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A análise do comportamento busca a raiz do comportamento nas interações do organismo com o ambiente

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O artigo tem como objetivo analisar criticamente, com base em resultados experimentais, algumas proposições acerca das variáveis que podem interferir na manutenção do comportamento de seguir regras. Inicialmente apresentam-se definições de regras; a distinção entre o comportamento controlado por regras e o controlado por contingências; algumas proposições teóricas acerca de por que regras são seguidas; e, uma síntese dos procedimentos utilizados para investigar o controle por regras. 
Em seguida, passa-se a analisar as proposições que sugerem que a manutenção do seguimento de regras pode depender: 
1) do tipo de conseqüência programada para o seguimento de regras; 
2) de se o seguimento de regras é, ou não, monitorizado; 
3) de procedimentos que geraram, ou não, variação comportamental; 
4) do tipo de esquema programado para reforçar o seguimento e o não-seguimento de regra; e, 
5) da história de exposição a contingências antes de o ouvinte ser exposto à regra. 
Conclui-se, concordando com alguns autores, que o comportamento de seguir regras depende mais da combinação entre o conjunto de condições favoráveis e o conjunto de condições não favoráveis à sua manutenção do que de uma ou outra condição, isoladamente.
Introdução parcial do experimento sobre comportamento dirigido por regras...
1.INTRODUÇÃO:
A análise do comportamento busca a raiz do comportamento nas interações do organismo com o ambiente, comportamentos operantes são determinados tanto pelas consequências que geram, ou estímulos consequentes, quanto pelo contexto em que ocorrem os estímulos antecedentes. A tríplice contingência, que faz referência ao contexto, resposta do organismo e consequência, é importante pois permite uma compreensão mais adequada sobre o comportamento humano.
A contingência de três termos é a base para a análise de todo comportamento operante. A análise funcional consiste em colocar um comportamento em uma contingência de três termos, observando sob quais circunstâncias o comportamento ocorre, o próprio comportamento e as consequências que o mantém. O antecedente pode ser tanto um estimulo discriminativo como um estímulo delta (o primeiro sinaliza que uma determinada
resposta será reforçada, enquanto o segundo sinaliza que uma resposta não será reforçada). Já as consequências podem ser reforçadoras ou punidoras (MEYER,2003).
Quando se diz que certo comportamento é controlado por regra, afirma-se que tal comportamento está sob o controle do estímulo discriminativo (Sd) verbal chamado de regra, que descreve contingências e é emitido por outra pessoa: o falante. Comportamentos controlados por regra também são considerados operantes e, devido a isso, podem ser modelados através do uso de reforço e punição. O comportamento governado por regra depende do comportamento verbal de um falante, que comanda, dirige e instrui. Geralmente, na aprendizagem de um comportamento novo, este é inicialmente controlado por regras, devido principalmente a uma propensão por parte da maioria das pessoas a segui-las (BAUM,2006).
Diferentemente do comportamento governado por regras, o comportamento modelado pelas contingências é aquele modelado e mantido diretamente por consequências relativamente imediatas, e requer somente interação do organismo com o reforço, e não requer outra pessoa, o falante, como no caso da regra. As vantagens de aprender um comportamento por regras ao invés de ser exposto às contingências é que a aprendizagem por controle via regra é mais rápida, e permite a indução de comportamentos sem que seja necessário viver diretamente as contingências é útil especialmente quando as contingências são muito complexas ou perigosas. Aprender que não se pode colocar o dedo na tomada porque a mãe falou é mais eficaz do que colocar o dedo na tomada e receber punição, um choque (BORGES; CASSAS, 2012).
No Behaviorismo, a modelagem utiliza-se do reforça mento positivo como estratégia para instalar um comportamento nunca emitido anteriormente. O processo de aquisição de um novo comportamento é gradativo, inicia com reforçar um comportamento que já existe no repertório do individuo, e gradativamente ocorre reforço diferencial de aproximações sucessivas ao comportamento final (SKINNER,1998).
No método de modelagem, reforça-se um primeiro comportamento, também denominado linha de base, parecido mesmo que remotamente com a resposta final desejada. Há na sequência os intermediários, continuamente reforçados positivamente, além da extinção das reações anteriores e, por fim, o
comportamento final, estabelecido pelo agente modelador. Tal processo faz com
que respostas similares ao comportamento final sejam fortalecidas e aumenta a
probabilidade de ocorrerem em situações futuras com contingências parecidas (WHALEY; MALOTT, 1980).
