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Politicas sociais e etica_PP - completo

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Savio Gonçalves dos Santos
Políticas sociais e ética nas 
organizações
Máscara M_2017.indd 1 25/04/2018 14:39:33
Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube
© 2018 by Universidade de Uberaba
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico 
ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de 
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da Universidade de Uberaba.
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Reitor
Marcelo Palmério
Pró-Reitor de Educação a Distância
Fernando César Marra e Silva
Coordenação de Graduação a Distância
Sílvia Denise dos Santos Bisinotto
Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube
Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio
Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário
Máscara M_2017.indd 2 25/04/2018 14:20:08
Santos, Savio Gonçalves dos. 
S59p Políticas sociais e ética nas organizações / Savio Gonçalves dos Santos. – Uberaba: 
Universidade de Uberaba, 2018.
 252 p. : il. 
 Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7777-779-2
1. Ética e trabalho. 2. Política social. I. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a
Distância. II. Título. 
CDD 174.4
Sobre o autor
Savio Gonçalves dos Santos
Especialista em Educação pela Universidade Federal do Triângulo Mi-
neiro (UFTM). Graduado em Filosofia pela Faculdade Católica de Uber-
lândia (Católica). Membro do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres 
Humanos (CEP), membro voluntário da Comissão Própria da Avaliação 
(CPA), membro da Comissão Central de Produção da EAD e docente da 
Universidade de Uberaba (Uniube). Avaliador do Ministério da Educação 
(MEC). Professor convidado da Pós-Graduação da Universidade Federal 
do Triângulo Mineiro (UFTM). Pesquisador de Filosofia da Universidade 
Federal de Uberlândia (UFU). Tem experiência na área de Humanas e 
Sociais, com ênfase em Filosofia, Antropologia, Bioética, Educação, Ética, 
Metodologia Científica e Sociologia.
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Sumário
Apresentação ......................................................................................IX
Capítulo 1 A evolução social e o método da política social.................1
1.1 Evolução social ............................................................................................. 4
1.2 A perspectiva funcionalista ......................................................................... 28
1.3 A influência do idealismo ............................................................................ 35
1.4 O processo político-social de Karl Marx ..................................................... 39
Capítulo 2 Influências históricas e a gênese da política social ......... 59
2.1 A questão legal .......................................................................................... 62
2.2 A pessoa humana e o fator social ............................................................... 66
2.3 A perspectiva liberalista e a política social ................................................. 77
2.4 As lutas de classe e as políticas sociais ..................................................... 83
2.5 A política social diante da crise do capital .................................................. 87
2.6 O Brasil diante das políticas sociais ........................................................... 93
2.7 A contrarreforma neoliberal e a situação das políticas sociais ................... 99
2.8 As políticas sociais da iniciativa privada ................................................... 107
Capítulo 3 A construção da identidade ética: bases do 
ser humano ....................................................................................... 119
3.1 O fator liberdade ....................................................................................... 121
3.2 Estado natural ........................................................................................... 127
3.3 O individual como natural ......................................................................... 136
3.4 O coletivo como social .............................................................................. 144
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VIII UNIUBE
3.5 O ser ético natural .................................................................................... 156
3.6 Por uma ética da liberdade ....................................................................... 165
Capítulo 4 A pessoa humana, a organização social e a ética ........ 179
4.1 A humanidade: do século XX aos nossos dias ......................................... 187
4.2 A supremacia dos direitos humanos ......................................................... 191
4.3 Os privilégios e o comportamento ético .................................................... 196
4.4 A dignidade humana como finalidade da ética ......................................... 201
4.5 A igualdade social ..................................................................................... 207
4.6 Características da sociedade: a maquinização como problema ético ...... 214
4.7 Humanização e ética ............................................................................... 221
4.8 Ética nas organizações ............................................................................. 226
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Apresentação
Para aqueles que buscam o desenvolvimento e o aprimoramento dos 
seus conhecimentos acerca de políticas sociais e ética, apresentamos 
este livro, que leva o mesmo título do assunto em questão. Como modelo 
referencial de estudo, as reflexões aqui propostas abarcam a discussão 
de uma situação em que o ser humano, vivendo em sociedade, traz 
consigo: a existência. 
Por mais que os temas não abordem de maneira direta tal definição, o 
caminho que se estabelece para a compreensão do avanço social, bem 
como o atual estágio de uma crise moral e ética, passa, necessariamente, 
pela compreensão do ser, estar e agir. Em linhas gerais, abordaremos 
situações do dia a dia, traçando, de maneira lógica e sistemática, um 
caminho que nos leve ao encontro da real necessidade de políticas so-
ciais e de um comportamento ético. Sendo assim, no primeiro capítulo da 
obra trataremos da evolução social e do método da política social. Para 
tanto, analisaremos a perspectiva funcionalista, a influência do idealismo 
e o processo político a partir da crítica marxista (Karl Marx), para que 
possamos avançar para o segundo capítulo.
No segundo capítulo, teremos a oportunidade de estudar as influências 
históricas e a gênese da política social, subdividida na análise do as-
pecto humano enquanto fator essencial para a compreensão social, a 
perspectiva liberalista e a política social, as revoltas dos cidadãos e as 
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X UNIUBE
conquistas das políticas sociais por meio das lutas de classe, a crise do 
capital diante da investida social, a situação do Brasil nesse processo, 
a resposta do Estado à contrarreforma e as políticas sociais sob a ótica 
da iniciativa privada. 
O terceiro capítulo se dedica a tratar da virada ética, ou seja, trataremos 
da construção da identidade do ser humano a partir da sua vida natural: a 
análise do indivíduo, sua inserção na sociedade e no coletivo, o ser ético 
natural e a liberdade como fator essencial para a ética. Ao analisarmos 
esses aspectos, poderemos compreender, de maneira fundamentada, 
como se dá a ética nas organizações.
No quarto capítulo, nos dedicaremos a tratar do aspecto humano dos 
indivíduos e da ética nas organizações. Para tanto, analisaremos taldefinição à luz da compreensão da humanidade inserida no século 
XXI: a supremacia dos direitos humanos, o comportamento ético e os 
privilégios sociais, a dignidade como finalidade ética, a igualdade social 
como resultado de um comportamento ético, a sociedade diante da ma-
quinização, a humanização como mudança de paradigmas e a ética à 
luz das organizações.
Assim, estabelecemos os princípios para a execução de um conteúdo 
extremamente essencial para os dias atuais. A formação de uma 
consciência ética e crítica se alia à prática política como essência do 
humano. Não se separam as duas dimensões. Quanto mais humano, 
mais ético; quanto mais ético, mais humano. Toda essa discussão não 
se esgota aqui, mas reúne forças e modelos com as suas considerações, 
seus conhecimentos, pois a busca do saber não pode se resumir a uma 
simples leitura. Saber não é simplesmente entender algo. Saber vai além 
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UNIUBE XI
do ato de ser sábio. Pois, como diz Todorov: “O homem é ponto de par-
tida e ponto de chegada”, é o artífice e o artefato de seu conhecimento; 
e com absoluta certeza, a Universidade de Uberaba te levará ao ponto 
desejado, à compreensão do que é o ser humano que conhece.
Bons estudos!
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Capítulo
1
Savio Gonçalves dos Santos
Introdução 
Caro(a) estudante,
Ao fundamentar o seu estudo dentro da realidade do curso de 
Processos Gerenciais, tem-se a intenção de contribuir com sua 
formação profissional mantendo os padrões de qualidade da 
EAD/Uniube. Assegurar àquele(a) que se dedica a um estudo 
aprofundado acerca dos aspectos gerenciais um ensino de 
qualidade é nossa missão. Para você, que pretende se formar 
como gestor, a obra oferece uma compreensão clara e objetiva 
dos deveres e obrigações, paradoxalmente formado a partir de 
sua realidade e da realidade onde se está inserido. 
Entre outros, o desenvolvimento de consciência crítica e de opi-
nião racional, qualidades necessárias a um bom gestor, depende 
de um desenvolvimento processual paulatino. Os processos 
educacionais aqui dispostos convergem para a formação de um 
profissional capaz de estabelecer relações sociais pautadas em 
princípios éticos. Portanto, este capítulo contribui para a otimi-
A evolução social 
e o método da 
política social
Capítulo
1
Capítulo
1
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2 UNIUBE
zação de seus conhecimentos teóricos, para que você possa 
aplicá-los, fazendo valer a dimensão da práxis, tão necessária 
ao processo gerencial. 
 SAIBA MAIS 
Práxis 
É possível falar de níveis diferentes da práxis, de acordo 
com o grau de penetração da consciência do sujeito 
ativo no processo prático e com o grau de criação ou 
humanização da matéria transformada evidenciada 
no produto de sua atividade prática. Distinguimos por 
um lado a “práxis criadora” (reflexiva) e a “reiterativa” 
ou imitativa (espontânea) por outro. Essas distinções 
de nível não eliminam os vínculos mútuos entre uma 
e outra práxis, eles se dão no contexto de uma práxis 
total, determinada por sua vez por um tipo peculiar 
de relações sociais. Por isso, o espontâneo não está 
isento de elementos de criação e o reflexivo pode estar 
a serviço de uma práxis reiterativa, visto que o sujeito 
e o objeto se apresentam em unidade indissolúvel na 
relação prática (VÁZQUEZ, 1977, p. 245-259).
Nesta primeira análise, estudaremos a sociedade capitalista, para 
chegarmos à compreensão de como surgiram as políticas sociais 
e, consequentemente, a necessidade de 
uma vida ética. De maneira prática, lança-
remos nossa atenção para a realidade em 
que vivemos; isto é, uma sociedade que se 
compõe, essencialmente, de princípios 
neoliberais, suscitados pela prática capi-
talista.
