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APG 02: HIPERTROFIA CARDÍACA Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina CASO Aroldo Mascarenhas finalmente resolveu mudar de vida. Após o diagnóstico de HÁ primária, ficou com medo das muitas complicações que poderia ter ao longo do tempo. Lembrou-se do seu pai que também era hipertenso, bem como, do seu irmão que teve hipertensão em decorrência de outras doenças. O médico o alertou sobre a hipertensão ser uma “assassina silenciosa” e ainda disse: “O coração é um músculo semelhante ao do braço. Se o halterofilista faz força, seu músculo hipertrofia. É o que pode acontecer com o seu coração se sua pressão ficar permanentemente alta”. OBJETIVOS Objetivos da Semana: Entender os mecanismos fisiopatológicos adaptativos da hipertensão arterial e insuficiência cardíaca. Objetivos APG: Entender o processo de remodelamento cardíaco (hipertrofia concêntrica e excêntrica) e insuficiência cardíaca diastólica na HAS descontrolada. • Compreender as complicações da HAS descontrolada. • Entender a importância da adesão ao tratamento para controle da HAS. ____________________________ HIPERTROFIA CARDÍACA O aumento persistente do trabalho mecânico devido à sobrecarga de pressão ou volume (p. ex., hipertensão sistêmica ou estenose aórtica) ou a sinais tróficos (p. ex., aqueles mediados pela ativação dos receptores β-adrenérgicos), leva ao aumento do tamanho dos miócitos (hipertrofia); cumulativamente, isso aumenta o tamanho e o peso do coração. A hipertrofia requer o aumento da síntese de proteínas, o que possibilita a organização de sarcômeros adicionais, assim como um número maior de mitocôndrias. Os miócitos hipertróficos também apresentam núcleos aumentados, atribuídos ao aumento da ploidia de DNA, resultante da replicação do DNA na ausência de divisão celular. A hipertrofia cardíaca é definida como o aumento da massa cardíaca devido ao aumento do tamanho dos cardiomiócitos. Este crescimento pode resultar de sobrecarga hemodinâmica, de pressão ou de volume impostas ao coração. Diversos estímulos mecânicos e neuro-humorais têm sido implicados, e diversas moléculas e rotas de sinalização interdependentes estão associadas ao desenvolvimento da hipertrofia cardíaca. APG 02: HIPERTROFIA CARDÍACA Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina Figura 1: Hipertrofia por pressão devido a obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo. O ventrículo esquerdo está na parte inferior direita dessa vista apical das quatro câmaras do coração. Na hipertrofia por sobrecarga de pressão (p. ex., devido à hipertensão ou à estenose aórtica), os novos sarcômeros estão predominantemente depositados em paralelo aos eixos longos das células, ex pandindo a área transversal dos miócitos nos ventrículos e causando um aumento concêntrico na espessura da parede. Por outro lado, a hipertrofia por sobrecarga de volume é caracterizada pelos novos sarcômeros que são depositados em série com os sarcômeros existentes, levando principalmente a dilatação ventricular. Como resultado, na dilatação devido à sobrecarga de volume, ou na dilatação que acompanha a insuficiência de um coração com sobrecarga anterior de pressão, a espessura da parede pode ser maior, normal ou menor do que o normal. Consequentemente, o peso do coração, em vez da espessura da parede, é a melhor medida de hipertrofia em corações dilatados. Figura 2: Hipertrofia do ventrículo esquerdo com e sem dilatação, vista em cortes transversais do coração. Comparados com o coração normal (centro), os corações hipertrofiados por pressão (à esquerda e em A) apresentam massa aumentada e uma parede espessa do ventrículo esquerdo, enquanto o coração hipertrofiado e dilatado (à direita) apresenta massa aumentada e uma espessura de parede normal. Figura 3: Miocárdio normal. APG 02: HIPERTROFIA CARDÍACA Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina Figura 4: Miocárdio hipertrofiado (os painéis 3 e 4 são fotomicrografias na mesma amplificação). Observe os aumentos do tamanho da célula e do núcleo nos miócitos hipertrofiados. A hipertrofia pode ser dividida em dois tipos principais: • Hipertrofia excêntrica: tem como estímulo inicial uma sobrecarga de volume e é caracterizada por uma parede cardíaca delgada e dilatação ventricular (aumentando o diâmetro da câmara), onde ocorre a adição dos sarcômeros em série. A hipertrofia cardíaca fisiológica, que resulta de um estímulo fisiológico, como o exercício, tem padrão mais excêntrico e se caracteriza por manter a função cardíaca normal ou até aumentada. Se for retirado o estímulo inicial o coração retorna ao padrão normal. • Hipertrofia concêntrica: é causada, geralmente, por uma sobrecar ga de pressão, que leva a um espessamento da parede ventricular e gera a deposição de novos sarcômeros em paralelo, sem mudanças no diâmetro ventricular. A hipertrofia patológica apresenta padrão mais concêntrico, reprogramação de genes fetais, remodelamento da matriz extracelular, fibrose e disfunção cardíaca. Esta pode evoluir para um coração dilatado, apresentando fibrose extensa, morte de cardiomiócitos e insuficiência cardíaca. APG 02: HIPERTROFIA CARDÍACA Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina Os corações com peso duas a três vezes maior do que