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I Aspectos Ergonômicos do trabalho ntrodução Em cenários cada vez mais competitivos, detalhes são fundamentais. No processo de produção, não é diferente. Executar as tarefas com máxima eficiência não é uma tarefa simples. As equipes de trabalho espelham a eficiência da empresa e, portanto, devem receber treinamento e monitoramento constantes, já que podem ser peças-chave no sistema produtivo. Neste módulo, você vai verificar a importância da análise ergonômica do trabalho (AET) nos processos produtivos e identificar os processos que fazem parte dessa análise, bem como a sua sequência lógica. Por fim, vai reconhecer as situações em que a análise pode ser aplicada. Objetivos da aula • Discutir a metodologia de análise ergonômica do trabalho elucidando conhecimentos acerca da realidade do trabalho das pessoas e questões cognitivas relevantes. • Descrever o processo de análise ergonômica do trabalho. • Discutir a sequência lógica da análise ergonômica do trabalho para resolver problemas no ambiente de trabalho. Resumo A intervenção ergonômica promove mudanças nos meios físico e organizacional e no ambiente de trabalho. Conforme citado no tópico anterior, são realizados três tipos de análises: análise da demanda, análise da tarefa e análise da atividade, todas amplamente consagradas na literatura. Somente assim podem ser estabelecidos programas de treinamento e aperfeiçoamento e pode-se obter dados de produtividade fundamentados. Aqui, vamos abordar as etapas da AET, as quais devem estar presentes em todos os estudos de caso. Análise da demanda O processo de AET, de acordo com a NR nº. 17, inicia-se pela demanda (SÃO PAULO, 2007). Essa etapa deve contextualizar e expor o problema proposto e os entraves encontrados. Existem algumas hipóteses fundamentais que devem ser propostas para que a intervenção ergonômica ocorra. Se realizada corretamente, as informações geradas na análise da demanda serão de qualidade, o que é fundamental para o processo de intervenção ergonômica. Por outro lado, as falhas nessa etapa podem resultar em intervenções nulas ou até negativas na organização do trabalho. Portanto, essa fase é considerada a mais expressiva da AET, devendo ser considerados os seguintes itens no seu desdobramento, de acordo com Wisner (1987 apud CORRÊA, 2015):representatividade do autor da demanda; origem da demanda; problemas aparentes e fundamentais; perspectivas de ação e meios disponíveis. Em síntese, a análise da demanda, quando elaborada corretamente, torna possível verificar se os problemas ocorrem por falta de treinamento, por exemplo. Assim, o objetivo a ser atingido é compreender os reais motivos da origem dos erros, buscando soluções para intervir de forma adequada na organização do trabalho. Análise da atividade Na análise da atividade, é verificada a real condição de trabalho, questionando-se o motivo da atividade e como as tarefas estão sendo cumpridas. É realizada por meio da observação das atividades físicas e mentais exercidas pelo trabalhador. A análise das atividades mentais está relacionada ao nível de discriminação e interpretação das informações. Já a análise das atividades físicas está relacionada à postura e aos deslocamentos necessários para a execução das tarefas. Ao avaliar a atividade, é possível verificar se existe procedência no questionamento da demanda. A pesquisa da análise da atividade deve analisar as características do trabalhador, os fatores do ambiente que influenciam o trabalho e a forma como os colaboradores recebem as informações e as assimilam. Portanto, a análise é resultado desse conjunto de fatores, sendo possível inserir o trabalhador no centro do processo e torná-lo um princípio ativo, para atender a novas demandas de produção. Análise da tarefa Nessa etapa, devem ser compreendidos e identificados dois pontos: a prescrição (instrução de trabalho) e os requisitos físicos envolvidos na execução da tarefa. Na prescrição da tarefa estão envolvidos os elementos do ambiente no qual a tarefa está inserida, o que compreende o leiaute, o mobiliário, os níveis