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DISTÚRBIOS DO SISTEMA CIRCULATÓRIO São alterações que compõem quadros patológicos variados, inflamações, neoplasias, necroses e outros. Hiperemia ou congestão: aumento da concentração de sangue em determinado local em determinado momento. Edema: excesso de líquido no interstício ou cavidades. Hemorragia: saída de sangue dos vasos. Trombose: formação de coágulos nos vasos sanguíneos com o animal em vida. Embolia: processo de veiculação de constituintes sólidos, líquidos ou gasosos (partículas) no interior do sistema vascular. O transporte de um local para o outro, muitas vezes um fragmento de trombo pode se tornar um êmbolo. Isquemia: falta da renovação ou chegada de sangue em determinado local (órgão ou tecido) que muitas vezes gera um infarto – necrose isquêmica. Choque: falência em múltiplos órgãos e sistemas e pode causar a morte do animal em diferentes quadros da doença. SISTEMA CIRCULATÓRIO Se trata de um conjunto de vasos interposto por uma bomba, esses vasos são as artérias, veias, arteríolas, vênulas e capilares. Há ainda o sistema linfático composto pelos vasos linfáticos. Existem duas circulações principais, a grande na qual o sangue é bombeado por todo corpo e a pequena na qual o sangue vai para os pulmões para que ele seja renovado. Esse sistema, internamente, é revestido por uma camada de células endoteliais. Essa camada é muito importante, ela mantém o sangue fluido e garante o processo de bombeamento. Quando o endotélio é agredido ele atrai determinadas células que fazem com que o sangue seja coagulado. Essa camada ainda controla a passagem de líquido do interior dos vasos para o interstício e a chegada desse líquido até as células. Ou seja, uma estrutura de grande importância. É importante lembrar da proporção entre o volume de sangue e o leito vascular que deve ser preenchido, a quantidade de sangue é bem menor que todo o leito vascular. Por isso ocorre alternância de preenchimento desse leito, em determinado momento alguns dos segmentos estão preenchidos por sangue e outros não. Isso se altera de maneira bem rápida para que possa atender todos os tecidos de maneira adequada. Microcirculação: onde ocorrem as trocas de nutrientes, gases. Composto pelas arteríolas, capilares e vênulas. Interstício: local onde estão imersas as células do tecido e os vasos. Ocupado principalmente por glicosaminoglicanos e alguns tipos de colágenos que sustentam essas células. O movimento de líquidos ocorre nesse local, levando o que é necessário para as células. HIPEREMIA E CONGESTÃO Dois distúrbios que se referem a um excesso de sangue em determinado local em determinado momento, esse sangue está contido no interior dos vasos (não há extravasamento). Duração do processo: pode ser agudo ou crônico. No caso da hiperemia o processo normalmente é agudo, se relaciona muito a processos inflamatórios. O avermelhamento que ocorre no local se relaciona ao processo inflamatório que ocorre ali. Em caso de congestão temos o processo crônico, pois se relaciona ao impedimento do retorno venoso e isso pode levar semanas ou meses. Extensão das lesões: pode ser localizada quando acomete um local do órgão ou sistema e a generalizada se relaciona ao aparecimento da lesão em todo o organismo, ou todo um sistema. HIPEREMIA: processo ativo, a chegada desse sangue no local e o seu acúmulo ocorre ativamente, ou seja, há algum fator fazendo com que a chegada do sangue no local seja maior. O tecido irá apresentar cor vermelha intensa, pois se trata de um sangue oxigenado. Fisiológica: Pode ocorrer de forma fisiológica, como no caso de exercícios físicos em que o músculo necessita de maior oxigenação ou no processo de digestão em que o aporte sanguíneo na região também é maior (a mucosa pode estar avermelhada após a alimentação) e até mesmo na troca de calor para controle da temperatura corporal. Na imagem ao lado temos o estômago de um cão que possui alimento em seu interior e a vermelhidão se deve a presença desse alimento, ou seja, uma característica fisiológica, pois houve maior demanda do órgão no processo de digestão. Patológica: relacionada a processos inflamatórios, deixando o local mais avermelhado por haver maior afluxo de sangue para o local para a chegada dos agentes inflamatórios/imunológicos. Na imagem ao lado temos indícios de inflamação, se tratando de uma traqueíte, processo inflamatório agudo, temos hiperemia e exsudato, ou seja, secreções amareladas que se formam associadas ao processo inflamatório. Nesse caso a hiperemia é patológica. Aspecto microscópico: ingurgitamento vascular, principalmente de arteríolas. Os outros vasos também podem estar cheios de sangue, mas se destaca mais as arteríolas. E muitas vezes temos as células inflamatórias. CONGESTÃO: processo passivo. O acúmulo de sangue no local ocorre devido a algum impedimento no retorno venoso. O tecido apresenta cor vermelho escuro, pois se trata de um sangue não oxigenado. Aspecto microscópico: acúmulo de sangue principalmente nas veias. Os capilares também podem estar cheios de sangue. No caso do fígado, teremos uma região mais escura na porção centro lobular, onde ocorre formação de lagos por causa da estase sanguínea. Nos pulmões, acompanhando a ingurgitação dos vasos, teremos as células da insuficiência cardíaca e também o edema. Congestão passiva aguda local: congestão é sempre passiva, aguda, pois se desenvolve rapidamente e local, porque acomete apenas um local do órgão ou sistema. As veias são as que mais interferem nesse processo por terem a parede mais delgada e por isso é mais fácil que elas colabem, logo, chega sangue no local mas ele não é renovado, havendo acúmulo. Esse colabamento ocorre mais dificilmente com as artérias, pois suas paredes são mais elásticas. Fígado de bovino muito aumentado de tamanho, com aspecto de noz moscada. Isso ocorre pela congestão passiva aguda, se relaciona a presença de um trombo na veia cava caudal e isso impediu a circulação do retorno venoso do fígado. Congestão passiva crônica local: crônica, pois vai demorar mais tempo para se instalar, local, pois apenas um local do órgão ou tecido será acometido. Na imagem temos um fígado com cirrose. Ele prejudica a passagem de sangue pelo órgão, pois apresenta cicatrização generalizada. O desenvolvimento da cirrose leva tempo e por causa disso, ocorre a formação de pontes portossistêmicas ou shunts (vasos tortuosos que se desenvolvem para tentar desviar o sangue que teria que passar pelo fígado e ao invés de passar pelo órgão ele vai diretamente para a veia porta), ou seja, a função delas é desviar o sangue por ele não conseguir passar pelo tecido que está lesado. Isso gera diversas alterações, sendo uma delas a encefalopatia hepática, por não haver detoxificação da amônia pelo fígado. Fígado de ovino com abscesso, um piogranuloma: processo inflamatório crônico que levou meses para se desenvolver, causado por uma doença chamada de linfadenite caseosa de ovinos. No caso da imagem, ela acometeu o fígado. Pelo local ocupado houve compressão da veia cava que gerou uma trombose. Como foi um processo progressivo, houve novamente o lançamento de desvios, os shunts, que aliviam a pressão do sangue que deveria passar pelo local. Isso é característico dos processos crônicos. Congestão passiva crônica generalizada: normalmente o sítio primário da lesão está no coração. Pode ter ainda a lesão centrada no pulmão. Isso causa diferentes reflexos: do lado direito do coração gera reflexo na circulação sistêmica (principalmente no fígado). Se do lado esquerdo, reflexo pulmonar. Em caso de problemas de passagem no pulmão haverá a cor pulmonale, tendo reflexo na circulação sistêmica, principalmente no fígado do animal. Cor pulmonale é o aumento do ventrículo direito secundário à pneumopatia, o qual provoca hipertensãoarterial pulmonar, sucedida por insuficiência ventricular direita. Em situações normais, o coração funciona como uma bomba e em situações patológicas, funciona como uma represa. Um exemplo disso é a endocardite valvular direita, que provoca geralmente uma estenose, ou seja, dificuldade de abertura das válvulas (haverá estreitamento) prejudicando a passagem de sangue do átrio para o ventrículo direito. O sangue que chega da veia cava para o átrio direito vai encontrar um espaço já cheio de sangue que vai se represando cada vez mais, isso gera reflexos no fígado – congestão passiva crônica, aspecto de noz moscada. Em caso de lesão do lado esquerdo do coração, endocardite vascular na válvula mitral, (estreitamento), ou até mesmo uma insuficiência valvular (lesão degenerativa na válvula mitral), faz com que o sangue que é bombeado reflua para o átrio esquerdo, de forma com que ele não se esvazie completamente, então o sangue que vem das veias pulmonares já encontra o átrio repleto de sangue e isso gera reflexos na circulação pulmonar. Lesão cardíaca bilateral: O acúmulo de