De acordo com Martin e Pear (2009), há alguns fatores que devem ser definidos antes da modelagem para que esta ocorra de forma eficaz. Primeiramente, deve-se identificar o comportamento final que se deseja alcançar, levantando todos os seus aspectos importantes como topografia, quantidade, latência e intensidade. Além disso, deve-se definir em quais condições o comportamento deve ou não ocorrer e também outras eventualidades, para que o comportamento se desenvolva com consistência.
A extinção do comportamento modelado pode ocorrer através da suspensão do reforço. Quando ocorre suspensão do reforço, há uma diminuição na frequência da emissão de determinado comportamento até que ele desapareça do repertório comportamental da pessoa. Esse processo de extinção depende da história de aprendizagem, o que faz com que algumas pessoas sejam mais resistentes à extinção e levem mais tempo para extinguir determinado comportamento de seu repertório (MARTIN; PEAR, 2009).
Considerando a importância do procedimento de modelagem e as diferenças entre comportamentos governados por regras e modelados pelas contingências para o comportamento operante, o experimento a seguir visou estabelecer, em um sujeito, um novo comportamento, através de modelagem. Os dados do experimento e conclusões são apresentados a seguir.
2- OBJETIVO
Desenvolver um novo comportamento através da modelagem, comparando o procedimento envolvendo instruções ou regras com o procedimento desenvolvido por contingências.
3. MÉTODO
3.1 SITUAÇÃO
O experimento foi realizado no dia 20 de setembro de 2021 na área externa da casa de um dos autores do relatório. A área externa da casa era composta por uma, um armário, uma churrasqueira, vasos com plantas e uma mesa de pingue-pongue. Embora o dia estivesse nublado, não chovia, o que possibilitou a condução do experimento num ambiente aberto.
O aplicador e o participante permaneceram em pé ao redor da mesa de pingue-pongue, de forma que, na primeira metade do experimento, o aplicador esteve ao lado do participante, e na última metade, na outra extremidade da mesa.
3.2 PARTICIPANTE
Participante 1: M. C. S. G. B., 55 anos, sexo feminino.
3.3 MATERIAIS
- Raquete de pingue-pongue.
-Bola de pingue-pongue
- Mesa de pingue-pongue.
-Rede de mesa de pingue-pongue
- Folha de registro disponibilizada pela professora.
-Cronômetro
-Lápis.
3.4 PROCEDIMENTO
Após o comportamento-alvo e participante terem sido definidos pelo grupo, o aplicador do experimento o conduziu até o ambiente em que o experimento seria realizado. Antes de iniciar propriamente o experimento.
O aplicador explicou ao participante que seu objetivo seria fazê-lo aprender a rebater uma bolinha de pingue-pongue em movimento para a parte oposta da
mesa, depois da rede, de forma que esta tocasse a superficie da mesa. Esse comportamento seria ensinado através de sete passos, conforme descrito a seguir:
1° passo: aplicador ensinou ao participante como ele deveria segurar a raquete de pingue-pongue. Para isso, o aplicador explicou ditou a regra (explicou o que ele deveria fazer), e em seguida segurou a raquete e pediu ao participante que só observasse. Em seguida, ele colocou a raquete na mão do participante posicionando seus dedos da forma correta. Em seguida, o aplicadorcolocou a raquete na mesa e pediu que o participante a pegasse e segurasse do modo ensinado.
2° passo: aplicador ensinou o participante a bater com a raquete na bola de pingue-pongue. Para isso, o aplicador explicou ditou a regra (explicou o que ele deveria fazer) e soltou a bola de pingue-pongue verticalmente a quatro palmos acima da mesa. Quando a bola subisse verticalmente após "pingar" na mesa, o participante deveria bater com a raquete na bola, sem importar a força e a direção.
3° passo: aplicador ensinou o participante a bater com a raquete na bola de pingue pongue de forma que ela atingisse o lado oposto da mesa, depois da rede central. Para isso, o aplicador explicou ditou a regra (explicou o que ele deveria fazer), e após isso soltou a bola de pingue-pongue verticalmente a quatro palmos acima da mesa. O participante deveria batê-la com força adequada para que ela atingisse o outro lado da mesa. Nessa etapa, não importava se a bola batesse na mesa ou no chão. O único critério era que ela atingisse o lado oposto da mesa.