 SAIBA MAIS 
Práxis 
É possível falar de níveis diferentes da práxis, de acordo 
com o grau de penetração da consciência do sujeito 
ativo no processo prático e com o grau de criação ou 
humanização da matéria transformada evidenciada 
no produto de sua atividade prática. Distinguimos por 
um lado a “práxis criadora” (reflexiva) e a “reiterativa” práxis criadora” (reflexiva) e a “reiterativa” práxis
ou imitativa (espontânea) por outro. Essas distinções 
de nível não eliminam os vínculos mútuos entre uma 
e outra práxis, eles se dão no contexto de uma práxis
total, determinada por sua vez por um tipo peculiar 
de relações sociais. Por isso, o espontâneo não está 
isento de elementos de criação e o reflexivo pode estar 
a serviço de uma práxis reiterativa, visto que o sujeito práxis reiterativa, visto que o sujeito práxis
e o objeto se apresentam em unidade indissolúvel na 
relação prática (VÁZQUEZ, 1977, p. 245-259).
Neoliberalismo 
O neoliberalismo tem 
como característica 
fundamental a 
regulação de preços 
e ações comandadas 
pelas leis de mercado 
de oferta e procura, 
em que o estado age 
somente em casos de 
extrema necessidade.
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UNIUBE 3
Antes de compreendermos mais a respeito do que é o neolibe-
ralismo e quais suas políticas de ação, precisamos entender 
como a sociedade chegou à esse sistema e por quais motivos 
essa dinâmica política permanece até os dias atuais. 
Objetivos
Promovendo um bom andamento acerca das políticas sociais e 
ética nas organizações, se faz preciso estabelecer um caminho 
lógico. Por isso, esperamos que ao final deste capítulo você 
seja capaz de:
•	 compreender os principais influenciadores das políticas 
sociais;
•	 analisar como se deu o surgimento das políticas sociais.
Esquema
A sequência lógica da disposição deste capítulo é:
1.1 Evolução social
1.2 A perspectiva funcionalista
1.3 A influência do idealismo
1.4 O processo político-social de Karl Marx
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4 UNIUBE
 1.1 Evolução social
Para iniciar nossas reflexões, devemos compreender todo o contexto no 
qual estava inserida a sociedade europeia, local onde emergiu a dinâmica 
da sociedade capitalista e os motivos que levaram à tomada de decisão 
de se optar por esse sistema político-econômico-social. 
Todo o processo capitalista é dividido em 3 fases. Na primeira, o ca-
pitalismo se instala na Europa, a partir da ótica das classes sociais, 
bem como na riqueza acumulada, desde o sé-
culo XIII até o século XVIII, nas mãos de poucos 
indivíduos. A forma mais praticada de obter es-
sas riquezas, no início, era através de roubos, 
monopólios e controle de preços pelos estados 
absolutistas.
 PESQUISANDO NA WEB 
Estados absolutistas
Acesse o site <http://www.youtube.com/watch?v=BbY_t7P7cRw> e, durante 
o vídeo, atente para a explicação de como se deu a construção do Estado 
absolutista, bem como quais são as suas principais atribuições e caracterís-
ticas. Tome nota dos principais personagens que influenciaram e socialize a 
sua opinião com os colegas e preceptor. Discuta sobre o que assistiu. 
Classes sociais
Uma classe social é 
um grupo de pessoas 
que têm status social 
similar segundo 
critérios diversos, 
especialmente o 
econômico.
 PESQUISANDO NA WEB 
Estados absolutistas
Acesse o site <http://www.youtube.com/watch?v=BbY_t7P7cRw> e, durante 
o vídeo, atente para a explicação de como se deu a construção do Estado 
absolutista, bem como quais são as suas principais atribuições e caracterís-
ticas. Tome nota dos principais personagens que influenciaram e socialize a 
sua opinião com os colegas e preceptor. Discuta sobre o que assistiu. 
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UNIUBE 5
Diante da expansão marítima e do avanço do comércio, as classes so-
ciais se modificam e surge a burguesia. Contudo, em meados do século 
XVI, as corporações de ofícios foram paulatinamente substituídas pelo 
trabalhador livre.
A introdução na sociedade do trabalho livre fez com que surgissemas 
indústrias e com elas um novo meio de sobrevivência: o emprego como 
operários. A ideia de se substituir os ofícios artesanais pela produção 
ampliada e de baixo custo, levou à construção de galpões industriais em 
meados do século XVIII.
A multiplicação dos galpões nas cidades ocasionou a Revolução Indus-
trial na Inglaterra. Com isso, as indústrias começaram a expandir a sua 
organização e produção, por meio de máquinas, sistematizando os meios 
de produção e levando a falência dos artesãos. 
[...] a burguesia, com seu domínio de classe de apenas 
um século, criou forças produtivas mais massivas e 
mais colossais do que todas as gerações passadas 
juntas. A subjugação das forças naturais, a maquinaria, 
a aplicação da química à indústria e à agricultura, a 
navegação a vapor, as ferrovias, o telégrafo elétrico, 
o arroteamento de continentes inteiros, a canalização 
de rios, populações inteiras brotando do solo como por 
encanto [...] (MARX; ENGELS, 1998, p. 10).
A mudança econômica ocorrida nesse período provocou uma crise entre 
os artesãos que não acompanhavam o sistema industrial. As fontes de 
fornecimento de matéria-prima se tornaram acessíveis somente para os 
grandes empresários, obrigando os artesãos a ingressar nas indústrias 
como operários, como está representado na Figura 1. 
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6 UNIUBE
Figura 1: Mudança do sistema de produção.
Fonte: Acervo EAD – Uniube.
Com a mão de obra à disposição, farta, e com baixo custo, os empresários 
passaram a explorar os empregados, pagando baixos salários e impondo 
uma pesada carga horária de trabalho. O empregado, como não possuía 
os meios de produção, dependia exclusivamente de sua força de trabalho 
para sua sobrevivência. Assim, o empresário “alugava” por certo período 
e tempo a força de trabalho desse assalariado em troca de uma quantia 
de dinheiro. Tal quantia era estipulada para que o empregado pudesse 
alimentar-se, vestir-se, manter a família, descansar, recobrar as forças, 
para estar, novamente, disponível para o trabalho.
Como o empresário pagava baixos salários – e para as mulheres era 
menor ainda – ficava fácil acumular certa riqueza à custa do esforço 
de seu funcionário. O fato é que essa relação trabalhista de produção 
acirrará, ainda mais, o campo do capitalismo; pois o capitalismo tem na 
força de trabalho a sua maior mercadoria. O trabalho é a única forma 
de ação humana capaz de gerar valor. Adam Smith já havia chamado 
atenção para o fato de que era essa a verdadeira fonte de riqueza social. 
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UNIUBE 7
A segunda fase do capitalismo começa com o 
avanço da evolução tecnológica nas fábricas, 
inaugurando o período compreendido como a era 
da industrialização. Essa etapa é chamada de 
capitalismo concorrencial – também chamado 
de liberal ou clássico – que perdurará até o último 
terço do século XIX.
 PARADA PARA REFLEXÃO 
Nos séculos XVIII e XIX, o capitalismo florescia na forma de pequenas e 
numerosas empresas que competiam por uma fatia do mercado, sem que 
o Estado interferisse na economia. Nessa fase, denominada capitalismo 
liberal (ou concorrencial) predominava a doutrina de Adam Smith, segundo 
a qual o mercado deve ser regido pela livre concorrência, baseada na lei 
da oferta e da procura: quando a oferta é maior que a procura, os preços 
caem. Refletindo o otimismo científico-tecnológico característico do período, 
Smith acreditava que o mercado atingiria um equilíbrio natural por si só e 
que o progresso constante conduziria a humanidade à condição ideal, na 
qual não haveria escassez e tudo seria bem-estar.
Um dos fatos que mais chama a atenção nesse período é o processo de 
urbanização pelo qual passara a Europa:
Se, em 1770, 40% dos ingleses residiam nos campos, 
aí só permanecem, em 1841, 26% deles. As cidades 
crescem notavelmente: em 1750, só 2 delas aglo-
meravam mais de 50.000 habitantes; em 1801, esse 
número era de 8 e, em 1851, de 29 (e 9 tinham mais 
de 100.000 habitantes). [...] A população total do Reino 
Capitalismo 
concorrencial
Capitalismo 
concorrencial, 
também chamado de 
capitalismo liberal, é a 
forma de estruturação 
do mercado, na 
qual pequenas 
empresas lutavam 
por participação no 
mercado industrial 
sem que houvesse a 
intervenção direta do 
Estado na economia.
 PARADA PARA REFLEXÃO 
Nos séculos XVIII e XIX, o capitalismo florescia na forma de pequenas e 
numerosas empresas que competiam por uma fatia do mercado, sem que 
o Estado interferisse na economia. Nessa fase, denominada capitalismo 
liberal (ou concorrencial) predominava a doutrina de Adam Smith, segundo 
a qual o mercado deve ser regido pela livre concorrência, baseada na lei 
da oferta e da procura: quando a oferta é maior que a procura, os preços 
caem. Refletindo o otimismo científico-tecnológico característico do período, 
Smith acreditava que o mercado atingiria um equilíbrio natural por si só e 
que o progresso constante conduziria a humanidade à condição ideal, na 
qual não haveria escassez e tudo seria bem-estar.
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8 UNIUBE
Unido [...] triplica entre 1750 e 1850, duplica entre 
1800 e 1850. O crescimento demográfico e a urba-
nização conectam-se diretamente à industrialização 
– evidencia-o a hipertrofia das cidades industriais que, 
em apenas 40 anos (1801-1841), sofrem o seguinte 
acréscimo no seu número de habitantes: Manchester – 
35.000/353.000; Leeds – 53.000/152.000; Birmingham 
– 23.000/181.000; Sheffield – 46.000/111.000 (NETTO 
apud NETTO; BRAZ, 2006, p. 172).
