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1 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 SÍNDROME HEMOLÍTICA ▪ As hemácias sobrevivem em média 120 dias – Após a perda do núcleo picnótico, a hemácia é l iberada na circulação com sua forma caracter íst ica de disco bicôncavo ▪ A hemácia consi ste em uma célu la metabol icamente ativa e necessi ta de suprimento adequado de gl icose para produção de energia o A produção de energia sob forma de ATP é derivada do metabol ismo da gl icose pela v ia gl icol ít i ca de Embden-Meyerhof o A v ia das pentoses e de Rapoport -Luebering, resultam respect ivamente na produção do potencia l redutor intraeritrocitár io (NADPH e GSH) e de 2,3 DPG (atuam no controle da af in idade da hemoglobina pelo O 2 ) o As reações do metabol i smo anaeróbio dependem de um grande n ° de enzimas na membrana er itrocitár ia , as quais são s inteti zadas nos er i troblastos e permanecem nas hemácias durante toda a v ida (queda progressiva de acordo com o envelhecimento) ▪ O metabol ismo er i troci tár io e consequente produção de energia v isam manter a f lex ib i l idade da membrana, a forma bicôncava da hemácia e a integridade da hemoglobina ▪ O ATP protege a membrana celu lar e a hemoglobina da ox idação de grupos SH, mantém a concentração intracelu lar K + e Na + e Ca + + – Fundamental na manutenção de l ipídeos da membrana celu lar ▪ Com o envelhecimento, a maior ia das enzimas da v ia gl icol ít i ca torna-se menos efetiva e há dif iculdade de manutenção da concentração intracelu lar de ATP ▪ Assim a membrana perde l ip ídeos progressivamente , a re lação superf ície -volume diminui e a cé lu la se torna semelhante a uma esfera ▪ A [ ] de Hb intracelu lar aumenta em consequência da redução de volume, proteínas de membrana tornam-se desnaturadas pela ox idação de grupos SH e a conc entrações de íons Ca++ na membrana se e leva ▪ As moléculas de hemoglobina ox idadas e desnaturadas se l igam à m c em quantidades crescentes , combinando-se com as proteínas do citoesqueleto er itroci tár io formando complexos ▪ Este conjunto resulta em uma célu la menos deformável , determinando sua destruição pelos macrófagos do s is tema fagoci tár io mononuclear Hemól ise extravascular ▪ Fagoci tose pelos macrófagos ▪ A destruição das hemácias ocorre preferencia lmente no inter ior dos macrófagos ( somente uma pequena parte ocorre no compartimento intravascular) → S is tema fagoci tár io mononuclear ▪ O sistema fagoci tár io mononuclear acontece pr imariamente no baço, f ígado e medula óssea ▪ Baço extremamente sens íve l para detectar defe itos er i tr oci tár ios mínimos (vasculatura pecul iar) ▪ O f ígado já não é tão sensíve l quanto o baço na detecção de fe itos mínimos na hemácia . No entanto, tendo uma lesão suf icientemente importante para ser detectada, e le é mais ef ic iente que o baço (possui maior f luxo sanguíneo) o Esferoci tose hereditár ia → Destruição no baço (esplenectomia é terapêutica ef icaz) o Anemia fa lci forme → Destruição maior no f ígado Hemól ise intravascular ▪ Resulta de lesões graves , como nos traumas ou hemól ise por ação do complemento ▪ Hemoglobina é l iberada na circulação (hemoglobinemia) e pode ser perdida pela ur ina (hemoglobinúria) ▪ Quando a quantidade de hemoglobina l iberada no plasma é pequena, toda e la se l iga à haptoglobina (a2-gl icoproteína plasmática ) s intetizada pelo f ígado Anemias hemolíticas Autoimunes ENVELHECIMENTO DA CÉLULA MECANISMOS DE DESTRUIÇÃO DAS HEMÁCIAS 2 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 o Complexo hemoglobina-haptoglobina é levado ao f ígado, onde é catabol izado → Reduz a concentração de haptog lobina plasmática ▪ Quando a quantidade de Hb excede a capacidade de l igação da haptoglobina, a Hb l ivre é f i ltrada nos r ins – Maior parte é reabsorvida nos túbulos, sendo o excesso excretado na urina ▪ A Hb reabsorvida é metabol izada na cé lu la epite l ia l tubular e o Fe f ica acumulado sob forma de ferr it