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O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DO SUSP NA DEFESA DO ESTADO DEMOCRATICO DE DIREITO

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Prévia do material em texto

Presidência da República 
Luiz Inácio Lula da Silva 
Ministério da Justiça e Segurança Pública 
Flávio Dino de Castro e Costa 
Secretaria Nacional de Segurança Pública 
Francisco Tadeu Barbosa de Alencar 
Diretoria de Ensino e Pesquisa 
Michele Gonçalves dos Ramos 
Coordenação-Geral de Ensino 
Ana Claudia Bernardes Vilarinho de Oliveira 
Coordenação Pedagógica 
Joyce Cristine da Silva Carvalho 
Coordenação de Ensino a Distância 
Renata Guilhões Barros Santos 
Gerente de Curso 
Danilo Bruno Moreira 
Conteudistas 
Alan Fernandes 
Elizabeth Albernaz 
Ignacio Cano 
Colaboração: Renato Sérgio de Lima 
 
Revisão Técnica 
Ana Paula Santos Meza 
Danilo Bruno Moreira 
 
Revisão Pedagógica 
Evania Santos Assunção 
Revisão Textual 
Julio Cezar Rodrigues 
Programação e Edição 
Renato Antunes dos Santos 
Fábio Nevis dos Santos 
Design Instrucional 
Wagner Henrique Varela da Silva 
 
Sumário 
 
APRESENTAÇÃO DO CURSO ................................................................................................................... 5 
OBJETIVOS DO CURSO .................................................................................................................................. 9 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................................................................... 9 
ESTRUTURA DO CURSO ..................................................................................................................................... 10 
MÓDULO 1 – O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ........................................................................... 11 
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ............................................................................................................................ 11 
OBJETIVOS DO MÓDULO ................................................................................................................................... 11 
ESTRUTURA DO MÓDULO ................................................................................................................................. 12 
AULA 1 - O SURGIMENTO DO ESTADO MODERNO ............................................................................... 13 
1.1 O NASCIMENTO DA DEMOCRACIA MODERNA E LIBERAL: AS REVOLUÇÕES BURGUESAS E A CONSTITUIÇÃO DA NOÇÃO DE 
CIDADANIA ..................................................................................................................................................... 14 
AULA 2 – CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS ....................................................................................... 26 
AULA 3 - O PAPEL DA SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
 ............................................................................................................................................................ 36 
FINALIZANDO.... ................................................................................................................................... 45 
MÓDULO 2 – CONCEITO DE POLÍCIA E ORIGENS HISTÓRICAS ............................................................... 47 
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ............................................................................................................................ 47 
OBJETIVOS DO MÓDULO ................................................................................................................................... 47 
ESTRUTURA DO MÓDULO ................................................................................................................................. 47 
AULA 1 – O CONCEITO DE POLÍCIA E O SURGIMENTO HISTÓRICO DAS POLÍCIAS MODERNAS .............. 48 
AULA 2 – OS DOIS MODELOS BÁSICOS DE POLÍCIA: DEFENDENDO O ESTADO VERSUS DEFENDENDO OS 
CIDADÃOS. ........................................................................................................................................... 60 
AULA 3 - A DOUTRINA POLICIAL ENTRE O COMBATE AOS CRIMINOSOS E A PROTEÇÃO DO CIDADÃO . 71 
AULA 4 - A DISCRICIONARIEDADE NO TRABALHO POLICIAL ................................................................. 83 
AULA 5 – LEGITIMIDADE E TRABALHO POLICIAL .................................................................................. 93 
FINALIZANDO.... ................................................................................................................................. 102 
MÓDULO 3 - POLÍCIA E A ESFERA DA POLÍTICA .................................................................................. 105 
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .......................................................................................................................... 105 
OBJETIVOS DO MÓDULO ................................................................................................................................. 106 
ESTRUTURA DO MÓDULO ............................................................................................................................... 106 
AULA 1 - DILEMAS DO GOVERNO POLÍTICO DAS POLÍCIAS ................................................................. 107 
AULA 2 – POLÍCIA POLÍTICA E A POLÍTICA DA POLÍCIA ........................................................................ 120 
2.1 POLÍCIA E POLÍTICA ....................................................................................................................120 
2.2 POLÍCIA POLÍTICA .......................................................................................................................125 
2.3 POLÍTICOS DE ESQUINA ................................................................................................................ 129 
AULA 3 – POLÍCIA E A RECONSTITUIÇÃO DA ESFERA DA POLÍTICA ..................................................... 133 
 
3.1 CARACTERÍSTICAS DE CONTEXTOS PÓS-CONFLITO ...................................................................... 134 
3.2 O CONCEITO DE CORE POLICING DE BAILEY & PERITO ................................................................. 138 
3.3 A POLÍCIA E A (RE)CONSTITUIÇÃO DA ESFERA DA POLÍTICA ........................................................ 142 
AULA 4 – PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E ASSOCIATIVISMO POLICIAL ...................................................... 151 
4.1 POLICIAL E TRABALHADOR .......................................................................................................... 152 
4.2 CONDIÇÕES DE TRABALHO E DEMOCRACIA ................................................................................. 157 
4.3 ASSOCIATIVISMO E SINDICALIZAÇÃO .......................................................................................... 160 
FINALIZANDO.... ................................................................................................................................. 164 
MÓDULO 4 - OS DESAFIOS DO ESTADO BRASILEIRO E A SEGURANÇA PÚBLICA: O SISTEMA ÚNICO DE 
SEGURANÇA PÚBLICA ........................................................................................................................ 167 
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .......................................................................................................................... 167 
OBJETIVOS DO MÓDULO ................................................................................................................................. 168 
ESTRUTURA DO MÓDULO ............................................................................................................................... 168 
AULA 1 - OS DESAFIOS BRASILEIROS E SUAS REPERCUSSÕES NA OFERTA DE SEGURANÇA PÚBLICA .. 169 
AULA 2 - A SEGURANÇA PÚBLICA E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ............................................ 175 
AULA 3 – O SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA (SUSP) ........................................................... 182 
3.1 GOVERNANÇA: MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO ......................................................................183 
3.2 LEGISLAÇÃO E CONCEPÇÃO DO SUSP ......................................................................................... 185 
3.3 A POLÍTICA NACIONAL E OS PLANOS FEDERAL E SUBNACIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA E 
DEFESA SOCIAL .................................................................................................................................. 190 
3.4 PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL: OS CONSELHOS DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL
 .......................................................................................................................................................... 195 
3.5 FINANCIAMENTO DO SUSP: FUNDO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA E FUNDO 
PENITENCIÁRIO NACIONAL ................................................................................................................ 196 
3.6 SISTEMAS DO SUSP .................................................................................................................... 198 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................................. 201 
FINALIZANDO.... ................................................................................................................................. 206 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 207 
 
 
 
 
5 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
APRESENTAÇÃO DO CURSO 
 
Caras alunas e caros alunos, 
 
Sejam bem-vindas e bem-vindos ao curso: “O Estado democrático de 
direito e o papel dos profissionais do Sistema Único de Segurança 
Pública”. A Segurança Pública tem um papel fundamental na defesa da 
Democracia. O exercício pleno da cidadania, compreendida genericamente 
como os direitos e deveres da população de um país, não pode ser atingido sem 
que as pessoas tenham assegurados o direito à vida, à liberdade, à propriedade 
e ao livre exercício de suas atividades econômicas. A possibilidade de viverem 
suas vidas livres da ameaça constante da violência é fundamental para a 
garantia daquelas condições. 
Nesse sentido, entendemos que os/as profissionais do Sistema Único de 
Segurança Pública (SUSP) constituem a linha de frente da luta pela defesa da 
cidadania e da Democracia no Brasil. Mas como esses profissionais podem 
defender a Democracia? A tarefa é desafiadora e pode parecer distante da 
realidade cotidiana desses/as agentes. Um dos objetivos do nosso curso é 
justamente mostrar como o SUSP pode ser um aliado desses/as profissionais. 
Antes de falarmos diretamente sobre as estruturas e o funcionamento do 
sistema, introduziremos conceitos e informações relevantes para a 
contextualização dessa missão tão importante. Percorreremos eventos 
históricos e diversos campos de conhecimento com o intuito de fazer com que 
esses/as profissionais possam enxergar oportunidades para a defesa da 
democracia e do Estado do Direito em seu dia-a-dia, enquanto trabalhadores, 
representantes do Estado e provedores de um serviço essencial à sociedade. 
 
