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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde Vinicius Martins Dias Batista Avaliação do conhecimento e atitudes dos profissionais de saúde de um hospital de ensino sobre proteção radiológica. MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE SOROCABA/SP 2016 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde Vinicius Martins Dias Batista Avaliação do conhecimento e atitudes dos profissionais de saúde de um hospital de ensino sobre proteção radiológica. MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE Trabalho final apresentado à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE PROFISSIONAL em Educação nas Profissões da Saúde, sob a orientação do Prof. Dr. Fernando Antônio de Almeida. SOROCABA/SP 2016 Elaborado pela Biblioteca Prof. Dr. Luiz Ferraz de Sampaio Júnior. Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde – PUC-SP Batista, Vinicius Martins Dias B333 Avaliação do conhecimento e atitudes dos profissionais de saúde de um hospital de ensino sobre proteção radiológica / Vinicius Martins Dias Batista. -- Sorocaba, SP, 2016. Orientador: Fernando Antônio de Almeida. Trabalho Final (Mestrado Profissional) -- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. 1. Conhecimentos, Atitudes e Prática em Saúde. 2. Proteção Radiológica. 3. Educação em Saúde. I. Almeida, Fernando Antonio de. II. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. III. Título. BANCA EXAMINADORA: _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ AGRADECIMENTOS Aos meus pais que foram os meus primeiros professores na vida. A minha esposa e amiga Kelly Araújo que sempre me deu apoio e entendeu as minhas ausências. Aos meus filhos João Pedro e Gustavo que me enchem de energia diariamente com demonstrações de amor genuíno. Aos meus irmãos Guilherme e Paula que tiveram participação importante nessa trajetória. Ao meu orientador, exemplo de ser humano, Prof. Dr. Fernando Antônio de Almeida, que me conduziu com paciência e carinho demonstrando através de simples atitudes o verdadeiro significado da palavra professor. Ao meu ex-aluno e amigo Oberdan, que esteve ao meu lado me apoiando até o final deste trabalho. Aos amigos que fiz durante o mestrado, funcionários, alunos e professores pelo convívio e aprendizado adquirido. Aos voluntários desta pesquisa, sem eles, ela não seria possível. Ao professor e amigo Clayton Marques que me auxiliou incansavelmente na produção dos personagens utilizados no material educativo. Ao Hospital Santa Lucinda por ter permitido que esse trabalho fosse realizado em suas dependências, contribuindo com a promoção da educação em saúde, meu muito obrigado a todos. RESUMO Martins, V.M.D. Avaliação do conhecimento e atitudes dos profissionais de saúde de um hospital de ensino sobre proteção radiológica. Introdução: O conceito de radioproteção é habitualmente reconhecido como importante entre os profissionais de saúde de nível técnico e superior, porém, são escassas as informações sobre o conhecimento formal e sua aplicação na prática. Percebendo a defasagem no processo de proteção radiológica nos setores que utilizam radiação ionizante, resolvi pesquisar o conhecimento que os profissionais da saúde têm sobre proteção radiológica e a necessidade de intervenção educativa para que os profissionais trabalhem de forma consciente e com proteção adequada. Objetivos: Avaliar o conhecimento que os profissionais de saúde de um hospital de ensino (HE) têm sobre radioproteção; conscientizar as equipes sobre os efeitos danosos das radiações ionizantes e aplicação do princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable) na rotina de trabalho e implementar o conhecimento sobre radioproteção através do ensino lúdico utilizando material didático e de fácil compreensão. Métodos: Trata-se de um estudo transversal exploratório com análise qualitativa das questões abertas e quantitativa das questões dirigidas. Foi aplicado um questionário semiestruturado a 59 funcionários dos diferentes setores do HE para avaliar o grau de conhecimento existente. A partir dos achados foi elaborada uma cartilha com imagens lúdicas para ser distribuída a todos os funcionários do HE. Na semana interna de prevenção de acidentes de trabalho do HE foi feita pelos funcionários teatralização sobre a radioproteção. Resultados: Na opinião dos participantes o curso técnico ou superior que fizeram não forneceu formação sobre radioproteção ou esta foi insuficiente para a prática. O ambiente de trabalho, mesmo em um HE, disponibiliza poucas informações sobre radioproteção e as normas que a regem. Boa parte dos entrevistados (25%) mesmo tendo conhecimento não observam as medidas de radioproteção. Na aferição do conhecimento formal sobre o conceito e as medidas habituais de radioproteção observamos que 1/3 dos participantes tem bom conhecimento teórico, 1/3 tem conhecimento incompleto e 1/3 desconhece completamente o conceito e as ações de radioproteção. Conclusão: Os funcionários de um HE, mesmo os de nível superior, têm necessidade de capacitação sobre radioproteção, pois o curso de formação falhou neste aspecto. Acreditamos que o mesmo deve acontecer em outras instituições de saúde. As ações objetivando a capacitação em radioproteção foram muito bem aceitas pelos funcionários e sua tradução efetiva em maior proteção individual e coletiva está sendo avaliada. Palavras-Chave: Radiação ionizante, proteção radiológica, equipamentos de proteção, educação em saúde, educação. ABSTRACT Martins, V.M.D. Assessment of knowledge and attitudes of health professionals from a university hospital about radiation protection Background: The concept of radioprotection is usually recognized as important among the technical level of health professionals and higher. However, the information on the formal knowledge and its application in practice are scarce. Noticing the discrepancy in radiation protection process in sectors using ionizing radiation, decided to search the knowledge that health professionals have on radiation protection and the need for educational intervention for professionals to work consciously and with adequate protection. Objectives: To assess the knowledge that the health professionals of a university hospital (UH) have about radioprotection, educate staff about the harmful effects of ionizing radiation and application of the ALARA (As Low As Reasonably Achievable) principle in routine work and implement the knowledge of radioprotection through playful learning using teaching materials and easy to understand. Methods: This is an exploratory cross-sectional study with a qualitative analysis of the open questions and the quantitative issues addressed by a semi-structured questionnaire was applied to 59 employees from different sectors of UH to assess the degree of knowledge. From the findings it was prepared a booklet with playful images to be distributed to all employees of the UH. In the internal prevention week of work accidents at the UH it was made by the employees a performance about radioprotection. Results: According to the participants with technical or graduated degree, they did not have training on radiation protection as students orit was insufficient to practice. The work environment, even in a UH, provides little information about radiation protection and the rules which govern it. Much of the respondents (25%) even knowing not observe the radiation protection procedures. In the assessment of formal knowledge on the concept and the usual measures of radioprotection we observed that 1/3 of the participants have good theoretical knowledge, 1/3 have incomplete knowledge and 1/3 is completely unaware of the concept and radioprotection actions. Conclusion: The employees of a UH, even at graduated level, need training on radiation protection, because the training course failed in this respect. We believe the same should happen in other health institutions. The actions aimed at training in radiation protection were very well accepted by employees and their effective translation greater individual and collective protection is being evaluated. Keywords: Ionizing radiation, radiation protection, protective devices, health education, education. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Porcentagem sobre o significado do termo proteção radiológica ou radioproteção 27 Gráfico 2 Porcentagem sobre a eficiência da formação técnica ou superior em proteção radiológica individual ou coletiva 27 Gráfico 2a Porcentagem dos participantes que responderam sim, e se consideram a formação acadêmica suficiente para a proteção individual e coletiva 28 Gráfico 3 Porcentagem de capacitação em proteção radiológica no ambiente de trabalho 29 Gráfico 4 Porcentagem sobre o conhecimento de alguma norma regulatória ou portaria de proteção radiológica adotada pelo hospital 29 Gráfico 4a Porcentagem dos participantes que responderam sim, sobre a disponibilidade do documento para consulta 30 Gráfico 5 Porcentagem do conhecimento de como se proteger dos raios-x quando o exame é realizado no ambiente de trabalho 31 Gráfico 5a Porcentagem dos participantes que responderam sim, sobre as medidas que devem ser adotadas na proteção radiológica 32 Gráfico 6 Porcentagem da frequência que o profissional toma as atitudes de proteção radiológica 32 Gráfico 7 Porcentagem do interesse dos participantes da pesquisa em receberem educação permanente em proteção radiológica 33 Gráfico 8 Porcentagem sobre a existência de um protocolo escrito a ser observado de proteção radiológica no ambiente de trabalho 34 Gráfico 9 Porcentagem sobre a existência de um supervisor técnico de proteção radiológica 35 Gráfico 10 Porcentagem sobre a existência da portaria 453/98 disponível no setor 35 Gráfico 11 Porcentagem sobre a disponibilidade de dosímetros individuais nos setores de radiodiagnóstico 36 Gráfico 12 Porcentagem sobre a existência da monitoração escrita e periódica da dose de radiação dos profissionais expostos 37 Gráfico 13 Porcentagem sobre o recebimento dos resultados das leituras dos dosímetros 38 Gráfico 14 Porcentagem sobre a existência de treinamento registrado com informações básicas sobre riscos ocupacionais 38 Gráfico 15 Porcentagem sobre a existência de documentação escrita dos procedimentos de rotina de trabalho, incluindo plano de proteção radiológica 39 Gráfico 16 Porcentagem das áreas que fazem uso de radiação ionizante, se estão bem sinalizadas 40 Gráfico 17 Porcentagem sobre as portas quando fechadas, se permitem o perfeito isolamento das salas 40 Gráfico 18 Porcentagem sobre a localização da cabine de comando, se permitem a observação da porta de acesso da sala 41 Gráfico 19 Porcentagem sobre a existência de programa de qualidade e manutenção preventiva regular para assegurar que os equipamentos estejam de acordo com as especificações de desempenho 42 Gráfico 20 Porcentagem sobre a existência de sinalização de advertência quando a radiação ionizante está ativa dentro da sala 42 Gráfico 21 Porcentagem sobre a adequação de carga de radiação realizadas pelos técnicos 43 Gráfico 22 Porcentagem sobre a existência de informativo em local visível solicitando às mulheres grávidas que informem ao médico ou ao técnico antes da realização do exame 44 Gráfico 23 Porcentagem sobre o conhecimento da existência de um representante do serviço de imagem na CIPA 44 Gráfico 24 Porcentagem sobre a existência de equipamento de proteção individual no serviço de radiologia 45 Gráfico 25 Porcentagem sobre a existência de aventais de chumbo em número suficiente para disponibilizar durante o exame 45 Gráfico 26 Porcentagem sobre a existência de um fluxograma para procedimento em casos de acidentes e emergência 46 Gráfico 27 Porcentagem sobre a existência de protetores genitais e de tireoide disponíveis para pacientes e acompanhantes 47 Gráfico 28 Porcentagem sobre a existência de orientações escritas sobre o descarte dos resíduos gerados pelo serviço de radiologia 48 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Caracterização da amostra segundo o gênero e idade ............................................. 27 Tabela 2 - Caracterização da amostra segundo a formação profissional ................................. 28 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas AIEA Agência Internacional de Energia Atômica ALARA As Low As Reasonably Achievable CA Certificado de Aprovação CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear DSC Discurso do Sujeito Coletivo EPIs Equipamentos de Proteção Individual FCMS Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde Gy Gray HSL Hospital Santa Lucinda HE Hospital de Ensino ICRP Comissão Internacional de Proteção Radiológica ICRU Comissão Internacional de Unidades e Medidas das Radiações IOE Indivíduo Ocupacionalmente Exposto IPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes IXRPC Comitê Internacional de Proteção aos Raios-X e Radioproteção MOI Modelo Operário Italiano MS Ministério da Saúde mSv miliSievert NBPR Normas Básicas de Proteção Radiológica NN Norma Nacional NR Norma Reguladora PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo SIPAT Semana de Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho SUS Sistema Único de Saúde TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNSCEAR Comitê Científico sobre os Efeitos da Radiação Atômica da Organização das Nações Unidas UTI Unidade de Terapia Intensiva SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13 1.1 AS RADIAÇÕES IONIZANTES E SEUS TIPOS ...................................................................... 13 1.2 SOBRE UM “NOVO” TIPO DE RAIOS (RAIOS X) ................................................................ 14 1.3 EFEITOS BIOLÓGICOS DAS RADIAÇÕES IONIZANTES. ......................................................... 15 1.3.1 Efeitos à curto prazo ou agudos ............................................................................... 16 1.3.2 Efeitos à longo prazo ou tardios. ............................................................................. 16 1.3.2.1 Efeitos genéticos (ou hereditários). .................................................................. 16 1.3.2.2 Efeitos somáticos. ............................................................................................. 16 1.4 O HISTÓRICO DAS NORMAS DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA ................................................. 17 1.5 O SISTEMA DE RADIOPROTEÇÃO OCUPACIONAL. ............................................................ 19 1.6 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL. .................................................................... 20 1.7 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E EDUCAÇÃOPERMANENTE ........................................ 20 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 23 3 MÉTODOS ........................................................................................................................... 24 3.3 LOCAL DA PESQUISA ........................................................................................................ 24 3.1 PARTICIPANTES DA PESQUISA .......................................................................................... 25 3.2 AVALIAÇÃO DO QUESTIONÁRIO ....................................................................................... 25 3.4 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS. ................................................................................................. 26 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 27 4.1 PARTICIPANTES DO ESTUDO ............................................................................................. 27 4.2 NÍVEL DE FORMAÇÃO DOS PARTICIPANTES ...................................................................... 27 4.2 RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO ........................................................................................ 29 4.2.1 Conceituação de proteção radiológica (ou radioproteção) pelos participantes ....... 29 4.2.2. Os cursos técnicos e de graduação oferecem a formação adequada em radioproteção? .................................................................................................................. 30 4.2.3 Capacitação no ambiente de trabalho sobre radioproteção ..................................... 31 4.2.4 Conhecimento de normas regulatórias de proteção radiológica adotadas pelo hospital. ............................................................................................................................ 32 4.2.5 Proteção dos raios-x durante a realização de exames radiológicos no ambiente de trabalho............................................................................................................................. 34 4.2.6 Adoção regular às medidas de proteção radiológica ............................................... 36 4.2.6 Interesse em processo de educação permanente em radioproteção ........................ 37 4.2.7 Protocolos de proteção radiológica ......................................................................... 38 4.2.8 Supervisor de proteção radiológica ......................................................................... 39 4.2.9 Disponibilidade da Portaria SMS/MS no 453/1998 ................................................ 40 4.2.10 Disponibilização e monitoração dos dosímetros ................................................... 41 4.2.11 Controle clínico e laboratorial do profissional exposto à radiação. ...................... 43 4.2.12 Treinamento regular sobre os riscos ocupacionais ............................................... 44 4.2.13 Sinalização das áreas de risco ............................................................................... 46 4.2.14 Isolamento dos ambientes expostos à radiação ..................................................... 47 4.2.15 Controle do acesso ................................................................................................ 48 4.2.16 Programa de controle de qualidade e manutenção preventiva dos equipamentos 49 4.2.17 Sinalização de advertência de radiação ionizante ativa ........................................ 50 4.2.18 Adequação das cargas a protocolos pré-estabelecidos .......................................... 51 4.2.19 Informação às mulheres potencialmente grávidas ................................................ 52 4.2.20 Representante dos profissionais dos setores de imagem na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). ..................................................................................... 53 4.2.21 Disponibilidade de equipamentos de proteção individual .................................... 54 4.2.22 Protocolos para situações de emergência ou acidentes ......................................... 56 4.2.23 Equipamentos de proteção para pacientes e acompanhantes ................................ 57 4.2.24 Descarte de material resíduos ............................................................................... 58 4.3 RESULTADOS DAS QUESTÕES ABERTAS (QUALITATIVAS) ................................................ 