentemente que as elites locais não aceitaram essa submissão e esse retrocesso em suas relações políticas e econômicas. Mais especificamente, e relacionado diretamente à nossa história, o Congresso de Viena se relaciona com a nossa história na medida em que exige de d. João o retorno a sede do seu governo em Portugal. D. João não tinha o menor interesse de naquele momento retornar a Portugal na medida em que o Brasil naquele contexto já se tornou até mais importante economicamente, por outro lado ele não admissível para as lideranças do Congresso aceitar que um rei governasse todo um Império de sua colônia, diante dessa situação D. João elevou o Brasil à condição de Reino Unido de Portugal e Algarve. Este foi um movimento que elevou o Brasil uma condição política que não poderia mais retroceder a elite local não aceitaria um retorno do Brasil ao status de colônia foi um passo importante para a ruptura definitiva das colônias entre Brasil e Portugal. Em 1816 dona Maria, a rainha de Portugal, acabou falecendo e D. João foi coroado imperador do Reino de Portugal, Brasil e Algarves, com o título de D. João VI. todos esses eventos de muitas maneiras vão levar a um descontentamento muito grande principalmente dos comerciantes portugueses. A burguesia portuguesa tinha boa parte dos seus rendimentos relacionados à exploração colonial principalmente em relação à colônia brasileira. Para essa burguesia era fundamental que o Brasil continuasse a ser uma colônia de Portugal, para que estes continuassem explorando o comércio brasileiro de forma monopolista garantindo a sua riqueza e os seus altos lucros. Mas diante da recusa de d. João VI de voltar e restabelecer a ordem que existia antes de Napoleão estou olha essa burguesia passar por cima da autoridade real e assim como os franceses em 1789 e os ingleses em 1688, iniciar um processo revolucionário que ficou conhecido como a Revolução Liberal do Porto. Essa revolução trouxe uma série de mudanças políticas e econômicas para Portugal, mas principalmente para o Brasil essa revolução contribuiu para o rompimento definitivo entre Portugal e a sua principal colônia. É que entre outras coisas a burguesia que tomou conta do poder lusitano, exigiu o retorno da família real a Portugal bem como o retorno do Brasil ao status de colônia portuguesa. Evidentemente que isso desagradava muito a elite brasileira. Em 1821 Dom João VI temendo perder o trono acaba cedendo e retornando a Portugal para assinar a nova Constituição portuguesa que surgiu no processo da Revolução Liberal. Porém deixou seu filho D. Pedro como regente do Brasil mantendo assim de alguma forma autonomia brasileira em relação a Portugal e o status do Brasil como Reino Unido. Essa medida de d. João VI desagradou a burguesia portuguesa que daquele momento em diante começou uma pressão muito grande para que Dom Pedro retornasse o quanto antes para Portugal. Enquanto isso aqui no Brasil as elites e os políticos brasileiros pressionavam Dom Pedro para que ele se mantivesse no Brasil garantindo assim autonomia brasileira em relação a Portugal. alguns políticos brasileiros chegaram aí até Portugal para compor o parlamento português que surgiu após o processo revolucionário. mas descontentes com a falta de liberdade dentro do parlamento e com os limites impostos pelos portugueses em relação às políticas brasileiras, retornaram ao Brasil iniciar um processo de construção da ruptura entre Brasil e Portugal. SAIBA MAIS Abaixo estou linkando um artigo escrito por Bruno Leal, publicado no site Café História, sobre o navio negreiro Brooks e a campanha abolicionista inglesa. A ilustração que inflamou o movimento abolicionista britânico (cafehistoria.com.br) Figura - Navio de escravos britânico Brookes. Imagem: Library of Congress Fonte: CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. A ilustração que inflamou o movimento abolicionista britânico (Artigo). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/a- ilustracao-que-inflamou-os-abolicionistas-britanicos/ Publicado em: 17 fev. 2020. ISSN: 2674-5917. Acesso: 20 jun. 2021. Para saber mais sobre as revoltas citadas acima consulte o texto FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Revoltas, fiscalidade e identidade colonial na América https://www.cafehistoria.com.br/a-ilustracao-que-inflamou-os-abolicionistas-britanicos/ https://www.cafehistoria.com.br/a-ilustracao-que-inflamou-os-abolicionistas-britanicos/ Portuguesa: Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, 1640-1761. Disponível em https://caph.fflch.usp.br/node/14326. Para compreender um pouco mais sobre a condição de dom João como príncipe regente de Portugal, sugiro vocês assistirem aos vídeos do Eduardo Bueno sobre a rainha dona Maria, a louca. Hoje sabemos que o problema que dona Maria tinha não era insanidade mental, mas sim uma grande depressão que a impossibilitava de governar o Reino de Portugal. No canal Buenas Ideas, no YouTube, vocês encontrarão não só vídeos sobre dona Maria, mas também sobre as outras rainhas brasileiras. Vale a pena conferir. Abaixo segue a indicação do vídeo sobre dona Maria com um link para acessar o canal e o vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=6qyzA5tMmvc (435) D. MARIA. A RAINHA LOUCA - EDUARDO BUENO - YouTube #SAIBA MAIS# REFLITA A citação abaixo nos permite refletir sobre a ação política e de resistência dos escravos no Brasil. Nos ajuda a perceber que não houve passividade em relação a condição de escravos, mas sim diversas formas de resistência. No Brasil da segunda metade do século XIX os escravos identificaram rapidamente as brechas abertas pela legislação e frequentemente levaram seus senhores aos tribunais em defesa de direitos garantidos em lei. Fizeram política sim, mas com uma linguagem própria, ou com a linguagem do branco filtrada por seus interesses, ou ainda combinando elementos da cultura escrava com o discurso da elite liberal. Fizeram da religião africana ou do catolicismo popular instrumentos de interpretação e transformação do mundo, mas não deixaram de assimilar com os mesmo objetivos muitos aspectos de ideologias seculares disponíveis nos diversos ambientes sociais em que circulavam. Embora fossem derrotados na maioriadas vezes, os escravos rebeldes marcariam limites além dos quais seus opressores não seriam obedecidos, e se