 
 
 
 
 
6 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
 
Este curso está dividido em quatro módulos: 
Primeiro Módulo 
Iniciaremos a nossa jornada com a discussão de “poder de polícia” como 
associado ao bom funcionamento das cidades e ao resguardo dos cidadãos, 
mostrando que a especialização da polícia como “burocracia de combate ao 
crime” é um processo histórico associado à consolidação do Estado Liberal 
Moderno na Europa (XVIII-XIX). Apresentamos ainda uma reflexão sobre a 
legitimidade e a discricionariedade policiais. 
Segundo Módulo 
Na sequência, falaremos das origens históricas da democracia, do estado 
democrático de direito e definiremos alguns conceitos-chave nesse sentido. 
Trataremos ainda dos dilemas da defesa da democracia pelos/as profissionais 
de segurança em sociedades complexas, em que o conflito é característica 
fundamental e positiva de sociedades livres e plurais. 
Terceiro Módulo 
A partir daí introduzimos uma discussão sobre a relação da polícia com a 
esfera da política em que trataremos do difícil equilíbrio entre o controle e a 
instrumentalização política das polícias na democracia. Falaremos ainda sobre 
condições de trabalho e dilemas da participação política desses/as profissionais 
enquanto “trabalhadores da segurança”. Partimos do princípio de que para que 
esses profissionais desempenhem um papel na produção de adesão aos 
princípios e normas democráticos, é preciso que estes/as vivam a democracia 
em seus ambientes de trabalho. 
Quarto Módulo 
Por fim, encerramos o curso com a apresentação da arquitetura e 
funcionamento do Susp e os dilemas enfrentados para a sua implementação 
considerando a realidade brasileira, que se caracteriza por um modelo de 
cidadania que encarna uma tensão entre princípios formais democráticos e 
práticas sociais hierarquizantes. 
 
 
7 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
Este curso tem, dentre seus propósitos, oferecer os instrumentos para que 
os profissionais de Segurança Pública atuem ainda mais fortemente para 
assegurar a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a 
igualdade e a justiça previstas já nas primeiras linhas da nossa Constituição 
Federal, a Lei Maior. Os caminhos que apresentaremos aqui passam, em 
resumo, por refletir sobre o papel da Segurança Pública e seus profissionais na 
construção do Estado de Direito. Por meio dos conteúdos que serão trazidos 
aqui, almejamos que os/as profissionais do SUSP disponham de um repertório 
para sua atuação junto à sociedade e junto aos órgãos e corporações das quais 
fazem parte. Nesse esforço, procuramos alcançar os profissionais da ponta da 
linha, mas também os gestores e lideranças policiais e dos órgãos ligados ao 
Sistema de Segurança Pública. 
Ao final, esperamos que esse conteúdo contribua para avanços na 
Segurança Pública no Brasil, retratando-se em uma compreensão ampliada do 
papel desse serviço público na construção das relações sociais, na tomada de 
decisão mais adequada aos limites e potencialidades providas pelo Estado de 
Direito e no impulsionamento de um arranjo institucional que atinja níveis 
melhores de eficácia e eficiência na Segurança Pública. 
Sua participação é fundamental nesse processo pedagógico. 
 
 A Segurança Pública exerce um papel fundamental para a nossa 
vida em sociedade, sem a qual se fragiliza a noção de cidadania, central 
para o Estado Democrático de Direito. Esse cenário exige refletir sobre o 
papel dos profissionais de Segurança Pública na construção do Estado de 
Direito, com base em discussões sobre a provisão de segurança às 
pessoas, o papel da polícia enquanto instituição encarregada da ordem e 
da aplicação das leis, as origens do Estado e da democracia e os arranjos 
institucionais brasileiros que configuram a segurança como serviço, direito 
e bem público. Espera-se que, ao final do conteúdo, o/a instruendo/a amplie 
seu repertório para suas atuações junto à sociedade e junto aos órgãos e 
corporações das quais fazem parte. Nesse esforço, procuramos alcançar 
os profissionais na ponta da linha, mas também os gestores e lideranças 
 
 
8 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
policiais e dos órgãos ligados ao Sistema de Segurança Pública, 
promovendo uma compreensão ampliada do seu papel e da tomada de 
decisão em conformidade aos limites e possibilidades do Estado de Direito 
no Brasil. 
 
 
 
 
Figura 1: A sociedade brasileira 
 
Fonte: Misael Alberto Cossio Orihuela/ https://jus.com.br/artigos/44467/elementos-
constitutivos-do-estado 
 
 
 
 
 
 
https://jus.com.br/artigos/44467/elementos-constitutivos-do-estadohttps://jus.com.br/artigos/44467/elementos-constitutivos-do-estado
 
 
9 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
OBJETIVOS DO CURSO 
O curso “O Estado democrático de direito e o papel dos profissionais 
do Sistema Único de Segurança Pública” tem como objetivo desenvolver uma 
compreensão dos fundamentos do Estado Democrático de Direito e da 
cidadania, de modo a fortalecer o papel das instituições de segurança pública na 
defesa da sociedade e da democracia, a partir da valorização do profissional que 
integra o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) para a preservação da 
integridade dos poderes e o respeito às leis. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
✓ Introduzir conceitos que contribuam para uma melhor compreensão do 
papel das organizações de segurança pública na defesa da democracia; 
✓ Contextualizar historicamente o surgimento do Estado Democrático de 
Direito e o papel das polícias estatais em sua consolidação; 
✓ Problematizar a relação daquelas organizações com a esfera política, 
introduzindo o dilema entre o controle e a instrumentalização política das 
polícias no contexto da democracia contemporânea; 
✓ Promover o papel dos/as profissionais de segurança pública como 
mediadores da ordem em sociedades complexas, marcadas por conflitos 
de interesse e diversidade; 
✓ Discutir a importância da promoção de ambientes de trabalho 
democráticos e da participação dos profissionais do SUSP como 
“trabalhadores da segurança” para a promoção da democracia; e 
✓ Apresentar a arquitetura do Susp, sua finalidade, princípios organizativos, 
potenciais benefícios e desafios de implementação na sociedade 
brasileira. 
 
 
 
 
 
10 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
ESTRUTURA DO CURSO 
Este curso possui uma carga horária de 50 horas e compreende os 
seguintes módulos: 
Módulo 1 - O Estado Democrático de Direito 
Módulo 2 - Conceito de Polícia e Origens Históricas 
Módulo 3 - Polícia e a Esfera Política 
Módulo 4 - Os desafios do Estado brasileiro e a Segurança Pública: o 
Sistema Único de Segurança Pública 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
MÓDULO 1 – O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
 
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO 
Para falarmos sobre o Estado Democrático de Direito e o papel dos 
profissionais do Sistema de Segurança Pública (Susp) é importante fazermos 
uma retrospectiva histórica. A proposta aqui não é dar uma aura de 
academicismo ao conteúdo, mas sinalizar o papel que oferece para a 
constituição da democracia, que é o melhor instrumento até então criado para 
estabelecer uma convivência que se pretenda pacífica e realizadora das 
potencialidades humanas, sobretudo em sociedades complexas como as 
contemporâneas. 
Embora as atuais configurações de Estado não sejam necessariamente 
modelagens perfeitas, a constante atuação da sociedade civil, dos funcionários 
públicos e da classe política, cuja participação está assegurada pela lei e 
permitirá aumentar as potencialidades para que o Estado ofereça as condições 
para, como diz no Preâmbulo da nossa Constituição Federal, “assegurar o 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma 
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e 
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das 
controvérsias”. 
Assim, reafirmando o propósito de obter uma melhor dimensão dos papéis 
dos profissionais da segurança pública, trataremos de alguns autores que dão 
sustentação a essa construção política chamada Estado. 
 
OBJETIVOS DO MÓDULO 
Este módulo tem por objetivos: 
Conhecer os fundamentos históricos e filosóficos que orientam a 
formação do Estado Democrático de Direito; e 
 
 
12 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
Discutir o papel dos profissionais de Segurança Pública na consolidação 
do Estado Democrático de Direito, tendo por base a construção da ordem em 
sociedades complexas. 
 
ESTRUTURA DO MÓDULO 
Este módulo compreende as seguintes aulas: 
Aula 1 – O surgimento do Estado Moderno; 
Aula 2 – Cidadania e Direitos Humanos; e 
Aula 3 – O papel da segurança pública na consolidação do Estado 
Democrático de Direito. 
 
 
 
13 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
AULA 1 - O SURGIMENTO DO ESTADO MODERNO 
Muito embora a tradição da ciência política remonte o surgimento do 
Estado à Grécia da Antiguidade, partiremos dos escritos dos autores da 
Modernidade. 
Diferentemente da Antiguidade, e da Idade Média que a sucedeu, a 
Modernidade vai ocorrer em um ambiente econômico e político muito mais 
próximo dos tempos atuais. Isso não apenas cronologicamente, mas, sobretudo, 
pelo fato de que foi na Idade Moderna que se formaram as instituições 
econômicas e políticas que dão a conformação inicial do nosso cenário, dentre 
as quais o Estado Moderno (BOBBIO, 2002). 
A principal diferença da sociedade moderna reside no fato de que a 
divisão de poderes políticos não mais se dava sobre a tradição ou pelo 
nascimento (como a sucessão do governante por seu filho mais velho, ou a 
proibição do casamento entre os senhores e seus servos). Agora, a sociedade 
se dividia por critérios econômicos e, apesar da desigualdade que ela trouxe (às 
vezes até maior que no feudalismo), sinalizou-se que qualquer pessoa poderia 
alcançar qualquer posição social. Essa transformação econômica, que se deu 
ao longo de séculos, retirou as amarras ideológicas que vinculavam as pessoas 
daquele tempo às suas posições de poder por regras imutáveis. Nesse momento 
da história, as forças que estruturavam a ordem social, como a religião, perdem 
força para um papel cada vez maior do indivíduo (ELIAS, 1990). No fundo, junto 
com outras construções filosóficas da Modernidade, introduziu-se a noção de 
liberdade. 
É pela noção de liberdade que trataremos de dois dos principais autores 
que deram as bases filosóficas que originaram o Estado. Falaremos de Hobbes 
e Rousseau. Chamados de contratualistas, eles pensaram em resolver a 
seguinte equação: como assegurar liberdade aos indivíduos, sem que a 
humanidade recaia em modelos políticos em que o governante se transforme em 
um tirano? Em outras palavras: 
 
 
 
 
14 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
 
Vamos Refletir! 
 