59 4.3.1 Proteção dos profissionais de saúde contra radiação (25 participantes) ................. 59 4.3.2 Atitude da empresa para proteger o funcionário (1 participante) ........................... 60 4.3.3 Uso de equipamento de proteção individual (15 participantes) .............................. 60 4.3.4 Proteção pessoal e coletiva (6 participantes) .......................................................... 60 4.3.5 Capacitação de pessoal e monitoramento (1 participante) ...................................... 60 4.3.6 Documentos/normas (2 participantes) .................................................................... 60 4.3.7. Não exceder a jornada diária de trabalho (1 participante) ..................................... 60 4.3.8. Manter distância da fonte de radiação (20 participantes) ...................................... 60 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 62 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 63 APÊNDICE A - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO APLICADO ................................ 65 APÊNDICE B - NÚMERO DE RESPOSTAS CORRETAS*, PARCIALMENTE CORRETAS E INCORRETAS À QUESTÃO1 “O QUE SIGNIFICA PARA VOCÊ O TERMO PROTEÇÃO RADIOLÓGICA OU RADIOPROTEÇÃO”? ............................. 67 APÊNDICE C - NÚMERO DE RESPOSTAS CORRETAS*, PARCIALMENTE CORRETAS E INCORRETAS À QUESTÃO 5A “SE RESPONDEU SIM, QUAIS MEDIDAS DEVEM SER ADOTADAS”? ........................................................................... 68 APÊNDICE D - RESPOSTA À PERGUNTA 6 SOBRE A FREQUÊNCIA COM QUE OS PARTICIPANTES TOMAM MEDIDAS DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA. ............... 69 APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO ....................................................... 70 APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 72 APÊNDICE G - MATERIAL EDUCATIVO COM O TEMA PROTEÇÃO RADIOLÓGICA E OS RISCOS QUE AS RADIAÇÕES PODEM CAUSAR. ............... 73 ANEXO 1: NORMATIZAÇÃO BRASILEIRA DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL .... 75 ANEXO 2: CARTA DE AUTORIZAÇÃO .......................................................................... 80 ANEXO 3: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ........................... 81 13 1 INTRODUÇÃO Sou Vinicius Martins, tecnólogo em radiologia, formado na Universidade Paulista, campus Sorocaba em 2010 e, atualmente, trabalho com tomografia computadorizada na Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba e no setor de radiologia intervencionista no Hospital Santa Lucinda também de Sorocaba. Atuo como docente no curso superior de Radiologia na Universidade Paulista campus Sorocaba e no Serviço Nacional da Indústria (Senai) – São Paulo como instrutor de imagens médicas. Percebendo a defasagem no processo de proteção radiológica nos setores que utilizam radiação ionizante, resolvi pesquisar o conhecimento que os profissionais da saúde têm sobre proteção radiológica e a necessidade de intervenção educativa para que os profissionais trabalhem de forma consciente e com proteção adequada. Tendo como foco a formação e a capacitação de profissionais da área da saúde para que estes possam modificar positivamente o ambiente de trabalho no qual estão inseridos, o mestrado profissional teve para mim, através desta pesquisa e da relação com outros profissionaisde saúde, um papel fundamental na construção, fundamentação e consolidação de conceitos educativos críticos e reflexivos. 1.1 As radiações ionizantes e seus tipos Radiação ionizante é o termo usado para descrever o transporte de energia, tanto na forma de ondas eletromagnéticas como na forma de partículas subatômicas, capazes de causar ionização na matéria. Quando a radiação ionizante passa pela matéria, confere energia por excitação ou ionização. Os efeitos da radiação dependem, sobretudo, da quantidade, da qualidade da radiação incidente e da natureza do material com o qual está interagindo. 1 As radiações são classificadas em: i) emissão de nêutrons; ii) radiações gama, ou seja, radiação eletromagnética, da mesma natureza que a luz visível, as micro-ondas ou os raios X, porém mais energética; iii) radiação alfa (núcleos de hélio, formados por dois prótons e dois nêutrons); iv) radiação beta (elétrons ou suas antipartículas, os pósitrons, cuja carga elétrica é positiva).(2) Dessa forma, para melhor compreensão, as radiações se apresentam de duas formas. Como partículas atômicas ou subatômicas energéticas, tais como partícula alfa, elétrons, pósitrons, prótons, nêutrons, que podem ser produzidos em aceleradores de partículas ou em reatores ou emitidos espontaneamente de núcleos dos átomos radioativos e a radiação pode apresentar-se também em forma de onda eletromagnética, constituída de campo elétrico e campo magnético oscilantes, perpendiculares entre si e que se propagam no vácuo com a 14 velocidade da luz (3x108 m/s). Uma onda eletromagnética é caracterizada pelo comprimento de onda ou pela frequência da onda e as várias faixas constituem o espectro eletromagnético, indo de ondas de frequência extremamente baixa, passando por ondas de rádio, de TV, micro ondas, radiação infravermelha, luz visível, radiação ultravioleta até chegar aos raios x e gama.3 Em alinhamento com o objetivo desse estudo, vamos ater-nos às radiações eletromagnéticas do tipo X que são as mais utilizadas na prática médica. Os profissionais que trabalham diretamente expostos à radiação ionizante são denominados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, na Norma NN 3.01 de março de 2014 (parágrafo 48), como indivíduo Ocupacionalmente Exposto (IOE), ou seja, individuo sujeito à exposição ocupacional às radiações ionizantes de qualquer gênero. 1.2 Sobre um “novo” tipo de raios (Raios X) Wilhelm Conrad Roentgen nasceu em 27 de março de 1845, na cidade alemã de Lennep (atual Remscheid), onde atualmente se encontra o museu de Roentgen. Faleceu em Munich (Alemanha) em 10 de fevereiro de 1923, tendo sido enterrado na cidade alemã de Giessen. Em 8 de novembro de 1895, o professor de física teórica, Doutor Wilhelm Conrad Roentgen, descobriu os raios-x, em Wurzburg (Alemanha), fato ocorrido a partir das experiências com as ampolas de Hittorf (Johann Wilhelm Hittorf - físico alemão) e Crookes (William Crookes – físico e químico inglês). Em 22 de novembro de 1895, Roentgen fez a primeira radiografia da história, da mão esquerda de Anna Berhta Ludwig Roentgen, sua mulher, e seis dias após publicou na revista Sitzungs Berichte, da sociedade Física Médica de Wurzburg, o célebre artigo “Sobre um novo tipo de raio – Comunicação prévia”. Posteriormente, outros dois trabalhos referentes aos raios-x foram publicados por ele: um ainda em 1896, conhecido como “2ª Comunicação” e outro em 1897, conhecido como a “3ª Comunicação”.4 Durante vários séculos houve muita polêmica quanto à natureza da luz, se ela era uma onda ou se era constituída de partículas. A teoria mais moderna, a da dualidade onda partícula, desenvolvida por Max Planck e por Albert Einstein a partir de 1901 e posteriormente por Louis de Broglie, correlaciona partícula com onda. Segundo esta concepção, uma onda eletromagnética é emitida e propaga-se em forma de pequenos pacotes de energia chamado fótons. Qualquer tipo de radiação interage com corpos, inclusive o humano, depositando neles energia. A forma de interação depende do tipo e da energia da radiação e do meio absorvedor.3 Os raios-x, radiações ionizantes consideradas nesse estudo, são um tipo de radiação semelhante à luz, mas invisíveis e com energia suficiente para atravessar corpos opacos. São 15 produzidos pelos elétrons que se movem do catodo para o anodo dentro do tubo de raios-x, acelerados por uma alta tensão e com produção de fótons (na ordem de 1%) e aumento da temperatura do anodo (99%). Esses fótons constituem a radiação que será utilizada para produzir a imagem radiográfica. A radiação é produzida no anodo para todas as direções. Por isso, o tubo é colocado dentro de uma calota protetora revestida de chumbo. Essa radiação que sai do tubo é denominada de radiação primária. Quando o feixe primário atravessa os corpos, ele é atenuado na medida em que os fótons vão interagindo com as estruturas internas do corpo, resultando em diferentes intensidades devido à absorção do feixe de raios-x. Qualquer objeto (pessoa, cadeira, parede) atingido por essa radiação atua como um emissor de radiação, chamada de radiação secundária e espalhada.1 1.3 Efeitos biológicos das radiações ionizantes. As moléculas biológicas são constituídas principalmente por átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Elétrons provavelmente serão arrancados destes elementos no caso de irradiação. Para que ocorra a ionização do material biológico, a energia liberada pela radiação deve ser superior à energia de ligação dos elétrons aos átomos destes elementos. A energia liberada pela radiação pode produzir também excitação dos átomos e quebra de moléculas e, como consequência, formação de íons e radicais livres altamente reativos, que podem atacar moléculas de grande importância (como o DNA) do núcleo da célula, causando- lhes danos. Por ser responsável pela codificação da estrutura molecular de todas as enzimas da célula, o DNA passa a ser molécula chave no processo de estabelecimento de danos biológicos. A alteração de uma molécula de DNA resulta numa célula capaz de continuar vivendo, mas incapaz de se dividir. Assim, a célula acaba morrendo e não renovada. Se isso ocorre em um número muito grande de células, sobrevém o mau funcionamento do tecido constituído por essas células e, por fim, a sua morte. O efeito das radiações ionizantes em um indivíduo depende basicamente da dose absorvida (alta/baixa), da taxa de exposição (crônica/aguda) e da forma da exposição (corpo inteiro/localizada). Existem efeitos biológicos da radiação que se manifestam a curto e em longo prazo. 