constituíram em força decisiva para a derrocada do regime que os oprimia. https://caph.fflch.usp.br/node/14326 https://www.youtube.com/watch?v=6qyzA5tMmvc Fonte: REIS, João José. Nós achamos em campo a tratar da liberdade: a resistência negra no Brasil oitocentista. In: MOTA,C,G. (Org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 1999.) #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desta unidade nós podemos observar os processos externos e alguns elementos internos que explicam o processo de ruptura do Brasil em relação a Portugal. Citamos eventos que aconteceram tanto na Europa e as suas influências dentro do nosso país, também observamos algumas situações internas no Brasil principalmente medidas adotadas por dom João VI, que contribuíram para construção de um sentimento de Independência do Brasil em relação a Portugal. É válido ressaltar mais uma vez que todos esses eventos, todos esses contextos analisados nesta unidade, não estão isolados e não são eventos que não se relacionam. Não é possível pensar a história de uma forma linear, é preciso pensar que cada evento tem uma relação com vários outros eventos de maneiras diretas e indiretas. Seria mais interessante pensar história no movimento em espiral um movimento de contradições, o que movimentou a história do Brasil e explica a nossa Independência é um movimento de conflitos internos e externos esses conflitos mostram as contradições existentes nas relações entre a colônia brasileira e a metrópole portuguesa. É interessante também ressaltar que esses conflitos, e essas contradições também se relacionam com os interesses ingleses em relação ao Brasil em relação a Portugal. A Inglaterra neste contexto já era uma grande potência mundial e de muitas maneiras impunha sobre diversos países os seus interesses principalmente econômicos e claramente como podemos observar ao longo deste conteúdo que e os ingleses se aproximaram do Brasil claramente com interesses económicos em relação ao mercado brasileiro. O Brasil oferecia a Inglaterra o mercado interessante de matéria prima, principalmente algodão, que era essencialmente necessário para a indústria inglesa, além é claro de um mercado consumidor muito interessante para os produtos industriais e manufaturados ingleses. Por esse motivo, D. João VI, e como veremos na próxima unidade Dom Pedro I e Dom Pedro II, mantém laços econômicos e diplomáticos muito fortes com a Inglaterra, evidenciando o poder imperialista inglês século 19. Mas é lógico que não podemos esquecer de maneira alguma os eventos internos como inconfidência mineira conjuração baiana além das revoltas nativistas além é claro dos interesses das elites brasileiras, que de muitas maneiras contribuíram para o processo de ruptura do Brasil em relação a Portugal. na próxima unidade veremos isso de forma mais objetiva, analisando como os políticos brasileiros em especial José Bonifácio, defendia e organizaram o processo de Independência do Brasil. O fato de o Brasil ter sido uma colônia portuguesa faz com que a gente necessariamente tenho que olhar para a história da Europa para compreender os processos internos da nossa história. não podemos pensar o processo de Independência do Brasil sem conhecer a história de Napoleão, das guerras napoleônicas, do bloqueio continental, da revolução francesa, da Independência dos Estados Unidos, e claramente dos processos históricos internos de Portugal, no momento em que ainda tínhamos relações muito forte com os portugueses, seja no período colonial seja no período em que o Brasil foi governado por d. João VI. LEITURA COMPLEMENTAR O bicentenário da independência e os usos políticos do 7 de setembro, segundo esta historiadora Em entrevista ao Café História, a historiadora Neuma Brilhante, professora de História do Brasil na UnB, relembra o primeiro centenário da independência, revela suas expectativas para o bicentenário e explica porque os historiadores são tão críticos a narrativas ufanistas da história. Lembro que eu estava no meu segundo ano do mestrado em Memória Social quando acompanhei as “comemorações” dos 200 anos da chegada da família real brasileira ao Rio de Janeiro. Eu fiquei realmente impressionado com a grandiosidade da efeméride. Houve shows, discursos públicos, reportagens, exposições, selos comemorativos, conferências e o lançamento de “1808”, livro do jornalista Laurentino Gomes que se tornou um inédito fenômeno de vendas. Pelo menos no Rio de Janeiro, minha cidade natal, e onde eu então vivia, as pessoas pareciam tomadas por uma arrebatadora e apaixonada curiosidade por esse período da história do Brasil. Ainda não sei como explicar tudo aquilo foi possível, mas acho que o ótimo momento político e econômico que o país vivia pode ser uma boa hipótese a fim de responder o porquê de tanta excitação. Doze anos depois, às vésperas de outra importante efeméride no imaginário político, o bicentenário da independência, a ser completado em 2022, eu não sei muito bem o que esperar, mas, como historiador, aguardo ansioso a data. Dois dias antes de publicar esta entrevista, a quatro, portanto, do 7 de setembro de 2020, o ator Mário Frias, Secretário Especial de Cultura do Governo Bolsonaro, publicou uma ação publicitária do governo sobre os “heróis brasileiros”, deixando-nos antever uma visão antiquada, pobre e constrangedora do passado nacional. Mas, tirando isso, não temos até agora nenhum grande projeto à vista. Morando há dois anos em Brasília, não vejo por aqui nada parecido com o que vi no Rio em 2008, e imagino que esse é mais ou menos o mesmo clima no restante do país. Recém-entrado em uma recessão econômica, com um governo de extrema-direita no poder e em meio a uma pandemia global que já tirou a vida de mais de 100 mil brasileiros e brasileiras, não parece-me haver tanto espaço para aquilo que vivemos há mais de uma década. De qualquer forma, penso que se existe um governo que é propenso a capitalizar com os usos políticos do bicentenário, este governo é o Governo Bolsonaro. Talvez haja projetos ainda não-revelados. Para entender melhor esse cenário, bem como as possibilidades quanto ao que veremos dentro de dois anos, entrevistei Neuma Brilhante, professora de História do Brasil do Departamento de História da UnB e diretora do Instituto de Ciências Humanas desta mesma universidade. Minha colega