líquido encontrado na barbela configura um edema. A vaca provavelmente tem uma lesão cardíaca. O edema ocorre por causa da lesão cardíaca que nesse caso é bilateral, na necropsia será encontrado acúmulo de líquido nas cavidades, congestão pulmonar e hepática. Caso o animal sobreviva por muito tempo, pode haver sobreposição de lesões. A imagem ao lado retrata um fígado com aspecto de noz moscada, periferia mais clara enquanto o centro do lóbulo fica mais escuro, isso ocorre porque o centro do lóbulo possuirá mais sangue hipoxigenado e por isso essa área é mais acometida. *** Cirrose cardíaca: a cirrose ocorre no fígado, mas o processo inicial ocorre no coração e por isso leva esse nome. A imagem ao lado retrata uma endocardiose muito comum em cães velhos. Ocorre degeneração da substância fundamental da válvula gerando um processo de insuficiência cardíaca congestiva. Muitas vezes, o animal consegue compensar essa lesão, mas pode haver um momento de descompasso que vai gerar o óbito. É comum a válvula mitral e o reflexo principal será no pulmão que ficará mais avermelhado, acastanhado e com presença de espuma na traqueia. O pigmento acastanhado está no interior dos macrófagos (células da insuficiência cardíaca) isso ocorre pela congestão acentuada e algumas células passam para a luz alveolar por causa da pressão. As hemácias serão destruídas pelos macrófagos que ficarão com o pigmento de hemossiderina. Consequências da congestão: degeneração, pois o sangue não vai ser renovado então as células podem apresentar degeneração, necrose, micro-hemorragias pelo aumento da pressão do sangue nos vasos, com o passar do tempo pode ocorrer fibrose (substituição por tecido conjuntivo fibroso), pode haver o edema que acompanha os processos de aumento da pressão hidrostática e trombose venosa (a estase sanguínea é uma das causas de trombose). EDEMA Definido como o acúmulo anormal de líquido no interstício ou nas cavidades corpóreas, líquido este proveniente dos vasos. Transudato: líquido pobre em proteínas e células (praticamente ausentes). Possui aspecto translúcido ou levemente amarelado dependendo da espécie. Ele é um fluido pouco viscoso. Exsudato: líquido rico em proteínas plasmáticas e em células inflamatórias, possui aspecto turvo e opaco, além de peso específico maior, pois é mais denso. Aspectos macroscópicos do edema: No tecido subcutâneo, ele pode distender o local, ele vai ser tumefeito e com temperatura abaixo da normal do próprio corpo (se a causa for inflamatória a temperatura será mais elevada). O local não é dolorido e em caso de compressão, fica a marca do dedo, fóvea ou sinal de cacifo (positivo e negativo). Localização cavitária: se estiver na cavidade abdominal chama-se de ascite ou hidroperitônio. Na cavidade torácica chama-se de hidrotórax. No pericárdio chama-se hidropericárdio. Caso seja generalizado pode ser chamado de anasarca. Aspectos microscópicos do edema: Irá depender da quantidade de proteínas plasmáticas presentes. Em pequena quantidade, a lâmina terá um tom róseo claro na coloração de HE, sendo um material homogêneo, ocupando espaço, além de observarmos também o afastamento das estruturas normais dos tecidos. Se tiver mais proteína, essa tonalidade rosa vai ser mais intensa. Correlação clínica: independente da causa ou mecanismo que o formou, a gravidade das consequências do edema depende do local onde está presente. O edema por si só pode não ter grande importância ou pode ser extremamente grave. Um edema de subcutâneo por si só não resulta em danos maiores, haverá o inchaço da região, mas suas consequências são mínimas. Já o edema pulmonar pode ser muito grave e fatal, pois o líquido ocupa locais que deveriam ser ocupados pelo ar e isso impede as trocas gasosas. O edema cerebral pode causar compressão das estruturas encefálicas e levar à morte. Edema de glote: pode ser fatal por poder prejudicar a entrada de ar. Equilíbrio de Starling (fisiológico): a cada momento ocorre saída e reentrada do interstício para dentro do leito da microcirculação, ou seja, isso é constante e fisiológico. O que faz essa ida e vinda acontecer são as forças de pressão hidrostática exercida pelo plasma, pressão hidrostática exercida pelo tecido, pressão coloidosmótica exercida pelas proteínas plasmáticas (no plasma) e pela pressão coloidosmótica exercida pelos tecidos. Toda essa movimentação ocorre no leito da microcirculação (arteríolas, capilares e vênulas). Normalmente se sobra uma pequena quantidade de fluido, o que é drenado pelos vasos linfáticos. O edema se forma por vários motivos: Aumento da pressão hidrostática causado por variados fatores. Pode ser localizado quando há um comprometimento do retorno venoso (casos de torção intestinal, torção de estômago – casos de colabamento das veias em determinado local/órgão). Gera aumento da pressão hidrostática. Poderia ser causado também pela maior chegada de sangue no local. Na cirrose hepática, por processo de fibrose difusa há dificuldade de passagem de sangue pelo órgão, fazendo com que ocorra aumento da pressão hidrostática no território portal que força saída de líquido para o interstício e para cavidade abdominal, gera quadros de ascite. Lembrando que a cirrose se trata de um processo de cicatrização difusa do órgão e essas cicatrizes se tornam barreiras para a passagem do sangue. Aumento da permeabilidade vascular: se relaciona a passagem de líquido e muitas vezes proteínas plasmáticas e células também do interior dos vasos para o interstício. Ocorre em caso de inflamação aguda (liberação de mediadores químicos da inflamação) e angiogênese, formação de novos vasos – as pontes entre as células estão mais frouxas, permitindo a saída de líquido. Obstrução linfática: Pode se relacionar a neoplasias, cirurgias extensas que podem comprometer vasos linfáticos importantes, radiações usadas para tratamento pré e/ou pós retirada de tumores (menos frequente na medicina veterinária), além de linfangites que são inflamações desses vasos. Em caso de humanos, temos a filaríase (elefantíase) como principal exemplo dessa obstrução. Dessa forma, ocorre falha na absorção do líquido intersticial pelos vasos linfáticos da região afetada. Retenção renal de sódio: colabora com a formação do edema, ela ocorre muitas vezes por mecanismos compensatórios, fazem o SRAA ser ativado, isso retém sódio e líquido. Pode ser para compensar uma diminuição da volemia, gera aumento da pressão hidrostática e agrava os quadros de edema. Diminuição da pressão coloidosmótica do plasma: exercida principalmente pela albumina. Em casos patológicos, o animal vai apresentar hipoproteinemia. Ocorre em casos de perda proteica, como em síndrome nefrótica, principalmente glomerularcrônica, pois as proteínas irão passar pela filtração glomerular e o animal apresentará proteinúria. Também pode ocorrer em distúrbios gastrointestinais, causados por má absorção de proteínas, lesões no intestino, principalmente abomaso. O animal ingere uma quantidade adequada, mas elas não são devidamente absorvidas – síndrome da má absorção. A Redução da síntese proteica (causa mais comum de hipoproteinemia): causada por alterações da síntese proteica, por alterações hepáticas (cirrose), a maior parte das proteínas plasmáticas são sintetizadas no fígado. Desnutrição: fator importante na redução dessas proteínas, não se ingere a quantidade adequada de proteínas, o que impede a síntese das proteínas plasmáticas. Parasitoses: parasitas hematófagos, que ocupam o estômago dos animais, abomaso ou intestino. Eles realizam hematofagia e reduzem as células sanguíneas (hemácias – gerando anemia) e também hipoproteinemia, tanto pelo sangue que eles ingerem, tanto pelo sangue perdido em cada lesão (secreção de substâncias anticoagulantes). A papeira é comum em casos de hipoproteinemia, (pode acontecer em casos de presença de parasitas hematófagos no abomaso desse animal - haemonchus - o parasita suga o sangue e leva ao quadro de hipoproteinemia, logo, há formação de edema nesta região). Não deve ser confundido com bócio que se relaciona ao mau funcionamento das tireóides, logo, não deve ser tratado com iodo e sim com o anti- helmíntico. Mucosas conjuntivais pálidas do ovino: causada por anemia, pode ser chamada de mucosa de porcelana. Esses animais têm anemia e hipoproteinemia. Em casos de cirrose, temos dois mecanismos atuando em conjunto: aumento da pressão hidrostática no território portal e diminuição da pressão coloidosmótica por falta de síntese proteica. Animais com cirrose vão desenvolver com frequência quadros de ascite mas também de um edema generalizado, por essas duas causas. Nessa imagem temos um bom exemplo de obstrução causada por infiltração linfática de neoplasias malignas. Deve-se comparar as espessuras das duas pernas do cão. Ela está extremamente inchada e edemaciada. Quando se faz compressão com o dedo, a depressão vai permanecer por um tempo. Nesse caso tínhamos