Buscar

A padronização e instrumentalização do brincar


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Continue navegando


Prévia do material em texto

A padronização e instrumentalização do brincar.
 
 O desenvolvimento do ser humano durante toda sua vida é constante, periódico e se faz através das experiências vividas de diversas formas. A infância é primordial nesse processo, pois é quando a criança está se abrindo ao mundo exterior e conhecendo mais a si mesmo, portanto é necessário trabalhar os aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo, criando uma boa base para vida. Encontramos então no brincar uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças ou adultos.
 Para Vygotsky, a brincadeira pode ter papel fundamental no desenvolvimento da criança, que é o que chamamos de lúdico, partindo do princípio que o sujeito se constitui nas relações com os outros, por meio de atividades caracteristicamente humanas e desenvolvidas através de métodos criativos para chamar atenção da criança. Nesta perspectiva, a brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a análise do processo de constituição do sujeito, rompendo com a visão tradicional de que ela é uma atividade natural de satisfação de instintos infantis. É brincando também que a criança aprende a respeitar regras, a ampliar o seu relacionamento social e a respeitar a si mesmo e ao outro. 
 Vygotsky (1998, p. 137) ainda afirma que a essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre situações no pensamento e situações reais. "A brincadeira, o jogo são atividades específicas da infância, na quais a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos.” Vygotsky, citado por Baquero (1998)
 O Filosofo alemão Walter Benjamim, também analisa a repetição intrínseca do brincar, onde ele fala ‘‘Sabemos que para a criança ela é a alma do jogo que nada a torna mais feliz do que o “mais uma vez ” para ela, porém, não bastam duas vezes, mas sim sempre de novo, centenas e milhares de vezes ”. 
 A essência do brincar não é um fazer como se fosse, mas um fazer, é uma transformação da experiência mais comovente em hábito. O primeiro brinquedo utilizado pela criança é seu próprio corpo, que começa a ser explorada nos primeiros meses de vida, em seguida ela passa a utilizar objetos do meio que produzem estimulações. A partir daí o brinquedo estará sempre na vida da criança, do adolescente e mesmo do adulto. 
 Para Benjamin não há dúvida que brincar significa sempre libertação. Rodeadas por um mundo de gigantes, as crianças criam para si um pequeno mundo próprio. No centro da lógica do brincar está a primazia da criança em transformar e dar novo sentido de forma livre a cada brincadeira e cada objeto. 
 O grande exemplo é que as crianças brincavam e tinham seus brinquedos construídos por artesãos e por seus próprios pais muitas vezes, desde bonecas de porcelana para os que tinham uma condição financeira melhor, até de bonecas de sabugo de milho, carrinhos de caixa de sapato, além das brincadeiras de grupo como esconde-esconde, ciranda-cirandinha, queimada, passar o anel e outros. A imaginação flui e a diversão se renova.
 Dai a partir da segunda metade do século XIX, o filosofo Benjamin aponta para a mudança que se revela na forma dos brinquedos como efeito da industrialização, Estas proibiam o marceneiro de pintar ele mesmo as suas bonequinhas, para a produção de brinquedos de diferentes materiais obrigavam várias manufaturas a dividir entre si os trabalhos mais simples marcando o distanciamento entre as crianças e seus pais que, antes, produziam-nos juntos. Os brinquedos começaram a tomar o protagonismo da criança, sendo produzidos em grande escala e cada vez mais tecnológicos, coloridos e cheios de instruções, roubando então a liberdade criativa da criança em construir no seu imaginário o que estava dentro do seu coração. 
	Os jogos eletrônicos, bonecas que choram, riem e cantam, carrinhos elétricos e vários outros, se tornaram brinquedos que de forma padronizada não geram estímulos nas crianças, logo ficam entediadas e precisam de novos brinquedos, pois os mesmo já ficaram velhos, sempre tem algo mais atual. Além de gerar um interesse consumista, acarreta uma troca de valores, pois as crianças já não querem qualquer brinquedo, mas se satisfazem apenas com os brinquedos da moda, aqueles que todos os amiguinhos tem e que ostentam marcas famosas e de fabricação original. 
 E desta forma, vamos formando pessoas consumistas, de valores invertidos, vazias de significado, se perdem diante das situações, são frustradas e não tem mais história para contar, pois o que vivenciam não tem riqueza histórica, sem marcas de experiências que trazem a nostalgia. Assim, é necessário estarmos atento e estimular sempre a liberdade da imaginação das crianças, do criar, para que aprendam a viver, sonhar e transformar o mundo ao seu redor com o que tem dentro de si, transportando seu cotidiano, seu modo de ver as coisas e o que verdadeiramente importa o que tem real valor e significado, formando pessoas melhores. 
Referência:
BENJAMIN, Walter. Reflexões; a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: ed. 34, 2004.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822003000200006
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-importancia-brincar-na-educacao-infantil.htm#:~:text=De%20acordo%20com%20Vygotsky%20(1998,%2C%20crian%C3%A7as%20e%2Fou%20adultos.'