5 16 1.3.1 Efeitos à curto prazo ou agudos São efeitos observáveis em apenas horas, dias ou semanas após a exposição do individuo à radiação. Esses efeitos são geralmente associados a altas doses de radiação acima de 1Gy (Gray), recebidas por grandes áreas do corpo, num curto período de tempo. 6 Dependendo da dose, pode ser provocada a síndrome aguda de radiação, em que podem ocorrer náuseas, vômitos, prostração, perda de apetite e de peso, febre, hemorragias dispersas, queda de cabelo e forte diarreia.6 Os três sistemas que sofrem as consequências na síndrome aguda de radiação são o sistema hematopoiético (para doses equivalentes abaixo de 5Gy); sistema gastrintestinal (para doses equivalentes entre 5 e 20 Gy) e o sistema nervoso central (para doses equivalentes acima de 50 Gy). 6 1.3.2 Efeitos à longo prazo ou tardios. São efeitos que podem surgir de altas doses de radiação recebidas num curto intervalo de tempo. Por exemplo, há os casos de animais adultos que receberam dose de radiação não letal, e que apresentam recuperação aparente, podendo, no entanto, vir a apresentar efeitos muitos anos mais tarde. E há os casos que recebem pequenas doses, mas crônicas, em um longo intervalo de tempo; são os casos de pessoas ocupacionalmenteexpostas, como radiologistas e pesquisadores que lidam com radiação. Os efeitos tardios podem ser genéticos e somáticos.6 1.3.2.1 Efeitos genéticos (ou hereditários). Consistem em mutações nas células reprodutoras que afetam gerações futuras. Esse efeito pode surgir quando os órgãos reprodutores são expostos à radiação e, aparentemente, sem afetar o indivíduo que sofreu exposição, mas afetando seus descendentes. Há indicações de que quanto maior a dose acumulada maior será o número de mutações ocorridas.6 1.3.2.2 Efeitos somáticos. Afetam diretamente o indivíduo exposto à radiação e não são transmitidos às gerações futuras e podem ser imediatos ou tardios. Os efeitos imediatos são aqueles que ocorrem num 17 período de horas até algumas semanas após a irradiação. Os efeitos tardios resultam de pequenas doses continuadas num longo intervalo de tempo como são os casos que ocorrem em pessoas ocupacionalmente expostas, como técnicos em radiologia por exemplo. A gravidade desses efeitos dependerá basicamente da dose recebida e da região atingida. Isso se deve ao fato de que as diversas regiões do corpo reagem de formas diferentes ao estímulo da radiação. 5 1.4 O histórico das normas de proteção radiológica Diversos efeitos biológicos foram reportados logo após a descoberta dos raios X. Naquela época era prática comum verificar a intensidade dos raios X expondo trabalhadores à radiação emitida e medindo o tempo transcorrido até que a região exposta apresentasse alguma patologia. Durante as décadas seguintes, foi acumulado um grande número de informações sobre os efeitos maléficos da radiação ionizante e, consequentemente, sobre a necessidade de regulamentar a exposição de indivíduos a essa radiação bem como aprimorar as técnicas empregadas pelo uso de colimadores, filtros, blindagens para a atenuação.7 Criada em 1928 a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) no Congresso Internacional de Radiologia, com o nome de Comitê Internacional de Proteção aos Raios-X e Radioproteção (IXRPC). Em 1950, ambos os nomes e a estrutura foram mudados através das recomendações do Segundo Comitê Internacional de Proteção aos Raios-X e Radioproteção. A ICRP tem trabalhado juntamente com outras organizações como a Comissão Internacional de Unidades e Medidas das Radiações (ICRU), o Comitê Científico sobre os Efeitos da Radiação Atômica da Organização das Nações Unidas (UNSCEAR) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que organiza as recomendações da ICRP em normas.8 Criada em 1977 a publicação 26 da ICRP estabeleceu a filosofia de radioproteção que, atualmente, é a mais aceitável. Quantifica-se então, pela primeira vez, o risco dos efeitos estocásticos das radiações e propõe um sistema de limitação de dose, sendo compreendido por três princípios básicos de radioproteção.8 No Brasil as Normas Básicas de Proteção Radiológica (NBPR), aprovadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em 1973, fixaram os princípios básicos de proteção contra danos oriundos do uso de radiações e estabeleceram, para vigorar no país, entre outros, os limites de dose que vinham sendo recomendados internacionalmente. Em agosto de 1988, a CNEN aprovou a norma “Diretrizes Básicas de Radioproteção”, em substituição às NBPR de 1973. Esta norma fundamenta-se no conceito de detrimento 18 introduzido pela ICRP-26, ou seja, no fato de qualquer dose, por menor que seja, está associada à ocorrência de danos (efeitos estocásticos), e adotam os três princípios básicos: justificação, otimização e limitação de dose. 9 Princípio da Justificação: Qualquer atividade envolvendo radiação ou exposição deve ser justificada em relação a outras alternativas e produzir um benefício líquido para a sociedade; 9 Princípio da Otimização: As exposições devem ser tão reduzidas quanto razoavelmente exequível (ALARA - As Low As Reasonably Achievable), levando-se em consideração fatores sociais e econômicos; 9 Princípio da Limitação da Dose Individual: As doses individuais de trabalhadores e indivíduos do público não devem exceder os limites anuais de dose estabelecidos pela ICRP de 1990 e adotadas no Brasil pela Portaria 453, de 01/06/1998 do Ministério da Saúde onde a dose média anual não deve exceder 20 miliSievert (mSv) em qualquer período de 5 anos consecutivos, não podendo exceder 50 mSv em nenhum ano para trabalhadores das áreas de radiodiagnóstico médico e odontológico. Um Sievert carrega com ele uma chance de 5,5% de eventualmente desenvolver câncer.8 Os riscos ocupacionais dos trabalhadores expostos a radiações ionizantes têm sido estudados por autores como Gomes (2002), que abordou as condições de trabalho e riscos de exposição em serviços de radiodiagnóstico em hospital público. Estudo esse realizado em 176 hospitais da rede pública do Estado de são Paulo onde foram constatadas condições precárias de trabalho nos serviços de radiologia. Fernandes et al (2005) observaram e entrevistaram técnicos e enfermeiros nos locais de trabalho onde constataram os riscos ocupacionais que esses indivíduos estavam expostos, elaborando mapas de risco para os locais de trabalho. Entre outros aspectos relatados por Fernandes et al (2005), os equipamentos de proteção individual constituem o principal aspecto de biossegurança negligenciado. Autores como Luiz et al (2011) estudaram uma maneira de aplicar o ensino lúdico para a construção de conceitos e propostas de ensino para os profissionais diretamente expostos através de treinamentos e divulgação de material de fácil interpretação, obtendo resultados satisfatórios quanto ao conhecimento dos profissionais após a divulgação do material e melhorando a capacidade de interpretação dos fenômenos radiológicos. Brand et al (2011) realizaram um estudo com oito técnicos em radiologia acerca de seus conhecimentos sobre radioproteção e legislação, onde observaram deficiência nos saberes sobre esses conceitos. Bernardo (2013) estudou a dose de radiação em 19 exames de crânio de crianças realizando um treinamento para a equipe de técnicos em radiologia em conjunto com o serviço de engenharia hospitalar um projeto para gerar relatórios e controles de dose absorvida pelos pacientes. Com a ajuda de protocolos criados especificamente para esse tipo de exame os técnicos ampliaram seus conhecimentos sobre radioproteção do paciente e para o profissional exposto.10,11,12,13,14 De acordo com Poletto (2007), em muitas situações, o técnico de radiologia tem contato mais próximo e prolongado com pacientes, muitas vezes portadores de doenças contagiosas, e não faz uso dos EPIs devido o seu estado de desgaste ou ausência dos mesmos.15 Outro aspecto diz respeito à monitoração individual de dose que, de acordo com a Portaria nº 453, é de uso obrigatório “durante a sua jornada de trabalho e enquanto permanecer na área controlada”. 16 Programas computacionais de monitorização ocupacional em radiologia foram desenvolvidos para o monitoramento dos riscos ocupacionais, de acordo com as diretrizes de proteção radiológica.17,18 1.5 O Sistema de Radioproteção Ocupacional. A proteção radiológica tem por objetivo proteger adequadamente os profissionais expostos à radiação sem limitar desnecessariamente as práticas benéficas obtidas pela radiação ionizante. O sistema de radioproteção é fundamentado em princípios básicos, que visam garantir que a dose equivalente recebida por alguma pessoa seja tão baixa quanto razoavelmente exequível (princípio as low as reasonably achievable, ALARA); que nenhum emprego de radiação seja injustificado em relação a seus benefícios e que a dose equivalente não exceda os limites anuais de dose para os profissionais. Dessa forma, em um programa de monitoração ocupacional, os pontos de maior preocupação com os indivíduos expostos são: a jornada de trabalho, a formação dosprofissionais, treinamento periódico, a dosimetria pessoal e os exames médicos e laboratoriais de rotina. 