ina e hemossider ina MECANISMOS DE HEMÓLISE DEFINIÇÕES Petéquias = Pequenas hemorragias que se apresentam através de pequenos pontos (1-2mm). Se formam por diapedese, ou seja, sem lesão no vaso Púrpuras = Pontos hemorrágicos maiores que as petéquias (até 1cm). Ocorrem por diapedese. Podem ser uma reunião de petéquias Equimose = Ocorre por ruptura de vaso (Ex.: traumatismos ou enfraquecimento da parede vascular), com extravasamento do sangue para fora do vaso Hemorragia em lençol – Não provoca elevação no local Hematoma = Ocorre por ruptura de vaso, com acúmulo (coleção) de sangue no tecido, formando elevação. Ex.: Pós- operatório imediato Pode necessitar de remoção, a depender do tamanho e localização 3 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 ANEMIAS HEMOLÍTICAS ▪ Compreende um grupo de doenças em que a sobrevida das hemácias em circulação está acentuadamente reduzida e a medula óssea não é capaz de compensar mesmo aumentando sua produção – Policromasia (por conta dos reticulócitos) ▪ Pacientes apresentam, além de anemia, sinais cínicos e laboratoriais de aumento do catabolismo de Hb da produção de hemácias ▪ Hemólise compensada: Ocorre quando a sobrevida das hemácias não é inferior a 20 dias, tendo uma produção aumentada da medula óssea (quando < 20 dias, há manifestação de anemia) ▪ A gravidade da anemia hemolítica é diretamente proporcional à redução da vida média das hemácias circulantes ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE (AHAI) ▪ Caracterizada pela destruição precoce das hemácias devido à fixação de imunoglobulinas ou complemento na superfície da sua membrana ▪ Consiste na citopenia imunológica mais frequente após a púrpura trombocitopênica imunológica ETIOLOGIA ▪ Baseada nos resultados dos testes laboratoriais imuno-hematológicos AHAI causada por anticorpos a quente ▪ Mediada por IgG (forma mais comum de AHAI) ▪ Predominante em mulheres > 40 anos ▪ Mortalidade de 5-10% ▪ Reage melhor à temperatura corpórea, denomina-se autoanticorpos quentes (temperaturas maiores ou igual a 37°C) ▪ Em geral, não causam problema para a tipagem ABO ▪ Classificada em: o Primária/ idiopática: Quando observada isoladamente o Secundária: Quando faz parte de alguma autoimune sistêmica ou após uso de alguns fármacos ▪ Os anticorpos reagem contra antígenos do sistema Rh, simulando em alguns casos o comportamento de aloanticorpos ▪ Hemólise é primariamente esplênica e não decorre de lise direta dos eritrócitos – mediada por células do Sistema Macrófagos- Monócitos (SMM), sendo a mediada por complemento incomum ▪ Pode estar associada à certos fármacos, como metildopa e levodopa ▪ É quase sempre grave e pode ser fatal Obs.: indivíduos normais possuem < 50 moléculas de IgG ligadas à hemácia AHAI causada por anticorpos a frio ▪ Doença da crioaglutininas ou doença da aglutinina fria ▪ Mediada por IgM (menos comum) ▪ Possuem autoanticorpos que reagem, à temperatura ambiente (temperatura inferior à corpórea), com hemácias de qualquer grupo sanguíneo ▪ A ativação dos anticorpos ocorrem com a queda da temperatura, porém a hemólise geralmente ocorre quando a temperatura aumenta ▪ Áreas mais extremas e frias do organismo são as mais acometidas, gerando aglutinação de hemácias que reduzem o fluxo sanguíneo e consequentemente a oferta de O2 – gera cianose característica nos dedos, nariz e orelhas 4 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 ▪ Causas: o Idiopática: Associada à uma pop. de células B clonais o Infecções: Especialmente pneumonia por micoplasma ou mononucleose infecciosa (anticorpos direcionados contra o antígeno I) o Distúrbios linfoproliferativos: Anticorpos geralmente direcionados contra o antígeno I ▪ As infecções podem causar doença aguda, ao passo que a doença idiopática (a forma comum em adultos mais velhos) tendea ser crônica (não tem predileção por sexo) ▪ A hemólise acontece, em sua maior parte, no sistema fagocítico mononuclear extravascular hepático → Pode ser extravascular (complemento) ▪ A anemia é normalmente leve (hemoglobina > 7,5 g/dL [70,5 g/L]) ▪ A amplitude térmica dos anticorpos é mais importante que seu título Hemoglobinúria paroxística fria (síndrome de Donath-Landsteiner) ▪ Tipo raro de anemia hemolítica por anticorpos frios (mediada por IgG) ▪ Mais comum em crianças – Geralmente desaparece espontaneamente ▪ A destruição de glóbulos vermelhos resulta da exposição ao frio – Podem ser destruídos mesmo quando a exposição é limitada a uma pequena área do corpo, como quando a pessoa bebe água fria ou lava as mãos com água fria ▪ Isso ocorre mais frequentemente após doenças virais ou em pessoas saudáveis, embora ocorra em algumas pessoas com sífilis ▪ Um anticorpo IgG liga-se ao antígeno P nos eritrócitos em baixas temperaturas e causa hemólise intravascular e hemoglobinúria após o aquecimento FISIOPATOLOGIA ▪ Acredita-se que essas anemias sejam causadas por pelo menos dois mecanismos distintos: 1) Quando um anticorpo dirigido contra determinada molécula (Ex.: fármaco) reage com ela, os eritrócitos podem ficar incluídos na reação sofrendo dano ou destruição (mecanismo espectador inocente) 2) Um autoanticorpo verdadeiro é dirigido contra um antígeno eritrocitário (com mais frequência) ▪ Após ter sido recoberto por um autoanticorpo, o eritrócito é destruído por um ou mais mecanismos ▪ Na maioria dos casos, a porção Fc do anticorpo será reconhecida pelo receptor Fc dos macrófagos, e isso desencadeará a eritrofagocitose ▪ A maioria das hemácias sensibilizadas sofrem fagocitose parcial e volta à circulação após perder a forma discoide e tornar- se esferócito (perde mais superfície do que volume) ▪ Por conseguinte, a destruição dos eritrócitos ocorrerá sempre que os macrófagos estiverem presentes em quantidades abundantes, isto é, no baço, no fígado e na medula óssea (hemólise extravascular) o Favorece o aparecimento de palidez, icterícia, esplenomegalia e hepatomegalia ▪ Devido à sua anatomia especial, o baço é particularmente eficiente para aprisionar os eritrócitos recobertos por anticorpos e, com frequência, constitui o local predominante de destruição dessas células ▪ Em alguns casos, a natureza do anticorpo (habitualmente anticorpo IgM) é tal que o complexo antígeno-anticorpo na superfície dos eritrócitos é capaz de ativar o complemento (C) ▪ Em consequência, forma-se uma grande quantidade de complexo de ataque à membrana (MAC) e os eritrócitos podem ser destruídos diretamente (hemólise intravascular) ▪ Há portanto diminuição de Hb no hemograma, hemácias policromáticas no sangue periférico e esferocitose associada ao aumento do n° absoluto de reticulócitos, além de hiperplasia da medula óssea ▪ A BI aumenta, assim como a desidrogenase lática (DHL) – Diminui-se haptoglobina 5 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 QUADRO CLÍNICO ▪ Início frequentemente abrupto e pode ser dramático – O nível de hemoglobina pode cair, em questão de dias, até 4 g/dL ▪ Algumas pessoas com anemia hemolítica autoimune podem não manifestar sintomas, particularmente quando a destruição de glóbulos vermelhos é leve e se desenvolve lentamente ▪ Os sintomas podem ser similares aos de outros tipos de anemia (fadiga, fraqueza e palidez) especialmente quando a destruição é mais grave ou rápida ▪ A remoção maciça de eritrócitos causa icterícia, e, algumas vezes, o baço aumenta (processo + crônico) o Cerca de 80% dos pacientes com AHAI primária apresentam esplenomegalia o Detecção de hepatomegalia isolada ou linfadenomegalia sugere a possibilidade de doença linfoproliferativa ▪ Os sintomas de destruição grave ou rápida de hemácias podem incluir icterícia, febre, dor no peito, desmaio, sintomas de insuficiência cardíaca (ex.: falta de ar) e até mesmo morte ▪ Na vigência dessa tríade (Hb baixa, icterícia e esplenomegalia), a suspeita de AHAI deve ser alta ▪ Quando há hemólise intravascular, o sinal indicador consiste em hemoglobinúria ▪ Nas pessoas com anemia hemolítica por anticorpos frios, as mãos e os pés