um mastocitoma com infiltração em linfonodos e vasos linfáticos. O edema será localizado ao local com a drenagem linfática comprometida. Grande quantidade de espuma sendo liberada pela boca indica que a origem do problema é um edema pulmonar. A espuma é formada pela mistura entre o ar e o líquido, podendo ser encontrada também nos pulmões e traquéia. A língua do animal está arroxeada, com aspecto cianótico justamente pela baixa renovação de oxigênio. HEMORRAGIA E TROMBOSE Hemostasia: processo fisiológico de estancamento da perda de sangue; toda vez que houver dano vascular ou algo que traumatize o vaso ou induza uma lesão vascular, rapidamente entra em ação o processo de hemostasia para evitar que o sangue se perca do interior dos vasos. Esse processo é então fisiológico, mas compartilha vários mecanismos com os distúrbios circulatórios como o caso da trombose ou hemorragia. O excesso gera a trombose e o mau funcionamento gera a hemorragia. Processo fisiológico: capacidade de formação de tampão hemostático que bloqueia a perda do sangue, no entanto, a fluidez do sangue deve ser mantida. Tem como componentes principais: parede dos vasos (endotélio que mantém a fluidez do sangue, caso ele seja lesado, começará o processo de hemostasia), as plaquetas (fragmentos de células oriundos dos megacariócitos produzidos na medula óssea que circulam livremente pela corrente sanguínea e quando necessário elas se juntam) e o sistema da cascata de coagulação que envolve a ativação de vários fatores que estão inativos na corrente circulatória promovendo a formação do tampão hemostático. Sequência de eventos hemostáticos após lesão vascular: independentes do tamanho da lesão, sempre vai ocorrer basicamente a mesma sequência de eventos: Vasoconstrição: processo transitório, em caso de vaso de baixo calibre, a vasoconstrição já é suficiente para solucionar o problema, se o dano for maior ela não consegue resolver sozinha. Isso ocorre no local da lesão. Hemostasia primária: aderência e ativação plaquetária: as plaquetas circulantes se transformam ficando mais viscosas e se aderem umas às outras no local da lesão. Em danos menores esse passo já é suficiente para solucionar o problema. Hemostasia secundária: em casos de lesões maiores teremos ativação do fator tecidual, ativação dos fatores plaquetários, ativação da trombina e juntamente com as plaquetas haverá ativação da cascata de coagulação → polimerização das fibrinas + plaquetas que forma um tampão permanente. A trombina transforma o fibrinogênio em fibrina que estabiliza o tampão plaquetário, tornando-o permanente. Caso esse processo se dê de forma incontrolada, todo o sangue do corpo seria coagulado. Logo, assim que o processo de formação de coágulo começa, há o início de um processo de fibrinólise que vai regular a formação de coágulos, evitando que ocorra de maneira excessiva. Reparo tecidual: o endotélio tende a se proliferar em torno do tampão hemostático. Quando esse tampão for pequeno ele será dissolvido completamente e há apenas a reparação do endotélio. Em casos de tampões maiores o endotélio vai revestir toda a porção que não foi digerida. Trombose: processo patológico de formação do trombo, uma massa sólida formada por meio dos constituintes normais do sangue – plaquetas, fibrinas, células do sangue (hemácias e leucócitos), formando um coágulo de forma anormal, patológica, exacerbada dentro da corrente sanguínea. Tem como consequência problemas sérios de irrigação e drenagem de determinados locais por causa da obstrução. Coágulo pós mortem: pode ser do tipo lardáceo que é mais claro (ou amarelado em caso de equinos) e o cruórico que é formado por todos os constituintes do sangue, sendo mais escuro por apresentar maior quantidade de hemácias. Se diferenciam do trombo pois não se grudam nas paredes dos vasos ou nas câmaras cardíacas, sendo mais elásticos, possuem superfície lisa e brilhante e se moldam de acordo com o formato do local onde estão. Já o trombo fica aderido à parede do vaso, possui consistência friável, superfície mais opaca e rugosa. *** Coágulos grandes dentro do ventrículo esquerdo podem significar insuficiência cardíaca. Em casos normais o ventrículo esquerdo não deve estar repleto. Tríade de Virchow: Os trombos têm como base três componentes: lesão endotelial, alterações do fluxo normal e alterações do próprio sangue (hipercoagulabilidade), sendo o primeiro fator o mais importante. Lesão endotelial: se refere a lesão sofrida pelo endotélio que tem propriedades anti- trombóticas que, diante do dano, se tornam pró-trombóticas. Antes da formação do trombo, temos um processo de hemostasia normal, mas ele ocorre de forma exacerbada. A lesão expõe a matriz extracelular que possui colágeno que é extremamente pró-trombótico (trombogênico), então, ocorre a ativação plaquetária, adesão das plaquetas que estimula a sua agregação. Isso ativa ainda a cascata da coagulação, mas de maneira exacerbada. Esse exagero ocorre em lesões vasculares traumáticas (traumas repetidos na parede do vaso), lesões neoplásicas e lesões inflamatórias que envolvem a parede do vaso. Um exemplo de lesão endotelial é o que ocorre na artéria mesentérica de equinos parasitados por Strongylus vulgaris. Esse parasita lesa a parede do vaso que se torna irregular, dilatada e há perda da elasticidade normal após repetidas lesões. Então, são formados trombos que podem se desprender e acabar ocluindo vasos de menor calibre, impedindo a passagem de sangue. Alteração do fluxo normal: o fluxo normal é laminar, ou seja, dentro do vaso temos naporção central da corrente os componentes particulados e as plaquetas, e em contato com o endotélio, menor quantidade destes componentes. Em caso de interrupção ou mudança nesse fluxo, podemos ter duas situações: - A estase que é a parada do fluxo sanguíneo ou fluxo mais lento podendo levar a coagulação do sangue. Turbulência: acentuação do fluxo sanguíneo lesando o endotélio Os dois processos permitem que os componentes particulados, principalmente as plaquetas, entrem em contato direto com as células endoteliais. O fluxo alterado do sangue pode gerar ainda uma lesão do endotélio. Ele vai alterar também a remoção dos componentes que ativam a formação de coágulos, além de retardar os inibidores da coagulação. Então, a estase e a turbulência podem facilitar a formação e/ou propagação dos trombos. Casos: Houve formação de um piogranuloma no fígado de uma vaca que comprimiu a veia cava, impediu o retorno sanguíneo causando estase e gerando a formação do trombo. Outro caso comum em vacas de alta produção leiteira que recebem grande quantidade de concentrado, em período pós-parto, é o processo de deslocamento abomasal; esse deslocamento pode ser para o lado direito ou esquerdo sendo que para o lado direito é mais grave, pois muitas vezes há o deslocamento bem dorsal gerando a torção do abomaso. Isso faz com que haja dificuldade na drenagem venosa, a luz do vaso tende a ficar mais estreita e isso gera a possibilidade de formação de um trombo *** Geralmente há maior compressão de veias pois elas se colabam com maior facilidade, se comparado às artérias. Alterações do próprio sangue: Essa alteração se refere à hipercoagulabilidade. Na veterinária, o mais comum é que esse processo seja secundário, adquirido e que traga como consequência o aumento da viscosidade sanguínea. Essas alterações das vias de coagulação podem ocorrer por inflamações (processos inflamatórios graves), neoplasias malignas que já estão invadindo vasos e liberando mediadores químicos da inflamação (aumenta a viscosidade), casos de uremia que se relaciona a insuficiência renal aguda ou crônica (facilita tromboses) e alterações metabólicas (disfunções das adrenais e tireóide). Morfologia e classificação dos trombos: Depende do local onde se encontram. *** O trombo sempre vai ser uma massa friável presa à parede Trombo arterial: pelo fluxo sanguíneo mais rápido ele tem menor quantidade de componentes particulados do sangue (esses componentes apenas passam por ele, não se fixam), sendo predominantemente composto por plaquetas e fibrina; possui coloração mais clara, tende a ser mais firme e mais aderido à parede do vaso. Amarelado, arredondado, laminados, se formam no sentido do sangue Trombo venoso: são mais semelhantes aos coágulos cruóricos, pois o fluxo sanguíneo é mais lento e por isso o trombo é formado por todas as células do sangue; tem característica mais frouxa e sua coloração tende a ser mais avermelhada Mural: aderidos na parede do átrio ou ventrículo. Vegetantes: aderidos às válvulas cardíacas. Sépticos: constituídos por bactérias (comum em caso de endocardite) Assépticos: não possuem bactérias na sua composição. Ocorre ainda a formação de cabeça e cauda do trombo, a cabeça é o ponto inicial de fixação, sendo mais firme e a cauda é o que acompanha o fluxo sanguíneo, sendo mais frouxa. Pelo fluxo sanguíneo continuar por determinado