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PEED1592-T

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
Maria Cecília Paladini Piazza 
 
 
 
 
 
 
 
Por entre corredores e refeitórios: escovando narrativas e memórias de auxiliares de 
serviços gerais escolares na busca de relações outras 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2021 
 
 
Maria Cecília Paladini Piazza 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por entre corredores e refeitórios: escovando narrativas e memórias de auxiliares de 
serviços gerais escolares na busca de relações outras 
 
 
 
 
 
 
 
Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Educação da Universidade Federal de Santa Catarina 
para a obtenção do título de Doutorado em Educação. 
Orientador: Prof. Dr. Elison Antonio Paim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maria Cecília Paladini Piazza 
Por entre corredores e refeitórios: escovando narrativas e memórias de auxiliares de 
serviços gerais escolares na busca de relações outras 
 
O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora 
composta pelos seguintes membros: 
 
Profa. Dra. Solange Maria Evangelista Mendes Luis 
ISCED-Huíla/Angola 
 
 
Profa. Dra. Maria de Fátima Guimarães 
PPGE/USF 
 
 
 Profa. Dra. Cyntia Simioni França 
MHP/UNESPAR 
 
 
Profa. Dra. Patrícia Magalhães Pinheiro 
 Rede Municipal de Educação de Palhoça 
 
 
Prof. Dr. Victor Julienne da Conceição 
CA/UFSC 
 
 
Profa. Dra. Josiane Beloni de Paula 
CAp/UFRN 
 
 
Profa. Dra. Carolina Fernandes da Silva 
PPGE/UFSC 
 
Certificamos que esta é a versão do trabalho que foi julgada adequada para a obtenção do 
título de doutorado em Educação. 
 
 
____________________________ 
Coordenação do Programa de Pós-Graduação 
 
 
___________________________ 
Prof. Dr. Elison Antonio Paim 
Orientador 
 
 
Florianópolis, 2021. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta produção às auxiliares de serviços gerais da Escola 
de Educação Básica Prof.ª Neusa Ostetto Cardoso, mulheres 
guerreiras e de fibra que fazem parte de todo processo 
educacional, porém muitas vezes tem suas vozes silenciadas. 
 
 
 
Florescer a partir das brechas 
 
Fonte: Ilustração artista Lírio, encomendada pela autora (2020). 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Em todo o ir e retroceder do meu pensamento, o que mais me comoveu a escrever 
sobre as pessoas às quais sou grata foi a fase em que quase desisti de prosseguir com o 
doutorado. Por isso, opto em focar e agradecer quem me ajudou a ir adiante, dando estímulo, 
apoio e coragem. Emociono-me quando rememoro tudo que passei e meu coração se enche 
de gratidão a todos que mencionarei nesse agradecimento. 
Sou imensamente grata às meninas guerreiras que tive a honra de entrevistar – Maria 
Jucélia, Leonir, Euza e Claúdia – pelos afetos, pelas amizades que temos umas pelas outras 
e por aceitarem participar e construir comigo esta tese de doutorado. Por cada uma tenho um 
imenso carinho e desde 2008, quando cheguei à escola e em seguida iniciei o mestrado em 
Educação, sempre me tocou mostrar a importância delas no processo de ensino-
aprendizagem. 
Grata à minha família, que me concedeu força e coragem para continuar o 
doutorado. Assim que Davi nasceu, passei por momentos difíceis, depressão pós-parto e 
vontade de abandonar tudo. Estava decidida em desistir. Porém, o apoio dos familiares fez 
com que eu continuasse essa jornada de pesquisa. 
 Minha família sempre me escutou e me escuta desde a infância, eles sabem o quanto 
o estudo é importante para mim e como move minha vida. Tenho paixão por transformar a 
sociedade, revolucionar os paradigmas impostos, me inventar e reinventar. Anseio sempre 
ousar com originalidade para ver um mundo mais bonito e justo, sem limites para sonhar. 
Foram várias as maneiras de apoio que no dia a dia nos passam desapercebidas, no 
entanto, nessa etapa da pesquisa quero enxergar o “miúdo-grandioso” que fizeram por mim, 
mas que fez toda diferença. 
Nessa escrita, as memórias vêm e vão, e nesse processo tudo que estou escrevendo 
está sendo aleatório, sem ordem, sem cronologia. Bem benjaminiana, deixo fluir meus 
relampejares e trago à tona as pessoas que me ajudaram em todo meu percurso de pesquisa e 
de vida. 
Josué, meu companheiro, paizão incrível, que na minha ausência, idas e vindas de 
Florianópolis sempre cuidou do nosso Davi com todo o zelo. Além disso, adoro apresentar 
para ele todos os debates que aprendo e desaprendo, ele já está craque em Benjamin e nos 
decoloniais. Quando eu quis desistir do doutorado, ele não permitiu. Disse que tudo daria 
certo. 
 
 
Grata também à minha irmã gêmea Ana Maria, que sempre me ajuda e me escuta 
meus devaneios e minhas loucuras. Nas minhas ausências para o estudo, ela que também é 
dinda do Davi, o leva para a casa dela, brinca, os dois juntos aprontam as mais incríveis 
aventuras. 
Minha outra irmã, Renata, é a quem eu mais gosto de apresentar e falar dos autores 
que estudo além da minha pesquisa. Ela me estimula demais e me ajuda nas questões 
burocráticas. 
Obrigada à vovó Eliane por ficar com Davi e, muitas vezes, dormir com ele 
enquanto eu estava estudando. Minha sogra me ajuda sempre que preciso, principalmente 
nos mandando comidinhas deliciosas. O Dom Divino dela é servir e cuidar. Mal pisamos na 
casa dela e a primeira coisa que fala: querem jantar? Querem almoçar? Querem café? Não 
importa o horário, ela está sempre disponível a nos servir um banquete com muita fartura. 
Agradeço também o vovô Teixeira, que sempre me incentivou. Desde que o Davi nasceu, 
com o fato de eu ter que ir a Florianópolis, ele junto com a vovó Eliane, levavam o Davi para 
passear e ajudavam na minha ausência. 
À minha mãe Marly, que é alegria pura. Sempre que podemos, Davi e eu vamos 
tomar cafezinho na casa dela. É muito engraçado, porque sempre quero apresentar ou discutir 
algum assunto benjaminiano com ela, porém ela não aguenta mais me ouvir. Mas no final 
sempre é a que mais me escuta. Não é muito de cozinhar, mas quando estou focada 
escrevendo, ela faz o melhor feijão que já comi na minha vida. 
Ao meu pai, Atemar Piazza, poeta convicto, quem sempre será meu maior 
incentivador. Perdê-lo foi e está sendo muito triste, mas ao mesmo tempo me fortaleço nos 
seus ensinamentos e no exemplo de pai que foi conosco. A pessoa mais incrível que eu já 
conheci, da qual tenho uma admiração que transcende esse plano terrestre. Tive uma infância 
sensacional devido ao esforço dele em nos proporcionar todo conforto material, emocional, 
espiritual e intelectual. Proporcionando para nós osmelhores estudos, melhores livros, as 
mais belas poesias que guardo em minha alma. Não existe melhor herança. Tenho um grande 
objetivo de vida, quero que o meu pai se orgulhe de mim assim como eu me orgulho dele. O 
tratamento dele com as pessoas é o que mais martela em minha cabeça. Sempre lendo seus 
livros para nós, um amante da literatura, fã de Fidel Castro, Che Guevara, dentre tantos outros 
revolucionários. Fico abismada com a educação, a postura ética e compromissada que ele 
tinha com a sociedade. Minha agenda escolar só tinha escrito os ensinamentos e poesias que 
ele nos recitava. Eu estava sempre atenta aos conselhos do meu pai, quando algo me afligia, 
ele dizia: “não te preocupa, o mesmo sol que derrete o chocolate endurece o concreto”. Aí eu 
 
 
dizia: “deixa eu anotar isso para gravar na minha alma”. Ele ia conversando e falando trechos 
de poesias para mim e eu ia me acalmando. Tem uma poesia da Cecília Meirelles que até 
hoje está no meu diário: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre 
inteira”. 
Não posso deixar de mencionar meu irmão Joao Paulo, que também sempre me 
incentiva, muito guerreiro e determinado e disposto, não se cansa de ir rumo aos seus 
objetivos e com seu exemplo me incentiva nessa jornada de pesquisadora. 
Agradeço demais ao meu amigo-professor Elison Antonio Paim, por acolher meu 
projeto, por acreditar em minha capacidade, pelos diálogos e pela criação em conjunto, que 
me orientaram a seguir o caminho correto, ensinando-me lições de prudência e abrindo meu 
horizonte para novas possibilidades e desaprenderes. Além do mais, me encorajou a 
alimentar esperanças e lutas por uma educação intercultural, libertadora, transformadora e 
decolonial. Quando fui conversar com ele sobre minha desistência, Davi tinha um mês e o 
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina 
(PPGE) estava lotado de gente para fazer a matrícula, e o professor Elison, que na época 
também era coordenador do programa, me chamou num canto, naquele ‘vuco-vuco’, me 
olhou nos olhos e disse para eu não desistir. Assim, ele me fez assinar o papel da matrícula, 
eu dando de mamar para o Davi, que não desgrudava do meu peito, assinei os papéis e saí 
faceira de lá. Em seguida, quando eu já estava em Araranguá, me mandou uma mensagem 
no meu Whatsapp dizendo que ofertaria uma disciplina quinzenal e que daria total apoio para 
eu prosseguir. Chorei demais quando li aquela mensagem e percebi que há gente sendo gente, 
há humanidade, há esperança, há solidariedade, há compaixão, há um verdadeiro professor, 
no sentido mais complexo e profundo do que é ser um professor. Sinto gratidão por todas as 
críticas que me fizeram amadurecer, pois elas constituíram em mim um espírito de 
pesquisadora que me incentiva a seguir adiante. Agradeço demais o professor Elison, porque 
por meio das suas inesquecíveis aulas fui instigada a pesquisar e compreender muitas 
questões do universo benjaminiano e da decolonialidade. Nas rodas do grupo de estudo, ele 
nos chamou para uma decolonialidade do saber, num constante exercício de desaprender os 
nós opressores da colonização que muitas vezes estão tão impregnados em nós. Além disso, 
sempre nos provocou para a importância de falar do lugar de onde viemos, das nossas 
experiências no dia a dia escolar. Por isso, o insight em trazer à tona as memórias das 
auxiliares de serviços gerais da minha escola a fim de escutá-las e valorizá-las. 
Agradeço também às/aos professoras/es do Programa de Pós-Graduação em 
Educação da Universidade Federal de Santa Catarina por ampliarem os horizontes de minha 
 
