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1 UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS E SOCIAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL GRACIELA DA SILVA LINASSI CONTRIBUIÇÕES DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) NO BAIRRO GETÚLIO VARGAS EM IJUÍ/RS Ijuí 2014 2 GRACIELA DA SILVA LINASSI CONTRIBUIÇÕES DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) NO BAIRRO GETÚLIO VARGAS EM IJUÍ/RS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais – DCJS da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Profª.Drª Solange dos Santos Silva Ijuí 2014 3 GRACIELA DA SILVA LINASSI CONTRIBUIÇÕES DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) NO BAIRRO GETÚLIO VARGAS EM IJUÍ/RS Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Serviço Social apresentado para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. COMISSÃO EXAMINADORA: _________________________________________ Profa.Drª. Solange dos Santos Silva (Orientadora) UNIJUÍ _________________________________________ Profa.Drª. Maristela Busnello UNIJUÍ Ijuí/RS, ______ de dezembro de 2014. 4 [...] O respeito e a humanização não se dão pela solidariedade humana, pela ajuda, pela pena, pelo tratamento dispensado, mas pelo direito de usufruir daquilo que a humanidade vem conquistando e produzindo, não pelas mãos de quem possui capital, mas pelas mãos de quem realiza trabalho. (Vasconcelos,2000.) 5 Ao meu marido, Carlos Augusto Severo Lerina, iniciar esta trajetória e hoje concluí-la. Com seu apoio, companheirismo e paciência. 6 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a Deus, que me concedeu a vida e me conduz com o seu amor infinito. Ao meu marido Carlos, meu companheiro, meu amor, meu eterno amigo, obrigada por me aguentar nos momentos difíceis e por fazer parte da minha vida, pelo carinho e incentivo e por tudo que representa pra mim sou eternamente grata! Obrigada! Agradeço a toda minha família, que de uma forma ou outra estiveram comigo, me apoiando com palavras de carinho e incentivo. À minha orientadora, professora Solange da Silva Santos, pela transmissão de seus conhecimentos e por me fazer acreditar que sempre podemos fazer melhor; À Supervisora de campo Daiana de Souza Quadros, pelos seus ensinamentos e por ter incentivado a enfrentar de forma corajosa as situações mais adversas; Às amigas e colegas que, de uma forma ou outra, contribuíram para a minha formação, e pela parceria nesta trajetória; A todos, muito obrigado! 7 RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) trata sobre contribuições do Estágio Supervisionado em Serviço Social, tendo como objetivo identificar as intervenções da estagiária em Estágios Supervisionados em Serviço Social, II e III dos trabalhos realizados pelo Assistente Social na área da atenção básica, mais precisamente na Estratégia de Saúde da Família (ESF) no Bairro Getúlio Vargas em Ijuí/RS. Para tanto, fez-se um estudo descritivo com revisão bibliográfica e documental, com abordagem e descrição qualitativa, fundamentada na Teoria Social Crítica e no Método Dialético Crítico, bem como nas categorias do método historicidade, totalidade e contradição. Para tanto apresenta-se o Serviço Social e pressupostos da profissão, comtemplando os aspectos conceituais e legais do estágio supervisionado em Serviço Social, regimentos e as normatizações da UNIJUI, e o seu significado para o Serviço Social, evidencia-se a Política Pública no Brasil desde o século XX até a institucionalização do Sistema Único de Saúde, desde a sua criação e reprodução, além dos levantamentos de ações que devem existir para que a saúde no Brasil. Discorre-se sobre a Estratégia de Saúde da Família (ESF), apresenta-se o projeto de intervenção. E por fim, fala- se da visita domiciliar como técnica de intervenção e instrumento do cuidado, explicitando a educação em saúde e os resultados encontrados quanto às suas contribuições para as famílias participantes e a equipe multiprofissional. Palavras-chaves: Estágio Supervisionado. Serviço Social. Saúde. ESF. 8 ABSTRACT This Work Course Conclusion (TCC) deals with contributions from the Supervised Internship in Social Work, aiming to identify the interventions of the trainee in Supervised Internship in Social Work, II and III of the work of the social worker in the area o f primary care, more precisely in the Family Health Strategy (FHS) in the neighborhood Getúlio Vargas in Ijuí / RS. Therefore, we carried out a descriptive study of bibliographical and documentary review, approach and qualitative description, based on the Critical Social Theory and Dialectical Method Critical as well as in the categories of historicity method, completeness and contradiction. Therefore we present the Social Work and assumptions of the profession, comtemplando the conceptual and legal aspects of supervised training in Social Work, regulations and norms of UNIJUI, and its meaning for Social Work, highlights the Public Policy in Brazil from the twentieth century to the institutionalization of the National Health System since its creation and playback, in addition to the stock surveys that must exist for health in Brazil. It talks about the Family Health Strategy (FHS), shows the intervention project. Finally, there is talk of home visits as an intervention technique and care of the instrument, explaining the health education and the results as to their contributions to the participating families and the multidisciplinary team. Keywords: Supervised Internship. Social Service. Health. ESF 9 SUMÁRIO CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10 CAPÍTULO 2- O ESTÁGIO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL ................................................................................................................................... 13 2.1 O SERVIÇO SOCIAL: PRESSUPOSTOS DA PROFISSÃO ........................................... 13 2.2 O PROCESSO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL PERSPECTIVAS HISTÓRICAS UM...................................................................................... 19 2.3 O ESTÁGIO LEIS E REGULAMENTAÇÕES ................................................................. 23 CAPÍTULO 3 - A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL ................................................... 32 3.1 A ORGANIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL ...................................... 32 3.2 REFORMA SANITÁRIA .................................................................................................. 39 3.3 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA ESF) ......................................................... 44 CAPÍTULO 4 - O SERVIÇO SOCIAL NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) ........................................................................................................................................ 52 4.1 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) COMO ESPAÇO DE ESTÁGIO EM SERVIÇO SOCIAL APROXIMAÇÕES COM O TRABALHO DO/A ASSISTENTE SOCIAL. ...................................................................................................................................52 4.2 O PROJETO DE INTERVENÇÃO.................................................................................... 57 4.3 A VISITA DOMICILIAR COMO TÉCNICA DE INTERVENÇÃO E INSTRUMENTO DO CUIDADO. ........................................................................................................................ 58 4.4 EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RESULTADOS REFLEXÕES E CONTRIBUIÇÕES......... 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 70 REFERENCIAS...................................................................................................................... 72 10 1 INTRODUÇÃO No decorrer dos componentes curriculares Estágio Supervisionado em Serviço Social II e III ao acompanhar o trabalho do/a Assistente Social na Estratégia de Saúde da Família (ESF) do Bairro Getúlio Vargas, nessa experiência vivenciada, sentiu-se a necessidade de compreender o trabalho profissional e elaborar um estudo descritivo que proporcionasse maior visualização do Serviço Social. A realização deste estudo tem importância acadêmica, profissional e social, principalmente para aqueles que atuam ou que são atendidos na Estratégia de Saúde da Família, pois procura contribuir para a reflexão de umas pratica de acordo com os compromissos ético-políticos da profissão, possibilitando a compreensão dos problemas e desafios com os quais o Assistente Social está situado no conjunto da produção e reprodução da vida social. A princípio, busca produzir respostas para a identificação, apreensão da realidade e objetivações concretas das mediações a que os profissionais Assistentes Sociais estão desafiados no mundo do trabalho. Ainda pretende discutir o acesso e direitos e de um projeto profissional comprometido com os interesses e necessidades dos usuários, a fim de contribuir com o trabalho do assistente social, dando clareza às possíveis contribuições do Serviço Social. Assim, o presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Serviço Social está estruturado em quatro (4) capítulos. No primeiro capítulo resgata-se a pesquisa que subsidiou o presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), abordando o percurso metodológico utilizado para desenvolvê- la. Trata-se de um estudo descritivo que, incluiu a descrição, registro, análise e interpretação de fenômenos