de ruído, a iluminação, os equipamentos, entre outros elementos presentes no local de trabalho. Os requisitos físicos da tarefa estão associados com o trabalho muscular propriamente dito (estático/dinâmico), a postura requerida para a execução do trabalho e o acesso às informações e aos dispositivos de controle, por exemplo. A análise da tarefa também pode ser interpretada como uma forma de apreensão real do trabalho, visando a diminuir o trabalho improdutivo e a aumentar o trabalho produtivo. Essa interpretação amplia a importância da análise em questão, pois esse pode ser o meio de aumentar o nível de eficiência da produção. Diagnóstico e recomendações A qualidade do trabalho e do trabalhador depende muito da organização do trabalho. Nesse sentido, as empresas investem em inúmeras ferramentas para corrigir falhas e antecipar problemas — a AET é uma delas. O diagnóstico da AET é um importante dispositivo para a empresa e o trabalhador, possibilitando a ambos se protegerem. O diagnóstico deve apontar os problemas encontrados nos postos de trabalho e sugerir mudanças para a melhoria do processo. As melhorias têm vários enfoques: podem significar o aumento do conforto do trabalhador, a adaptação do posto de trabalho para obter maior segurança ou o aperfeiçoamento do conforto ambiental (ruídos, vibrações, temperatura e luminosidade), por exemplo. Enfim, podem ser propostas várias sugestões de melhorias. No diagnóstico, devem ser registradas as diferenças e adaptações necessárias para a atividade em questão. O caderno de encargos e recomendações ergonômicas é o documento no qual devem ser inseridas as sugestões de mudanças e indicadas as adequações da atividade e/ou da tarefa. Por fim, o diagnóstico deve representar um resumo da AET, citando todas as fases da análise e identificando a origem do problema. Resolução de problemas com a AET Conforme mencionado nos tópicos anteriores, a intervenção no trabalho pode ocorrer de diversas formas. As empresas se preocupam em manter um nível de produção constante e, para isso, a organização do trabalho com o objetivo de antecipar os problemas e corrigir falhas iniciais no processo é fundamental. A AET pode ser aplicada em uma orquestra sinfônica, por exemplo. O trabalho dos violinistas provoca uma série de dores devido à quantidade de horas envolvidas na execução da atividade e ao grande número de movimentos executados. De acordo com Costa (2003), em um estudo realizado na orquestra sinfônica vinculada ao governo do Distrito Federal, foram estudadas as dores relatadas pelos violinistas: dos seis integrantes que participaram do estudo, cinco apresentavam queixas de dores e já haviam procurado ajuda médica em diferentes momentos da carreira. Para explicar e evidenciar os motivos das queixas, foi aplicada a AET com foco na atividade. Realizada a AET, foi possível evidenciar a necessidade que os músicos têm de gerenciar a dor para continuar no exercício da profissão, caracterizando uma condição “normal” da profissão. A organização do trabalho avaliada deixa pouca margem para minimizar a ocorrência das dores, pois picos de demanda associados com alto grau de perfeição e períodos reduzidos de descanso após as intensas solicitações impedem a recuperação dos profissionais, forçando-os, dessa forma, a ultrapassar os seus próprios limites, e fazendo-os conviver continuamente com dores e desconforto. Esses fatores corroboram com a literatura indicada no estudo, evidenciando que a organização do trabalho tem uma provável interferência nas doenças dos trabalhadores. Já Maia (1999) realizou um estudo analisando a AET no trabalho de enfermeiros lotados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De acordo com a pesquisa, os maiores fatos geradores de estresse são o conteúdo do trabalho, as condições de trabalho e os fatores organizacionais. Como uma das conclusões da pesquisa, vale destacar a necessidade de mudança dos fatores organizacionais:a concepção da unidade ainda usava conceitos de Taylor, o qual acreditava na divisão absoluta da tarefa. O estudo ainda apontou a necessidade de implementar um dos objetivos