 Qual a melhor forma de assegurar níveis de harmonia e paz na 
sociedade? 
 
 
1.1 O NASCIMENTO DA DEMOCRACIA MODERNA E LIBERAL: 
AS REVOLUÇÕES BURGUESAS E A CONSTITUIÇÃO DA 
NOÇÃO DE CIDADANIA 
Na seção anterior, tratamos brevemente sobre como política e economia 
foram os motores para as transformações humanas que levaram à consolidação 
do Estado Moderno, instituição que conhecemos hoje simplesmente como 
Estado. Neste tópico, vamos apresentar alguns fatos históricos que nos 
trouxeram até aqui. Por meio deles, encontraremos alguns instrumentos políticos 
que se mantiveram ao longo de todos esses anos e que impactam a nossa 
sociedade até os dias atuais. Esperamos que, com isso, possamos, por um lado, 
dar uma dimensão do papel dos profissionais de segurança na defesa do Estado 
Democrático de Direito e, por outro, frisar que alcançar uma sociedade justa e 
pacífica exige esforço diário e cotidiano de todos nós. 
Assim, vamos repassar dois acontecimentos fundamentais para se 
compreender a formação do Estado, ambos ocorridos na Europa, nos séculos 
XVII e XVIII: a Revolução Gloriosa, na Inglaterra, e a Revolução Francesa. De 
início, importa dizer que, com eles, surgiram instrumentos tão importantespara 
a nossa democracia, como a existência de uma Constituição que regule o 
exercício do poder e a própria democracia formal (a que prevê os mecanismos 
que franqueiam a alternância de governo), sem a qual a Democracia tende a 
desembocar na Tirania. 
 
 
 
 
 
 
15 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
Os contratualistas Thomas Hobbes e Jeans-Jacques Rousseau 
Uma das bases do pensamento político moderno foram os escritos dos 
chamados contratualistas. Para eles, na origem do Estado teria ocorrido um 
pacto em que os indivíduos decidem por outorgar uma parcela de suas 
liberdades para um ente abstrato encarregado de lhes garantir a vida, a 
propriedade e a parcela de liberdade que fora conservada. Esse grande acordo 
dos indivíduos seria como um contrato (daí o nome “contratualistas”) que os 
indivíduos firmassem entre eles mesmos e que receberia o nome de Estado. E, 
assim como nos contratos que assinamos durante a nossa vida, estariam 
prescritos direitos e deveres mútuos, cujas infrações resultariam em penalidades 
de parte a parte. 
Apesar de parecer que esse pensamento não é tão inovador, ele 
representou uma ruptura no pensamento político até então vigente. Primeiro 
porque dizia ao mandatário do governo, em especial às monarquias absolutistas 
vigentes, que ele não podia exercer um poder infinito, mas restrito à medida do 
pacto estabelecido pela sociedade. Assim, a vida, que não havia sido objeto de 
cessão no contrato social, não poderia ser requerida pelo rei em nome do 
Estado. Segundo, porque colocava a subordinação do governante aos 
instrumentos escritos e legitimados pela sociedade, o que fez emergir uma 
pressão nos países para que fossem redigidas leis que estabelecessem os 
limites do exercício do poder político. A partir daí, a ideia de uma Constituição 
ganhou força, fazendo com que (não sem muita luta), as monarquias absolutistas 
se tornassem monarquias constitucionais, e, em alguns casos, repúblicas. 
Apesar de passados cerca de quatro séculos, as questões práticas sobre 
a observância do contrato ou pacto social são ainda razões que exigem a 
atenção coletiva e de cada um dos indivíduos. Isso porque as regras do jogo são 
ultrapassadas por governos e pelos indivíduos. Esses atos, classificados como 
ilegais, requerem que o Estado atue regulando e punindo as ações individuais 
 
 
16 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
que se coloquem contra a lei, mas também que a sociedade civil1 se posicione 
em face dos abusos de poder que o Estado pratique. 
Thomas Hobbes tem como sua principal obra Leviatã. Para ele, a 
sociedade pré-estatal (chamada de estado de natureza) é uma guerra 
permanente entre os indivíduos pela ausência de um ente que pudesse regular 
a vida social. Em sua concepção, 
 
 
A natureza faz os homens tão iguais, quanto às faculdades do 
corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem 
manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do 
que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em 
conjunto, a diferença entre um e outro homem não é 
suficientemente considerável para que qualquer um possa com 
base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa 
também aspirar, tal como ele (Hobbes, 1988, p. 74 apud Ribeiro, 
2006, p. 54). 
 
No estado de natureza, o indivíduo, para manter sua vida e liberdade, não 
teria outro caminho senão recorrer à violência física ou viver sob a ameaça de 
ser vítima de outros indivíduos ou grupos. Os homens hobbesianos eram tão 
iguais, que o mais razoável – seja para evitar um ataque ou simplesmente para 
sobrepujar outro homem – seria atacar. Assim, dada a inexistência de um Estado 
capaz de controlar e reprimir as violências entre as pessoas, fazer a guerra 
contra os outros é a atitude mais “racional” a ser adotada (RIBEIRO, 2006, p. 
55). 
Dentre outras contribuições para o pensamento político, Hobbes nos 
oferta a ideia da criação de um poder soberano – o Estado - que proporcione 
 
1 O Estado também possui deveres de atuar contra a ação de seus integrantes em caso de 
ilegalidades. Para um aprofundamento quanto a isso, recomendamos o estudo das análises 
sobre check and balances, incialmente tratada em O Federalista (LIMONGI, 2010). 
 
 
17 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
estabilidade às relações sociais e, que, nessa medida, fosse capaz de impedir a 
guerra de todos contra todos. 
Ao mesmo tempo, Hobbes também se preocupava de que esse Estado 
não se tornasse uma tirania capaz de retirar a vida de seus cidadãos. Em sua 
concepção, o Estado é limitado, pois ele não pode dispor de todos os direitos 
dos indivíduos, já que somente a liberdade lhe foi outorgada, e parcialmente, 
pelos cidadãos que firmaram o contrato social. A vida, mesmo no modelo de 
Hobbes, permanece indisponível. 
 
 
Thomas Hobbes viveu entre 1588 e 1679 e suas ideias 
circularam durante a Revolução Gloriosa na Inglaterra. Suas 
ideias monarquistas se opunham à República de Cromwell 
instalada naquele país, tendo sido exilado na França por suas 
ideias. 
Acesse: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/thomas-hobbes.htm 
 
A questão sobre os limites da ação do Estado se coloca de maneira ainda 
mais intensa nos anos em que Jean-Jacques Rousseau viveu. Passados quase 
cem anos entre as vidas de Rousseau e Hobbes, as forças políticas e sociais 
europeias se modificaram com a ascensão de uma classe que passara a 
reivindicar parcelas maiores de atuação no poder político. Fraturando a 
hegemonia da Igreja católica e da monarquia, agora uma classe 
economicamente poderosa, a burguesia, exigia novas formas de organização do 
Estado. Rousseau se defronta com uma sociedade mais complexa em relação 
àquela que existia na transição do período feudal ao mercantil, haja vista o 
adensamento da população em ambientes urbanos e a oposição das classes 
subalternas aos ditames da monarquia. Ele será o teórico do poder político que 
se origina do povo, fonte originária de todo poder. 
Rousseau irá catalisar esse pensamento presente nessa época e é 
considerado por muitos o pensador da Revolução Francesa (1789), muito 
Saiba mais 
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/thomas-hobbes.htm
 
 
18 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
embora tenha vivido antes desse acontecimento (1712-1778) que derrubou o rei 
Luis XVI do trono e provocou o questionamento de todas as monarquias vigentes 
na Europa. Seus escritos, representados sobretudo nas suas principais obras, 
“O Contrato Social” e “Discurso sobre a origem e os fundamentos da 
desigualdade entre os homens”, tiveram impacto mesmo fora do continente 
europeu, como na Independência dos Estados Unidos da América (1776) e na 
Inconfidência Mineira do Brasil, nos anos de 1780. 
 
Uma das principais diferenças em relação a Hobbes é que, para 
Rousseau, o momento pré-estatal é pacífico e é o Estado tirano quem 
usurpa o poder. Assim, ganham relevância as formas com as quais o 
Estado alcança a legitimidade para atuar na sociedade. Não importa que o 
governo seja uma monarquia, uma aristocracia ou uma república, o povo 
deve manter-se como soberano do poder político, perante o qual o governo 
se subordina. 
 