período de tempo, ocorre a formação de laminações – formado por fibrina, componentes particulados do sangue e ainda outra camada de fibrina que confere aspecto de lâmina. Destino do trombo: Fibrinólise e dissolução do trombo: é o que ocorreria em uma condição normal, então teria seu processo de degradação e o vaso teria sua recuperação da condição natural. Embolia: Quando ele se desprende da parede ele pode embolizar, ou seja, ser carreado com a corrente circulatória. Propagação: leva a uma oclusão completa da luz do vaso. Organização e recanalização: Processo de cicatrização. A partir da parede do vaso há formação de vasos e tecido conjuntivo para o interior da massa trombótica, dessa forma, há a incorporação do trombo na própria parede do vaso e com o tempo pode haver o processo de reendotelização da superfície. Esses pequenos vasos podem se juntar e restabelecer parte do Trombo Coágulo pós mortem in vivo após a morte Consistência seca, superfície irregular Consistência úmida Branco/manchado/acinzentado aderido ao vaso forma-se no sangue em fluxo Forma-se no sangue coagulado Composto primariamente por plaquetas e fibrina Composto por plaquetas Causado por lesão endotelial Iniciado pela tromboplastina após a morte fluxo sanguíneo do local. Para isso o animal precisa sobreviver por algum tempo, se ele morrer precocemente esse processo não será visualizado. Caso: Trombo venoso na veia epigástrica de cabra que tinha mastite. Pelo fluxo sanguíneo ser mais lento, o trombo se parece bastante com um coágulo pós mortal → atenção para não confundir e ter o diagnóstico afetado. Comum em vacas leiteiras, pois usa-se a veia do leite para tirar sangue e pode gerar trombose nos vasos. Processos importantes para formação de trombos: Coagulação intravascular disseminada: processo de formação de microtrombos em toda corrente circulatória. Efeito muito grave que conduz o paciente à morte na maioria das vezes. Associado a processos de choque séptico e neoplasias malignas disseminadas. Coagulopatia de consumo ou CID: Esse processo consome plaquetas e fatores de coagulação, fazendo com que esses fatores fiquem faltando em outros processos, gerando hemorragias, prejudicando a hemostasia. HEMORRAGIA Se trata da saída de sangue do interior dos vasos. Pode ser externamente (cavidade nasal, trato digestório) ou internamente (para dentro de uma cavidade corpórea ou tecidos – muscular, hepático). Pode ser em grandes ou pequenos volumes. Per rhexis: quando há lesão vascular considerável e há perda de todos os componentes do sangue (hemácias, proteínas, leucócitos, etc) Hemorragia por diapedese: a lesão da parede do vaso não é expressiva, mas há perda de hemácias do interior da corrente circulatória para o interstício. Elas fazem parte de quadros ligados a diáteses hemorrágicas, processos em que há a facilitação das hemorragias, traumas que mesmo pequenos podem resultar em hemorragia. Classificação e aspecto das hemorragias: Formato: Um mesmo tecido pode apresentar os três tipos de hemorragia, elas são bidimensionais, tem largura e comprimento. Petéquias: são puntiformes, parece uma cabeça de alfinete. Algo pontual, são pontinhos vermelhos. Equimoses: são pontos maiores que as petéquias. Sufusões: têm formato de pinceladas, são maiores. Hematoma: hemorragia tridimensional, provoca aumento de volume no local, pode ser pela perda de poucos ou muitos mililitros de sangue. Hemorragias em locais específicos: ∙ Hemartrose: na articulação. ∙ Gastrorragia: estômago ∙ Hematêmese: vômito ∙ Enterorragia: intestino ∙ Hematoquezia: ânus ∙ Otorragia: orelha ∙ Epistaxe: cavidade nasal ∙ Hemoperitônio: na cavidade peritoneal/abdominal ∙ Hemoptise: vindo do pulmão e eliminado pela cavidade nasal ou oral ∙ Hematúria: urina Causas básicas das hemorragias: causas traumáticas são as mais frequentes, ocorre ruptura da parede do vaso havendo perda de sangue; processos inflamatórios que envolvem a parede do vaso; necroses e neoplasias malignas. Alteração na parede vascular por alterações infecciosas tanto por bactérias quanto por toxinas produzidas pelas bactérias/vírus tendo como exemplo a peste suína clássica (viral em suínos) e a hepatite infecciosa canina que geram lesões nas paredes dos vasos. Alterações plaquetárias: trombocitopenias (baixa da quantidade de plaquetas) gera hemorragias pelo fato do processo da hemostasia estar comprometido.É o que acontece no caso de erliquiose, intoxicação aguda por samambaia (gera dano na medula óssea). Medicamentos e irradiações (menos frequentes na medicina veterinária). Em casos de CID, já citados, pelo consumo de plaquetas e fatores de coagulação. Disfunções plaquetárias: associada à uremia (mal funcionamento dos rins, deixando o sangue “sujo”), intoxicação por aspirina que pode ser usado em excesso para diminuir a formação de trombos, e ao passar da dose gera hemorragias. Hiperestrogenismo: endógeno (em casos de tumores ovarianos, cistos foliculares) ou exógenos. Se relaciona a um dano direto na medula óssea, tendo como consequência as hemorragias. Coagulopatias: problemas hepáticos graves que podem diminuir os fatores de coagulação. Deficiência de vitamina K: principalmente ligados a ingestão de antagonistas da vitamina K, como ocorre com envenenamentos que são anticoagulantes. Esses venenos normalmente são usados para rato. Exemplos: Porcos que eram alimentados com restos de padaria, mas havia resíduos de veneno de rato nesses alimentos e isso gerou a morte de diversos animais. Houve reversão quando foi administrada a vitamina K. Em caso de ingestão de samambaia, haverá saída de sangue por diversos locais, sairá na urina, configurando hematúria, haverão hemorragias disseminadas na serosa do intestino. Essa intoxicação age de forma semelhante à radiação. A medula óssea desse animal vai apresentar apenas hemácias e gorduras, os outros precursores não existem mais. Eles apresentam ainda infecções secundárias facilitadas por causa da aplasia da medula óssea (não haverá leucócitos). O quadrado menor indica o estado normal. Consequências da hemorragia: vai depender do volume de sangue perdido, da velocidade da perda e do local de onde foi perdido o sangue. Uma perda de 20 mL de sangue de um bovino adulto (perda externa), não vai gerar nenhuma consequência, mas se houver a perda dessa mesma quantidade para dentro da cavidade craniana vai haver ocupação de espaço e vai ser muito grave. Velocidade: em caso de perda longa, demorada, o animal consegue compensar por meio de alguns mecanismos, mas se a perda ocorre rapidamente, o animal será levado à morte por choque hipovolêmico. Hemopericárdio: acúmulo de sangue no saco pericárdico, se o volume de sangue fosse expelido para o exterior desse saco, o animal não teria grandes efeitos, mas por ele ter ocupado esse espaço, ele gera tamponamento cardíaco, impedindo que o coração do animal alcance a amplitude necessária dos batimentos. O volume de sangue não é considerável, mas pela localização ele gera a morte do animal. Acúmulo de sangue que comprime a medula espinhal, pode chegar a prejudicar a movimentação dos membros desse animal. Essa compressão, não depende de grande quantidade de sangue, mas por ser nesse local, gerou essa sintomatologia. Resolução da hemorragia: se o animal sobreviver, o local onde está acumulado o sangue será reabsorvido. A parte líquida será reabsorvida e os constituintes figurados serão removidos por fagocitose. Se o volume de sangue for muito grande, vai ocorrer o processo de organização do hematoma – cicatrização (invasão de vasos e tecido conjuntivo como já descrito). Em hemorragias menores ela vai ser reabsorvida por completo, obviamente isso só vai ocorrer se o animal sobreviver tempo suficiente para estabelecimento das resoluções. EMBOLIA Se trata do transporte de qualquer substância que seja sólida (fragmento de trombo), líquida (gotícula de óleo) ou gasosa que ocorra no interior da corrente sanguínea. Gera isquemia do local irrigado pelo vaso entupido, isso pode gerar necrose, infarto do local onde o êmbolo se instala. Classificações: Tromboembolia: é o tipo de embolia mais comum. Acontece quando um trombo se desprende da parede do vaso e é lançado na circulação. Exemplos: trombo na artéria aorta, se desprendeu do coração do animal e se alojou na bifurcação do vaso em questão. Nesse caso, obviamente terá graves consequências de isquemia. Comum em gatos com cardiomiopatia, tem como consequência esse tromboembolismo (em cela). Embolia neoplásica: uma das formas que a neoplasia maligna tem de se disseminar pelo corpo do animal. As células neoplásicas invadem a corrente circulatória e são transportadas para outros locais à distância. Pode começar com um tumor de mama e pode ser transportado até os pulmões, por exemplo. Em caso de melanoma maligno (neoplasia na boca de cães), foi encontrado na necropsia, múltiplos focos neoplásicos no pulmão do animal, isso ocorreu pela invasão das células