podem ficar frios ou azulados (fenômeno de Reynaud) ▪ Quando a causa da AHAI é outra doença, podem predominar os sintomas da doença subjacente, como linfonodos inchados e sensíveis e febre ▪ As pessoas com hemoglobinúria paroxística fria podem apresentar dores intensas nas costas e nas pernas, vômito e diarreia, colúria e hepatoesplenomegalia DIAGNÓSTICO ▪ Suspeitar de anemia hemolítica autoimune em qualquer paciente com anemia hemolítica (anemia + reticulocitose) ▪ O esfregaço periférico de sangue geralmente mostra microesferócitos e contagem alta de reticulócitos com poucos ou nenhum esferócito, indicando hemólise extravascular ▪ Exames laboratoriais tipicamente indicam hemólise (LDH elevado e bilirrubina indireta) ▪ VCM alto pode ocorrer devido à reticulocitose extrema ▪ A anemia hemolítica em casos de baixa contagem de reticulócitos é rara, mas pode ocorrer e é sugestiva de doença grave TESTE DE COOMBS DIRETO (teste direto de antiglobulina) ▪ Diagnostica-se anemia a hemolítica autoimune pela detecção de autoanticorpos com o teste direto de antiglobulina ▪ A antiglobulina sérica é acrescentada aos eritrócitos lavados do paciente – aglutinação indica a presença de imunoglobulina ou complemento (C) ligado aos eritrócitos ▪ Na anemia hemolítica por anticorpos quentes, a IgG quase sempre está presente e C3 (C3b e C3d) também pode estar presente ▪ Na doença por anticorpos frios, C3 está presente enquanto IgG geralmente está ausente ▪ O teste é ≤ 98% sensível para anemia hemolítica autoimune; falso-negativos podem ocorrer se a densidade do anticorpo é muito baixa ou, raramente, se os autoanticorpos são IgA ou IgM (resultado negativo não descarta diagnóstico) ▪ Na maioria dos casos da anemia hemolítica autoimune quente, o anticorpo é uma IgG identificada apenas como panaglutinina, significando que não é possível determinar a especificidade do antígeno ao anticorpo ▪ Na doença de anticorpos frios, o anticorpo geralmente é uma IgM direcionada contra o carboidrato I/i na superfície dos eritrócitos ▪ Normalmente pode-se determinar as titulações dos anticorpos, mas estas nem sempre se correlacionam com a atividade da doença TESTE DE COOMBS INDIRETO (teste indireto de antiglobulina) ▪ Exame complementar que consiste em misturar o plasma do paciente com eritrócitos normais para determinar se esses anticorpos estão livres no plasma ▪ Um teste de antiglobulina indireto positivo e um teste direto negativo geralmente indicam um anticorpo reagente causado por gestação, transfusões anteriores ou reação imunitária de lectina em vez da hemólise imunitária ▪ Mesmo a identificação de anticorpos quentes não define a hemólise, pois 1/10.000 dos doadores normais de sangue apresentam exame com resultado positivo DEFINIÇÃO DA ETIOLOGIA (QUENTE OU FRIA) Anticorpos frios: A reação é positiva com anti-C3 e negativa com anti-IgG. Também pode ocorrer na anemia hemolítica de anticorpos quentes quando os anticorpos IgG têm baixa afinidade, em alguns casos medicamentosos e na HPF 6 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 Anticorpos quentes: A reação é positiva com anti-IgG e negativa com anti-C3 – Esse padrão é comum na AHAI idiopática e na AHAI farmacológica ou do tipo alfametildopa OU reação positiva anti-IgG e anti-C3 – Esse padrão é comum em pacientes com LES e AHAI idiopática (raramente em alguns casos associados à fármacos) TRATAMENTO ▪ A transfusão de sangue é o tratamento mais importante para os pacientes sintomáticos que evoluem rapidamente para anemia grave potencialmente fatal – Nesses casos, nunca se deve postergar a transfusão por falta de unidades "compatíveis" ▪ Todos os pacientes com hemólise recebem ácido fólico Anemia hemolítica por anticorposquentes ▪ Os corticoides são o tratamento convencional de primeira linha (Ex.: prednisona 1 mg/kg, VO 1x/dia) ▪ Ao estabilizar os níveis de eritrócitos, diminuir gradualmente os corticoides com monitoramento laboratorial da hemólise (Hb e contagem de reticulócitos) ▪ O objetivo é desmamar