Esse pensamento é tão vigoroso que, passados quase 300 anos, inspirou 
a Constituição Federal brasileira vigente que diz, no parágrafo único do artigo 1º, 
que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL. 
CONSTITUIÇÃO (1988). Isso significa que o povo é o corpo a partir do qual 
advém a legitimidade que permite ao governo exercer suas atribuições. Por ser 
o povo a origem desse poder, é a ele que se voltamas ações realizadas pelos 
agentes públicos. Isso não se dá por uma elevação moral, abstrata, dos 
integrantes do Governo, ainda que isso seja importantíssimo, mas decorre, 
sobretudo, da lei. Aqui, voltamos a Rousseau. 
 
 
“Sempre se é livre quando se está submetido às leis, mas não quando 
se deve obedecer a um homem; porque neste segundo caso devo 
obedecer à vontade de outrem, e quando obedeço às leis acato apenas 
 
 
19 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
a vontade pública, que é tanto minha como de qualquer outro.” 
(ROUSSEAU apud BOBBIO, 2002, p. 172). 
 
 
Neste trecho, podemos encontrar dois temas fundamentais do 
pensamento de Rousseau: os termos em que se estrutura o pacto social e como 
se constrói a legitimidade que permite a prevalência da lei sobre as vontades dos 
indivíduos. Para ele, as pessoas não devem se submeter aos mandamentos de 
um governante que não tenha alcançado essa posição senão por força da 
vontade popular. Essa vontade popular se materializa, por sua vez, pela sujeição 
à lei que, mediante regras estabelecidas também coletivamente, fornece o 
conjunto de regras pelas quais tais governantes (sejam os políticos, sejam os 
funcionários estatais), vão exercer o poder. A sujeição a esse poder decorre, 
portanto, da escolha livre dos indivíduos em ceder parte de sua liberdade para 
que o Estado lhes garanta, sobretudo, segurança contra terceiros que atentem 
contra bens que não foram alienados, como a vida, a propriedade e a liberdade. 
Diferentemente de Hobbes, que estudamos acima, Rousseau depositará 
na democracia os fundamentos para que o poder possa ser exercido sobre a 
coletividade, desde que nos termos do que será chamado posteriormente de 
Estado de Direito. 
 
As Revoluções burguesas 
Os pensamentos iluministas presentes no mundo a partir do século XVI 
promoveram mudanças significativas no ambiente político. Os governos 
autoritários passaram, no decorrer de alguns séculos, a se verem questionados 
quanto às formas de exercício do poder, exatamente por seu caráter despótico 
e opressor. Diversos países foram atingidos por essas mudanças, mas, nos 
casos da Inglaterra e França, foram especialmente marcantes em razão da 
importância que possuíam nas relações políticas internacionais daquele período. 
Por essa razão, as chamadas Revoluções Inglesa e Francesa são fundamentais 
para compreender os processos que trouxeram até nós as noções de: 
 
 
20 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
Democracia 
Estado de Direito e 
Direitos Humanos. 
 
A Revolução Inglesa 
1603-1649 
A Revolução Inglesa foi um processo político ocorrido entre os séculos 
XVI e XVII que culminou na transição do absolutismo para o parlamentarismo. 
Esse período foi marcado por fortes conflitos entre a monarquia, a classe 
econômica (burguesia) e a Igreja em razão de reiteradas discordâncias das 
decisões do rei nos campos econômico e religioso. Em resumo, foram sobretudo 
as decisões da monarquia inglesa quanto ao aumento de impostos e apropriação 
de terras que trouxeram desagrado às classes sociais afetadas. A forte oposição 
do Parlamento em relação à Coroa veio à tona no período do reinado da Dinastia 
Stuart (1603-1649), que teve como um de seus principais nomes o Rei Carlos I, 
que, em seu reinado, decretou a obrigatoriedade de empréstimos à Coroa. 
Claramente, como já afirmado, a vontade do rei gerou uma forte oposição por 
parte do Parlamento. Apesar disso, o monarca aprofundou a tomada de medidas 
impopulares. 
Tais medidas aprofundaram o descontentamento dos comerciantes 
marítimos e dos proprietários de terras. Some-se a isso um forte 
descontentamento das classes populares, igualmente afetadas pela política 
econômica. Em face da crise interna, em 1642 teve início uma guerra civil que 
levou à execução de Carlos I em 1649. Essa guerra teve como um de seus 
principais nomes o de Oliver Cromwell que criou o chamado Exército Novo 
Modelo que combatia as forças reais. Com Cromwell, tem início um intervalo 
republicano na história inglesa. 
1660-1668 
A Inglaterra se viu dominada por militares após o Rei Carlos I ter sido 
derrubado. Essa ditadura inglesa foi marcada fortemente pelo puritanismo 
 
 
21 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
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empregado pelos revolucionários ingleses. O governo de Oliver Cromwell teve 
como principal ação os chamados “Atos de Navegação”, que exigia que todos 
os produtos importados pela Inglaterra fossem transportados por navios de 
bandeira Inglesa o que causou uma insatisfação por parte da Holanda, em uma 
clara tentativa de Cromwell de afirmar a hegemonia marítima e comercial 
britânica. Todavia, Oliver Cromwell morreu vítima de uma febre e por sua 
vontade seu filho, Richard Cromwell, assume. Seu governo não durou muito pois 
lhe faltava influência sobre os oficiais do Exército britânico, que tivera importante 
papel na guerra civil, e logo saiu do poder. Com isso foi feita a chamada 
Restauração (1660-1668) a qual simbolizava a volta da monarquia absolutista à 
Inglaterra, cujo principal nome era o Rei Carlos II, filho de Carlos I. 
1688 
Com a monarquia restaurada e sem muitas revoltas por parte do povo, 
Carlos II morre e seu irmão Jaime II sobe ao trono; porém, por contrariar o 
Parlamento, é deposto pelo mesmo em 1688, no que ficou conhecido como 
Revolução Gloriosa, que leva esse nome pois simbolizou a substituição pacífica 
e sem derramamento de sangue de Jaime II pela então coroada rainha Mary e o 
Rei holandês Guilherme de Orange. 
Os acontecimentos na Inglaterra que culminaram na Revolução Gloriosa 
representam um dos primeiros movimentos que buscaram pôr fim à situação 
própria do feudalismo. Os privilégios econômicos e políticos da monarquia, que 
se assentavam em uma estrutura social fundamentada nos cânones religiosos 
imutáveis foram sendo questionados, por força do surgimento de uma classe 
comercial (burguesia) que passou a se colocar contra esse estado de coisas e 
buscou maior possibilidade de influenciar as decisões do governo. O 
despotismo, que marcou a história inglesa por muitos séculos, não tinha mais 
espaço. 
1689 
A monarquia constitucional parlamentarista inglesa, pela qual o monarca 
subordina-se às leis elaboradas pelo Parlamento, consolida-se em 1689 com a 
Declaração dos Direitos. Antes de serem coroados, Guilherme de Orange e 
Maria Stuart, tiveram que jurar obediência a ele, em uma clara inversão dos 
tempos anteriores. O tratado estabeleceu o princípio de eleições livres e 
 
 
22 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
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liberdade de expressão no Parlamento. Também incluiu que nenhum direito de 
tributação ocorresse sem o aval do Parlamento, o direito de os súditos 
apresentarem petições ao Rei e tratamento justo das pessoas pelos tribunais. 
 
A Revolução Francesa 
 
Semelhante à Revolução Inglesa, a Revolução Francesa, cujos fatos 
mais marcantes se deram no século XVIII, é um evento ímpar para a 
compreensão da criação do Estado Moderno, em razão da passagem do 
Absolutismo para governos constitucionais. 
 
Devemos lembrar que, nessa época, na França, vigorava o que se 
chamaria Antigo Regime, que, além do despotismo monárquico, ainda mantinha 
algumas características de uma sociedade feudal, dentre as quais o imobilismo 
social e grande desigualdade na distribuição do poder, concentrado na nobreza 
e no clero. Segundo Norbert Elias, em Sociedade de Corte2, essa disposição das 
forças sociais possibilitava que a França possuísse uma das mais autoritárias 
monarquias, que, com o rei Luís XIV (1643-1715) atingiu seu ponto máximo. A 
ele é atribuída a frase “O Estado sou eu”, em uma clara simbologia da tamanha 
concentração de poderesnas mãos do governante. 
Muito embora a sociedade fosse uma monarquia absolutista, as 
condições sociais passam, gradualmente, a exercerem uma pressão sobre o rei, 
de forma a que suas decisões fossem cada vez mais aderentes aos interesses 
de outros grupos, que não a nobreza e o clero. 
 
