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Disciplina: Questão social no Brasil Monitoria Texto 1- Prefácio para a crítica da Economia Política ______________________________________________________________________ • Para o pensamento de Marx não basta somar as partes ou os fragmentos para se explicar algum elemento da realidade, também é insuficiente entender quaisquer processos a partir do isolamento das categorias elementares. O seu método exige um conceito de totalidade concreta, as relações abstratas devem ascender à reprodução do concreto por meio do pensamento: aqui se faz a necessidade da instrumentalidade e uma intervenção política. • Essa intervenção política é necessária para a não naturalização dos processos, mas entende-los através de suas condições materiais e historicamente determinadas. A miséria se for analisada separadamente do processo se torna apenas um sinônimo de fome, desnutrição e é dada como um processo natural, entretanto uma vez colocada no pensamento crítico, sabemos que a sua trajetória se difere: na Idade Média era dada pela insuficiência da força produtiva de produzir alimentos e consequentemente, sua escassez; no capitalismo sabemos que não é pela falta dessa força produtiva tampouco pela escassez. • Para alcançarmos a totalidade concreta, o homem precisa estar inserido no mundo e é só a partir das condições materiais de existência que poderá ter uma ação consciente: a transformação do todo real concreto em conceitos e posteriormente a teorização. • Antes de fazer qualquer interpretação da realidade temos que ficar atentos: no mundo em que vivemos, estamos inseridos numa classe social e se esta é hegemônica, há o pressuposto da denominação e é preciso portanto, a predisposição de querer ver para além do aparente. • O homem consciente é aquele que antes de mais nada precisa satisfazer suas necessidades naturais e imediatas, só assim ele pode satisfazer-se socialmente, pois a necessidade material vincula-se automaticamente à necessidade de reproduzir: para o campo de possiblidades, os interesses materiais devem ser satisfeitos. É nessa perspectiva que a concepção de trabalho é para Marx: aquele que produz o ser social, que atende as necessidades sociais e materiais, que cria o valor de uso, a utilidade para o homem, mas que no encontro com o Capitalismo, o trabalho encontra limitações de expandir-se para além do ser individual. • A partir disso, temos a seguinte afirmação: todo homem é capaz de raciocinar, o que limita seu desenvolvimento é a escassez de recursos materiais. • E para ir além do aparente, é necessário uma consciência filosófica: condições necessárias para que o homem possa sair de sua alienação e dessa forma entender a realidade como ela é. É dessa forma que para entendermos a questão social, investigar as causas estruturais é fundamental. Se nos afastarmos desse método, cairemos na aparência imediata: a questão da terra por exemplo, se transforma numa questão meramente política e não uma configuração brasileira, ou seja basta reformismos para maquiar a real conjuntura. É esta consciência filosófica que nos permitirá o alcance do ser genérico. • O abstrato está a nível do pensamento que só pode ser construído através do concreto e dessa forma se faz a volta para a realidade, uma vez feita de forma crítica, ela volta sempre enriquecida. É a partir do método de Marx que iremos entender a questão social no Brasil, o diálogo com sua diversidade da formação sócio histórica, mas que deve ser colocada no bojo da totalidade. O no trato da questão social, profissional tem a responsabilidade mínima de fazer a leitura para desmitificar processos e compreender que naturalização não explica, não se constitui como um método científico que justifique as expressões da questão social. É o método de Marx que surge para a profissão como uma premissa norteadora de nossas reflexões como profissional crítico e é a partir desse pensamento que a obscuridade dos processos se clareará: a verdadeira gênese da violência na periferia, o mito da guerra ao tráfico, etc. __________________________________________________________________________ Recapitulando alguns conceitos: • A Economia Política clássica adquire um corpo teórico reconhecido no século XIX, mas foi nos séculos XVII e XVIII. Tinha o interesse de compreender o conjunto das relações sociais que estavam surgindo na Crise do Antigo Regime. Tinha o pressuposto heurístico (conhecimento científico) de fundar uma teoria social onde deveria estabelecer uma visão articulada do conjunto da vida social com intervenção política e social. • As principais categorias e instituições econômicas são vistas de forma naturalizada, eternas e invariáveis na sua estrutura fundamental. Adam Smith e David Ricardo tinham 3 pressupostos na Economia Política Clássica: 1. Visão global da vida social (explicação do conjunto das relações sociais), não há uma economia deslocada do processo histórico e social. 2. Primazia da produção e não da circulação. Tem a ideia de produção de riquezas (valor) que está centrada no trabalho 3. As categorias da economia como se fossem permanentes a qualquer modo de produção, não restringindo ao capitalismo, são a-históricas. Se eleva a nível do pensamento o que é real D evolvo como concreto pensado ( construções de pens amento que buscam o entendimento) Sempre relaciono como um processo histórico É a partir do método de Marx que iremos entender a questão social no Brasil, o diálogo com sua diversidade da formação sócio histórica, mas que deve ser colocada no bojo da totalidade. E no trato da questão social, o profissional tem a responsabilidade mínima de fazer a leitura para desmitificar processos e compreender que a naturalização não explica, não se constitui como um método científico que justifique as expressões da questão social. É o método de Marx que surge para a profissão como uma premissa norteadora de nossas reflexões como profissional crítico e é a partir desse pensamento que a obscuridade dos processos se clareará: a verdadeira gênese da violência na periferia, o mito da guerra ao tráfico, etc. • 1848: há a perda da perspectiva de totalidade e a dissolução da economia política: uma economia que se volta apenas a circulação e não da produção. O método dos economistas clássicos é a permanência da