neoplásicas na corrente sanguínea. Embolia séptica: colônias bacterianas que ganham acesso a corrente circulatória e são veiculadas, disseminadas para locais a distância, temos como exemplo uma vaca que tem lesão no casco contaminada por bactérias e elas têm acesso a corrente circulatória e são disseminadas para outros locais. Rim de bovino com múltiplos pontilhados amarelados, cada um deles representa uma embolia séptica que chegou ao local por meio da corrente sanguínea. O animal tinha uma metrite grave que foi o ponto inicial das bactérias. Comum em potros que não ingerem adequadamente o colostro e tem invasão e instalação de agentes. Embolia gasosa: pouco frequente na veterinária, se relaciona ao tipo de trabalho do indivíduo, como o caso de mergulhadores em profundidades maiores e não tem o devido cuidado ao retornar para superfície. O gás que está em dissolução no sangue, a medida que a pessoa sobe, ocorre formação de bolhas que vão prejudicar os capilares. Na veterinária se tem receio em caso de administração de soro que pode apresentar bolhas de ar no equipo, mas elas são pequenas demais para gerar um dano significativo. Embolia gordurosa: pode ocorrer em casos de injeção de substâncias não formuladas para injeção intravascular. Como antibiótico com veículo oleoso que deve ser injetado via IM. Por algum erro, pode haver injeção IV, resultando em embolia gordurosa. Outra situação é o caso de traumatismos graves, principalmente com fraturas de ossos longos em animais mais velhos, a medula óssea já vai estar sendo substituída por gordura que acaba tendo acesso a corrente sanguínea por causa do trauma. Comum de ser encontrada (achado incidental) nos rins dos animais. Outras: fragmento de pele ou pelo que são inoculados na corrente circulatória, embolia de líquido amniótico. ISQUEMIA Pode ser definida como falta da chegada de sangue em local ou falta de drenagem desse sangue acumulado no local. É uma consequência de um bloqueio arterial, ou dificuldade de retorno venoso. Gera anoxia (total ausência de oxigênio) ou hipóxia (redução da quantidade de oxigênio no local), mas não falta apenas oxigênio, falta nutrientes para as células e a remoção de metabólitos que deveriam ser retirados pelo processo de circulação normal. Causas: trombose, embolia, vasoconstrição. Isquemia progressiva: permite que o tecido vá se adaptando à nova condição, possui consequências relacionadas a atrofia, o organismo se adapta a menor quantidade de oxigênio e nutrientes e as células vão reduzindo seu volume e seu metabolismo. Mas na maioria das vezes vai gerar infarto. INFARTO Consequência da isquemia, área de necrose isquêmica. Geralmente acontece em uma área de necrose de coagulação por isquemia, por bloqueio do suprimento arterial ou dificuldade/impedimento da drenagem venosa. Pode estar relacionada a trombose, embolia, vasoespasmo, compressão extrínseca (algo que comprime o vaso por fora, em casos de torção/vólvulo gera colabamento das veias (principalmente). Fatores que influenciam no desenvolvimento do infarto: Natureza do suprimento vascular: cada órgão tem o seu suprimento, por exemplo, os rins têm circulação terminal (sem muitas circulações colaterais), tende a ter o infartocom mais facilidade que o pulmão ou fígado, por exemplo, pois esses órgãos têm dupla circulação, então se uma for afetada, a outra pode conseguir suprir a necessidade do tecido. Um exemplo de órgão com circulação colateral seria o intestino, musculatura esquelética. Vulnerabilidade do tecido acometido: quanto mais especializado, mais vulnerável será o tecido na falta de oxigênio como é o caso do sistema nervoso, poucos minutos sem oxigênio já gera uma área isquêmica. Diferente dos tendões que tem o metabolismo menor e por isso são menos vulneráveis. Grau e velocidade de oclusão: oclusões de grandes vasos que ocorrem rápido, tem maior facilidade de ocorrência do infarto. Ao contrário de vasos menores que podem ser compensados por circulação colateral. Calibre do vaso ocluído: quanto maior o vaso, maior será a necrose isquêmica. Capacidade de transporte de oxigênio: depende da condição inicial do animal, em caso de anêmicos, ele será mais suscetível ao desenvolvimento de infarto quando comparado a animais que não têm anemia. Muitas vezes, as lesões podem ser agravadas por se relacionarem a reperfusão tecidual, ou seja, há afluxo de oxigênio para o local, nesse momento será gerado grande quantidade de radicais livres derivados do oxigênio e eles são lesivos a membrana celular. Exemplo, quando se desfaz a torção do estômago, pode haver agravamento do quadro de necrose. Classificação dos infartos: Brancos ou anêmicos: infartos de cor mais clara, normalmente quando já há alguns dias de evolução, que demoraram para serem visualizados. Vermelho ou hemorrágico: ocorreram recentemente ou então naqueles tecidos que têm uma constituição mais frouxa como é o caso dos pulmões. Aspectos macroscópicos: Acontece em uma área restrita na maioria das vezes. Há alteração de coloração, dependendo do formato do órgão vai haver formato de cunha (comum em rins) e, geralmente, vai ter uma área delimitada pelo processo inflamatório agudo. Em torno da área mais clara tem uma linha avermelhada configurando a inflamação. Caso seja um bloqueio da circulação de retorno, a área estará muito avermelhada pelo acúmulo de sangue no local. Quando ocorre na musculatura esquelética, o músculo fica bem branco em casos de aves que possuem essas estruturas na cor clara e menos vermelho nos outros animais. -Em caso de necrose de coagulação na porção central do sistema nervoso, ela passa para necrose de liquefação e rapidamente o tecido se liquefaz. Aspecto microscópico: caracterizado por uma área de necrose de coagulação que pode ter mais ou menos sangue, depende do tempo de evolução. Importância clínica do infarto: sua importância, assim como os outros distúrbios, vai depender do local que ocorreu. Prova disso são os achados de necropsia que não se relacionam à causa da morte do animal. Exemplo: um infarto de dois centímetros de diâmetro no rim do bovino não traz grandes consequências. Mas se esse mesmo infarto ocorrer no tronco encefálico do bovino, ele vai morrer. Destinos da área de infarto: caso o animal sobreviva e haja permanência da área infartada, pelo processo inflamatório que ocorre na periferia, os tecidos necrosados serão removidos por fagocitose e haverá formação de vasos e tecido conjuntivo que vão substituir a área infartada. Caso a área seja muito grande, vai haver a separação, um sequestro desse tecido de necrose por uma linha de inflamação, mas ele não será completamente substituído por tecido conjuntivo fibroso, permanecendo como um tecido inerte no local. Em casos de infarto séptico ocorre formação de um abscesso no local, será atraída grande quantidade de neutrófilos, pode ocorrer ainda a calcificação dessas áreas de infarto. Áreas visualizadas durante a necropsia. CHOQUE Definido como uma falência completa do sistema cardiovascular, uma falência completa da distribuição adequada do sangue aos tecidos. Há desproporção entre o volume de sangue circulante e a quantidade de vasos que devem ser preenchidos. Como resultado dessa desproporção, teremos uma falência de múltiplos órgãos do corpo. Temos três situações que conduzem ao choque: Redução do volume de sangue circulante: ou por perda de sangue total ou por perda de líquido em grande quantidade. Redução do débito cardíaco: menor quantidade de sangue bombeado por minuto. Se relaciona a deficiência no bombeamento do sangue, tendo como sítio primário da lesão o coração. Perda do controle vasomotor periférico: em condições normais nem todos os vasos estão abertos ao mesmo tempo, há alternância; quando se perde esse controle, todos os vasos se abrem ao mesmo tempo, o animal terá um quadro de hipotensão acentuada. O sangue ocupa essas regiões todas não tendo sangue suficiente para circular em todos os tecidos. Manifestações clínicas do choque: quadro de letargia, desânimo muito acentuado, animal não responde aos estímulos. Isso ocorre por causa da hipotensão, palidez acentuada das mucosas, arroxeamento das mucosas (dependendo do quadro de choque), hipotermia. Em caso de choque séptico a temperatura tende a estar alta no começo e cai depois. Normalmente vai ter taquipneia (ciclo respiratório muito mais rápido que o usual) e taquicardia, em uma tentativa de compensação da hipotensão. Diminuição da produção de urina (oligúria ou anúria). Alguns animais apresentam diarreia sanguinolenta. Patogenia do choque: independente da causa inicial, o choque não é uma enfermidade específica, é uma condição associada a hipotensão, ou seja, independente do tipo de choque, o animal entra em hipotensão acentuada com redução da perfusão tecidual gerando hipóxia (organismo começa a gerar energia em situação de anaerobiose, gerando maior quantidade de ácido lático que agrava ainda mais o quadro da