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DIREITO DAS SUCESSÕES – PROFª JULIANA GONTIJO 
Rua Guajajaras, n. 1944, Barro Preto, CEP 30180-101 – Belo Horizonte – MG - Tel. (31) 2112.4114 - Fax 2112.4108 
site: www.direitodefamilia.adv.br – e-mail: jugontijo@direitodefamilia.adv.br – jfgontijo@direitodefamilia.adv.br 
Há autores, como D'AGUANO, que procuram justificar o fundamento científico do direito 
sucessório nas conclusões da biologia e da antropologia atinentes ao problema da hereditariedade bio-
psicológica, segundo a qual os pais transmitem à prole não só os caracteres orgânicos, mas também as 
qualidades psíquicas, resultando daí que a lei, ao garantir a propriedade pessoal, reconhece que a 
transmissão hereditária dos bens seja uma continuação biológica e psicológica dos progenitores. 
Semelhantemente CIMBALI funda o direito das sucessões na continuidade da vida através das 
várias gerações. 
WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO critica, com acerto, tais concepções, ao afirmar que a 
seqüência da vida humana não depende da sucessão porque se subordina ao instinto sexual, e que essas 
doutrinas explicariam tão-somente a transmissão da herança entre ascendentes e descendentes e jamais a 
sucessão entre cônjuges, entre colaterais e entre o de cujus e o Estado. 
Na verdade, poder-se-á dizer que o fundamento do direito sucessório é a propriedade, 
conjugada ou não com o direito de família; daí as afirmações de COGLIOLO de que o direito das sucessões 
tem a sua razão de ser nos dois institutos combinados: a propriedade e a família; e a de LACERDA DE 
ALMEIDA de que o direito sucessório é o "regime da propriedade na família". A possibilidade de transferir 
bens causa mortis é um dos corolários do direito de propriedade, uma vez que, caso contrário, a 
propriedade ficaria despida de um dos seus caracteres, ou seja, a perpetuidade. KIPP chega até a afirmar 
que essa integração da sucessão mortis causa à propriedade é tão necessária que, se assim não fosse, esta 
última se desfiguraria, convertendo-se em mero usufruto vitalício. 
GUSTAV RADBRUCH assevera que o direito sucessório assenta na idéia de uma hipotética 
harmonia preestabelecida entre o interesse individual e o interesse social, à semelhança do que ocorre 
com o direito de propriedade. Sua argumentação baseia-se, indubitavelmente, no fato de que o interesse 
pessoal visa o progresso, uma vez que o ser humano, buscando seu próprio interesse, tende a adquirir, 
em seu proveito, bens, atendendo assim, indiretamente, ao interesse social, pois aumenta o patrimônio da 
sociedade. Por isso, a sociedade permite a transmissão de bens aos herdeiros, estimulando a produção de 
riquezas e conservando unidades econômicas a serviço do bem comum. Daí se infere que o direito das 
sucessões desempenha importante função social. 
SÍLVIO DE SALVO VENOSA13 - O homem, pouco importando a época ou sua crença, sempre 
acreditou, ou ao menos esperou, poder transcender o acanhado lapso de vida. Já vimos que a 
personalidade surge com o nascimento e extingue-se com a morte. No direito sucessório, porém, não se 
pode aplicar o brocardo mors omnia solvit, uma vez que as relações jurídicas permanecem após a morte do 
titular. 
Há, pois, uma idéia central inerente no corpo social, que é a da figura do sucessor. Essa noção 
parte de uma das ficções mais arraigadas no pensamento social, ou seja, a idéia de continuação ou 
continuidade da pessoa falecida (autor da herança) na pessoa do sucessor universal (veremos que a figura 
do sucessor singular na herança, o legatário, requer já uma especificação jurídica). 
Como vimos, se hoje o direito moderno só vê a sucessão causa mortis sob o ponto de vista 
material, sua origem histórica foi essencialmente extra-patrimonial. Inobstante, hoje a idéia de que o 
sucessor continua as relações jurídicas da pessoa falecida permanece viva. 
A idéia da sucessão por causa da morte não aflora unicamente no interesse privado: o Estado 
também tem o maior interesse de que um patrimônio não reste sem titular, o que lhe traria um ônus a 
mais. Para ele, ao resguardar o direito à sucessão (agora como princípio constitucional, art. 5º, XXX, da 
Carta de 1988), está também protegendo a família e ordenando sua própria economia. Se não houvesse 
direito à herança, estaria prejudicada a própria capacidade produtiva de cada indivíduo, que não tenha 
interesse em poupar e produzir, sabendo que sua família não seria alvo do esforço. Como lembra 
WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO (1977, v. 67), até mesmo a revolução russa teve que voltar atrás, uma 
vez que abolira o direito sucessório. A constituição soviética de 1936 acabou por restabelecer o direito à 
herança, sem restrições. 
Assim, torna-se despiciendo analisar a posição histórica dos que, no passado, impugnavam o 
direito sucessório. 
Divaga-se a respeito de por que o testamento é tão pouco utilizado entre nós. Uma primeira 
resposta a essa indagação é justamente porque a ordem de chamamento hereditário feito pela lei atende, 
em geral, ao vínculo afetivo familiar. Normalmente, quem tem um patrimônio espera que, com sua morte, 
os bens sejam atribuídos aos descendentes. E são eles que estão colocados em primeiro lugar na vocação 
legal. Entre nós é possível a convivência da sucessão legítima (a que decorre da ordem legal) com a 
sucessão testamentária (a que decorre do ato de última vontade, do testamento).

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