o normal são comuns em pacientes com hipertensão sistêmica, cardiopatia isquêmica, estenose aórtica, regurgitação mitral ou cardiomiopatia dilatada; e corações podem ter o peso três a quatro vezes maior do que o normal naqueles com regurgitação aórtica ou cardiomiopatia hipertrófica. A hipertrofia de miócitos não é acompanhada por um aumento proporcional do número de capilares. Como resultado, o suprimento de oxigênio e nutrientes para o coração hipertrofiado, particularmente aquele que está com sobrecarga de pressão, é mais delicado do que para o coração normal. Em nível funcional, a hipertrofia cardíaca está associada à maior demanda metabólica devido ao aumento da massa, frequência cardíaca e contratilidade (estado inotrópico ou força de contração), todos os quais aumentam o consumo de oxigênio pelo coração. Como resultado dessas alterações, o coração hipertrofiado é vulnerável à descompensação relacionada à isquemia, que pode evoluir para insuficiência cardíaca e, por fim, levar à morte. As alterações moleculares e celulares nos corações hipertrofiados que inicialmente medeiam a função aumentada podem contribuir para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca: • Do metabolismo anormal do miocárdio. • Das alterações na utilização intracelular dos íons cálcio. • Do apoptose dos miócitos. • Da reprogramação da expressão gênica, que pode ocorrer, em parte, através de alterações na expressão de miRNAs, pequenos RNAs não codificantes que inibem a expressão gênica GENÉTICA E HIPERTENSÃO ARTERIAL Entender a importância do débito cardíaco e fatores genéticos na hipertensão APG 02: HIPERTROFIA CARDÍACA Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina HA primária doença multifatorial, mas com forte componente genético. Herdabilidade de 30 a 50%. A maioria desse risco genético é transmitido de forma poligênica, ou seja, através da contribuição de centenas de variações de DNA que, em conjunto, aumentam o risco de desenvolvimento do fenótipo hipertensivo, após interação com fatores ambientais. Um estudo recente com mais de 1 milhão de pacientes demonstrou que variações de DNA em mais de 900 genes estão associadas ao controle da PA, o que explica cerca de 27% da herdabilidade do controle da PA. Em contraste com a HA primária, diversas formas secundárias de HA são causadas por mutação em um gene único (HA monogênica),de herança familiar, como o hiperaldosteronismo familiar, a síndrome de Liddle, a hiperplasia adrenal congênita e as formas herdadas de feocromocitoma e paraganglioma. Essas causas devem ser investigadas nos pacientes com suspeita de HA secundária. O diagnóstico genético preciso pode levar não somente ao tratamento adequado, como também permitir o aconselhamento genético familiar e o rastreio precoce em membros assintomáticos da família. COMPLICAÇÕES DA HAS DESCONTROLADA As complicações da HAS no coração são muitas, mas a principal é insuficiência cardíaca. Embora a insuficiência cardíaca esteja frequentemente associada ao comprometimento da função sistólica deficiente, em aproximadamente 55% dos casos a função sistólica foi preservada e a insuficiência cardíaca se manifesta exclusivamente com base na disfunção diastólica do ventrículo esquerdo. Ainda que um coração nessas condições seja capaz de contrair normalmente, o relaxamento é anormal. O enchimento anormal do ventrículo compromete o débito cardíaco, especialmente durante a prática de exercícios físicos. Para qualquer volume ventricular determinado, as pressões ventriculares se mostram elevadas, conduzindo a sinais de congestão APG 02: HIPERTROFIA CARDÍACA Débora Janaína UNIGRANRIO - Afya Medicina venosa pulmonar e sistêmica, idêntica à que é observada em pessoas com um coração dilatado e problemas de contração do músculo cardíaco. A prevalência de insuficiência diastólica aumenta com a idade e é maior em mulheres do que os homens e em pessoas com hipertensão e fibrilação atrial. Entre as condições que causam uma disfunção diastólica encontram-se aquelas que impedem a expansão do ventrículo (p. ex., derrame pericárdico, pericardite constritiva); aumentam a espessura da parede e reduzem o tamanho da câmara (p. ex., hipertrofia do miocárdio, miocardiopatia hipertrófica); e que retardam o relaxamento diastólico (p. ex., envelhecimento, doença isquêmica do coração). IMPORTÂNCIA DA ADESÃO AO TRATAMENTO Objetivo principal do tratamento da HAS é manter a PA < 140/90mmHg, tendo como meta evitar a morbidade e mortalidade. Modificações do estilo de vida: • Reduz a PA; • Acentua os efeitos dos fármacos anti-hipertensivos; • Evita risco cardiovascular. Principais modificações no estilo de vida: • Redução de peso; • Dieta; • Atividade física; • Consumo de Álcool; • Adesão ao tratamento farmacológico. BIBLIOGRAFIA Robbins & Cotran, patologia: bases patológicas das doenças / Vinay Kumar, Abul Abbas, Jon Aster; com ilustrações de James A. Perkins. - 9. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Guanabara Koogan Ltda., 2021. Barroso, Weimar Kunz Sebba et al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arquivos brasileiros de cardiologia, v. 116, n. 3, p. 516-658, 2021. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/207940 http://hdl.handle.net/11449/207940
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