Acompanhando esse processo, as indústrias preocupadas em gerar mais 
lucro, com o impulso do capitalismo concorrencial, expandiram o ideal 
capitalista para o mundo, criando um mercado mundial. A necessidade 
de obter maior quantidade e maior variedade de matéria-prima obrigará 
os países a procurarem materiais por todo o globo, inclusive nos mais 
inóspitos lugares. Em contrapartida, o mercado mundial será abarrotado 
de produtos produzidos em larga escala pelas indústrias europeias. Jun-
tamente com a expansão do comércio, as culturas europeias começam 
a ser difundidas pelo mundo, estabelecendo-se vínculos entre povos, 
separados por distâncias quilométricas. É desnecessário mencionar que 
boa parte das conquistas alcançadas se deu de maneira exploratória e 
danosa para aqueles que recebiam a “evolução” europeia. Em muitos 
casos, a força militar foi utilizada para que os ideais mercantilistas fos-
sem alcançados.
Com o mercado mundial estabelecido e as nações realizando o comércio 
de maneira cada vez mais voraz, abre-se precedente para outra questão: 
a dependência econômica. Como os demais países, em sua maioria 
fora do continente europeu, não detinham uma tecnologia tão avançada, 
havia a necessidade de que esses países comprassem produtos indus-
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UNIUBE 9
trializados a altos custos, e fornecessem a matéria-prima, e até a mão 
de obra, a custos irrisórios. 
Várias foram as formas de se estabelecer a relação de dependência dos 
países. Como, em muitos casos, os países menos desenvolvidos care-
ciam de subsídios básicos, aqueles que detinham a tecnologia e, con-
sequentemente, o capital, começaram a emprestar dinheiro a juros para 
que os outros países pudessem “evoluir”. Com essa ação, não só o 
controle econômico estava garantido, como também o controle político 
começava a expor suas ideias. Como o dinheiro era emprestado aos 
países subdesenvolvidos, os credores impunham regras comerciais, 
políticas e sociais para que os devedores adequassem os seus países 
de acordo com a vontade dos primeiros.
Ainda sob o capitalismo concorrencial, a Europa 
vê nascer no seio da evolução industrial as lutas 
de classes. O antagonismo formado por capital e 
trabalho – burguesia e proletariado –, que a partir 
desse ponto será presença marcanteem toda 
a discussão sobre o capitalismo. Num primeiro 
momento, as lutas de classe assumem um papel 
de ação violenta, ou seja, a aplicação de revoltas armadas e uma bruta-
lidade essencial. Não se podia esperar menos, pois isso era apenas uma 
resposta a toda opressão sentida e vivida pelos operários até então. O 
centro motor de toda a luta era o que Marx chamou de mais-valia.
Antagonismo 
Em linhas gerais, 
antagonismo 
representa o 
empasse de ideias, 
ou seja, oposição 
de pensamentos, ou 
ainda discordância de 
modos e sistemas.
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10 UNIUBE
 PARADA PARA REFLEXÃO 
Para entender um pouco mais sobre a mais-valia, veja o que dizem Japiassú 
e Marcondes (2006, p. 176):
A mais-valia era um conceito fundamental utilizado por 
Marx para sublinhar a exploração imposta ao proletariado 
pelo proprietário dos meios de produção; a força de tra-
balho dos operários é o único valor capaz de multiplicar 
o valor inicial. Ao vender sua força de trabalho ao em-
pregador, em troca de um salário, ela se torna um valor 
de troca como qualquer outra mercadoria. [...] Todavia, o 
empregador prolonga ao máximo a duração do trabalho 
operário. Este sobretrabalho cria um sobreproduto, uma 
mais-valia que não é paga ao trabalhador, que lhe é 
subtraída e marca sua exploração. Quando a mais-valia 
é aumentada pela introdução de máquinas mais aper-
feiçoadas, por um controle maior da produção individual 
ou por uma aceleração do ritmo de trabalho, falamos da 
mais-valia relativa. 
A burguesia, como revide à revolta dos empregados, trouxe para as indús-
trias cada vez mais máquinas que supriam a demanda de funcionários, 
ameaçando assim, desempregar aqueles revoltosos. Além do mais, os 
funcionários não tinham nenhuma garantia do Estado, que era controlado 
pelos capitalistas e seus políticos. 
O papel do Estado até então, era somente garantir que o comércio funcio-
nasse bem e conter as revoltas por parte dos proletários. A participação 
do povo no Estado era muito pequena, pelo fato de que o direito ao voto 
era restrito. 
A partir daí as lutas de classe evoluem e passam a agir com outra pers-
pectiva. O proletariado passa a ter consciência de sua situação e da 
rivalidade com a burguesia. Como forma de agir de maneira organizada, 
os proletários encontram apoio em instituições internacionais, como a 
 PARADA PARA REFLEXÃO 
Para entender um pouco mais sobre a mais-valia, veja o que dizem Japiassú 
e Marcondes (2006, p. 176):
A mais-valia era um conceito fundamental utilizado por 
Marx para sublinhar a exploração imposta ao proletariado 
pelo proprietário dos meios de produção; a força de tra-
balho dos operários é o único valor capaz de multiplicar 
o valor inicial. Ao vender sua força de trabalho ao em-
pregador, em troca de um salário, ela se torna um valor 
de troca como qualquer outra mercadoria. [...] Todavia, o 
empregador prolonga ao máximo a duração do trabalho 
operário. Este sobretrabalho cria um sobreproduto, uma 
mais-valia que não é paga ao trabalhador, que lhe é 
subtraída e marca sua exploração. Quando a mais-valia 
é aumentada pela introdução de máquinas mais aper-
feiçoadas, por um controle maior da produção individual 
ou por uma aceleração do ritmo de trabalho, falamos da 
mais-valia relativa. 
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UNIUBE 11
Associação Internacional dos Trabalhadores (1864-1876) e a Associação 
Internacional Socialista (1889-1914).
Começam também a surgir os sindicatos dos operários e, com eles, os 
partidos políticos operários. Como consequência de toda a revolta, e 
de maneira especial, pelo ocorrido em 1845 – a Revolução Industrial –, 
a burguesia assume um caráter ainda mais conservador. “Seu objetivo 
passou a ser a manutenção das relações sociais assentadas na proprie-
dade privada dos meios de produção” (NETTO; BRAZ, 2006, p. 175).
Mesmo com a derrocada da ideologia burguesa, o seu conservadorismo 
não impediu que aprendessem a lidar com as revoltas proletárias. Os 
burgueses, numa jogada política, invertem os papéis, e agora passam a 
lutar pelos direitos e por uma reforma social que minimizasse os impactos 
espoliativos sobre os operários. É evidente que tais reformas não diziam 
respeito à propriedade privada, que deveria ser garantida e mantida. 
 
Bem, mas, você pode estar se perguntando: e o lado positivo? 
É evidente que nem tudo foi prejudicial. Os avanços científicos foram 
significativos. Marcados pelos ideais positivistas, muitas ciências avan-
çaram, tais como a Química, a Física e a Biologia. As inovações eram 
marcadas por uma facilidade no processo industrial. No campo da 
economia também foi possível perceber alguns avanços notáveis: os 
monopólios e a mudança dos papéis dos bancos. O grande problema foi 
Bem, mas, você pode estar se perguntando: e o lado positivo? 
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a consequência do monopólio: em poucos anos, grupos de capitalistas 
passaram a controlar verdadeiros impérios econômicos. 
Graças a Bessemer (1813-1898) e aos irmãos Sie-
mens (Friedrich, 1826-1904 e Wilhelm, 1823-1883), o 
aço passa a ser produzido em grande escala e subs-
titui o ferro como material básico; a aplicação da quí-
mica permite obter papel da polpa da madeira (1855) 
e alumínio a partir da bauxita (1886) e a revolucionária 
produção de álcalis e de tintas e corantes dá nasci-
mento à indústria de fármacos; a energia mais utilizada 
recebe um novo impulso, com a turbinação a vapor 
(Parsons, 1884); os motores de combustão interna são 
produzidos a partir de 1876 (Otto) e, com a abertura 
dos campos de Bornéu (1898), o petróleo generaliza-
se como combustível; enfim, a eletricidade faz sua 
entrada em cena: em 1881, em Godalming (Ingaterra), 
inaugura-se a primeira central elétrica pública da Eu-
ropa (NETTO; BRAZ, 2006, p. 176).
De certa forma, o que se assiste nessa etapa 
do processo capitalista é justamente a fusão 
do capital financeiro, ou seja, bancos passam 
a controlar as indústrias, ou mesmo a financiar 
suas expansões, marcando o início do estágio 
imperialista.
É preciso assinalar, contudo, 
que o estágio imperialista 
praticamente bloqueou a pos-
sível evolução da maioria dos 
países atrasados à condição 
de países desenvolvidos. 
Observe-se que, no começo 
do século XX, a relação entre 
a renda média do país mais 
rico do mundo e a do mais po-
bre era de 9 para 1 e, no final 
do mesmo século, era de 60 
para 1 (FIORI, 1999, p. 24). 
Estágio imperialista
Em linhas gerais, o 
estágio imperialista se 
caracteriza por uma 
fase monopolista do 
capitalismo. Há um 
risco, percebido pelos 
donos das indústrias, 
de substituição dos 
monopólios privados 
pelo monopólio 
estatal, onde a esfera 
financeira passa a 
dominar a esfera de 
produção. Contudo, 
a marca principal é a 
introdução dos bancos 
no meio industrial, 
como financiadores 
de todo o processo 
produtivo; daí o nome 
imperialista.