doença no animal). O animal morre de choque em diferentes tipos de situação, associado normalmente a esse ciclo vicioso que leva à hipotensão. Classificação dos choques: todos eles entram no mesmo ciclo vicioso: diminuição da perfusão tecidual, que leva a hipóxia, aumenta produção de ácido lático. O aumento desse ácido somado às complicações e produtos de cada um dos choques gera a morte do paciente. Choque hipovolêmico: associado a perda de volume sanguíneo ou associado a perda de líquido de forma bastante intensa. Ocorre quando o animal perde entre 20 e 40% da sua volemia em curto espaço de tempo. Se o animal perde esse volume lentamente, o organismo consegue compensar essa perda. Em casos de perda de líquido, se associa a vômito e diarreia intensos, em caso de enterite grave por exemplo, isso impede que o animal seja devidamente hidratado. Animais com queimaduras extensas também podem entrar nesse quadro, há grande perda de soro (exsudato). Em equinos (bem raro), a sudorese acentuada pode contribuir para ocorrência de choque (importância do fornecimento de líquido para esses animais). Choque cardiogênico: se relaciona a problemas cardíacos, seja por lesão extensa do miocárdio (miocardite) ou necrose do miocárdio, arritmias cardíacas, compressão do coração como o caso do tamponamento cardíaco (hemopericárdio), pode ocorrer ainda obstrução da saída do sangue que é bombeado do coração em caso de trombose acentuada de vasos. Choque séptico ou tóxico: bastante frequentes na veterinária, normalmente associados a bactérias gram-negativas por terem em sua constituição os lipopolissacarídeos que podem ativar os macrófagos, monócitos, havendo liberação acentuada de citocinas. Essas citocinas + sistema complemento produzem um quadro de vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. Ocorre ainda o processo de coagulação intravascular disseminada (CID) – consumo de plaquetas e de fatores de coagulação. Bactérias gram positivas e fungos podem, ocasionalmente, gerar esse choque. Choque neurogênico: ocorre por meio da liberação de mediadores neurogênicos, porexemplo, o animal passa por estresse ou dor muito acentuada, condições que levam a liberação desses mediadores, ocorre perda do controle vasomotor periférico, gerando falta de sangue na circulação. Muito frequente em animais selvagens, como é o caso de cervídeos. O animal se estressa tanto que acaba morrendo. Animais traumatizados – esmagamento de membros ou nervos que induzem dor muito acentuada. Choque anafilático: imunomediado, ocorre grande sensibilidade (tipo I), há formação de complexos antígeno-anticorpo que vão se depositar na membrana citoplasmática de mastócitos que estão cheios de grânulos com mediadores químicos da inflamação e eles são degranulados quando ocorre essa interação (IgG). Isso gera liberação dos mediadores inflamatórios de maneira sistêmica que induz a ocorrência desse tipo de choque por aumento da permeabilidade vascular e vasodilatação. Estágios do choque: são difíceis de perceber clinicamente, muitas vezes, dependendo do tipo de choque, o animal passa por todos os estágios sem gerar grandes sinais visíveis. Sem dar tempo de quantificar e descrever essas manifestações. Logo, deve-se tratar do animal mesmo sem saber qual estágio ele está. Estágio não progressivo: quando o organismo começa a ativar diferentes mecanismos compensatórios, aumento da FC, FR, aumento da retenção renal de líquidos para tentar manter a volemia. Melhor estágio para começar o tratamento para que a sua condição normal seja recobrada. Uma forma de reverter seria uma transfusão de quantidade equivalente ao que foi perdido pelo animal. Estágio progressivo: ocorre o início das instalações das lesões associadas a hipoperfusão tecidual em diferentes órgãos e tecidos. Ainda dá para reverter o caso, mas o animal por apresentar sequelas caso sobreviva. Estágio irreversível: nesse caso as lesões estão instaladas em diferentes órgãos dos tecidos e mesmo com a retirada da causa inicial, dificilmente o animal vai sobreviver por lesões irreversíveis em coração, rins e etc. Lesões associadas ao choque: No sangue: haverá hipercoagulabilidade (CID). Pulmões: se apresentarão muito avermelhados, pesados, fluindo grande quantidade de líquido de sangue ao corte. Na microscopia haverá grande quantidade de microtrombos, presença de edemas acentuados rico em glicoproteína por haver aumento da permeabilidade dos pulmões. Chama-se de pulmões de choque. Intestino: O animal acaba apresentando quadro de necrose, resulta em hemorragia para luz intestinal e por isso muitos animais apresentam diarreia sanguinolenta. Isso pode ser confundido com enterite hemorrágica, mas na verdade é um distúrbio circulatório. Além disso, um agravante desse local é que com a necrose do topo das vilosidades pela isquemia ocorre penetração das bactérias que ocupam, naturalmente, o intestino, fazendo com elas tenham acesso à corrente circulatória, agrava o caso e há ainda o choque séptico. Fígado: normalmente será uma congestão centrolobular e necrose no mesmo local. Isso ocorre por falta de oxigenação adequada dos hepatócitos. Rins: necrose tubular aguda, ocorre vasoconstrição periférica para tentar manter normal a quantidade de líquido no organismo. Muitas vezes o animal é retirado do quadro de choque, mas por causa da lesão ele morre de insuficiência renal. Ou seja, a NTA é um agravante muito sério que leva a óbito. Coração: hipercontração de cardiomiócitos e a sua necrose individual. Lesão geralmente é multifocal sendo melhor visualizada na microscopia. Encéfalo: necrose neuronal por isquemia, necrose laminar (necrose de neurônios mais suscetíveis). Adrenais: quadros de hemorragia mais concentrada na porção cortical, principalmente em equinos. Evolução clínica: depende muito da causa do choque, por exemplo, ao comparar o choque hipovolêmico e séptico, haverá gravidades diferentes, sendo o séptico o mais difícil de ser tratado e revertido. Também irá depender da fase que o animal se encontra, se for inicial ele tem mais chances de ter seu quadro revertido. Os animais que conseguem sair do choque, geralmente, desenvolvem insuficiência renal por causa da necrose tubular aguda (NTA). INFLAMAÇÕES Resposta do tecido vascularizado e agredido, caracterizada por alterações do sistema vascular, dos componentes líquidos e celulares bem como do tecido conjuntivo adjacente. Causas: existem diversos agentes envolvidos, podemos dizer que qualquer coisa que gere lesão no tecido pode gerar resposta inflamatória. Isso ocorre porque a resposta do organismo vai ser de acordo com os agentes e as situações que geram, formando uma resposta imunológica, ou seja, coisas que o organismo veja como estranho ao corpo. Agentes biológicos: vírus, bactérias, micoplasmas, fungos e protozoários, helmintos e artrópodes. Agentes químicos inorgânicos (como os cáusticos, metais pesados, ácidos e álcalis fortes) e os orgânicos (exo e endotoxinas bacterianas e micotoxinas). Agentes endógenos: degeneração ou necrose e alterações na resposta imunológica. Agentes Exógenos: agentes físicos como o calor, frio, eletricidade, radiações, traumas mecânicos, atritos e corpos estranhos. Causas nutricionais como isquemia, deficiência de vitaminas. Isso também vai gerar reações inflamatórias em algum grau. No momento que a célula sofre degeneração ou necrose por esses fatores ela passa a ser reconhecida pelo organismo como algo diferente e por isso o corpo monta uma resposta inflamatória. Defesa x dano: sempre vai haver um processo formado pela lesão que causa modificações no tecido e é a resposta inflamatória que tem o objetivo de diluir, inativar, degradar, isolar e eliminar o que causa esse dano. Por exemplo, se for uma bactéria, no momento que ela é isolada ela tem mais dificuldade de atingir uma célula, se fixar e se reproduzir. Algumas vezes, a inflamação pode ser prejudicial, pois pode lesar o tecido. Isso ocorre em casos de exagero dessa resposta e há destruição das células do organismo, o que atrai mais células inflamatórias aumentando cada vez mais a resposta. O ideal é que ocorra o isolamento do patógeno, ele seja liquidado, sem gerar lesões graves ao tecido para assim exterminar o invasor e manter a estrutura do tecido. Identificação da inflamação: Sinais sistêmicos: não servem para caracterizar uma inflamação, pois são inespecíficos, esses sinais podem se apresentar em outros casos também. Sinais cardeais: local inflamado apresenta os 5 sinais cardeais da inflamação. São eles: calor, vermelhidão, inchaço, dor e perda de função. Isso pode acometer, tanto locais pequenos como unhas encravadas, como órgãos inteiros, como um braço. Classificação da inflamação: Leva em conta sempre a localização, se classifica o tipo de acordo com a célula inflamatória presente, tempo de evolução, gravidade e a extensão. Localização: tipo de célula afetada, tipo de órgão e localização anatômica associada. A