 
compreensão nesses anos de doutorado. Este agradecimento é válido também para outras/os 
tantas/os professoras/es desta universidade e de todo meu percurso estudantil, com os quais 
pude aprender e partilhar saberes. 
Meu agradecimento é também dirigido à banca que examinará esta tese: por 
aceitarem o convite e pelo trabalho, paciência e disposição que terão em lê-la. 
Além disso, sou grata a todes as/os colegas e amigas/os do curso de Doutorado em 
Educação, pelos excelentes debates e por tornarem o doutorado um lugar bom de estar e de 
se aprender, de se motivar, de construir afetos. Às colegas, que hoje não são apenas colegas, 
mas também amigos e amigas: Carol, Técia, Giovanna, Josi, Paty, Ana, Jéssica, Sil; aos 
amigos Pedro, Guilherme Big, Guilherme, Vavá, Odair e outros que não tive muito contato 
pessoal, mas que fazem parte do nosso grupo de pesquisa e sinto admiração e carinho. Vocês 
descortinaram muito o meu olhar com discussões que vou levar para meu modo de ser, viver, 
sentir, saber e pensar. 
Muitíssimo grata à Patrícia, Bruno e Giovanna pela disposição paciência e ajuda nas 
questões referentes às normas da ABNT e sugestões que me propuseram. A Paty que me 
ajudou com a Plataforma Brasil, etapa chata e burocrática, por não entenderem nossas outras 
lógicas que assumimos na área das ciências humanas. Inclusive, tive que fazer três cartas me 
justificando para Plataforma Brasil sobre as mônadas e minhas entrevistas com as auxiliares 
de serviços gerais escolares. A Giovanna, uma querida, amada que transcreveu as entrevistas 
e me ajudou a organizar o texto. 
Grata à direção, aos amigos e colegas da escola, que me encorajam, que me chamam 
de louca, de revolucionária, pois estou sempre mostrando outras visões de vida e de mundo 
e muitas vezes esse elogio à loucura é que me faz prosseguir e me agarrar na fé que tenho em 
Jesus. Meu grande mestre que nos ensina a amar sem discriminações, porque Ele mesmo foi 
exemplo de tudo isso ao amparar as prostitutas, ladrões, leprosos e tantas/os outros 
marginalizadas/os. 
Enfim, aprendo muito com todes que fazem parte do meu cotidiano, com detalhes 
ínfimos que a gente nem faz ideia, pois cada gesto, cada brincadeira, cada abraço, cada beijo 
e outras formas de afetos são ensinamentos e lições que se eternizam, que são imensuráveis 
e, numa visão pragmática, não nos damos conta, mas é através de todos esses afetos, partilhas 
e na coletividade que nos formamos. 
Por último, quero dizer que diante de todos os estudos e as leituras que venho 
fazendo desde criança, com meus pais nos contando histórias da coleção “O mundo da 
criança”, o que me vem à tona é que mesmo tendo momentos de tempestades, sempre vem o 
 
 
sol, o cheiro de mato, os passarinhos. Com todos aqueles que me rodeiam, tanto na minha 
profissão quanto no meu círculo familiar e meus amigos, quero me embasar nos 
ensinamentos do poeta Manoel de Barros, Walter Benjamin, Guimarães Rosa e os autores 
decoloniais. Como diz Manoel de Barros, devemos ser apanhadores de desperdícios e de 
lindezas, ou seja, minha intenção é ser luz mesmo em noite escura, é mostrar modos outros 
de ser, saber, sentir e viver, mostrar outras possibilidades de epistemologias mais atentas às 
vozes silenciadas, aquilo que foi expulso da história e que não nos foi contado. Quero 
procurar as bonitezas e as brechas que há em meio às ruínas. Apesar de haver tristezas, altos 
e baixos, foco no bem que encontro pelo caminho, assim tento ser como uma passarinha 
carregando a bagagem de bondade, catando gravetos de cheiro para esquentar e sustentar 
quem se achegue a mim, mostrando possibilidades outras de se viver. 
Talvez a vida tenha nos feito acreditar que há mais ruínas, injustiças e desafetos. 
Mas como vocês sabem, eu sou chata e até insistente em falar: há as brechas, é fácil encontrar,pois nós pulsamos amor e isso é nossa essência, está em cada um de nós. Basta a gente buscar 
e nos contrapormos aos automatismos da vida cotidiana para produzir enraizamentos mais 
profundos. A vida é assim, são vários fios que vão nos construindo, é uma dialética como 
uma teia de aranha, é um mosaico. Quebra aqui, remenda ali, retoma lá, volta aqui, vai de 
novo, junta os caquinhos novamente e reconstrói. E diante de tudo isso, temos que focar na 
altivez da alma, no belo, no bem, na justiça, no amor e na gratidão. Que sejamos sempre 
catadores de amor, de justiça social, de justiça epistemológica. Está é minha gana. Obrigada 
por fazerem parte da minha vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PREÂMBULO 
 
Nesta primeira etapa agradeço a Deus por ter nascido nesta dimensão e me conceder 
essa rebeldia e desejo que tenho por revolucionar e virar do avesso os equívocos que nos 
foram impostos. Essa indignação me trouxe até aqui e possibilitou, mesmo com tantas 
adversidades, trabalhar de corpo e alma neste projeto que está entranhado dentro de mim. 
Uma missão que vem do Amor pela vontade de justiça, tanto social quanto epistemológica. 
Sou imensamente grata à Maria Jucélia (Nega), à Euza, à Leonir e à Cláudia por aceitarem 
participar e construir comigo esta tese de doutorado. Para começarem a conhecer as 
narradoras desta pesquisa deixo com as/os leitoras/es as fotografias e algumas linhas a seguir. 
No capítulo de introdução, voltarei a apresentá-las. 
A Euza, com seu jeitinho amoroso, sempre demonstrou preocupação, não só 
comigo, mas com todas/os1 que a cercam. Como na vida há altos e baixos, às vezes chego à 
escola um pouco aborrecida e logo vem a Euza conversar comigo e me animar. Ela percebe 
só em me olhar se estou triste ou não. E então diz: “Hoje não estás com aquele brilho, o que 
houve?” Tem muita sensibilidade, só em conversar com ela já me empolgo novamente, 
sempre carinhosa e atenciosa com todas/os. Também possui muito senso de humor, 
compartilhamos várias risadas com suas piadas. Além disso, com toda sua experiência 
sempre me transmite bons conselhos sobre a vida, os quais gravo na minha alma. 
 
Figura 1 – Fotografia Maria Cecília e Euza. 
 
Fonte: Arquivo pessoal (2020). 
 
 
1 Opto por trazer na tese tanto o feminino quanto o masculino, marcando uma posição política mais inclusiva. 
 
 
A Nega2 possui um silêncio que é repleto de sabedoria, nós nos olhamos e, mesmo 
sem ela me dizer nada, já sinto uma profundidade gigantesca em sua alma. Abraçamo-nos 
bem apertado e compartilhamos muito afeto uma com a outra, mas percebo que ela é assim 
com todo mundo, sempre carinhosa e muito sábia, uma sabedoria que verdadeiramente se 
baseia em Jesus. Só em ficar perto dela já me sinto bem. 
 
Figura 2 – Fotografia de Maria Cecília e Maria Jucélia (Nega). 
 
Fonte: Arquivo pessoal (2020). 
 
A Leonir é engraçada demais, apesar das angústias que ela sofre, com problemas 
familiares, está sempre bem humorada e adoramos conversar e colocar o papo em dia, ela 
procura sempre estar de bem com a vida, a despeito das dificuldades. 
 
Figura 3 – Fotografia de Leonir e Maria Cecília. 
 
 Fonte: Arquivo pessoal, 2020. 
 
2 Refiro-me à Maria Jucélia, que consente com a uso desta denominação como forma afetuosa de tratamento. 
 
 
A Cláudia é cativante, um ser humano do bem e tem grande caráter. Além disso, 
possui um sorriso e um brilho no olhar que são contagiantes. Encho-me de orgulho em 
construir esta pesquisa junto com vocês, agradeço profundamente pelo afeto, carinho e 
companheirismo que temos no nosso cotidiano escolar. 
 