16 Ainda conforme a regulamentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), todo profissional que trabalha com radiodiagnóstico deve usar um dosímetro sempre e somente quando estiver na área de risco e ainda submetê-lo mensalmente à leitura dos dados nele contido, a fim de monitorizar a radiação individual acumulada. 19 Com isto obtêm-se informações acerca da exposição à radiação ionizante. Atualmente, a maioria dos serviços fornece monitores ou dosímetros individuais para os profissionais. No 20 entanto, verifica-se que em alguns casos os profissionais desconhecem a importância do uso dos dosímetros individuais e os limites de doses mensais recomendados. É um hábito comum o armazenamento de forma coletiva e não individual dos dosímetros junto ao monitor padrão ao final do expediente, e a não utilização correta contínua dos mesmos, conforme se recomenda.16,20,7 1.6 Equipamentos de proteção individual. Segundo a norma reguladora NR 6 (2010), criada pelo Ministério do Trabalho e Emprego a fim de promover a saúde e a segurança do trabalhador, equipamento de proteção individual (EPI) é todo dispositivo que o trabalhador deve usar para protegê-lo dos perigos que podem ameaçar sua segurança e sua saúde. Deve, ainda, ter o Certificado de Aprovação (CA) concedido pelo Ministério do Trabalho e Emprego a quem cabe fiscalizar a qualidade dos EPIs.21 Os EPIs para proteção radiológica são os seguintes: a) aventais plumbíferos com 0,5 mm equivalentes de chumbo; b) protetores de tireoide plumbíferos com 0,5 mm equivalentes de chumbo; c) luvas plumbíferas com dedos de 0,25mm equivalentes de chumbo; d) óculos com vidro plumbífero anterior e lateral de 0,5mm equivalentes de chumbo. 20,7 Além dos equipamentos listados acima, todo equipamento de fluoroscopia deve possuir cortina ou saiote plumbífero, inferior e lateral, assim como biombos ou anteparos móveis de chumbo, com espessura não inferior a 0,5 mm equivalentes de chumbo para a proteção do operador contra a radiação que atinge o paciente e é propagada em várias direções. Estudos feitos com procedimentos de cateterismo cardíaco relatam que há uma redução das doses absorvidas pelos médicos operador/es em 50% quando o anteparo de chumbo lateral está bem localizado entre o médico e o paciente durante o exame. Os biombos móveis, quando bem utilizados, reduzem a exposição dos profissionais que operam o aparelho de hemodinâmica em até 85% da radiação; quando os biombos não são utilizados, a simples atitude de dar alguns passos distanciando-se da mesa de exame pode reduzir pela metade a radiação secundária. 22,23,19 1.7 Construção do conhecimento e educação permanente 21 Segundo Luizet al (2011), o conceito de física das radiações é um tema pouco abordado no ensino médio bem como a má formação de alguns discentes de cursos especializados em radiologia representa um fator preocupante para a exposição ocupacional e para o público geral. O ensino da física nuclear básica nas escolas e nos cursos especializados poderia reduzir exposições desnecessárias à radiação. Dessa forma, um grande desafio se apresenta como sendo a transformação do conhecimento científico em conteúdo didático sem perder as suas características e complexidades. 12 Segundo Morin (2006), os métodos de ensino atuais simplificam demais o conhecimento de modo a mutilar a realidade ou fenômenos de que tratam, sugerindo dessa forma outro problema: como elucidar a complexidade de modo não simplificador?24 Uma das “chaves” para elucidar o conceito de proteção radiológica de forma simples, porém, sem desprezar a sua complexidade, é através do conceito de ludicidade. A palavra lúdico vem do latim ludus que significa divertimento, em se tratando de uma função educativa pode ser usado para o conhecimento e compreensão de temas complexos.12 Segundo Santos (2010), o ensino através do lúdico proporciona uma condição de vivenciar situações-problemas no que se refere às atividades que estimulam a lógica e o raciocínio favorecendo a combinação de ideias levando a retenção do conhecimento estudado.6 Para reforçar a importância da atualização no setor de radiologia o Ministério da Saúde, a partir da Portaria 453, de 1998, estabelece o dever das instituições prestadoras do serviço de operacionalizar programas de educação em saúde, pelo menos anualmente. Esta mesma resolução define alguns assuntos que devem ser socializados, tais como procedimentos de operações de equipamentos, uso adequado dos dosímetros individuais, uso de EPI tanto para os trabalhadores, como para pacientes e acompanhantes, entre outros relacionados à segurança do setor.16 Por meio da educação permanente abre-se a possibilidade de uma nova ação, de um novo espaço de ação e reação, e, portanto, possível, neste contexto, de trilhar-se um caminho mais seguro.1 A educação permanente em saúde precisa ser entendida, ao mesmo tempo, como uma prática de ensino-aprendizagem e como uma política de educação na saúde. Ela se parece com muitas vertentes brasileiras da educação popular em saúde e compartilha muitos de seus conceitos, mas enquanto a educação popular tem em vista a cidadania, a educação permanente tem em vista o trabalho. A educação permanente em saúde se apoia no conceito de ensino problematizador (inserido de maneira crítica na realidade e com igualdade do educador em relação ao educando) http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupersau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edu.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/sau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupersau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/tra.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupersau.html 22 e de aprendizagem significativa (interessada nas experiências anteriores e nas vivências pessoais dos alunos, desejosos em aprender mais), ou seja, ensino-aprendizagem embasado na produção de conhecimentos que respondam a perguntas que pertencem ao universo de experiências e vivências de quem aprende e que gerem novas perguntas sobre o ser e o atuar no mundo.28 É contrária ao ensino-aprendizagem mecânico, quando os conhecimentos são considerados em si, sem a necessária conexão com o cotidiano, e os alunos se tornam meros escutadores e absorvedores do conhecimento do outro. Portanto, apesar de parecer, em uma compreensão mais apressada, apenas um nome diferente ou uma designação da moda para justificar a formação contínua e o desenvolvimento continuado dos trabalhadores, é um conceito forte e desafiante para pensar as ligações entre a educação e o trabalho em saúde, para colocar em questão a relevância social do ensino e as articulações da formação com a mudança no conhecimento e no exercício profissional, trazendo, junto dos saberes técnicos e científicos, as dimensões éticas da vida, do trabalho, do homem, da saúde, da educação e das relações. 28 A educação permanente em saúde não expressa, portanto, uma opção didático- pedagógica, expressa sim uma opção político-pedagógica. A partir desse desafio político- pedagógico, a ‘educação permanente em saúde’ foi amplamente debatida pela sociedade brasileira organizada em torno da temática da saúde, tendo sido aprovada na XII Conferência Nacional de Saúde e no Conselho Nacional de Saúde (CNS) como política específica no interesse do sistema de saúde nacional, o que se pode constatar por meio da Resolução CNS n. 353/2003 e da Portaria MS/GM n. 198/2004. 28 A educação permanente em saúde tornou-se, dessa forma, a estratégia preferencial para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para a saúde. Uma condição indispensável para um aluno, trabalhador de saúde, gestor ou usuário do sistema de saúdemudar ou incorporar novos elementos à sua prática e aos seus conceitos é o desconforto com a realidade naquilo que ela deixa a desejar de integralidade e de implicação com os usuários. A necessidade de mudança, transformação ou crescimento vem da percepção de que a maneira vigente de fazer ou de pensar alguma coisa está insatisfatória ou insuficiente em dar conta dos desafios do trabalho em saúde. Esse desconforto funciona como um estranhamento da realidade, sentindo que algo está em desacordo com as necessidades vividas ou percebidas pessoalmente, coletivamente ou institucionalmente. 28 http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/trasau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupersau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupersau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupersau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/intsau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/trasau.html 23 2 OBJETIVOS Avaliar o conhecimento que os profissionais de saúde de um hospital de ensino têm sobre radioproteção. Provocar nos profissionais de saúde de um hospital de ensino a reflexão sobre práticas relacionadas à exposição e proteção radiológica em seu cotidiano. 