localização da inflamação terminará com o sufixo ‘’ite’’. Inflamação no fígado, acomete hepatócitos, portanto se chama hepatite. Em caso de rim, glomerulonefrite define uma inflamação que ocupa apenas a região glomerular. Em caso de pneumonia ainda é inflamação, mesmo sendo uma exceção da nomenclatura. Transudato: edema não-inflamatório com eletrólitos e pequenas moléculas (ausência de células inflamatórias), apresenta densidade mais baixa. O aumento da pressão hidrostática causa a saída de líquido dos vasos. Há apenas extravasamento de líquido. Macroscopicamente se apresenta como um líquido translúcido. Exsudato: edema inflamatório com proteínas e presença de células inflamatórias, nesse caso terá densidade mais alta. Aqui haverá extravasamento de líquido, proteína e células inflamatórias. Exsudato seroso: presença de líquido claro (branco ou transparente), muito parecido com líquido de edema, semelhanteao soro e albumina. Composto por neutrófilos. Ele está presente no começo da lesão inflamatória aguda. Um exemplo é o corrimento nasal com excesso de líquido no começo de uma gripe. Presente também em casos de picada de abelha. Exsudato catarral/mucoso: Quando o exsudato seroso se mistura com muco. Ele vai ser viscoso, esbranquiçado, pode ser rosado ou avermelhado em caso de presença de sangue. Mas ainda será seroso por ter presença de neutrófilos, fragmentos teciduais, flocos de fibrina e algumas hemácias se for o caso. A coloração desse catarral já é turva com consistência mucóide. É muito comum em exsudato comum ao aparelho respiratório, reprodutor e digestivo. Normalmente, o exsudato seroso evolui para o mucoso. Exsudato fibrinoso: pode ter muco ou não, mas tem grande presença de fibrina, sendo o principal componente; começa a extravasar em caso de lesões maiores. O líquido é amarelado, vai ficando sólido, elástico e mais denso. Comum em tecidos serosos e mucosos no interior de cavidades. A fibrina é quimiotática para células inflamatórias, sempre associada a neutrófilos. Se apresenta como pequenos flocos no meio do exsudato líquido, mas os flocos vão formando grandes massas, podendo se aderir às vísceras – nesse momento ele já vai se apresentando crônico. É comum em lesões de pleura, mucosas intestinais, peritônio, membranas sinoviais, meninges e pulmões. Exemplo: doença de suínos chamada de polisserosite fibrinosa, causada por bactérias gram negativas que vai gerar inflamação fibrinosa. Os órgãos começam a se aderir. Lesões de intestino levam a esse tipo de inflamação, o que dificulta a absorção que o órgão deveria realizar ←Níveis altos de fibrinogênio no plasma (bovinos) aspecto “pão com manteiga”; Exsudato purulento: É o mais comum de ser observado em processos inflamatórios. A supuração ou pus é um material viscoso composto por mistura da necrose presente, restos de neutrófilos e bactérias mortas e enzimas proteolíticas (liberadas pelos neutrófilos). Ou seja, composto por células inflamatórias, enzimas liberadas e tudo que eles digeriram. Ocorre em qualquer tecido, como mucosas, serosas, dentro do tecido (intertegumentar) e superfície de órgãos ou cavidades corporais. Dependendo da localização recebe nomes específicos. Coloração: verde/amarelo, marrom ou branco, mas pode variar de acordo do tipo de bactéria (esverdeado) ou presença de hemácias (amarronzada). Consistência: Não é um material que escorre com facilidade, mas apresenta certo estado de liquidez. Pode estar sólido (situações muito crônicas, com líquido absorvido e fica mais denso), semi-sólido (parece sólido mas tem certa viscosidade, tipo um requeijão ou leite condensado) e gelatinoso. Exsudato hemorrágico: O sangue é o principal componente misturado à células inflamatórias (mas pode vir acompanhado de fibrina, restos de célula, pus e muco). Ocorre em órgãos com irrigação abundante, como intestino, cavidades, pulmão, etc. Principal tipo de exsudato relacionado a pneumonias aspirativas (fenda palatina com aspiração de leite ou água, ou animal que está deitado e aspira poeira) e enterites virais agudas (rotavírus, salmonelas e parvovírus em cães e gatos). Isso tudo estará associado a grande destruição tecidual e perda de sangue. Pústula: coleção de pus na epiderme ou logo abaixo dela. Está entre a camada de queratina e a epiderme. Se fosse em humanos, também poderia ser chamado de espinha. Poderia ser um abdome de um cão com cinomose, em que é comum haver pústulas. Abscesso: coleção de exsudato purulento localizado envolto por cápsula de tecido conjuntivo sólido, geralmente em resposta a uma bactéria piogênica. É uma inflamação crônica, pois há proliferação desse tecido conjuntivo junto com o exsudato. Pode crescer muito e causar necrose do tecido por exercer pressão em um vaso, além de se romper, extravasando o conteúdo Evolução do abscesso: acúmulo de material de pus → formação de exsudato purulento → bactéria não é destruída → lesão crônica com produção de tecido fibroso ao redor → cada vez mais denso e grosso → abscesso → rompimento → pus extravasa para a cavidade ou tecido. Microabscesso: exsudato purulento com área muito limitada, mas sem cápsula conjuntiva. *** Empiema: acúmulo de exsudato purulento (pus) nas cavidades corporais (como a torácica, coração, pulmão, nasal, bolsa gutural, etc). Mais comum em equinos causado por infecção bacteriana (garrotilho, streptococcus equis) na cavidade retrofaríngea ou bolsa gutural - empiema de bolsa gutural. O animal fica com dificuldade respiratória, dor à palpação e aumento de volume. O que compõe o processo inflamatório basicamente são várias estruturas associadas, células que já estão presentes nos tecidos (mastócitos, macrófagos, fibroblastos) que fazem parte da matriz tecidual (fibras elásticas, de colágeno), células da estrutura do vaso (plaquetas, linfócitos, leucócitos). Células inflamatórias: células polimorfonucleares e mononucleares. Neutrófilos: célula mais abundante, associada ao processo de inflamação aguda e situações infecciosas, principalmente associadas a bactérias. Eles fagocitam e destroem a célula infectada/microrganismo/patógeno (ação microbicida). Quando há grande quantidade de neutrófilos que já sofreram lise e já liberaram as enzimas, aqueles mortos, os vivos e restos celulares formam o pus. Eosinófilos: também polimorfonucleares, associados a reações de hipersensibilidade como alergias, e em casos de infecções parasitárias. Basófilos: são mononucleares, menos numerosos, ocupam a serosa, a pele e as mucosas e se envolve também às reações de hipersensibilidade. Linfócitos: São células que produzem anticorpos de memória e contra destruição de agentes. Principal célula que atua em infecções virais. Linfócitos B ativos são chamados de plasmócitos. Monócitos/Macrófagos: leva o nome de monócito quando está na circulação e o nome de macrófago quando ocupa os tecidos. Associado a inflamações crônicas. Fagocitam o agente patogênico. Tempo de evolução da inflamação Superaguda: não dá tempo de chegarem tantas células inflamatórias ao local. Aguda: inflamação que ocorre em processo rápido, entre 1 a 2 semanas.Predomina fenômenos vasculares exsudativos. Presença de exsudação de plasma e células inflamatórias - neutrófilos. Se fossem inflamações relacionadas a vírus, haveria presença linfócitos e plasmócitos, e parasitos teria eosinófilos. Subaguda: Fenômenos tanto vasculares quanto proliferativos. Não sabemos se ela já é crônica ou ainda é aguda. Crônica: processo mais demorado (superam 3 meses), não tem tanta exsudação mas começa a ter proliferação de células (principalmente mononucleares que são monócitos e se tornam macrófagos). Determina uma fase proliferativa ou reparativa. Crônica - ativa: Trata-se da inflamação crônica reagudizada, isto é, com superposição de fenômenos vasculares exsudativos em área cronicamente inflamada. Gravidade da inflamação: discreta, leve, moderada, severa. Extensão da inflamação: Focal: pequeno foco em um ponto Multifocal: vários focos em em um certo local. Multifocal coalescente: Aquela em que os focos já estão se juntando Difusa: acomete o órgão inteiro de forma distribuída por toda a sua extensão Focalmente extensa: um ponto ocupando metade de um órgão ou uma área muito grande. Diagnóstico morfológico da lesão: Nefrite, pleurite, rinite, hepatite: indicam o local da inflamação Purulenta, fibrinosa, catarral, granulomatosa: tipo de exsudação ou até mesmo se é aguda ou crônica Aguda, subaguda e crônica: tempo da lesão Difusa, multifocal, focal, difusa: extensão Acentuada, moderada e leve: grau da lesão. Nomenclatura da resposta inflamatória Necrotizante: ocorrendo necrose do tecidojunto da inflamação Embólica: focos que vieram pela circulação sanguínea Broncointersticial: ocorre dentro do pulmão ocupando o brônquio e o interstício Inflamação aguda Processo agudo, apresenta fenômenos vasculares - exsudativos, com saída de componentes de dentro do vaso. Pode ser dividida em quatro processos distintos: fase ou fenômenos irritativos, vasculares, exsudativos, degenerativos-necróticos. Apresenta resposta de curta duração, de horas a poucos dias. Mediadores químicos da inflamação aguda: eles podem vir dos tecidos ou do sangue e são muito diversos. Basicamente eles fazem diversos processos que culminam na inflamação, dilatam vasos, aumentam permeabilidade, viscosidade, fluxo de sangue, contração de músculo e prurido. À medida que os fatores são liberados vai ocorrendo a cascata do processo inflamatório. Vasodilatação, aumenta permeabilidade vascular, quimiotaxia, ativação celular, dor e lise tecidual. Mediadores teciduais: histamina , serotonina, prostaglandinas e leucotrienos; Mediadores plasmáticos: sistema complemento, sistema de coagulação e fibrinólise e cininas. Fase 1: fenômenos irritativos: Uma variedade de estímulos endógenos ou exógenos induz a etapa inicial da inflamação que está associada a desorganização tecidual e a produção de mediadores inflamatórios. Liberação de mediadores da inflamação, substâncias químicas que sinalizam o organismo sobre a necessidade da resposta inflamatória, processos de quimiotaxia ocorrem, reconhecimento de PAMPS e DAMPS. Fase 2: fenômenos vasculares: Etapa de modificação hemodinâmica comandadas pelos mediadores químicos liberados durante os fenômenos irritativos ou mesmo por ação direta de um agente. Ocorre uma vasodilatação com hiperemia e fluxo sanguíneo rápido, seguida por um fluxo sanguíneo lento, em que os leucócitos deixam a região central da corrente sanguínea. → Vermelhidão e temperatura aumentada. Fase 3: Fenômenos exsudativos: Etapa de deposição de edema e transmigração leucocitária associada a liberação de mediadores químicos teciduais e plasmáticos. À medida que o sangue vai acumulando em maior quantidade, a pressão vai aumentando e por isso começa a sair água, eletrólitos e proteínas de baixo peso. No primeiro momento será um edema transudato, sem célula inflamatória. À medida que o tempo passa começam a sair as primeiras células inflamatórias e o edema passa de transudato a exsudato, (os neutrófilos são os primeiros a chegarem). Nessa fase já temos todos os sinais inflamatórios: o aumento de volume vai comprimir os nociceptores e isso gera sensação de dor no local - faz com que o local seja menos utilizado – perda da função que pode ser reversível ou não. Fase 4: Fenômenos degenerativos e necrotizantes: no processo inflamatório ideal vai haver a resolução completa, o agente vai ser destruído e o tecido vai voltar ao normal. Mas pode acontecer uma grande atração de neutrófilos que vão digerir os tecidos e os vasos ao redor e forma-se um abscesso que impede a cicatrização completa. Pode haver a proliferação de tecido fibroso que vai deixar a função do tecido diminuída. Os neutrófilos podem ser menos atraídos, haverá proliferação de vasos e células do tecido, havendo aumento da quantidade de macrófagos tornando a inflamação crônica. Concluindo: pode haver uma resolução da inflamação, reparação do tecido, ou supuração por meio da formação de abscessos. Inflamação crônica Ocorre, muitas vezes, seguindo a aguda, quando ela não se resolve, sendo um processo prolongado, atraindo outros tipos de células. Vai ter a destruição do tecido e muitas vezes proliferação de outras estruturas. Predomínio de fenômenos proliferativos. Causas: infecções persistentes, chega um momento que o organismo vai montar uma resposta para reação crônica. Reações inflamatórias agudas repetidas no mesmo local. Reações auto-imunes e exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos. Células da inflamação crônica: células inflamatórias como os macrófagos, plasmócitos, linfócitos e algumas ocasiões os eosinófilos. Células tissulares, ou seja, dos próprios tecidos como os fibroblastos e células endoteliais vasculares. Células mononucleares predominam nessa inflamação, ocorre destruição do tecido na maioria das vezes, ao mesmo tempo vai haver proliferação de tecido conjuntivo, vasos e crescimento de novas estruturas. A principal célula dessa inflamação é o monócito/macrófago. É uma célula ativada que tem grande capacidade de fagocitose de restos celulares, células estranhas, processa o antígeno e libera substâncias que auxiliam no processo de reparação, apenas após a ação dos macrófagos temos o início do processo de reparação. Vem da circulação para o tecido (monócito -> macrófago). Podemos dizer que todos os tecidos do corpo possuem macrófagos residentes. E eles levam nomes diferentes para cada tecido que ocupam. Outras células presentes são os linfócitos tanto T e B que apresentam funções vitais na resposta imunológica. Os linfócitos T participam da regulação da ativação e recrutamento de macrófagos, modulam a produção de anticorpos e citotoxicidade e ainda mantêm a memória imunológica. Presença ainda de plasmócitos, formados por meio da maturação dos linfócitos B, secretam anticorpos ativados. Presença de eosinófilos também e, em algumas situações, principalmente em pele e mucosa teremos os mastócitos. Associados a reações alérgicas e infecção por parasitas. Presença de fibroblastos associados a esse processo, eles vão proliferar nesse tipo de inflamação e vão atrair mais macrófagos. Início da inflamação: muitas vezes a aguda começa e 48 horas depois do seu início já pode haver atração de monócitos. Se a inflamação aguda se resolve, os macrófagos desaparecem do local, pois o agente não está presente. Se o agente continua, vai atraindo mais macrófagos, deixando a inflamação crônica. Leishmaniose: parasita que inflama os tecidos, causa vários sinais clínicos por causa da inflamação – emagrecimento, alopecia, crescimento exagerado das unhas. Por onde o parasita passa, leva a uma resposta inflamatória local, pode ser na pele (descamação e perda de pelo), formação de crostas e úlceras, todos eles associados a inflamação pela passagem do parasita. Ou seja, por onde ele passar, vai gerar alterações. Cinomose: causado por vírus que pode atingir animais jovens e adultos, causa infiltrado de linfócitos e plasmócitos em torno de vasos e meninges. Posteriormente, teremos o aparecimento dos macrófagos. Presença de secreção nasal, ocular, hiperqueratose de coxins, sinais neurológicos. Inflamação granulomatosa e granuloma Granulomatosa: Sem nenhuma organização; presença de macrófagos epitelióides, células gigantes (langerhans), linfócitos e plasmócitos; Tuberculose, fungos, corpo estranho, linfadenite caseosa e paratuberculose. Granuloma: Mesmos componentes da inflamação granulomatosa, mas com organização tecidual e sendo revestida por uma cápsula de tecido conjuntivo fibroso; Tuberculose, fundos, linfadenite caseosa e corpo estranho. Exemplo: encefalomielite por protozoário, apresenta sinais variados, mas são estritamente neurológicos. Ocorre por meio da ingestão de cistos nas fezes do gambá, nesse caso a inflamação pausa na granulomatosa, ela não se organiza para se tornar granuloma. Isso gera lesões assimétricas, fraqueza e dificuldade de locomoção. Os equinos podem apresentar comportamento anômalo como ficar deitado por longos períodos ou sentados. A inflamação leva a hemorragia e necrose do sistema nervoso. Em outras situações o material evolui, se organiza e forma o granuloma; Exemplo: tuberculose, ataca os linfonodos respiratórios ou digestórios e depois se dissemina para outros órgãos principalmente o pulmão. Forma disseminada é crônica. Há formação de granulomas. As porções amareladas são granulomas. Piogranulomatosae piogranuloma: seriam as inflamações anteriores com presença de neutrófilos. Isso ocorre em situações específicas. Alguns agentes desencadeiam essa resposta, fungos como a esporotricose, pitiose, mormo, PIF, geralmente se organizam e formam granulomas com pus, sendo o piogranuloma. Exemplo: pitiose, causado por um fungo, vive na água e causa lesão quando encontra uma porta de entrada (ferida na pele), normalmente comum em equinos, gera necrose, úlceras e proliferação da superfície da pele. Causa dermatite necro proliferativa. Os tecidos observados possuem infiltrado granulomatoso (macrófagos e células gigantes juntamente com neutrófilos e o fungo causados). No centro das lesões tem restos celulares e o fungo. São lesões muito proliferativas que parecem tumor. Ao corte a lesão pode extravasar pus, por causa da presença dos neutrófilos, pois o agente continua atraindo neutrófilos mesmo que o organismo já tenha montado uma resposta crônica. Seria uma inflamação mista, resposta crônica com presença de neutrófilos. Inflamação aguda Inflamação crônica Exsudativa, curta duração, saída de líquido e proteína de dentro do vaso, há ainda a migração de leucócitos da corrente sanguínea até o local da lesão (principalmente neutrófilos). Produtiva ou proliferativa, dura semanas, meses ou até anos, proliferação das células do próprio tecido, linfócitos, macrófagos (principalmente).
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