 
O rei, “pela graça de Deus”, era a fonte da justiça, da legislação e da 
autoridade administrativa, decidindo, ainda, pela guerra e pela paz. Essas 
 
2 ELIAS, Norbert. A Sociedade de Corte. Tradução de Ana Maria Alves. Lisboa: Editorial 
Estampa, 1987, 240 
 
 
23 
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atribuições, contudo, foram escapando, uma a uma, do controle direto da 
monarquia, sendo atribuídas, gradativamente, a instâncias intermediárias. 
A justiça e a legislação, por exemplo, cada vez mais passaram a ser 
exercidas pela Parlamento e pelas Cortes – tudo em nome do rei, 
evidentemente. Ainda aqui, a centralização encontrava forte resistência em 
setores onde a justiça senhorial sobrevivia.” (Miceli, 1987, p. 51). 
 
 
Em termos sociais, a França era dividida em três classes sociais bastante 
demarcadas, que recebiam o nome de Estados. Essa divisão era também 
política, com a definição de espaço na Assembleia Nacional Francesa, como 
veremos adiante: 
 
Primeiro Estado 
O primeiro Estado era constituído por representantes do clero. Sua 
influência se dava tanto do ponto de vista religioso como da cobrança de taxas 
sobre o uso de suas terras – que cobriam cerca de 10% do território francês –, 
além de taxas sobre batismo, casamento, etc. 
 
Segundo estado 
A nobreza constituía o segundo Estado. Além de viver junto ao próprio rei 
e desfrutar do consequente fausto que a vida da corte proporcionava, possuía 
alguns privilégios de exploração econômica decorrentes de seus títulos. 
 
 
Os maiores benefícios da nobreza, entretanto, vinham da isenção de 
tributos e da prestação de serviços obrigatórios, tais como alojar soldados 
e cuidar dos caminhos. Possuíam, ainda, direito de caça e pesca e 
 
 
24 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
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detinham o monopólio de acesso aos cargos superiores do exército, da 
Igreja e da magistratura.” (Miceli, 1987, p. 55). 
 
Terceiro Estado 
O terceiro estado era constituído por todos os demais franceses e 
constituíam mais de 96% da população. Comerciantes, banqueiros, profissionais 
liberais, lojistas, além de todo o campesinato faziam parte dele. Era um Estado 
bastante heterogêneo, mas que, em diferentes níveis, tinham em comum o fato 
de participarem muito fragilmente do poder político, apesar de, sobretudo a 
burguesia, disporem de forte poder econômico. 
 
Nos últimos anos do século XVIII, já com o reinado de Luís XVI, a França 
passava por uma severa crise fiscal. Isso exigiu que Luís XVI propusesse ao 
Parlamento francês o fim das isenções econômicas usufruídas pelos primeiro e 
segundo Estados. Diante da crise que tais propostas geraram junto a esses 
grupos, somado à insatisfação que já existia no terceiro Estado, o Parlamento 
exigiu que o rei convocasse a Assembleia Nacional. Nela, cada Estado teria 
direito a um voto o que, diante da disparidade na composição em termos das 
quantidades populacionais que representavam, indicava uma clara perda para o 
terceiro Estado. Não somente o rei Luís XVI foi colocado em xeque, mas a 
própria noção de representatividade da Assembleia Nacional, pois, apesar de o 
terceiro estado ser a imensa maioria da população, sua participação nas 
discussões tinha o mesmo peso que o primeiro e segundo estados. 
O terceiro estado então fez uma série de reivindicações, dentre as quais 
a de que o voto fosse por pessoa e não mais por ordem, já que compunham a 
maioria da população francesa, exigências as quais não tiveram respostas do rei 
Luís XVI. Paralelamente ao processo político, ocorre um importante 
acontecimento que simbolizou a Revolução Francesa - a Queda da Bastilha 
(1789) - movimento de cunho popular caracterizado por derrubar uma prisão a 
qual continham presos políticos, um lugar o qual representava uma grande 
marca do velho e decadente Regime absolutista francês. Com isso, o rei Luís 
 
 
25 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
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XVI foi ficando cada vez mais fragilizado politicamente. Encurralado e sem 
saídas, tomou como medida sancionar as vitórias populares. 
Com toda essa crise, o rei decide fugir do palácio a fim de tentar organizar 
forças estrangeiras para, de alguma forma, tentar reconquistar seus direitos 
reais. Porém, acaba sendo descoberto na fronteira e é trazido para Paris. Luís 
XVI então é julgado, considerado um traidor da França e acaba sendo 
condenado à guilhotina, encerrado, assim, a monarquia absolutista francesa. 
Mais do que uma disputa pelo poder, tão comum na história, a Revolução 
Francesa representa o fim dos privilégios de classe, a vitória de uma ideia de 
igualdade entre os indivíduos e a definição de que a legitimidade do poder 
político advém do povo, por meio de seus representantes legalmente 
constituídos, o que, à época, constituíam ideias profundamente reformadoras. A 
dimensão de tais acontecimentos foi tamanha que o documento pelo qual os 
revolucionários redigiram os seus princípios se tornou a base a partir da qual foi 
construída a ideia de que a garantia à vida, à liberdade e à propriedade são 
inerentes à condição de ser humano. Essa condição política é vista, a partir de 
então, como condição essencial para a existência de um governo legítimo. A 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita em 1789, materializa 
esse pensamento e é, a partir dela, que os Direitos Humanos vão passar a ser 
uma dimensão essencial para a construção do Estado Democrático de Direito. 
Tanto a citada Declaração quanto os Direitos Humanos serão mais bem 
explorados em aula adiante. 
 
Em resumo, as Revoluções Inglesa e Francesa legaram ao mundo 
as lições de que a legitimidade dos governos advém do povo, mediante os 
processos democráticos que estabelecem como esse poder deve ser 
exercido, colocando término quanto à origem de outras formas de 
legitimidade, como a pessoal, tradicional ou religiosa, comum a regimes 
absolutistas. A partir de então, a lei é o instrumento que subordina a ação 
de governos, a qual, por sua vez, deve derivar de processos que sejam 
democráticos a ponto de conferir ampla participação na sua elaboração. 
 
 
 
26 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
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AULA 2 – CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS 
 
As mudanças políticas que o mundo assistiu na era moderna não foram 
possíveis sem que uma nova sociedade – em comparação com a feudal – 
surgisse. As pessoas, sem as amarras da antiga ordem, passaram a reivindicar 
seus espaços de poder, representados pelas Revoluções Inglesa e Francesa 
que trouxemos anteriormente. Prevalece, a partir desse momento histórico, a 
concepção de que os indivíduos possuem direitos que não poderão ser atacados 
pelo Estado, pois, somente a partir desse novo status que receberá o nome de 
cidadania, poderá existir democracia e, consequentemente, o exercício do 
poder legítimo por parte do governo. Assim, não é exagero afirmar que a noção 
de Direitos Humanos surge nesse período que, como vimos, coloca a pessoa 
humana como centro dos processos sociais e políticos (e, portanto, não mais a 
tradição nobiliárquica nem a religiosa). 
Os Direitos Humanos, por sua vez, são garantias de direito que se aplicam 
universalmente, independente de especificidades das condições dos indivíduos. 
Raça, credo, idioma, nacionalidade, condição econômica, como exemplos, não 
são critérios para destituir determinada pessoa de seus atributos legais. 
O instrumento político-jurídico que deu ospassos iniciais para toda a 
construção de direitos humanos se dá exatamente em 1789, no país palco da 
Revolução Francesa. A ideia de um “Direito Humano” é filha, portanto, das 
mesmas agitações sociais que deram origem aos ideais iluministas de 
“indivíduo” e de “igualdade”. O surgimento de um indivíduo universal na França 
(o “cidadão”), portador de direitos iguais, independentes de seu status social 
(renda, títulos, nome), quando expandido para uma escala mundial, redundou no 
surgimento de um direito que se pretende aplicável a toda “humanidade”, 
independentemente de qualquer diferença observável entre os “seres humanos”. 
A ideia de um Direito Humano, como a conhecemos hoje, surgiu e se 
desenvolveu a partir da Revolução Francesa, cujo marco histórico foi a “Tomada 
da Bastilha”, em 14 de julho de 1789, quando foi oficialmente derrubada a 
monarquia na França. Como a monarquia era considerada, pelos revolucionários 
franceses, um regime de governo “corrompido”, que atribuía direitos e distribuía 
 
 
27 
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propriedades observando o status social das pessoas, foi elaborada uma nova 
“constituição” para a recém instaurada “República Francesa”. Esta, além de 
proclamar a “igualdade de direitos” como princípio, foi a responsável por cunhar 
o termo “cidadão”. 
A “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” foi promulgada 
naquele mesmo ano “revolucionário” de 1789. Em seu preâmbulo, o legislador 
escreveu: 
 
 
Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia 
Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o 
desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males 
públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar 
solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do 
homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos 
os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus 
direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo 
e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento 
comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam 
por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos 
cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e 
incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e 
à felicidade geral. 
 