de departamento é especialista em Brasil do século XIX e tem se perguntando, assim como eu e outros tantos historiadores e historiadoras, o que podemos esperar de 2022, quando nossa independência política completa 200 anos. Muita gente não se incomoda nem um pouco com narrativas ufanistas da história. Mas os historiadores sim, e bastante. Por que uma abordagem nacionalista da história pode ser problemática? Os historiadores são bastante conscientes dos usos políticos do passado por pessoas, grupos, instituições… É inegável, contudo, que a história nacional apresenta- se como espaço fundamental para tal prática. Neste sentido, a história frequentemente é usada para legitimar projetos de poder e forjar identidades. A própria institucionalização da História como área específica do conhecimento, no século XIX, esteve ligada à formação dos Estados nacionais e à busca e à elaboração de narrativas que pudessem lhes trazer coesão social. Observe que neste exercício, esquecer determinados acontecimentos era tão importante quanto fazer lembrar de outros. Neste sentido, o caso da própria construção do 7 de setembro como data nacional é muito elucidativo. Sua valorização esteve diretamente ligada às disputas estabelecidas entre o jovem Imperador e a Câmara dos Deputados, nos primeiros anos do país independente.Ainda em finais de 1822, o 12 de outubro, data da aclamação do Imperador e do aniversário natalício de d. Pedro, foi apontada por Decreto Imperial como o dia de aniversário da independência. A escolha deste dia para aclamação possibilitava, simbolicamente, a legitimação dupla do Imperador: ele chegava ao poder por seu nascimento como príncipe herdeiro, mas também pela aclamação do povo, em um pacto que teria na futura Constituição o seu maior emblema. O 7 de setembro, por sua vez, seria apontado como marco da independência meses depois, em maio de 1823, na abertura da Assembleia Constitucional e Legislativa do Império, quando o próprio d. Pedro I afirmou ter sido o riacho do Ipiranga o lugar em que “pela primeira vez” ele proclamou a independência do Brasil. Percebemos aqui certa alteração na explicação. Se o 12 de outubro conferia grande importância ao reconhecimento do soberano pelo povo para o nascimento do novo país, o 7 de setembro o apresentava, pelo menos em seu ato fundador, como fruto da vontade do príncipe, ação esta que antecedera o pacto estabelecido com o povo. Naquele mesmo ano, já em contexto de disputa com a assembleia, as duas datas foram lembradas com pompa. A comemoração dupla, com certa primazia do dia da Aclamação, durou até o início do Período Regencial, na década de 1830, quando o 12 de outubro foi substituído pelo 2 de novembro, dia do aniversário do imperador menino, d. Pedro II. Percebemos neste momento mais uma reinterpretação dos acontecimentos. A retirada do 12 de outubro do calendário cívico do Império buscava diminuir a presença do primeiro imperador da memória nacional e o 7 de setembro passou a ser compreendido como resultado de pressões do povo, entendido como a parcela da população com direitos de cidadão.. A figura de d. Pedro I seria valorizada a partir da década de 1860 e alcançou seu apogeu já na República, quando foi apontado como grande garantidor da unidade nacional. Agora que vimos os usos políticos desse passado, podemos voltar à pergunta sobre os problemas de uma história nacionalista. De modo geral, estas narrativas nacionais buscam construir marcos fundadores, não raramente com atos protagonizados por grandes personagens, de matiz heroica, que personificam a nação. Esta, por sua vez, é representada como possuidora de valores e características homogêneas, como entidade superior aos indivíduos e aos grupos minoritários, que atuam como contribuintes secundários ou obstáculos a serem superados. As histórias nacionais forçam interpretações e impõem severos silêncios. Pensando mais uma vez no caso brasileiro, a história nacional elaborada ao longo do século XIX e ainda fortemente presente em nossa cultura de história impôs silêncios quanto a movimentos separatistas, a revoltas populares em geral e a episódios em que o Estado fora particularmente violento, entre outros. De uma forma geral, os ditos silêncios estavam diretamente relacionados àquelas experiências que poderiam comprometer os esforços da construção de laços de identidade nacionais, mesmo quando tal experiência partia do próprio Estado. A história nacionalista desqualifica projetos políticos alternativos, representa os opositores como desordeiros e ignorantes, subordina grupos humanos diferentes do eleito como constituinte de seu povo. A aproximação entre discurso nacionalista e discurso supremacista é enorme. Lembremos que todas as experiências totalitárias do século XX foram respaldados por narrativas nacionalistas, em geral, contadas a partir de viés teleológico, pelo qual a formação do grandioso Estado e da nação estava traçado desde tempos imemoriais. Estas questões estão evidentes em meio às disputas políticas de nosso tempo. No caso da direita, percebemos forte interesse pela proposição de certo revisionismo histórico que revaloriza a narrativa nacionalista da história do Brasil. O principal expoente de tal movimento é o grupo Brasil Paralelo, que diz ter por objetivo expurgar a ideologia do que consideram ser a “história oficial”, produzida majoritariamente nas universidades, entendidas como redutos de esquerda. A apropriação deste discurso nacionalista por parte do atual governo tem se desdobrado em críticas e desmonte de políticas públicas adotadas por administrações anteriores. Isso já se tornou notório nas contestações de ações afirmativas para populações negras, de políticas de demarcação de terras indígenas e das indenizações de vítimas da ditadura militar no Brasil. Fonte: BRILHANTE, Neuma. O bicentenário da independência e os usos políticos do 7 de setembro, segundo esta historiadora (Entrevista): Bruno Leal entrevista Neuma Brilhante. In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/o-bicentenario-da-independencia-e-os-usos-politicos-do-7-de- setembro-segundo-esta-historiadora/ . Publicado em: 07 set. 2020. ISSN: 2674-5917. Acesso: 21 jun. 2021 LIVRO Uma obra muito interessante de ser lida para compreender o período que destacamos aqui nessa unidade, é o livro 1808 de Laurentino Gomes. Abaixo segue