Figura 4 – Fotografia de Cláudia e Maria Cecília. 
 
Fonte: Arquivo pessoal (2020). 
 
 Peço-lhes licença, agora, para explicar-lhes nesta primeira etapa o porquê desta 
pesquisa e do motivo de escolha por entrevistá-las. Acredito que tudo começou no exemplo 
que tive em casa com meu pai. No ir e retroceder do meu pensamento, ele paralisa e me 
remete a pensar como fui parar num doutorado em Educação na Universidade Federal de 
Santa Catarina (UFSC) e assim me deparar com teorias e assuntos que tanto mexem com 
minhas sensibilidades. Sem dúvida alguma, volto a pensar no meu pai, que vivia recitando 
poesias. Ex-seminarista, foi professor de literatura, amava a literatura, sempre com enorme 
senso de justiça social. Formou-se em Direito e sempre nos incentivou a ler e entender 
questões referentes às injustiças sociais. Num de meus relampejares, dou-me conta do quanto 
rememorar a imagem do meu pai recitando poesias para mim e para minhas/meus outras/os 
três irmã/ãos me moveu para o doutorado em Educação e para a escolha de entrevistá-las. 
Quando meu pai começava a recitar poesias, nós quatro riamos dele, pedíamos para parar, 
pois estávamos assistindo televisão, sua declamação estava nos atrapalhando. 
Em nossa racionalidade instrumental3, tudo isso parece algo tolo, mas não é, óbvio 
que não é. Ao contrário, fico refletindo o quanto essa ‘vivência’ (Erlebnis) no decorrer do 
 
3 Adorno e Horkheimer fazem uma crítica a redução do pensamento racional da sociedade moderna que é 
incapaz de transcender o imediato, afetando o conhecimento ao torná-lo unidimensional e instrumental. Dessa 
 
 
 
tempo transformou-se numa ‘experiência’(Erfahrung); isso toca minha alma.4 Essa imagem 
de meu pai recitando poemas mexe demais comigo, permite esticar meu horizonte, coloca do 
avesso uma memória que estava adormecida. Desperta em mim uma relação artesanal com 
as palavras. Estou escrevendo e uma avalanche de pensamentos vem à tona. Com calma, 
reflito sobre esse pequeno fragmento de minha infância e me dou conta da dimensão do todo 
que nele está contido. Ao me reportar à imagem do meu pai, capturo que estou em toda essa 
trajetória de pesquisa por causa dele. O pensar poético dele e sua paixão pela literatura 
respingaram em mim. Seu entusiasmo, seu fascínio pela educação, pela literatura e a sua 
postura em olhar para o outro sempre de coração aberto e livre de amarras introduziram-no 
num caminho que foi contra todos os processos que promovem angústia, insatisfação, 
rivalidade, humilhação e formas de infelicidade. A pessoa mais incrível que eu já conheci, 
da qual tenho uma admiração que transcende esse plano terrestre. Não existe melhor herança, 
e com isso enfatizo o quanto sou agradecida a ele por nunca querer parar de ler e estudar. 
Peço-lhes licença também para explicar, nesta declaração inicial, de onde venho e 
porque me considero uma apanhadora de sensibilidades. Venho da cidade de Araranguá, no 
sul de Santa Catarina. Escrevo sob a perspectiva de uma professora, orientadora pedagógica 
e mãe que busca estimular todas/os a confiar em si mesmo, pregando uma generosidade que 
almeja um mundo mais justo. Durante toda minha trajetória acadêmica estudando Benjamin, 
desde o mestrado que defendi em 2016 na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), 
como também neste momento do doutorado, outras inúmeras perguntas surgiram. Decidi, 
então, após minha defesa da dissertação, investigar onde eu poderia dar continuidade aos 
meus estudos sobre as temáticas benjaminianas. Foi quando resolvi matricular-me numa 
disciplina do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE-UFSC) que trata das 
temáticas referentes ao universo de Walter Benjamin.Tudo conspirou para eu conhecer meu 
 
maneira, utilizo racionalidade instrumental pensando na perspectiva da reprodução alienada da realidade em 
que o triunfo da racionalidade instrumental assume uma postura perversa e violenta. Pois, na medida em que 
dilacera o saber/conhecimento legitimando verdades ao renunciar a dialética que coexiste, reproduz uma 
totalidade repressiva que se submete ao conformismo da imposição de formas sociais determinadas, eliminando 
as contradições do que é dado. 
4 O conceito de experiência atravessa toda a obra benjaminiana e nela o filósofo distingue duas definições que 
se desenvolveram de diferentes formas ao longo do tempo. Por Erfahrung (experiência autêntica ou experiência 
transmissível) definiu um fenômeno nas relações humanas que está em declínio, junto do modo de produção e 
de comunicação artesanal, característico da vida em comunidade. Já a Erlebnis (experiência vivida ou vivência) 
encontra-se em ascensão na modernidade, pois é aquela que corresponde ao indivíduo solitário. Utilizamos 
traduções propostas em Benjamin (2012), cujo o prefácio escrito Gagnebin (in BENJAMIN, 2012, p. 9) traz 
grandes contribuições para entender o conceito utilizado nesta tese. Nas palavras da autora: “O que nos interessa 
aqui, em primeiro lugar, é o laço que Benjamin estabelece entre o fracasso da Erfahrung e o fim da arte de 
contar, ou, dito de maneira inversa (mas não explicitada em Benjamin), a ideia de que uma reconstrução da 
Erfahrung deveria ser acompanhada de uma nova forma de narratividade”. 
 
 
professor e orientador-amigo, Elison Antonio Paim. Pensem o quanto fiquei comovida e 
muito inspirada a continuar meus estudos. Foi nítido para mim que esta postura do professor 
Elison em construir relações mais horizontais me motivou a continuar, pois em relações 
assim ocorrem experiências mais enraizadas, há atravessamentos, e com isso relações mais 
efetivas. Esse vínculo dele conosco, essa relação de amizade entre orientador e orientanda/o, 
me convidou a mergulhar no projeto e a encarar as turbulências. Posso afirmar que o 
envolvimento dialógico e criativo é o que se converte numa experiência plena, numa 
perspectiva benjaminiana. 
 Nem me importava com o trânsito caótico de Florianópolis e a distância de 
Araranguá à capital catarinense. Nossos debates e rodas de conversa mexiam tanto comigo e 
com minha perspectiva de visão de vida e de mundo que me sinto grata ao Universo por estar 
no lugar certo e na hora certa. Sempre chegava em casa empolgada, partilhando com Josué, 
meu companheiro, toda a experiência que tinha experienciando, tudo fluiu na sua mais 
perfeita ordem, algo Divino. Fiz a disciplina isolada e logo participei do processo seletivo. 
Ao escrever meu projeto de pesquisa, pensei muito sobre o que o professor Elison falava nas 
aulas, perguntava-nos o que no nosso cotidiano nos atravessava, nos movia, nos incomodava, 
sobre que temáticas sentíamos uma paixão. Aí, conversando com minhas colegas Tati e Josi, 
comentei para elas o quanto me inquietava o silenciamento das auxiliares de serviços gerais 
da escola em que eu trabalhava e o quanto elas são primordiais no processo educativo, porém 
pouco valorizadas e escutadas. Isso permeia minhas indignações. Comentei com a Tati e com 
a Josi, e num desses relampejares nas conversas com elas, veio-me a ideia de rememorar 
essas vozes sequestradas. Certa vez, numa fala inusitada da Euza, servente da escola, captei 
um sentimento de cansaço e de desestímulo: “Pois é Cecília, fico chateada porque sempre 
que há confraternização dos professores, só lembram de nós quando é para cozinhar, caso 
contrário, nem nos convidam”. Esse fragmento de memória que me saltou e está saturado de 
tensões, deslocou-me para puxar esse fio e trazer essa questão da invisibilidade e da potência 
educativa dessas mulheres. 
Outro fato que me impulsionou no projeto de pesquisa para rememorar as histórias 
das auxiliares de serviços gerais foi uma vez que sugeri que, numa formatura do Terceirão, 
as auxiliares fossem homenageadas; ninguém acatou minha ideia e quem foi homenageado 
foi um político que nem faço questão de lembrar, nem mencionar. Ali começou minha 
mobilização em escrever, uma história individual, um passado que não passou porque ainda 
machuca. E, eu, enquanto pesquisadora trago à tona na mônada abaixo, nesse fragmento de 
história que me inquieta: 
 
 
Detalhes do cotidiano 
 
Para mim uma formatura de Terceirão tem que chamar quem está ali batalhando. 
Não é para se chamar lá o político, fulano ou ciclano. A Euza principalmente né, 
que está sempre ali pra abrir o portão, pra fechar o portão, pra atender uma pessoa 
que vem entregar uma coisa, é... Sempre está ali, sábado e domingo. Um alarme 
que toca, daí é tu que chama (Maria Jucélia, 2019). 
 