completamente o paciente dos corticoides ou manter a remissão com a menor dose possível de corticoides ▪ Nos pacientes que recidivam após a suspensão dos corticoides ou que tem doença refratária aos corticoides, geralmente usa-se rituximab (anti-CD20) como tratamento de segunda linha ▪ Outros tratamentos são feitos com imunossupressores e/ou esplenectomia – Cerca de um terço a metade dos pacientes têm uma resposta sustentada após a esplenectomia ▪ Nos casos de hemólise fulminante, pode-se utilizar imunossupressão com pulsoterapia em altas doses de corticoides ou ciclofosfamida ▪ Para hemólise menos grave, mas incontrolada, infusões de imunoglobulina são fornecidas para controle temporário Deve-se evitar as transfusões quando a anemia não apresenta risco de vida Anemia hemolítica por anticorpos frios ▪ Evitar ambientes frios (< 8-10°C) e outros gatilhos da hemólise ▪ Em casos graves, pode-se fazer plasmaférese (tratamento temporário eficaz) – As transfusões devem ser feitas limitadamente, com o sangue aquecido por um aquecedor em linha ▪ A esplenectomia geralmente não tem valor nenhum ▪ Quando necessário medicação, usa-se imunossupressor – Escolha: rituximab Hemoglobinúria paroxística ao frio ▪ Evitar estritamente a exposição ao frio ▪ Imunossupressores reservados aos pacientes com casos progressivos ou idiopáticos ▪ Esplenectomia sem valor ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNE MEDICAMENTOSA ▪ As drogas podem induzir a formação de anticorpos dirigidos contra a própria droga ou contra antígenos intrínsecos às hemácias ▪ A maioria das drogas possui peso abaixo de 5mil Dalton (peso limite para a droga ter imunogenicidade) FISIOPATOLOGIA ▪ Os fármacos podem causar hemólise por meio de pelo menos dois mecanismos: (1) Um fármaco pode comportar-se como hapteno e induzir a produção de anticorpos (em raros indivíduos, isso ocorre, com a penicilina). Com uma exposição subsequente, os eritrócitos são incluídos como espectadores inocentes na reação entre a penicilina e os anticorpos antipenicilina. A hemólise diminui assim que se interrompe a adm. do fármaco 7 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 (2) Um fármaco pode desencadear, talvez por mimetismo, a produção de um anticorpo contra um antígeno eritrocitário: O exemplo mais bem conhecido é a metildopa, um agente anti-hipertensivo fora de uso, que, em uma pequena fração dos pacientes, estimulava a produção do anticorpo Rhesus anti-e. Nos pacientes com esse antígeno, o anti-e é um verdadeiro autoanticorpo, que, então, provoca AH autoimune. Em geral, isso regride gradualmente com a interrupção da metildopa Metildopa → Ainda se usa na gestante MEDICAMENTOS QUE PODEM CAUSAR ANEMIA HEMOLÍTICA PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNOLÓGICA (PTI) ▪ Também conhecida como trombocitopenia imune/ idiopática ▪ Distúrbio adquirido em que ocorrem destruição imune das plaquetas e, possivelmente, inibição da sua liberação pelos megacariócitos ▪ Nas crianças, a PTI em geral é uma doença aguda associada mais comumente a uma infecção e tem evolução autolimitada ▪ Nos adultos, trata-se de uma doença mais crônica – Em alguns indivíduos ocorre remissão espontânea, geralmente dentro de alguns meses após o dx FISIOPATOLOGIA ▪ Doença hematológica frequente, que se caracteriza pela produção de autoanticorpos dirigidos contra proteínas da membrana plaquetária, principalmente os complexos GPIIb- IIIa, GPIb-IX e GPIa-IIa ▪ Há sensibilização das plaquetas que são fagocitadas por macrófagos, tendo uma sobrevida de horas ao invés de 8 a 9 dias que seria o habitual ▪ Os autoanticorpos são produzidos principalmente no baço, onde ocorrerá a fagocitose, mas pode ocorrer também no fígado ▪ A contagem de plaquetas costuma ser de aproximadamente 140.000 a 440.000 μL CLASSIFICAÇÃO ▪ Baseia-se no comportamento clínico e na resposta ao tratamento 8 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 PTI CLÁSSICA OU AUTOIMUNE CRÔNICA/ ADULTA ▪ Afeta pacientes entre a