atuais (LAKATOS e MARCONI, 1999), com revisão bibliográfica que refere-se a fundamentação teórica e dará sustentação ao desenvolvimento do trabalho, é elaborada a partir de materiais já publicados, constituído a partir de livros, artigos de periódicos e atualmente, de material já disponibilizado na internet ( SILVA & MENEZES, 2001), e a documental, que vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa (GIL, 2002). Como instrumento de pesquisa utilizou-se o diário de campo de própria autoria, para embasar a descrição de visitas domiciliares, observações e entrevistas observadas no estágio. O diário de campo consiste em um instrumento de anotações, como forma de 11 registrar, caracterizar demandas, fenômenos sociais, comentários, dúvidas e reflexões acerca do trabalho do Assistente Social. Com abordagem qualitativa, o estudo fundamenta-se na Teoria Social Crítica e no Método Dialético Crítico e em suas categorias: contradição, totalidade e historicidade, no qual se caracterizam por buscar superar a aparência dos fenômenos, desvendando sua essência a partir da articulação entre elas. A contradição que nos mostra a resistência; a totalidade que vai articular no dia-a-dia do usuário com os processos sociais que são vindos da relação capital e trabalho; e a historicidade que vai passar na história de vida do usuário. Tendo como tema: "O Trabalho da Assistente Social na Estratégia de Saúde da Família (ESF) no Bairro Getúlio Vargas no município de Ijuí no Estado do Rio Grande do Sul (RS) no período de agosto de 2013 a junho de 2014”, com as contradições e indagações surgidas no decorrer da formação e do estágio desenvolvidos naquele contexto contribuíram para a elaboração do seguinte problema de pesquisa: "Como o estágio em Serviço Social contribuiu na Estratégia de Saúde da Família (ESF) no Bairro Getúlio Vargas no município de Ijuí no Estado do Rio Grande do Sul (RS) no período de agosto de 2013 à junho de 2014"?. Na busca de formulação de respostas para esta problemática, estabeleceram-se seguintes questões norteadoras: 1. Quais os aspectos conceituais do estágio supervisionado em Serviço Social?; 2. Qual a importância das intervenções da estagiária na Estratégia de Saúde da Família (ESF) ?; 3. Qual as técnicas e instrumentais utilizados no processo de estágio supervisionado em Serviço Social?; 4. Quais os desafios e contribuições para implementação das atividades no estágio supervisionado em Serviço Social? Abordam-se ainda o objetivo geral: "Refletir como o estágio em Serviço Social contribuiu na Estratégia de Saúde da Família (ESF) no município de Ijuí (RS), para qualificação da formação profissional no período de agosto de 2013 à junho de 2014", objetivos específicos: a) Investigar os aspectos conceituais do estágio supervisionado em Serviço Social; b) Evidenciar a importância das intervenções da estagiária na Estratégia de Saúde da Família (ESF); c) Identificar as técnicas e instrumentais utilizados no processo de estágio supervisionado em Serviço Social; d) Identificar os desafios e contribuições para implementação das atividades no estágio supervisionado em Serviço Social. No segundo capítulo, apresenta-se o Serviço Social e pressupostos da profissão, bem como, o objeto, as dimensões, a instrumentalidade e o projeto-ético-político profissional, comtemplando também um resgate histórico sobre o estágio os aspectos conceituais do estágio 12 supervisionado em Serviço Social, resgatando os seus aspectos legais, regimentos e as normatizações da UNIJUI, e o seu significado para o Serviço Social. O terceiro capítulo vai esboçar a Política Pública no Brasil desde o século XX até a institucionalização do Sistema Único de Saúde, desde a sua criação e reprodução, além dos levantamentos de ações que devem existir para que a saúde no Brasil, não seja apenas um sonho. Também se aborda sobre implementação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) contextualizada e destacando o seu papel como unidade pública, de Saúde. No quarto capítulo discorre-se sobre a visita domiciliar como técnica de intervenção e instrumento do cuidado, explicitando a educação em saúde e os resultados encontrados quanto às suas contribuições para as famílias participantes e a equipe multiprofissional, evidenciando a importância das intervenções da estagiária na Estratégia de Saúde da Família. 13 2 O ESTÁGIO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL Este segundo capítulo está dividido em dois subitens. Primeiramente, apresenta-se o Serviço Social e pressupostos da profissão, bem como, o objeto, as dimensões, a instrumentalidade e o projeto-ético-político profissional. No segundo item, aborda-se o processo de Estágio Supervisionado em Serviço Social, apresentando os conceitos de estágio, um breve resgate histórico e a legislação que rege o Estágio Supervisionado em Serviço Social, revelando seu significado e importância para a formação profissional. 2.1 O SERVIÇO SOCIAL: PRESSUPOSTOS DA PROFISSÃO O Serviço Social é uma profissão de caráter investigativo, a atitude investigativa é o que fomenta a ação do assistente social, em um movimento constante de busca, questionamentos, debruçamentos, planejamento para atuar na profissão, a ação profissional é consequência e, ao mesmo tempo, subsídio para essa investigação. Do mesmo modo é preciso pensar a profissão como fruto dos profissionais que a vivenciame a constroem, profissionais esses que acumulam saberes, sistematizam sua prática e contribuem na criação de uma cultura profissional historicamente limitada. [...] Logo, analisar a profissão supõe abordar, simultaneamente, os modos de atuar e de pesar que foram por seus agentes incorporados, atribuindo visibilidade ás bases teóricas assumidas pelo Serviço social na leitura da sociedade e na construção de respostas a questão social (IAMAMOTO, 2004, pg. 58). Um dos grandes desafios do Assistente Social é articular a profissão e a realidade, pois compreende-se que o Serviço Social não tem sua ação apenas sobre a realidade, mas exerce sua ação na realidade. O desafio é entender a origem da questão social, os processos e fenômenos sociais, decifrando e analisando a realidade com uma competência crítica, sendo um profissional, [...] capaz de potencializar as ações nos níveis de assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, estimuladora de participação dos sujeitos sociais nas decisões que lhes dizem respeito, na defesa de seus direitos e no acesso aos meios de exercê-los” (IAMAMOTO, 2006, p. 193). 14 Aliás, o Assistente Social precisa estar capacitado para propor, negociar sua inserção nos diferentes espaços de trabalho, frente as demandas que se apresentam e dele exigem uma postura que deve ir além do exercício profissional burocrático e rotineiro. [...] É uma ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com instituições os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes passiveis de serem impulsionadas pelo profissional (IAMAMOTO, 2006, p.21). Apesar de ser uma profissão liberal, o Assistente Social, para poder exercer sua ação, depende da venda de sua força de trabalho por não possuir todos os meios para a efetivação de seu trabalho, sejam financeiros, técnicos ou humanos, visto que para um exercício profissional autônomo, depende de instituições que demandam ou solicitam e organizam o seu trabalho. [...] Ainda que dispondo de relativa autonomia na efetivação de seu trabalho, o assistente social depende na organização da atividade, do estado, da empresa, entidades não governamentais que viabilizam aos usuários o acesso aos seus serviços, fornecem meios e recursos para sua realização, estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na definição de papeis e funções que compõem o cotidiano do trabalho institucional (IAMAMOTO, 2004, pg. 63). Mesmo tendo relativa autonomia, o maior desafio continua sendo o de conseguir superar o olhar rápido da matéria prima do trabalho (objeto) desvendando-o e superando-o a partir do método dialético-crítico. Esse entendimento é construído através das categorias: contradição que nos mostra a resistência; a totalidade que vai articular no dia-a-dia do usuário com os processos sociais que são vindos da relação capital e trabalho; e a historicidade que vai passar na história de vida do usuário. O desafio é identificar a aparência do fenômeno, mas, sobretudo, alcançar sua essência. É neste momento que o profissional se apropria das categorias teóricas do método: reificação, fetichização, mais valia, alienação e luta de classes. Para então poder interpretar as contradições e assim desconstruir e construir a identidade profissional e o objeto de intervenção profissional. Assim, [...] forma de aparência que oculta ou mascara a essência do fenômeno. O fetichis mo da mercadoria mascara a relação social que está implícita na sua constituição e que é reificada pela sociedade capitalista. Em síntese é uma forma de aparição que se mostra diversa ou oculta a verdadeira essência do fenômeno em questão. As diversas formas de fetichis mo contribuem para o processo de alienação. A reificação é uma forma de fetichismo" (PRATES, 2005, p. 1). [...] ou coisificação, é o ato ou o resultado de transformação das propriedades, relações e ações humanas em coisas independentes, que não se comportam de forma humana, mas de acordo com as leis do mundo das coisas. A reificação é uma forma 15 de alienação característica da sociedade capitalista. Em síntese significa tratar o homem e as suas objetivações como coisas ou