No movimento do meu pensamento, paro e penso que foi com a ajuda do professor 
Elison, das conversas informais com a Josi e a Tati, e também de uma inquietação que me 
corrói por dentro, que decidi por esta pesquisa. Além disso, em todo o percurso tive a honra 
de conhecer as/os autoras/es decoloniais, que me ajudam a pensar nas histórias menores, 
numa concepção contra hegemônica. Estava movida pelo entusiasmo em me despir, de me 
desprender de valores e de preconceitos que estão tão impregnados em nosso corpo e em 
nossa estrutura social. Considero-me uma buscadora de olhares outros para continuar 
pesquisando. 
Na disciplina isolada que fiz, antes de me tornar estudante regular, saía de Araranguá 
às 4h da manhã para participar da aula do professor Elison Paim, e voltava sentindo-me muito 
provocada e instigada. Até então ainda não tinha o Davi. Em todas as minhas reflexões, 
percebia que todos aqueles debates me afetavam demais. Nunca esqueço de quando fui entrar 
na sala do professor Elison, e ele estava recitando a poesia do Manoel de Barros, “O 
apanhador de desperdícios”. Esse poema acompanha-me desde minha infância, quando meu 
pai o recitava para minhas/eus irmãs/os e para mim. Também na época da graduação e sempre 
que eu o lia, era uma inspiração. Quando escutei-o novamente na voz do professor Elison, 
um sentimento de pertencimento tomou conta do meu ser. Ali, tive a certeza de que estava 
trilhando um caminho que tem tudo a ver com as minhas aspirações e anseios. Em minha 
escrita, atravessa-me uma vontade indomável de driblar o excesso de estímulos e as 
fantasmagorias que permeiam nosso cotidiano, que nos iludem e nos afastam do que 
realmente importa. O grande esfacelamento nas relações e nos silenciamentos me 
atormentam, porque nesse processo são desconsideradas outras vozes, outras concepções de 
mundo e de vida, inclusive no nosso ambiente educacional. 
Em toda a minha trajetória, sempre me inquietou sair do automatismo da ação para 
me atentar às novas rupturas, a fim de trazer outros elementos e questionamentos para tentar 
desestabilizar, deslocar e produzir outros efeitos que resistam à concepção do nosso atual 
sistema neoliberal. Todos nós narramos e o que me inspirou demais foi quando o professor 
nos encorajou a construir histórias em fragmentos, não lineares e não cronológicas, as 
mônadas. 
 
 
Em minha pesquisa no mestrado, abordei a escrita benjaminiana, que não se submete 
à imposição de nenhum sistema fechado, ou seja, nela há a possibilidade de se ter sempre 
uma reflexão crítica, devido à sua rebeldia constitutiva. O que interessa na escrita do filósofo 
é a sua não linearidade e a possibilidadede ir e vir. Assim sendo, quando reflito sobre a 
escrita benjaminiana, há a possibilidade de tornar o conhecimento aberto a novos olhares, 
considerá-lo mais plural e receptivo às novas perspectivas, vem a possibilidade de nos 
desvencilharmos de certas verdades e experimentarmos outras alternativas, diferentes das 
quais estávamos habituados. 
Para Benjamin há inúmeras histórias simultâneas e é a partir do presente que 
escolhemos o passado que nos interessa, podendo optar por uma outra história. Por exemplo, 
eu poderia investigar outras inúmeras temáticas no âmbito educacional e, no entanto, resolvi 
rememorar as vozes das auxiliares de serviços gerais da escola em que trabalho. Foi uma 
escolha, por acreditar numa outra concepção de valores e epistemes. Assim, encontro na 
metodologia da mônada benjaminiana a possibilidade de, a partir do momento presente, 
reconstruir uma memória repleta de complexidades e riquezas capaz de mudar 
permanentemente o passado, pois, para Benjamin, não é o passado que determina o presente, 
mas sim o presente que escolhe o passado que lhe interessa. E foi nessa perspectiva que o 
professor Elison nos motivou para uma escrita que oportuniza a experiência de “liberar-nos 
de certas verdades, de modo a deixarmos de ser o que somos para ser outra coisa para além 
do que vimos sendo” (LARROSA, 2014, p. 9). 
Em nossos encontros do Grupo de Pesquisas, Patrimônio, Memória e Educação 
(PAMEDUC/UFSC), nas aulas com professor Elison e nos seminários com a professora 
Cyntia Simioni França, uma constante reflexão era feita sobre a mônada benjaminiana e essa 
metodologia avessa ao convencional. É importante enfatizar, nesse Preâmbulo, que essa 
perspectiva metodológica da mônada, repleta de relampejares, compõe o estilo do 
pensamento benjaminiano que nos remete a pensar num mosaico, e conseguimos perceber o 
quanto a escrita em Benjamin se constrói nesta mistura do ir e do vir, imersa em totalidades 
que se estilhaçam e em seguida se recompõem. É, justamente, nesse exemplo da escrita 
benjaminiana que o professor Elison nos estimula a escrever, e para mim é empolgante 
demais esse estilo que se mostra repleto de fragmentos que contemplam uma perspectiva 
preocupada com o todo social e com o acolhimento de todas as possibilidades que uma época 
pode conter. 
Portanto, no decorrer desta tese de doutorado, visitando as memórias das auxiliares 
de serviços gerais da escola em que trabalho, quero tentar me inspirar na escrita benjaminiana 
 
 
e na autonomia que o professor Elison nos concedeu para tal. E, em meio à agitação de um 
cotidiano escolar, ao rememorar essas histórias, enxergo uma brecha para apanhar e detectar 
as sensibilidades que infelizmente estão tão adormecidas. Meu desejo é que esta pesquisa 
contribua para uma outra postura epistemológica e também para o grande desafio que é 
escrever com elas, as auxiliares de serviços gerais, pontuando seus saberes, angústias e 
anseios a partir do lugar e do tempo delas. Sinto-me honrada com a possibilidade de 
oportunizar, nesta pesquisa, que as auxiliares de serviços gerais se expressem e rememorem 
seus passados que estão muito vivos no presente, em seus corpos e narrações, enriquecidas 
de memórias e experiências. Coloco-me, humildemente, como uma apanhadora de 
sensibilidades para trazer à tona os relampejares que essas mulheres me trouxerem, esse 
passado que lateja no presente. Sinto paixão em percorrer outros caminhos, fora do 
sistemático, racional e pré-estabelecido. 
Esclareço também que tenho privilégios por ser mulher branca, nascida numa 
família que pode dar total apoio, não necessariamente sou uma representação das minhas 
lutas, mas com certeza elas representam os meus valores e princípios. Quando a definição 
sobre o lado da trincheira for além da motivação individual, teremos uma verdadeira 
revolução. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Esta tese tem como objetivo rememorar as narrativas de quatro mulheres, brancas, auxiliares 
de serviços gerais da Escola de Educação Básica Professora Neusa Ostetto Cardoso do 
município de Araranguá, Bairro Polícia Rodoviária, em Santa Catarina. Escutá-las a partir 
do universo que as abrigam, suas particularidades de serem mulheres, auxiliares de serviços 
gerais numa escola estadual de Santa Catarina, bem como identificar suas singularidades, é 
uma maneira de disseminar outra postura epistemológica para compreendermos de que forma 
as narrativas nos revelam o contexto social, cultural e histórico de uma época. Trata-se de 
romper com o silenciamento que estas vozes sofrem no âmbito educacional e assim 
evidenciar o valor de suas participações nos processos educativos. Como podemos nos 
decolonizar e encontrar brechas para fazer emergir modos outros de ser, saber, fazer, sentir e 
viver, decolonizando nosso tempo? De que formas podemos evidenciá-las enquanto sujeitos 
sociais que participam efetivamente do processo educacional em espaços informais da 
escola? Quais problemáticas atuais podemos extrair das sutilezas de suas narrativas? O 
estudo se desenvolveu a partir das narrativas orais, coletadas em entrevistas e transcritas para 
a posterior construção das mônadas, intercaladas com o estudo das fontes bibliográficas e 
documentais. A metodologia fundamenta-se na concepção de narrativa, experiência e 
memória, organizada na proposta das mônadas, ideia extraída do pensamento de Walter 
Benjamin, mas também motivada por leituras decoloniais. Estabeço aproximações com os 
textos do filósodo berlinense e seus intérpretes, tecendo relações com as/os autoras/es 
latinamericanos, como Catherine Walsh (2013), a partir da conceitualização das brechas 
(grietas), Aníbal Quijano (2007) com os conceitos de colonialidade do poder, do ser e do 
saber, e também com Santiago Castro Gómez (2007), a partir da sua análise sobre La Hybrys 
del punto cero. Somam-se também as contribuições de Boaventura de Souza Santos (2010) 
ao propor uma ecologia de saberes associada à transdisciplinaridade, e as poesias de Manuel 
Barros (2018), o poeta atento às desimportâncias. Interessa, nesta pesquisa, a construção de 
uma história aberta, capaz desestabilizar as estruturas de poder que se reproduzem no espaço 
escolar. O texto está organizado em quatro momentos. Na introdução, desenvolvo como se 
deu o processo da pesquisa, com a apresentação de um breve memorial. No primeiro capítulo 
introduzo a escola e as narradoras desta tese, explicitando a proposta das mônadas, para em 
seguida articular os conceitos benjaminianos e as leituras da decolonialidade a respeito da 
rememoração. No segundo capítulo, atento-me as passagens dos corredores da escola onde 
nossas trocas acontecem, e no terceiro me atenho ao estudo das correspondências tecidas 
entre os poemas de Manuel de Barros, a decolonialidade e a perspectiva benjaminiana para, 
no capítulo final, intervir em favor de uma escrita ensaística. Consideramos que a ação de 
dialogar com suas memórias e experiências desvelou a necessidade de melhorar suas 
condições de trabalho e de valorização no espaço escolar. Além disso, no processo de 
rememoração de pesquisa estabelecemos uma outra qualidade temporal, em comparação ao 
tempo corrido imposto pela dinâmica de funcionamento da escola. Um dos objetivos iniciais 
foi o de compreender a importância das auxiliares de serviços gerais para a educação, e ao 
final concluímos que elas mesmas se revigoraram em sua autoestima, chegando ao desfecho 
de que é pela linguagem, e em especial, pela narração que nossas relações se intensificam e 
adquirem sentido. 
 