as https://www.cafehistoria.com.br/o-bicentenario-da-independencia-e-os-usos-politicos-do-7-de-setembro-segundo-esta-historiadora/ https://www.cafehistoria.com.br/o-bicentenario-da-independencia-e-os-usos-politicos-do-7-de-setembro-segundo-esta-historiadora/ referências dessa obra de fácil leitura e fácil compreensão, nos ajuda muito a compreender o período e é uma importante referência para a sala de aula. Título: 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. Autor: Laurentino Gomes. Editora: Planeta Sinopse: A fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro ocorreu num dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de Portugal e do mundo. Guerras napoleônicas, revoluções republicanas, escravidão formaram o caldo no qual se deu a mudança da corte portuguesa e sua instalação no Brasil. O propósito deste maravilhoso livro, resultado de dez anos de investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível a história da corte lusitana no Brasil e tentar devolver seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam duzentos anos atrás. Escrita por um dos mais influentes jornalistas da atualidade, 1808 é o relato real e definitivo sobre um dos principais momentos da história brasileira. FILME/SÉRIE Título: O Quinto dos Infernos Autoria: Carlos Lombardi. Escrita por: Carlos Lombardi, Margareth Boury e Tiago Santiago . Direção: Marco Rodrigo e Edgar Miranda . Direção-geral: Wolf Maya e Alexandre Avancini . Período de exibição: 08/01/2002 – 29/03/2002. Nº de capítulos: 48 . Sinopse: A série conta algumas aventuras e desventuras da chegada da família Real no Brasil. Em 1785, a espanhola Carlota Joaquina (Raissa Medeiros), de apenas 10 anos, chega a Portugal para se casar com D. João VI (Cássio Gabus Mendes), de 18 anos. Já adulta, Carlota (Betty Lago), tem diversos amantes e tem total controle sobre D. João VI (André Mattos), que vive amedrontado pelos ataques da mulher louca. Até que chegam ao Brasil, onde irão criar os filhos Pedro (Carlos Machado / Marcos Pasquim), Miguel (Bruno Abrahão / Caco Ciocler) e Maria Tereza (Rosa Diaz / Ana Furtado), e precisam se adaptar ao clima tropical e às diferenças culturais. REFERÊNCIAS BRILHANTE, Neuma. O bicentenário da independência e os usos políticos do 7 de setembro, segundo esta historiadora (Entrevista): Bruno Leal entrevista Neuma Brilhante. In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/o- bicentenario-da-independencia-e-os-usos-politicos-do-7-de-setembro-segundo-esta- historiadora/ . Publicado em: 07 set. 2020. ISSN: 2674-5917. Acesso 21 jun. 2021 COSTA, Célio Juvenal da; MENEZES, Seziando Luiz.Considerações em torno da origem de uma verdade historiográfica: o Tratado de Methuen (1703), a destruição da produção manufatureira em Portugal, e o ouro do Brasil. Acta Scientiarum. Education. Maringá, v. 34, n. 2, p. 199-209, July-Dec., 2012 . COSTA, Emília Viotti da Costa. História do Brasil Império. São Paulo: Global, 1982. COSTA, Emília Viotti da Costa. Da Monarquia à República. São Paulo: Unesp, 2010 DOLHNIKOFF, Miriam. História do Brasil Império. São Paulo: Contexto, 2017. DOLHNIKOFF, Miriam. História do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995. FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. 3. Ed. atual. e ampl., 1. reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2018. GOMES, Jônatas Roque Mendes. A revolução liberal do Porto e as concepções de pacto social no parlamento brasileiro (1826-1831). Passagens. 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INTRODUÇÃO Na unidade anterior discutimos sobre as condições externas que justificam o processo de Independência do Brasil e a construção do nosso Estado. Analisamos como eventos que aconteceram na Europa se relacionam a eventos que aconteceram internamente no Brasil e de que maneira isso ajudou a elite brasileira a pensar um projeto político de ruptura com a metrópole portuguesa. Podemos observar também que esse processo de ruptura em relação a Portugal pode significar em diversos momentos uma relação de dependência com o Império inglês, na medida em que muitas das leis, acordos e tratados firmados por dom João VI, ainda quando este governava o Império aqui do Rio de Janeiro, comprometeram o Brasil um estado novo que estava se formando, com os interesses econômicos industriais da Inglaterra. Nessa unidade vamos estudar como Dom Pedro se tornou imperador do Brasil e ao mesmo tempo, como manteve algumas políticas internas e externas que atende os interesses não só brasileiros, mas também de muitas maneiras atende os interesses ingleses. 1 O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Imagem do Tópico: ID do vetor stock livre de direitos: 1485497840 Na unidade anterior, estudamos como dom João VI tentou articular as políticas internacionais do Brasil às relações externas de Portugal, principalmente relacionados ao fim das guerras napoleônicas e a restauração da ordem do antigo regime na Europa. Diante daquela situação e para tentar amenizar ainda exposição os outros reinos em relação à situação de Portugal, que se traduzia pelo conflito de governar os prédios do Império da sua colônia, dom João elevou o Brasil à condição de Reino Unido ao mesmo tempo em que tentou sair curto com os reinos absolutistas casando seu filho Dom Pedro com a princesa da Áustria dona Leopoldina. esse casamento simboliza a tentativa de dom João de se comprometer com a restauração do absolutismo na Europa. Em 1817 selado o acordo através do casamento entre Dom Pedro e dona Leopoldina, casamento que foi a distância e por procuração. Dona Leopoldina não será somente a mulher de Dom Pedro a princesa do Brasil e futuramente a rainha do Brasil, Leopoldina vai desempenhar um papel fundamental no processo de Independência, é através das mãos dela que daremos um passo determinante para a ruptura do Brasil, mas disso falaremos mais adiante. https://www.shutterstock.com/pt/vectors Figura 1 - Dona Leopoldina, então Princesa Real Regente do Reino do Brasil, preside a reunião do Conselho de Ministros em 2 de setembro de 1822 Fonte: Ficheiro: Maria Leopoldina regente. – Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Maria_Leopoldina_regent.jpg. Acesso em: 04 jul. 2021. Antes de falarmos como se deu o processo burocrático de construção do estado brasileiro, gostaria de relembrar com vocês alguns detalhes importantes sobre a revolução liberal do Porto, de 1820. Precisamos lembrar que essa revolução foi determinante para ruptura entre Brasil e Portugal, essa revolução entre as coisas exigia a volta do Brasil como uma colônia de Portugal para que a burguesia portuguesa continuasse explorando a colônia e garantindo a seus lucros mercantis. De maneira alguma isso foi cogitado pelas elites brasileiras, que estavam mais próximas a Dom Pedro, porque no interior do Brasil existia um grupo que olhava com bons olhos a manutenção das relações metropolitanas entre Portugal e Brasil. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Maria_Leopoldina_regent.jpg É importante também falar que no Brasil não existia uma unidade de pensamento, um sentimento nacionalista, que poderia de alguma forma unificava todas as pessoas todos os grupos políticos e todos os interesses que existiam no interior do país. Podemos observar isso em processos conhecidos, como Inconfidência Mineira, os inconfidentes não tinham interesse em uma ruptura de toda a colônia em relação com Portugal, para eles a independência aconteceria somente na região de Minas Gerais. Outros eventos também mostram que suas lideranças não sentiam parte de uns todos brasileiros, mas somente de uma parte, por isso lutavam pela ruptura só desta “parte”, como pudemos observar por exemplo na Revolução Pernambucana de 1817, e que voltará a acontecer na Confederação do Equador em 1824. Mais para frente quando falarmos da Revolta Farroupilha, vamos perceber que não só no Nordeste, mas também no sul do país, existia um sentimento de não pertencimento, mas sim de uma ruptura em relação ao Brasil. Manter a unidade do Brasil foi um dos grandes desafios do Império brasileiro, com Dom Pedro I e Dom Pedro II, no período imperial muitos movimentos de ruptura e separatistas desafiaram o governo estabelecido. Os exemplos acima reafirmam isso e ao longo dessa disciplina, analisaremos com mais calma alguns desses eventos. Por hora vamos nos concentrar no processo imediato de ruptura do Brasil em relação a Portugal. Como estamos dizendo a revolução liberal do Porto pressionou para a volta da família reala Portugal, em 1821, dom João sexto acaba cedendo à pressão portuguesa e retorna a Portugal para aceitar as condições do processo revolucionário que se iniciou em 1820, deixando no Brasil Dom Pedro como regente deste o território. Da saída de dom João sexto do Brasil até o Dia da Independência, as cortes portuguesas pressionaram Dom Pedro para que retornasse o quanto antes para Portugal. ao mesmo tempo aqui no Brasil existia uma pressão muito grande para que Dom Pedro permanecesse no Brasil como príncipe regente. as elites brasileiras sabiam que um retorno de Dom Pedro Portugal se encare um retrocesso nas condições políticas do Brasil. Então iniciaram um processo de construção da permanência de Dom Pedro e da Independência do Brasil em relação a Portugal. um dia importante desse processo foi o dia 09 de janeiro de 1821, quando Dom Pedro, recebe um abaixo assinado com mais de 8500 assinaturas pedindo para que ele permanecesse no Brasil, uma assembleia no Senado brasileiro Dom Pedro profere uma das frases mais conhecidas da história brasileira, como você pode observar mais abaixo: Convencido de que a presença de minha pessoa no Brasil interessa ao bem de toda a nação portuguesa, e conhecendo que a vontade de algumas províncias assim o requer, demorei a minha saída, até que as Cortes, e meu augusto pai, e senhor, deliberem a este respeito com perfeito conhecimento das circunstâncias que têm ocorrido. (NEVES, 2002. p. 201). A frase “como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico”, nunca foi dita por Dom Pedro, Ela Foi publicada no jornal um dia após o dia 9 de janeiro, que ficou conhecido como o Dia do Fico. Independente da fala reproduzir erroneamente, e depois corrigida no periódico diário do Rio de Janeiro, a decisão de Dom Pedro de permanecer no Brasil simbolizou para as elites locais ir para a burguesia portuguesa, que estávamos muito perto da Independência do Brasil. De janeiro a setembro de 1822 o que vimos no Brasil foi um processo intenso de pressão portuguesa para o retorno de Dom Pedro a Portugal e do Brasil à condição de colônia, e ao mesmo tempo uma luta interna para que Dom Pedro tivesse apoio de todos os setores das elites brasileiros para o processo de ruptura. Existe uma pressão muito grande sobre Dom Pedro, a partir do Dia do Fico, para que este organizasse uma assembleia constituinte para elaboração de uma Constituição interna do Brasil. Nesse processo destaque seu nome José Bonifácio, patrono da independência, é ele quem lidera o processo de construção desta Constituição. Essa ainda não será a primeira Constituição brasileira, mas um símbolo e um passo importante para o fim das relações com Portugal. A proposta dessa constituinte era de uma ruptura gradual e moderada em relação a Portugal para evitar conflitos ou até mesmo uma guerra, na medida em que os navios portugueses aumentavam a cada dia no litoral brasileiro, sinalizando que os portugueses não aceitariam a separação do Brasil de Portugal. Importante ressaltar aqui que essa Constituição que estava sendo construída para este processo moderado pintura em relação ao Portugal, liderados por José Bonifácio, o fim da escravidão no Brasil. Não estava no projeto político do Brasil neste momento acabar com a escravidão imediatamente após a separação de Portugal, o que constava era um projeto lento e gradual do fim da escravidão, na medida em que a economia era muito dependente da mão de obra escrava e as elites e o preconceito estruturados na sociedade brasileira não conseguiam imaginar uma sociedade naquele momento sem a presença da escravidão. Junto com processo de construção do Estado brasileiro e a construção, lenta e gradual, do fim da escravidão no Brasil processo de tentativa de embranquecimento da sociedade brasileira. Neste contexto, em junho de 1822, dom Pedro editou o “Cumpra-se”, onde o príncipe regente determinava que qualquer lei uma imposição portuguesa que chegasse às terras brasileiras só seria aceita, caso Dom Pedro estivesse de acordo. É preciso entender que, estar de acordo neste momento não é só atender os interesses de Dom Pedro enquanto governante, mas também das elites