mercadorias" (PRATES, 2005, p. 1). Reconhecendo que nestas, a atenção deve estar voltada ao movimento posto pela articulação interacional dos usuários e de sua identidade coletiva nos espaços sociais. Tendo em vista, relativizar a demanda, ter distanciamento ideal dos casos para então perceber a totalidade, não personalizando as dificuldades encontradas. Buscando sempre a particularidade que é a mediação do que este expresso com o que foi descoberto. O objeto de trabalho aqui considerado, é a questão social, [...] É ela, em suas múltip las expressões, que provoca a necessidade da ação profissional junto à criança e ao adolescente, ao idoso, a situação de violência contra mulher, a luta pela terra etc. Essas expressões da questão social são a matéria -prima ou o objeto do trabalho profissional. Pesquisar e conhecer a realidade é conhecer o próprio objeto de trabalho, junto ao qual se pretende induzir ou impulsionar um processo de mudança (IAMAMOTO, 2003, p. 62). Contudo para conseguir credibilidade e defender os pressupostos profissionais, o assistente social necessita ir ao encontro aos princípios do código de ética profissional e ao projeto profissional que é então compreendido por, [...] o apresentar a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e prio rizam os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem balizas da sua relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas (NETTO, 1999, p. 95). Compreender o projeto ético-político exige do assistente social o entendimento da teoria do Serviço Social, e, “uma indicação ética só adquire efetividade histórico-concreta quando se combina com uma direção político profissional”. NETTO (2000, p. 99). Dentre os princípios éticos fundamentais que marcam concretamente as funções do Assistente Social e o projeto ético-político profissional podemos destacar alguns princípios: Defesa intransigente dos direitos humanos [...]; Ampliação e consolidação da cidadania [...]; Posicionamento em favor da equidade de justiça social [...]; Empenho na eliminação de todas as formas de preconceitos [...] e Exercício do Serviço Social sem discriminar, nem d iscriminar por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, relig ião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física (CFESS, 1993). Para tornar-se efetiva essa complementariedade, partindo de seu projeto ético- político, o profissional deve buscar em seu arcabouço teórico-metodológico e técnico- 16 operativo os elementos necessários a sua intervenção nos diferentes espaços sócio ocupacionais. A capacidade do profissional atuante nesses espaços de trabalho, está diretamente ligada à como ele entende o processo de trabalho, em que se insere, criando a partir das relações que estabelece com o seu meio e a maneira como efetua as mediações com objetivo de transformar a realidade, po is “ o resultado desse processo é sempre uma transformação na natureza e no próprio homem, uma vez que ao final ele já não é mais o mesmo homem” (GUERRA, 2000, p.8). Um dos mais importantes desafios do Serviço Social hoje é a construção de estratégias profissionais que contribuam com o projeto ético-político, ou seja, “traduzir o projeto ético-políticoem realização efetiva no âmbito das condições em que se realiza o trabalho do assistente social” (IAMAMOTO, 2002, p. 15). Porém, para o profissional desenvolver essas ações é preciso pensar a instrumentalidade do Serviço Social e, pensar além da especificidade da profissão é pensar que são ilimitadas as possibilidades de intervenção profissional, e que isso exige, nas palavras de IAMAMOTO (2004), "Tomar um banho de realidade". E, como nos diz Guerra: [...] A clara definição do ‘Para quê’ da profissão, possível desde que iluminada por uma racionalidade (como forma de ser e pensar) que seja dialética e crít ica, conectada à capacidade de responder eficazmente às demandas sociais, se constituirão na condição necessária, talvez não suficiente, à manutenção da profissão. Aqui se coloca a necessidade de dominar um repertório de técnicas, legada do desenvolvimento das ciências sociais, fruto das pesquisas e do avanço tecnológico e patrimônio das profissões sociais (e não exclusividade de uma categoria profissional), mas também um conjunto de estratégias e táticas desenvolvidas, criadas e recriadas no processo histórico, no movimento da realidade (GUERRA: 2004; p. 115-6). Portanto é fundamental a capacidade criativa, o que inclui os instrumentos da profissão, mas também criar outros que possam produzir mudanças na realidade social, utilizando o seu conhecimento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo para pensar formas eficazes de intervenção. É na articulação de todos os recursos disponíveis ao profissional em instrumentos de trabalho que se torna possível o alcance de resultados na intervenção profissional, tendo em vista que “ao se objetivarem pelo trabalho, ao transformarem os objetos em instrumentos e meio para a satisfação de suas necessidades, plasmando neles as suas finalidades, os homens desenvolvem uma forma de práxis, que é a práxis produtiva”. (GUERRA, 2000, p.11). A dimensão ético-política orienta o trabalho profissional a exercer um papel no sentido de orientar os usuários discutindo com eles seus direitos, e posicionando-se a favor da luta por políticas que venham a auxiliar nas necessidades dos usuários. Iamamoto (1998) 17 refere a dimensão ético-política como um desafio no cotidiano do trabalho profissional, fazendo-se necessário que o assistente social tenha um posicionamento ético e político mediante as demandas a ele apresentadas, bem como da realidade social que o cerca. A dimensão teórico-metodológica tem como objetivo esclarecer o trabalho profissional, à medida que contribui com o profissional na criação de estratégias para o enfrentamento das demandas que surgem nesta área. Segundo IAMAMOTO (2000, p.53), “a apropriação da fundamentação teórico-metodológica é caminho necessário para a construção de novas alternativas no exercício profissional”. O Assistente Social necessita das bases teóricas e metodológicas para o exercício de seu trabalho, as quais “contribuem para iluminar a leitura da realidade e imprimir rumos a ação, ao mesmo tempo em que a moldam” (IAMAMOTO, 2004, p. 63). A dimensão técnico-operativa instrumentaliza o assistente social para a atuação e intervenção nas demandas postas. Pressupõe, [...] reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaços sócio ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela própria natureza das suas ações nos diferentes âmbitos de exercício profissional (MIOTO; LIMA, 2009, p. 27). Entre os instrumentos técnicos-operativos, que o profissional poderá utilizar no seu trabalho no atendimento aos usuários são: orientação, entrevista, visita domiciliar, reuniões em grupo, equipe multiprofissional, documentação, relatórios, parecer social, planejamento de programas, projetos, construção de indicadores, pesquisa, articulação em rede. Fazendo com que a reflexão, a investigação e a criticidade sejam alguns dos principais elementos utilizados para articular essas dimensões, tendo em vista a ética profissional e o posicionamento ético político produzindo, através destes, o conhecimento necessário para dar conta de seus atendimentos, visando um processo interventivo eficaz. A articulação teórico-prática é fundamental para que se materialize a práxis1 no Serviço Social. Assim, [...] A instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exe rcício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetiva-se subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano (GUERRA, 2007, p.02). 1 Para Barroco (1999, p. 122): A esta ação transformadora se denomina práxis: atividade específica do ser social cujo modelo é dado pelo trabalho [...] o trabalho, como práxis, é o componente desencadeador do processo de (re) produção do ser social como ser histó rico capaz de ser consciente e livre base de sua capacidade de instituir-se como sujeito ético. (BARROCO, 1999). 18 Para então fazer um bom uso desses instrumentos técnico-operativos, faz-se necessário que o assistente social tenha clareza das três dimensões abordadas para então ter competência profissional, não assumindo uma condição reducionista, levado pela imediaticidade. Requer analisar, interpretar, utilizar-se do conhecimento e ter habilidade no uso do instrumental para ter uma prática profissional qualificada e coerente. O assistente social deve entender para que fazer, para quem, onde e quando fazer, e também analisar as consequências que as ações irão produzir. [...] Com isso pode-se perceber que a cultura profissional incorpora conteúdos teórico-críticos projetivos. Pela mediação da cultura profissional o assistente social pode negar a ação puramente instrumental, imediata, espontânea e reelaborá-la em nível de respostas sócio profissionais. Na elaboração de respostas mais qualificadas, na construção de novas legitimidades, a razão instrumental não dá conta. Há que se investir numa instrumentalidade inspirada pela razão d ialét ica (GUERRA, 2000, p.14). Assim, o instrumental do assistente social em seu trabalho não compreende apenas o arsenal de técnicas usadas para o serviço ser efetivado, mas também o arsenal teórico- metodológico de conhecimento, valores, herança cultural, habilidades, para então se ter uma prática concretizada. [...] O compromisso com a competência, que só pode ter como base o aperfeiçoamento intelectual do assistente social. Daí a ênfase numa formação acadêmica