naturalização da desigualdade. • A crítica da economia política tem como teoria social que só é possível na sociedade burguesa (era moderna) onde há perspectiva de classes e objetividade científica (a verdade cientifica). Marx possui um olhar analítico: Concreto é concreto- a unidade do diverso que é uma totalidade que se movimenta entre diversidades, uma unidade que faz o funcionamento do capitalismo e que nela há diferenças incontáveis; para compreender as diversidades (as contradições) devem ser entendidas pelo todo. Categorias centrais da Economia Política: • Forças produtivas • Relações sociais de produção • Modo de produção • Excedente As categorias são para os autores reais, históricas e ao mesmo tempo são reflexivas e que expressam uma forma concreta da existência do ser social, possuem sua forma ontológica, real e histórica. Exemplo: dinheiro tem a relação valor (categoria), nós o operamos, sabemos lidar com trocas, mas há num contexto social um desconhecimento teórico, ou seja não precisamos da dimensão teórica para lidar com as categorias, elas existem independentes do seu conhecimento teórico ou não. As forças produtivas é um conjunto de: 1. Objeto de trabalho: pode ser a parte bruta da natureza ou parte da natureza já transformada, ou seja é aquilo que será transformado pelo homem. 2. Meios de trabalho: instrumentos que possibilitam a transformação do objeto (são geralmente a natureza adaptada). 3. Força de trabalho: açãohumana de alteração do objeto a partir do meio de trabalho As forças produtivas são portanto, a capacidade de produtividade de cada sociedade. Forças produtivas capacidade de produção O bjeto de trabalho M eios de trabalho Força de trabalho Concreto é concreto- a unidade do diverso que é uma totalidade que se movimenta entre diversidades, uma unidade que faz o funcionamento do capitalismo e que nela há diferenças incontáveis; para compreender as diversidades (as contradições) devem ser entendidas pelo todo. As relações sociais de produção são consequências da atividade econômica onde implica a cooperação e divisão do trabalho, trata-se da organização social. É a partir delas que temos a superestrutura: relações jurídicas que são devido às condições materiais. O modo de produção: forças produtivas + relações sociais de produção. • Comunidade primitiva • Escravismo • Modo de produção feudal • Capitalismo • Socialismo A questão social e sua gênese A questão social é central ao Serviço Social, pois as suas expressões se colocam como um objeto de intervenção da profissão e é através dela que entendemos a gênese da profissão. A questão social é reconhecida quando todas as suas manifestações passam a atrapalhar o desenvolvimento da produção capitalista e o Estado passa a ter a necessidade de articulação. Se expressa pela forma de organização do obtenção de direitos. Se ela se vincula à exploração do trabalho, devemos pontuar que tipo de trabalho é esse: o trabalho que no modo de produção capitalista tem a dimensão abstrata priorizada em relação à dimensão concreta, respectivamente representam o trabalho como gerador de valor de troca (aquele que gera mais-valia) e o trabalho como gerador de valor de uso (a utilidade que representa ao homem). O seu surgimento no contexto histórico e social se fará presente a partir de 1830: o contexto do século XIX tem em seu eixo um conjunto de lutas vinculadas ao operariado nascente que através de impactos da primeira onda industrializante, toma consciência social da sua situação de miséria, esses trabalhadores orientados pelos socialistas utópicos se revoltam contra o modo de produção, porém de forma restrita, pois apenas relaciona a sua condição de vida à pobreza absoluta. A tomada de consciência vinculada às organizações pelo operariado é que se explicita a chamada questão social. A questão social se apresenta como um fenômeno novo porque pela “primeira vez na história registrada a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas”. O paradoxal consiste que na sociedade capitalista temos a capacidade das forças produtivas de produzir mais bens e serviços, mas em contrapartida a apropriação é feita por poucos. Em 1848 com a decadência ideológica da burguesia, a questão social será apropriada pelo pensamento conservador e esse pensamento vai tratá-la como "questão operária". A decadência ideológica ocorre quando a burguesia passa a ser classe dominante e procura meios de se conservar no poder, justificando o seu status através da ideologia política (liberalismo). Há a perda da dimensão econômica e social e passa a naturalizar a questão social como se fosse um "problema" como qualquer outro das outras formas antecedentes de produção. As teorias que permitem uma explicação particularista da questão social são os economistas clássicos e o liberalismo. É a partir do pensamento que conservador que se naturaliza a questão social como um conjunto de problemas da sociedade moderna que podem ser amenizados, porém não eliminados, pois não há a problematização estrutural da ordem econômico e social. Aqui se assenta a moralização das manifestações da questão social que é colocada de forma individualizante e psicologizante para os indivíduos. Esse mesmo pensamento sustentará a lógica positivista em que coloca as "partes" de forma autônomas e independentes (problema de habitação, emprego, escolaridade). Tais fragmentações serão colocadas também nas políticas sociais: política de educação, previdenciária, etc. O assistente social vai surgir com o objetivo de materializar essas políticas que são vinculadas ao pensamento conservador para aliviar as reivindicações operárias, aqui o Estado utiliza tanto o consenso e a força. O pensamento conservador interpreta a questão social através da dimensão laica e religiosa: o primeiro relaciona-se com uma condição divina à pobreza, o segundo trata-se de uma condição inerente à sociedade moderna, ambas fundamentadas numa ação moralizadora do homem. A ação do conservadorismo preza em primeiro lugar a conservação da propriedade privada dos meios fundamentais de produção. Bibliografia Complementar: NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006. NETTO, José Paulo. Capitalismo e barbárie contemporânea. Espírito Santo: Programa de Pós-graduação em Política social da Universidade Federal do Espírito Santo, 2011.