Palavras-chave: Educação,Auxiliares de serviços gerais escolares; Memórias; 
Experiências; Decolonialidade. 
 
 
ABSTRACT 
 
This pdh aims to dialogue with the narratives of four white women, general service assistants 
at the Basic Education School Teacher Neusa Ostetto Cardoso in the city of Araranguá, 
Polícia Rodoviária district, in Santa Catarina. Listening to them from their universe, their 
particularities of being women, general service assistants in a state school in Santa Catarina, 
as well as identifying their singularities, is a way of disseminating another epistemological 
posture to understand how the narratives reveals the social, cultural and historical context 
that an epoch can contain. It’s about breaking with the silencing that these voices suffer in 
the educational sphere and thus highlighting the value of their participation in educational 
processes. How can we decolonize ourselves and find gaps to make other ways of being, 
knowing, doing, feeling and living emerge, decolonizing our time? In what ways can we 
highlight them as social subjects who effectively participate in the educational process in 
informal spaces of the school? What current issues can we extract from the subtleties of their 
narratives? The study was developed from oral narratives, collected in interviews and 
transcribed for the subsequent construction of monads, interspersed with the study of 
bibliographic and documentary sources. The methodology is based on the conception of 
narrative, experience and memory, organized in the proposal of the monads, an idea extracted 
from Walter Benjamin's thought, but also motivated by decolonial readings. I establish 
approximations with the texts of the Berlin philosopher and their interpreters, weaving 
relationships with Latin American authors, such as Catherine Walsh (2013), from the 
conceptualization of gaps (grietas), Aníbal Quijano (2007) with the concepts of coloniality 
of power, being and knowledge, and also with Santiago Castro Gómez (2007), based on his 
analysis of La Hybrys del punto cero. Added to this are the contributions of Boaventura de 
Souza Santos (2010) when proposing an ecology of knowledge associated with 
transdisciplinarity, and the poetry of Manuel Barros (2018), the poet attentive to 
unimportance. This research is interested in the construction of an open story, capable of 
destabilizing the power structures that are reproduced in the school space. The text is 
organized into four moments. In the introduction, I develop how the research process took 
place, with the presentation of a brief memorial. In the first chapter, I introduce the school 
and the narrators of this thesis, explaining the proposal of the monads, to then articulate the 
Benjaminian concepts and the readings of decoloniality regarding remembrance. In the 
second chapter, I pay attention to the passages in the school corridors where our exchanges 
take place, and in the third I focus on the study of the correspondences woven between 
Manuel de Barros' poems, decoloniality and the Benjaminian perspective, in order, in the 
final chapter, to intervene in favor of an essay writing. We believe that the action of 
dialoguing with their memories and experiences unveiled the need to improve their working 
conditions and value them in the school environment. In addition, in the research recall 
process, we establish another temporal quality, in comparison to the elapsed time imposed 
by the school's functioning dynamics. One of the initial objectives was to understand the 
importance of general service assistants for education, and in the end we concluded that they 
themselves were reinvigorated in their self-esteem, reaching the conclusion that it is through 
language, and in particular, through narration that our relationships become they intensify 
and acquire meaning. 
 
Keywords: Education; General school services assistant; Memories; Decoloniality; 
Experience. 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Fotografia Maria Cecília e Euza. ............................................................... 34 
Figura 2 – Fotografia de Maria Cecília e Maria Jucélia (Nega). ................................. 35 
Figura 3 – Fotografia de Leonir e Maria Cecília. ........................................................ 35 
Figura 4 – Fotografia de Cláudia e Maria Cecília. ...................................................... 36 
Figura 5 – Mapas com a localização da cidade de Araranguá/SC............................... 34 
Figura 6 – Vista lateral da Unidade Escolar. ............................................................... 37 
Figura 7 – Ginásio de esportes. ................................................................................... 38 
Figura 8 – Sala de aula. ............................................................................................... 41 
Figura 9 – Cozinha.......................................................................................................40 
Figura 10 – Cozinha Rizotolândia. .............................................................................. 41 
Figura 11 – Corredores. ............................................................................................... 42 
Figura 12 – Salvadora de sonhos, de vidas. ................................................................. 51 
Figura 13 – Para nos reinventarmos com os ecos de vozes outras... ........................... 51 
Figura 14 – Corredores: fragmentos de experiências. ................................................. 65 
Figura 15 – Amanhecer na escola................................................................................ 87 
Figura 16 – Espaço de acolhidas. ................................................................................ 91 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ACT - Admissão de professores em Caráter Temporário 
APP - Associação de Pais e Professores 
CAp/UFRN - Núcleo de Educação da Infância 
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CEPSH/UFSC - Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos 
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho 
GRES - Grêmio Recreativo Escola de Samba 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IFC - Instituto Federal Catarinense 
ISCED-Huíla - Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla 
OMS - Organização Mundial da Saúde 
PAMEDUC - Grupo de pesquisa Patrimônio, memória e educação 
PPGE - Programa de Pós-graduação em Educação 
PPGICH - Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas 
PPP - Projeto Político Pedagógico 
SHE - Sociologia e História da Educação 
UEL - Universidade Estadual de Londrina 
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais 
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina 
UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense 
UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná 
UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 24 
1.1 DECOLONIZAR PARA HUMANIZAR: PRODUZINDO ENRAIZAMENTOS 
MAIS PROFUNDOS ........................................................................................ 24 
2CAPÍTULO 1: ELAS SÃO OS PILARES DAS ESTRUTURAS NAS 
ESCOLAS ......................................................................................................... 34 
2.1 CIDADE DAS AVENIDAS: PARAÍSO DO EXTREMO SUL CATARINENSE
 ........................................................................................................................... 34 
2.2 CONHECENDO NOSSA ESCOLA E AS NARRADORAS DA PESQUISA 36 
2.3 FRAGMENTOS E NARRATIVAS: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS 
MÔNADAS ....................................................................................................... 44 
2.4 AUXILIARES DE SERVIÇOS GERAIS: EXPERIÊNCIAS ENTRETECIDAS
 ........................................................................................................................... 50 
3 CAPÍTULO 2: DESFAZER O NORMAL DEVE SER A NORMA.............61 
3.1 ESCAVANDO MEMÓRIAS ............................................................................ 61 
3.2 NOS CORREDORES DA ESCOLA: POR ENTRE MEMÓRIAS E BRECHAS
 ........................................................................................................................... 63 
3.3 RELAMPEJARES E DEVANEIOS: A RELAÇÃO COM AS POESIAS DE 
MANOEL DE BARROS E A TEMÁTICA ...................................................... 87 
3.4 NO ÍNFIMO HÁ AS GRANDEZAS ................................................................ 93 
4 CAPÍTULO 3: CONTRIBUIÇÕES BENJAMINIANAS ACERCA DA 
DECOLONIALIDADE ................................................................................. 101 
4.1 PRATICANDO DESPRENDIMENTOS: LEITURAS QUE DESCORTINAM 
A COLONIALIDADE..................................................................................... 102 
4.2 RELAÇÃO MEMÓRIA EM WALTER BENJAMIN E MEMÓRIA EM 
CATHERINE WALSH ................................................................................... 119 
4.3 BENJAMIN E BOAVENTURA ..................................................................... 121 
 
 
4.4 POR QUE O DIÁLOGO ENTRE BENJAMIN E OS DECOLONIAIS? 
..........................................................................................................................126 
5 CAPÍTULO 4: PARTILHANDO MEMÓRIAS ......................................... 136 
5.1 PARTILHAS A CONTRAPELO PARA TRANSVER O MUNDO .............. 136 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 148 
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 153 
ANEXO A – APRECIAÇÃO DO PROFESSOR NILTON MULLET 
PEREIRA SOBRE O DESFILE DA MANGUEIRA ................................. 160 
ANEXO B – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM 
SERES HUMANOS APROVADO ............................................................... 162 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
1.1. Decolonizar para humanizar: produzindo enraizamentos mais profundos 
 
Durante o mestrado em Educação, por meio da disciplina “O ensaio como forma em 
Walter Benjamin”, entrei em contato com os escritos deste autor e escrevi a minha dissertação 
analisando suas obras, principalmente em relação às preocupações e às consequências da 
história linear. No doutorado, segui me aprofundando nos estudos benjaminianos, mas 
também estabeleci contato com as/os autoras/es decoloniais, fazendo uma constante ponte 
dos diálogos entre essas concepções de mundo. Nesses diálogos, me vi instigada pelos 
poemas de Manoel de Barros. Eu preciso de poesia o tempo todo. Desse modo, escrevo sob 
a influência dessas três abordagens no despertar de resiliência, coexistência e esperança no 
ínfimo, naquilo que no dia a dia se encontra silenciado. Um despertar diário que me motiva 
a agir e a pensar sobre a maneira pela qual o mundo está caminhando. 
Por isso, a intenção central desta pesquisa consiste em trazer à tona as memórias, os 
saberes e as experiências das auxiliares de serviços gerais escolares, a fim de mostrar uma 
brecha para nos decolonizarmos e consolidarmos uma relação mais profunda de experiência 
e de narratividade a partir das teorias das/os autoras/es já mencionadas/os.5 Não numa 
perspectiva metodológica, instrumental e doutrinária, mas no aspecto associado a um 
experienciar que possibilite a abertura e coexistência de saberes que provenham dessas 
narrativas, dos saberes cotidianos dessas mulheres. 
Dessa maneira, para subsidiar esse raciocínio, será considerado no decorrer da tese 
os pensamentos de autoras/es decoloniais, tais como Catherine Walsh (2013, 2020), Olgária 
Matos (2007), Boaventura de Sousa Santos (2010) e Santiago Castro-Gómez (2005), dentre 
outras/os autoras/es como Benjamin, além da motivação já mencionada nos poemas 
barrianos. Nessa perspectiva, o questionamento que suleou6 a tese é: de que maneira podemos 
nos decolonizar e encontrar brechas para fazer emergir modos outros de ser, saber, fazer, 
sentir, viver, inclusive decolonizando nosso tempo? 
 