qualificada, fundada em concepções teórico metodológicas críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social – formação que deve abrir a via à preocupação com a (auto) formação permanente e estimular uma constante preocupação investigativa (NETTO, 2006, p. 155). A apropriação da teoria marxista como seu objeto, o /a Assistente Social passa a analisar fenômenos de forma crítica e propositiva a partir da apropriação de como se constitui a sociedade. Portanto é pertinente o assistente social ver as demandas do d ia a dia que não devem ser consideradas isoladamente, como se apresentam. É fundamental que o assistente social desvende a realidade porque nem sempre o que se apresenta realmente é. De acordo com Souza (2008), o Assistente Social deve desenvolver um conhecimento teórico aprofundado sobre as relações sociais numa determinada sociedade (universalidade), como ela se organiza naquele momento histórico para superar o que o senso comum prega, e que, em muitas vezes esconde as reais causas e determinações dos fatos acontecidos. Visto que é fundamentalsuperar a divisão entre teoria e prática. É o que Iamamoto (1992) denomina de “falsos dilemas” e Guerra (1998) de “pseudos-problemas”. O trabalho profissional com uma 19 síntese entre teoria e prática, pode contribuir para a ruptura com a tradicional crítica no Serviço Social de divisão entre teoria e prática. Porque as relações entre a universalidade e a singularidade torna possível apreender as particularidades de uma determinada situação. Assim, operacionalizar as ações requer aproximar o conhecimento dos processos sociais e dos processos particulares, da essência e da aparência trazidas nas demandas. Para que a partir dessas, sejam elas particulares ou coletivas, o profissional possa formular os objetivos e definir as técnicas e os instrumentos necessários para alcançá- los. O/A assistente social deve refletir sobre a instrumentalidade porque a capacidade do profissional vai se construindo e reconstruindo, para assim o profissional transformar o instrumental de trabalho, dando resposta às demandas apresentadas, com objetivo de intervir, modificar e adaptá-las de acordo com as necessidades e as mudanças desejadas, visando concretizar os seus objetivos e atingir o fim proposto, deve desenvolver a capacidade criativa e desempenhar suas atribuições privativas e competências. [...] A capacidade de o profissional atuar está diretamente ligada à como ele compreende seu processo de trabalho, e forma -se a partir das relações que o mesmo estabelece com o seu meio e a maneira como realiza as mediações com um o lhar para transformação da realidade, pois , “o resultado desse processo é sempre uma transformação na natureza e no próprio homem, uma vez que ao final ele já não é mais o mesmo homem” (GUERRA, 2000, p.8). Mas não se pode esquecer que o instrumental não está isolado, nessa direção, de acordo com Santos (apud Martinelli,1994), “o instrumental é percebido como um conjunto articulado de instrumentos e técnicas, não podendo serem vistos isoladamente, por si sós, de maneira autonomizada, mas como uma unidade dialética”. Assim a instrumentalidade pode ser considerada como a capacidade de articulação e mobilização dos instrumentos orientados pela técnica não podendo ser vistos como algo isolado e sim inserido e inter-relacionado. 2.2 O PROCESSO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL PERSPECTIVAS HISTÓRICAS O estágio é um momento especial de aprendizado prático devido ao acúmulo de experiências, reflexões e apreensões do conhecimento da realidade institucional, em meio a vários conhecimentos teóricos adquiridos na formação profissional. 20 [...] no serviço social o estágio é concebido como um campo de treinamento, um espaço de aprendizagem do fazer concreto do Serviço Social, onde um leque de situações, de atividades de aprendizagem profissional se manifesta para o estagiário, tendo em vista sua formação (BURIOLLA,2001, p.13). Visto como marco no início do processo de formação profissional em Serviço Social, o estágio supervisionado é de extrema importância para a formação dos estagiários de Ciências Sociais, porque nesse momento se faz claro o porquê dos estudos e pesquisa teórica, é o momento de repensar a formação profissional, a própria profissão e as responsabilidades dos profissionais frente às transformações societárias atuais. O estágio supervisionado põe em prática um papel essencial no processo de formação profissional do/a estagiário/a, visto que oferece o contato direto com o exercício profissional, com a essência interventiva do Serviço Social, e, resulta, na apropriação da profissão. Deste modo o estágio é o “[...] processo de qualificação e treinamento teórico- metodológico, técnico-operativo e ético político do aluno [...] sob a supervisão direta de um assistente social, que assume função de supervisor de campo” (IAMAMOTO, 1998, p. 290), visando o aprendizado de competências próprias da atividade profissional e a contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do aluno para o trabalho. Pois é por meio do processo de vivência do estágio, que o aluno vai tomando posse da profissão, vivenciando a complexidade das expressões da questão social, se envolvendo nas atividades de aprendizagem social, profissional, cultural, de tal maneira que dá lugar para identificar-se como parte real da profissão, desenvolvendo a capacidade criativa e a atitude investigativa, problematizando a realidade de intervenção profissional e assim identificando- se com o mundo profissional possibilitando a absorção dos papéis e atitudes dos profissionais que o cercam, e, com isso, absorvendo a realidade específica do Serviço Social, enquanto profissão inserida na dinâmica social. O Estágio Supervisionado na qualidade de espaço do fazer, onde se materializam-se as ações profissionais, que tem como objeto as várias expressões da questão social. Ao modo que nesse espaço se descobre as particularidades sócio institucionais, o que tem em conta a capacitação teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política para a elaboração de estratégias e de ações criativas. O estágio supervisionado subsiste como elemento do processo de formação profissional iniciado a partir da fundação das primeiras escolas de Serviço Social em 1936 em São Paulo e um ano depois no Rio de Janeiro, o estágio é definido como, 21 [...] uma atividade curricular obrigatória que se estabelece a partir da inserção do aluno no espaço sócio ocupacional, com o objetivo de sua capacitação para o exercício profissional (OLIVEIRA, 2004, p. 59). Foi por volta de 1940, que começam as organizações de estágio. Identificada a demanda, preocupa-se também com uma formação qualificada que foi debatida durante a realização do I Congresso Brasileiro de Serviço Social em 1947, tornando-se o início de uma influência muito valorizada no debate dos encontros nacionais. A partir do segundo pós- guerra, há uma forte influência norte-americana na América Latina e no Brasil, que estabelece na profissão, a incorporação das teorias estrutural- funcionalistas e as metodologias de intervenção, especialmente o Serviço Social de Caso e o Serviço Social de Grupo. Com a influência de técnicas instrumentais Franco-Belga e norte-americanas, começa-se a esboçar mudanças nas práticas profissionais, mas ainda continuava-se a reproduzir a força do capitalismo e a identidade atribuída manifestada na alienação dos agentes sociais (MARTINELLI, 2009). Por isso, com a expansão econômica e sociocultura l norte-americana pelo mundo, a profissão também foi influenciada. Nota-se a realidade desta preocupação quanto à organização do estágio, e as metodologias de intervenção em consequência do atual contexto histórico em que se atravessava. [...] Em v irtude do contexto socioeconômico e político, emergiu tanto a necessidade quanto a demanda de uma formação qualificada ao ensino em Serviço Social no Brasil, o que delineou um novo contorno à supervisão na década de 1940. Esse período demarcou a criação e o desenvolvimento das grandes instituições assistenciais estatais [...] Fo i o momento em que se ampliou o mercado de trabalho para a profissão [...] (LEWGOY, 2010, p. 71). De modo que o estágio enquanto processo de formação, se dispõem atender a demanda de profissionais especializados, munidos de novos meios e formas de execução do trabalho, exigido pela ampliação do mercado de trabalho. Ao Serviço Social, a partir de então, é permitido romper “[...] com suas origens confessionais e transformar-se numa atividade institucionalizada [...]” (SILVA, 1995 apud LEWGOY, 2010, p.71). Com a regulamentação do ensino em Serviço Social (1953) emergem as legislações específicas, tendo em vista regulamentar a prática de estágio, procurando garantir a qualidade desse processo, e como consequência, uma formação profissional qualificada. A primeiralegislação específica do Serviço Social referida ao estágio foi a Lei N.º 1.889/53, 22 regulamentada pelo Decreto N.º 35.311/54 que dispõe sobre a normatização do ensino, organização dos cursos e oferta de componentes. Os cursos de Serviço Social, que na época tinham a duração era de três anos, deveriam dividir o ensino em três etapas, correspondendo o primeiro ano a parte teórica, o segundo ano possibilitar o equilíbrio entre a teoria e a prática e por fim no terceiro e último ano, o predomínio da prática (BURIOLLA, 2001). Em 1957, é aprovada a Lei de Regulamentação da Profissão, Lei N.