24 3 MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal exploratório com análise qualitativa e quantitativa. Como referencial teórico será utilizado o Modelo Operário Italiano (MOI), método formulado em seus elementos fundamentais pelos operários italianos, com assessoria técnica de médicos, engenheiros e outros profissionais.25 O modelo possibilita aos trabalhadores, com auxílio de técnicos, a reconstrução de seus processos de trabalho, com a identificação dos riscos e dos danos a que estão expostos. O MOI foi desenvolvido com um método de geração do conhecimento para a ação. Seu princípio fundamental é o da transformação das condições de trabalho, com vistas ao bem-estar e a proteção da saúde dos trabalhadores. Para isso, baseia-se no conhecimento detalhado do processo de trabalho. A inovação introduzida pelo MOI, em relação às práticas tradicionais de investigação da saúde dos trabalhadores, está sintetizada em sua operacionalização. Os conceitos básicos que sustentam o MOI são a valorização da experiência ou subjetividade do profissional, não delegação da produção do conhecimento, levantamento das informações por grupos homogêneos de trabalhadores e a validação consensual das informações.25 3.3 Local da pesquisa Hospital Santa Lucinda (HSL) em Sorocaba, SP, um hospital de ensino próprio da Fundação São Paulo, mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). É certificado como Hospital de Ensino desde 2004, sob a coordenação do Ministério da Saúde (MS) e do Ministério da Educação (MEC). Os Hospitais de Ensino desenvolvem, além das tradicionais atividades de atenção à saúde, a formação de recursos humanos na área da saúde e pesquisa e desenvolvimento tecnológico para o SUS. Os Hospitais de Ensino pertencem ou são conveniados a uma Instituição de Ensino Superior, pública ou privada, que sirva de campo para a prática de atividades de ensino na área da saúde e certificada conforme estabelecido na Portaria Interministerial MEC/MS nº 285, de 25 de março de 2015. Atualmente o HSL possui uma parceria com a Prefeitura de Sorocaba, atendendo também usuários do SUS, sendo que 70% dos atendimentos no HSL são correspondentes ao SUS com usuários vindos de quase 50 cidades da região. Por ser um hospital próprio da Fundação São Paulo/PUC-SP o HSL atua como campo de estágio nas áreas de biologia, medicina e enfermagem, não só da PUC-SP, mas também de outras instituições de ensino superior e técnico. O HSL possui as áreas nas 25 especialidades de cardiologia, otorrinolaringologia, cirurgia geral, pediatria, urologia, ortopedia, maternidade, ambulatório médico de especialidades, centro de cardiologia e radiologia intervencionista, cirurgia cardíaca, centro de diálise e transplante renal, litotripsia, unidade de terapia intensiva (UTI) adultos e UTI neonatal. O HSL tem 132 leitos disponíveis nas diferentes áreas de internação. O hospital tem ainda o ambulatório de especialidades com atendimento ao SUS e a convênios. O corpo de funcionários conta com 240 funcionários administrativos, 238 profissionais de enfermagem, 10 técnicos de radiologia e um corpo clínico com mais de 200 médicos. O serviço de diagnóstico por imagem no HSL é composto por salas de raios-x, setor de densitometria óssea, mamografia, hemodinâmica, centro cirúrgico, equipamentos portáteis e tomografia computadorizada. 3.1 Participantes da Pesquisa Foram convidados todos os funcionários dos setores considerados “áreas controladas” do Hospital Santa Lucinda, especificamente setor de hemodinâmica e setor de imagem. Foram convidados todos os funcionários profissionais de saúde de setor clínico e centro cirúrgico do HSL expostos, mesmo que eventualmente, à radiação ionizante. Os participantes receberam todas as informações a respeito do projeto, leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e só depois responderam a o questionário construído pelo autor para avaliar o conhecimento prévio sobre proteção radiológica. O questionário foi dividido em 2 partes, a primeira (geral) respondida por todos os participantes e a 2ª parte específica para profissionais que trabalham em “áreas controladas”. O questionário foi apresentado e distribuído pelo pesquisador responsável aos participantes da pesquisa. Cada participante recebeu um questionário e depois de uma semana foi feito o recolhimento. O período de coleta de dados foi de julho a novembro de 2014. Houve baixa adesão de profissionais médicos no centro cirúrgico e alguns profissionais não devolveram o questionário alegando ter perdido. 3.2 Avaliação do questionário A análise dos dados qualitativos foi realizada pelo método do discurso do sujeito coletivo. 26 26 Na análise das respostas dirigidas foi aplicada a estatística descritiva. Foram elaboradas tabelas para a demonstração dos dados coletados. O método do Discurso do Sujeito Coletivo consiste em uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos, desenvolvido por Lefevre e Lefevre no fim da década de 90, e tem como fundamento a teoria da Representação Social. O DSC é um discurso-síntese elaborado com partes de discursos de sentido semelhante, por meio de procedimentos sistemáticos e padronizados. Ele representa uma mudança nas pesquisas qualitativas porque permitem que se conheça os pensamentos, representações, crenças e valores de uma coletividade sobre um determinado tema utilizando-se de métodos científicos. A aplicação da técnica do DSC a um grande número de pesquisas no campo da saúde e também em outras áreas do conhecimento, tem demonstrado sua eficácia para o processamento e expressão das opiniões coletivas. Tendo como fundamento a teoria da Representação Social e seus pressupostos sociológicos, a proposta consiste basicamente em analisar o material verbal coletado, extraído de cada um dos depoimentos. O DSC é uma modalidade de apresentação de resultados de pesquisas qualitativas, apresentado na primeira pessoa do singular, expediente que visa expressar o pensamento de uma coletividade, como se esta coletividade fosse o emissor de um discurso. Esta técnica consiste em selecionar, de cada resposta individual a uma questão, as expressões chaves, que são trechos mais significativos destas respostas. A essas expressões chaves correspondem ideias centrais que são a síntese do conteúdo discursivo manifestado e o pensamento de um grupo ou coletividade aparece como se fosse um discurso individual.27 3.4 Considerações éticas. O projeto de pesquisa e o TCLE (Apêndice 2) foram submetidos ao Comitêde Ética em Pesquisa da FCMS/PUC-SP e o projeto só teve início após a sua aprovação. Ao final do estudo os resultados e análise técnica foram comunicados ao CEP-FCMS- PUC/SP, aos responsáveis pela radioproteção no HSL e foi solicitado um momento para comunicação dos resultados a toda a comunidade envolvida, durante a Semana de Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT). 27 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Participantes do estudo Durante a pesquisa 59 colaboradores se propuseram a participar e responder ao questionário. Desse total, 14 homens e 45 mulheres dos setores de hemodinâmica, imagem, UTI adulto e neonatal, pediatria, centro cirúrgico, limpeza e engenharia clínica. Tabela 1: Caracterização da amostra segundo o gênero e idade Gênero N (%) Idade Média (DP) Homens 14 (24) 32 (7,5) Mulheres 45 (76) 34 (7,3) Total 59 (100) 33 (7,25) Fonte: tabela elaborada pelo autor. 4.2 Nível de formação dos participantes Profissionais da saúde de várias áreas dentro do hospital participaram da pesquisa sendo na sua maioria profissionais da equipe de enfermagem (44) o que é justificado pela maior quantidade dessa categoria representada no hospital pesquisado. 28 Tabela 2 - Caracterização da amostra segundo a formação profissional Grau de Instrução Formação N(%) Superior N(%) Técnico N(%) Enfermagem 44 (75) 13 (30) 31 (70) Médico 4 (7) 4 (100) - Radiologia 2 (3) 1 (50) 1 (50) Outros 8 (14) 6 (75) 2 (25) Não respondeu 1(1) - - Total 59 (100) 24 (41) 33 (59) Fonte: tabela elaborada pelo autor. 29 4.2 Respostas ao questionário 4.2.1 Conceituação de proteção radiológica (ou radioproteção) pelos participantes O gráfico 1 corresponde à primeira pergunta do questionário. Tratava-se de uma questão aberta onde solicitávamos para o participante dizer o que entendia por "proteção radiológica ou radioproteção". Por se tratar de uma questão técnica a correção foi feita pelo pesquisador responsável e por um segundo professor independente que classificaram por consenso as respostas em "correta" quando o participante soube expressar o conceito de proteção radiológica; "parcialmente correta" quando havia elementos conceituais presentes, mas não completamente corretos, "incorreta" quando não existia qualquer elemento conceitual presente na resposta. Houve 17% dos participantes que não responderam, o que deve ser considerado como se eles não tivessem sequer ideia do que se estava perguntando. Exemplos de resposta considerada correta: "Acredito que deve ser referente ao uso de roupa de proteção ao se expor ao raio; e o uso de dosímetro para medição da radiação mensal." Exemplo de resposta parcialmente correta: Penso que proteção radiológica é nos afastarmos do local onde está sendo realizado o raio-x. Exemplo de resposta incorreta: Todo método de proteção contra as radiações, provenientes de aparelhos, raios UVA, UVB. Como se depreende, dois terços dos participantes (39/59) não têm uma compreensão correta do conceito de radioproteção. A análise qualitativa das respostas à questão 1 serão apresentadas posteriormente e baseada no DSC. 30 Gráfico 1 - O que significa para você o termo “proteção radiológica” ou ”radioproteção”? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.2. Os cursos técnicos e de graduação oferecem a formação adequada em radioproteção? Em relação à questão 2, na visão da maioria dos participantes (61%) o curso técnico ou de graduação não ofereceu a formação sobre proteção radiológica individual e coletiva. Gráfico 2 - Seu curso técnico ou de graduação ofereceu formação em proteção radiológica individual e coletiva? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 34% 34% 15% 17% 1. O que significa para você o termo “proteção radiológica” ou ”radioproteção”? Correta Parcialmente correta Incorreta Não respondeu 37% 61% 2% 2. Seu curso técnico ou de graduação ofereceu formação em proteção radiológica individual e coletiva? Sim Não Não respondeu 31 Mesmo aqueles que receberam formação em seus cursos regulares técnicos ou de graduação, grande parte (59%), não consideram que tenha sido adequada e suficiente para a prática profissional. (Gráfico 2a) Gráfico 2a - Se respondeu sim, você considera está formação suficiente para sua proteção na vida profissional? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.3 Capacitação no ambiente de trabalho sobre radioproteção Considerando que a equipe multiprofissional precisa estar sempre atualizada nas questões de trabalho e de segurança, tanto do paciente como do profissional, e, como antevimos e foi confirmado nas questões anteriores (gráficos 2 e 2a), os cursos atualmente não oferecem a formação necessária, a questão de capacitação em proteção radiológica no ambiente de trabalho foi inserida no questionário. Dos entrevistados 74% dizem não ter recebido qualquer capacitação em proteção radiológica no ambiente de trabalho. (Gráfico 3) 41% 59% 2.a Se respondeu sim, você considera está formação suficiente para sua proteção na vida profissional? Sim Não 32 Gráfico 3 - No seu ambiente de trabalho foi-lhe oferecida alguma capacitação no sentido de proteção radiológica? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.4 Conhecimento de normas regulatórias de proteção radiológica adotadas pelo hospital. De acordo com o gráfico 4, 68% dos entrevistados afirmam não se lembrar de alguma norma de proteção radiológica adota pelo hospital. (Gráfico 4) 24% 74% 2% 3. No seu ambiente de trabalho foi-lhe oferecida alguma capacitação no sentido de proteção radiológica? Sim Não Não respondeu 33 Gráfico 4 - Você tem conhecimento de alguma norma regulatória ou portaria de proteção radiológica adotada pelo hospital? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. Dos que responderam que há normas regulatórias sobre proteção radiológica no hospital pesquisado, 71% afirmam que as normas estão disponíveis para consulta. (Gráfico 4a) 29% 68% 3% 4. Você tem conhecimento de alguma norma regulatória ou portaria de proteção radiológica adotada pelo hospital? Sim Não Não respondeu 34 Gráfico 4a – Se respondeu sim, ela está disponível para consulta no ambiente de trabalho? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.5 Proteção dos raios-x durante a realização de exames radiológicos no ambiente de trabalho. Apesar de a maioria dos entrevistados não se lembrar de nenhuma norma de proteção radiológica, em detrimento do conhecimento formal sobre radioproteção, 85% afirmam saber como se proteger dos raios-x quando os exames radiológicos são realizados no setor onde trabalham. (Gráfico 5) 35 Gráfico 5 - Você sabe como se proteger dos raios-x quando o exame é realizado em pacientes no seu ambiente de trabalho? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. Quando o entrevistado referiu saber se proteger, foi pedido que explicasse as medidas adotadas por ele próprio de modo a se proteger da exposição à radiação. Por se tratar de uma questão técnica e aberta a correção foi feita pelo pesquisador, da mesma forma que foi feito na questão 1. Uma parte dos participantes (24%) soube responder corretamente as medidas necessárias para se proteção da exposição aos raios-x em seu ambiente de trabalho e 46% mostram ter um conhecimento parcial das medidas necessárias para se proteger das radiações. Trinta por cento dos participantes não responderam ou o fizeram de maneira equivocada. (Gráfico 5a) Exemplos de resposta correta: O uso do colete quando é necessário a presença da enfermagem ao lado do paciente no momento do RX, porém quando possível devemos nos distanciar do paciente. Exemplo de resposta parcialmente correta: Usar colete de chumbo e protetor de tireoide. Exemplo de resposta incorreta: Afastar a 1metro de distância. 85%12% 3% 5. Você sabe como se proteger dos raios-x quando o exame é realizado em pacientes no seu ambiente de trabalho? Sim Não Não Respondeu 36 Gráfico 5a - Se respondeu sim, quais medidas devem ser adotadas? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.6 Adoção regular às medidas de proteção radiológica Considerando que as medidas de proteção radiológica devem ser sempre adotadas independentes das situações, apenas 60% dos entrevistados dizem adotar regularmente as medidas de proteção de que têm conhecimento e 14% nunca adotam as medidas de radioproteção na realização do exame. (Gráfico 6) 24% 46% 15% 15% 5.a Se respondeu sim, quais medidas devem ser adotadas? Correta Parcialmente correta Incorreta Não Respondeu 37 Gráfico 6 - Com que frequência você toma estas atitudes de proteção radiológica? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.6 Interesse em processo de educação permanente em radioproteção O intuito dessa pesquisa, além de mostrar os resultados sobre o conhecimento que os funcionários têm sobre radioproteção, também é oferecer valor tangível para que os funcionários possam adotar medidas corretas de radioproteção com embasamento no conhecimento prático estabelecido pela portaria 453 do Ministério da Saúde. Assim, os participantes da pesquisa foram questionados quanto ao interesse em participar de um processo de educação permanente sobre radioproteção no hospital. A grande maioria (87% dos participantes) tem interesse em participar de um treinamento sobre radioproteção. (Gráfico 7) 60%16% 14% 10% 6. Com que frequência você toma estas atitudes de proteção radiológica? Sempre Quase sempre Nunca Não respondeu 38 Gráfico 7 - Você teria interesse em participar de um processo de educação permanente sobre radioproteção no hospital? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.7 Protocolos de proteção radiológica A questão seguinte se refere aos protocolos adotados pelo hospital pesquisado sobre proteção radiológica, onde apenas 14% dos entrevistados afirmam haver um protocolo a ser seguido nas realizações de exames por imagem que utilizam radiação ionizante. (Gráfico 8) 87% 13% 7. Você teria interesse em participar de um processo de educação permanente sobre radioproteção no hospital? Sim Não 39 Gráfico 8 - Há um protocolo escrito a ser observado de proteção radiológica no seu ambiente de trabalho? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.8 Supervisor de proteção radiológica De acordo com a norma NN 3.01 da CNEN de 2004, supervisor de proteção radiológica ou supervisor de radioproteção é o indivíduo com habilitação de qualificação emitida pela CNEN, no âmbito de sua atuação, formalmente designado pelo titular da instalação para assumira condução das tarefas relativas às ações de proteção radiológica na instalação relacionada àquela prática. Dessa forma, o gráfico 9 nos mostra que essa função não está bem determinada, de modo que apenas 14% afirmam haver um supervisor de radioproteção. (Gráfico 9) 14% 74% 12% 8. Há um protocolo escrito a ser observado de proteção radiológica no seu ambiente de trabalho? Sim Não Não respondeu 40 Gráfico 9 –Há um supervisor técnico de proteção radiológica? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.9 Disponibilidade da Portaria SMS/MS no 453/1998 A Portaria 453 estabelece as diretrizes básicas de proteção radiológica em radiodiagnóstico de modo que é preciso manter um exemplar na instituição em caso de dúvidas sobre as normas. O gráfico seguinte representa uma divergência dos participantes em relação a essa questão (Gráfico 10). Na realidade, nenhuma das instalações do hospital visitadas tem esta portaria disponível para consulta. 41 Gráfico 10 - Existe um exemplar da Portaria SMS/MS nº453/1998 disponível no setor? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.10 Disponibilização e monitoração dos dosímetros A portaria 453 do Ministério da Saúde estabelece que o dosímetro deve ser usado por todo indivíduo que trabalha com raios-x diagnósticos, deve usar, durante toda sua jornada de trabalho e enquanto permanecer em área controlada. Dosímetro individual de leitura indireta deve ter sua leitura realizada e trocado mensalmente. Há uma divergência entre os entrevistados onde 42% diz haver dosímetros para os IOEs e 42% diz não haver. (Gráfico 11) 44% 31% 25% 10. Existe um exemplar da Portaria SMS/MS nº453/1998 disponível no setor? Sim Não Não respondeu 42 Gráfico 11 - Há dosímetros individuais disponibilizados para os profissionais de saúde que atuam nos setores de radiodiagnóstico? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. A monitoração só pode ser descrita se houver a apresentação adequada do dosímetro. Como na questão 11 a divergência ainda persiste na questão 12, de forma que 42% dizem não haver uma monitorização mensal. (Gráfico 12) 42% 42% 16% 11. Há dosímetros individuais disponibilizados para os profissionais de saúde que atuam nos setores de radiodiagnóstico? Sim Não Não respondeu 43 Gráfico 12 – Há monitoração escrita e periódica da dose de radiação nos profissionais expostos? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.11 Controle clínico e laboratorial do profissional exposto à radiação. A Portaria 453 do Ministério da Saúde estabelece que todo indivíduo ocupacionalmente exposto deve ser submetido a um programa de controle de saúde baseado nos princípios gerais de saúde ocupacional. Sendo que, dos entrevistados, apenas 39% afirmam que recebem resultados de monitorização de dosímetros e exames clínicos. (Gráfico 13) 44 Gráfico 13 - Os profissionais recebem os resultados das leituras dos dosímetros e dos exames clínicos realizados? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.12 Treinamento regular sobre os riscos ocupacionais Segundo 64% dos entrevistados não há registros de treinamentos e informações sobre riscos ocupacionais. (Gráfico 14) 39% 46% 15% 13. Os profissionais recebem os resultados das leituras dos dosímetros e dos exames clínicos realizados? Sim Não Não respondeu 45 Gráfico 14 – Há treinamento registrado sobre informações básicas sobre riscos ocupacionais? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. Segundo a Norma Regulatória 32 todo o local de trabalho que faz uso de radiações ionizantes deve manter a disposição dos trabalhadores o Plano de Proteção Radiológica.19 Quando os entrevistados foram questionados sobre esse plano de proteção radiológica 64% dizem desconhecê-lo. (Gráfico 15) 46 Gráfico 15 - Existe documentação escrita dos procedimentos de rotina de trabalho, incluindo plano de proteção radiológica? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.13 Sinalização das áreas de risco A Portaria 453 estabelece que é preciso manter a sinalização visível na face exterior das portas de acesso, contendo o símbolo internacional da radiação ionizante acompanhado das inscrições: "raios-x, entrada restrita "ou “raios-x, entrada proibida a pessoas não autorizadas”. E ainda deve haver (entre outras) a sinalização luminosa vermelha acima da face externa da porta de acesso, acompanhada do seguinte aviso de advertência: "Quando a luz vermelha estiver acesa, a entrada é proibida". A sinalização luminosa deve ser acionada durante os procedimentos radiológicos indicando que o gerador está ligado e que pode haver exposição. Segundo 64% dos entrevistados as áreas estão bem sinalizadas. (Gráfico 16) 17% 64% 19% 15. Existe documentação escrita dos procedimentos de rotina de trabalho, incluindo plano de proteção radiológica? Sim Não Não respondeu 47 Gráfico 16 – As instalações das áreas onde se faz uso de radiação ionizante estão bem sinalizadas? Fonte: gráfico elaborado peloautor. 4.2.14 Isolamento dos ambientes expostos à radiação Ainda segundo a Portaria 453 as paredes, piso, teto e portas devem ter blindagem que proporcionem proteção radiológica às áreas adjacentes. Dos entrevistados 62% afirmam que as portas permitem o isolamento das áreas contíguas e 38% responderam negativamente ou não responderam à questão. (Gráfico 17) 48 Gráfico 17 – As portas, quando fechadas, permitem o perfeito isolamento das salas? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. Com exceção da última questão, deste ponto em diante o questionário foi respondido apenas pelos participantes que trabalham em setores técnicos de radiologia (laboratório de imagem e setor de hemodinâmica, 53 participantes) 4.2.15 Controle do acesso Para que não haja exposição de modo acidental nos trabalhadores a cabine de comando deve permitir a visualização da porta de acesso à sala de exames. Segundo 82% dos entrevistados a porta de acesso é visível da cabine de comando. (Gráfico 18) 49 Gráfico 18 – A localização da cabine de comando permite à observação da porta de acesso da sala? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.16 Programa de controle de qualidade e manutenção preventiva dos equipamentos A Portaria 453 estabelece ainda que tomar todas as medidas necessárias para evitar falhas e erros, incluindo implementação de procedimentos adequados de calibração, controle de qualidade e operação dos equipamentos de raios-x. Segundo 80% dos entrevistados a manutenção preventiva é realizada regularmente. (Gráfico 19) 50 Gráfico 19 – Existe programa de controle de qualidade e manutenção preventiva regular para assegurar que os equipamentos estejam de acordo com as especificações de desempenho? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.17 Sinalização de advertência de radiação ionizante ativa Sinalização luminosa vermelha acima da face externa da porta de acesso é o que determina a Portaria 453. Segundo 100% dos entrevistados as salas contêm a luz de aviso vermelha. (Gráfico 20) 51 Gráfico 20 – Existe sinalização de advertência quando a radiação ionizante está ativa dentro da sala? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.18 Adequação das cargas a protocolos pré-estabelecidos De acordo com a Portaria 453 deve haver documentação fornecida pelo fabricante relativa às características técnicas, especificações de desempenho, instruções de operação, de manutenção e de proteção radiológica, com tradução para a língua portuguesa, quando se tratar de equipamento importado. Essa questão foi direcionada para os colaboradores que trabalham diretamente com o equipamento emissor de radiação. Segundo a pesquisa 73% dos entrevistados fazem adequação da carga de radiação durante o exame. (Gráfico 21) 52 Gráfico 21 - Os técnicos fazem adequação de carga a ser utilizada segundo os protocolos pré- estabelecido no equipamento? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.19 Informação às mulheres potencialmente grávidas Segundo a Portaria 453, o serviço de radiodiagnóstico deve implantar um sistema de controle de exposição médica de modo a evitar exposição inadvertida de pacientes grávidas, incluindo avisos de advertência como: "Mulheres grávidas ou com suspeita de gravidez: favor informarem ao médico ou ao técnico antes do exame". Na pesquisa 65% dos entrevistados afirmaram haver avisos em locais visíveis sobre possibilidade de gravidez. (Gráfico 22) 73% 27% 21. Os técnicos fazem adequação de carga a ser utilizada segundo os protocolos pré-estabelecido no equipamento? Sim Não 53 Gráfico 22 - Existe informativo em local visível solicitando às mulheres que informem ao médico ou ao técnico antes da realização do exame, a existência ou suspeita de gravidez? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.20 Representante dos profissionais dos setores de imagem na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). A maioria (56%) dos participantes refere haver representante dos funcionários dos setores de imagem na CIPA. (Gráfico 23). Existe a CIPA, porém não temos representação de profissionais de imagem na composição do grupo dentro do hospital pesquisado. 65% 35% 22. Existe informativo em local visível solicitando às mulheres que informem ao médico ou ao técnico antes da realização do exame, a existência ou suspeita de gravidez? Sim Não 54 Gráfico 23 - Existe informativo em local visível solicitando às mulheres que informem ao médico ou ao técnico antes da realização do exame, a existência ou suspeita de gravidez? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.21 Disponibilidade de equipamentos de proteção individual Caracterizam-se nessa questão os equipamentos de proteção individual (EPI) como coletes e saiotes plumbíferos, óculos plumbífero e protetores de tireoide. De acordo com 94% dos entrevistados existe esse tipo de EPI disponível no setor. (Gráfico 24) 56% 44% 23. Existe representante do serviço de imagem na CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes)? Sim Não 55 Gráfico 24 - Existe EPI (Equipamento de Proteção Individual) disponível no serviço? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. Em complementação à pergunta anterior, foi questionado aos participantes se há aventais de chumbo para toda a equipe, e 94% responderam que sim. (Gráfico 25) 94% 6% 24. Existe EPI (Equipamento de Proteção Individual) disponível no serviço? Sim Não 56 Gráfico 25 - Existem aventais de chumbo em número suficiente para disponibilizar durante o exame? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.22 Protocolos para situações de emergência ou acidentes Protocolos de proteção radiológica devem ser implantados para organizar os planos de proteção em caso de acidentes ou emergências. Dos entrevistados 70% dizem não haver um protocolo de medidas a serem adotas em caso de acidentes. (Gráfico 26) 94% 6% 25. Existem aventais de chumbo em número suficiente para disponibilizar durante o exame? Sim Não 57 Gráfico 26 - Existem protocolos/fluxograma sobre procedimentos a serem adotados em caso de acidentes ou emergências? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.23 Equipamentos de proteção para pacientes e acompanhantes A Portaria 453 estabelece ainda que protetores de tireoide e de genitais estejam disponíveis para pacientes (desde que não atrapalhe na visualização da imagem) e acompanhantes se necessário. Dos entrevistados 50% afirmam não haver protetores para pacientes e acompanhantes. (Gráfico 27) 30% 70% 26. Existem protocolos/fluxograma sobre procedimentos a serem adotados em caso de acidentes ou emergências? Sim Não 58 Gráfico 27 – Existem protetores para os genitais e para a tireoide disponíveis para paciente e acompanhantes? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.2.24 Descarte de material resíduos A NR-32 estabelece que cabe ao empregador capacitar os trabalhadores para o descarte e transporte de resíduos radioativos. Nessa questão 81% dos entrevistados afirmam haver um plano de descartes estabelecido pelo hospital nesse quesito. (Gráfico 28) 59 Gráfico 28 - Existem orientações escritas sobre o descarte dos resíduos gerados pelo serviço de radiologia? Fonte: gráfico elaborado pelo autor. 4.3 Resultados das questões abertas (qualitativas) Os resultados qualitativos se referem às respostas produzidas pelos participantes. As categorias foram criadas em função do que sugerem as respostas às duas questões abertas e visam os objetivos da pesquisa. São elas: proteção dos profissionais de saúde contra radiação; atitude da empresa para proteger o funcionário; equipamentos de proteção individual; proteção contra radiação, proteção individual e coletiva contra radiação;
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