 
Como você deve ter notado, já em seu preâmbulo, a Declaração deixa 
clara a intenção do legislador, em primeiro lugar, de instituir e proteger os 
“direitos do homem” igualmente, colocando a “felicidade geral” e a própria 
proteção desse instituto jurídico (a “Constituição”) como objetivos últimos para a 
recém fundada República Francesa e seus cidadãos. Para sustentar sua 
intenção de aplicar-se a todos e todas igualmente, a ideia nascente de um direito 
 
 
28 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
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universal precisava encontrar uma espécie de “unidade de medida” comum a 
toda a humanidade. Essa medida era a ideia de “indivíduo”, surgida do chamado 
“século das luzes”, do Iluminismo, movimento que valorizava a razão e a figura 
humana, tomada como “medida de todas as coisas”, e teve seu auge entre os 
séculos XVIII-XIX. O indivíduo viria a se tornar o “cidadão” da República 
Francesa (1789). A diferença é que o cidadão passa a ser sujeito de direitos. E 
os direitos são iguais para todos os cidadãos, independentemente da origem e 
posição social. 
 
Figura 2: O Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci 
 
Fonte: wikipedia 
 
 
Todos e todas são cidadãos, porque iguais em suas diferenças. Essa 
medida de igualdade, o “indivíduo”, refletia a humanidade como uma experiência 
social diversa, em seus modos e aparência, mas unida por uma mesma 
“natureza humana”. Sobre esse substrato comum, o legislador francês atrelou os 
chamados “direitos naturais”, inalienáveis e sagrados, como vimos acima. Essas 
“garantias fundamentais” seriam consideradas essenciais à viabilidade material 
e moral da existência humana. 
Necessárias à reprodução da vida e das condições de vida do povo 
francês, na percepção do legislador da época, os direitos naturais eram “a 
 
 
29 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
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liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão” (Declaração, 
artigo 2º). 
A partir da França “revolucionária” de 1789, a “capital mundial das luzes”, 
berço do Iluminismo (séc. XVII-XVIII), estas ideias viajaram o mundo, 
atravessando oceanos e influenciando gerações. 
Por outro lado, se o Iluminismo representa a inspiração da noção de 
direitos humanos, a sua formulação concreta acontece como consequência da 
Segunda Guerra Mundial. Nela, foram cometidas inúmeras barbaridades, 
especialmente pelo regime nazista, que culminaram numa tentativa de 
extermínio de judeus, homossexuais, neurodivergentes, comunistas e outros 
indivíduos considerados como inimigos do Estado ou como prejudiciais para o 
sucesso da raça ariana. 
Em suma, o Estado não era apenas o garantidor dos direitos individuais, 
como defendiam os contratualistas que apresentamos nesse mesmo Módulo, ele 
era também um potencial violador desses mesmos direitos e possuía um poder 
gigantesco para tal, quando decidia enveredar por esse caminho. Portanto, os 
indivíduos precisavam de proteção supraestatal, na medida em que ficava 
patente que o Estado, e a legislação nacional, não podiam ser os únicos 
garantidores da proteção dos direitos individuais. Era preciso gerar um 
arcabouço moral e jurídico que reconhecesse os direitos básicos de todas as 
pessoas do planeta, independentemente do país onde morassem e da legislação 
nacional vigente nesse território. Nenhuma lei nacional poderia anular ou 
comprometer esses direitos básicos e inalienáveis. A ideia era gerar uma ordem 
internacional pós-Segunda Guerra Mundial baseada nesses princípios, que 
deveriam servir para evitar uma repetição das atrocidades cometidas. De alguma 
forma, os direitos humanos constituem uma tentativa de plasmar a noção do 
direito natural, que é consubstancial ao ser humano pelo simples fato de sê-lo e 
que, portanto, não dependem da sua conduta, não precisam ser merecidos nem 
ganhos. 
O resultado dessa visão foi a “Declaração Universal dos Direitos 
Humanos” aprovada pelas Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, cujo 
preâmbulo reza: 
 
 
 
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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
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(...) a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos 
Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e 
todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da 
sociedade tendo sempre em mente esta Declaração, esforce-se, por meio 
do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e 
liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e 
internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância 
universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros 
quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. 
 
 
A Declaração foi aprovada por 48 votos a favor, 8 abstenções (sobretudo 
de países socialistas que tinham algumas ressalvas) e nenhum voto contrário. 
Os direitos reconhecidos aos indivíduos por essa declaração são os 
seguintes: 
 
1 Igualdade em dignidade e direitos (art. 1) 
2 Igualdade de direitos sem diferenciação de raça, cor, sexo, língua, 
religião, opinião política, origem nacional ou social, riqueza, 
nascimento ou condição jurídica do território a que pertença uma 
pessoa (art. 2) 
3 Direito à vida, liberdade e segurança pessoal (art. 3) 
4 Proibição da escravidão ou servidão (art. 4) 
5 Proibição da tortura e dos tratamentos cruéis, desumanos ou 
degradantes (art. 5) 
6 Reconhecimento como pessoaperante a lei (art. 6) 
7 Igualdade perante a lei e proteção contra discriminação (art. 7) 
8 Remédios efetivos contra violações aos direitos fundamentais (art. 
8) 
9 Proibição de prisão e banimento arbitrários (art. 9) 
 
 
31 
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10 Direito a tribunais imparciais (art. 10) 
11 Presunção de inocência e proibição de castigos por crimes não 
tipificados antes da conduta julgada (art. 11) 
12 Proteção contra interferências à vida privada e contra ataques à 
honra (art. 12) 
13 Liberdade de locomoção dentro do Estado e direito a deixar 
qualquer país (art. 13) 
14 Direito ao asilo para as vítimas de perseguição (art. 14) 
15 Direito à nacionalidade (art. 15) 
16 Direito a contrair matrimônio livremente consentido e à proteção da 
família (art. 16) 
17 Direito à propriedade (art. 17) 
18 Liberdade de pensamento, consciência e religião (art. 18) 
19 Liberdade de opinião e expressão (art. 19) 
20 Liberdade de reunião e associação (art. 20) 
21 Direito à participação política expressa em eleições por sufrágio 
universal e secreto (art. 21) 
22 Direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à dignidade 
da pessoa e ao livre desenvolvimento da sua personalidade (art. 
22) 
23 Direito ao trabalho que assegure uma remuneração digna e à 
sindicalização (art. 23) 
24 Direito ao repouso e ao lazer (art. 24) 
25 Direito a um padrão de vida que garanta bem-estar (art. 25) 
26 Direito à educação, que deve ser gratuita no nível fundamental 
(art. 26) 
27 Direito a participar da vida cultural e proteção do direito autoral (art. 
27) 
28 Direito a uma ordem social e internacional que respeite os direitos 
humanos (art. 28) 
 
 
32 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
29 Direito a ser sujeito apenas às limitações estabelecidas por lei (art. 
29) 
30 Proibição de interpretar qualquer parte dessa Declaração como 
justificativa para vulnerar direitos aqui reconhecidos (art. 30) 
 
Após a Declaração, os direitos foram expandidos e codificados no Pacto 
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e no Pacto Internacional dos 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos aprovados pela Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 1966. Ambos os pactos já foram ratificados por 
mais de 170 países. 
Posteriormente, outras convenções mais específicas outorgaram um 
conteúdo concreto a vários desses direitos, como a Convenção sobre os Direitos 
da Criança (1989) ou a Convenção contra à Tortura e Outros Tratos o Penas 
Cruéis, Inumanos ou Degradantes (1984). 
No nível do continente americano, e dentro dele no âmbito da 
Organização de Estados Americanos (OEA), foi adotada em 1969 a Convenção 
Americana sobre Direitos Humanos, também chamada de Pacto de San José. 
 
 
Essa convenção, que contempla uma Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos e uma Corte Interamericana de Direitos Humanos, foi 
ratificada pelo Brasil em 1992. Em 1998, o Brasil reconheceu a 
competência da Corte sobre o seu território, tornando-se desde então 
obrigatório o cumprimento das sentenças dela. Cortes continentais 
semelhantes existem na Europa (Tribunal Europeu dos Direitos Humanos) 
e na África (Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos). 
 