º 3.252/57, a partir dessa lei foi definida as atribuições do assistente social, no Art. 5º da Lei N.º 3.252/57, consiste à supervisão de alunos estagiários, garantindo que somente profissionais do Serviço Social podem desempenhar a função de supervisor. Conforme explicitado no art. 2º da Resolução CFESS 533/2008: [...] A supervisão direta de estágio em Serviço Social é atividade privativa do assistente social, em p leno gozo dos seus direitos profissionais, devidamente inscrito no CRESS de sua área de ação, sendo denominado supervisor de campo o assistente social da instituição campo de estágio e supervisor acadêmico o assistente social professor da instituição de ensino (CFESS, 2008). Compreendendo que o estágio como processo de aprendizagem teórico-prática que manifesta uma dinâmica reflexiva, com uma matriz pedagógica de conteúdo crítico, é fundamental que o próprio Assistente Social realize a supervisão, porque só assim os componentes que fundamentam o Serviço Social serão repassados de maneira coerente que ofereça uma formação qualificada de acordo com os princípios éticos-políticos da profissão. Nos anos 60 e 70 aconteceu um processo de reconceitualização da profissão, que buscava romper com o conservadorismo. O Serviço Social estabelece uma interlocução com as Ciências Sociais e se aproxima dos movimentos de esquerda. Nesse período os profissionais se qualificam e ampliam sua atuação em diversas áreas. Em 1970, por meio da Resolução N.º 242/70, sucede a implementação da legislação para a regulação dos estágios através do Conselho Federal de Educação (CFE), instituindo um Currículo Mínimo para o Curso de Serviço Social, estabelecendo normas a acerca dos componentes curriculares práticos e teóricos a serem ofertados pelos cursos. No artigo 7º dispõe sobre a função da teoria no curso de Serviço Social, logo após, o artigo 9º regula o ensino prático e teórico, assim as atribuições da teoria do Serviço Social têm dupla função, oferece, uma visão completa observando a ação social, e articula a teoria com a prática. (BURIOLLA, 2003). 23 Na década de 80 com a expansão da democracia, é regulamentado o Novo Currículo Mínimo do Curso de Serviço Social, através do Parecer N.º 412/1982 do Conselho Federal da Educação (CFE) homologado pela Resolução N.º 06/1982. O Art. 1º estabelece que o estágio supervisionado obrigatório com a duração de, no mínimo 10% de duração do curso. No Art. 2º, informa a duração mínima do curso de 2.700 horas e do estágio de 270 horas. Nesse mesmo período, é regulamentada a Lei N.º 6.494, através do Decreto N.º 87.497/80, nesse momento o estágio é visto com cautela e preocupação, decidindo-se que sejam realizados convênios e acordos entre as entidades de ensino, e os campos de estágio, assegurando o cumprimento de um termo de compromisso. (BURIOLLA, 2003). 2.3 O ESTÁGIO LEIS E REGULAMENTAÇÕES Através das regulamentações a instituição de Serviço Social passa a responsabiliza- se em firmar o convênio entre as partes, bem como, o termo de compromisso do estagiário, que prevê| o seguro de acidentes pessoais em favor do estagiário. O estágio não estabelece vínculo empregatício de qualquer natureza, para evitar vínculos empregatícios e possíveis explorações aos estagiários, e as instituições de ensino tem a obrigação de regulamentar sobre a programação, orientação, supervisão, avaliação, carga horária, duração e jornada de estágio curricular, condições, caracterização e definição dos campos de estágio. A lei 6.494/77, regulamentada pelo Decreto 87.497/82, ordena que: [...] Art. 1º O estágio curricular de estudantes regularmente matriculados e com frequência efetiva nos cursos vinculados ao ensino oficial e part icular, em nível superior e de 2º grau regular e supletivo, obedecerá às presentes normas. Art. 2º Considera-se estágio curricular, para os efeitos deste Decreto, as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho de seu meio, sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas juríd icas de direito público ou privado, sob responsabilidade e coordenação da instituição de ensino. Art. 3º O estágio curricular, como procedimento didático-pedagógico, é ativ idade de competência da instituição de ensino a quem cabe a decisão sobre a matéria, e dele participam pessoas juríd icas de direito público e privado, oferecendo oportunidade e campos de estágio, outras formas de ajuda, e colaborando no processo educativo (BRASIL, 1982, p 01). Em 1993, é aprovada a Lei N.º 8.662 de Regulamentação da Profissão e o novo Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais com a Resolução do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Nº. 273. A Lei de Regulamentação Profissional também legisla a 24 respeito do estágio. O Art. 5º define as atribuições privativas do Assistente Social: “VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social” (BRASIL, 1993). Com base na Lei dos Estágios, a Resolução Nº. 533/2008 do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) regulamenta a supervisão direta de Estágio supervisionado no Serviço Social, que é necessário se estabelecer na relação entre a unidade acadêmica e a instituição que recebe o acadêmico. Sua elaboração foi fundamentada, levando em consideração, entre outras particularidades: [...] - que a norma regulamentadora, acerca da supervisão direta de estágio em Serviço Social, deve estar em consonância com os princíp ios do Código de Ética dos Assistentes Sociais, com as bases legais da Lei de Regulamentação da Profissão e com as exigências teórico -metodológicas das Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social aprovadas pela ABEPSS, bem como o disposto na Resolução CNE/CES 15/2002 e na lei 11.788, de 25 de setembro de 2008; -a necessidade de normatizar a relação direta, sistemática e contínua entre as Instituições de Ensino Superior, as instituições campos de estágio e os Conselhos Regionais de Serviço Social, na busca da indissociabilidade entre fo rmação e exercício profissional; -a importância de se garantir a qualidade do exercício profissional do assistente social que, para tanto, deve ter assegurada uma aprendizagem de qualidade, por meio da supervisão direta, além de outros requisitos necessários à formação profissional; - que a atividade de supervisão direta do estágio em Serviço Social constitui momento ímpar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura como elemento síntese na relação teoria-prática, na art iculação entre pesquisa e intervenção profissional e que se consubstancia como exercício teórico-prát ico, mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais das esferas públicas e privadas, com v istas à formação profissional, conhecimento da realidade institucional, problematização teórico-metodológica (CFESS, 2008, s.n.). Essas legislações colocam várias questões que contextualizam o processo de formação profissional, convencendo-nos compreender a relevância do acompanhamento profissional para o aluno em formação, por meio das competências privativas do ass istente social, neste caso, como do profissional supervisor de campo, no processo deaprendizado. Em 1996, ocorre uma definição para o projeto da profissão, estabelecendo os Princípios e Diretrizes Curriculares para os cursos de formação em Serviço Social pela Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS) e pelo Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social (CEDEPSS). Conforme os pressupostos das Diretrizes Curriculares de Serviço Social, o estágio supervisionado: [...] É uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir do aluno no espaço sócio institucional objetivando capacitá-lo para o exercício do trabalho profissional, que o pressupõe supervisão sistemática. Essa supervisão será feita pelo professor supervisor e pelo profissional de campo, através da reflexão, acompanhamento e sistematização com base em p lanos de estágio, elaboradas em conjunto entre unidade de ensino e unidade campo de estágio, tendo como referência 25 a Lei 8662/93 e o código de ética (1993). O estágio supervisionado é concomitante ao período letivo (ABESPSS, 1996, p.19). Assim, essas mudanças nas Diretrizes Curriculares em 1996 influenciaram a supervisão de estágio de maneira fundamental [...] a supervisão passou a ter a visão de processualidade na formação do assistente social (LEWGOY, 2009, p.89). Visto que para que a processualidade de sua realização não seja mal interpretada daquilo que se compromete a fazer, o aluno deve conhecer as competências, instrumentos e atribuições exigidas ao Assistente Social. Atualmente, as garantias e regulamentações de estágio em todas as áreas do conhecimento, em nível federal, são regidas pela Lei N.º 11.788 de 25 de Setembro de 2008, essa lei revoga as leis anteriores e dispõe sobre o estágio de es tudantes, e sua relação, classificação e definição do estágio. Entretanto, o estágio é dividido em obrigatório: aquele determinado em razão ao projeto do curso, e não obrigatório: desenvolvido como atividade opcional. Conforme estabelece a legislação vigente, Lei n.