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UNIUBE 13
Esse estágio marca a solidificação do mercado 
monopolista e acaba por subordinar as micro e 
pequenas empresas às vontades do monopólio. 
Nesse contexto, surge a oligarquia financeira, 
um reduzido grupo de capitalistas terá em suas 
mãos o controle financeiro do país, bem como dos 
demais onde ele atua. 
Essa mesma oligarquia promove as duas caracte-
rísticas do capitalismo: ser desigual e combinado. Em linhas gerais, o 
desenvolvimento das nações capitalistas é sempre desigual; os países 
que possuem relações entre si, acabam sujeitos à demanda de um 
mercado global, em que a quebra de um significa a dificuldade do outro. 
Quanto a ser combinado, vai no sentido de que o capitalismo é capaz de 
ter, em suas entranhas, técnicas modernas com uma economia arcaica. 
O processo econômico de um país capitalista obedece a regras gerais 
do monopólio: obter lucros acima da média e escapar dos efeitosda 
tendência à queda da taxa de lucro. Por isso, entre outros procedimen-
tos, é necessário aumentar a exploração dos empregados. Em mais de 
um século de existência, o processo imperialista passou por inúmeras 
transformações e fases, a saber: 
•	 a fase clássica (1890-1940); 
•	 os anos dourados (1945-1970); 
•	 o contemporâneo (dias atuais). 
Oligarquia financeira
Oligarquia financeira 
se caracteriza pelo 
domínio de grupos 
– especialmente os 
grandes bancos – que 
detêm o domínio do 
capital especulativo, 
ou seja, investem com 
o intuito de que o seu 
próprio lucro aumente.
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Um dado importante a se relatar é que essa dinâmica de capitalismo 
imperialista ainda se mantém em vigência no início do século XXI. 
Bem, ainda precisamos elencar duas influências diretas no sistema 
capitalista que marcaram profundamente a sociedade mundial. Uma é 
o liberalismo, desenvolvido inicialmente na Inglaterra; a outra é o Ilumi-
nismo, com suas bases estabelecidas na França. Sendo assim, vejamos 
os dois pontos.
O liberalismo, em suas bases iniciais, buscava um ideal: liberdade. 
Os liberais eram assim classificados por serem livres, baseando essa 
definição nas artes liberais, ou seja, um conjunto de atividades de 
indivíduos livres, diferentes das atividades manuais exercidas por 
escravos.
A dinâmica estrutural da sociedade começa a ser 
alterada com a discussão que começava a surgir 
na Europa nos finais do século XVIII, em especial 
na região da França. Cidadãos insatisfeitos com 
o sistema autoritarista, com a decadência do sis-
tema social, excesso de doenças, entre outros, 
foram às ruas com o intuito de tomar o poder à 
força, tendo como primeiro alvo a Bastilha. 
Os revolucionários adotaram o lema: “Liberdade, Igualdade e Fraterni-
dade”, pois ele resumia os ideais do povo francês. O período histórico 
que se sustenta a partir dessa ideia da Revolução Francesa (1789) 
foi chamado de Iluminismo e buscou firmar suas bases na defesa da 
ciência e da racionalidade crítica. Para aqueles que defendiam esses 
Bastilha 
Originalmente Bastilha 
era um pórtico na 
cidade de Paris. 
Contudo, o espaço 
ficou conhecido 
por funcionar uma 
prisão, onde os 
revolucionários 
tomaram o poder na 
Revolução Francesa.
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UNIUBE 15
ideais, a razão aparece como resposta única e suficiente para toda e 
qualquer dúvida. Entre outros, um dos objetivos do Iluminismo era o de 
justamente “livrar” a sociedade dos dogmas das religiões e das falsas 
explicações. 
O Iluminismo ainda pregava que todo indivíduo era livre; tinha em 
suma garantidos pelo Estado, seus direitos sociais e naturais. Todas 
essas ideias foram preparadas ao longo dos séculos anteriores pelo 
racionalismo cartesiano, a revolução científica, o processo de laiciza-
ção da política e da moral. Com a ajuda de pensadores como Diderot, 
D’Alembert, Voltaire e outros, essa doutrina rapidamente se espalhou 
pelo continente europeu, apesar de a França estar atrasada em relação 
ao liberalismo inglês. 
O liberalismo, em suas bases estruturais, tinha como ponto de partida 
a ambígua realidade existente entre empreendedores capitalistas e 
aristocracia feudal. O termo “liberalismo” deriva da classificação antiga 
chamada de artes liberais, que tinha como intuito caracterizar indivíduos 
que executavam atividades de maneira livre, diferenciando daquelas 
atividades exercidas pelos escravos, manualmente. Contudo, a linha de 
reflexão adotada pelo liberalismo extrapola esses significados abstratos 
e abarca um “conjunto de ideias éticas, políticas e econômicas da bur-
guesia” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 246).
Para melhor entendermos os ideais liberalistas, precisamos observar 
que há uma divisão em teorias, facilitando a compreensão; portanto, 
precisamos observar cada uma delas de maneira detalhada: 
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O liberalismo político cons-
titui-se contra o absolutismo 
real, e busca nas teorias 
contratualistas a legitima-
ção do poder, que não estará 
mais fundado no direito divino 
dos reis nem na tradição e 
herança, mas no consenti-
mento dos cidadãos. O libe-
ralismo ético, como garantia 
dos direitos individuais, tais 
como liberdade de pensa-
mento, expressão e religião, 
supõe o prevalecimento do 
estado de direito, que rejeita 
o arbítrio, as lutas religio-
sas, as prisões sem culpa 
formada, a tortura, as penas 
cruéis. O liberalismo econô-
mico se opõe inicialmente à 
intervenção do poder do rei 
nos negócios, que se exercia 
por meio de procedimentos 
típicos da economia mercan-
tilista, tais como a concessão 
de monopólios e privilégios 
(ARANHA; MARTINS, 2003, 
p. 246, grifo nosso).
Todas essas ideias foram desenvolvidas por Adam Smith (1723-1790) 
e David Ricardo (1772-1823) para defender os ideais de propriedade 
privada dos meios de produção, baseando-se na livre iniciativa e na 
competição. Para tanto, o liberalismo colocava como pré-requisito para 
os seus adeptos uma confiança cega no sistema de governo, o qual se 
incumbiria de resolver todos os problemas. 
Esse modelo de liberalismo não foi seguido por todos; houve vários 
autores que deram forma própria à concepção liberal, adotando as mais 
variadas formas de interpretação. São eles: John Locke (1632-1704), 
Teorias 
contratualistas
Entende-se por teorias 
contratualistas o 
conjunto de textos e 
dizeres de filósofos 
e sociólogos que se 
dedicaram a pensar 
a sociedade a partir 
da sua organização 
social, sustentada pela 
fixação de um contrato 
social entre as partes. 
Tal contrato daria 
poderes àquele que 
fosse o representante 
do povo. Podemos 
citar como exemplos: 
Thomas Hobbes 
(1651), John Locke 
(1689) e Jean-Jacques 
Rousseau (1762).
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UNIUBE 17
Montesquieu (1689-1755), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Je-
remy Bentham (1748-1832), entre outros. É claro que houve aqueles 
que foram contrários ao sistema liberal, como por exemplo, Friedrich 
Hegel (1770-1831) (figuras 2 e 3) que afirmava ser o estado quem 
constitui o indivíduo e não o contrário, e ainda, que a sociedade civil 
se encontra entre a família e o Estado. Assim, “na visão de Hegel, o 
Estado é, de modo geral, o reino da liberdade, pois nele cada indivíduo, 
cumprindo seu dever, tem consciência de objetivo que busca, e que as 
leis prescrevem – o bem coletivo”(ARANHA; MARTINS, 2003, p. 255).
Figura 2: Organização feudal.
Fonte: Acervo EAD – Uniube.
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18 UNIUBE
Figura 3: Pirâmide do sistema capitalista.
Fonte: Acervo EAD – Uniube.
O processo capitalista, como temos visto, não se construiu de maneira 
individual e natural, muito pelo contrário. Ao que se sabe, todo o sistema 
passa a fazer uso de uma ação característica: comunicação. 
Como o empregado não possuía tempo para si e para os seus, a única 
fonte de lazer acabava sendo o rádio, e, tempos depois, a televisão. 
Em casos raros, era comum observar as famílias de proletários irem a 
eventos populares, como circos, festas e, em algumas oportunidades, 
ao cinema. Com toda essa movimentação em torno dos meios de infor-
mação, a sociedade viu nascer o que a Escola de Frankfurt chamou de 
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UNIUBE 19
cultura de massa. O fato de que as análises se apoiam na teoria mar-
xista leva, necessariamente, os pesquisadores a utilizarem os conceitos 
de ideologia e alienação para explicarem a criação dessa cultura que, 
a partir do século XX, aglutina e integra pessoas de origens diferentes, 
numa manifestação rara de unanimidade. O melodrama aparece nessas 
análises como um recurso catártico pelo qual as pessoas constroem uma 
falsa ideia de um mundo que termina em happy end (final feliz).
 SAIBA MAIS 
O termo cultura de massa,como já exposto anteriormente, teve sua origem 
na Escola de Frankfurt, com os estudos que propunham análises da realidade 
contemporânea à luz das teorias marxistas. Em relação à comunicação, a 
teoria crítica estuda a cultura midiática como uma nova forma de opressão 
ideológica e de dominação da burguesia sobre as classes subalternas. Para 
isso, rejeitam o conceito de cultura de massa, considerando que os produtos 
veiculados pelos meios de comunicação não são produzidos pelas massas, 
nem satisfazem suas necessidades. Ao contrário, significam uma nova forma 
de dominação e de distribuição de uma cultura simbólica e de baixa qualidade. 