5 Ao longo do texto, optei por não distinguir conhecimento de saberes, partindo do pressuposto de que esta 
diferenciação coaduna com a colonialidade do saber e do poder, problematizadas nesta tese. Assim, ao me 
referir ao conhecimento institucionalizado, utilizo como complemento o adjetivo “científico” no intuito de 
destacar o perfil racionalista e empirista que consiste em sua produção. 
6 Opto por usar o termo sulear em oposição a nortear, fazendo um giro decolonial e subvertendo o norte 
eurocêntrico como modelo universal. Já o uso do termo brechas (grietas) refere-se às provocações de Catherine 
Walsh (2013) no seu empenho de evidênciar a potência das prátocas de resistências que ocasionam rupturas nas 
estruturas dominantes da odem moderna/colonial. 
25 
 
A presente investigação se caracteriza por ser uma pesquisa-ação participativa, no 
qual o trabalho com as práticas de memória e narrativas são elementos-chave para apresentar 
essas vozes que resistem ao apagamento de suas experiências. Os procedimentos 
metodológicos fundamentam-se na categoria conceitual de mônada benjaminiana, 
pressupondo a construção das mônadas a partir das entrevistas e do diálogo com as memórias 
e experiências com o vivido dessas mulheres. Benjamin escreve que na mônada há a imagem 
do mundo, por isso tentarei explicar nossa intenção em trabalhar com mônadas. A potência 
e transgressão que as mônadas nos trazem é também estarmos atentos as nossas 
reminiscências, por exemplo, quando escuto as auxiliares de serviços gerais me narrando 
suas experiências, me despertam imagens da minha infância, principalmente, me atravessa a 
imagem do meu pai me presenteando com uma boneca preta e essa boneca que era a minha 
preferida traz o porquê dessa minha intenção de pesquisa. Nesse sentido, essa imagem seria 
uma parte-todo da minha infância, que nesse momento rememoro e essa imagem implica 
num por vir potente de futuro e possibilidades. Nas mônadas há essa dialética com nossas 
reminiscências, inclusive sobre o porque a escolhemos e construímos algumas e deixamos de 
lado outras. Por exemplo, as auxiliares me narraram muitas coisas, eu escolhi algumas 
narrativas para produzir as mônadas numa relação que está emaranhada com minha posição 
politica, posição de vida, posição também arraigada nas minhas reminiscências da infância. 
São fragmentos de histórias que tem a potência de contar sobre um todo. São centelhas de 
sentido que possuem essa ligação com o universal. Consigo eu mesma entender melhor e 
explicar as minhas leitoras quando visualizamos um mosaico. No mosaico, há aquelas 
miniaturas finitas que carregam em si um todo universal gerando uma pluralidade de relações 
dialéticas, uma multiplicidade na unidade. Nesta perspectiva, o coração desta tese está 
situadona potência da mônada em revelar uma singularidade das experiências das auxiliares 
articulando com o universal com minhas reminiscências, meu olhar subjetivo, minhas 
escolhas e de tantos outros sujeitos numa perspectiva que se torna coletiva. 
As mônadas surgem e resurgem nesta escrita como imagens que lampejam. 
Relampejar, numa perspectiva benjaminiana traduz-se em uma imagem, um pensamento que 
se constrói como luz na metáfora do conhecimento. Aparece como um relâmpago, um 
lampejo, uma faísca e dali brota uma força tal que cada imagem, pensamento que nos cintila 
se articula historicamente interferindo no presente. Assim, nos apropriamos de uma 
reminiscência, tal como ela nos relampeja, podendo atingir uma profundidade responsável 
por reconsiderar esse lampejo em seus “vários estratos de sua significação”. 
26 
 
Segundo Benjamin (1984, p. 51): “O valor desses fragmentos de pensamento é tanto 
maior quanto menor sua relação imediata com a concepção básica que lhes corresponde”. 
Desse modo, procuro, nesta pesquisa, atentar para meus relampejares enquanto escrevo e 
para as sutilezas das falas das narradoras no intuito de detectar esses vestígios cheios de 
potência. Além disso, me inspiro na escrita benjaminiana que ao contrário da lógica do texto 
linear que anseia acrescentar elementos novos, a escrita de Benjamin se distingue por 
“interrupções” e pelo “recomeço perpétuo”. A repetição das mesmas coisas em contextos 
diferentes não é mera repetição, o filósofo considera os “vários estratos de sua significação”. 
Como forma de gerar as narrativas, optei pela metodologia da história oral, processo 
que explicito durante o segundo tópico do primeiro capítulo. Nas entrevistas, muito disseram 
de si, de seus sonhos e de angústias. Para essa abertura, tivemos que pensar nossa 
metodologia de entrevistas e buscar estratégias outras na pesquisa em campo. Dentre elas, 
destaca-se a utilização de roteiros semi-estruturados de entrevistas, que permitiram às 
narradoras escolher aquilo que desejavam ou não partilhar. Nesse sentido, como 
pesquisadora coloquei-me na posição de ouvinte, interferindo minimamente na orientação do 
diálogo. 
Além disso, no que tange as transcrições das narrativas, guiei-me por determinadas 
orientações de Portelli (1994, p. 27) partindo do pressuposto de que transcrever implica em 
transformar objetos auditivos em visuais, acarretando, inveitávelmente, em mudanças na sua 
estrutura. Desse modo, durante a transcrição deu-se preferência à pontuação segundo a 
entonação, os silenciamentos e as pausas realizadas pelas narradoras, em detrimento das 
normas ortográficas. No entanto, retirei da sua textualidade os vícios de linguagem e as 
expressões repetidas a fim de destacar ideias centrais transmitidas na mônada. Desta forma, 
distancio-me da história oral quando descarto a noção de fontes narrativas para, a partir de 
Benjamin (1987b, p. 239), compreender que a memória não deva ser reduzida à propriedade 
das fontes (“como mero instrumento de exploração do passado”), pois ela configura o cenário 
para a reelaboração das experiências. 
Antes de começar a coleta das narrativas, o projeto de pesquisa foi submetido ao 
Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina (CEPSH/UFSC), seguindo as 
exigências e as prescrições orientadas pelo órgão. Apresentados os objetivos, a pesquisadora 
e o pesquisador responsáveis, bem como as condições para a realização da mesma, a 
autorização foi concedida no dia vinte e sete de novembro de 2019, quando se deu início ao 
agendamento dos encontros. 
27 
 
As conversas com Célia, Leonir, Euza e Maria Jucélia ocorreram inicialmente na 
escola, local de trabalho, porém nessas primeiras ocasiões as narradoras não conseguiram 
desabrochar em suas falas. Resolvemos fazer um encontro em casa, também localizada na 
cidade de Araranguá7, onde estiveram presentes no dia dois de dezembro de 2019, Maria 
Cecília Paladini Piazza, como anfitriã e pesquisadora, e as entrevistadas Maria Jucélia e Euza. 
A dinâmica funcionou bem na medida em que dispomos de uma mesa farta e mais 
privacidade, a conversa fluiu com leveza. Desse modo, ainda que seguindo um roteiro 
previamente estruturado, as entrevistas foram conduzidas em tom de diálogo e duraram a 
tarde toda, ora falavam todas de uma vez, pois estavam ávidas por narrar e serem ouvidas. 
Tendo em vista o resultado positivo, decidimos realizar as entrevistas em duplas. Já com a 
Célia e a Leonir fizemos inicialmente na escola, havíamos marcado para abril, mas devido à 
pandemia do COVID-19 tivemos que cancelar. 
Seguindo os protocolos de distanciamento social orientados pela Organização 
Mundial da Saúde (OMS) nos reunimos em um espaço público no dia 19 de outubro de 2020. 
Após a gravação das entrevistas em áudio foi feito o processo de transcrição para posterior 
montagem das narrativas. 
Na tentativa de captar a potencialidade de significados nesse cotidiano, em todas as 
entrevistas, o central foi deixar a conversa fluir para selecionar depois, e individualmente, as 
narrativas e poder criar as mônadas. Nesse sentido, as mônadas, orientam-me como aporte 
metodológico e enquanto pesquisadora percebo as miudezas/grandezas do que elas me 
narram. Nas suas falas, nos detalhes mais imperceptíveis, tenho a oportunidade de recriar a 
mônada e a partir dela problematizar a colonialidade do ser e do saber, que abordo com maior 
profundidade ao longo do segundo capítulo. Trata-se de um duplo movimento. Em primeiro 
lugar, flagro o relampejar da mônada presente na narrativa para, em seguida, recriar sua 
potência com base nas reminiscências da minha infância. Este segundo movimento, no 
entanto, mantém-se em aberto, pois a cada nova leitura encontro elementos distintos que me 
permitem ampliar a produção de conhecimento a partir das narrativas. Além disso, detecto a 
participação dessas mulheres para a educação, compreendendo-as também como educadoras. 
As leituras das mônadas me permitem recorrer a uma infinidade de sentidos e 
coexistência de realidades e, nessa diversidade, escolho trazer à tona de que maneira as 
 