brasileiras que estavam por trás de todo esse processo. Nesse contexto Dom Pedro iniciou um processo de viagens pelo interior do Brasil para garantir o apoio das elites regionais neste movimento que separava o que já vinha sendo orquestrado desde o Dia do Fico. Foi durante este movimento de viagens do interior do Brasil para garantir o apoio das elites locais, que Dom Pedro voltando de Santos, recebeu cartas de dona Leopoldina e de José Bonifácio. José Bonifácio que entrou para a história como patrono da Independência, a disco Lava do Rio de Janeiro a construção da nossa Independência, estava diretamente ligado para todo esse processo e sua participação foi determinante. Na carta enviada ao Dom Pedro, chegou em suas mãos em 07 de setembro de 1822, José Bonifácio explicava que uma invasão portuguesa no Brasil era iminente e que Dom Pedro deveria proclamar a independência. Outra figura importante nesse processo de comunicação entre a sede no Rio de Janeiro e Dom Pedro, que estava em viagem, é a figura de dona Leopoldina, que se reuniu com as lideranças políticas brasileiras que estavam no Rio de Janeiro, e assinou a carta que chegaria às mãos de Dom Pedro no dia 7 de setembro 1822 sugerindo a tão desejada Independência. Neste dia, então às margens do Rio Ipiranga, Dom Pedro lê as cartas vindas do Rio de Janeiro, se convence da necessidade da ruptura, e ali mesmo declara o Brasil como independente do Reino de Portugal. No dia 12 de outubro de 1822 Dom Pedro coroado como primeiro imperador do Brasil, com o título de Dom Pedro I, daquele dia para frente era preciso organizar o Brasil enquanto estado e conter os movimentos dissidentes e os grupos que ficaram descontentes com um processo de independência. 2 O PRIMEIRO REINADO E A CONSTRUÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO Imagem do Tópico: ID da foto stock livre de direitos: 1774848119 Um dos primeiros movimentos que Dom Pedro teve que fazer após ser coroado com um primeiro imperador do Brasil foi conter os movimentos que se contrapunham à Independência do Brasil. Alguns historiadores classificam esse período como guerras de Independência. Você consegue observar aqui que a Independência do Brasil não foi pacífica e não fui moderada como pretendiam as elites que lideraram um processo nem tão pouco corrobora com a imagem do Brasil como um país pacífico e sem conflitos. Ao longo da história brasileira muitos conflitos foram registrados e confirmam as análises sociológicas e históricas que desmentem o mito do brasileiro como povo pacífico e acomodado. você já deve ter estudado diversos desses conflitos e ao longo das próximas páginas citaremos mais alguns desses conflitos em uma próxima disciplina quando vocês estudarem processo republicano brasileiro outros tantos conflitos serão citados e analisados, confirmando a nossa interpretação da história brasileira com um processo dos conflitos. Porém neste momento vamos analisar os conflitos que marcaram a independência do Brasil, período que vai de outubro de 1822 até junho de 1823. https://www.shutterstock.com/pt/photos Figura 2 - Domenico Failutti. Retrato de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, 1920. Óleo sobre tela, 233 × 133 cm. Fonte: Maria Quitéria Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Domenico_Failutti_-_Maria_Quit%C3%A9ria.jpg. Acesso: 04 jul. 2021 Um dos conflitos mais importantes da luta pela Independência aconteceu na Bahia, onde as tropas portuguesas resistiram durante bastante tempo à Independência do Brasil. Salvador foi o palco desse conflito na medidaem que lá se encontravam tropas portuguesas além de um grupo de indivíduos que defendiam os interesses de Portugal no Brasil. em 1823 desembarcam em Salvador mais de 200 soldados portugueses. esse movimento fez com que no interior com camisas e uma resistência armada a presença portuguesa em Salvador. Ponto chave deste conflito ficou conhecido como a Batalha de Pirajá, que duraram até julho de 1823 onde no dia 2 às tropas independentistas conseguiram vencer as tropas lusitanas e expulsar os portugueses da Bahia. essa foi a última batalha realizada no Brasil contra a presença do peso considerada pelos baianos como dia real da independente o dia 2 de julho de 1823. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Domenico_Failutti_-_Maria_Quit%C3%A9ria.jpg Um nome importante desse conflito foi Maria Quitéria, uma personagem muito importante da história da Independência do Brasil. Maria Quitéria, uma grande entusiasta da Independência do Brasil, fugiu da casa de seu pai, se vestiu de homem e se alistou no exército que lutava contra a presença portuguesa na Bahia. Já no exército foi descoberta e denunciada pelo próprio pai. Porém comandante das tropas brasileiras contente com os seus serviços e com a sua liderança nomeou a como capitã da tropa feminina que compunham as frentes de batalha brasileiras contra os lusitanos. Maria Quitéria ainda foi condecorado pelo próprio Dom Pedro I qual a maior honraria que um soldado poderia receber, porém foi esquecida e morreu pobre no interior da Bahia. Outro conflito importante no processo das guerras de Independência do Brasil acontece no interior do Piauí, no conflito conhecido como Batalha do Jenipapo. Quando dom João VI retornou a Portugal ele fez um acordo com Dom Pedro onde as províncias do norte ficariam sob controle de Portugal, na medida em que era produzido ali interessava o comércio português. Diante disso as províncias do Maranhão, Pará, Ceará e Piauí, continuavam sob controle português. Porém as elites e o povo dessas províncias, estavam mais interessados em aderir à Independência do Brasil do que se manter com laços económicos monopolistas e metropolitanos com Portugal. Os portugueses tentaram impor sobre a população dessa região a manutenção deste controle, em contrapartida a população resolveu lutar para aderir à Independência do Brasil. Entre os meses de outubro de 1822 e março de 1823 ocorreu uma das batalhas mais sangrentas da história do Brasil. Esse episódio histórico foi produzido em HQ pelos irmãos Caio Oliveira e Bernardo Aurélio. Figura 3 - Capa da Revista A Batalha do Jenipapo Fonte: AURÉLIO, Bernado; OLIVEIRA, Caio. Foices e Facões: a batalha do Jenipapo. Teresina: Quinta Capa, 2018. Disponível em : https://issuu.com/jornalismoccom/docs/batalha/10. Acesso