Foi preocupação da Escola de Frankfurt alertar para o perigo da expansão de 
um gosto cultural de segunda linha, voltado para o entretenimento de baixo 
custo, para a expressão artística da modernidade, para o desenvolvimento 
humano e para a cidadania. Segundo Adorno, a cultura ligeira dos meios de 
comunicação homogeneíza, empobrece, mistura tendências num processo 
em que se valoriza apenas a novidade. 
Tal cultura era supostamente baseada na ideia de que o povo era quem 
fazia e traçava os costumes culturais. Com o passar do tempo, foi pos-
sível perceber que, na verdade, não existia uma cultura de massa, mas 
 SAIBA MAIS 
O termo cultura de massa, como já exposto anteriormente, teve sua origem 
na Escola de Frankfurt, com os estudos que propunham análises da realidade 
contemporânea à luz das teorias marxistas. Em relação à comunicação, a 
teoria crítica estuda a cultura midiática como uma nova forma de opressão 
ideológica e de dominação da burguesia sobre as classes subalternas. Para 
isso, rejeitam o conceito de cultura de massa, considerando que os produtos 
veiculados pelos meios de comunicação não são produzidos pelas massas, 
nem satisfazem suas necessidades. Ao contrário, significam uma nova forma 
de dominação e de distribuição de uma cultura simbólica e de baixa qualidade. 
Foi preocupação da Escola de Frankfurt alertar para o perigo da expansão de 
um gosto cultural de segunda linha, voltado para o entretenimento de baixo 
custo, para a expressão artística da modernidade, para o desenvolvimento 
humano e para a cidadania. Segundo Adorno, a cultura ligeira dos meios de 
comunicação homogeneíza, empobrece, mistura tendências num processo 
em que se valoriza apenas a novidade. 
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20 UNIUBE
sim, uma indústria cultural. Os meios de comunicação observaram que 
vender cultura era uma forma de lucrar, e lucrar muito; com isso, passou-
-se a investir pesadamente num sistema que beneficiasse aqueles que 
divulgavam a informação, sem se preocupar com o que se estava divul-
gando. Como resultado, a maioria dos meios de comunicação e de lazer, 
passou às mãos dos grandes empresários, por conta da necessidade de 
altos investimentos. De posse desses meios, os empresários deram 
início a uma divulgação de informações que em nada eram verdadeiras, 
mas somente retransmitiam os interesses capitalistas, mantendo o sis-
tema na ordem em que estava. 
A terceira etapa do capitalismo começa com a 
compreensão do fator “globalização”. Os modelos 
alternativos ao capitalismo, como, por exemplo, 
o comunista, começam a entrar em decadência; 
os Estados nacionais se enfraquecem, abolindo 
toda a prática do nacionalismo. Com isso, há 
um apelo internacional para que a economia e o 
mercado capitalista não deixem de funcionar. A 
partir daí, começam a surgir organismos internacionais, que têm como 
objetivos administrar a economia, a sociedade e a política. 
Os principais órgãos internacionais para a organização global são: 
•	 a Organização das Nações Unidas (ONU); 
•	 o Fundo Monetário Internacional (FMI); 
•	 o Banco Mundial (BIRD). 
Nacionalismo
Nacionalismo é a 
supervalorização de 
uma determinada 
nação em detrimento 
às outras. No caso do 
mercado financeiro, 
o nacionalismo pode 
favorecer às empresas 
nacionais, dificultando 
todo o processo para 
as demais empresas 
estrangeiras.
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UNIUBE 21
A grande questão em pauta passa a ser a resposta que os países darão 
a estas organizações. Pois, muitas vezes, o que acontecia era uma or-
ganização que possuía
[...] valorizações fraudulentas de ações, falsos esque-
mas de enriquecimento imediato, a destruição estru-
turada de ativos por meio da inflação, a dilapidação 
de ativos mediante fusões e aquisições e a promo-
ção de níveis de encargos de dívidas que reduzem 
populações inteiras, mesmo nos países capitalistas 
avançados, a prisioneiros da dívida, para não dizer 
nada da fraude corporativa e do desvio de fundos [...] 
decorrentes de manipulações do crédito e das ações 
– tudo isso são características centrais da face do 
capitalismo contemporâneo (HARVEY apud ARANHA; 
MARTINS, 2003, p. 123).
Entre outros, percebe-se que um fator facilitador da destruição dos va-
lores e do ser humano em si é a globalização; não pelo processo em si, 
mas pelo seu caráter agressivo, que acaba por denegrir a vida humana. 
É preciso lembrar que todas as questões sociais e econômicas que en-
contramos não são somente consequências da globalização, mas fica 
claro que: 
A globalização neoliberal desenvolveu-se a partir de 
1980. Acelerou conquistas tecnológicas, mas também 
estagnou povos. Uma revista alemã especializada 
sintetiza o perfil da atual globalização, nesses termos: 
“Produz onde os salários são mais baixos, pesquisa 
onde as leis são mais generosas, e aufere lucro onde 
os impostos são menores”. Enquanto as transnacio-
nais acumulam riqueza, populações pobres acumulam 
miséria (ARDUINI, 2002, p. 142). 
O que fica claro é que a globalização modifica os humanos, agindo dire-
tamente na mudança social, política, econômica, mas, principalmente, 
intelectual. A influência intelectual pode ser a mais marcante das ações 
promovidas pela globalização. Se observarmos bem, o avanço tecnoló-
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22 UNIUBE
gico, mais precisamente no que concerne à informação e comunicação, 
tem se mostrado um grande aliado no intuito de manipular a inteligência, 
os hábitos e costumes do ser humano. A comunicação em massa, por 
exemplo, vem deixando profundas marcas na história contemporânea, 
observando como marco fundamental, a Alemanha nazista de Adolf 
Hitler. Como um grande orador e retórico, Hitler conseguiu criar toda 
uma ideologia voltada para a conquista e o estabelecimento de uma 
raça pura. Ele soube utilizar a linguagem, o instrumento pelo qual o ser 
humano modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, 
seus esforços, suas vontades e seus atos. Instrumento pelo qual ele 
influência e é influenciado. 
Em meio a toda essa prática de controle do ser humano e de homoge-
neização promovida pela globalização e seus frutos, emerge a Educação 
como ato de libertação da consciência e a criação de uma consciência 
crítica. Tal consciência crítica deve se aliar a uma ação refletida, o que 
filosoficamente chamamos de práxis. 
 SAIBA MAIS 
A prática humana refletida, termo que chamamos de práxis, diferencia-se em 
dois estágios, segundo Vázquez (1977, p. 245-259):
É possível falar de níveis diferentes da práxis, de acordo 
com o grau de penetração da consciência do sujeito ativo 
no processo prático e com o grau de criação ou humani-
zação da matéria transformada evidenciado no produto de 
sua atividade prática. Distinguimos por um lado a “práxis 
criadora” (reflexiva) e a “reiterativa” ou imitativa (espon-
tânea) por outro. Essas distinções de nível não eliminam 
os vínculos mútuos entre uma e outra práxis, eles se dão 
no contexto de uma práxis total, determinada por sua 
vez por um tipo peculiar de relações sociais. Por isso, o 
espontâneo não está isento de elementos de criação e o 
 SAIBA MAIS 
A prática humana refletida, termo que chamamos de práxis, diferencia-se em 
dois estágios, segundo Vázquez(1977, p. 245-259):
É possível falar de níveis diferentes da práxis, de acordo 
com o grau de penetração da consciência do sujeito ativo 
no processo prático e com o grau de criação ou humani-
zação da matéria transformada evidenciado no produto de 
sua atividade prática. Distinguimos por um lado a “práxis
criadora” (reflexiva) e a “reiterativa” ou imitativa (espon-
tânea) por outro. Essas distinções de nível não eliminam 
os vínculos mútuos entre uma e outra práxis, eles se dão 
no contexto de uma práxis total, determinada por sua 
vez por um tipo peculiar de relações sociais. Por isso, o 
espontâneo não está isento de elementos de criação e o 
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UNIUBE 23
reflexivo pode estar a serviço de uma práxis reiterativa, 
visto que o sujeito e o objeto se apresentam em unidade 
indissolúvel na relação prática.
Portanto, a formação da consciência depende claramente do relacio-
namento pessoal que chamamos de “eu”, e do relacionamento social, 
“os outros”. O relacionamento entre o eu, que se classifica como a 
experiência pessoal em forma de comportamento, formando as bases 
para a geração do ser pessoa, deve se aliar ao relacionamento social, 
isto é, a convivência com as outras pessoas e, nesse caso, a escola. 
Assim sendo, o indivíduo se caracteriza pela consciência moral, criada 
a partir dos referenciais obtidos por meio do relacionamento social, seja 
ele no círculo familiar ou fora dele. O que fica claro é que o processo 
educacional deve contemplar os âmbitos pessoal, familiar e social; daí 
a necessidade dos sistemas educacionais estarem interligados com a 
família e a sociedade de maneira geral, com o objetivo de mediar o re-
lacionamento educando/mundo, formando o pensamento.
Portanto, organizar o mundo para que se mantenha uma ordem eco-
nômica, converte-se em um árduo trabalho. Dessa forma, o padrão de 
globalização acaba sendo sinônimo de outros fatos históricos e, entre 
eles, o que mais chama a atenção é o da pós-modernidade. 
Originalmente criado no campo das artes e da arquitetura, o termo 
“pós-modernidade” queria designar a ruptura com a modernidade. 
Procurava romper com critérios universais da arte, da perenidade e 
da legitimação. 
reflexivo pode estar a serviço de uma práxis reiterativa, 
visto que o sujeito e o objeto se apresentam em unidade 
indissolúvel na relação prática.