terceira e quarta décadas de vida – Apresenta curso crônico e geralmente benigno ▪ É predominante no sexo feminino ▪ Não está associada a infecção prévia ▪ Geralmente tem sinais hemorrágicos e graves PTI AGUDA/ INFANTIL ▪ Maior incidência na infância ▪ Afeta igualmente ambos os sexos e quase sempre é precedida de infecção viral ou vacinação ▪ Possui curso limitado e não é recorrente, geralmente com sintomas mais brandos ▪ Quanto mais velha a criança, maiores as chances de evoluir para a forma crônica PTI ASSOCIADA A OUTRAS DOENÇAS (SECUNDÁRIA) ▪ Geralmente de natureza autoimune ou neoplásica ▪ Caracterizada por distúrbio do sistema imunológico – Curso semelhante ao da PTI crônica clássica ▪ Doenças mais comumente associadas: LES, doenças autoimunes da tireoide, HIV, Epstein-Barr e pós radio/quimio QUADRO CLÍNICO ▪ Os sintomas podem surgir repentinamente ou gradualmente ▪ Em geral, os pacientes apresentam equimoses e petéquias ou têm trombocitopenia detectada casualmente em um HC de rotina ▪ Também pode haver sangramentos mucocutâneos (mucosa oral) ou gastrintestinais ou menstruais profusos ▪ Em casos raros, podem ocorrer hemorragias potencialmente fatais, inclusive no SNC ▪ Púrpura úmida (bolhas de sangue na boca) e hemorragias na retina podem prenunciar uma hemorragia potencialmente fatal ▪ Na PTI crônica, fadiga é comum ▪ Caracteriza-se por sangramento mucocutâneo e contagens de plaquetas baixas, que, com frequência, são muito baixas, porém com esfregaço e células sanguíneas periféricas normais nos demais aspectos DIAGNÓSTICO ▪ Contagem de plaquetas + coagulograma + exames para descartar outros distúrbios ▪ Basicamente um DX de exclusão ▪ Contagem de plaquetas < 100.000 por µL de sangue, sem uma diminuição semelhante no n° de glóbulos vermelhos ou brancos e sem outra explicação clara para a trombocitopenia, como uma infecção ou o uso de certos medicamentos o < 100 mil é plaquetopenia, sendo < 50 mil sugestivo de púrpura ▪ O exame de medula óssea pode ser reservado para pacientes que apresentam outros sinais ou anormalidades laboratoriais não explicados pela PTI, ou para aqueles que não respondem ao tratamento inicial ▪ O esfregaço do sangue periférico pode mostrar plaquetas grandes com morfologia normal sob outros aspectos ▪ PDW (semelhante ao RDW): Aumentado ▪ Dependendo da existência de história de sangramento, pode haver anemia ferropriva ▪ Os exames laboratoriais são realizados para investigar as causas secundárias de PTI e devem incluir teste para infecção pelo HIV e hepatite C ▪ Se houver anemia, deve-se efetuar o teste da antiglobulina direta (teste de Coombs) para descartar a possibilidade de anemia hemolítica autoimune combinada com PTI (síndrome de Evans) ▪ Dx diferencial: Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) e de síndrome hemolítico-urêmica (SHU) o Crianças: Leucemia linfoide aguda (LLA) 9 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 TRATAMENTO ▪ O diagnóstico de PTI não significa necessariamente que o tratamento deva ser iniciado. Os pacientes com contagens de plaquetas > 30.000/μL não parecem ter uma taxa de mortalidade aumentada relacionada com a trombocitopenia ▪ Geralmente trata-se pacientes com plaquetas < 20 mil ▪ Pessoas com hemorragias de risco à vida podem receber transfusão de plaquetas (além de corticosteroides e/ou imunoglobulina por via intravenosa)* Em casos bem especiais ▪ Tto. inicial dos pacientes sem manifestações hemorrágicas graves, sem trombocitopenia grave (< 5.000/μL), ou sem sinais de sangramento iminente (Ex.: hemorragias da retina ou sangramento extenso na mucosa oral) pode ser instituído de modo ambulatorialcom utilização de um único fármaco o Prednisona 1 mg/kg ou imunoglobulina Rho (D) 50 a 75 μg/kg o A imunoglobulina Rho (D) só deve ser administrada a pacientes Rh-positivo* – FDA aconselha a monitoração dos pacientes por um período de 8h após a infusão, devido a rara complicação de hemólise intravascular grave o A gamaglobulina intravenosa (IgGIV) é