Os diplomas de direitos humanos (declarações, pactos, convenções, etc.) 
contém tanto direitos “negativos” quanto “positivos”. Os primeiros dizem respeito 
a ações que o Estado deve se abster de fazer, para poder respeitá-los, tais como 
direito à vida ou a proibição da tortura. Se referem aos direitos civis e políticos, 
basicamente. Essa abordagem visa colocar limites às ações dos Estados para 
Saiba mais 
 
 
33 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
evitar abusos contra os cidadãos, tal como tinha sucedido na Segunda Guerra 
Mundial. 
 Por sua vez, os direitos positivos são relativos a bens, serviços ou 
oportunidades que o Estado deve prover para que os indivíduos sob seu cargo 
tenham uma vida digna, como o direito à educação ou ao trabalho. 
Correspondem sobretudo aos direitos econômicos, sociais e culturais. 
Alguns direitos podem ser ao mesmo tempo positivos e negativos, como, 
por exemplo, o direito à saúde. Os Estados devem prover serviços de saúde, 
mas também devem evitar tomar medidas que comprometam a saúde dos 
cidadãos. 
Outra forma comum de classificar os direitos é dividi-los em direitos de 
primeira, segunda e terceira geração, em função do momento em que foram 
propostos e reconhecidos. Os de primeira geração são os direitos civis e 
políticos, começando pelo direito à vida, sem os quais os outros não podem ser 
realizados. Os de segunda geração são os econômicos, sociais e culturais, 
objeto do Pacto Internacional de 1966. Por último, os de terceira geração, os 
mais recentes, são direitos coletivos e não mais individuais, como o direito a um 
meio ambiente limpo, o direito à paz e o direito à autodeterminação cultural. 
De forma geral, os direitos humanos são considerados como direitos 
brandos (soft law), isto é, como direitos propositivos e ideais, mas cuja garantia 
efetiva depende mais da aceitação dos Estados do que de sentenças jurídicas. 
A própria Declaração Universal em seu preâmbulo que acabamos de ver define 
os direitos humanos como “um ideal comum a ser atingido”, isto é, como um 
dever-ser ou um desideratum. Isto é especialmente verdadeiro para os direitos 
positivos, econômicos, sociais e culturais. A despeito do direito individual ao 
trabalho, por exemplo, existem pessoas desempregadas em todos os países do 
mundo, e o objetivo é tentar que esse percentual seja reduzido ao mínimo 
possível. 
Mas, mesmo no caso dos direitos negativos de interpretação mais 
inequívoca, como os direitos civis e políticos, não existe um aparato coercitivo 
para garanti-los, diferentemente dos direitos protegidos na legislação nacional, 
que podem ser defendidos por sentenças judiciais nacionais que, se resistidas, 
podem ser aplicadas pela polícia. A polícia, como vimos, possui o monopólio da 
 
 
34 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
violência legítima. Não existem, entretanto, polícias universais nem polícias das 
Nações Unidas que garantam a aplicação da lei internacional que, por isso, é 
conceituada como uma “lei branda", que depende da aceitação dos Estados. 
 
2.1 A FALSA OPOSIÇÃO ENTRE SEGURANÇA E DIREITOS HUMANOS 
Em muitos países, incluindo o Brasil, há setores sociais que percebem os 
direitos humanos como beneficiando apenas os criminosos e, portanto, 
prejudicando o resto da sociedade. Isso é mais comum ainda entre indivíduos 
que compartilham essa percepção dicotômica e maniqueísta que divide a 
sociedade em dois grupos rígidos: cidadãos de bem e bandidos (ver Aula 3 do 
Módulo I). 
Nessa visão, se a lei impõe limites ao que o Estado pode fazer em relação 
a um suspeito ou mesmo a um criminoso convicto, isso é percebido como um 
empecilho na busca da segurança. Gera-se, assim, um falso antagonismo entre 
direitos humanos e segurança, como se essa última só pudesse ser obtida 
mediante o sacrifício dos direitos individuais. Na realidade, não há evidências de 
que o atropelo dos direitos das pessoas tenha resultado numa sociedade mais 
segura e há muitas evidências em sentido contrário: quando o Estado pôde agir 
livremente contra seus opositores ou inimigos, sem limites legais, isso provocou 
grande insegurança na população. 
Quem vê os direitos humanos como inimigos da segurança tende a 
perceber os defensores de direitos humanos como traidores à sociedade, 
particularmente quando a segurança pública é entendida como uma guerra (ver 
Aula 3 do Módulo I). A culpa do fracasso na luta contra o crime é então atribuída 
aos “direitoshumanos” como conceito ou como grupo de pessoas que os 
defendem. Curiosamente, isso acontece mesmo que os direitos humanos em 
geral, especialmente no que concerne aos direitos negativos, não fazem senão 
reafirmar o que as legislações nacionais já contêm. 
 
A proibição da tortura e da execução sumária, por exemplo, não é 
algo inventado pelos pactos de direitos humanos, mas está contida nos 
 
 
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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
códigos penais de quase todos os países do mundo. Porém, os detratores 
dos direitos humanos focalizam as críticas neles ao invés de atacar a lei 
nacional. 
Essa concepção é consequência de uma visão deturpada da realidade. 
Obviamente, como seu próprio nome indica, os direitos humanos não defendem 
apenas os suspeitos ou os criminosos, mas a todos os cidadãos que são sujeitos 
desses direitos universais. Os policiais são, como qualquer cidadão, sujeitos de 
direitos humanos, tanto como pessoas quanto como trabalhadores, e seus 
direitos como cidadãos e trabalhadores também devem ser respeitados. 
Por outro lado, o teste principal dos direitos humanos advém justamente 
no tratamento que o Estado dá às pessoas mais vulneráveis, como os presos, 
ou àqueles suspeitos de cometerem os piores crimes. O tratamento dado a esses 
indivíduos é a medida do nível civilizatório de uma sociedade. Só quando 
indivíduos eventualmente considerados indesejáveis forem tratados conforme a 
lei estipula é que todos teremos a garantia de que nossos direitos serão 
respeitados. 
A verdadeira discussão não é se os direitos humanos defendem a uns ou 
a outros, a divisão se dá entre os que desejam uma atuação do Estado pautada 
e limitada pela lei e aqueles outros que promovem uma atuação ilegal e sem 
controle por parte dos agentes do Estado, rumando assim de volta à Idade 
Média. 
Se a polícia tem como missão central a defesa da lei, seria um absurdo 
que fizesse isso quebrando a própria lei, pois nesse percurso anularia sua 
própria missão. 
 
Os policiais precisam tomar cuidado com os cantos de sereia que 
vêm de determinados setores sociais que defendem uma atuação ilegal da 
polícia (como aqueles que defendem que “bandido bom é bandido morto”), 
pois, para além de razões morais e sociais, serão os policiais os que 
eventualmente se sentarão no banco dos réus para responder de possíveis 
abusos, e não aqueles que advocaram esses caminhos. 
 
 
 
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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
Aula 3 - O PAPEL DA SEGURANÇA PÚBLICA NA 
CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
 
3.1 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
Nas aulas anteriores, vimos o surgimento histórico do Estado moderno e 
da democracia, os dois pilares essenciais do Estado Democrático de Direito. 
Na sociedade pré-moderna ou feudal, o poder era exercido por uma 
pessoa, o monarca, ou por um grupo, tomando em conta apenas sua visão de 
mundo e seus interesses. É o que se chama despotismo. O monarca absoluto 
não é obrigado a justificar suas decisões, que não precisam necessariamente 
ser coerentes ou sistemáticas. Obviamente, isso é a definição mesma de 
arbitrariedade, ou seja, medidas que obedecem exclusivamente ao livre arbítrio 
de quem as toma. 
Como forma de evitar a arbitrariedade, as sociedades desenvolveram um 
conjunto de regras que definem os limites da ação dos titulares do poder e 
balizam as ações que estejam ao seu alcance: as leis. O Estado de Direito é 
aquele em que a lei se sobrepõe à vontade dos governantes, que estão 
subordinados às regras legais definidas coletivamente. Nisso se contrapõe ao 
Estado Despótico. 
O Estado de Direito pode ser caracterizado por uma série de traços 
centrais, entre eles: 
1 Igualdade perante a lei. As normas obrigam a todos pois num 
Estado de Direito, não há ninguém acima da lei. Ela não pode ser 
aplicada de forma seletiva ou pessoalizada, a favor ou contra 
determinado indivíduo. 
2 Transparência e previsibilidade. As normas devem ser públicas 
para que todos as conheçam e possam cumpri-las e ninguém pode 
ser sancionado senão pelo descumprimento de uma lei 
previamente existente. Isso confere previsibilidade ao governo e à 
vida em geral, que constitui um dos componentes essenciais da 
vida em sociedade. 
 
 
37 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
3 Devido processo. A tomada de decisões por parte de qualquer um 
dos poderes (executivo, legislativo ou judicial) deve seguir 
determinados procedimentos previamente estabelecidos para 
serem legais e legítimas. 
4 Prestação de contas. Os tomadores de decisão, em qualquer um 
dos poderes, precisam justificar publicamente suas decisões para 
que elas possam ser submetidas a escrutínio e para que eles 
possam ser responsabilizados por suas decisões (accountability) 
(ver Aula 1 do Módulo III). 
5 Segurança jurídica. As leis devem ser aplicadas de forma 
isonômica a todas as situações que apresentem as mesmas 
características, e as decisões tomadas de acordo com a lei não 
podem ser mudadas pela iniciativa individual de nenhum ator. A 
segurança jurídica é outro fator de extrema relevância para conferir 
previsibilidade à vida social. 
6 Separação e independência de poderes, que não podem estar 
concentrados numa única pessoa ou instância. Tradicionalmente, 
as funções de elaboração de leis (legislativa), de condução do 
Estado (executiva) e de aplicação das leis (judiciais) são atribuídas 
a órgãos diferentes e independentes entre si, para evitar a 
acumulação de poder nas mãos de algumas pessoas. 
7 Acesso à justiça. Todas as pessoas, independentemente da sua 
condição, devem poder apresentar suas solicitações e 
reclamações a um sistema de justiça que seja imparcial. 
Paralelamente, todos os indivíduos devem ter a possibilidade de 
representação legal. 
 