4° passo: aplicador ensinou o participante a bater com a raquete na bola de pingue pongue de forma que ela atingisse o lado oposto da mesa. Para isso, o aplicador explicou ditou a regra (explicou o que ele deveria fazer), soltou a bola de pingue pongue verticalmente e deixou o participante bater nela. Dessa vez, a bola deveria "quicar" no outro lado da mesa para ocorrer reforça mento.
5° passo: aplicador posicionou-se no lado oposto da mesa de pingue-pongue, de modo que ele e participante ficaram frente a frente. O aplicador ensinou o participante a rebater a bola. Para isso, o aplicador explicou ditou a regra (explicou o que ele deveria fazer), lançou a bola para o outro lado da mesa, e o participante de veria rebatê-la para qualquer direção.
6° passo: aplicador ensinou o participante a rebater a bola para o lado oposto da mesa, depois da rede. Para isso, o aplicador explicou ditou a regra (explicou o que ele deveria fazer), lançou a bola, e o participante deveria rebatê-la para o lado oposto da rede, sem a exigência de que esta tocasse a mesa.
7° passo: aplicador ensinou o participante a rebater a bola em movimento de forma que ela tocasse a superficie do lado oposto da rede. Para isso, o aplicador explicou ditou a regra (explicou o que ele deveria fazer), lançou a bola e o participante deveria rebatê-la para o lado oposto da rede, de forma que ela quicasse na mesa.
Para avançar de passo, o participante deveria responder adequadamente três vezes seguidas em cada etapa. Não houve limite de número de tentativas. Respostas corretas do participante foram seguidas de reforço pelo aplicador (que disse "muito bem!"). Já as respostas incorretas foram seguidas por silêncio do aplicador.
Durante o experimento, o aplicador anotou numa folha de registro o número de respostas consecutivas, e o número de respostas certas, além de cronometrar o tempo de cada passo. Após o término do preenchimento da folha
de registro por parte do aplicador, o procedimento foi encerrado.
4. RESULTADOS
Tabela 1. Resultados obtidos pelo Participante 1 no programa de modelagem
	Passos
	Tempo
	Número de
respostas emitidas
	Número de respostas corretas
	1º 
	27s
	4
	3
	2º 
	55s
	8
	3
	3º 
	1min38s
	12
	5
	4º 
	2min25s
	5
	8
	5º 
	54s
	7
	4
	6°
	1min41s
	12
	5
	7º 
	2min07s
	4
	9
	TOTAL
	10min
	52
	37
A Tabela 1 apresenta o tempo, o número de tentativas e o número de respostas corretas emitidas em cada fase do experimento de modelagem.
É possível notar que no primeiro e segundo passo, o participante emitiu apenas uma resposta errada do total de quatro respostas emitidas. No primeiro passo, o participante levou 27 segundos para responder adequadamente três vezes seguidas. Já no segundo passo, o participante demorou o dobro de tempo, 55 segundos.
No terceiro passo, o participante apresentou oito respostas emitidas, sendo que, dentre elas, cinco foram corretas. Além disso, houve um aumento significativo no tempo dessa etapa: o participante levou 1 minuto e 38 segundos
para conseguir completa-la.
O quarto passo foi aquele em que o participante mais demorou para
responder adequadamente. Ele levou 2 minutos e 25 segundos nessa etapa. Ademais, observa-se um aumento no número de respostas emitidas, 12 no total,
sendo que a maior parte (8 respostas) foram corretas.
O quinto passo foi o que teve menor duração, foi realizado em apenas 54 segundos. O número total de repostas emitidas foi cinco, e apenas uma
resposta foi incorreta. 
No sexto passo, houve um aumento significativo no tempo para a emissão de respostas corretas consecutivas. O participante levou 1 minuto e 41 segundos para completar essa etapa. Foram sete respostas emitidas, sendo cinco delas corretas.
No sétimo e último passo, o participante demorou 2 minutos e 7 segundos para responder corretamente três vezes seguidas. Essa etapa foi a que o participante mais emitiu respostas corretas: foram nove respostas corretas de um total de doze respostas emitidas.
De forma geral, o participante demorou 10 minutos para realizar todos os passos do experimento. O número total de respostas emitidas pelo participante foi 52, e dentre estas, 37 respostas foram corretas.