da ergonomia na unidade: trazer o ser humano para dentro do processo, torná-lo integrante do sistema de produção. Nota-se, portanto, a relevância e os inúmeros lugares de aplicação da AET, bem como as diferentes conclusões retiradas de cada estudo. Os estudos corroboram também a necessidade de se estudar os problemas de maneira aprofundada. Conforme já citado, as análises simples e as respostas fáceis possivelmente vão induzir a análises erradas ou superficiais. Como aplicar na prática o que aprendeu Muitas vezes, as intervenções ergonômicas não surtem os efeitos almejados. Por mais que, aparentemente, as mudanças propostas resultem em uma melhora na postura geral do trabalhador, elas podem não repercutir positivamente nas queixas da equipe, inclusive acarretando novas condições de dor que antes não existiam. Confira a seguir, a situação vivenciada pelo fisioterapeuta e ergonomista Gustavo, que precisou atuar em um laboratório de análises clínicas, tendo trabalhadores sofrendo com altos índices de dor lombar e afastamentos. ASPECTOS ERGONÔMICOS POSTURAIS Gustavo atua como ergonomista em um laboratório, no qual foi solicitada uma intervenção ergonômica no posto de análises clínicas, pois havia muitas queixas de dor nas costas e afastamentos dos funcionários. Inicialmente, conversou com os trabalhadores para compreender o que eles realizam e fez suas anotações. Nesse momento, ele percebeu que as queixas eram basicamente na região lombar e que precisavam usar os microscópios em ortostase, permanecendo longos períodos em flexão do tronco. Sendo assim, iniciou suas coletas com os fatores ambientais e percebeu que todos os índices estavam normais. Afinal, o ambiente do laboratório é o motivo de cuidado intenso dos gestores. DESTACA-SE A organização do trabalho trouxe que não havia condições que pudessem imprimir risco aos trabalhadores e que estivessem relacionados às queixas. Não era feito nenhum serviço que precisasse carregar peso ou que envolvesse o manuseio de cargas, por exemplo. FERRAMENTA REBA Aplicou-se a ferramenta REBA, com o intuito de avaliar o risco laboral relacionado à postura dos trabalhadores. Em sua análise, verificou cervical em extensão, ombro fletido próximo aos 45° com braços apoiados, cotovelos fletidos em 45°, com punhos fletidos a mais de 15° com desvio ulnar, tronco fletido com mais de 60° com inclinação para direita e joelhos fletidos a 30° e apoio do corpo sobre apenas um membro inferior. Movimentos considerados repetitivos por serem realizados mais de quatro vezes por minuto. Escore final 10 = risco alto PROPOSTA 1 As atividades devem ser realizadas em sedestação. Entretanto, antes de reproduzir a sugestão em todos os postos de trabalho, Gustavo estruturou as mudanças em somente um posto, no qual trabalhavam quatro pessoas, e acompanhou os relatos dos trabalhadores por um mês. As queixas de dor lombar foram minimizando, ao passo que dores cervicais acompanhadas de tensão muscular em cintura escapular e cefaleias aumentavam suas incidências. Na busca de entender o motivo, o ergonomista verificou que, na posição sentada, os trabalhadores precisavam realizar flexão cervical para fazer as análises clínicas junto à bancada, os antebraços ficaram desapoiados e, para manusear o foco do microscópio, era necessário fletir os cotovelos acima de 90º e, ainda, elevar os ombros. Sendo assim, Gustavo aplicou novamente a ferramenta REBA para analisar o possível risco postural. Para sua surpresa, o escore se manteve em 10, ou seja, as mudanças sugeridas não foram capazes de alterar o risco ergonômico relacionado à postura. PROPOSTA 2 Em reunião com a equipe de saúde ocupacional, gestão de pessoas e lideranças, Gustavo apresentou os resultados de seu estudo e mostrou que, das opções possíveis para aquela determinada situação, com o que ele tinha o poder de modificar o layout de trabalho, o risco ergonômico relacionado à postura não havia surtido efeito. SUGESTÃO Como sugestão, ele apresentou um modelo de microscópio que permite ao trabalhador realizar as análises de forma confortável, com cervical alinhada, bem como o apoio para