O Estado de Direito se corresponde exatamente com a noção de 
legitimidade legal-racional de Max Weber que vimos no Módulo I (Aula 5), que 
estava baseada num conjunto de normas escritas e racionais. 
A diferença entre o Estado de Direito e o Estado Democrático de Direito é 
que, nesse último caso, as leis são necessariamente aprovadas com a 
participação de toda a coletividade e integrando todos os setores sociais, isto é, 
 
 
38 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
são geradas de forma democrática. Com isso, a lei e o exercício do poder tendem 
a atingir uma legitimidade maior e, dessa forma, aumenta a obediência a essas 
leis que foram desenvolvidas de forma coletiva. Se os contratualistas falavam de 
um contrato implícito para a criação do Estado, nesse caso trata-se de um 
contrato explícito em que as pessoas participam na gestação das normas a que 
estarão sujeitas. 
 
Os dois termos (Estado de Direito e Estado Democrático de 
Direito) são usados muitas vezes de forma quase indistinta, mas o 
último sublinha o caráter democrático do Estado e a legitimidade 
subsequente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É justamente porque as trajetórias das nações que melhor responderam 
a esse desafio se inspiraram nas ideias de justiça, democracia, respeito às leis 
e aos direitos humanos, pensadas em seu alcance universal e irrestrito. 
 
Muito provavelmente, quando perguntamos quais as sociedades que 
melhor conseguiram resolver seus problemas ligados à violência, somos levados 
a pensar em países com baixos índices de crimes, tais como Japão, Noruega, 
Suécia. As explicações para isso são inúmeras; contudo, ainda que possa 
parecer que estes países sempre possuíram ótimos níveis de convivência e que 
tal estado de coisas é resultado que alguma característica inata às suas 
Mas, afinal, por que é de fato importante que todos esses conceitossejam levados a efeito pelos profissionais do Susp, diante de problemas de 
tamanha ordem e gravidade como são aqueles com os que têm de lidar 
constantemente? 
 
Na prática 
Vamos Refletir! 
 
 
39 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
populações, um olhar mais atento às suas histórias nos provará que foram 
processos políticos que possibilitaram bons níveis de convivência social. Para 
discutir uma dessas possibilidades, vamos trazer uma análise realizada pela 
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). 
 
A OCDE é uma organização internacional composta por 38 países-
membros, que reúne as economias mais avançadas do mundo, além de 
alguns países chamados “emergentes”. O ingresso de um país junto a 
essa organização significa uma espécie de credenciamento que sinaliza 
que as práticas adotadas e o ambiente político estão conseguindo 
enfrentar os desafios sociais, econômicos e ambientais de forma 
satisfatória. 
 
 
Fazem parte da OCDE: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, 
Chile, Colômbia, Coreia do Sul, Costa Rica, Dinamarca, Eslováquia, 
Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, 
Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Letônia, Lituânia, 
Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Suécia, 
Suíça, Reino Unido, República Tcheca, Turquia. Os primeiros passos para o 
ingresso do Brasil junto à OCDE ocorreram em janeiro de 2022, juntamente 
com Argentina, Bulgária, Croácia, Peru e Romênia. 
Acesse: https://www.oecd.org/about/ 
 
 
Um dos quesitos avaliados pela OCDE para o credenciamento de países 
é o rule of law ou Estado de Direito, que eles definem como a capacidade de o 
país-candidato oferecer as mesmas regras, procedimentos e princípios para 
indivíduos e organizações, incluindo o próprio governo, garantindo um 
tratamento justo pelas instituições e igual acesso à justiça (OECD, 2019). Assim, 
segundo a OCDE, rule of law é um conceito multidimensional composto por 
Você sabia? 
Saiba mais 
https://www.oecd.org/about/
 
 
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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
diversos elementos como os direitos fundamentais, ordem e segurança, 
capacidade de aplicar a lei (regulatory enforcement) e justiça civil, além de um 
governo aberto (OECD, 2019). O desdobramento de cada um desses 
componentes diz muito sobre quais são as variáveis de importância para verificar 
se um país promove o Estado de Direito em seu território. A seguir, 
apresentamos um resumo (WORLD JUSTICE PROJECT, 2022): 
 
1 Tratamento igualitário e ausente de discriminação; 
2 Existência do devido processo legal e direitos aos acusados em 
delitos e infrações administrativas; 
3 Garantia efetiva à vida e à segurança, à liberdade de expressão e 
opinião, à liberdade de crença e religião, à liberdade de associação, 
ao direito ao trabalho e contra a interferência indevida à 
privacidade; 
4 Controle efetivo do crime; 
5 Controle efetivo dos conflitos civis; 
6 Interdição à vingança privada para a resolução dos conflitos; 
7 Efetividade das regulações governamentais, tais como leis e 
normas infralegais; e 
8 Acesso à justiça, sem discriminação. 
 
Pode-se observar no mapa a seguir que os países possuem diferentes 
níveis de efetivação do Estado de Direito. Grosso modo, aqueles que foram 
avaliados com melhores níveis são exatamente os que registram menores níveis 
de violência. 
 
 
 
 
 
 
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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
Figura 3: Estado de Direito pelo mundo 
 
Fonte: WJP Rule of Law Index, 2022. 
 
* As cores mais avermelhadas indicam menores níveis de aderência ao Estado de Direito 
enquanto as cores voltadas ao verde mostram maiores níveis de aderência. 
 
 
Esse estudo nos traz duas conclusões importantes: 
Primeira conclusão: 
Decorridos cerca de 400 anos desde os escritos e eventos que inspiraram 
o Estado Democrático de Direito, seus fundamentos são bastante atuais. Os 
avanços resultantes desse processo histórico fundamentam as análises 
promovidas nos dias atuais, na medida em que o Estado Democrático de Direito 
é considerado um requisito para atingir fins que vão muito além da questão da 
imposição da lei e da participação no poder, pois é por meio dele que se 
promovem avanços econômicos, sociais e ambientais. 
 
Segunda conclusão: 
Direitos humanos, democracia, segurança, cidadania e capacidade de o 
Estado regular os conflitos humanos são os caminhos mais bem sedimentados 
para ofertar melhores níveis de convivência social. Ainda que existam outros 
fatores que expliquem os motivos pelos quais determinados países possuem 
 
 
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e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
menores níveis de violência, há fortes razões para se defender que são 
exatamente os elementos oferecidos pelo Estado Democrático de Direito 
aqueles que conduzem a maiores ganhos nesse campo. 
 
3.2. O PAPEL DA SEGURANÇA PÚBLICA PARA O ESTADO 
DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
Todos os direitos elencados na Declaração Universal de Direitos 
Humanos, que vimos na aula anterior, só podem ser usufruídos se o cidadão 
está e se sente em segurança. Quem teme pela própria vida, pela integridade 
pessoal ou inclusive pela sua propriedade dificilmente poderá exercer outros 
direitos. Paralelamente, a prevalência da ordem pública é também um 
componente importante para a possibilidade de usufruir os direitos básicos e 
para a previsibilidade das relações sociais. Num cenário caótico e desordenado, 
será difícil gozar dos direitos que a lei confere ao cidadão. 
 
O conceito de “segurança humana”, proposto pelo PNUD (1994) em 
contraposição à segurança nacional, pode ser concebido, na sua 
formulação mais sintética, como a libertação dos indivíduos do medo 
e da necessidade. Nesse sentido, une tanto a satisfação dos direitos 
econômicos, sociais e culturais (a necessidade) com a proteção 
contra ameaças à integridade pessoal (o medo). Mas, no fundo, os 
dois aspectos estão intimamente relacionados na medida em que, 
como argumentamos, o medo pode acabar anulando a possibilidade 
de satisfazer outros direitos. 
 
Considerando que é obrigação do Estado garantir a segurança da 
população, a segurança torna-se necessariamente pública. Em consequência, o 
Estado é o sujeito central que deve garantir a segurança, embora várias 
legislações, incluindo a Constituição Brasileira de 1988, reforcem o papel dos 
próprios cidadãos no processo. 
A segurança tem componentes por um lado objetivos e por outro lado 
intangíveis e subjetivos. Assim, oferecer segurança implica não apenas reduzir 
 
 
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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 
 
os riscos e as ameaças que as pessoas apresentam de serem vítimas de crimes 
ou violência, mas também conseguir que elas percebam esses riscos como 
baixos, se sentindo efetivamente seguras. 
Em tudo isso, o papel das instituições de segurança pública é 
fundamental, pois são elas, através da sua função preventiva e repressiva, as 
encarregadas de prover segurança às pessoas e, dessa forma, possibilitar que 
elas usufruam o conjunto dos seus direitos. Nesse sentido, as instituições de 
segurança são garantidoras do Estado Democrático de Direito. 
 
 
Especificamente, elas também garantem o próprio exercício da 
democracia representativa, possibilitando que as eleições sejam livres. 
Por exemplo, perseguindo os crimes eleitorais, que tentam impedir, 
condicionar ou comprar o voto. E, em ocasiões, impedindo a atuação 
daqueles que querem derrubar o governo democraticamente eleito por 
meio da força. De fato, uma democracia sem instituições de segurança 
pública ficaria extremamente vulnerável

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