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24 UNIUBE
 PESQUISANDO NA WEB 
Acesse o site <http://www.youtube.com/watch?v=4slt1vOhTDA> e, durante 
o vídeo, atente para a explicação sobre Arte Moderna, bem como quais são 
as suas principais atribuições e características. Tome nota dos principais 
personagens que a influenciaram e socialize a sua opinião com os colegas e 
preceptor. Discuta sobre o que assistiu. 
Essa ideia de pós-modernidade emerge como nova proposta de produção 
artística, associando-se à quebra de valores e de normas de comporta-
mento que caracterizou o ser humano contemporâneo. 
Sem sombra de dúvida, um dos marcos do capitalismo pós-moderno 
foi o avanço tecnológico pelo qual passaram as sociedades capitalistas 
mundiais. O antagonismo assistido durante o período da Guerra Fria só 
fez eclodir, com maior força, a herança de uma Segunda Guerra Mun-
dial marcada pela corrida bélica. Contudo, não foi só no campo bélico 
que pudemos perceber avanços. Se tomarmos por base a informática, 
veremos que o mundo, como se encontra hoje, seria inconcebível sem 
a presença dos computadores e aparatos eletrônicos.
Um segundo aspecto que precisa ser ressaltado é o da automação das 
telecomunicações. Graças a ela, a globalização capitalista pode atingir 
um maior número de sociedades. A concepção, planejamento e execução 
dos processos industriais foram otimizadas com a entrada no mercado do 
mundo virtual Internet, e-mail, entre outros, passam a ser instrumentos 
necessários em todo e qualquer lugar; tudo se modifica. Não poderia ser 
diferente com os processos políticos e econômicos; diante da realidade 
 PESQUISANDO NA WEB 
Acesse o site <http://www.youtube.com/watch?v=4slt1vOhTDA> e, durante 
o vídeo, atente para a explicação sobre Arte Moderna, bem como quais são 
as suas principais atribuições e características. Tome nota dos principais 
personagens que a influenciaram e socialize a sua opinião com os colegas e 
preceptor. Discuta sobre o que assistiu. 
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UNIUBE 25
da mudança global, o sistema de administração da máquina pública 
começa a ruir. As teorias existentes não suprem a necessidade social, 
muito menos resolvem as questões que dessa realidade eclodem.
Com o desgaste das teorias sociais e com uma aguda dificuldade de 
manutenção do sistema estatal, os governos capitalistas começam a 
entrar em colapso. Em série, começa a vigorar o déficit orçamentário, 
uma crise fiscal, a alta inflação, gerando uma instabilidade social. Os 
países capitalistas se veem obrigados a rever toda a estratégia eco-
nômica, política e social. Novos acordos passam a ser feitos, novas 
regras econômicas surgem como tentativa do controle monetário. 
Mas, o grande fator que desencadeará uma virada será a adoção do 
neoliberalismo.
Os ideais do neoliberalismo foram traçados desde os anos quarenta 
do século XX pelo economista austríaco Friedrich August von Hayek 
(1899-1992) que, em 1974, ganhou, juntamente com Gunnar Myrdal 
o Prêmio Nobel de Economia. Em suas linhas de pensamento, Hayek 
pregava que o neoliberalismo gerava uma concepção de homem 
competitivo, possessivo e calculista; pensava uma sociedade como 
agregado fortuito, isto é, um meio de realizar seus propósitos privados, 
fundada numa “natural e necessária” desigualdade entre os homens. 
Neste ínterim, a noção de liberdade fica restrita à vontade do mercado. 
Contudo, graças ao avanço dos meios de comunicação social, a partir 
dos anos 1980, a visão neoliberal se generaliza, vulgarizando as for-
mulações de Hayek. 
Um dos primeiros atos dessa generalização foi atribuir ao Estado a função 
de restringir a economia. A necessidade de constantes reformulações 
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26 UNIUBE
do sistema estatal se deu pela afirmação de que 
este mesmo Estado era um problema anacrô-
nico. O segundo ponto da ideologia foi reduzir o 
Estado, criando a ideia de um estado minimalista, 
ou seja, um estado que simplesmente deve cuidar 
de alguns aspectos sociais: policiamento, justiça 
e defesa, numa busca de reduzir encargos. Para 
que o Estado pudesse reduzir gastos rapidamente, 
surge a dinâmica da privatização.
 SAIBA MAIS 
A privatização ocorre quando o governo vende empresas estatais para a ini-
ciativa privada (empresas nacionais, grupos de investimentos, multinacionais). 
Desta forma, essas empresas tornam-se privada. Geralmente, a privatização 
ocorre quando uma empresa estatal não está gerando os lucros necessários 
para competir no mercado ou quando ela passa por dificuldades financeiras. 
No Brasil, na década de 1990, várias empresas estatais foram privatizadas, 
por exemplo: Telesp, Companhia Vale do Rio Doce, Banespa, entre outras. 
A privatização ocorreu e está ocorrendo em diversos países do mundo, pois 
é uma das características do mundo globalizado em que vivemos.
Para que a sociedade entendesse que havia a necessidade de se priva-
tizar o que era público, o governo sucateava a máquina pública, numa 
tentativa de mostrar suas carências e problemas, justificando tal ato. Para 
tanto, o sistema sucateado era acrescido de outros fatores que facilitavam 
a aplicação de uma nova reforma, como a dívida externa, cuja principal 
função é manter a ordem capitalista mundial. Em linhas gerais, a dívida 
Anacrônico 
É uma palavra 
composta por 
três termos: 
ana+crono+ico, que 
significa fora do 
tempo. Neste caso 
em especial, o termo 
anacrônico se refere 
à pouca evolução do 
Estado em relação 
ao todocapitalista e 
global.
 SAIBA MAIS 
A privatização ocorre quando o governo vende empresas estatais para a ini-
ciativa privada (empresas nacionais, grupos de investimentos, multinacionais). 
Desta forma, essas empresas tornam-se privada. Geralmente, a privatização 
ocorre quando uma empresa estatal não está gerando os lucros necessários 
para competir no mercado ou quando ela passa por dificuldades financeiras. 
No Brasil, na década de 1990, várias empresas estatais foram privatizadas, 
por exemplo: Telesp, Companhia Vale do Rio Doce, Banespa, entre outras. 
A privatização ocorreu e está ocorrendo em diversos países do mundo, pois 
é uma das características do mundo globalizado em que vivemos.
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externa possui como prerrogativa que os países devedores fiquem su-
jeitos às ordens dos credores. 
O capitalismo neoliberal, dessa forma, estabelece três metas de ação 
prática: progresso, eficácia e produtividade. Com elas em mente, todo 
e qualquer governo tentará, desesperadamente, aplicar suas fórmulas 
para que o lucro seja iminente. Contudo, o capitalismo neoliberal esbarra 
num ponto: o socialismo real.
Quando se diz socialismo real, não nos referimos à prática socialista 
como se conhece, mas a necessidade social de toda nação. Quando se 
faz uma leitura detalhada do sistema atual, percebemos que o que existe 
como prática do governo neoliberal é uma injustiça; opressão, ao invés 
de liberdade; fracasso social, ao invés de ação social e um planejamento 
que deixa a desejar, simplesmente mantendo a ordem instaurada, para 
que a sociedade não sinta os impactos da realidade do mercado, ou seja, 
a lei da oferta e da procura.
É por esses e outros motivos, que a sua função como gestor é lutar pela 
formação e pela manutenção de uma sociedade mais ética. É preciso 
reaver valores coletivos, devolver a dignidade humana a todos aqueles 
que são indivíduos sociais. Gerar uma democracia participativa, em que 
todos tenham voz e vez, ao invés de simplesmente concordarem com o 
sistema imposto. Uma vez implantada a democracia participativa, pode-
remos falar de uma cidadania que execute a verdadeira justiça social, 
que caminha lado a lado da paz solidária, fazendo com que a sociedade 
renasça como uma maneira de entender que o mercado e o dinheiro não 
são os únicos caminhos para a consecução social e pessoal. 
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28 UNIUBE
 
Até aqui, tudo bem? Bem, de agora em diante, a nossa discussão ficará bem 
específica. Por isso, preste bastante atenção aos fatos históricos que serão 
estudados, para que você tenha plena compreensão do que for relatado.
Compreendida a parte inicial da formação social, passaremos agora para 
a análise e discussão da organização social a partir das perspectivas 
políticas; a primeira delas será a funcionalista. Acompanhe!
 1.2 A perspectiva funcionalista
Num primeiro momento, pode haver uma confusão de situações que pre-
cisa ser explicada. Se você observar o sumário, perceberá que há uma 
diferença curiosa no primeiro capítulo, chamado de “A evolução social e 
o método da política social”, e o segundo capítulo, chamado de “Capita-
lismo, liberalismo e a origem da política social”. A dúvida surge quando 
se pergunta como seria possível que a política social tenha surgido 
após o método da mesma. Para tanto, mostraremos que a política social 
nem sempre foi concebida como tal; num primeiro momento se perfazia 
simplesmente de uma reflexão política. Já posteriormente, percebeu-se 
que era preciso que a política social representasse uma ação verdadeira 
em prol da população. Mas não se preocupe, tudo isso será tratado de 
maneira prática e objetiva no decorrer do capítulo. Assim, vamos esta-
belecer as bases que levaram a essa mudança de comportamento por 
parte da população e seus representantes.
Até aqui, tudo bem? Bem, de agora em diante, a nossa discussão ficará bem 
específica. Por isso, preste bastante atenção aos fatos históricos que serão 
estudados, para que você tenha plena compreensão do que for relatado.