5.DISCUSSÃO:
O experimento evidenciou a possibilidade do uso do procedimento da modelagem para a aquisição de um novo comportamento. De acordo com Moreira e Medeiros (2007), a modelagem é um procedimento utilizado para que
organismos aprendam novos comportamentos através de comportamentos que já existem em seu repertório comportamento. No caso do experimento, participante apresentava em seu repertório comportamental o comportamento de conseguir segurar uma raquete de pingue-pongue. A modelagem permitiu a
aquisição de um comportamento mais complexo e totalmente novo: rebater uma
bolinha de pingue-pongue para o Outro lado da mesa, depois da rede.
Diversos autores Behavioristas parecem concordar que o processo de modelagem envolve dois aspectos principais: 1) o reforçamento diferencial, que
consiste no reforço de algumas respostas e não de outras; e 2) aproximações sucessivas do comportamento-alvo (MOREIRA; MEDEIROS, 2007; MARTIN; PEAR, 2009; BORGES; CASSAS, 2012). No experimento, o procedimento de modelagem ocorreu através de sete etapas, que correspondem a aproximações
sucessivas do comportamento-alvo. Em cada etapa, o participante deveria emitir um certo número de comportamentos de forma correta para ser reforçado e avançar de etapa. O reforçamento diferencial ocorreu pois, ao avançar de etapa,
não era mais suficiente para o participante emitir o comportamento aprendido na
etapa anterior para receber reforço; ele deveria exibir um novo comportamento,
mais refinado, mais parecido com o comportamento final, para ser reforçado.
Martin e Pear (2009) apresentam cinco dimensões do comportamento que podem ser modeladas: topografia, frequência, duração, latência e intensidade. No experimento, foram modeladas as dimensões da topografia e intensidade (força) da resposta. A topografia se refere aos movimentos específicos envolvidos na produção de um comportamento, e a intensidade se refere ao efeito que a resposta tem sobre o ambiente (MARTIN; PEAR, 2009). A modelagem do comportamento de rebater a bolinha de pingue-pongue envolveu a modelagem dos movimentos que deveriam ser feitos para essa resposta ser emitida e também modelagem da intensidade com que a participante deveria bater na bolinha (para que ela batesse no outro lado da mesa, obrigatoriamente).
Um último aspecto do experimento envolve a relação da modelagem com os comportamentos governados por regras e comportamentos modelados por contingências. Baum (2006) define o comportamento modelado por contingências como aquele modelado e mantido diretamente por consequências
relativamente imediatas. Já o comportamento governado por regras está sob controle de antecedentes verbais que descrevem contingências. Meyer (2012) aponta que o procedimento de ensinar um comportamento através do uso de regras tem a vantagem de substituir a modelagem,especialmente quando as contingências envolvidas na modelagem são complexas, pouco claras ou perigosas.
No procedimento, ensinar o comportamento de rebater a bolinha de pingue-pongue corretamente com certeza é bastante complexo para ser ensinado somente através de regra, pois envolve necessidade de controlar força, emitir certos movimentos, etc. Então, foi utilizada uma combinação de regras + arranjos
de contingências para modelar o comportamento da participante. Observou-se também que, quanto mais a resposta se aproximava de sua forma final, mais o comportamento era controlado pelas contingências, e menos era controlado por
regra, o que indica que tanto as regras quanto as contingências podem auxiliar o ensino de comportamentos complexos.
6. REFERÊNCIAS
https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/4798
SOUZA, A. S; ABREU-RODRIGUES, J. Extinção e estímulos independentes da
resposta: efeitos de relações de não-contingência sobre o comportamento. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 25, n.4, p. 764-773, 2012.
BORGES, N. B; CASSAS, F. A. Clínica analitico-comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed,2012.
MEYER, S. B. Regras e auto-regras no laboratório e na clínica. In: RODRIGUES,
J. A; RIBEIRO, M. R. (Org.). Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 211-227.
MARTIN, G; PEAR, J. Modificação de comportamento: o que é e como fazer. 8a. ed. São Paulo: Roca, 2009.
MOREIRA, M. B; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.
SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SOUZA, A. S; ABREU-RODRIGUES, J. Extinção e estímulos independentes da
resposta: efeitos de relações de não-contingência sobre o comportamento. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 25, n.4, p. 764-773, 2012.
WHALEY, D. L; MALOTT, R. W. Princípios elementares do comportamento. São Paulo: EPU. 1980
BAUM, W. Compreender o Behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

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