7 De acordo com as informações disponíveis no site da prefeitura Araranguá pertence a Microrregião do 
Extremo Sul Catarinense e possui, 62.308 habitantes. A área urbana do município é de 759 km² enquanto a área 
rural ocupa 2.135 km², totalizando 303.91 km², para saber mais acessar: <https://www.ararangua.sc.gov.br/>. 
Acesso: em 20 jul. 2020. 
https://www.ararangua.sc.gov.br/
28 
 
auxiliares de serviços gerais escolares agregam para nossa educação. Trabalhar com mônadas 
é uma ferramenta de conhecimento em ciências humanas que permite recriarmos formas de 
produções textuais que inspiram a busca por outros sentidos nas experiências que nos 
rodeiam. Aqui, sobretudo, experiências trazidas em memórias escolares e acadêmicas. As 
mônadas nos propiciam detectar no miúdo e nos relampejares das narrativas um terreno fértil 
para vislumbrar o todo social. 
Não se trata apenas de tirar do esquecimento a história dos vencidos, pois nas 
mônadas, reside a possibilidade de trazer mudanças na estrutura do conhecimento quando se 
mostra avessa ao conhecimento hegemônico. Por meio das mônadas perpetuamos as 
experiências que nos cercam e descobrimos que para as memórias o tempo não passa, elas 
fazem emergir aquilo que estava calado nas profundezas, rompe com hierarquias e nos 
impregna de sensibilidades para nos lembrar do que realmente importa, ser gente, estar com 
gentes, relacionar, se curar, rir, chorar e trazer outras epistemologias, que envolvam 
memórias particulares, sociais e subterrâneas. 
Além disso, trabalho nesta pesquisa com as críticas de Benjamin, das/os decoloniais 
e de Manoel de Barros em relação ao progresso e à colonialidade da sociedade, buscando por 
meio das narrativas das auxiliares de serviços gerais refletirmos em conjunto sobre os 
conceitos de experiência,narratividade, história e colonialidade com o objetivo de 
transvermos o mundo na possibilidade da coexistência de saberes outros. Colonialidade do 
poder é um conceito desenvolvido originalmente por Aníbal Quijano em 1989, mas que 
assume um lugar de destaque nos estudos decoloniais em conjunto de outras/os autoras/es. 
Essa formulação expõe que as relações de colonialidade nas esferas econômica e política não 
acabaram com a destruição do colonialismo. As zonas periféricas mantêm-se numa situação 
colonial, mesmo que, já não estejam sujeitas a uma administração colonial. A modernidade 
está associada à experiência colonial que se reproduz pelo poder, pelo saber e pelo ser. 
Nesse entendimento, a tese que defendo é que podemos sim nos decolonizar, nos 
humanizar, criar mais afetos e experiências plenas pautadas na vida humana. Trago a 
possibilidade de estarmos mais abertas/os e atentas/os às miudezas do nosso dia a dia para 
criarmos formas outras de viver. Sou contra modelos de vida fechados, acredito na superação 
do nosso atual sistema por meio da luta por valorização de fazeres, saberes e viveres outros. 
Por isso, a importância de forjarmos um local de escuta atenta à essas auxiliares de 
serviços gerais para enfatizar suas experiências. Essa é uma possibilidade de produção de 
conhecimento em ciências humanas que trabalha com narrativas para revelar percursos 
comprometidos com as justiças cognitivas e epistemológicas. O pressuposto desta tese é 
29 
 
também a possibilidade de produzir conhecimento histórico-educacional numa lógica 
decolonial, a fim de fortalecer e valorizar suas presenças na nossa escola, permitindo a 
revelação das potencialidades educativas dessas mulheres. 
Dialogo, então, as narrativas orais de quatro mulheres que compõem o grupo das 
auxiliares de serviços gerais, seus diferentes saberes, fazeres e experiências educativas não 
formalizadas. Na escola, espaço que apresento com mais elementos no primeiro capítulo, 
convivemos juntas com muito afeto, com choros, com olhares. Todos os dias conversamos, 
nos abraçamos, damos gargalhadas. São histórias, memórias, trocas e experiências que 
significam muito para mim. O dia a dia passa numa prática utilitarista, numa colonialidade 
desumana, mas estamos contornando obstáculos e encontrando brechas para estarmos na 
contramão da racionalidade técnica. Então, como tratá-las enquanto sujeitas/os sociais que 
participam efetivamente de todo processo educacional em espaços informais da escola? 
Quais problemáticas atuais podemos escavar nas sutilezas de suas narrativas? 
Durante esta pesquisa, dialoguei com narrativas orais das auxiliares de serviços 
gerais escolares trazendo questões cotidianas e de suas memórias. Elas narram constantes 
angústias relacionadas a desvalorização. Ao mesmo tempo, em suas narrativas, valorizam 
seu trabalho com as/os estudantes e o quanto gostam e prezam por elas/es. Consideram-se 
mães, conselheiras, amigas. Vivenciam experiências do modo de vida e de trabalho enquanto 
auxiliares de serviços gerais escolares. 
No Brasil, mesmo diante da brutalidade e da invisibilidade social que enfrentamos 
cotidianamente, queremos mobilizar as/os leitoras/es desta tese para que possam estar 
atentas/os a outras melodias de cantos maiores de histórias menores.8 Maiores no sentido de 
importância para se perceber por meio do vivido, das experiências passadas na busca por 
fortalecer os saberes plurais constituídos e construídos no cotidiano, e em rede de partilhas 
numa lógica aquém dos ponteiros do relógio da modernidade no capitalismo. 
Tocada por essas sensações e sentimentos, no meu processo de escrita, inspiro-me 
na narrativa benjaminiana na busca por formas outras, compatíveis com a história aberta. 
Defendo aqui uma escrita decolonial como uma brecha (grieta) para subverter nossa 
racionalidade instrumental tão pautada na “utilidade” do conhecimento científico (WALSH, 
 
8 Por histórias menores fazemos referência à análise de Nilton Pereira (2017), que as contrasta com a existência 
de uma História Maior, por sua vez, marcada pela historiografia estrutural e linear, que descarta experiências 
outras para a compreensão do contexto histórico, em detrimento de uma narrativa oficial, encerrada e 
totalizante. 
30 
 
2013).9 Nesse sentido, tento escrever de modo mais inventivo, apostando no ensaio como 
forma de escrita. 
Espraiado por todos os capítulos abordo a força do fetiche pelas mercadorias e 
fantasmagorias10 em relação à ilusão do progresso capitalista, argumentando sobre as 
consequências da nossa noção de utilidade, nossa noção de tempo, a carência de modos 
outros de vivermos e nos relacionarmos, o que acaba por deixarmos esvaecer a nossa 
humanidade, o fato de sermos gente. Ancorada nas/os decoloniais, em Benjamin e nos 
poemas barrianos, faço críticas às concepções racionalistas que nos afastam cada vez mais 
da vida humana, dos afetos e da coletividade. 
Desta feita, pauto-me sobre o que está arraigado em mim desde a infância e que 
agora com mais maturidade enxergo: esse inconformismo que tenho sobre a colonialidade e 
a hierarquia de saberes e fazeres em que vivemos. Além disso, escrevo sobre a colonialidade 
do tempo e da impregnação desse nosso ritmo acelerado, que nos isola cada vez mais num 
individualismo doentio. Por outro lado, ao mesmo tempo em que discorro cada um dos 
capítulos me vejo emaranhada por essas indignações. Com isso, procuro construir brechas 
(grietas) em meio às ruinas e, na rememoração das experiências de Leonir, Euza, Nega e 
Claúdia tecemos alternativas mais relevantes e embasadas no bem comum, no altruísmo, na 
generosidade, assim como na coexistência de saberes e fazeres (WALSH, 2013). 
Quando opto pelo subtítulo “Produzindo enraizamentos mais profundos” nesta 
Introdução, me flagro pensando na precarização e no esvaziamento das relações da 
contemporaneidade que já foram diagnosticadas por Benjamin desde a primeira guerra 
mundial (1914-1918), quando os combatentes retornavam dos campos de combate 
emudecidos pelas atrocidades que viviam. De lá para cá, temos a sensação de que o domínio 
da racionalidade técnica, a contração do tempo e as fantasmagorias impossibilitam o 
desenvolvimento da imaginação e da recordação. As relações tendem a ser diluídas, 
promovem-se as novidades mercadológicas enquanto atrofia-se a arte de narrar. Benjamin 
(1994, p. 197-198) comenta que: 
 
9 Catherine Walsh, em uma conferência online realizada em 17 de junho de 2020 para o Seminario de formación 
permanente en Pensamiento Crítico, definiu grietas como seu lugar de enunciação, localização a partir da qual 
sente, pensa e atua. Além disso, pontua a sua não identificação como educadora, uma vez que a educação 
institucionalizada cultiva a matriz de poder. Desta forma, identifica-se como semeadora de insurgências ou 
agrietadora, na medida em que trabalha em profl de criar fissuras no sistema vigente (capitalista/colonial, 
racista, machista, patriarcal e heteronormativo). 
10 A partir do conceito de fantasmagoria Benjamin percebe a sutil intenção por trás das mercadorias, conduzindo 
as pessoas a uma visão fantasmagórica da realidade, ou seja, a fantasmagoria como uma das principais 
características da modernidade que leva o homem a criar uma imagem irreal do mundo, tanto para as relações 
com outros seres humanos, como para consigo mesmo. Uma realidade entorpecida por meio do mercado, no 
escritório, na divisão da vida pública e privada, na inversão do valor de uso das coisas, pelo valor de troca. 
31 
 
 
É a experiência de que a arte de narrar está em vias de extinção. São cada vez mais 
raras as pessoas que sabem narrar devidamente. Quando se pede num grupo que 
alguém narre alguma coisa, o embaraço se generaliza. É como se estivéssemos 
privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de 
intercambiar experiências. 
 