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Quando se fala em políticas sociais e busca-se traçar uma linha cronoló-
gica, é preciso passar pela concepção de uma política funcionalista. Como 
o próprio nome já diz, funcionalismo remonta à ideia de uma política que 
funciona, que alcance o objetivo de satisfazer as necessidades dos seres 
humanos em sociedade. Tal funcionamento não se dava simplesmente 
pela ótica popular, muito pelo contrário, esse funcionalismo era uma 
preocupação da uma política altamente marcada pela lógica neoliberal.
A primeira compreensão que devemos ter, ao se 
falar da perspectiva funcionalista, é que todo esse 
processo se inicia na reflexão de Émile Durkheim 
(1858-1917) e a definição do fato social. 
A lógica durkheiminiana (nome dado a todo pensa-
mento derivado de Émile Durkheim) obedece aos 
padrões sociais, em que a inserção do indivíduo 
no processo socializante se coloca de tal forma 
que a sua dimensão individual acaba sendo su-
primida pela dinâmica social. Ou seja, não existe 
mais o indivíduo, mas sim a sociedade humana, objeto a ser estudado. 
A isso, Durkheim respondeu:
É coisa todo objeto do conhecimento que a inteligência 
não penetra de maneira natural, tudo aquilo de que não 
podemos formular uma noção adequada por simples 
processo de análise mental, tudo o que o espírito não 
pode chegar a compreender senão sob a condição de 
sair de si mesmo, por meio da observação e da experi-
mentação, passando progressivamente dos caracteres 
mais exteriores e mais imediatamente acessíveis para 
os menos visíveis e mais profundos (DURKHEIM apud 
BEHRING, 2008, p. 27).
Fato social
Pela definição de 
Émile Durkheim, 
fato social se 
caracteriza como uma 
característica cultural 
e estrutural dos 
sistemas políticos que 
experimentamos como 
externa a nós e que 
exerce uma influência 
e autoridade que 
equivalem a mais que 
a soma das intenções 
e motivações.
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Essa prática de se objetizar a sociedade transfere para o pesquisador 
a necessidade de se purificar a pesquisa, observando o comporta-
mento social não pelos indivíduos, mas sim, pela sociedade como 
um todo. Pautando por essa lógica, o próximo passo na busca de 
se compreender a perspectiva funcionalista – aplicada à realidade 
brasileira – é justamente elencar as bases sociais que compuseram 
a nossa sociedade. 
Como se sabe, ao se estudar a sociedade, não se pode traçar linhas 
comparatórias; ou seja, em hipótese alguma, as sociedades podem 
ser comparadas quando estudadas. O processo de entendimento e 
compreensão deve estudar cada sociedade em particular, levantando 
as características singulares que formam os indivíduos que as com-
põem. Dessa forma, ao tomar por base a sociedade brasileira, pode-
mos notar que há uma grande influência europeia em nossos traços 
culturais, devido à colonização. É fato que, durante muito tempo, o 
Brasil – assim como outros países latino-americanos – foi influenciado 
por um forte pensamento eurocêntrico (perspectiva que adota a Eu-
ropa como centro). Nessa ótica, a sociedade buscou se aproximar ao 
máximo dos costumes e das políticas europeias. 
Quando se traça um perfil de determinada sociedade, mesmo com in-
fluências do eurocentrismo, é preciso retomar alguns aspectos que são 
gerais a toda análise social. Primeiramente, a grande questão é: qual a 
funcionalidade de uma sociedade? A essa pergunta, a resposta possível 
se torna aquela que busca compreender por quais motivos os humanos 
se uniram em grupos. É desnecessário dizer aqui algo sobre a evolução 
histórica da humanidade, e por quais fatores percebeu-se a necessidade 
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da união, mas sem sombra de dúvida, a principalfunção da sociedade é satisfazer as necessidades 
daqueles que a compõem. Dessa forma, toda e 
qualquer sociedade tem em suas bases funda-
mentais a obrigação de satisfazer as necessida-
des dos cidadãos. 
A cidadania não deve consistir somente em um 
único direito. Ela deve ir mais além. Deve almejar 
a existência do coletivo social, isto é, do bem-estar 
social, da dignidade humana, dos direitos iguais; 
afinal, todos são membros da mesma sociedade. 
Essa determinação em se primar pela satisfação 
das necessidades sócio-humanas transforma a 
concepção de sociedade em uma perspectiva funcionalista; daí, o nome 
dedicado a este subtópico.
 AGORA É A SUA VEZ 
Busque realizar uma pesquisa na Internet ou na biblioteca acerca do que é 
ser cidadão. Em seguida, discuta com seus colegas e aprofunde a questão.
Com a concepção de perspectiva funcionalista definida, agora precisamos 
compreender como a composição de determinada sociedade se dá, para 
que possamos estudar a sociedade e o avanço das políticas sociais. 
Sabemos que toda e qualquer sociedade, quando formada, possui em 
seu alicerce os traços culturais. Tais traços variam de acordo com os 
Cidadão
A definição de cidadão 
normalmente esbarra 
no direito de voto. 
Ser cidadão não é 
simplesmente possuir 
o direito de votar, mas 
sim, ter acesso aos 
direitos sociais (lazer, 
trabalho, educação, 
segurança, saúde 
etc), que legitimam 
os direitos naturais 
(vida, liberdade e 
expressão). Portanto, 
a cidadania é também 
um preocupar-se 
com o seu ambiente 
social; pois é desse 
que se ganha o 
respaldo necessário à 
existência.
AGORA É A SUA VEZ 
Busque realizar uma pesquisa na Internet ou na biblioteca acerca do que é 
ser cidadão. Em seguida, discuta com seus colegas e aprofunde a questão.
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grupos sociais e com as concepções de sociedade. Cada povo possui 
um modo de agir, costumes e hábitos que formam o que concebemos 
tradicionalmente como cultura. É essa cultura a responsável pela ca-
racterização das sociedades. Dessa forma, não se excluem do processo 
de formação do ser humano os traços culturais, muito pelo contrário, a 
cultura passa a ser a resposta da sociedade às necessidades básicas 
do cidadão. Assim, quando há um padrão de diferença social, a exclusão 
pode aparecer por conta de fatores que, muitas vezes, não levamos em 
consideração. Dizemos isso pelo fato de que sempre quando se fala 
em exclusão social, pensa-se no aspecto econômico; nem sempre é 
assim. Por vezes, a exclusão cultural é mais forte e intensa. Quando 
um cidadão não tem acesso a bens de cultura (teatro, cinema, música, 
tecnologia etc), automaticamente ele se transforma em um indivíduo 
excluído da sociedade.
É nesse sentido, de contradição em relação aos valores que defendemos 
em nossa forma de organização social, que na sociedade moderna e 
contemporânea a desigualdade assume o caráter de privilégio de alguns 
e de injustiça para com outros. É essa nova consciência que torna a 
pobreza tão incômoda (COSTA, 2005, p. 249).
Infelizmente, a lógica social tomou esse caminho. Há alguns que, em 
benefício próprio, acabam explorando outros. Em muitas das vezes, 
essa confirmação se dá em âmbitos mundiais. Países que se julgam 
“melhores” que outros acabam impondo a sua cultura e o seu modo 
de administrar a outros povos. Há um desrespeito aos traços culturais. 
Anula-se a dimensão social, cultural, pessoal, de uma nação, em prol da 
superioridade dos mais ricos. É comum observarmos isso quando vemos 
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algumas situações relativas a empréstimos mundiais, quando instituições 
como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Banco Mundial (BIRD) 
estão envolvidas. 
 PESQUISANDO NA WEB 
Ao assistir o vídeo indicado a seguir, atente à explicação sobre como surgiu 
o FMI, bem como quais são as suas principais atribuições e características. 
Tome nota das principais mudanças do Fundo ao longo do tempo e socialize 
com os colegas e preceptor a sua opinião. Discuta sobre o que assistiu. 
Site: <http://www.youtube.com/watch?v=kB_U6bL3zhE>.
A influência internacional acabou por levar a uma mudança de comporta-
mento das ações políticas, relegando as políticas sociais cada vez mais 
ao esquecimento da prática de governos. A lógica modificou o processo; 
o que era política de Estado (manutenção dos direitos) passou a ser 
política de governo (a cada novo mandato, uma nova ordem política, 
novos interesses e rumos).
 AGORA É A SUA VEZ 
Em sua Constituição, o Brasil descreve os Direitos Básicos para o funciona-
mento da nação. Acesse o link: <http://www.culturabrasil.org/artigo5.htm> e 
compreenda um pouco mais sobre o artigo 5° da Constituição Federal.
Essa prática de trazer para a cultura nacional influências externas fez 
com que surgisse um fenômeno chamado de aculturação. Nesse pro-
cesso, hábitos e costumes de um povo estrangeiro passam a fazer parte 
 PESQUISANDO NA WEB 
Ao assistir o vídeo indicado a seguir, atente à explicação sobre como surgiu 
o FMI, bem como quais são as suas principais atribuições e características. 
Tome nota das principais mudanças do Fundo ao longo do tempo e socialize 
com os colegas e preceptor a sua opinião. Discuta sobre o que assistiu. 
Site: <http://www.youtube.com/watch?v=kB_U6bL3zhE>.
AGORA É A SUA VEZ 
Em sua Constituição, o Brasil descreve os Direitos Básicos para o funciona-
mento da nação. Acesse o link: <http://www.culturabrasil.org/artigo5.htm> e 
compreenda um pouco mais sobre o artigo 5° da Constituição Federal.