em: 23 jun, 2021. Brasil e a construção do Estado-nação Já dissemos anteriormente que não existia no Brasil, no início do século 19, um sentimento de unidade, muito menos de nacionalidade, mais do que isso, existia na verdade um grande sentimento de regionalidade. Esse foi um dos problemas que D. Pedro I deveria enfrentar logo no início de seu governo. Uma das medidas adotadas pelo novo imperador foi a criação de símbolos nacionais, por exemplo uma bandeira e um hino, seriam importantes para esse processo. Esses são exemplos da tentativa de unificar as demandas regionais entorno de uma simbologia forjada por um imperador sem relações próximas com o povo e nem com a sua história. Vale lembrar que o povo participou de diversos processos relacionados à independência do Brasil, principalmente nos conflitos, mas foi esquecido no momento de construção de um projeto de nação. https://issuu.com/jornalismoccom/docs/batalha/10 Figura 4 - Bandeira do Brasil Império Fonte: ID do vetor stock livre de direitos: 1096813907 Obs. A bandeira original foi feita por Jean-Baptiste Debret, e se encontra na Biblioteca Pública de Nova York, Coleção Digital. Outra medida importante será o processo de elaboração de uma constituição e dos acertos internacionais com as outras nações, em especial Portugal e Inglaterra. Antes de falarmos da política interna, vejamos como d. Pedro I resolveu o problema do reconhecimento do Brasil internacionalmente. O primeiro país a reconhecer o Brasil como independente foram os EUA, em 1824, que tinham muito interesse que os países da América rompem definitivamente com a Europa, para que os interesses por trás da Doutrina Monroe (América para os americanos) e dos interesses imperialistas estadunidenses no continente. Portugal só reconheceu o Brasil independente em 1825, após o pagamento de uma indenização de 2 milhões de libras, dinheiro que o Brasil não tinha e teve que emprestar dos ingleses. Na sequência, a Inglaterra reconheceu a independência do Brasil, mediante a manutenção dos acordos de paz assinados por Dom João em 1808, para mais 15 anos, conhecido como Tratado de Amizade e Aliança, de 29 de agosto de 1825. Acordo esses que comprometem e muito as nossas relações econômicas e políticas, interna e externamente, mantendo a enorme dependência em relação aos produtos ingleses, além das dívidas que surgem, quase que ao mesmo tempo em que nos tornamos independentes. Vale ressaltar que nesse momento a economia brasileira não estava muito bem. O café ainda não era um produto importante para a nossa economia, dependíamos das https://www.shutterstock.com/pt/vectors exportações de algodão, tabaco, cacau e das drogas do sertão. Iniciar uma nova etapa da nossa história endividada e com uma economia em crise, não foi nada bom para o Brasil. 3 DOM PEDRO I E A MONARQUIA Imagem do Tópico: ID da foto stock livre de direitos: 1168754584 Além dos problemas externos, era preciso que dom Pedro I resolvesse os problemas políticos internos, a começar por uma Constituição. Mas essa não seria uma tarefa muito fácil para Dom Pedro I. Logo nos inícios dos trabalhos em maio de 1823, as desavenças começaram a aparecer, principalmente em torno do papel que deveria ser exercido pelo executivo e pelo legislativo. De um lado um grupo de políticos considerados liberais que defendiam limite do poder do imperador para que este não fosse autoritário e não impusesse seus interesses sobre a Câmara dos deputados. De outro lado os interesses de Dom Pedro I em manter um executivo forte e um poder centralizado para que este conseguisse controlar o Império brasileiro. O impasse só foi resolvido quando Dom Pedro resolveu fechar a assembleia constituinte, prender os deputados, e sozinho escrever uma nova Constituição do Brasil, onde ele pudesse garantir o controle do Império da forma como melhor lhe fosse interessante. O episódio da prisão dos deputados da Assembleia Constituinte ficou conhecido como a Noite da Agonia, dia 12 de novembro de 1823. Os deputados que estavam na assembleia recusaram cumprir as ordens de Dom Pedro I e encerrar os trabalhos de elaboração da Constituição. Dom Pedro então fechou os dentro do Palácio e os deixou sem comida e sem água, a noite toda. No dia seguinte os deputados foram presos e muitos deles expulsos do Brasil, entre eles os irmãos Andradas, no qual se destaca José Bonifácio patrono da Independência do Brasil. Esse episódio já nos mostra o comportamento autoritário de Dom Pedro I que seria manifestados muitas outras vezes ao longo do seu período no poder no Brasil. A Constituição que estava sendo escrita pelos deputados, antes do episódio citado acima, não era uma grande constituição que representava o processo republicano e liberal que vinha acontecendo na América como um todo. Era uma Constituição extremamente limitada que mantinha a escravidão e as desigualdadessociais do Brasil. Constituição ficou conhecida como Constituição da Mandioca na medida em que permite a participação política só para aqueles que tinham uma determinada quantidade de mandioca plantada em sua propriedade rural, ou seja só poderiam participar do processo https://www.shutterstock.com/pt/photos político aqueles que detinham um determinado quantidade de renda e propriedade excluindo assim mais de 90% da população brasileira. O único avanço progressista nessa Constituição seriam os limites impostos ao poder imperial, o que causou uma grande insatisfação que Dom Pedro I. A Constituição escrita por Dom Pedro I a partir deste episódio não mudou muita coisa. A participação política continuou sendo censitária, manteve-se a escravidão a desigualdade social e a exclusão da população da participação política. A novidade neste documento é a criação do Poder Moderador, exercido pelo imperador e que poderia intervir diretamente nas decisões dos outros três poderes, dando ao poder imperial uma face absolutista. A nossa primeira constituição foi outorgada, ou seja, imposta, em 25 de março de 1824 e vigorou até a proclamação da República em 1889. Nessa constituição o voto era censitário, indireto e representativo. Para ter um mínimo de participação no processo político, deveria se ter uma renda mínima de 100 mil réis anuais, o que excluía boa parte da população brasileira, que nessa época já era de 50% de escravizados ou ex-cravos. Essa constituição desagradou