º 11.788 de 25 de setembro de 2008, o seu artigo 1º e parágrafo 1º define que “§ 1o O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário formativo do educando”. O artigo 3º complementa que: [...] Art. 3o O estágio, tanto na hipótese do § 1o do art. 2o desta Lei quanto na prevista no § 2o do mesmo dispositivo, não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, observados os seguintes requisitos: I – matrícula e frequência regular do educando em curso de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos e atestados pela instituição de ensino; II – celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino; III – compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas previstas no termo de compromisso. § 1o O estágio, como ato educativo escolar supervisionado, deverá ter acompanhamento efetivo pelo professor orientador da instituição de ensino e por supervisor da parte concedente, comprovado por vistos nos relatórios referidos no inciso IV do caput do art. 7 (BRASIL, 2008, s.n.). Este artigo reúne todas as leis garantindo ao aluno estagiário, seu direito a educação e tornando-o apto para o futuro profissional. Adquirindo a experiência, para compreender melhor e realidade da ação profissional, suas dificuldades, suas deficiências e seus progressos. E com a teoria apreendida, é possível pensar saídas, estratégias de intervenção diante de toda a realidade constatada. Por isso o estágio supervisionado em serviço social não deve ser considerado como um momento de preparação, ou como espaço de simples execução. Longe disso, o estágio proporciona uma percepção de totalidade da realidade social, contribuindo para que o aluno estagiário tenha conhecimento para, fazer análise conjuntural, percebendo 26 seus reflexos no cotidiano do campo de estágio, atendendo as demandas do Serviço Social. Assim, a formação profissional deve garantir a apreensão e análise das situações concretas, as quais vão desde o significado sócio histórico do Serviço Social como as condições de trabalho dos assistentes sociais, as conjunturas, as instituições e o universo dos trabalhadores usuários dos diversos serviços e políticas institucionais públicas e privadas. Neste aspecto, exige conhecimentos teóricos e saberes prático-interventivos, além, é claro, dos fundamentos e da lógica tendencial que os constituem (GUERRA, 2006). Em 2010, é aprovada a Política Nacional de Estágio (PNE), resultado do debate coletivo em todo o País, que teve o início em maio de 2009, com base no documento elaborado em abril de 2009 pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) em sua primeira Reunião Ampliada da Diretoria eleita para a Gestão 2009- 2010, realizada entre os dias 16 e 18 de março de 2009, no Rio de Janeiro. O debate da Política Nacional de Estágio (PNE) foi nas oficinas regionais de graduação da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social que discutiram o referido documento e encaminharam propostas para a versão final da Política Nacional de Estágio (PNE). Isso implicou também um conjunto de influências internas que vem problematizando o processo de formação, os quais foram identificados na pesquisa sendo eles os fundamentos históricos e teóricos-metodológicos do serviço social; trabalho; questão social; pesquisa; além do perfil das unidades de ensino públicas e privadas que participaram do processo investigativo. A Política Nacional de Estágio (PNE) apresenta o estágio "[...] como fundamental para balizar os processos de mediação teórico-prática na integridade da formação profissional do assistente social" (ABEPSS, 2010, p.01), com um caráter mobilizador na defesa do projeto de formação profissional como instrumento de luta contra a precarização do ensino superior, assegurando um estágio qualificado. A Política Nacional de Estágio (PNE) dispõem em seu conteúdo: os princípios norteadores do estágio; as atribuições dos sujeitos e instâncias envolvidas; aborda construção de parâmetros quantitativos da relação professor/aluno na supervisão acadêmica do estágio supervisionado obrigatório; orienta também ao estágio não- obrigatório; e indica estratégias de operacionalização do estágio supervisionado. No que se refere a supervisão em Serviço Social, na década de 1990, esta aparece configurada como componente integrante da formação e do exercício profissional (BURIOLLA, 1994). A supervisão em Serviço Social constitui-se em atribuição privativa do assistente social, dando forma ao processo coletivo de ensino-aprendizagem, no qual se realiza a observação, registro, análise e atuação do aluno estagiário no campo de estágio, da 27 mesma forma a avaliação do processo de aprendizagem, visando a construção de conhecimentos e competências para o exercício da profissão. [...] a supervisão em Serviço Social é vista como um processo educativo, de ensino- aprendizagem, que se realiza na área do agir e ocorre em função da prática profissional, desenvolvendo o acompanhamento do trabalho prático cotidiano do aluno estagiário. A supervisão de estágio é essencial à formação do aluno de Serviço Social, enquanto lhe proporcione um momento específico de aprendizagem, de reflexão sobre a ação profissional. Supervisor e Supervisionado são sujeitos ativos do processo ensino-aprendizagem e da produção de um saber profissional, exig indo de ambos a convivência, ações proativas e corresponsabilidade, como sujeitos coparticipantes do processo educativo (MUNIZ, 1997, p. 30). A supervisão e o estágio são aspectos da formação profissional que estão particularmente ligados, e por isso, não podem ser estudados isoladamente. Asupervisão e o estágio organizam-se em elementos indissociáveis e espaços especiais de vivência e exercício que garantem a apropriação de elementos indispensáveis para a atuação profissional. De modo que a supervisão acadêmica e de campo determina: [...] A indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e de campo, em que o estágio, enquanto atividade didático pedagógica, pressupõe a supervisão acadêmica e de campo, numa ação conjunta, integrando planejamento, acompanhamento e avaliação do processo de ensino-aprendizagem e do desempenho do (a) estudante, na perspectiva de desenvolvimento de sua capacidade de investigar, apreender criticamente, estabelecer proposições e intervir na realidade social (ABEPSS, 2010, p. 13). A indissociabilidade entre supervisão e estágio é um dos essenciais fundamentos da formação profissional em Serviço Social, porque entende o processo ensino-aprendizagem que é criado na relação do professor-supervisor com o aluno, a partir da atividade cotidiana do estágio, por meio do reconhecimento da união entre os conhecimentos do Serviço Social e a realidade da prática profissional na sua relação com a demanda, com a instituição e com a realidade social. Assim supervisão de estágio em Serviço Social inclui-se em duas dimensões: supervisão de campo e supervisão acadêmica. Esses distintos, mas complementares processos, tem a necessidade de acompanhamento e orientação profissional. Dessa maneira, faz-se necessário compreender que a supervisão acadêmica é a prática docente sob a responsabilidade do professor supervisor no contexto do curso. E a supervisão de campo refere-se ao acompanhamento das atividades práticas do acadêmico pelo assistente social no campo de estágio. Ao supervisor acadêmico, está atribuída a responsabilidade pelo encaminhamento metodológico do estágio supervisionado, orientando quanto ao referencial teórico, 28 acompanhando o desempenho do aluno de acordo com o plano de estágio estabelecido em comum de acordo com a instituição; identificando carências teórico-metodológicas e técnico operativas do aluno e contribuindo para a superação da prática profissional vivenciada no estágio. [...] E se a supervisão pode ser entendida como uma at ividade didático -pedagógica possibilitadora da apreensão e assimilação do ensino da prática, ela se constitui basicamente numa at ividade docente. O que não significa dizer que seja uma atribuição da única e exclusiva competência do professor, mas partilhada com o profissional do campo na medida das suas possibilidades e limitações e numa relação de complementariedade (SILVA, 1994, p. 153). O assistente social, supervisor de campo no campo de estágio tem comprometimento com o ensino da prática acompanhando o estagiário na dinâmica do cotidiano do campo de estágio, formando um elo entre a prática profissional e o processo de ensino acadêmico. [...] Em síntese, cabe ao supervisor contribuir com o aluno na particularização da problemát ica que envolve a ação profissional no tocante às especificidades dos organismos institucionais, o que exige uma apropriação ao projeto acadêmico- pedagógico do curso e, em especial, às orientações adotadas no ensino da prática (IAMAMOTO, 1992, p. 206). Desse modo, supervisor acadêmico e o supervisor de campo criar um momento de articulação entre a instituição de ensino e o campo de estágio criando um elo entre o supervisor de campo, aluno estagiário e supervisor acadêmico, intimamente envolvidos num projeto coletivo e interdisciplinar, assim o supervisor de campo, acadêmico e estagiário compõem a denominada tríade do processo de estágio (LEWGOY, 2009). Ao modo que o supervisor acadêmico e o supervisor de campo devem estar intimamente ligados com uma ação integrada, a partir da qual possam discutir as diretrizes e o percurso metodológico que orientam o processo de ensino, objetivando a qualificação profissional do aluno-estagiário, bem como a garantia de um estágio que transmita confiança ao estagiário, assegurando- lhe experiência prática de qualidade, e que suas ações possam ser matéria-prima para reflexão crítica e ética. Essa ligação é fundamental para a responsabilização dos processos de reflexão, acompanhamento e sistematização da prática profissional, garantindo a formação de qualidade, a produção de conhecimento e o comprometimento com o projeto ético político. O curso de graduação em Serviço Social do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais (DCJS) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) estabelece o processo de estágio. Quanto à estrutura e orga nização deste curso, o estágio supervisionado está dividido em três componentes curriculares, correspondentes ao 29 Estágio Supervisionado em Serviço Social I, II e III, respectivamente. De acordo com o Regimento de Estágio Supervisionado em Serviço Social, o componente curricular de estágio atende às condicionalidades: Art. 5º. O Estágio Supervisionado compreende a realização de 525 horas de atividades, subdivididas em três componentes curriculares, ofertados em três semestres letivos subsequentes, conforme PPC [Projeto Po lít ico-Pedagógico] [...]