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da cultura local. Podemos citar como exemplo as palavras que usamos 
cotidianamente que originalmente não faziam parte da nossa gramática: 
fast-food, drive-thru, xerox, Halloween etc. É evidente que não se resume 
só a questão da linguística, mas envolve aspectos sociais, culturais, 
econômicos e políticos. Com todo esse processo, advém uma mudança 
radical no comportamento da sociedade. Há uma necessidade de adapta-
ção que obriga a mudança dos hábitos de todos os cidadãos; a popula-
ção começa a ser desprezada em prol da manutenção de acordos 
firmados com o mercado externo. Começa a vigorar no sistema social a 
mudança das estruturas básicas (relações que definem a organização).
O conjunto dessas modificações nas relações 
sociais ocasionou sérios problemas que começa-
ram a exigir dos governos algum posicionamento. 
Aparecem inúmeros conflitos sociais, variadas 
situações de desigualdade são relatadas nos 
países que aderem às políticas internacionais. O 
relativismo cultural começa a vigorar. 
A realidade humana, dessa forma, acaba alterada 
por diversas situações que não dependem da ação 
individual de cada cidadão. É justamente aí que 
começa a vigorar, através de manifestos e ações 
populares, as políticas sociais. Antes, porém, de falarmos de tais políticas, 
é necessário traçar algumas considerações acerca de outra influência 
exercida no contexto social: o idealismo.
Relativismo cultural
Após a definição 
de Albert Einstein 
acerca do relativismo, 
as ações humanas 
começaram a se 
pautar pela lógica 
de que não existe 
uma ideia absoluta 
– verdade universal. 
Com a cultura 
não é diferente. O 
relativismo cultural 
prega a necessidade 
de valorização de 
qualquer cultura, 
inexistindo valor moral 
na mesma.
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	1.3	 A	influência	do	idealismo
Como você teve a oportunidade de compreender, o relativismo cultural 
levou a uma mudança no comportamento social. Toda essa mudança, 
juntamente aos novos ditames da política internacional, obrigou a popu-
lação a ações extremas, entre elas, reivindicações através de passeatas, 
greves etc. Toda essa ação social acabou por modificar o comportamento 
humano, e, consequentemente, a forma de se conhecer.Em inúmeras espécies de animais, é possível encontrar formas de com-
portamento e relacionamento variadas. Um comportamento natural no 
animal – racional ou não – é o de se unir em grupos; conviver, competir, 
acasalar, sobreviver, reproduzir, se relacionar com o ambiente. Com o 
humano isso não é diferente. Contudo, em sua constituição, o humano 
tem a possibilidade de aprender. 
Nosso aprendizado é essencialmente simbólico, o que significa basica-
mente que somos ligados a símbolos: histórias, figuras, mitos, lendas. Um 
longo aprendizado marca a nossa vida, sendo, muitas vezes, aprendido 
de gerações anteriores (pais, avós etc). Somos seres que conseguimos 
promover uma ligação entre linguagem, experiência e realidade. 
Comparado aos outros animais, o homem não vive 
apenas em uma realidade mais ampla, vive, pode-
-se dizer, em uma nova dimensão da realidade [...] o 
homem vive em um universo simbólico. [...] Por isso, 
dizemos que o pensamento humano é único, pois 
demonstrou ser capaz de transformar a experiência 
vivida em um discurso com significado [...] (COSTA, 
2005, p. 13).
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Essa capacidade simbólica do humano é que organiza o mundo e dá 
sentido à vida. A sociedade em que habitamos, os grupos que dividimos 
experiências geram uma diversidade de realidades; é isso que faz com 
que nasçam padrões de vida, crenças e pensamentos diferenciados. Toda 
essa capacidade do ser humano possibilitou à espécie uma oportunidade 
de existência única chamada de conhecimento. 
 SAIBA MAIS 
Segundo a teoria do conhecimento (área da Filosofia), existem 5 tipos de 
conhecimento, com suas determinadas características:
1. O mito: Relação suprapessoal, em que a revelação do sagrado se mani-
festa (revela) sobrenaturalmente ao profano por meio do rito (dramatização 
do mito, ou seja, da liturgia religiosa).
2. A filosofia: Relação transpessoal em que a palavra diz as coisas. O mundo 
se manifesta pelos fenômenos e é dizível por meio do logos.
3. O senso comum: Relação interpessoal, em que a ideologia é estabelecida 
pelas ideias dominantes e pelos poderes estabelecidos.
4. A arte: Relação pessoal, em que interagem a criatividade e a percepção 
da realidade do autor e a interpretação e sensibilidade do observador.
5. A	ciência:	Relação “impessoal”. A isenção do cientista diante de sua pes-
quisa: o mito da neutralidade científica.
A essa altura, você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver 
com a discussão de políticas sociais. A questão é que para compreender 
como essas políticas começaram a surgir, temos que saber um processo 
 SAIBA MAIS 
Segundo a teoria do conhecimento (área da Filosofia), existem 5 tipos de 
conhecimento, com suas determinadas características:
1. O mito: Relação suprapessoal, em que a revelação do sagrado se mani-
festa (revela) sobrenaturalmente ao profano por meio do rito (dramatização 
do mito, ou seja, da liturgia religiosa).
2. A filosofia: Relação transpessoal em que a palavra diz as coisas. O mundo 
se manifesta pelos fenômenos e é dizível por meio do logos.
3. O senso comum: Relação interpessoal, em que a ideologia é estabelecida 
pelas ideias dominantes e pelos poderes estabelecidos.
4. A arte: Relação pessoal, em que interagem a criatividade e a percepção 
da realidade do autor e a interpretação e sensibilidade do observador.
5. A	ciência:	Relação “impessoal”. A isenção do cientista diante de sua pes-
quisa: o mito da neutralidade científica.
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que se desencadeou na realidade humana, chamado de coisificação do 
sujeito; ou ainda, objetificação do sujeito. 
Nesse processo, a relação estabelecida entre o sujeito e o objeto se 
tornou confusa. A evolução racional da humanidade não contribuiu po-
sitivamente na relação entre o sujeito (aquele que conhece) e o objeto 
(aquilo que é conhecido). A inversão dos papéis colocou o sujeito como 
objeto e, em alguns momentos, como escravo do objeto. Por vezes, a 
sociedade deixou de lado a perspectiva humana em prol de outras ações 
e centralizações. Nesse sentido, houve a necessidade de se repensar 
o comportamento social à luz da pessoa, do sujeito. Daí, o surgimento 
do idealismo.
Em linhas gerais, o idealismo é uma perspectiva que sobrepõe o sujeito 
ao objeto. Trata-se de repensar a sociedade supervalorizando e redimen-
sionando o papel do sujeito, concebendo a realidade como fruto do pen-
samento; ou seja, há uma valorização da capacidade racional humana, 
transferindo para ela a responsabilidade pela construção da realidade. 
Esse estudo foi aprofundado de maneira especial por Immanuel Kant, 
Friedrich Hegel e Max Weber.
Kant concebia que a razão era entendimento. Segundo o filósofo, era 
possível conhecer a realidade através das manifestações e expressões 
da razão, sendo o conhecimento relativo ao sujeito que conhece. Assim, 
a realidade acabará sendo específica para cada sujeito em particular; ou 
ainda, que cada sujeito será capaz de construir a sua realidade. Hegel, 
por sua vez, afirma que o entendimento é algo que parte da existência 
factual do ser e a razão dissolve as determinações fixadas pelo entendi-
mento. Em Hegel, diferente de Kant, o ser é permeável pela razão. Isto 
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significa que é possível conhecer a coisa porque ela é um movimento 
que recomeça, em constante construção.
A partir da reflexão kantiana e hegeliana, derivou-se um pensamento 
social que diferenciou a ciência em dois tipos: as da natureza, que tra-
balham com a causa para prever ações humanas, e a partir da relação 
sujeito/objeto se obtêm explicações para as leis; e as do espírito, voltadas 
para a História, cultura e sociedade, em que se busca trabalhar com as 
motivações que promovem as ações dos sujeitos; ou seja, o sujeito faz 
parte do processo que precisa ser compreendido.
 
Lembre-se de que já refletimos sobre as definições de determinado pensador, 
que levam o seu nome nas considerações. Ou seja, se um pensamento é 
de Heidegger, esse será chamado de heideggeriano; assim como kantiano e 
hegeliano pertencem respectivamente a Kant e Hegel.
O estudo sistêmico acerca do pensamento de Kant e Hegel deu origem 
a um ramo da Sociologia chamado de sociologia compreensiva, tendo 
como seu maior influenciador Max Weber. Para ele, toda ação social está 
repleta de intenções e ações do sujeito, que se sobrepõem às condições. 
Sob essa ótica, Weber busca compreender o sentido da ação humana; 
sendo que para ele “conhecer um fenômeno social seria extrair o con-
teúdo simbólico da ação ou ações que o configuram, [...] e não apenas 
o aspecto exterior dessas mesmas ações” (WEBER apud COSTA, 2005, 
p. 33). Weber faz questão de deixar claro que os valores não estão rela-
cionados aos projetos societários, às classes sociais, mas às culturas, 
Lembre-se de que já refletimos sobre as definições de determinado pensador, 
que levam o seu nome nas considerações. Ou seja, se um pensamento é 
de Heidegger, esse será chamado de heideggeriano; assim como kantiano e 
hegeliano pertencem respectivamente a Kant e Hegel.
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nações e religiões. São esses valores que permitem selecionar o que é 
significativo nos fenômenos sociais. 
Toda essa discussão teórica se faz necessária para que você com preenda 
o processo de surgimento das políticas sociais e a singularidade do su-
jeito no processo social. Ao se promover a análise de uma sociedade, 
não podemos deixar de lado a perspectiva do indivíduo, do sujeito. Há a 
necessidade de se observar cada caso em particular, como formador da 
sociedade. Toda ação humana no seio social é convertida em fenômeno 
social, que de maneira alguma pode anular a dimensão do individual. É 
justamente por isso que há uma influência do idealismo ao falarmos de

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