as elites regionais que esperavam do novo governo e do novo país, a garantia de maior autonomia provincial. Pernambuco foi quem mais ficou descontente com essa nova Constituição. Vale lembrar que o nordeste e principalmente Pernambuco, foram palcos de diversas revoltas populares e da elites. E é nesse contexto que uma das revoltas mais importantes e mais famosas do nordeste aconteceu, a Confederação do Equador. Descontentes com o autoritarismo e a centralização do poder de D. Pedro I as províncias da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, liderados por Pernambuco, se declaram independentes do Brasil e criaram uma república independente. Processo que durou alguns meses e foi duramente reprimido por D. Pedro I. A repressão violenta aos movimentos e conflitos sociais foi uma marca histórica do Brasil e faz parte das estruturas administrativas dos governos brasileiros, desde a época colonial até os dias de hoje. A Confederação do Equador não foi diferente, as lideranças foram mortas e presas, entre elas Frei Caneca que foi condenado à forca, mas diante da recusa do carrasco de executar a pena, acabou fuzilado. Ainda nesse contexto de movimentos dissidentes em relação à construção do novo Estado Brasileiro, que se caracterizava cada vez mais como autoritário e centralizador, está a Guerra da Cisplatina. A província Cisplatina que hoje conhecemos como Uruguai, sempre foi colônia espanhola. Mas com a chegada de dom João VI ao Brasil foi ocupada por Portugal e se tornou província brasileira desde 1816. Em 1825 os cisplatinos iniciaram o processo que levaria a Independência do Uruguai. Dom Pedro mobilizou tropas e o exército para tentar impedir o processo de separação Cisplatina em relação ao Brasil, porém a participação de Dom Pedro na Guerra Cisplatina foi desastrosa e humilhante, além de trazer prejuízos financeiros muito altos à coroa. Um dos motivos para o descontentamento em relação à guerra da cisplatina tem relação com a exigência o recrutamento forçado da parte da população mais pobre para compor o exército brasileiro nesta guerra. Além já as despesas com a guerra na medida em que o Brasil não tinha dinheiro estava com a economia enfraquecida e precisou se endividar ainda mais para se manter na guerra e nada disso adiantou na medida em que o Brasil acabou perdendo a guerra e Uruguai se tornando um país independente A perda dessas guerras manchou ainda mais a imagem de D. Pedro I em relação à opinião pública e em relação às elites brasileiras. O imperador não era uma pessoa que reservava a sua particular a privacidade do palácio, era conhecido pelas amantes e pela vida boêmia que tinha. Essa não era a imagem que a população esperava de um governante. Associado a isso o autoritarismo e as despesas reais fizeram com que a manutenção de D. Pedro I no trono brasileiro ficou insustentável. Para piorar ainda mais a situação dele, em relação à opinião pública, a morte de d. João VI, veio para causar ainda mais preocupação em relação às posturas de D. Pedro I. Como Dom Pedro I herdeiro do trono português, após a morte de seu pai acabou assumindo o trono de Portugal, as elites brasileiras entenderam esse período como uma ameaça à autonomia brasileira e um possível regresso do Brasil ao Reino Unido de Portugal. Mas para evitar ainda mais conflito com a população brasileira, abdicou do trono em nome da sua filha, dona Maria da Glória com apenas 13 anos. A gota d'água para Dom Pedro I foi a volta de sua viagem a Minas Gerais. o imperador havia ido a Minas Gerais para tentar amenizar opinião negativa que tinha em relação à população desta província tão importante. os portugueses haviam preparado uma recepção festiva a Dom Pedro I no Rio de Janeiro, porém a população Fluminense reagiu e iniciou um confronto que durou 5 dias e ficou conhecido como as noites da garrafada. Depois desse episódio, Dom Pedro resolveu abdicar ao trono em nome de seu filho Pedro de Alcântara com apenas 5 anos. Este seria o fim do primeiro Império brasileiro marcado por autoritarismo gastos públicos, escândalos envolvendo a família real, forte oposição política, e a manutenção das estruturas coloniais principalmente da escravidão 4 PODER E POLÍTICA NA REGÊNCIA: A ASCENSÃO DE DOM PEDRO II Imagem do Tópico:ID da foto stock livre de direitos: 1897470829 No dia em que Pedro I abdicou do trono do Brasil os deputados e senadores do novo Império estavam em período de recesso, a grande maioria dos deputados estavam fora do Rio de Janeiro, estavam em suas próprias províncias. Este é um detalhe importante, na medida em que segundo a Constituição outorgada em 1822, caso o imperador não pudesse mais governar e caso sucessor não tivesse idade para assumir o trono, o Brasil deveria ser governado por uma junta de deputados através de um processo conhecido como regência. E este era o caso do Brasil naquele momento. O sucessor do trono brasileiro Dom Pedro II, tinha apenas 5 anos de idade e não podia assumir o trono imperial. Foi preciso então organizar uma Regência provisória até que os deputados retornassem ao Rio de Janeiro, para assumirem uma Regência permanente. O período que vai da abdicação de Dom Pedro I à ascensão ao trono de Dom Pedro II ficou conhecido como Período Regencial, marcado por duas regências trinas e duas regências unas, além de uma série de conflitos políticos e sociais. A primeira Regência trina, foi organizada às pressas para não deixar o Império sem governo até o retorno dos deputados ao Rio de Janeiro. Porém, antes de falarmos um pouco mais sobre essa Regência e as reformas que este primeiro grupo tentou implementar é preciso ressaltar e caracterizar as disputas políticas que existiam internamente no Brasil. Três grupos se destacam nesse processo, os Moderados, os exaltados e os regressistas ou absolutistas. Estes tiveram vida curta enquanto grupo político, pois na medida em que desejavam o retorno de dom Pedro I para o Brasil, tiveram suas expectativas frustradas com a morte de Pedro em 1834. O que diferenciava os exaltados dos moderados era a defesa de maior autonomia política, principalmente para as províncias, mas na essência eram o mesmo grupo, o das elites proprietárias de terra. Após a morte de d. Pedro I as disputas políticas internas brasileiras se reduziram em dois
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