Saliento que,apesar de as relações sociais terem sido esvaziadas e estarem mais 
pobres de “experiências comunicáveis” podemos sim encontrar saídas. Por isso, convido 
as/os leitoras/es a percorrerem os espaços da escola na busca coletiva por brechas (grietas), 
capazes de florir novas visões de mundo, enquanto somos guiados pelas histórias e memórias 
da Nega, Leonir, Euza e Claúdia (WALSH, 2013). 
Nesse entendimento, a experiência a qual o autor se refere e que proponho nesta 
pesquisa traduz-se em mobilizar as memórias de Nega, Leonir, Euza e Claúdia, atravessadas 
por sensibilidades plurais, à luz das tensões sociais, disputas simbólicas e conflitos de 
interesses intrínsecos a modernidade. E com essa possibilidade, construirmos uma associação 
baseada em outra lógica de conhecimento. Significa percorrermos em coletivo outras 
posturas perante a vida, que vão ao encontro das epistemologias decoloniais. Escutá-las a 
partir do universo que as abrigam, suas particularidades de serem mulheres, brancas, 
auxiliares de serviços gerais numa escola estadual de Santa Catarina, bem como identificar 
suas singularidades e identidades, é uma forma de disseminar outra postura epistemológica 
para compreendermos de que forma as narrativas nos revelam matizes plurais de uma época. 
 Procuro nesta tese problematizar as hierarquias entre conhecimentos que 
(in)visibilizaram saberes, culturas, epistemologias, modos de ser e viver, subalternizando 
sujeitos e espaços. As contribuições teóricas de Benjamin, na interface com as/os autoras/es 
decoloniais, são fundamentais para pensar que outros modos de produção de conhecimento 
são possíveis. Desta forma, mobilizo os conceitos de colonialidade do poder, do ser e do 
saber, associadas à ideia da hybris del punto cero, em busca da construção histórica dessas 
violências que estruturam nossa sociedade e impulsionam a hierarquização de saberes. Por 
outro lado, procuro em Benjamin, Manuel de Barros e na perspectiva de Catherine Walsh 
brechas para superar as condições vigentes, uma vez que Benjamin e as/os decoloniais 
questionam e desestabilizam a hierarquização de saberes e o esfacelamento das relações 
humanas, dos conhecimentos ancestrais, da marginalização de determinados saberes. 
Assim, no primeiro capítulo, situo as/os leitoras/ores ao apresentar o município de 
Aranguá e adentro os muros da Escola de Educação Básica Professora Neusa Ostetto Cardoso 
para iniciar o diálogo com as narradoras. Ao final do capítulo, argumento em favor da opção 
monadológica para fundamentar os caminhos trilhados nesta tese e dialogo também com 
32 
 
trabalhos de interesses afins, ressaltando a urgência de pesquisas que se ocupem desta 
temática. 
No segundo capítulo, Desfazer o normal deve ser a norma, discorro sobre o conceito 
de experiência e narratividade ao retomar os textos de Benjamin, como Experiência e 
pobreza (1987, publicado em 1933) e O Narrador (1994, publicado em 1936), impulsionada 
pelos meus relampejares a partir do diálogo com as/os decoloniais e os poemas barrianos. 
Coloco-me como uma escavadora de passados, uma decolonizadora de saberes e de viveres 
trazendo minha relação com as auxiliares de serviços gerais escolares, principalmente 
rememorando a imagem dos corredores da escola onde nossas trocas acontecem. Também 
questiono a colonialidade do nosso tempo, referenciando a filósofa e professora Olgária 
Matos (2007), o filósofo Santiago Castro-Gómez (2005; 2007), dentre outras/os. Busco 
dialogar com o poeta Manoel de Barros a fim de demonstrar sua relação com as ideias da 
decolonialidade e de Benjamin. No decorrer deste capítulo, também problematizo o conceito 
de Castro-Gómez (2007) sobre La hybris del punto cero e a relação com o conceito de história 
em Walter Benjamin, abordando a preocupação desses autores em relação à nossa herança 
colonial e linear da história, favorecendo a perspectiva dos vencedores. 
Projeto entoar as leituras teóricas reunindo-as às vozes da escola de samba carioca 
Mangueira, em especial, as representadas no samba enredo de 2019 - Histórias Para Ninar 
Gente Grande. Nele, descrevo as sensações causadas pela experiência que tive na Marques 
de Sapucaí, quando assisti o desfile da Mangueira que nos mostrou que desde 1500 temos 
mais invasão do que descobrimento, havendo muito sangue retido atrás dos heróis 
emoldurados. Com isso, discuto a resistência dessa escola de samba em relação à noção de 
história linear, o que nos fez refletir sobre quem são os vencedores e vencidos, além de 
levantar questões particulares da nossa atual política fascista num atento olhar para quem de 
fato devesse ser referenciado em uma história a contrapelo. 
No terceiro capítulo, Contribuições benjaminianas acerca da decolonialidade, 
estabeleço uma relação entre a temática e a perspectiva decolonial a fim de conjecturar sobre 
a possibilidade desta perspectiva oportunizar a superação da colonialidade do poder, do saber 
e do ser com os saberes das auxiliares de serviços gerais escolares na educação. Dialogo com 
o grupo de pesquisadores latino-americanos denominado “Modernidade/Colonialidade”, 
dentre eles Edgard Lander, Walter Mignolo, Enrique Dussel, Aníbal Quijano, Catherine 
Walsh, entre outras/os, trazendo o seguinte questionamento: é possível ressignificar as 
memórias das auxiliares de serviços gerais escolares para além da matriz colonial europeia e 
subverter essa hierarquia que subalterniza o outro? Também pontuo considerações em torno 
33 
 
do texto benjaminiano Sobre o conceito da história e a relação com o pensamento decolonial 
para pensar nos processos do conhecimento em seus diversos vieses. 
No quarto capítulo, Partilhando memórias, reflito sobre a dimensão política em 
revisitar as memórias das auxiliares de serviços gerais escolares, também abordo a 
recuperação da nossa afetividade cotidiana, da alegria e da autoestima, escrevendo sobre 
minha experiência com elas. Além disso, trago as seguintes perguntas: como romper com as 
hierarquias de saberes e vinculá-las ao processo educativo, como protagonistas? Como 
fortalecê-las em meio à nossa racionalidade e colonialidade com mais protagonismo e menos 
silenciamento? Também, neste capítulo, retomo o debate entre a visão barriana, a 
colonialidade do poder e as leituras benjaminianas, principalmente dialogando com o texto 
A vida dos estudantes (1914-1915) e alguns poemas de Manoel de Barros. 
O quarto capítulo faço outros recortes, aprofundo-me no conceito de memória e 
escrevo sobre minha experiência de escrita na tentativa por uma escrita decolonial. O 
questionamento que levanto é: apesar de estramos inseridas/os nesse contexto da 
colonialidade, de escritas coloniais, de que maneira podemos propor formas outras de 
escrever, de expressar como brechas em nossas práticas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 CAPÍTULO 1: Elas são os pilares das estruturas nas escolas 
 
Neste capítulo apresento a cidade de Araranguá e a Escola de Educação Básica 
Professora Neusa Ostetto Cardoso. Inicío também o diálogo com as narrativas das auxiliares 
de serviços gerais escolares apresentadas em forma de mônadas, opção metodologica que 
explicito na última seção do capítulo. 
 
2.1 Cidade das Avenidas: paraíso do extremo sul catarinense 
 
O local de nossa pesquisa fica na cidade de Araranguá que é conhecida como a 
“Cidade das Avenidas”, caracterização que se deve ao planejamento urbanístico de ruas 
amplas e avenidas características do século XIX, idealizadas pelo engenheiro Antonio Lopes 
de Mesquisa, como forma de aderir ao progresso urbano e valorizar o fluxo de automóveis. 
Pertencemos a Microrregião do Extremo Sul Catarinense e nossa população, de 
acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) é de sessenta e três mil 
habitantes. Além disso, nossa cidade é banhada pelo Rio Araranguá e está localizada bem 
próxima da BR-101. Possui

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