. § 2º. Cada componente curricular p revê a realização de 175 horas, sendo 75 horas de atividade teórica, em sala de aula, e 100 horas de atividade prática, em campo de estágio. Art. 6º. Para matricular-se no componente curricular de Estágio Supervisionado em Serviço Social I e in iciar a realização do Estágio Supervisionado do Curso de Graduação em Serv iço Social o (a) acadêmico (a) deve ter integralizado uma carga horária mínima de 945 horas/aula (UNIJUÍ, 2011, p. 39). Assim o curso de graduação em Serviço Social da UNIJUÍ determina a realização de 100 horas práticas no campo de estágio sob a supervisão direta de um profissional assistente social do quadro de recursos humanos da instituição campo de estágio e 75 horas teóricas sob a supervisão acadêmica de um profissional assistente social, docente da Unidade de Formação Acadêmica (UFA), para cada um dos três componentes curriculares. Esta determinação está conforme as Diretrizes Curriculares de 1996 para os cursos de formação em Serviço Social (ABESS/CEDEPSS, 1997), em nível nacional. Sabendo que antes de dirigir-se ao campo de estágio é essencial que o aluno estagiário, faça uma articulação do conhecimento através do conjunto de componentes curriculares. Os componentes curriculares vêm ao encontro do objetivo da formação teórica para apreensão do conjunto de características da profissão, para então, concretizá-las através da prática, no estágio curricular supervisionado (CRESS, 2009). O Estágio Supervisionado em Serviço Social I sucede a inserção do estagiário no espaço sócio ocupacional do assistente social, propondo à observação da operacionalização do instrumental do Serviço Social, realizando também o reconhecimento da instituição, estrutura organizacional, planos, programas e projetos desenvolvidos pelo espaço, recursos humanos financeiros e materiais, as políticas sociais que perpassam a instituição e a identificação das demandas e dos usuários. Mas para isso se tornar concreto é necessário que a instituição reconheça o aluno estagiário como um sujeito em processo de formação e torne plausível sua inserção de forma ética e totalizadora neste espaço, buscando desvendar este cenário contraditório, "a proposta é passar de um olhar simplificador para um olhar crítico”. (LEWGOY E SCAVONI, 2002, p. 6). Ao modo que este processo tem como centro a observação da ação profissional que é realizada pelo assistente social supervisor de campo, com supervisão de campo e acadêmica. 30 No Estágio Supervisionado em Serviço Social II, está previsto a apreensão, reflexão e operacionalização dos elementos constitutivos do processo de trabalho no qualse inclui o assistente social; buscando a atitude investigativa, propositiva e criativa no Serviço Social; a construção do objeto; a análise e reflexão do contexto social relacionando o com a realidade local-regional. Ao modo que é nesta ocasião que o aluno estagiário toma parte nos atendimentos, sendo plausível a realização de intervenções e argumentações, assim através do estágio o aluno "[...] desenvolve a capacidade de problematização, ou seja, propõe questões, levanta hipóteses, infere deduções sobre as questões sociais, participa do jogo dialético de argumentar e contra argumentar”. (LEWGOY E SCAVONI, 2002, p.7). Nesse momento também ocorre a elaboração do projeto de intervenção, onde são definidas as ações, metodologia, metas, assim como, o cronograma, avaliação, objetivos e justificativa, que são orientadores da ação no Estágio Supervisionado em Serviço Social III. No Estágio Supervisionado em Serviço Social III põe-se em prática o exercício profissional, com o privilégio dos conhecimentos construídos até então, por meio da articulação teoria-prática, é o momento que proporciona o contato direto com o exercício profissional, com natureza interventiva do Serviço Social, que resulta na conquista da profissão. Porque é através do processo vivencial do estágio, que o aluno vai-se apropriando da profissão, de tal modo que lhe permite identificar-se como membro efetivo da profissão. (PINTO, 1997, p. 65). Desse modo, o/a estagiário/a realiza intervenções considerando a execução, o monitoramento e a avaliação do projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social construído no estágio anterior, com supervisão de campo e acadêmica, nesse momento, o estagiário tem maior autonomia, para escolher o tema e elaborar a proposta de intervenção, com o auxílio dos supervisores de campo e acadêmico. Portanto, o estágio supervisionado é considerado o lócus de construção da identidade profissional do aluno, buscando assim uma ação reflexiva, crítica, baseada nos conhecimentos teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político do Serviço Social, e, por isso, devendo ser uma atividade planejada e sistematizada pela unidade de ensino e respectivo campo de estágio, reunindo todos os aspectos que lhes pertencem: [...] o estágio, por ser o lócus propício para o treinamento prático -profissional, é também o espaço apropriado para o aluno traçar a sua matriz de ident idade profissional, por ser aí que ele desenvolve a sua aprendizagem, a sua responsabilidade, o seu compromisso e demais atitudes e habilidades profissionais. Neste sentido, as experiências dos alunos no estágio devem ser selecionadas, planejadas e afetas à sua formação profissional, pois “não são experiências quaisquer” (BURIOLLA, 1995, p. 24). 31 A participação do aluno no estágio cria o instrumento fundamental na formação da análise crítica e da capacidade interventiva, propositiva e investigativa do estagiário, que precisa apreender os elementos concretos que se organizam na realidade social capitalista e suas contradições, de forma a intervir, futuramente como profissional, nas diferentes expressões da questão social, que vem se agravando diante do modo de produção capitalista, da sociedade dividida em classes, e das consequências causadas na desregulamentação do trabalho e dos direitos sociais. 32 3 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL Este terceiro capítulo do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC está dividido em dois subitens: A organização da Política de Saúde no Brasil. No segundo subitem, aborda-se a implementação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) contextualizada e destacando o seu papel como unidade pública de Saúde. 3.1 A ORGANIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL Para falar sobre Política de Saúde é relevante dar ênfase nas ações implementadas ao longo das décadas 30 e 80 no processo de institucionalização da Política de Saúde no Brasil. A área da saúde tem passado historicamente por contínuas mudanças em suas políticas, que decorreram das várias articulações entre sociedade Civil e o Estado e que explicam, em cada conjuntura, as respostas sociais frente aos problemas de saúde. Nesse sentido, contextualizar o processo de desenvolvimento da Política de Saúde no Brasil, expõe à explicação do contexto histórico, político social e econômico de seu surgimento. No Brasil a preocupação com a saúde teve início com o modo de produção capitalista que gerou o processo de industrialização no país, ocasionando mudanças na vida da população no começo do século XX. Até a década de 1920 não havia política organizada por parte do Estado em relação à saúde, de modo que os demais trabalhadores se sujeitavam aos serviços médicos de filantropia ou serviços públicos que eram bastante precários, “[...] ou ainda aos profissionais liberais ou às formas de medicina popular” (BRAVO, 1991, p.65). Com a consolidação do sistema capitalista 2 e das políticas neoliberais houve transformações econômicas e políticas, produzindo a "[...] aceleração da urbanização e da massa trabalhadora, em precárias condições de higiene, saúde e habitação" (BRAVO, 2008, p .91). Assim, a saúde passa a ser considerada como questão social e com isso cria-se a redefinição do papel do Estado e o surgimento das políticas sociais, entre outras reivindicações dos trabalhadores. Nesse sentido, 2 Para Marx (2003[1867], p.828) O sistema capitalista pressupõe a dissociação entre os trabalhadores e a propriedade dos meios pelos quais realizam o trabalho. (...) O processo que cria o sistema capitalista consiste apenas no processo que retira ao trabalhador a propriedade de seus meio s de trabalho, um processo que transforma em capital os meios sociais de subsistência e os de produção e converte em assalariados os produtores diretos (MARX, 2003). 