antebraços e punhos na posição neutra, que rebaixaria o escore final de 10 (risco alto) para 3 (risco baixo). Os gestores ficaram surpresos com os resultados e manifestaram o interesse de compra do novo equipamento, porém para o ano seguinte. Durante esse período, Gustavo estruturou pausas durante a jornada de trabalho e ginástica laboral. Além disso, foi contratado, duas vezes por semana, um profissional para realizar a quick massage (massagem rápida com duração de 20 minutos) em toda a equipe, e foi realizada a parceria com uma academia da região, onde os trabalhadores. do laboratório recebiam 50% de desconto nos planos mensais e semestrais para qualquer atividade realizada no espaço. CONCLUSÃO Em um período de três meses, as queixas reduziram significativamente e, passados dez meses da reunião, os novos microscópios chegaram. Ao final de 12 meses, não havia mais queixas musculoesqueléticas naquele setor, que correspondia a 60% do número de funcionários daquela organização Conteúdo bônus Tópicos avançados De uma forma geral, o trabalho muscular estático é mais desgastante que o dinâmico, causando fadiga rapidamente, principalmente em esforços maiores. E a força máxima de um músculo, ou grupo de músculos, depende da idade; do sexo; da constituição física; do grau de condicionamento físico; e da motivação do momento (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). Por conta dos diversos fatores envolvidos no trabalho muscular, Kroemer e Grandjean (2005) estabelecem sete regras para definição dos locais de trabalho: 1. Evitar qualquer postura curvada ou não natural do corpo. A curvatura lateral do tronco ou da cabeça força mais do que a curvatura para frente. 2. Evitar a manutenção dos braços estendidos para frente ou para os lados. Estas posturas geram não só́ fadiga rápida, mas também reduzem significativamente o nível geral de precisão e destreza das operações realizadas com as mãos e os braços. 3. Procurar, na medida do possível, sempre trabalhar sentado. Mais recomendável ainda seriam locais de trabalho onde se poderia ter alternância de trabalho sentado com o trabalho de pé. 4. O movimento dos braços deve ser em sentidos opostos cada um, ou em direção simétrica. O movimento de um braço sozinho gera cargas estáticas nos músculos do tronco. Além disso, os movimentos em sentidos opostos ou movimentos simétricos facilitam o comando nervoso da atividade. 5. A área de trabalho deve ser de tal forma que esteja na melhor distância visual do operador. 6. Pegas, alavancas, ferramentas e materiais de trabalho devem estar organizados de tal forma que os movimentos mais frequentes sejam feitos com os cotovelos dobrados e próximos do corpo. A maior força e destreza é exercida quando a distância olho-mão é de 25 a 30 cm, e com os cotovelos baixados e dobrados em angulo reto. 7. O trabalho manual pode ser facilitado com o uso de apoio para os cotovelos, os antebraços e as mãos. Os suportes devem ser forrados com feltro ou outro material termo isolante e macio. Os apoios devem ser reguláveis para que possam se adaptar às diferenças antropométricas. Observação: Este conteúdo não será cobrado nas avaliações e estará, obrigatoriamente, presente nas videoaulas. Fique tranquilo(a)! Referência Bibliográfica CORRÊA, V. M. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2015. COSTA, C. P. Quando tocar dói: Análise ergonômica do trabalho de violistas de orquestra. 2003. 147 f. Dissertação (Mestrado) — Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia. Brasília: UNB, 2003. KROEMER, K. H. E.; GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. MAIA, S. C. Análise ergonômica do trabalho doenfermeiro na unidade de terapia intensiva: proposta para a minimização do estresse e melhoria da a qualidade de vida no trabalho. 1999. 167 f. Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. Florianópolis: UFSC, 1999. SÃO PAULO. Tribunal Regional do Trabalho. Norma Regulamentadora NR nº. 17 — Ergonomia (117.000-7). 2007. Disponível em: http://www.trt02.gov.br/geral/tribunal2/. Acesso em: 5 out. 2022. I ã
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