mais eficaz do que a anti-Rho (D) em pacientes pós-esplenectomia — 1 a 2 g/kg no decorrer de 1 a 5 dias o RA: Relacionados com o volume da infusão e, em casos raros, incluem meningite asséptica e insuficiência renal ▪ Para os pacientes com PTI grave e/ou sinais e sintomas hemorrágicos o Recomenda-se a internação hospitalar e institui-se um tratamento de modalidade combinada com doses altas de glicocorticoides e terapia com IgGIV ou anti-Rho (D) o Se for necessário, utiliza-se outros agentes imunossupressores o O rituximabe, um anticorpo anti-CD20 (células B), demonstrou ser eficaz no tratamento da PTI refratária, embora ocorra remissão de longa duração em apenas cerca de 30% dos pacientes o A esplenectomia é realizada como tratamento para pacientes com recidivas depois da redução progressiva das doses dos glicocorticoides ▪ A vacinação contra bactérias encapsuladas (principalmente pneumococos, mas também meningococos e Haemophilus influenzae, dependendo da idade do paciente e do potencial de exposição) é recomendada antes da esplenectomia AGONISTAS DO RECEPTOR DE TROMBOPOETINA ▪ Essa abordagem baseia-se no achado de que muitos pacientes com PTI não apresentam níveis elevados de TPO ▪ Os níveis de TPO refletem a massa de megacariócitos (em geral está normal na PTI) – Os níveis de TPO não estão aumentados em situações de destruição das plaquetas ▪ Dois fármacos, um administrado por via subcutânea (romiplostim) e o outro por via oral (eltrombopague), mostram-se efetivos para aumentar as contagens de plaquetas ▪ São recomendados para adultos com risco de sangramento, que sofrem recidiva após esplenectomia ou que não responderam a pelo menos outro tratamento, em particular indivíduos que têm alguma contraindicação para a esplenectomia ▪ O eltrombopague foi aprovado pela FDA para uso em crianças > 1 ano de idade. O romiplostim ainda não foi aprovado pela FDA em crianças, porém a sua eficácia é sustentada por um ensaio clínico randomizado Tendo em mente que a PTI sofrerá resolução espontânea em alguns pacientes adultos, pode-se considerar o tratamento a curto prazo com um agonista da TPO antes da esplenectomia em pacientes que necessitam de tratamento SUSPEITA DE MAUS TRATOS ▪ O método clínico ainda é a melhor ferramenta de que o médico dispõe para o diagnóstico de maus tratos ou violência ▪ Estima-se que 10% das lesões em crianças com idade < 5 anos atendidas em PS sejam causadas por maus tratos, que 15% são internadas por queimaduras e 50% das crianças < 1 ano com fraturas sejam vítimas de maus tratos ▪ Os membros da família são os agressores mais frequentes ▪ Fatores de risco para que o adulto seja o agressor: o Uso de álcool e drogas o Baixo índice de escolaridade o Os próprios agressores terem sido vítimas de maus tratos na infância ▪ No Brasil, o tema é contemplado pela Constituição Federal (art. 227, 1988) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) 10 Bianca Biranoski. 6ºP. UC16 ▪ Estes instrumentos legais tornaram obrigatória a notificação às autoridades de casos suspeitos ou confirmados de violência contra crianças ou adolescentes, prevendo penas para médicos, professores e responsáveis por estabelecimentos de saúde e educação que deixam de comunicar os casos desse tipo ENCAMINHAMENTO ▪ Quando a criança ou adolescente em situação de violência apresentar lesões leves e não for detectado risco de revitimização com o seu retorno para a moradia, deve-se notificar o conselho tutelar – Essa notificação pode ser encaminhada no primeiro dia útil após o ocorrido ▪ Considera-se como risco de revitimização o fato de o agressor não ser controlável ou a família ou cuidadores do paciente não parecerem competentes e capazes de proteger a criança ou adolescente. ▪ Na presença de lesões graves ou quando o retorno da criança ou adolescente para sua moradia puder resultar em revitimização, essa deve ser internada, para que permaneça sob a proteção da instituição hospitalar – e deve-se notificar a Vara da Infância e Juventude