33 [...] a Saúde emerge como "questão social" no Brasil no início do século XX, no bojo da economia cap italista exportadora cafeeira, refletindo o avanço da div isão do trabalho, ou seja, a emergência do trabalho assalariado” (BRAVO, 2008, p.90). Nesse período os Assistentes Sociais são chamados para trabalhar com a questão social que surgia em decorrência da relação capital/trabalho. Com o crescimento da industrialização e das populações das áreas urbanas, surge a necessidade de controlar os trabalhadores, e, o Serviço Social coloca-se a serviço do Capital, inserindo-se em estruturas institucionais, cooperando no exercício do controle social e na reprodução da ideologia da classe dominante entre a classe trabalhadora. Somente no ano de 1921 com a reforma Carlos Chagas é que se deu início a uma política de saúde mais estruturada (BORBA, 1998). Essa reforma tenta ampliar o atendimento a saúde por parte do poder central, formando uma das estratégias da União de ampliação do poder nacional. Com a necessidade de garantir a reprodução da força de trabalho e o aumento das doenças, em função do processo de industrialização, os trabalhadores organizaram-se e mobilizaram-se, para pressionar o poder público pela sua atenção, exigindo melhores condições de trabalho, saúde e segurança social dos trabalhadores. Assim as políticas de proteção social são consideradas, produto histórico das lutas do trabalho, dado que respondem pelo atendimento de necessidades sugeridas em princípios e valores socializados pelos trabalhadores e reconhecidos pelo Estado e pelo patronato (MOTA, 2004). A primeira grande intervenção do Estado na área do seguro social acontece em 1919, com a criação do seguro de acidentes de trabalho, apenas para os trabalhadores urbanos. (COHN, 2002). No início do século XX a saúde pública no Brasil, esteve voltada para ações coletivas que tinham à sua disposição instrumentos de intervenção mais eficientes que a assistênciamédica individual. O sanitarismo campanhista era a principal característica da política de saúde, com seu modelo campanhista sanitário e a medicina previdenciária, de cunho privatista, curativista e restritivo àquelas profissões reconhecidas em lei, em que os trabalhadores pertencem ao mercado de trabalho formal. Assim, a organização da seguridade social brasileira esteve apoiada na "cidadania regulada" através da estruturação do seguro social e, nessa conjuntura, os trabalhadores eram considerados cidadãos inseridos no mercado formal, vinculando-se o direito social à saúde ao registro formal de trabalho no âmbito da 34 previdência social, representado pela união da medicina e do trabalho formal. Aqueles que não estavam empregados não tinham direito a assistência medica individual e seu acesso à saúde restringia-se a ações desenvolvidas pela filantropia. Neste período, no Brasil, este modelo expandiu-se no que se relaciona à previdência médica individual apoiada na "cidadania regulada". Ou seja, é um sistema de proteção social de caráter meritocrático, de caráter contributivo e compulsório (SANTOS, 1979). Esse tipo de Saúde Pública "[...] separava, artificialmente, a prevenção e a cura (tratamento), a assistência individual e a atenção coletiva, a promoção e a proteção em relação à recuperação e a reabilitação da saúde". (PAIM 2009, p. 31). Assim a separação entre a atenção médica curativa e as medidas preventivas de caráter coletivo se dava da seguinte forma: [...] de um lado, as ações voltadas pra a prevenção, o ambiente e a co letividade, conhecidas como saúde pública; de outro, a saúde do trabalhador, inserida no Ministério do Trabalho; e, ainda, as ações curativas e individuais, integrando a medicina previdenciária e as modalidades de assistência médica liberal, filantrópica e, progressivamente, empresarial (PAIM 2009, p. 31). Aquilo que conhecemos atualmente como saúde do trabalhador, desenvolveu-se só a partir de 1930, com a criação do Ministério do Trabalho. Portanto, há estudos que reconhecem, desde o início do século XX, a formação de três subsistemas de saúde no Brasil vinculados ao poder público: saúde pública, medicina do trabalho e medicina previdenciária (PAIM 2009). A medicina previdenciária, que surgiu na década de 30, com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs, pretendeu estender para um número maior de categorias de assalariados urbanos os seus benefícios como forma de “antecipar” as reivindicações destas categorias e não proceder uma cobertura mais ampla (BRAVO, 2001). Ela teve como marco histórico a unificação e absorção das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) pelos serviços do Instituto de Aposentadorias e Pensões (IAPs). A implantação da primeira CAP (Caixa de Aposentadoria e Pensões) em 1923, se deu através da Lei Eloy Chaves, considerada o ponto de partida da Previdência Social, que, instituindo o sistema de Caixas de Aposentadorias e Pensão (CAPS), atende, num primeiro momento, aos trabalhadores ferroviários e, posteriormente, é estendida aos marítimos e estivadores. (BRAVO, 2006). [...] Data de 1923 a instituição no Brasil, por iniciativa do poder central, das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPS), primeira modalidade de seguro para 35 trabalhadores do setor privado. (...) As CAPS, organizadas por empresas, por meio de um contrato compulsório e sob a forma contributiva, t inham como função a prestação de benefícios (pensões e aposentadorias) e a assistência médica a seus afilhados e dependentes (COHN, 2005, p. 14). Além da aposentadoria, os serviços oferecidos aos segurados das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPS), estavam, também, a assistência médica e o fornecimento de medicações. Durante a Era Vargas em 1930, no que se refere ao âmbito social, o foco estava nas questões trabalhistas e na tentativa de harmonizar empregados e empregadores. Nesse sentido, foram criados o Ministério do Trabalho, a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis Trabalhistas. Além disso, em 1933, nasceu uma nova organização previdenciária, os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs). Segundo NOGUEIRA (2002, p. 145) foi "consolidado um ideário favorável à relação pacífica entre trabalhador e empregador, na construção da ordem capitalista meritocrática brasileira". De 1933 a 1938, as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPS) são unificadas e absorvidas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), que vão sendo sucessivamente criados, agora congregando os trabalhadores por categorias profissionais e que, por causa do modelo sindicalista de Vargas, passam a ser dirigidos por entidades sindicais, e não mais por empresas como as antigas caixas. (COHN, 2005). Destaca-se também a criação do Ministério da Educação e Saúde. Nesta mesma década, a política sanitária nacional era organizada em dois subsetores: o de saúde pública e o de medicina previdenciária, havendo maior destaque e ampliação dos serviços de assistência médica na Previdência Social. [...] O subsetor de Saúde pública será predominante até meados de 60 e se centralizará na criação de condições sanitárias mín imas para as populações urbanas e, restritamente, para as do campo. O subsetor de medicina previdenciária só virá sobrepujar o de Saúde pública a partir de 1966 (BRAVO, 2006, p.91). A estrutura de atendimento hospitalar de natureza privada, com fins lucrativos, já estava montada a partir dos anos 1950 e apontava na direção da formação das empresas médicas, essa corporação médica estava ligada aos interesses dos capitalistas do setor e pressionava o financiamento por meio do Estado. Houve um relativo crescimento dos gastos da previdência social com a assistência médico-hospitalar, porém, a situação da saúde da população não conseguiu eliminar o quadro de doenças infecciosas e parasitárias e as elevadas taxas de morbidade e mortalidade infantil, assim como também a mortalidade geral. 36 Na América Latina, na segunda metade de 1950, a emergência de um campo nomeado como saúde coletiva está unida aos movimentos de renovação da saúde pública estabelecida, na condição de campo científico, espaço de práticas ou mesmo como atividade profissional. O campo da saúde coletiva organizou-se no Brasil a partir da década de 80 do século XX, e, pode ser entendida como uma ciência histórico-social, um conjunto de saberes e práticas relacionadas a um contexto amplo de ordem político social, ideológico e técnico científica (PAIM, 1998). A saúde coletiva enquanto campo específico de produção caracterizado por posturas de enfrentamento ao modelo de atenção à saúde em vigência amparada pelo Estado. Mostrava caráter de denúncia à lógica perversa que o capitalismo havia atingido a medicina. Possuía também caráter de militância política assumida por parte significativa dos profissionais desta área. No plano teórico confrontava-se com a medicina clínica de enfoque biologicista. Oferecia a integralidade sujeito/ator social, ao modo que as necessidades sociais de saúde são necessidades de reprodução social. Ou seja, estabelecem necessidades de classes que se singularizam nos diferentes grupos sociais determinados pela sua inserção na divisão social do trabalho que decide os variados modos de viver. Em 1953, com o apoio do ideário da Organização Mundial da Saúde (OMS) de ampliação das responsabilidades do Estado na proteção da saúde da população, foi instituído o Ministério da Saúde, o que se confirmou foi a transformação de muitas campanhas sanitárias em órgãos ou serviços responsáveis pela febre amarela, tuberculose, lepra, saúde da criança e fiscalização sanitária, além da criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), resultado de um convênio entre os governos brasileiro e norte-americano no período da II Guerra Mundial, segundo alguns, para a exploração da
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